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COMUNICAÇÕES 247 - PEDRO DOMINGUINHOS O GUARDIÃO DO PRR

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL<br />

REGULAÇÃO VERSUS INOVAÇÃO<br />

PORTUGAL DIGITAL<br />

REDE DE TEST BEDS APOIA PME’S<br />

CIBERSEGURANÇA<br />

SOCORRO, PRECISAMOS DE GENTE!<br />

N.º <strong>247</strong> • SETEMBRO 2023 | ANO 36 • PORTUGAL • 3,25€<br />

<strong>PEDRO</strong> <strong><strong>DO</strong>MINGUINHOS</strong>,<br />

O <strong>GUARDIÃO</strong> <strong>DO</strong> <strong>PRR</strong>


Conheça os grandes vencedores da 8ª Edição,<br />

no dia 29 de novembro acompanhe em livestream.<br />

Os Portugal Digital Awards ® celebram aqueles que estão na linha da frente<br />

da transformação, através de um compromisso inabalável com a excelência<br />

digital, que reconhecemos como o motor de inovação, ef iciência e crescimento.<br />

Assista à entrega de prémios em:<br />

www.portugaldigitalawards.pt


edit orial<br />

Eduardo Fitas eduardo.fitas@accenture.com<br />

As dúvidas da inteligência<br />

Claramente, não existe tema mais discutido<br />

no mundo dos negócios nos últimos<br />

meses do que o do impacto da inteligência<br />

artificial generativa no mercado, nos<br />

resultados das empresas e mesmo na sociedade.<br />

Apesar das bases estarem a ser trabalhadas há<br />

décadas em laboratório, o tema só veio a debate<br />

público com o lançamento do ChatGPT, em novembro<br />

do ano passado. A partir daí, passou a ser<br />

o principal tema de discussão. E, apesar de haver<br />

muito mais dúvidas que certezas, todos estão<br />

conscientes de que não é algo que se possa ignorar.<br />

Pode custar a acreditar, mas há impactos da<br />

IA generativa que foram antecipados já em<br />

quatro décadas, tendo em conta a velocidade<br />

a que as capacidades estão a evoluir. E<br />

se a distribuição dos casos de uso de aplicação<br />

ainda não é hoje abrangente, é fácil antecipar<br />

que não haverá área que não venha a<br />

ser, direta ou indiretamente, transformada.<br />

A maior parte das entidades está numa fase de<br />

compreender os conceitos, de realizar pilotos e<br />

perceber as implicações da sua utilização, mas<br />

há algumas que avançaram já bastante na concretização,<br />

com a captura de valor criada pela<br />

utilização de plataformas de IA nos seus processos.<br />

E há já mesmo indústrias que estão a passar<br />

por revoluções, como o desenvolvimento de<br />

software, meios de comunicação ou agências de<br />

publicidade e gestão de meios, onde a produção<br />

de conteúdos é o core do negócio. E há o recente<br />

exemplo mediático, com direito ao Prémio<br />

Nobel da Medicina deste ano, da utilização de<br />

capacidades de IA para o desenvolvimento e teste<br />

de produtos, no caso de uma vacina em tempo<br />

recorde, para combater uma pandemia global.<br />

O poder transformacional da IA está apenas a<br />

começar e poucas vezes vimos uma capacidade<br />

tecnológica gerar tanto entusiasmo e criar<br />

tantas expetativas sobre a sua aplicação. Mas<br />

surgiram também muitas dúvidas sobre o que<br />

fazer, como fazer e garantir o controle efetivo<br />

do que se faz. Apesar de não estarmos completamente<br />

conscientes do impacto associado,<br />

temos de definir que regulação e que controlo<br />

deve ser aplicado à sua utilização, para se<br />

manter a confiança e privacidade nas plataformas<br />

desenvolvidas, sem comprometer as<br />

vantagens competitivas que daí resultam.<br />

Em resumo, quando a maior parte das empresas<br />

ainda não terminaram os seus processos de<br />

transformação digital, os seus programas de<br />

migração para a nuvem ou as suas iniciativas de<br />

automatização de atividades operacionais, junta-se<br />

agora mais uma nova e disruptiva dimensão,<br />

sobre a qual têm de evoluir e definir estratégias.<br />

E o mais frustrante? Não se pode pedir a um<br />

ChatGPT ou a um Bard uma resposta para estes<br />

desafios…•<br />

3


sumario<br />

FICHA TÉCNICA<br />

<strong>COMUNICAÇÕES</strong> <strong>247</strong><br />

Propriedade e Edição<br />

APDC – Associação Portuguesa<br />

para o Desenvolvimento das<br />

Comunicações<br />

A ABRIR 6<br />

5 PERGUNTAS 12<br />

Nuno Saramago, diretor-geral da SAP<br />

Portugal<br />

À CONVERSA 14<br />

Pedro Dominguinhos está no terreno para<br />

controlar 22,2 mil milhões<br />

EM DESTAQUE 28<br />

O AI Act é a iniciativa legislativa que está<br />

a dar que falar<br />

NEGÓCIOS 38<br />

Não há profissionais que cheguem para<br />

responder ao aumento de ciberataques<br />

I TECH 42<br />

Guilherme Dias, sales director do SAS<br />

Portugal<br />

REPORTAGEM 44<br />

E eis que foram conhecidos os vencedores<br />

da 2ª edição do Prémio Cidades &<br />

Territórios do Futuro, iniciativa da APDC<br />

PORTUGAL DIGITAL 50<br />

A Rede Nacional de Test Beds está a fazer<br />

a diferença<br />

CIDADANIA DIGITAL 62<br />

Casa do Impacto, uma referência do<br />

empreendedorismo social e ambiental<br />

ÚLTIMAS 64<br />

14<br />

28<br />

38<br />

44<br />

Diretora executiva<br />

Sandra Fazenda Almeida<br />

sandra.almeida@apdc.pt<br />

Av. João XXI, 78<br />

1000-304 Lisboa<br />

Tel.: 213 129 670<br />

Fax: 213 129 688<br />

Email: geral@apdc.pt<br />

NIPC: 501 607 749<br />

Diretor<br />

Eduardo Fitas<br />

eduardo.fitas@accenture.com<br />

Chefe de redação<br />

Isabel Travessa<br />

isabel.travessa@apdc.pt<br />

Secretária de redação<br />

Laura Silva<br />

laura.silva@apdc.pt<br />

Publicidade<br />

Isabel Viana<br />

isabel.viana@apdc.pt<br />

Conselho editorial<br />

Abel Costa; Alexandre Silveira; Bernardo<br />

Correia; Bruno Santos; Carlos Leite; Diogo<br />

Madeira; Eduardo Fitas; Filipa Carvalho;<br />

Francisco Maria Balsemão; Guilherme<br />

Dias; Helena Féria; Manuel Maria Correia;<br />

Marina Ramos; Miguel Almeida; Nuno<br />

Saramago; Olivia Mira; Pedro Faustino;<br />

Pedro Gonçalves; Pedro Tavares; Rogério<br />

Carapuça; Sérgio Catalão; Vicente Huertas<br />

Edição<br />

Have a Nice Day – Conteúdos Editoriais, Lda<br />

Av. 5 de Outubro, 72, 4.º D<br />

1050-052 Lisboa<br />

Coordenação editorial<br />

Ana Rita Ramos<br />

anarr@haveaniceday.pt<br />

Edição<br />

Teresa Ribeiro<br />

teresaribeiro@haveaniceday.pt<br />

Design<br />

Mário C. Pedro<br />

marioeditorial.com<br />

Fotografia<br />

Vítor Gordo/Syncview<br />

Periodicidade<br />

Trimestral<br />

Tiragem<br />

3.000 exemplares<br />

Preço de capa<br />

3,25 €<br />

Depósito legal<br />

2028/83<br />

Registo internacional<br />

ISSN 0870-4449<br />

ICS N.º 110 928<br />

4


a abrir<br />

COMPETÊNCIAS<br />

DIGITAIS SÃO<br />

PRIORITÁRIAS NAS<br />

ESCOLAS<br />

OS PAIS PORTUGUESES são dos que<br />

mais defendem o ensino de competências<br />

digitais nas escolas. São ainda<br />

os mais otimistas em relação ao seu<br />

potencial de utilização. Entendem<br />

que a literacia digital<br />

deve ser um objetivochave<br />

de educação<br />

e querem uma<br />

uniformização<br />

de standards na<br />

Europa, para o<br />

uso e ensino<br />

de tecnologias<br />

digitais na<br />

educação. A<br />

conclusão é do<br />

“21st Century<br />

Parents”,<br />

um inquérito<br />

realizado pela<br />

Ipsos Germany<br />

para a Fundação<br />

Vodafone junto de dez mil pessoas<br />

em dez países. Mostra ainda que<br />

os portugueses são dos maiores<br />

defensores de mais financiamento<br />

das escolas para este fim, bem como<br />

de mais formação dos professores.<br />

Consideram que a oferta de ensino<br />

online é reduzida e reconhecem que,<br />

em casa, não têm nenhum programa<br />

para controlar o consumo de conteúdos<br />

pelos seus filhos e são dos que<br />

mais denunciam a falta de empenho<br />

das escolas neste combate.•<br />

Os pais portugueses<br />

são os mais otimistas<br />

em relação ao<br />

potencial do ensino<br />

das competências<br />

digitais nas escolas<br />

ALINHAR CIBERSEGURANÇA COM<br />

NEGÓCIO AUMENTA RECEITAS<br />

AS ORGANIZAÇÕES que alinham as suas estratégias de<br />

cibersegurança com os objetivos de negócio têm 18% mais<br />

probabilidades de atingir o crescimento das receitas e da<br />

quota de mercado, assim como de melhorar a satisfação<br />

dos clientes. E têm 26% mais probabilidades de reduzir o<br />

custo inerente aos ataques cibernéticos. As conclusões são<br />

do estudo da Accenture, “State of Cybersecurity Resilience<br />

2023”, que identifica as organizações que estão a liderar os<br />

seus esforços de cibersegurança. Representam 30%<br />

dos inquiridos que conseguem um equilíbrio<br />

entre a excelência na resiliência cibernética e<br />

o alinhamento com a estratégia de negócio.<br />

Distinguem-se face às restantes empresas<br />

por quatro características: são excelentes<br />

na integração da cibersegurança e da<br />

gestão de riscos; integram uma estrutura<br />

baseada no risco cibernético no seu programa<br />

de gestão do risco empresarial;<br />

fazem com que as suas operações de<br />

cibersegurança e a liderança executiva<br />

concordem com a prioridade dos ativos<br />

e operações a proteger; e consideram<br />

o risco de cibersegurança em grande<br />

medida quando avaliam o risco global da<br />

empresa. Têm ainda mais tendência a utilizar<br />

fornecedores de serviços que possam<br />

gerir as operações de cibersegurança e estão<br />

mais empenhadas em proteger o seu ecossistema.•<br />

CURIOSIDADE<br />

MAQUILHAGEM VIRTUAL NO MICROSOFT<br />

TEAMS<br />

O Microsoft Teams passou a disponibilizar filtros de maquilhagem e os<br />

utilizadores podem escolher o que mais se adequa ao seu estilo pessoal.<br />

Basta selecionar o melhor look antes da<br />

reunião e deixar que a magia aconteça. Tudo<br />

graças a uma parceria da Microsoft com a<br />

Maybelline New York. A nova ferramenta<br />

destina-se a democratizar a maquilhagem<br />

e mostrar que esta pode ser um aliado<br />

para fortalecer a confiança das pessoas em<br />

contexto laboral. Foi desenvolvida pela<br />

Modiface AI, em colaboração com o Geena<br />

Davis Institute, garantindo a representação de<br />

uma população diversificada. Inclui 12 looks,<br />

à distância de um clique. Basta ter a licença<br />

corporativa do programa.•


CURIOSIDADE<br />

CARREGA<strong>DO</strong>R ELÉTRICO CONTROLA<br />

FATURA E EMISSÕES<br />

É o primeiro carregador de veículos elétricos do<br />

mundo que permite controlar a fatura de energia<br />

e as emissões de CO2. O EVlink Home Smart,<br />

lançado pela Schneider Electric, permite gerir o<br />

carregamento de veículos elétricos em casa e dar<br />

prioridade às fontes de energia renováveis. Através<br />

da aplicação Wiser by SE, é possível controlar o<br />

consumo de energia em tempo real, aceder ao<br />

histórico de carga, ver todos os carregamentos<br />

efetuados, data e hora de início dos mesmos, a hora<br />

a que terminaram e o custo total em euros. Podem<br />

comparar-se os tempos de carregamentos em anos,<br />

meses ou dias e analisar o custo da energia.•<br />

ESTRATÉGIAS-CHAVE PARA<br />

COMBATER ATAQUES CIBERNÉTICOS<br />

TEN<strong>DO</strong> EM CONTA as tendências de fraude em pagamentos digitais<br />

em todo o mundo, há oito estratégias-chave para combater ataques<br />

cibernéticos, revela um estudo do SAS e da Javelin, que mostra<br />

ainda que as tecnologias que incluem IA, machine learning ou biometria<br />

são essenciais para detetar e prevenir tentativas de fraude.<br />

O relatório “Tendências Mundiais sobre Fraude Digital” destaca<br />

oito recomendações: autenticação multifatorial; fortes controles<br />

de autenticação do cliente em todos os pontos de acesso digitais;<br />

estratégias antifraude digitalmente inclusivas; incorporar o protocolo<br />

3DS para reduzir fraudes no e-commerce; aproveitar a norma ISO<br />

20022 para prevenção de fraudes e combate à lavagem de dinheiro;<br />

educar os titulares de contas a reconhecer e denunciar táticas<br />

fraudulentas; consolidar as práticas de supervisão anti lavagem de<br />

dinheiro e know-your-customer numa única plataforma; e desenvolver<br />

um protocolo de avaliação de ameaças multicanal. A confiança<br />

dos consumidores é essencial e<br />

depende das empresas fazerem<br />

um uso eficaz de autenticação<br />

avançada de clientes e tecnologias<br />

antifraude, incluindo IA, machine<br />

learning e biometria, para<br />

detetar e prevenir ataques.•<br />

As tecnologias que<br />

incluem IA, ML<br />

ou biometria são<br />

essenciais para<br />

detetar e prevenir<br />

tentativas de fraude<br />

ILUSTRAÇÕES MIDJOURNEY<br />

TI PORTUGUESAS<br />

AUMENTAM<br />

EQUIPAS NO 4°<br />

TRIMESTRE<br />

MAIS DE METADE das empresas de<br />

Tecnologias da Informação do mercado<br />

nacional preveem aumentar as<br />

suas equipas no último trimestre de<br />

2023. Apesar da incerteza que marca<br />

o panorama económico, os empregadores<br />

do setor revelam otimismo no<br />

que respeita às perspetivas de contratação,<br />

de forma a dar resposta à<br />

transformação digital e à maior automatização<br />

das empresas e modelos<br />

de negócio. Todas têm a necessidade<br />

de reforçar as suas equipas com<br />

perfis especializados, para responder<br />

às oportunidades do mercado<br />

e alavancar o seu crescimento. As<br />

conclusões são do “Experis Tech Talent<br />

Outlook: 4º trimestre de 2023”. O<br />

trabalho revela que a Projeção para<br />

a Criação Líquida de Emprego no<br />

setor das Tecnologias da Informação<br />

(TI) em Portugal é forte, com +47%,<br />

crescendo 3 pontos percentuais face<br />

ao trimestre anterior. O país destaca-se<br />

como 7º a nível global com<br />

as previsões de contratação mais<br />

otimistas neste setor, situando-se 8<br />

pontos percentuais acima da média<br />

global. 55% das empresas preveem<br />

aumentar as suas equipas,<br />

8% antevê reduzir e 31%<br />

manter. A Projeção para a<br />

Criação Líquida de Emprego<br />

no setor tecnológico a nível<br />

global apresenta-se com<br />

um valor positivo de +39%,<br />

mantendo as perspetivas<br />

do 3º trimestre. Ainda<br />

assim, quando comparada<br />

com o período homólogo<br />

de 2022, esta projeção reflete<br />

uma descida moderada<br />

de 5 pontos percentuais.<br />

Mas em todos os 41 países<br />

e territórios inquiridos,<br />

foram apresentadas projeções<br />

positivas.•<br />

7


a abrir<br />

8<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Em vez de usarmos a tecnologia<br />

