Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
cruz. — Mas, meu Filho, parece ter-lhe dito então o Pai celeste, pensa que terás de levar na terra uma vida cheia de humilhações e sofrimentos. Terás de nascer numa fria gruta e ser reclinado na manjedoura dos animais. Terás logo depois de fugir para o Egito a fim de escapares às mãos de Herodes. Voltando do Egito, terás de viver na oficina de operário, como um simples artífice, pobre e desprezado. Finalmente terás de morrer na cruz, coberto de opróbrios e abandonado por todos. — Não importa, meu Pai, responde o Filho de Deus; estou pronto a tudo, contanto que o homem se salve. Que é que se diria, se um príncipe, tocado de compaixão por um verme, que acabasse de morrer, se quisesse transformar num verme, preparar ao miserável verme um banho de seu sangue, e morrer para lhe restituir a vida? O Verbo eterno fez bem mais por nós, pois era Deus e quis tornar-se um verme semelhante a nós, e morrer por nós, a fim de nos restituir a vida da graça, que tínhamos perdido. Vendo que nenhum de seus dons podia conquistar-lhe o nosso amor, revestiu-se de nossa humanidade, e deu-se todo a nós: O Verbo de fez carne — e entregou-se por nós. O homem mostra seu desprezo a Deus, exclama S. Fulgêncio, afastando-se dele; Deus mostra seu amor ao homem descendo do céu à sua procura! Mas qual é o seu intento nesse passo? Quer que o homem, sabendo quanto é amado por Deus, o ame por sua vez, ao menos por gratidão. Mas ah! a- mamos um animal que se chega aos nossos pés; como pois não seremos gratos para com um Deus, que desce do céu à terra para que o amemos? Um homem, assistindo uma vez à missa, não manifestou nenhum ato de respeito às palavras que o sacerdote recita no fim: Et Verbum caro factum est. “O Verbo se fez carne”. Imediatamente o demônio lhe deu uma terrível bofetada, dizendo: “Ingrato, se Deus tivesse feito por mim o que fez por ti, eu ficaria eternamente prostrado em terra para lhe agradecer”. 238
Afetos e Súplicas. Ó Filho eterno de Deus, fizestes-vos homem para ganhar o coração do homem; mas onde está o amor que os homens vos têm? Destes o vosso sangue e a vossa vida para salvar vossas almas; como pois vos somos tão pouco reconhecidos? ah! em vez de vos amarmos, levamos ao desprezo a nossa ingratidão! Senhor, eis a vossos pés aquele que vos ultrajou mais do que todos. Mas a vossa paixão é a minha esperança. Ah! pelo amor que vos levou a tomardes a natureza humana e a morrerdes na cruz pela minha salvação, perdoai todas as minhas ofensas. Amo-vos, ó Verbo encarnado, amo-vos, ó meu Deus, amo-vos, bondade infinita, arrependo-me de vos haver desgostado tanto, quisera morrer de dor. Meu Jesus, dai-me o vosso amor; não permitais que continue a pagar com ingratidão a afeição que me mostrastes. Quero amar-vos toda a minha vida. Dai-me a santa perseverança. Ó Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, obtende-me de vosso Filho a graça de o amar cem cessar até a morte. MEDITAÇÃO II. DO AMOR QUE DEUS NOS MOSTROU NASCENDO MENINO. Fazendo-se homem por nosso amor, podia o Filho de Deus aparecer no mundo em estado de homem perfeito, como Adão, quando foi criado; mas como as crianças ganham ordinariamente mais o afeto dos que as vêm, quis mostrar-se na terra sob a forma duma criancinha, e até da mais pobre e abjeta de todas as crianças que jamais nasceram. “O nosso Deus quis nascer assim, diz S. Pedro Crisólogo, porque se queria fazer 239
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Afetos e Súplicas.<br />
Ó Filho eterno <strong>de</strong> Deus, fizestes-vos homem para ganhar o<br />
coração do homem; mas on<strong>de</strong> está o amor que os homens vos<br />
têm? Destes o vosso sangue e a vossa vida para salvar vossas<br />
almas; como pois vos somos tão pouco reconhecidos? ah! em<br />
vez <strong>de</strong> vos amarmos, levamos ao <strong>de</strong>sprezo a nossa ingratidão!<br />
Senhor, eis a vossos pés aquele que vos ultrajou mais do que<br />
todos. Mas a vossa paixão é a minha esperança. Ah! pelo amor<br />
que vos levou a tomar<strong>de</strong>s a natureza humana e a morrer<strong>de</strong>s na<br />
cruz pela minha salvação, perdoai todas as minhas ofensas.<br />
Amo-vos, ó Verbo encarnado, amo-vos, ó meu Deus, amo-vos,<br />
bonda<strong>de</strong> infinita, arrependo-me <strong>de</strong> vos haver <strong>de</strong>sgostado tanto,<br />
quisera morrer <strong>de</strong> dor. Meu <strong>Jesus</strong>, dai-me o vosso amor; não<br />
permitais que continue a pagar com ingratidão a afeição que<br />
me mostrastes. Quero amar-vos toda a minha vida. Dai-me a<br />
santa perseverança.<br />
Ó Maria, Mãe <strong>de</strong> Deus e minha Mãe, obten<strong>de</strong>-me <strong>de</strong> vosso<br />
Filho a graça <strong>de</strong> o amar cem cessar até a morte.<br />
MEDITAÇÃO II.<br />
DO AMOR QUE DEUS NOS MOSTROU NASCENDO<br />
MENINO.<br />
Fazendo-se homem por nosso amor, podia o Filho <strong>de</strong><br />
Deus aparecer no mundo em estado <strong>de</strong> homem perfeito, como<br />
Adão, quando foi criado; mas como as crianças ganham ordinariamente<br />
mais o afeto dos que as vêm, quis mostrar-se na terra<br />
sob a forma duma criancinha, e até da mais pobre e abjeta <strong>de</strong><br />
todas as crianças que jamais nasceram. “O nosso Deus quis<br />
nascer assim, diz S. Pedro Crisólogo, porque se queria fazer<br />
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