Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
começando a exigir por esta primeira pena a satisfação que lhe era devida. Eis a que se reduz o Filho de Deus por amor dos homens: priva-se de sua liberdade e se coloca em cadeias para livrarnos das cadeias do inferno. E nós poderíamos sem injustiça não corresponder com gratidão e amor à bondade daquele que, sem estar a isso obrigado, mas por puro afeto para conosco, se fez nossa caução e nosso libertador, que se ofereceu para pagar nossas dívidas e de fato as pagou com sua vida divina, e se carregou das penas devidas aos nossos crimes? Não te esqueças, diz o Sábio, do benefício que te fez o que ficou por teu fiador, porque ele expôs a sua vida por ti. Afetos e Súplicas. Sim, meu Jesus, o vosso profeta tem razão de advertir-me a não esquecer a graça inapreciável que me fizestes. Eu era o devedor, o culpado; e vós inocente, vós, o meu Deus, quisestes expiar minhas faltas com vossas dores e com a vossa morte. Mas eu, depois disso, esqueci os vossos benefícios e o vosso amor e tive a audácia de voltar-vos as costas, como se não fosseis o meu soberano Senhor, e um Senhor que me amou tanto! Mas, meu caro Redentor, se no passado fui ingrato, estou resolvido a não cometer mais a mesma falta: os vossos sofrimentos e a vossa morte serão o objeto contínuo dos meus pensamentos; recordar-me-ão sem cessar o amor que me tendes. Maldigo esses dias em que, esquecido do que sofrestes por mim, fiz uso tão mau da minha liberdade; vós ma destes para eu vos amar, e dela me servi para vos ultrajar! Mas hoje, consagro-vos inteiramente essa liberdade que recebi de vós. Por favor, Senhor, preservai-me da desgraça de me ver outra vez separado de vós e caído na escravidão de Lúcifer. Prendei minha pobre alma aos vossos sagrados pés pelas cadeias do vosso amor a fim de que se não separe jamais de vós. — Pa- 170
dre eterno, pelo cativeiro de Jesus no seio de Maria, livrai-me das cadeias do pecado e do inferno. E vós, ó Mãe de Deus, socorrei-me. Tendes o Filho do Altíssimo encerrado em vosso seio e estreitamente unido a vós: já que Jesus é vosso prisioneiro, fará o que lhe disserdes, ah! dizei-lhe que me perdoe, dizei-lhe que me torne santo. Ajudaime, minha Mãe, eu vos conjuro pela graça e honra de Jesus Cristo vos fez de habitar nove meses em vós. MEDITAÇÃO VII. In propria venit, et sui eum non receperunt. Veio para o que era seu, e os seu o não receberam (Jo 1,11). Um dia, durante as festas do Natal, S. Francisco de Assis andava chorando e suspirando pelos caminhos e florestas, e parecia inconsolável. perguntaram-lhe a causa de sua dor e ele respondeu: “Como quereis que eu não chore, vendo que o a- mor não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura, e o homem ser tão ingrato a esse Deus!” Se a ingratidão dos homens afligia tanto o coração de S. Francisco, imaginemonos quanto mais afligiu o coração de Jesus Cristo. Apenas concebido no seio de Maria, ele viu a cruel ingratidão, que devia receber dos homens. Viera do céu para acender na terra o fogo do amor divino; esse único motivo o levou a deixar-se imergir num abismo de dores e opróbrios: Vim trazer o fogo sobre a terra, e que quero senão que se inflame? e via um abismo de pecados que os homens iriam cometer depois de receberem tantas provas de seu amor! Eis, diz S. Bernardino de Sena, o que lhe causou uma dor infinita. Nós mesmos sentimos pena insuportável vendo-nos tratados com ingratidão; é que, segundo a reflexão do bem- 171
- Page 119 and 120: próprio Filho para se fazer homem
- Page 121 and 122: tros mundos, mil vezes maiores e ma
- Page 123 and 124: nho recebido de vós graças mais e
- Page 125 and 126: tenho feito. Sim, meu Deus, quero l
- Page 127 and 128: que lhe devia custar a sua qualidad
- Page 129 and 130: teu a essa injusta sentença, obede
- Page 131 and 132: Jesus veio libertar o mundo dessas
- Page 133 and 134: do para ser castigado como malfeito
- Page 135 and 136: MEDITAÇÃO VIII. Deus autem qui di
- Page 137 and 138: me somente o castigo de viver sem o
- Page 139 and 140: pelo amor de Jesus Cristo, que prom
- Page 141 and 142: Maria, minha Mãe, socorrei-me. Sej
- Page 143 and 144: nhor, não mais pecados, não mais
- Page 145 and 146: está aberta, entrai em meu pobre c
- Page 147 and 148: me um coração que compense os des
- Page 149 and 150: fruto em mim por vossa graça, cujo
- Page 151 and 152: a minha vida os desgostos que vos d
- Page 153 and 154: morte. Se sou indigno de morrer pel
- Page 155 and 156: MEDITAÇÃO XVIII. Proprio Filio su
- Page 157 and 158: MEDITAÇÕES PARA OS DIAS DA NOVENA
- Page 159 and 160: afastar-me de vós pelo pecado; mas
- Page 161 and 162: Ah! meu amado Redentor, quanto vos
- Page 163 and 164: zado e abandonado, que chora sobre
- Page 165 and 166: provou no jardim das Oliveiras, e q
- Page 167 and 168: satisfazer pelos pecados dos homens
- Page 169: E vós, ó Maria, Mãe de misericó
- Page 173 and 174: quero pois fazer-vos ainda a injúr
- Page 175 and 176: sobre as nuvens do céu, com grande
- Page 177 and 178: fazendo trajeto tão longo, por cam
- Page 179 and 180: Que festa num reino por ocasião do
- Page 181 and 182: MEDITAÇÃO II. JESUS NASCE MENINO.