para ficarmos com mais<br />

tempo livre e para pensarmos<br />

melhor, andamos numa correria<br />

porque passámos a acompanhar<br />

o ritmo desumano da<br />

máquina. Nós andamos a servir<br />

a máquina, e não o inverso”<br />

Henrique Raposo, Expresso,<br />

2023/09/20<br />

“Para onde queremos ir? Qual<br />

é a estratégia? Tenho um sério<br />

problema com esta pressa de<br />

gastar dinheiro que gera um certo<br />

dinamismo de curto prazo,<br />

mas estagnação de longo prazo.<br />

Importa garantir que os fundos<br />

são usados de forma estratégica<br />

para dinamizar a economia portuguesa<br />

de forma mais sustentável<br />

e resiliente. Se a Irlanda<br />

conseguiu, por que Portugal não<br />

conseguirá?”<br />

Andrés Rodríguez-Pose,<br />

Expresso, 2023/08/25<br />

“Precisamos de um regulador<br />

que consiga equilibrar a concorrência,<br />

a sustentabilidade<br />

do investimento e o interesse<br />

dos consumidores. Numa área<br />

que é muito inovadora e entrega<br />

muita tecnologia, é essencial ter<br />

condições de estabilidade no investimento”<br />

Pedro Mota Soares, Expresso,<br />

2023/08/04<br />

“Temos hoje a geração mais<br />

qualificada de sempre, mas é<br />

evidente a incapacidade enquanto<br />

país de atrair e reter este<br />

talento, que parte à procura de<br />

melhores condições de vida. (…)<br />

Chegou o momento de encarar<br />

o problema e de promover medidas<br />

concretas que fixem o talento<br />

jovem no nosso país”<br />

Vasco de Mello, Dinheiro Vivo,<br />

2023/07/08<br />

EUROPA PREJUDICADA POR DÉFICE<br />

TECNOLÓGICO <strong>DO</strong>S LÍDERES<br />

AS EMPRESAS europeias poderiam gerar quase 3 mil milhões<br />

de euros em receitas adicionais até 2024 se conseguissem<br />

colmatar o défice tecnológico em cargos C-Level. É<br />

urgente melhorarem a experiência tecnológica nas suas administrações,<br />

acelerar o investimento em I&D que permita o<br />

desenvolvimento de novos modelos de negócio e tirar partido<br />

dos pontos fortes em termos de competências. O estudo<br />

da Accenture, “Innovate or Fade”, concluiu que só 14,4% dos<br />

membros dos conselhos de administração (CA) das empresas<br />

europeias analisadas têm experiência em tecnologia, em<br />

comparação com 21,6% das empresas da América do Norte.<br />

As dos Países Baixos, Irlanda e Reino Unido são as que têm<br />

mais experiência tecnológica nos CA, enquanto a Noruega,<br />

Áustria e Portugal se situam abaixo dos 10%. Cerca de 33%<br />

não têm qualquer membro do CA com experiência em<br />

tecnologia, em comparação com apenas 19% na América do<br />

Norte. Mas, as empresas europeias estão mais empenhadas<br />

em melhorar as competências tecnológicas dos seus colaboradores:<br />

28% dos inquiridos afirmaram ter um programa<br />

tecnológico em toda a empresa, enquanto apenas 18% das<br />

empresas americanas o fazem.•<br />

IA GENERATIVA: EMPRESAS TÊM<br />

FALTA DE COMPETÊNCIAS…<br />

APESAR da IA generativa poder ajudar no desenvolvimento<br />

das carreiras profissionais, os trabalhadores e os líderes das<br />

empresas estão com dúvidas sobre se têm as competências<br />

para usar a tecnologia da forma mais eficaz e segura. A conclusão<br />

é de um estudo da Salesforce. O “Generative AI Snapshot<br />

Research Series” mostra que, embora 54% dos inquiridos acredite<br />

que a IA generativa ajudará no desenvolvimento das suas<br />

carreiras, 62% diz que não ter as competências necessárias<br />

para a usar. Acreditam que a IA generativa vai transformar o<br />

seu papel: 62% diz que exigirá um novo conjunto de competências;<br />

56% que a tecnologia vai transformar completamente<br />

o seu papel; e 65% que permitirá que se concentrem num<br />

trabalho mais estratégico. Por isso, os colaboradores querem<br />

aprender e procuram orientação nas suas empresas, mas os<br />

empregadores não estão a acompanhar. Dois em cada três<br />

trabalhadores (67%) espera que o seu empregador ofereça<br />

oportunidades para aprender a usar IA generativa, mas 66%<br />

diz que o seu empregador não oferece formação. Isto apesar<br />

de os líderes considerarem que haverá uma economia de<br />

custos: 82% diz que a IA generativa irá reduzir os custos gerais<br />

dos negócios; 80% afirma que aumentará as receitas.•<br />

Só 14,4% dos<br />

membros dos<br />

conselhos de<br />

administração<br />

das empresas<br />

europeias têm<br />

experiência em<br />

tecnologia<br />

62% dos inquiridos<br />

diz ainda não<br />

ter as competências<br />

necessárias<br />

para usar a IA<br />

generativa


A consciência do<br />

consumidor sobre<br />

as questões éticas<br />

envolvidas com<br />

a utilização da<br />

IA generativa é<br />

diminuta<br />

… 73% <strong>DO</strong>S CONSUMI<strong>DO</strong>RES<br />

CONFIA NA TECNOLOGIA…<br />

A A<strong>DO</strong>ÇÃO de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa<br />

de primeira vaga tem sido fortemente consistente em todas as<br />

faixas etárias e geografias. Os consumidores confiam na tecnologia<br />

para os ajudar no planeamento financeiro, nos diagnósticos<br />

médicos e no aconselhamento sobre relações pessoais. Conclusões<br />

do novo estudo do Research Institute da Capgemini, o “Why<br />

consumers love generative AI”, que revela que a maioria (51%) dos<br />

consumidores está a par das últimas tendências da IA generativa<br />

e já explorou estas ferramentas. Apesar dos que usam a IA generativa<br />

com frequência estarem particularmente satisfeitos com a<br />

sua utilização nos chatbots, nos jogos e com os casos de uso nas<br />

suas pesquisas, as plataformas também estão a ser utilizadas<br />

para atividades quotidianas e pessoais. Têm, no entanto, pouco<br />

conhecimento sobre as questões éticas que envolvem a IA generativa<br />

e sobre os problemas que podem advir de uma utilização<br />

indevida, apesar do aumento dos ciberataques e das deepfakes.<br />

Quase metade (49%) dos consumidores não está preocupada com<br />

a perspetiva de a IA generativa ser usada para criar notícias falsas<br />

e apenas 34% estão preocupados com os possíveis ataques de<br />

phishing. A consciência do consumidor sobre as questões éticas<br />

envolvidas com a utilização da IA generativa também é diminuta.<br />

Apenas 33% se revelaram preocupados com os direitos de autor<br />

e ainda menos (27%) com a possível utilização dos algoritmos de<br />

IA generativa para copiar o design ou<br />

fórmulas de produtos<br />

da concorrência.•<br />

ILUSTRAÇÃO MIDJOURNEY<br />

NUMEROS<br />

15,7 BILIÕES<br />

É o valor, em dólares, com que a IA poderá<br />

contribuir para a economia mundial em<br />

2030, pelas contas da PwC. É mais do que<br />

a produção atual da China e da Índia juntas<br />

e revela que a revolução da inteligência<br />

artificial está a chegar em força ao mercado.<br />

A euforia é tanta que o Nasdaq-100 já<br />

registava um aumento de 38% até meados<br />

de julho, no acumulado do ano. Só a Nvidia<br />

disparou 195%.<br />

3 BILIÕES<br />

É o novo recorde, em dólares, obtido<br />

pela Apple no início de julho, sendo a<br />

1ª empresa do mundo a alcançar esse<br />

valor. Só este ano, a capitalização bolsista<br />

disparou quase 1 bilião. O interesse<br />

crescente na nova vaga de poderosas<br />

ferramentas de IA está a impulsionar as<br />

tecnológicas na Wall Street e a Apple não<br />

é exceção. Já vale quase 500 mil milhões<br />

mais do que a 2ª mais valiosa do mundo, a<br />

Microsoft, com 2,5 biliões de dólares.<br />

800 MIL MILHÕES<br />

É o montante estimado, em euros, que os<br />

mundos virtuais deverão valer em 2030<br />

no mercado global, altura em que terão<br />

um potencial de criação de 860 mil novos<br />

postos de trabalho. Bruxelas antecipa que<br />

os mundos virtuais transformem os setores<br />

empresarial e do emprego na UE. Nesse<br />

sentido, já avançou com a estratégia para<br />

a Web 4.0 e para os mundos virtuais. Quer<br />

definir as regras para a próxima transição<br />

tecnológica, garantindo um ambiente digital<br />

aberto, seguro, fiável, justo e inclusivo<br />

para os cidadãos, as empresas e as<br />

administrações públicas.<br />

9


a abrir<br />

SOUND BITES :-b<br />

“Não há profissão que não vá ser<br />

afetada pela IA. Continuamos a<br />

formar jovens para profissões<br />

que vão desaparecer ou transformar-se<br />

em nichos. Preparar o<br />

futuro começa na educação”<br />

Vicente Ferreira da Silva,<br />

Observador, 2023/08/01<br />

“Eis o aforismo dos nossos tempos:<br />

no pináculo do desenvolvimento<br />

científico e tecnológico<br />

da Inteligência Artificial, o homem<br />

mergulha na profundeza<br />

da sua animalidade. A história<br />

não vai acabar bem”<br />

Pedro Gomes Sanches,<br />

Expresso, 2023/07/24<br />

“O país precisa de criar uma estratégia<br />

de médio prazo para a<br />

inovação e o empreendedorismo<br />

tecnológico definida com<br />

base num acordo alargado entre<br />

policy makers, players do ecossistema<br />

early stage e o setor empresarial”<br />

Lurdes Gramaxo,<br />

ECO, 2023/07/11<br />

“Precisamos de acreditar no<br />

futuro e, acima de tudo, de prepará-lo.<br />

Se o mundo mudou, o<br />

ensino tem de mudar. Acredito<br />

que podemos voltar a ser uma<br />

luz de esperança para um mundo<br />

complexo, se executarmos<br />

uma visão de futuro para Portugal”<br />

Tim Vieira, Observador,<br />

2023/07/05<br />

“A organização social, económica<br />

e financeira vai sofrer um<br />

grande abalo devido à Inteligência<br />

Artificial. Vai haver revolta e<br />

necessidade de fazer um novo<br />

contrato social”<br />

Luís Moniz Pereira, Expresso,<br />

2023/06/20<br />

…CLIENTES <strong>DO</strong> RETALHO<br />

QUEREM EXPERIÊNCIAS,<br />

MAS AINDA TÊM ME<strong>DO</strong>…<br />

OS CONSUMI<strong>DO</strong>RES querem beneficiar da conveniência e do<br />

valor da IA, mas ainda têm dúvidas e medos. Perante este<br />

conflito entre benefícios e preocupações, esta é uma oportunidade<br />

para os retalhistas educarem e fidelizarem os seus<br />

clientes. A conclusão é de um estudo da SAP Emarsys. Com<br />

entrevistas a mais de 4 mil consumidores nos EUA, o trabalho<br />

indica que 51% dos compradores acredita que a IA está<br />

a ter um impacto positivo nas suas experiências de retalho.<br />

Mais de três quartos (77%) preferem marcas que ofereçam<br />

recomendações personalizadas, mas 86% assume que<br />

prefere interagir com humanos. Muitos estão preocupados<br />

com a utilização da recolha de dados por parte da<br />

IA: 63% querem que os retalhistas encontrem<br />

um melhor equilíbrio entre a recolha dos<br />

dados e a melhoria das experiências de<br />

compra. A transparência é fundamental,<br />

pelo que as marcas têm de explicar como<br />

é que os dados são usados e o que podem<br />

oferecer aos consumidores.•<br />

… E UM TERÇO DAS<br />

ORGANIZAÇÕES JÁ<br />

A UTILIZA<br />

CERCA de nove meses depois do<br />

lançamento do ChatGPT, um terço<br />

das organizações em todo o mundo<br />

já utiliza a IA generativa em pelo menos<br />

uma função e um quarto utiliza no seu<br />

próprio trabalho. Os dados são de um estudo<br />

da QuantumBlack, a unidade de IA da McKinsey. Em cada três<br />

empresas, a GenAI está a funcionar de forma produtiva em<br />

pelo menos uma área de negócio e, das empresas que já dependiam<br />

da IA, 60% estão agora intensamente envolvidas com<br />

a GenAI. O trabalho revela que as empresas que já tiveram de<br />

lidar com a aprendizagem automática e a profunda estão com<br />

um ritmo de inovação elevado, explorando as possibilidades<br />

da GenAI de forma mais sistemática do que as demais. As<br />

empresas esperam mudanças significativas nas suas forças<br />

de trabalho, dando como certas as reduções de pessoal em<br />

algumas áreas de negócio, pelo que serão necessários programas<br />

de formação e de aperfeiçoamento em grande escala,<br />

para que as oportunidades oferecidas pela GenAI possam ser<br />

utilizadas de forma consistente.•<br />

51% dos consumidores<br />

acredita<br />

que a IA está a<br />

ter um impacto<br />

positivo nas suas<br />

experiências de<br />

retalho<br />

Em cada três<br />

empresas, a<br />

GenAI está a funcionar<br />

de forma<br />

produtiva em pelo<br />

menos uma área<br />

de negócio<br />

ILUSTRAÇÃO MIDJOURNEY


ESTRATÉGIAS PARA UMA ECONOMIA<br />

DE BAIXO CARBONO<br />

Estudo revela que<br />

as empresas não<br />

estão preparadas<br />

para limitar o impacto<br />

ambiental<br />

da sua atividade<br />

APESAR do combate às alterações climáticas ser uma das prioridades das empresas, as<br />

organizações não estão necessariamente equipadas para responderem às expetativas<br />

do mercado. O desafio é agora saberem trabalhar mais estreitamente com parceiros<br />

e clientes para restaurarem a confiança neste debate e conduzirem todas as partes<br />

interessadas para uma economia de baixo carbono. Nesta luta contra<br />

as alterações climáticas, dois elementos farão a diferença: a avaliação<br />

científica e a colaboração entre todas as partes envolvidas. A conclusão<br />

é de um estudo da Capgemini com a Dassault Systèmes e a Bloom.<br />

Denominado “Social Intelligence for Climate Action”, mostra que<br />

na era das plataformas, podemos mobilizar novos recursos<br />

de colaboração, observação e comunicação, como as redes<br />

sociais, para ultrapassar os obstáculos ao desenvolvimento<br />

da ação climática. Isso permitirá que as indústrias inovem<br />

de forma diferente, mobilizando o imaginário coletivo. Este<br />

estudo, que decorreu em 2022, teve como principal objetivo<br />

compreender melhor quais os obstáculos ao desenvolvimento<br />

da ação climática e como podem as pessoas<br />

superá-los para limitarem o impacto do aquecimento<br />

global. O trabalho revela também que se o ceticismo<br />

sobre as alterações climáticas é agora marginal, o debate<br />

está focado sobre qual será a melhor forma de lidar com<br />

o problema, num ano marcado pelo agravamento das<br />

alterações climáticas.•<br />

5G DÁ OPORTUNIDADES DIFERENCIADAS<br />

DE CONETIVIDADE<br />

CERCA de 20% dos utilizadores de smartphones 5G estão dispostos a pagar um prémio<br />

de até mais 11% aos operadores para obterem uma qualidade de serviço diferenciada<br />

nas redes 5G. E os consumidores desta tecnologia móvel têm três vezes mais probabilidades<br />

de mudar de fornecedor de comunicações, se este não fornecer boas experiências<br />

de conetividade em locais importantes, como estádios, arenas e aeroportos.<br />

As conclusões são do mais recente estudo do ConsumerLab da Ericsson. Denominado<br />

“5G Value: Turning Performance into Value”, centra-se na satisfação e lealdade do<br />

utilizador e destaca o potencial de negócio do 5G para os fornecedores de serviços de<br />

comunicações, uma vez que um número crescente de subscritores em todo o mundo<br />

expressa está cada vez mais satisfeito com a nova tecnologia. O relatório reflete as opiniões<br />

de cerca de 1,5 mil milhões de consumidores em todo o mundo, incluindo cerca<br />

de 650 milhões de clientes 5G. E indica que os fatores que influenciam a satisfação do<br />

consumidor estão em transformação, passando a abranger métricas mais baseadas<br />

na experiência das aplicações, como qualidade do streaming de vídeo, experiência de<br />

jogos e videochamadas e consistência de velocidade. Um indicador claro de fidelidade<br />

do cliente 5G está relacionado às experiências com a conetividade em locais movimentados<br />

e de grandes eventos.•<br />

A fidelidade do<br />

cliente 5G passa<br />

pelo fornecimento<br />

de boas experiências<br />

ILUSTRAÇÃO STABLE DIFFUSION<br />

11


5 perguntas<br />

12<br />

NUNO SARAMAGO:<br />

Motivar equipas<br />

é a grande prioridade<br />

Com a meta de duplicar o número de pessoas no mercado nacional,<br />

o diretor-geral da SAP Portugal reconhece que a empresa<br />

vive a maior transformação estratégica da sua história. Motivar<br />

as equipas para esta etapa entusiasmante é o seu maior desafio.<br />

Texto de Isabel Travessa| Fotos cedidas<br />

Quais são as suas grandes metas<br />

para a SAP Portugal, que lidera<br />

desde abril?<br />

A motivação das pessoas é o fator<br />

mais crítico para o sucesso da<br />

SAP. Com tanta transformação e<br />

disrupção, motivar colaboradores<br />

- de diferentes gerações, variados<br />

percursos profissionais e diversidade<br />

cultural - é um desafio contínuo que<br />

requer atenção constante. Uma das<br />

grandes metas quantitativas passa<br />

por duplicar a nossa equipa em Portugal.<br />

Somos 662 pessoas em todas<br />

as áreas de negócio. E contamos<br />

com um ecossistema de parceiros de<br />

excelência e elevada capacidade tecnológica,<br />

que nos permite colocar,<br />

de forma célere, grande capilaridade<br />

e qualidade nas nossas inovações.<br />

Aumentaremos esta criação de valor<br />

através da forte aposta em aspetos<br />

decorrentes da transformação digital,<br />

por via da IA generativa, da cloud,<br />

da experiência de clientes, parceiros<br />

e colaboradores.<br />

Está no grupo desde 1999. Passar<br />

a diretor-geral da subsidiária foi<br />

uma consequência natural?<br />

Foi uma opção motivada pelos<br />

excelentes líderes que temos na<br />

SAP. Evoluí, como profissional, numa<br />

organização que sempre soube trazer<br />

os melhores, que exigiu pensar<br />

mais além, que procurou liderar e<br />

criar tendências e, ainda, que soube<br />

estimar as suas pessoas. Perante um<br />

cenário destes, como não aceitar o<br />

desafio de estar à frente da empresa?<br />

É um privilégio liderar a SAP<br />

Portugal num período em que a empresa<br />

passa pela maior transformação<br />

estratégica dos seus 51 anos de<br />

história: deixou de ser uma empresa<br />

de produto para ser uma empresa<br />

de serviços, algo tão entusiasmante<br />

que levará todos a uma nova etapa<br />

evolutiva.<br />

No SAP Sapphire 2023 anunciaram<br />

mais inovações, para capacitar as<br />

empresas para um futuro incerto.<br />

O mercado português está a beneficiar<br />

destas apostas?<br />

O mercado português é constituído<br />

por inúmeras empresas que se assumem<br />

na linha da frente do desenvolvimento<br />

tecnológico. São capazes de<br />

abrir as suas organizações ao que de<br />

mais disruptivo se assiste à escala<br />

global. Em alguns casos, estamos<br />

perante organizações que merecem<br />

ser divulgadas como best cases na<br />

implementação dos mais variados<br />

cenários digitais. As empresas nacionais<br />

já podem beneficiar da evolução<br />

para uma IA generativa ou da<br />

extraordinária inovação que a IA de<br />

negócio da SAP vem trazer ao mundo<br />

empresarial. A IA é um desafio,<br />

mas também um suporte, não um<br />

encargo ou um perigo, para a forma<br />

como vivemos o mundo. Deixa-me<br />

muito otimista verificar que o tecido<br />

empresarial português quer assumir<br />

uma posição de vanguarda, através<br />

de resultados práticos. Só assim é<br />

possível ao país responder aos desafios<br />

que se levantam.<br />

O nosso processo de transformação<br />

para o digital já está ao nível<br />

dos outros mercados europeus?<br />

Estamos ao mesmo nível e, em alguns<br />

casos, até mais avançados. Claro<br />

que a massa crítica nacional pode<br />

trazer algumas limitações. Temos<br />

uma dimensão pequena, em território<br />

e população e, também por isso,<br />

há necessidade de encontrarmos<br />

soluções que respondam aos desafios<br />

empresariais que se levantam<br />

e termos a agilidade para as adotar<br />

rapidamente. O diálogo que a SAP<br />

tem com os seus parceiros e clientes<br />

é sempre muito produtivo, por todos<br />

estarem cientes da necessidade de<br />

implementar estratégias robustas e<br />

diferenciadoras e de alavancar estas<br />

organizações também nos mercados<br />

externos, pois a internacionalização<br />

é um aspeto fundamental para o<br />

nosso sucesso económico.<br />

Os fundos europeus são uma oportunidade<br />

única?<br />

É isso que verificamos. Temos uma<br />

oportunidade, pelo que exortamos<br />

todos os agentes que intervêm<br />

nestes processos a irem mais além<br />

nesta revolução organizativa a<br />

que estamos a assistir. Tenho-me<br />

deparado com um discurso muito<br />

consistente, quanto ao papel crucial<br />

da transformação tecnológica. Sente-se<br />

no mercado uma aceleração<br />

na inovação, com um crescimento<br />

bastante sustentado. Estou muito<br />

otimista com a concreta aplicação<br />

destes fundos, para o desenvolvimento<br />

de uma economia de futuro,<br />

competitiva e capaz de enfrentar<br />

desafios complexos. •


No país, todas as organizações estão “cientes da necessidade de implementar estratégias robustas<br />

e diferenciadoras, no mais curto espaço de tempo”, que as alavanquem “não apenas no mercado<br />

nacional, mas também nos mercados externos, pois a internacionalização é um aspeto fundamental<br />

para o nosso sucesso económico”, assegura Nuno Saramago, diretor-geral da SAP Portugal<br />

13


a conversa<br />

14<br />

“Acredito muito mais em projetos integrados do que em gavetas onde as empresas vão à procura de fundos”


GESTOR DE<br />

RELAÇÕES<br />

Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão<br />

Nacional de Acompanhamento do <strong>PRR</strong>, já mostrou<br />

ser capaz de mobilizar relações, chegar às<br />

pessoas, aproximar territórios. O país espera que<br />

ele use este capital social para permitir utilizar<br />

os 22,2 mil milhões de euros do <strong>PRR</strong> da melhor<br />

forma possível.<br />

ENTREVISTA DE ANA RITA RAMOS E ISABEL TRAVESSA<br />

FOTOS DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/ SYNCVIEW<br />

15


a conversa<br />

16<br />

“O desafio do PPR cativa qualquer pessoa que tenha um percurso ligado ao terreno e ao território”


Esta entrevista revela um quadro social e político.<br />

Revela um homem ligado às raízes no Alentejo, mas a<br />

olhar para o futuro. Pedro Dominguinhos, presidente da<br />

Comissão Nacional de Acompanhamento do <strong>PRR</strong>, escolheu<br />

ser entrevistado na Escola Superior de Ciências<br />

Empresariais do Instituto Politécnico de Setúbal, local<br />

onde se sente em casa, e fotografado na Chança, a sua<br />

aldeia natal. E isto diz muito sobre ele.<br />

Pedro Dominguinhos pertence a uma geração que acreditou<br />

que o futuro podia ser o que fizessem com ele.<br />

Esteve toda a vida ligado ao ensino politécnico e fez<br />

disso uma das suas causas. Foi convidado por António<br />

Costa para ser a cara do <strong>PRR</strong>. Mas não é só disso que<br />

se fala nesta entrevista.<br />

Do que se fala aqui? Do privilégio que foi crescer numa<br />

família que o incentivou a estudar numa aldeia no interior<br />

alentejano onde, ainda hoje, é difícil os jovens<br />

seguirem para o ensino superior. De um avô empreendedor<br />

e de uma avó cuidadora, que o marcaram para<br />

sempre. Da sua ligação ao ensino politécnico, uma espécie<br />

de fundamento social, e da sua dedicação à causa<br />

pública, que o levou a aceitar o desafio de suceder a<br />

António Costa e Silva como líder da CNA. Do privilégio<br />

de estar ligado ao desenvolvimento do território e do<br />

capital social que construiu ao longo de anos a correr o<br />

país.<br />

Pedro Dominguinhos recebeu-nos sem pressas, dando<br />

espaço a uma entrevista demorada e sumarenta. Para<br />

um homem que está sempre em trânsito, disponibilizar<br />

o seu tempo com esta generosidade é algo que assinalamos<br />

com admiração.<br />

17


a conversa<br />

“Vivi o verão quente,<br />

uma experiência muito<br />

forte. Assistimos a muitas<br />

ocupações de herdades no<br />

Alentejo. Houve situações<br />

extremas, de pessoas quase<br />

enforcadas.<br />

Do ponto de vista político,<br />

isso construiu, de forma<br />

muito vincada, a minha<br />

consciência, a minha noção<br />

de justiça social, a noção de<br />

propriedade privada”<br />

18


Porque aceitou o cargo de presidente da Comissão de<br />

Acompanhamento do <strong>PRR</strong>? A dedicação à causa pública<br />

explica toda a motivação, ou há algo mais?<br />

A dedicação à causa pública, sobretudo para um trabalhador<br />

em causas públicas como eu, é essencial. Por<br />

outro lado, o desafio do Plano de Recuperação e Resiliência<br />

(<strong>PRR</strong>) cativa qualquer pessoa que tenha um<br />

percurso ligado ao terreno e ao território. Enquanto<br />

presidente do Conselho Coordenador dos Institutos<br />

Superiores Politécnicos (CCISP) tive grande proximidade<br />

aos territórios, às comunidades locais.<br />

Estar ligado a um programa que quer ser realmente<br />

transformador da sociedade portuguesa motiva-o?<br />

Claro. Mas é bom sublinhar que o <strong>PRR</strong> não é uma panaceia.<br />

Um programa, por mais robusto que seja, de<br />

22,2 mil milhões de euros, não muda a realidade, não a<br />

muda totalmente. Mas tem grande potencial. É um desafio<br />

que continuo a abraçar porque me permite cumprir<br />

algo que faz parte do meu ADN: a proximidade ao<br />

terreno, estar próximo das instituição e das pessoas.<br />

Por outro lado, a oportunidade de começar projetos<br />

novos é extraordinária. Gosto muito de estar na fase<br />

de visão, de conceção dos projetos. Por exemplo, na<br />

escola onde estamos hoje a fazer esta entrevista (Escola<br />

Superior de Ciências Empresariais do Politécnico<br />

de Setúbal) muito do mobiliário que aqui está foi adquirido<br />

por mim e por vários colegas que participaram<br />

em tudo desde o início, começando pela definição dos<br />

cadernos de encargos até à aquisição final. É a sensação<br />

de ter aqui um filho.<br />

Uma grande responsabilidade…<br />

Sim! A Comissão Nacional de Acompanhamento do<br />

<strong>PRR</strong> (CNA) estava a dar os seus primeiros passos, já<br />

com a credibilidade que o professor Costa e Silva imprimiu.<br />

Eu entro numa fase em que beneficio do trabalho<br />

já feito, e consigo ir mais para o terreno.<br />

Este desafio do <strong>PRR</strong> não é um desvio da sua rota? É colocar-se<br />