- Page 183 and 184: pado para convosco; quantas vezes v
- Page 185 and 186: ser sacudir o jugo de minhas paixõ
- Page 187 and 188: que vos levaram, e os peitos que su
- Page 189 and 190: que rega de lágrimas de ternura ao
- Page 191 and 192: pelo entorpecimento dos sentidos. N
- Page 193 and 194: de amor; eis por que os judeus, ven
- Page 195 and 196: Esse grande nome é, pelo Espírito
- Page 197 and 198: MEDITAÇÃO IX. SOLIDÃO DE JESUS N
- Page 199 and 200: que me não afaste mais de vós, e
- Page 201 and 202: mente por mim que, mais do que os o
- Page 203 and 204: Ah! no passado procurei os bens ter
- Page 205 and 206: çura mostra que os acolhe e agrade
- Page 207 and 208: anjos tivessem oferecido suas vidas
- Page 209 and 210: Consideremos a preocupação dos do
- Page 211 and 212: Sim, vivem em grande pobreza; mas,
- Page 213 and 214: MEDITAÇÃO V. SOBRE A VOLTA DE JES
- Page 215 and 216: MEDITAÇÃO VI. JESUS EM NAZARÉ. C
- Page 217 and 218: MEDITAÇÃO VII. JESUS EM NAZARÉ.
- Page 219 and 220: MEDITAÇÃO VIII. SOBRE A PERDE DE
dre eterno, pelo cativeiro <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> no seio <strong>de</strong> Maria, livrai-me<br />
das ca<strong>de</strong>ias do pecado e do inferno.<br />
E vós, ó Mãe <strong>de</strong> Deus, socorrei-me. Ten<strong>de</strong>s o Filho do Altíssimo<br />
encerrado em vosso seio e estreitamente unido a vós:<br />
já que <strong>Jesus</strong> é vosso prisioneiro, fará o que lhe disser<strong>de</strong>s, ah!<br />
dizei-lhe que me perdoe, dizei-lhe que me torne santo. Ajudaime,<br />
minha Mãe, eu vos conjuro pela graça e honra <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong><br />
<strong>Cristo</strong> vos fez <strong>de</strong> habitar nove meses em vós.<br />
MEDITAÇÃO VII.<br />
In propria venit, et sui eum non receperunt.<br />
Veio para o que era seu, e os seu o não receberam (Jo<br />
1,11).<br />
Um dia, durante as festas do Natal, S. Francisco <strong>de</strong> Assis<br />
andava chorando e suspirando pelos caminhos e florestas, e<br />
parecia inconsolável. perguntaram-lhe a causa <strong>de</strong> sua dor e ele<br />
respon<strong>de</strong>u: “Como quereis que eu não chore, vendo que o a-<br />
mor não é amado? Vejo um Deus amar o homem até a loucura,<br />
e o homem ser tão ingrato a esse Deus!” Se a ingratidão dos<br />
homens afligia tanto o coração <strong>de</strong> S. Francisco, imaginemonos<br />
quanto mais afligiu o coração <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong>.<br />
Apenas concebido no seio <strong>de</strong> Maria, ele viu a cruel ingratidão,<br />
que <strong>de</strong>via receber dos homens. Viera do céu para acen<strong>de</strong>r<br />
na terra o fogo do amor divino; esse único motivo o levou a <strong>de</strong>ixar-se<br />
imergir num abismo <strong>de</strong> dores e opróbrios: Vim trazer o<br />
fogo sobre a terra, e que quero senão que se inflame? e via um<br />
abismo <strong>de</strong> pecados que os homens iriam cometer <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
receberem tantas provas <strong>de</strong> seu amor! Eis, diz S. Bernardino<br />
<strong>de</strong> Sena, o que lhe causou uma dor infinita.<br />
Nós mesmos sentimos pena insuportável vendo-nos tratados<br />
com ingratidão; é que, segundo a reflexão do bem-<br />
171