na boca de cena, no meio do holofotes…<br />

É a minha primeira mudança de emprego, porque eu<br />

entrei no Politécnico de Setúbal em 1995.<br />

O convite inquietou-o?<br />

Senti-o como um desafio. Mas a primeira vez que pensei<br />

a sério no convite perguntei a mim mesmo: “Onde<br />

é que eu me estou a meter?”. Houve uma mudança, ao<br />

nível das funções, muito drástica, porque eu era muito<br />

executivo, tinha uma carga burocrática e administrativa<br />

muito forte e esta carga desapareceu. Sinto o peso<br />

de responsabilidade. Passei a ter uma função mais estratégica.<br />

Isto significa uma capacidade de reflexão, de<br />

fazer ligações entre as diferentes áreas.<br />

Sentiu medo?<br />

Não é medo, é sobretudo a noção de que, até pela independência<br />

exigida à CNA, represento os portugueses<br />

e as portuguesas. Tudo o que digo e não digo é lido<br />

pela sociedade. A responsabilidade de execução não<br />

é da Comissão Nacional de Acompanhamento, mas<br />

esta independência é fundamental. Nós representamos<br />

a sociedade civil organizada. O Estado português<br />

delegou na CNA a missão de acompanhar a execução<br />

do <strong>PRR</strong>, dando-lhe a possibilidade de emitir pareceres<br />

e recomendações. Por isso imprimi desde muito cedo<br />

uma lógica de proximidade ao terreno....<br />

Está sempre em viagem…<br />

Sim. Temos de fazer a triangulação, porque acompanhar<br />

as movimentações num gabinete é impossível.<br />

Precisamos de falar com as pessoas que estão no terreno<br />

a executar os projetos, que sentem dificuldades<br />

mas também conquistas diárias, e triangular com os<br />

vários ministérios ou responsáveis governamentais<br />

que podem imprimir maior celeridade, autorizar a<br />

contratação e a despesa, fazer as alterações legislativas.<br />

No fundo, está a aproximar todas as partes para criar<br />

valor, indo para o terreno sempre que possível.<br />

Aquilo que aprendi desde muito cedo é que, quando<br />

falamos uns com os outros, conseguimos resolver a<br />

maioria das dificuldades e dos problemas que enfrentamos.<br />

Por outro lado, sendo eu alentejano, desde muito<br />

cedo percebi que a questão do território é essencial<br />

e que precisamos de dar voz às pessoas. Fazer política<br />

a partir de um gabinete, de um relatório, é inviável. A<br />

minha chefe de gabinete, Dra. Sandra Pinto, costuma<br />

dizer que, em muitos dos organismos em Portugal, falta<br />

uma função essencial: a pessoa que faz a ligação entre<br />

os vários pontos. Connecting the dots – em inglês soa<br />

melhor! Um gestor de relações.<br />

É uma espécie de capital social…<br />

Não num sentido financeiro, mas na capacidade de<br />

mobilizar relações, fruto da credibilidade.<br />

Acha que foi por isso que foi escolhido para este lugar?<br />

Não sei, só o Primeiro Ministro poderá dizer.<br />

Voltando atrás, para recomeçar esta conversa pelo<br />

princípio. Como foram os seus tempos primordiais<br />

no Alentejo?<br />

A minha vida no Alentejo foi muito saudável, sem<br />

19


a conversa<br />

dificuldades significativas. Os meus avós maternos<br />

tinham uma queijaria na Chança, onde nasci. O meu<br />

avô sempre foi muito empreendedor. Era uma pessoa<br />

que tinha uma consciência política muito forte. Chegou<br />

a ser detido pela PIDE e tinha um enraizamento<br />

muito forte no Alentejo. Era um comunista puro, defendia<br />

verdadeiramente os valores em que acreditava.<br />

Quando se constituíram as cooperativas, ele doou parte<br />

significativa dos seus bens à cooperativa. Foi a conviver<br />

com ele e com os meus tios que ganhei consciência<br />

política, ainda muito pequeno.<br />

Sendo tão pequeno, é extraordinário que tenha guardado<br />

isso na memória…<br />

Brincávamos na rua. A minha aldeia tem um largo<br />

enorme, é talvez das aldeias que eu conheço com<br />

maior vivência no largo. Tínhamos um ringue (hoje é<br />

um polidesportivo), onde jogávamos à bola. Num dia,<br />

em 1977, estava a haver uma manifestação de trabalhadores<br />

e passa um delegado da UGT da nossa terra.<br />

Centenas de pessoas no ringue começaram a chamar<br />

fascista ao delegado da UGT. A questão política ficoume<br />

muito marcada.<br />

20<br />

Eram outros tempos…<br />

Sim. Eu fiz a escola primária numa altura em que existiam<br />

ainda quatro turmas na Chança, éramos quase 80<br />

alunos. Hoje, já não existe escola primária.<br />

Na sua infância e adolescência<br />

alguma vez teve a<br />

noção de que era um menino<br />

privilegiado? É também<br />

uma maneira de perguntar<br />

pelos destinos que<br />

lhe foram traçando e que<br />

foi traçando para si. Falenos<br />

mais dessas origens…<br />

Não éramos propriamente<br />

privilegiados, mas nunca<br />

senti carências. Os meus<br />

pais trabalhavam. O meu<br />

pai na CP, a minha mãe na<br />

queijaria. Até inícios dos<br />

anos 80 tive uma infância normalíssima. Mas houve<br />

algo que me marcou: assisti ao Verão de 75 e aos anos<br />

que se seguiram, assisti a todas as ocupações. Eu tenho<br />

uma imagem na minha cabeça que nunca mais esquecerei.<br />

Que idade tinha?<br />

Quatro, cinco, seis anos. Mas ainda tenho imagens<br />

desse tempo. Na altura, nós morávamos na Estrada<br />

Nacional e os verões eram muito quentes. Não havia<br />

ar condicionado e dormíamos a sesta. Recordo-me de<br />

estar à janela com a minha mãe e ela dizer: “Fecha-te,<br />

porque pode haver problemas”. Estava a passar um<br />

trator cheio de trabalhadores rurais com machados,<br />

picaretas, enxadas, a caminharem para a ocupação de<br />

uma herdade. Foi algo que me toldou, que construiu a<br />

minha própria consciência política. Qual o sentido de<br />

justiça de alguém ocupar herdades de outras pessoas?<br />

Houve situações extremas, de pessoas quase enforcadas…<br />

“Sendo eu alentejano,<br />

desde muito cedo<br />

percebi que a questão do<br />

território é essencial e que<br />

precisamos de dar voz às<br />

pessoas”<br />

Apesar de ser muito novinho.<br />

As coisas não nos escapavam. Os nossos pais não nos<br />

podiam proteger destas questões. Eu vivi o verão quente,<br />

uma experiência muito forte, assistimos a muitas<br />

ocupações de herdades no Alentejo. Do ponto de vista<br />

político, isso construiu<br />

de forma muito vincada<br />

a minha consciência, a<br />

minha noção de justiça<br />

social, a noção de propriedade<br />

privada. Assisti<br />

também ao desenrolar da<br />

cooperativa. Os ideais são<br />

muito importantes, mas<br />

depois quando as pessoas<br />

implementam os ideais as<br />

coisas descambam, sobretudo<br />

quando não se regem<br />

por princípios éticos e<br />

morais.<br />

Assistiu à desilusão do seu avô?<br />

Sim. Muito grande. O meu avô teve uma desilusão<br />

muito forte porque acreditava verdadeiramente nos<br />

ideais e lutou por eles, na sua terra, em Tolosa. Lutou<br />

para que os baldios fossem de todos e não apenas, à<br />

data, dos ricos. E isso foi muito penalizado, reprimido.<br />

Felizmente, ele tinha um amigo que era juiz e que disse<br />

à GNR, antes do 25 de Abril, que não era comunista –<br />

embora fosse. Ele defendia os interesses da população.<br />

Houve muitos radicalismos no calor do momento.<br />

Eu sou um democrata, não tolero excessos. Isto marcou-me<br />

politicamente. Mas outras coisas também me<br />

marcaram. O meu pai sempre teve atividade cívica, foi<br />

membro das assembleias de freguesia durante muitos<br />

anos. Foi presidente de mesa das eleições durante mais<br />

de duas décadas e eu assisti a tudo isso, na altura em<br />

que os boletins de voto iam para casa dos presidentes<br />

de mesa. Portanto, foi natural esta questão da política<br />

e, sobretudo, da consciencialização cívica e de servidor


“Ainda hoje não é normal as pessoas irem para o ensino superior”<br />

21


a conversa<br />

22<br />

da causa pública. Longe de mim pensar que, mais tarde,<br />

seria um trabalhador em funções públicas.<br />

O seu pai deve estar muito orgulhoso.<br />

Sim, está. Até porque a minha família ficou marcada,<br />

no passado, por uma situação particularmente triste.<br />

Que situação foi essa?<br />

A minha irmã nasceu em 1974 e em 1982 foi-lhe diagnosticada<br />

uma leucemia. Foram dois anos muito complicados,<br />

e infelizmente não sobreviveu.<br />

Isso marca uma família para o resto da vida.<br />

Naturalmente. A situação durou cerca de dois anos,<br />

com idas e vindas constantes para o Hospital de Santa<br />

Maria, em Lisboa. A minha mãe dedicou-se a acompanhar<br />

a minha irmã. Hoje é diferente, mas naquela<br />

altura, sobretudo a 200 km de distância, era muito<br />

complicado. À época, os meus avós desempenharam<br />

um papel fundamental,<br />

porque a minha mãe passava<br />

semanas em Lisboa e<br />

o meu pai vinha ter com<br />

ela ao fim-de-semana. E a<br />

minha avó materna, a avó<br />

Maria do Carmo, esteve<br />

sempre lá.<br />

É uma das pessoas da sua<br />

vida?<br />

Sem dúvida. É a minha<br />

referência. A vida dela daria<br />

um livro ou um filme.<br />

Quando se casou com o<br />

meu avô, ele já tinha cinco<br />

filhos. Era casado com a sua irmã, que morreu. A minha<br />

avó casou muito nova, com 17 anos. A filha mais<br />

velha do meu avô era apenas dez anos mais nova do que<br />

ela. Um exemplo de alguém que viveu uma vida inteira<br />

para os outros.<br />

Teve filhos biológicos?<br />

Teve a minha mãe.<br />

Esse contacto forjou a sua personalidade?<br />

Não tenho a mínima dúvida. Ela nunca fez distinção<br />

entre os seus filhos. Isso uniu a família para sempre.<br />

Nos verões, quando nos juntávamos – a casa era pequena,<br />

era onde a minha avó fazia os queijos e onde moravam<br />

– cabíamos todos. Éramos mais de 20. Esta questão<br />

da família é extremamente relevante para mim.<br />

“Com as desigualdades,<br />

ir estudar para fora é<br />

quase impossível e hoje<br />

ainda mais, com a crise da<br />

habitação. A questão da<br />

proximidade é basilar”<br />

Teve o melhor dos dois mundos: um avô empreendedor<br />

e uma avó carregada de bondade.<br />

Exatamente. O meu avô teve algumas dificuldades, alguns<br />

negócios que faliram, mas conseguiu sempre dar<br />

a volta por cima.<br />

Ainda continua a ter uma ligação umbilical ao Alentejo?<br />

Sim, tenho lá a família. Casei com uma pessoa da<br />

Chança. Os meus filhos passam os verões ali, sobretudo<br />

os mais novos, que são gémeos. Um deles tem<br />

a noção muito clara de que quer ser engenheiro agrónomo<br />

ou zootécnico, e quer voltar para o Alentejo. Há<br />

esta ligação que os meus pais também cultivaram. Vou<br />

praticamente todos os meses ao Alentejo e continuo a<br />

passar férias lá. Este vínculo constitui um pilar fundamental<br />

da minha vida.<br />

Foi natural ir para a universidade, quando chegou a<br />

altura?<br />

Sim, desde muito cedo<br />

ambicionei isso. Tenho de<br />

agradecer infinitamente<br />

aos meus pais terem percebido<br />

que a educação era<br />

a melhor herança que me<br />

podiam dar. No Alentejo e<br />

em Chança isto ainda não<br />

era normal. Ainda hoje<br />

não é normal as pessoas<br />

irem para o ensino superior.<br />

Como começou a ligação<br />

aos politécnicos? Isto vem<br />

de onde?<br />

Eu terminei o curso e, recordo-me, enviei quatro cartas<br />

de emprego, uma delas para a então Escola Superior de<br />

Ciências Empresariais, onde estamos neste momento<br />

sentados a conversar, que estava a iniciar o projeto.<br />

Um dia a minha mãe telefona-me, eufórica, a dizer que<br />

eu tinha recebido uma carta registada a dizer que tinha<br />

ficado em primeiro lugar no concurso para assistente<br />

do primeiro triénio. Esse foi o meu primeiro emprego.<br />

Esteve na génese deste projeto do Politécnico de Setúbal…<br />

Sim. Aquilo que me cativou foi construir algo de raiz.<br />

Na realidade, foi como fazer crescer um filho. Desde a<br />

criação do curso, a construção de novos currículos, o<br />

sonho de querer sempre mais… A participação na esco-


la permitiu-me desempenhar um<br />

conjunto de cargos – o único que<br />

não desempenhei foi o de presidente<br />

do conselho técnico-científico,<br />

que também não me motivava propriamente.<br />

Fui desde coordenador<br />

de departamento, coordenador de<br />

curso, até responsável pelo núcleo<br />

de relações exteriores de ligação às<br />

empresas. Portanto, tive a oportunidade<br />

de desempenhar os vários<br />

cargos e de conhecer a escola de fio<br />

a pavio.<br />

E de perceber a importância do ensino<br />

politécnico.<br />

À data, em 1995, o meu conhecimento<br />

sobre o ensino politécnico<br />

era muito residual. Eu estudei<br />

numa universidade. Só depois me<br />

apercebi da sua relevância. Foi um<br />

caminho duro de se fazer. No início<br />

só havia bacharelatos. Lutámos<br />

pela possibilidade dos mestrados.<br />

Passei por todo este processo de<br />

afirmação do ensino, sempre na<br />

lógica da exigência, rigor e qualidade.<br />

Costumávamos dizer: “A nós<br />

ninguém nos deu nada, tivemos<br />

de mostrar o que éramos enquanto<br />

ensino politécnico”. Ainda hoje<br />

me lembro do nome e do número<br />

dos meus primeiros alunos, que<br />

é uma coisa que ficou para a vida.<br />

Em 2009 fui convidado para vice<br />

-presidente, com responsabilidade<br />

pela área financeira. O Politécnico<br />

de Setúbal tem hoje uma situação financeira, com saldos<br />

significativos, que lhe permite fazer investimentos<br />

nos próximos anos de uma forma muito confortável.<br />

Isto é fruto do rigor na gestão que todos os presidentes<br />

imprimiram desde muito cedo. Fiquei com dois desafios<br />

adicionais em mãos: a inserção na vida ativa e a<br />

relação com as empresas, o empreendedorismo. Isso<br />

permitiu-me ter uma forte projeção, falar com as empresas<br />

e criar um conjunto de projetos que ainda hoje<br />

se mantêm.<br />

“Passei por todo este processo de afirmação do ensino (politécnico), sempre na lógica da<br />

exigência, rigor e qualidade”<br />

Daí até assumir a presidência do CSISP foi um passo…<br />

A sua grande ligação às empresas e ao território vem<br />

desse tempo.<br />

Sim, exatamente. Para nós, a questão da partilha sempre<br />

foi algo muito relevante. Partilhamos ideias, caminhos,<br />

boas práticas. Se há uma boa prática, por que<br />

não implementá-la, adaptada às condições locais?<br />

É um homem de causas e uma das missões do ensino<br />

politécnico é incrementar a inclusão, nomeadamente<br />

das famílias desfavorecidas. Isso também foi relevante<br />

para o seu caminho?<br />

Foi fundamental. Repare, hoje temos um sistema de<br />

ensino superior muito capilar. Temos um conjunto<br />

significativo de regiões, de comunidades intermunicipais<br />

e até de concelhos que têm ensino superior. Com<br />

as desigualdades, ir estudar para fora é quase impossível,<br />

e hoje ainda mais com a crise da habitação. Portanto,<br />

a questão da proximidade é basilar. A razão que<br />

23


a conversa<br />

“Se olharmos para rankings internacionais, Portugal não está pior do que muitos países desenvolvidos na produção de conhecimento.<br />

Onde estamos mal é na capacidade de partilha e transferência de conhecimento entre centros de saber e empresas”<br />

24<br />

está sempre no top três para a escolha de determinado<br />

curso ou instituição é a proximidade. Esta capilaridade<br />

é elementar. Portugal quase teve um retrocesso relativamente<br />

ao ensino superior – e eu fui muito crítico,<br />

sobretudo em 2013 – porque, na altura, sobretudo o secretário<br />

de Estado do Ensino Superior tinha uma ideia<br />

muito clara de elitização e de uma certa segregação do<br />

ensino. Felizmente, na altura o CSISP teve capacidade<br />

de resposta e a sociedade entendeu. Assistimos a uma<br />

verdadeira democratização do ensino superior. Em<br />

2009, escrevemos o documento “Um Ensino Superior<br />

Para Todos”, com um conjunto de propostas nas quais<br />

continuo a acreditar profundamente.<br />

Como sociedade, devemos aspirar a que todas as pessoas<br />

tenham acesso ao ensino superior?<br />

Sim. Isso significa para o país ter outras capacidades.<br />

Os dados são muito claros: as pessoas com ensino superior<br />

permanecem menos tempo no desemprego,<br />

conseguem salários mais elevados, adquirem maior<br />

mobilidade no mercado de trabalho. E acredito que<br />

o ensino politécnico contribui, sim, para uma maior<br />

equidade social. Só com pessoas mais qualificadas é<br />

que aumentamos a produtividade, atingimos níveis de<br />

inovação mais elevados e conseguimos maior partilha<br />

de conhecimento entre as empresas, as instituições de<br />

ensino superior, os centros de investigação e os territórios.<br />

Se olharmos para rankings internacionais, Portugal<br />

não está pior do que muitos países desenvolvidos<br />

na produção de conhecimento. Onde estamos mal é na<br />

capacidade de partilha e transferência de conhecimento<br />

entre os centros de saber e empresas, para não falar<br />

na inovação e nos modelos de negócio das próprias empresas.<br />

Lá está, gestão de relacionamentos…<br />

Sim, connecting the dots e, sobretudo, níveis superiores<br />

de conhecimento, modelos de negócio mais exigentes<br />

e mais internacionalizados.<br />

E isso faz-se como? Como se constroem os tais ecossistemas<br />

colaborativos? Mudar cabeças nas PME portuguesas<br />

deve ser complexo.<br />

Temos algumas experiências em setores industriais<br />

onde a capacidade associativa foi essencial para escalar<br />

essa cadeia de valor. Portanto, a capacidade de agregar<br />

valor entre os diferentes players e de ter estratégias devidamente<br />

adequadas ao tecido empresarial até existe.<br />

A lógica é esta: a produção pode ser muito boa mas<br />

se o marketing não coexistir, ficamos incompletos na<br />

capacidade de atuar. E vice-versa. Hoje, estamos a viver<br />

uma profunda revolução motivada pela transição


verde, que obriga a um conjunto de novos materiais –<br />

precisamos da ligação ao conhecimento. Além da importância<br />

da diáspora, dos quadros com experiência<br />

internacional. O mercado nacional é exíguo e, por mais<br />

resilientes que sejam as empresas, chega a uma altura<br />

em que estão limitadas em termos de crescimento.<br />

Como lidar com isso?<br />

Precisamos de crescer de várias formas. E de juntar<br />

esforços entre várias empresas, de ter empresas que<br />

se associem, que se fundam, umas a adquirir outras,<br />

para ter maior capacidade e robustez para atuar nos<br />

mercados internacionais. Precisamos de massa crítica.<br />

Quando olhamos para a produtividade, temos 10% ou<br />

20% das empresas que se comparam bem com as melhores<br />

empresas internacionais. O problema são todas<br />

as outras. Como a massa é muito grande, faz puxar<br />

para baixo a produtividade média. Nalguns casos, temos<br />

muitas empresas zombie que não deveriam estar<br />

no mercado. É preciso assumir<br />

isto, naturalmente<br />

com os impactos que pode<br />

ter ao nível do emprego.<br />

Mas para isso é que existe<br />

a política pública.<br />

Interessante essa noção<br />

das empresas zombie…<br />

Essas empresas lutam pelos<br />

mesmos recursos de<br />

todas as outras. Se continuam<br />

a ter crédito, por<br />

exemplo, significa que<br />

o investimento está a ir<br />

para projetos menos interessantes<br />

e não para os mais inovadores, que podem<br />

ter maior crescimento. Ter um tecido empresarial mais<br />

robusto não significa que as pequenas e médias empresas<br />

não sejam relevantes. Temos é de criar um maior<br />

número de grandes empresas que atuem nos mercados<br />

internacionais porque, nos ecossistemas, há um<br />

efeito de arrastamento de outras companhias. Basta<br />

olhar para as agendas mobilizadoras para perceber que<br />

a maior percentagem de empresas que participa são<br />

pequenas e médias. Esta lógica de ecossistema é cada<br />

vez mais relevante, porque essas PME têm um conjunto<br />

de competências específicas que são essenciais para<br />

construir soluções de produtos, serviços, processos,<br />

que ajudam as grandes empresas a nível global.<br />

As agendas mobilizadoras são um ensaio?<br />

Sim, são uma experiência muito relevante. A própria<br />

“Temos muitas empresas<br />

zombie que não deveriam<br />

estar no mercado. É preciso<br />

assumir isto, naturalmente<br />

com os impactos que pode<br />

ter ao nível do emprego”<br />

União Europeia está a olhar com muita atenção para as<br />

agendas mobilizadoras em Portugal, vistas como uma<br />

boa prática. Pela primeira vez temos um programa que<br />

olha de forma global para toda cadeia de valor, desde<br />

a investigação e desenvolvimento, até à produção e<br />

ao marketing. Claro que as agendas mobilizadoras têm<br />

o grande desafio do modelo de governação, sobretudo<br />

alguns consórcios com mais de 100 entidades.<br />

Está otimista com o aumento de mais de mil milhões<br />

de euros para as agendas mobilizadoras?<br />

A reprogramação é a concretização de um objetivo que<br />

o senhor Primeiro Ministro já tinha apoiado. O que a<br />

reprogramação faz é concretizar, do ponto de vista financeiro,<br />

aquilo que tinha sido um objetivo político.<br />

Há aqui uma assunção e uma coerência de financiamento<br />

para as agendas mobilizadoras que mostraram<br />

mérito – e são 53.<br />

Junho de 2026 é o timing<br />

limite definido pela Comissão<br />

Europeia.<br />

Da execução física, sim.<br />

Acha que este timing é<br />

possível, tendo em conta<br />

todos os atrasos? Nós até<br />

somos dos mais avançados,<br />

mas a Europa, como<br />

um todo, está muito atrasada.<br />

Por exemplo, a Comissão<br />

Europeia pediu a<br />

Portugal mais umas semanas<br />

para analisar a nossa<br />

reprogramação e dar-lhe o<br />

ok. Acha que poderá ser ponderado, em termos europeus,<br />

um delay do processo? Porque é muito dinheiro,<br />

são muitos projetos e muito pouco tempo.<br />

Ponto número 1: temos de nos concentrar em executar<br />

o que já está aprovado. É uma mensagem que tenho de<br />

transmitir: vamos continuar a executar o que está no<br />

nosso controlo e o que nos comprometemos. A própria<br />

programação prevê um aumento da comparticipação<br />

de muitos projetos fruto do aumento de custos.<br />

Por causa da guerra.<br />

Exatamente. E da inflação, das cadeias de abastecimento<br />

que ficaram com disrupções. Ponto número<br />

dois: a própria reprogramação para os projetos que estão<br />

a decorrer prevê alterações das metas e dos marcos.<br />

Ou seja, um deslizamento – não é em todos os projetos,<br />

não é todos os componentes, não é todos os in-<br />

25


a conversa<br />

26<br />

vestimentos – para aqueles que se identificaram como<br />

sendo de maior risco. Desse ponto de vista, a nossa primeira<br />

preocupação, neste momento, é executar aquilo<br />

que está aprovado e não começar a dizer que não se<br />

executa. Eu compreendo que haja entidades que, não<br />

tendo a certeza de um aumento da comparticipação,<br />

motivado pelo aumento de custos, sobretudo as que<br />

têm maior debilidade financeira, como as IPSS e algumas<br />

pequenas e médias empresas, tivessem dificuldade<br />

em avançar…<br />

Houve aqui algumas mudanças inesperadas.<br />

São todas essas mudanças que têm de ser devidamente<br />

encaixadas num puzzle que não é meramente económico,<br />

é de custos, de prazos. Também tem de ser enquadrado<br />

numa situação geopolítica, que é particularmente<br />

exigente neste momento ao nível da União<br />

Europeia. Reparem, mesmo no novo quadro comunitário<br />

há alguns receios que as regiões possam perder<br />

fundos motivados por<br />

esse novo mosaico geopolítico<br />

que está em cima da<br />

mesa, pela invasão russa<br />

da Ucrânia e pelo potencial<br />

alargamento a partir<br />

de 2030, porque o dinheiro<br />

não é elástico. Ou nós<br />

encontramos novas formas<br />

de financiamento do<br />

orçamento da União Europeia<br />

ou então torna-se<br />

difícil satisfazer as diferentes necessidades com o atual<br />

orçamento. No caso português, se o dinheiro do <strong>PRR</strong><br />

for insuficiente, alguns projetos terão de ser financiados<br />

ou complementados com o orçamento de Estado<br />

ou com outras fontes de financiamento.<br />

Tem sido um defensor acérrimo de se criarem mecanismos<br />

eficazes de acompanhamento dos projetos,<br />

não só em termos financeiros, mas do projeto em si e<br />

da criação de valor. O que é que já foi feito?<br />

Este tipo de mecanismo é novo para a Comissão Europeia<br />

e para a própria União Europeia. Tínhamos um<br />

modelo muito baseado na validação da despesa, em<br />

auditorias e em verificação no terreno. Há um estudo<br />

muito recente de uma fundação, liderado pela professora<br />

Maria João Rodrigues, que chama atenção para a<br />

smart monitorization, que é ter mecanismos de acompanhamento<br />

que antecipem eventuais riscos. Claro que<br />

há o cumprimento dos objetivos, e isto é fundamental,<br />

mas é ir mais além. Para nós não nos interessa apenas<br />

“É preciso criar uma<br />

cultura baseada nos<br />

resultados e não na<br />

execução financeira”<br />

a execução financeira. Não podemos correr o risco de<br />

chegar ao fim, não alcançar os resultados e não termos<br />

feito alertas. É preciso criar uma cultura baseada nos<br />

resultados e não na execução financeira. Porque rapidamente<br />

eu consigo encontrar despesas para justificar<br />

aquele montante financeiro. Mas isso é insuficiente se<br />

eu não alcançar os resultados.<br />

São as próprias entidades que percebem que o seu<br />

foco deve ser na execução e nos resultados a que se<br />

comprometeram?<br />

Precisamente. Isto é apenas um processo, um caminho<br />

para chegarmos a algo mais relevante: os resultados e<br />

os impactos que queremos alcançar. O que é preciso<br />

nos projetos é que provoquem impacto. Dito de outra<br />

forma: aquilo que quero com a digitalização da saúde<br />

é que as pessoas mais facilmente tenham acesso a<br />

um conjunto de meios de diagnóstico, que demorem<br />

menos tempo, que diminuam os custos associados a<br />

esse tipo de marcação e<br />

que aumentem, em última<br />

mais para a frente.<br />

análise, a satisfação dos<br />

utentes. O investimento<br />

deve conduzir a estes resultados.<br />

Por isso é preciso<br />

definir um conjunto de indicadores,<br />

porque alguns<br />

só conseguirão ser medidos<br />

daqui a três ou quatro<br />

anos e outros, em termos<br />

macroeconómicos, só<br />

O vosso roteiro de proximidade da comissão vem, de<br />

alguma forma, encaixar-se nessa visão que tem do<br />

acompanhamento?<br />

Sem dúvida alguma. Nós já fizemos mais de 100 reuniões<br />

com as entidades.<br />

Com os beneficiários finais?<br />

Com os beneficiários finais. Já estivemos em 20 Comunidades<br />

Intermunicipais (CIM). Até ao final do<br />

ano estaremos em todas e o nosso objetivo é, todos<br />

os anos, visitar todas as CIM. Este roteiro permite<br />

apropriarmo-nos daquilo que é o desenvolvimento do<br />

terreno, das dificuldades. Em cada roteiro ou em cada<br />

reunião, sempre que existe alguma dificuldade – da<br />

mais simples, como o atraso de um pagamento, ou da<br />

mais complexa, como a alteração da legislação – pego<br />

no telefone e falo ou com o beneficiário intermediário<br />

ou com o membro do governo responsável, para tentar


esolver a situação. Não estamos à espera dos relatórios<br />

semestrais para fazer as recomendações. Há uma fluidez<br />

de contacto com os membros do governo que é essencial<br />

para desbloquear os problemas e devo dar nota<br />

de que, na quase totalidade das situações, há intervenções<br />

para desbloquearmos os problemas. Tem havido<br />

forte abertura para a mudança, até porque baseamos<br />

todas as nossas recomendações na evidência. Não ligamos<br />

o “achómetro”, baseamo-nos na evidência e na<br />

triangulação de informação.<br />

No fundo, o <strong>PRR</strong> representa um processo de aprendizagem<br />

de como fazer depressa e bem. A Comissão de<br />

Acompanhamento vai ter um papel crítico neste processo?<br />

Olhando para o adágio popular, acho que o <strong>PRR</strong> pode<br />

desafiar o “depressa e bem não há quem”. O <strong>PRR</strong> tem<br />

este desafio de fazer depressa<br />

e bem. “Depressa”,<br />

naturalmente motivado<br />

pelo calendário negociado<br />

com a Comissão Europeia.<br />

“Bem”, porque é crucial<br />

para um processo transformacional<br />

em alguns<br />

dos setores da economia,<br />

da sociedade, da cultura.<br />

É um desafio para as centenas<br />

de entidades que<br />

estão no terreno. O <strong>PRR</strong><br />

não é apenas da responsabilidade<br />

do governo, dos<br />

beneficiários diretos, dos intermediários e da estrutura<br />

da Missão Recuperar Portugal. Com as condições adequadas,<br />

muito do sucesso de implementação do <strong>PRR</strong><br />

depende dos beneficiários finais que estão a implementar<br />

os milhares de projetos que estão no terreno.<br />

Quando temos um conjunto de creches, de habitações<br />

colaborativas, elas estão a ser implementadas por IPSS,<br />

por misericórdias, por autarquias.<br />

Tem alertado que, se 2022 foi um ano muito exigente,<br />

2023 será muito mais, em termos de contratações.<br />

Que avaliação faz até agora?<br />

Previ que seria possível pagar pelo menos 700 milhões<br />

de euros às empresas. Acho que tenho de fazer um update<br />

da previsão: se chegarmos aos 1.000 milhões seria<br />

extremamente importante. Há muitos investimentos<br />

que, apesar de terem sido aprovados, ainda estão na<br />

fase de assinatura dos contratos e dos termos de aceitação.<br />

“Tem havido forte abertura<br />

para a mudança, até<br />

porque baseamos as<br />

nossas recomendações na<br />

evidência. Não ligamos o<br />

‘achómetro’”<br />

Uma última pergunta: teremos, de facto, condições<br />

para nos assumirmos em termos internacionais como<br />

um player relevante – se aplicarmos bem os dinheiros<br />

do <strong>PRR</strong>, do PT2030 e o que resta ainda do PT2020?<br />

Não acredito em atuações messiânicas, porque isso é<br />

demasiado fácil. Não é um estalar de dedos, que desvaloriza<br />

processos, pessoas, trabalho e a atuação humana<br />

no contexto. Os resultados vêm de um esforço<br />

do trabalho de equipas competentes e de visão estratégica.<br />

Acredito que podemos transformar a nossa realidade<br />

e que os fundos que temos ao nosso dispor são<br />

instrumentos muito relevantes daquilo que é a nossa<br />

capacidade de atuar. O projeto europeu é essencial,<br />

porque permite que países e regiões com maior dificuldade<br />

possam aceder a um conjunto de instrumentos<br />

para melhorar. Rogério Carapuça costuma dizer – e eu<br />

concordo com ele – que mais do que transições, precisamos<br />

de transformações.<br />

A transformação pressupõe<br />

mudar o mapa mental<br />

e o modelo de negócio<br />

e encontrar um conjunto<br />

de recursos e competências<br />

para responder a esse<br />

desafio. Não era natural<br />

que nós, em termos de<br />

inteligência artificial ou<br />

de mercados financeiros,<br />

tivéssemos players que<br />

concorressem com os melhores<br />

a níveis mundiais.<br />

Se olharmos para muitos<br />

dos nossos unicórnios, estamos a falar de articulação<br />

de conhecimento, de capacidade de empreendedorismo.<br />

Por exemplo, muitas dessas empresas participaram<br />

em programas de aceleração tecnológica ou de<br />

empreendedorismo entre Portugal e as universidades<br />

norte-americanas. Portanto, a questão de uma articulação<br />

global entre as diferentes dimensões, desde a<br />

investigação e desenvolvimento à própria produção de<br />

bens ou serviços e ao marketing nos mercados internacionais,<br />

é essencial. Depois, precisamos de fazer uma<br />

transformação profunda dos nossos modelos de negócio.<br />

E isto é talvez das coisas mais complexas de fazer.<br />

Os fundos europeus têm aqui um potencial significativo<br />

de serem catalisadores dessa transformação digital.<br />

Acredito muito mais em projetos integrados do que em<br />

gavetas onde as empresas vão à procura de fundos.•<br />

27


em destaque<br />

28


ATÉ ONDE CHEGARÁ<br />

O PODER DA<br />

INTELIGÊNCIA<br />

ARTIFICIAL?<br />

Regulação vs inovação: encontrar o equilíbrio certo,<br />

que crie confiança e potencie soluções é o desafio.<br />

Bruxelas está na fase crítica de aprovação do AI Act, que<br />

permitirá à UE assumir uma posição pioneira mundial.<br />

Mas o verdadeiro teste será a sua aplicação, a partir de<br />

2025. Para já, a febre em torno da inteligência artificial<br />

está ao rubro.<br />

TEXTO DE ISABEL TRAVESSA FOTOS ISTOCK E CEDIDAS<br />

29


em destaque<br />

30<br />

A CE quer liderar um<br />

novo quadro global da IA,<br />

assente em três pilares:<br />

controlo, governação e<br />

inovação<br />

A<br />

tecnologia não é nova. Aliás, já tem décadas.<br />

Mas o tema ganhou uma nova urgência em<br />

novembro do ano passado, quando a OpenAI<br />

lançou a plataforma ChatGPT, que veio mostrar<br />

o imenso o potencial da inteligência artificial (IA)<br />

generativa. O boom de utilizadores que a experimentou<br />

– um milhão em apenas cinco dias e mais de 100<br />

milhões dois meses depois – deixou uma certeza: nada<br />

seria como antes.<br />

Numa ascensão meteórica, que muitos comparam<br />

ao lançamento dos smartphones, das redes sociais e até<br />

da internet, a IA está hoje no centro de todas as atenções<br />

e estratégias. Assiste-se a uma clara aceleração de todo<br />

o tipo de soluções, vindas das mais variadas empresas,<br />

desde startups a gigantes tecnológicas. Em paralelo, governos<br />

e organizações mundiais estão numa verdadeira<br />

corrida para regulamentar<br />

as ferramentas de IA,<br />

numa tentativa de travar<br />

as ameaças e potenciar as<br />

oportunidades.<br />

Na Europa, o processo<br />

de regulação da IA já tinha<br />

arrancado há algum tempo.<br />

Foi em abril de 2021<br />

que a Comissão Europeia<br />

(CE) avançou com uma<br />

proposta, que chamou de<br />

AI Act, anunciando a ambição<br />

de a União Europeia (UE) ser a primeira região<br />

do mundo a criar um quadro jurídico para o desenvolvimento<br />

e a utilização da tecnologia. Desde então, o<br />

projeto foi objeto de alterações cada vez mais rigorosas,<br />

até chegar à versão final aprovada a 14 de junho<br />

deste ano pelo Parlamento Europeu (PE).<br />

O texto está agora na fase final de negociação, no<br />

âmbito dos trílogos entre Parlamento Europeu, Conselho<br />

da Europa (que representa os governos europeus)e<br />

a CE. Espera-se que os decisores políticos europeus<br />

cheguem a acordo sobre algumas das partes mais<br />

controversas do texto, nomeadamente as relacionadas<br />

com as medidas de inovação e a implementação das<br />

chamadas sandboxes. A expetativa é que seja alcançado<br />

um consenso até final deste ano, permitindo que o AI<br />

Act entre em vigor em 2025, decorrido o respetivo período<br />

de transição, e os apelos nesse sentido não têm<br />

parado.<br />

No seu discurso do Estado da União no Parlamento<br />

Europeu, a 13 de setembro, o último antes das eleições<br />

europeias, marcadas para junho de 2024, a presidente<br />

da CE apelou para a urgência de uma decisão e anunciou<br />

o reforço dos investimentos europeus na tecnologia,<br />

para manter a UE na pole position em termos de<br />

inovação e regulamentação.<br />

“Temos uma janela de oportunidade cada vez mais<br />

estreita para orientar esta tecnologia de forma responsável.<br />

Acredito que a Europa, em conjunto com os seus<br />

parceiros, deve liderar o caminho para um novo quadro<br />

global para a IA, assente em três pilares: controlo,<br />

governação e inovação”, destacou Ursula von der Leyen.<br />

Considerando que esta será a “primeira lei abrangente<br />

pró inovação do mundo”, ela apelou ainda às<br />

entidades reguladoras mundiais para adotarem regras<br />

similares. É que, tal como outras instâncias mundiais<br />

têm vindo a defender, também a líder da CE entende<br />

que só uma abordagem de<br />

governação global para a<br />

IA garantirá o desenvolvimento<br />

de uma “resposta<br />

rápida e coordenada a nível<br />

mundial”.<br />

A presidente da CE assumiu<br />

ainda o compromisso<br />

de abrir o diálogo<br />

com os criadores de IA,<br />

para que se comprometam<br />

com uma salvaguarda<br />

voluntária, semelhante<br />

aos acordos similares já alcançados nos Estados Unidos.<br />

“Trabalharemos com as empresas de IA para que<br />

se comprometam voluntariamente com os princípios<br />

da Lei da IA, antes da sua entrada em vigor. E teremos<br />

de estabelecer normas globais mínimas para uma utilização<br />

segura e ética”, destacou.<br />

REGULAR PARA CONFIAR<br />

Apesar dos apelos, já se começa a admitir que o IA Act<br />

possa ser aprovado apenas em 2024. No final de setembro,<br />

a Reuters avançava que um dos temas que continuava<br />

a gerar desacordo nas negociações era a vigilância<br />

biométrica, nomeadamente o reconhecimento<br />

facial. E dava como certo que o processo negocial ainda<br />

terá “um longo caminho a percorrer”.<br />

O próprio relator da Lei da IA, Brando Benifei, que


“Promote Regulation of Artificial Intelligence” foi o tema de um debate organizado pela APDC na 10ª edição da Iniciativa Portuguesa<br />

do Fórum da Governação da Internet. Rogério Carapuça (APDC), à esquerda, moderou a discussão entre Arlindo Oliveira (INESC),<br />

Helena Martins (Google), Paulo Dimas (Unbabel) e Magda Cocco (VdA)<br />

A versão do AI Act, que<br />

está em negociação,<br />

regulamenta uses cases e<br />

não a tecnologia em si, o<br />

que é vital para a inovação<br />

está a coliderar as negociações, já veio pedir aos Estados-membros<br />

que encontrem um compromisso em<br />

áreas-chave. “Precisamos de uma Europa mais unida<br />

também em matéria de tecnologia, se quisermos ser<br />

competitivos. Este regulamento é, até certo ponto, um<br />

‘teste de stress’”, referiu, destacando a importância da<br />

regulação.<br />

“Se há coisa que aprendemos ao longo dos anos é<br />

que a regulação dá confiança<br />

no uso de determinados<br />

produtos e serviços.<br />

Claramente, é importante<br />

para criar a confiança nas<br />

utilizações da tecnologia”,<br />

considera Magda Cocco, a<br />

sócia da VdA responsável<br />

pela área Comunicações,<br />

Proteção de dados & Tecnologia<br />

e de Digital Frontiers,<br />

comentando a iniciativa<br />

de Bruxelas. Para<br />

esta jurista, na sua versão inicial, o IA Act “regulamentava<br />

de facto a tecnologia em si. Havia uma definição,<br />

extremamente perigosa, do que é que se entendia por<br />

IA. O que vimos nos últimos meses é que, tal como outras<br />

tecnologias, evoluiu a uma rapidez enorme. Mas a<br />

versão aprovada pelo Parlamento Europeu já tem um<br />

conceito de IA muito abrangente, mais próximo do da<br />

OCDE, que permite incluir um conjunto de realidades.<br />

Não se regulamenta a tecnologia, mas sim use cases.<br />

Isso obrigará a uma interação e um dinamismo muito<br />

maiores, mas também será muito menos inibidor da<br />

evolução tecnológica”.<br />

Esta opinião é partilhada<br />

por Arlindo Oliveira,<br />

presidente do INESC<br />

e professor do Instituto<br />

Superior Técnico: “Faz<br />

muito mais sentido regulamentar<br />

as aplicações<br />

de inteligência artificial<br />

do que a tecnologia em si.<br />

Porque são coisas que têm<br />

um impacto prático e direto<br />

na vida das pessoas e,<br />

ao mesmo tempo, não se<br />

condiciona o desenvolvimento da IA. Fiquei satisfeito<br />

com a versão final do IA Act, apesar de elaborada num<br />

contexto muito especial, com o aparecimento do ChatGPT<br />

e toda a excitação com os modelos de linguagem<br />

31


em destaque<br />

e os modelos fundacionais”.<br />

Já a head of Government Affairs and Public Policy<br />

da Google Portugal, Helena Martins, avança que, na visão<br />

da tecnológica, a proposta inicial da CE “era muito<br />

razoável, indo ao encontro das necessidades da indústria<br />

e das questões colocadas pela sociedade”. Com as<br />

discussões no Conselho e no PE e “o boom mais recente<br />

em torno da IA generativa, o documento começou a<br />

ser mais baseado no medo do que na utilização da IA”.<br />

Resultado: a mais recente versão “está a gerar dúvidas<br />

na indústria. O nosso trabalho tem sido manter o diálogo<br />

na Europa e tentar trazer clareza para alguns dos<br />

conceitos. A indústria precisa de ter certeza jurídica<br />

de como se pode desenvolver uma IA que é inovadora,<br />

mas também responsável”.<br />

Helena Martins destaca ainda que a regulação da<br />

IA “é um tema que tem sido discutido a nível de indústria<br />

e com os governos há já alguns anos. Há algumas<br />

questões que não podem ser decididas por empresas e<br />

acreditamos que a regulação é muito importante. Existe<br />

um certo consenso de que a IA deve ser regulada a<br />

partir do seu uso e tem havido alguma discussão em<br />

torno de regulamentação por áreas de atividade. Em<br />

muitos países ainda é uma questão em aberto, mas a<br />

UE optou por uma regulação mais ampla, focada na<br />

utilização da tecnologia”.<br />

E qual a perspetiva de uma startup que desenvolve<br />

atividade nesta área? Paulo Dimas, vice-presidente<br />

para a inovação da portuguesa Unbabel, começa por<br />

admitir que “há sempre uma tensão entre inovação e<br />

regulação: quanto menos regulação, mais inovação.<br />

Mas tudo tem de ser equilibrado com os valores da sociedade.<br />

Os resultados que se alcançaram no AI Act são<br />

muito positivos, até porque endereçam uma grande<br />

questão, da IA generativa, que teve um grande avanço<br />

e está apenas no poder de alguns. Essa é uma outra<br />

questão, nada linear, que é: até onde deveremos ir em<br />

termos de regulação?”. Para o empreendedor, “é importante<br />

regular os uses cases, mas também haver<br />

regulação ao nível das plataformas, que são<br />

transversais”.<br />

REGRAS À PROVA <strong>DO</strong> FUTURO?<br />

Estes responsáveis falavam no âmbito da 10ª edição<br />

da Iniciativa Portuguesa do Fórum da Governação da<br />

Internet, numa sessão organizada pela APDC, sobre<br />

“Promote regulation of Artificial Intelligence”, onde o<br />

tema central foi o IA Act. Neste debate, ficou claro que<br />

uma das questões onde não há certezas é saber se esta<br />

regulação será “à prova de futuro”.<br />

Segundo Arlindo Oliveira, “se a evolução continuar<br />

a ser a das últimas décadas, vamos ter problemas com-<br />

Há dúvidas de que a<br />

regulação de Bruxelas para<br />

a IA seja à prova de futuro,<br />

uma vez que a tecnologia<br />

não pára de avançar<br />

32


pletamente diferentes com questões muito distintas.<br />

O AI Act está focado na tecnologia e nas questões essenciais<br />

como são vistas agora, pelo que corre o risco de<br />

ficar rapidamente desadaptado da realidade. Temos de<br />

ter noção de que está longe de ser uma coisa perfeita.<br />

Mas também não tenho solução para isto”, admite o<br />

especialista em IA. “Olhando para os vários textos do<br />

AI Act, eles refletem exatamente a evolução da tecnologia.<br />

Teremos de ver se, de facto, esta regulação é ‘future<br />

proof’. É verdade que nos últimos meses, com o ChatGPT,<br />

o Bard e outras ferramentas, foi alcançado um<br />

nível de<br />

democratização<br />

do acesso<br />

a estes modelos,<br />

que já não eram novos. Estamos<br />

numa fase de experimentação e a<br />

regulação é importante. Mas as normas definidas<br />

têm de ser adaptáveis e flexíveis, para se continuar a<br />

inovar de forma responsável”, defende Helena Martins.<br />

“Se calhar não é totalmente à prova de futuro, mas<br />

existe muita flexibilidade, assim a versão final fique<br />

como está”, assegura Magda Cocco. Mais, garante que<br />

o documento “reconhece que ainda não se sabe bem<br />

como regular a IA. Nos próprios considerandos, diz-se<br />

que é essencial uma coordenação entre governos, empresas,<br />

academia e centros de pesquisa e que se trata<br />

de um processo contínuo. E prevê-se a possibilidade de<br />

revisões regulares”.<br />

Para já, e enquanto a regulação europeia não estiver<br />

em vigor, o que só acontecerá, numa perspetiva<br />

otimista, em 2025, o mercado terá de continuar a funcionar<br />

com as regras atuais. Para a responsável da VdA,<br />

“tendo em conta que as empresas estão a desenvolver<br />

produtos a uma velocidade enorme, é fundamental<br />

criar mecanismos de autorregulação”, num processo<br />

que considera ser “bidirecional”, juntando indústria,<br />

centros de I&D, reguladores e entidades públicas. Só<br />

esta interação essencial permitirá “perceber qual é a<br />

melhor forma de regular. Acho que é isso que já se está<br />

a fazer, porque a indústria está preocupada em ter uma<br />

IA responsável”.<br />

Além disso, já existe um vasto conjunto de legislação<br />

europeia, como o RGPD, o Data Act, o Digital<br />

Services Act ou o Digital Markets Act, que é aplicável<br />

a qualquer solução assente em IA. “Temos uma carga<br />

regulatória na CE que é de enorme exigência acompanhar.<br />

Agora imaginem uma startup ou uma PME olharem<br />

para esta confusão de regulação”, acrescenta.<br />

Paulo Dimas diz que este horizonte temporal de<br />

dois anos surge como “oportunidade de inovação. Podemos<br />

começar a trabalhar nos produtos da IA do futuro,<br />

que estarão já ao abrigo da nova regulação. Para a<br />

Unbabel, o timing de 2025 é ótimo, porque nos permite<br />

integrar já as regras nos nossos produtos. Há tempo<br />

para planear e de ir mais longe, no sentido da IA res-<br />

33


em destaque<br />

34<br />

ponsável. Todas as empresas deveriam praticar isto de<br />

forma transversal, independentemente de haver, ou<br />

não, regulação”.<br />

Já Arlindo Oliveira assegura que, do ponto de vista<br />

dos investigadores, “não se pensa muito no tema da<br />

regulação. A tecnologia vai evoluir e vamos focar-nos<br />

em tornar os sistemas mais fiáveis, explicáveis e auditáveis<br />

e garantir fairness e respeito da privacidade. Este<br />

é o foco de quem desenvolve, quer exista ou não, o regulamento”.<br />

URGENTE: COMO GANHAR KNOW-HOW?<br />

No entanto, Magda Cocco alerta que a atual versão do<br />

AI Act impõe aos Estados-membros a criação de uma<br />

autoridade reguladora nacional independente de IA,<br />

que regulamente e supervisione a tecnologia, assim<br />

como o maior número possível de entidades certificadoras<br />

e a constituição de uma regulatory sandbox pública,<br />

de acesso gratuito às startups e a um conjunto de<br />

empresas. Em Portugal, reconhece que haverá dificuldades<br />

neste processo, uma vez que exige um conjunto<br />

de competências que não existem no país.<br />

“Há grande falta de conhecimento dos domínios da<br />

IA, quer da área técnica, por parte dos juristas, policy<br />

makers e em geral. É essencial criar know-how e literacia<br />

nesta área e o país deveria focar-se nisso. Terá de se<br />

pensar estrategicamente na IA, em como se dão competências<br />

às empresas e às entidades públicas. O grande<br />

problema do AI Act será a sua aplicação e enforcement.<br />

Este é um problema também dos países europeus<br />

em geral e até noutras geografias: não há pessoas com<br />

os conhecimentos necessários para regular de forma<br />

inteligente. Regular é uma coisa muito séria, pois pode<br />

prejudicar a economia”, acrescenta.<br />

Um dos caminhos para tentar combater este grave<br />

constrangimento, que existe não apenas em relação à<br />

IA, mas em todos os temas ligados ao digital é, na perspetiva<br />

da responsável da Google, o estabelecimento de<br />

“canais de diálogo com a indústria e com a sociedade.<br />

Independentemente de ter de se criar uma autoridade,<br />

manter este canal aberto é essencial. Porque não<br />

sabemos o quão future proof é esta regulação e haverá<br />

situações que só através de diálogo poderão ser solucionados”.<br />

Arlindo Oliveira destaca ainda o tema da total falta<br />

de competitividade ao nível do digital em termos<br />

de talento. “Estamos a perder pessoas aos milhares<br />

para o norte da Europa, onde os salários são mais altos.<br />

Dentro do país, o Estado é desastroso em relação<br />

a este aspeto. Neste momento, com as carreiras que<br />

existem, tem capacidade nula de fixar as pessoas mais<br />

competentes. É preciso ter competências fortes na<br />

Administração Pública. Vamos ter enormes dificuldades<br />

em criar um regulador de IA com as competências<br />

suficientes para interagir com a indústria e sociedade.<br />

Não as temos, nem temos a capacidade para as criar no<br />

curto-prazo”, alerta.<br />

“O Estado tem de simplificar e deixar a indústria<br />

avançar e organizar-se. Estamos num mercado competitivo,<br />

pelo que não se devem colocar muitas barreiras.<br />

Em todos os países a literacia em IA é muito baixa nas<br />

instituições públicas. Têm de se definir e criar as competências<br />

que serão importantes”, acrescenta Paulo<br />

Dimas, salientando que isso deve ser tido em conta na<br />

definição, que está em curso, da nova Estratégia Nacional<br />

para a IA. Aqui, recorde-se que o executivo já avançou<br />

que uma das bases do trabalho serão as orientações<br />

do AI Act, a par de uma adaptação às necessidades e<br />

interesses das tecnológicas portuguesas.<br />

E porque “todos os temas de investigação são oportunidades<br />

de inovação, devemos olhar para eles com<br />

atenção, colocando Portugal na vanguarda. É isso que<br />

estamos a fazer”, explica o responsável da Unbabel,<br />

referindo-se ao consórcio Center for Responsible AI,<br />

liderado pela tecnológica, que junta 24 parceiros, en-<br />

A necessidade<br />

crescente de uma<br />

convergência<br />

regulatória entre<br />

os vários blocos<br />

geográficos, pois<br />

a IA dá imenso<br />

poder a privados<br />

e a Estados,<br />

tem levado ao<br />

anúncio de<br />

várias iniciativas


tre startups, centros de investigação, líderes da indústria<br />

e a VdA (sendo Magda Cocco a responsável), com<br />

o objetivo de até 2025 criar 21 produtos com IA, e até<br />

2030 gerar 250 milhões de euros em exportações e 215<br />

postos de trabalho. O projeto, num investimento de 78<br />

milhões de euros, criado no âmbito do <strong>PRR</strong>, apresentou<br />

no início de julho 16 novos produtos baseados em<br />

IA para as áreas da saúde, turismo, retalho e apoio ao<br />

cliente.<br />

Mas há mais projetos com IA no mercado nacional,<br />

como o consórcio AcceleratAI, coordenado pela Defined.Ai,<br />

que tem um financiamento de 34,5 milhões<br />

de euros para desenvolver IA conversacional. A IA está<br />

também a chegar em força à AP, como o provam casos<br />

como o Guia Prático da Justiça, ainda em versão beta,<br />

que usa ferramentas de machine learning baseadas no<br />

GPT da Open AI para dar resposta, para já, sobre casamentos<br />

e divórcios, no Portal da Justiça. Outro caso é<br />

o do assistente digital do ePortugal, que responde apenas<br />

aos temas ligados à Chave Móvel Digital, embora a<br />

meta seja alargar o seu âmbito.<br />

REGULAÇÃO GLOBAL:<br />

VOLUNTÁRIA OU OBRIGATÓRIA?<br />

Certo é que a IA é já considerada a maior revolução<br />

vivida pela Humanidade. O processo ainda agora começou,<br />

mas o impacto esperado é tão grande que, pela<br />

primeira vez na história, os principais players tecnológicos<br />

mundiais têm vindo a defender publicamente a<br />

necessidade urgente de regulação. Mas não nos termos<br />

que a UE pretende, já que se teme que seja demasiado<br />

restritiva e que possa travar a inovação. Por isso,<br />

muitos líderes de grandes empresas têm vindo a apelar<br />

para Bruxelas agir com mais cautela, quando se trata<br />

de regulamentar a IA. Argumentam que a Europa tem<br />

de estudar a tecnologia, para saber como equilibrar as<br />

oportunidades com os riscos.<br />

Ao nível global, a crescente consciência sobre a necessidade<br />

de uma clara convergência regulatória entre<br />

os vários blocos, já que os sistemas de IA dão um enorme<br />

poder a privados e a Estados, tem levado ao anúncio<br />

de várias iniciativas. O Fórum Económico Mundial,<br />

por exemplo, lançou em junho a Aliança de Governação<br />

da IA, com o objetivo de unir líderes da indústria,<br />

governos, instituições académicas e organizações da<br />

sociedade civil, na conceção de uma IA global responsável<br />

e no lançamento de sistemas transparentes<br />

e inclusivos. Poucos dias antes, a CE e o governo norte-americano<br />

tinham também anunciado um acordo<br />

para a elaboração do projeto de um código de conduta<br />

comum da IA, aberto a todos os países democráticos e<br />

de aplicação voluntária aos players.<br />

Em maio, os líderes do G7 reunidos na cimeira de<br />

Horishima, no Japão, reconheceram a necessidade de<br />

governação da IA e das tecnologias imersivas. Ficou<br />

acordado que os ministros debateriam a tecnologia,<br />

comunicando os resultados até final de 2023. Também<br />

os líderes do G20, reunidos em setembro, em Nova<br />

Deli, na India, reiteraram o objetivo de utilizar a IA de<br />

forma responsável, considerando-a uma ferramenta<br />

para a prosperidade e expansão da economia digital<br />

global. Por isso, vão trabalhar em conjunto para promover<br />

a cooperação internacional e aprofundar os debates<br />

sobre a governação internacional da IA.<br />

Na mais recente Assembleia Geral das Nações Unidas,<br />

a IA também esteve em destaque, com o presidente<br />

norte-americano, Joe Biden, a falar do seu plano<br />

para trabalhar com “concorrentes” do mundo inteiro e<br />

garantir uma IA responsável. António Guterres, secretário-geral<br />

da ONU, não tem parado de alertar, nos últimos<br />

meses, para os riscos da IA e para a necessidade<br />

de se criar uma agência internacional para monitorizar<br />

e supervisionar a utilização da tecnologia.<br />

Ao nível dos governos, há também movimentos<br />

similares. Incluindo na China e nos Estados Unidos.<br />

35


em destaque<br />

36<br />

Washington já avançou com linhas orientadoras para<br />

o desenvolvimento de políticas e regras para testar os<br />

sistemas de IA, muitas das quais se enquadram mesmo<br />

no espírito da proposta do regulamento europeu de IA.<br />

E tem conseguido obter das big tech um compromisso<br />

no sentido de um desenvolvimento seguro e transparente<br />

da IA, assente no que considera serem os três<br />

princípios essenciais para o futuro desta tecnologia:<br />

segurança, proteção e confiança.<br />

É que a realidade mostra que a IA está cada vez mais<br />

presente em tudo, integrada nas ferramentas, soluções<br />

e nos sistemas operativos dos dispositivos. As mais recentes<br />

previsões da consultora Forrester indicam que<br />

a IA generativa terá um crescimento anual de 36% até<br />

2030, num reforço sem precedentes impulsionado pela<br />

procura, quer para aplicações especializadas, quer para<br />

casos de utilização generalizada. Antecipa ainda que<br />

este boom deverá abrir novas oportunidades de receitas,<br />

mesmo para empresas que não estejam a utilizar a<br />

IA generativa para a automação ou o desenvolvimento<br />

de produtos.<br />

No mercado, multiplicam-se<br />

os anúncios de novas<br />

ofertas, cada vez mais<br />

personalizadas. Como as<br />

notícias recentes da gigante<br />

Microsoft, que apostou<br />

forte na OpenAI e tem vindo<br />

a trabalhar com a criadora<br />

do ChatGPT no seu<br />

desenvolvimento. Assim,<br />

lançou mundialmente o<br />

seu assistente de IA generativa,<br />

o Copilot, disponibilizado<br />

sem custos com a atualização do Windows 11,<br />

e tem cerca de 150 novas ferramentas que garante que<br />

vão mudar a forma como os utilizadores interagem as<br />

aplicações de produtividade do seu sistema operativo.<br />

Dias antes, a Google tinha anunciado uma nova<br />

versão do Bard, que passou a contemplar mais de 40<br />

idiomas. Esta nova versão faz ainda ligação ao Gmail,<br />

Maps, Youtube e Google Flights e Hotels, num modelo<br />

de IA generativa que ‘aprende’ com os utilizadores e<br />

evolui de acordo com as suas necessidades. Já disponível<br />

sem limitações, tem como objetivo ser um “instrumento<br />

de verdadeira colaboração”.<br />

Mas outras grandes concorrentes estão prestes a<br />

lançar as suas próprias plataformas de IA generativa. A<br />

Amazon fez um investimento até 4 mil milhões de dólares<br />

na Anthropic, fundada por ex-colaboradores da<br />

OpenAI, que vai usar os serviços cloud da Amazon para<br />

Na corrida global ao<br />

desenvolvimento de<br />

soluções e plataformas de<br />

IA, os investimentos são<br />

massivos<br />

treinar os seus modelos de IA. A Meta também está a<br />

trabalhar numa poderosa plataforma de IA, a lançar<br />

em 2024, assente num novo modelo de linguagem, que<br />

rivalizará com a tecnologia mais avançada da OpenAI.<br />

Esta, por sua vez, anunciou uma grande atualização<br />

no ChatGPT, que vai passar a ter chatbot para conversações<br />

de voz com os utilizadores e funcionalidades de<br />

imagens. A alemã SAP tornou público o seu novo assistente<br />

de IA generativa, o ‘Joule’, um copiloto para os<br />

negócios, incorporado, a partir de novembro, em todas<br />

as aplicações do grupo.<br />

O investimento em IA é também prioritário para<br />

muitas outras gigantes. Incluindo as denominadas ‘big<br />

five’ de consultoria. A EY foi a primeira tornar pública,<br />

a 15 de setembro, a sua plataforma de IA, que chamou<br />

de ‘EY.ai EYQ’, depois de um investimento de 1,4 mil<br />

milhões de dólares nos últimos 18 meses. Como adiantou<br />

o seu CEO e presidente, “o momento da IA é agora.<br />

Todas as empresas estão a considerar a forma como<br />

será integrada nas operações e o seu impacto no futuro”.<br />

Outras concorrentes<br />

estão a avançar: a KPMG<br />

tem em curso um investimento<br />

de dois mil milhões<br />

de dólares em serviços de<br />

IA e cloud a cinco anos; a<br />

Accenture avançou com<br />

3 mil milhões de dólares<br />

para ajudar os clientes a<br />

reinventarem-se com a IA;<br />

a PwC está a investir três<br />

mil milhões de dólares a<br />

três anos; e, em dezembro<br />

do ano passado, a Deloitte já tinha anunciado estar a<br />

desenvolver, com 1,4 mil milhões de dólares, novos<br />

serviços baseados em IA.<br />

Há muito dinheiro a ser investido. É o caso recente<br />

da Capgemini, que tem dois mil milhões de euros a três<br />

anos para acelerar a sua transição com a IA generativa.<br />

Sem falar das compras de outras empresas e dos anúncios<br />

de parcerias, que todos os dias se multiplicam.<br />

Afinal, como antecipava há semanas o líder da Google,<br />

numa carta aberta a comemorar os 25 anos da gigante,<br />

espera-se que a IA traga uma revolução maior que<br />

a chegada da internet, sendo o maior desafio futuro do<br />

mundo. Os próximos tempos o dirão.•


DIFERENTES REGRAS PARA DIFERENTES NÍVEIS DE RISCO<br />

A VERSÃO FINAL do AI Act, aprovada no início de<br />

junho pelo Parlamento Europeu, teve como prioridade<br />

assegurar que os sistemas de IA usados no espaço<br />

comunitário são seguros, transparentes, rastreáveis e<br />

não discriminatórios, além de respeitarem o ambiente.<br />

Devem ainda ser supervisionados por pessoas e não<br />

por automação, evitando desta forma eventuais resultados<br />

prejudiciais. Pretendeu-se ainda estabelecer<br />

uma definição uniforme e neutra em termos tecnológicos<br />

para a IA, que possa ser aplicada a futuros<br />

sistemas que sejam criados.<br />

Na altura da aprovação do documento, o PE explicava<br />

que a regulamentação define obrigações para fornecedores<br />

e utilizadores de acordo com o nível de risco de<br />

cada solução assente em IA.<br />

No topo da pirâmide está o ‘risco inaceitável’, o que<br />

abrange sistemas de IA que são considerados uma<br />

ameaça para as pessoas e, por isso, proibidos. E cita<br />

casos de sistemas de manipulação cognitivo-comportamental<br />

de pessoas ou grupos vulneráveis específicos;<br />

classificação social; ou identificação biométrica em<br />

tempo real e à distância. Mas há exceções permitidas,<br />

nomeadamente para crimes graves, mas sempre depois<br />

da aprovação do tribunal.<br />

Já no ‘alto risco’ incluem-se os sistemas de IA que<br />

afetam negativamente a segurança<br />

ou os direitos fundamentais. São<br />

classificados em duas categorias:<br />

sistemas de IA utilizados em produtos<br />

abrangidos pela legislação<br />

da UE em matéria de segurança<br />

dos produtos (como brinquedos,<br />

aviação, automóveis, dispositivos<br />

médicos e elevadores); e<br />

sistemas de IA que se enquadram<br />

em oito áreas específicas<br />

que terão de ser registados<br />

numa base de dados da<br />

UE - identificação biométrica<br />

e categorização de pessoas<br />

singulares, gestão e funcionamento<br />

de infraestruturas<br />

críticas, educação<br />

e formação profissional,<br />

emprego, gestão dos<br />

trabalhadores e acesso ao trabalho independente,<br />

acesso e usufruto de serviços privados essenciais e de<br />

serviços e benefícios públicos, aplicação da lei, gestão<br />

da migração, do asilo e do controlo das fronteiras e assistência<br />

na interpretação jurídica e na aplicação da lei.<br />

Todos têm de ser avaliados antes de serem colocados<br />

no mercado e ao longo do seu ciclo de vida.<br />

Na categoria de ‘risco limitado’ estão todos os sistemas<br />

de IA que tenham de cumprir requisitos mínimos<br />

de transparência, para que os utilizadores tomem<br />

decisões informadas. Assim, devem ser alertados para<br />

o facto de estarem a interagir com a IA, o que inclui<br />

sistemas que geram ou manipulam conteúdos de imagem,<br />

áudio ou vídeo, como as deepfakes.<br />

Relativamente à IA generativa, os sistemas terão de<br />

cumprir requisitos de transparência, nomeadamente:<br />

revelar que o conteúdo foi gerado pela IA; conceber o<br />

modelo para evitar que este gere conteúdos ilegais, e<br />

publicar resumos dos dados protegidos por direitos de<br />

autor utilizados para a formação.<br />

Em paralelo, e porque se reconhece a necessidade de<br />

impulsionar a inovação nesta tecnologia, está prevista<br />

a criação de sandboxes regulatórias e medidas de<br />

apoio às startups. A proposta preconiza ainda a criação<br />

de um Comité Europeu da Inteligência Artificial, que<br />

supervisionará a aplicação do regulamento e<br />

garantirá uma aplicação<br />

uniforme em toda a UE.<br />

Este organismo emitirá<br />

pareceres e recomendações<br />

e fornecerá orientações<br />

às autoridades<br />

nacionais.<br />

Estão também previstas<br />

penalidades pesadas por<br />

não conformidade. Para<br />

as empresas, as coimas<br />

poderão atingir 30 milhões<br />

de euros ou 6% das<br />

receitas globais. Sendo<br />

que a apresentação de<br />

documentação falsa ou<br />

enganosa aos reguladores<br />

também pode<br />

resultar em coimas.•<br />

37


itech<br />

38<br />

GUILHERME DIAS:<br />

Banda sonora<br />

original<br />

Num caminho nada linear, Guilherme Dias sempre usou a<br />

tecnologia ao serviço das suas variadas paixões. Ao seu ritmo,<br />

com o tom certo, compõe o seu percurso, aproveitando o melhor<br />

que o progresso lhe oferece.<br />

Texto de Ana Sofia Rodrigues | Fotos de Vítor Gordo/Syncview<br />

Com formação em engenharia<br />

informática e uma carreira<br />

ligada à área das tecnologias<br />

de informação, o mais óbvio seria<br />

pensar que Guilherme Dias teria<br />

iniciado a sua ligação à tecnologia<br />

através de um primeiro computador<br />

que tivesse em casa. Mas, nada<br />

disso. Desde sempre que o atual<br />

Sales Director do SAS Portugal nunca<br />

quis ser só uma coisa. Para se sentir<br />

inteiro, precisou sempre de “experiências<br />

paralelas”, pelo que foi<br />

pela música que começou por ser<br />

conquistado.<br />

“Tinha uns 11 anos quando o meu<br />

pai comprou um sistema integrado,<br />

com rádio, leitor de cassetes, gira<br />

discos, amplificador e colunas. Foi<br />

o primeiro equipamento eletrónico<br />

que me recordo de ver lá em casa<br />

e causou um impacto incomparável<br />

na minha vida”. A partir daí, apaixonou-se<br />

pela música.<br />

Em Mangualde, além de estudante<br />

aplicado, era escuteiro, não perdia<br />

os jogos de futebol com os amigos e<br />

fazia... um programa de rádio. “Tive<br />

a sorte de se ter aberto o espectro<br />

radiofónico para as rádios locais”.<br />

Com mais quatro amigos, candidatou-se,<br />

“acharam-nos piada” e<br />

começaram a fazer um programa<br />

semanal, o Palácio da Aventura, ao<br />

sábado à noite, “em que só passávamos<br />

música”.<br />

Esta paixão inicial manteve-se e,<br />

hoje, Guilherme Dias não consegue<br />

“estar em casa, fazer uma viagem<br />

ou trabalhar sem música”. Não é<br />

de estranhar a escolha dos seus<br />

gadgets favoritos: “Os equipamentos<br />

associados à música fascinam-me:<br />

headphones, colunas, amplificadores...”,<br />

não excluindo, como é óbvio,<br />

o acesso imediato no seu telemóvel.<br />

Logo atrás do uso para chamadas e<br />

e-mail, a aplicação que mais utiliza<br />

no seu iPhone 12 é a plataforma<br />

Spotify. “É um espetáculo! Não só<br />

me permite ter acesso imediato à<br />

minha música, como a descoberta<br />

de novos artistas é maravilhosa”.<br />

Outro dos seus interesses surgiu<br />

também bastante cedo. No 9º ano<br />

de escolaridade, face à necessidade<br />

de escolher uma opção, inscreveuse<br />

numa disciplina nova na escola:<br />

Informática. “Definiu o meu caminho<br />

profissional. Percebi que era<br />

algo verdadeiramente transformador.<br />

Achei muita piada ao output<br />

que conseguia obter com poucas<br />

linhas de código”. Sem computador<br />

em casa, recorria aos dos amigos e<br />

da escola, onde se lembra de “fazer<br />

os primeiros programas em CO-<br />

BOL”. Com 18 anos, rumou a Lisboa<br />

e escolheu um curso ainda “em fase<br />

experimental”: Engenharia Informática.<br />

“No Instituto Superior Técnico,<br />

o que aprendi de mais importante<br />

foi a olhar para um problema, dissecá-lo<br />

e arranjar soluções. Ganhei<br />

essa matriz de pensamento, que me<br />

ajudou muito na vida profissional e<br />

pessoal”.<br />

Do Técnico saiu para a IBM, para<br />

a área de marketing e venda de<br />

computadores pessoais, passando<br />

depois por empresas de referência<br />

como Unisys, Novabase e CA Technologies.<br />

“Estive sempre mais ligado<br />

à área comercial. A última linha de<br />

código que escrevi foi no meu projeto<br />

de fim de curso”.<br />

A tecnologia sempre o acompanhou<br />

e explorou ao máximo todas as suas<br />

potencialidades. No dia a dia, usa<br />

o telemóvel, o iPad e o laptop. “A<br />

plataforma operativa do iPad ainda<br />

não é suficientemente ágil para<br />

substituir um laptop, mas há de<br />

chegar o dia em que me vou livrar<br />

deste terceiro equipamento”. Apologista<br />

de “usarmos o mínimo de<br />

dispositivos, até do ponto de vista<br />

ecológico, pois o custo de reciclagem<br />

é brutal”, aposta na economia<br />

circular. “No final do contrato do<br />

telemóvel, fico com ele, passo-o à<br />

minha mulher e depois fica para o<br />

nosso filho. Este aqui tem quatro<br />

anos e, enquanto não for vítima da<br />

obsolescência do sistema operativo,<br />

continuarei a usá-lo”. E termina, falando-nos<br />

de outro prazer tecnológico.<br />

“Sabe que ainda tenho o meu<br />

primeiro carro com 22 anos? Funciona<br />

e continuo a andar com ele todos<br />

os meses”. Quando começou a trabalhar,<br />

descobriu esta nova paixão<br />

pelos veículos todo-o-terreno. Fora<br />

de estrada, ficou a conhecer todo o<br />

país e a encantar-se com as “zonas<br />

fantásticas que Portugal tem”.<br />

Caminhos alternativos que sempre<br />

adorou explorar e que o levam, sem<br />

dúvida, mais longe.


Guilherme Dias prefere a plataforma iOS<br />

da Apple, pela facilidade de utilização e<br />

automação. “Só tenho de me preocupar<br />

em fazer as atualizações pedidas”.<br />

O iPad é o seu “caderno” e, nas<br />

reuniões, não o dispensa para tomar<br />

notas com o seu Apple Pencil.<br />

Ao longo do dia, perde a conta às vezes<br />

que usa o Spotify para ouvir as suas<br />

músicas preferidas e descobrir novos<br />

artistas.<br />

39


negocios<br />

40


MAIS TALENTO<br />

QUALIFICA<strong>DO</strong> EM<br />

CIBERSEGURANÇA<br />

Miguel Almeida, diretor-geral da Cisco Portugal,<br />

é perentório: ser alvo de um ciberataque é uma<br />

inevitabilidade no mundo atual. A questão que se<br />

coloca já não passa pela forma como se será atacado,<br />

mas sim quando acontecerá. Ainda vamos a tempo de<br />

alterar este malfadado destino?<br />

TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES<br />

ILUSTRAÇÃO (Ab.) MIDJOURNEY FOTO DE VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW<br />

41


negocios<br />

42<br />

Dados revelados recentemente no relatório<br />

“Threat Landscape Report”, da empresa de serviços<br />

de cibersegurança S21sec, comprovam as<br />

piores suspeitas para Portugal: nos primeiros<br />

seis meses de 2023, 11 empresas portuguesas foram<br />

alvo de ciberataques graves. Uma realidade igualmente<br />

patente no “Relatório Cibersegurança em Portugal<br />

– Riscos & Conflitos”, do Centro Nacional de Cibersegurança<br />

(CNCS), que deixa claro que há uma perceção<br />

elevada de risco de cibersegurança em Portugal. Estará<br />

o país preparado para lidar com esta nova realidade?<br />

Temos profissionais munidos das competências necessárias<br />

para enfrentar este desafio hercúleo? O mercado<br />

parece dizer que não.<br />

O diretor-geral da Cisco Portugal, Miguel Almeida<br />

olha com preocupação para a escassez de recursos<br />

humanos na área da cibersegurança do nosso país. “A<br />

pandemia trouxe uma enorme mudança no paradigma<br />

da cibersegurança, em termos das suas ofertas e implementações,<br />

mas também levou a um salto exponencial<br />

de ataques”, contextualiza. “Hoje há uma maior<br />

preocupação com esta temática, que caminha lado a<br />

lado com uma enorme escassez de recursos humanos<br />

especializados em segurança.<br />

Os profissionais<br />

que temos são claramente<br />

insuficientes para as necessidades<br />

do mercado”,<br />

lamenta o responsável da<br />

Cisco. Com olhos postos<br />

no futuro, a empresa líder<br />

em Tecnologias de Informação<br />

a nível mundial<br />

acaba de lançar a Cisco<br />

Cybersecurity Academy,<br />

que promete ser uma<br />

enorme mais-valia para a<br />

criação de um pipeline de especialistas em cibersegurança<br />

no país.<br />

Ao longo de seis meses, 18 alunos terão acesso a um<br />

curriculum diversificado, elaborado com um ecossistema<br />

variado de organizações, incluindo universidades<br />

técnicas e parceiros-chave na área da cibersegurança.<br />

A formação será vital para preparar as certificações<br />

exigidas pelo mercado, como CCNA (Cisco Certified<br />

Networking Associate), CyberOps Associate & Security<br />

Networking com Cisco Firepower, entre outras. “Além<br />

do conhecimento adquirido em aula, é igualmente vital<br />

a partilha de conhecimentos dos players do mercado<br />

em contexto real, bem como a aprendizagem de soft<br />

“Os atuais profissionais<br />

de cibersegurança são<br />

claramente insuficientes<br />

para as necessidades do<br />

mercado português”<br />

skils ou a audição de TED talks dos melhores profissionais<br />

do setor”, elucida Miguel Almeida. “Tenho a certeza<br />

de que daremos ao mercado profissionais altamente<br />

capacitados para defender o país na área da cibersegurança”,<br />

afirma, com entusiasmo.<br />

AINDA HÁ UM LONGO CAMINHO A PERCORRER<br />

Se não restam dúvidas de que mais profissionais qualificados<br />

são uma necessidade urgente para o setor,<br />

outras questões de resolução mais complexa teimam<br />

em permanecer, na altura de resolver a complexa equação<br />

da cibersegurança em Portugal e no mundo. E se<br />

é verdade que estamos num caminho mais estratificado,<br />

com conhecimento cada vez mais especializado na<br />

área, a ideia de que esta realidade “só acontece aos outros”<br />

continua a persistir tanto na esfera empresarial e<br />

estatal, como na privada. “É vital criar awareness para<br />

este tema. É urgente quebrar esta ideia de ‘isso não é<br />

um problema para mim, não me afeta’, porque sabemos<br />

hoje que nada pode estar mais longe da verdade.<br />

Esta questão afetar-nos-á. Só não sabemos quando”,<br />

afirma Miguel Almeida, convictamente.<br />

E é essa inevitabilidade do ataque que parece estar<br />

a surtir efeito na crescente preocupação das empresas<br />

e organismos públicos em Portugal. O estudo “A visão<br />

das empresas portuguesas sobre os riscos”, lançado<br />

recentemente pela consultora<br />

Marsh Portugal,<br />

e que ouviu mais de 130<br />

líderes nacionais, assim o<br />

comprova: os ataques cibernéticos<br />

são a principal<br />

preocupação dos gestores<br />

(46%), superando a instabilidade<br />

política ou social<br />

(45%) e a inflação (39%).<br />

“A tal ideia de que só acontece<br />

aos outros vai adiando<br />

investimentos, por força<br />

de outras prioridades,<br />

mas a verdade é que se olharmos para as empresas de<br />

média dimensão há uma crescente preocupação com<br />

a segurança e isso é bom sinal”, diz Miguel Almeida.<br />

Duas razões parecem destacar-se para este acréscimo:<br />

a necessária proteção de dados de clientes, informação<br />

vital para qualquer empresa, e a maior consciência do<br />

tremendo impacto negativo que um simples ataque<br />

pode provocar no negócio.<br />

Os números parecem dar razão aos que olham para<br />

a cibersegurança como uma prioridade imediata. 2022<br />

ficou marcado como o ano com maior número de ataques<br />

cibernéticos alguma vez registados em Portugal,<br />

em vários setores da economia, banca, media, saúde e


transportes. Terão os organismos<br />

públicos, o tecido empresarial<br />

e o cidadão comum ferramentas<br />

para travar esta luta? O<br />

primeiro passo para este esforço<br />

conjunto foi dado recentemente<br />

pelo Estado, com o Secretário<br />

de Estado da Digitalização, Mário<br />

Campolargo, a anunciar que<br />

a Nova Estratégia Nacional de<br />

Segurança do Ciberespaço está<br />

em fase de elaboração. “A cooperação<br />

feita hoje entre o tecido<br />

empresarial, as entidades estatais<br />

– caso do Centro Nacional<br />

de Segurança ou do Ministério<br />

da Defesa –, e das universidades<br />

públicas, é a prova de que só<br />

com uma estratégia conjunta é<br />

possível cerrar fileiras contra os<br />

ataques que, sejamos realistas,<br />

farão cada vez mais parte da<br />

nossa realidade. Se a isto juntarmos<br />

especialistas habilitados e<br />

capacitados para salvaguardar<br />

as infraestruturas que são vitais<br />

para o país, temos uma enorme<br />

mais-valia para o bem comum”,<br />

conclui Miguel Almeida.•<br />

Miguel Almeida encara com entusiasmo o recente lançamento da Cisco Cibersecurity<br />

Academy. Está convicto que será uma enorme mais-valia para a formação de<br />

profissionais altamente capacitados para defender o país na área da cibersegurança<br />

NOVA OFERTA FORMATIVA<br />

A transformação digital, seus benefícios e vantagens,<br />

mas também os enormes desafios que<br />

acarreta, é uma realidade cada vez mais presente<br />

no tecido empresarial português. Empenhada<br />

na procura de soluções efetivas e duradoras em<br />

cibersegurança, a Competitive Intelligence & Information<br />

Warfare Association (CIIWA) criou uma<br />

formação para garantir talento especializado e<br />

qualificado nesta área.<br />

Com uma oferta formativa inovadora, o curso<br />

abordará o tema da cibersegurança numa<br />

perspetiva de gestão e centrada no fator humano.<br />

Para além da completa componente técnica<br />

lecionada por um corpo docente de elevada<br />

experiência e domínio técnico, os diferentes<br />

módulos abordam a cibersegurança numa visão<br />

integradora, reunindo boas práticas, profissionais<br />

experientes e um método ativo de formação.<br />

Associados APDC contam com preços especiais.<br />

•<br />

43


eportagem<br />

44


INOVAÇÃO,<br />

O ELO QUE LIGA<br />

AS CIDADES<br />

<strong>DO</strong> FUTURO<br />

Que cidades e territórios queremos para o futuro?<br />

Como podemos transformá-las em espaços mais<br />

habitáveis, sustentáveis e economicamente viáveis?<br />

Foi na senda de respostas a estas perguntas que<br />

foram conhecidos os vencedores da 2ª edição do<br />

Prémio Cidades & Territórios do Futuro, no Digital<br />

Business Congress 2023 da APDC.<br />

TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES ILUSTRAÇÕES DE MIDJOURNEY<br />

Desenvolvidos nas categorias de mobilidade e logística; relacionamento com o cidadão<br />

e participação; desenvolvimento económico; sustentabilidade, economia circular e<br />

descarbonização; igualdade e inclusão e qualificações; e saúde e bem-estar, estes projetos<br />

são a prova de que é possível criar soluções inovadores para as nossas cidades,<br />

tendo sempre a sustentabilidade da economia, sociedade e ambiente como bússola. Vencedores<br />

da 2ª edição do Prémio Cidades & Territórios do Futuro, apresentaram as suas inovações<br />

no Digital with Purpose Global Summit 2023, que teve lugar em setembro no Altice<br />

Arena, em Lisboa. Fomos conhecer estas iniciativas ligadas por um elo comum: inovação.<br />

45


eportagem<br />

46<br />

MOBILIDADE E LOGÍSTICA<br />

Kiosk Guerin<br />

Do sofá à mobilidade<br />

Para o projeto Kiosk Guerin,<br />

os tempos em que alugar um<br />

carro à saída do aeroporto<br />

significava quase sempre<br />

longas horas numa fila<br />

interminável e uma valente<br />

dor de cabeça pertencem<br />

definitivamente ao passado.<br />

Hoje, basta uma ligação à<br />

internet, alguns cliques e um<br />

processo simples, e tudo fica<br />

resolvido numa questão<br />

de minutos.<br />

A ideia surgiu em 2020,<br />

quando a pandemia<br />

obrigou a Guerin a repensar<br />

o seu modelo de<br />

negócio num mercado<br />

altamente competitivo.<br />

Inovadores, encontraram<br />

uma solução que<br />

eleva a experiência<br />

oferecida: o processo<br />

burocrático imposto por<br />

lei foi simplificado para<br />

ser preenchido intuitivamente<br />

pelo cliente e<br />

a celeridade com que<br />

tudo fica resolvido tornou-<br />

-se realidade. “Durante anos,<br />

os clientes eram obrigados<br />

a ceder-nos longos minutos<br />

do seu precioso tempo em<br />

processos burocráticos penosos<br />

e datados. Hoje, o tempo<br />

é um ‘bem’ valioso e tudo<br />

fazemos para respeitar ao<br />

máximo essa noção”, garante<br />

Delfina Acácio, diretora-geral<br />

da Guérin.<br />

Agora, é a empresa que se<br />

adapta ao cliente, não o contrário.<br />

E isso significa que ele<br />

decide como, quando e onde<br />

quer agilizar o seu processo<br />

de aluguer. Seja no conforto<br />

do sofá, numa esplanada à<br />

beira-mar ou antes de entrar<br />

numa reunião. Basta ter<br />

acesso à internet, dispensar<br />

alguns minutos no preenchimento<br />

da documentação<br />

e estará pronto para seguir<br />

viagem.<br />

Para já, é possível encontrar<br />

11 Kiosks Guerin no aeroporto<br />

de Lisboa, lado a lado com<br />

outros três postos de atendimento<br />

mais tradicionais.<br />

Ligação à internet<br />

e alguns cliques.<br />

Estes projetos<br />

simplificam ao<br />

máximo processos<br />

até agora<br />

demorados e<br />

burocráticos<br />

RELACIONAMENTO COM O<br />

CIDADÃO E PARTICIPAÇÃO<br />

Mobicab<br />

Flexível<br />

O poder das ligações na<br />

comunidade<br />

Um projeto inclusivo, que<br />

promove a igualdade, é amigo<br />

do ambiente e dinamizador<br />

da economia local: assim<br />

é o Mobicab Flexível, uma iniciativa<br />

com cunho da Câmara<br />

Municipal de Castelo Branco<br />

e um exemplo de como<br />

as ligações (de mobilidade,<br />

sociais e económicas)<br />

são fundamentais<br />

em comunidade.<br />

A celebrar um ano de<br />

atividade, o Mobicab<br />

foi pensado para minimizar<br />

o isolamento<br />

de algumas franjas da<br />

população albicastrense,<br />

maioritariamente<br />

idosos, a viver em locais<br />

onde a rede pública de<br />

transportes não servia<br />

as suas reais necessidades.<br />

“A Mobicab veio trazer<br />

inclusão, igualdade,<br />

potenciar a economia local<br />

e ainda é amigo do ambiente”,<br />

afirma com entusiasmo<br />

Hélder Henriques, vice-presidente<br />

da Câmara Municipal<br />

de Castelo Branco.<br />

Para usar o Mobicab basta<br />

ligar para o número gratuito<br />

da câmara municipal<br />

(800 272 000) até às 15h00<br />

horas do dia anterior, requisitando<br />

o serviço. A partir<br />

daí a Mobicab trabalha em<br />

articulação com os operado-


es locais (táxis) e, na hora<br />

agendada, lá está o veículo<br />

que o deixará perto de um<br />

ponto da rede pública de<br />

transportes da cidade. Sem<br />

necessidade de papelada,<br />

aplicações complicadas ou<br />

custos extra associados.<br />

Os números do projeto<br />

confirmam o seu sucesso:<br />

lançado a 1 de julho de 2022,<br />

a Mobicab conta com mais<br />

de 1.000 pedidos feitos pelos<br />

munícipes. E isso traduziu-se<br />

num aumento significativo<br />

da utilização da rede pública<br />

de transportes, com mais 12<br />

mil viagens em relação ao<br />

período homologo.<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

ECONÓMICO<br />

Plataforma<br />

de Gestão<br />

Inteligente<br />

de Lisboa<br />

A informação ao serviço da<br />

cidade<br />

Com mais de 100 km² e perto<br />

de 548 mil habitantes, Lisboa<br />

tem uma complexa teia de<br />

infraestruturas, serviços e<br />

inúmeras comunidades.<br />

Criada em 2015 (mas totalmente<br />

operacional a partir<br />

de 2018), a Plataforma de<br />

Gestão Inteligente de Lisboa<br />

é uma poderosa ferramenta<br />

para garantir que tudo corre<br />

de feição na capital do país.<br />

Intuitiva, é uma engenhosa<br />

solução tecnológica para<br />

concentrar num único espaço<br />

toda a informação vital<br />

da cidade, até então diluída<br />

pelos diferentes serviços e<br />

infraestruturas da capital.<br />

Com alta capacidade de<br />

processamento, permite a<br />

monitorização, gestão operacional<br />

e realização de análise<br />

sobre os dados gerados por<br />

todo o ecossistema urbano.<br />

Diariamente, recebe e trata<br />

um grande volume de dados,<br />

provenientes de câmaras de<br />

vídeo, sensores, sistemas<br />

de informação da CML e de<br />

parceiros externos. “Não<br />

queremos substituir nenhum<br />

dos sistemas de informação<br />

já existentes – e com provas<br />

dadas –, mas sim beber desse<br />

conhecimento, para uma<br />

visão o mais fiel possível da<br />

cidade”, explica Célia Aguiar,<br />

diretora do Centro de Gestão<br />

e Inteligência Urbana de<br />

Lisboa.<br />

Um trabalho complexo –<br />

inclui mais de 250 sistemas e<br />

camadas de informação diferentes,<br />

integrando entidades<br />

como Epal, EDP, Turismo de<br />

Lisboa, Infraestruturas de<br />

Portugal, Carris, entre tantas<br />

outras – e que é partilhado<br />

com a comunidade através<br />

do Portal de Dados Abertos<br />

de Lisboa e da app Lisboa.24.<br />

Engenhosas<br />

soluções<br />

tecnológicas<br />

tornam as cidades<br />

verdadeiramente<br />

mais sustentáveis<br />

SUSTENTABILIDADE,<br />

ECONOMIA CIRCULAR<br />

E DESCARBONIZAÇÃO<br />

Recolha<br />

seletiva de<br />

biorresíduos<br />

em Cascais<br />

Verde é a cor da esperança<br />

A partir de 1 de janeiro de<br />

2024, é imperativo que todas<br />

as cidades europeias façam a<br />

recolha, separação e reaproveitamento<br />

dos restos<br />

orgânicos produzidos pelos<br />

seus munícipes. Estarão as<br />

cidades portuguesas prontas<br />

para alcançar estas metas?<br />

Cascais está certa de que<br />

cumprirá esta diretiva europeia,<br />

graças a um projeto<br />

inovador de recolha seletiva<br />

de biorresíduos que está a<br />

implementar na região. Mas<br />

desengane-se quem pensa<br />

que esta inovação se traduz<br />

em investimentos e gastos<br />

avultados para o município.<br />

Nada disso. Com apenas um<br />

pequeno saco de plástico<br />

verde e um leitor ótico o<br />

impacto é tremendo.<br />

Mas como funciona o projeto<br />

na prática? “Em poucas palavras,<br />

separa-se no contentor<br />

o que agora está completamente<br />

misturado!”, explica<br />

Luís Almeida, presidente do<br />

conselho de administração<br />

da Cascais Ambiente. Cada<br />

munícipe recebe gratuitamente<br />

um rolo de sacos<br />

verdes com até sete litros,<br />

que deverão usar para des-<br />

47


eportagem<br />

48<br />

cartar os restos de comida,<br />

colocando posteriormente<br />

o saco no contentor de lixo<br />

comum. É na unidade de<br />

tratamento de resíduos que<br />

a grande diferença acontece:<br />

um leitor ótico reconhece os<br />

sacos verdes por entre o lixo<br />

comum e encaminha-os para<br />

outra unidade, onde darão<br />

origem a biogás e diversos<br />

compostos.<br />

O projeto é já um enorme sucesso<br />

entre os cascalenses,<br />

superando em larga escala<br />

as expetativas iniciais. “A taxa<br />

de satisfação de quem aderiu<br />

a este projeto é de 96%, ou<br />

seja, as pessoas gostam realmente<br />

deste modelo. É-lhes<br />

prático, simples e conveniente.<br />

Temos diariamente pessoas<br />

a perguntar-nos quando<br />

é que o sistema chega às<br />

suas ruas, tal é a vontade de<br />

participar!”.<br />

IGUALDADE E INCLUSÃO<br />

E QUALIFICAÇÕES<br />

As Raparigas<br />

do Código<br />

Quebrar o ciclo<br />

da invisibilidade<br />

“Ainda há pouca visibilidade<br />

para as mulheres na ciência,<br />

em especial nas áreas das<br />

engenharias. Conta-se pelos<br />

dedos de uma mão o número<br />

de mulheres catedráticas<br />

nestas áreas nas nossas<br />

universidades”, quem o diz<br />

é Miriam Santos, a mentora<br />

do As Raparigas do Código,<br />

um projeto que promove a<br />

inclusão digital e a igualdade<br />

de género, através do ensino<br />

da programação a mulheres<br />

e raparigas em idade escolar.<br />

“De forma despretensiosa e<br />

tranquila quis quebrar este<br />

ciclo, desmistificando o papel<br />

da mulher na tecnologia”, conta<br />

Miriam, de sorriso no rosto.<br />

Criado em 2020, o projeto<br />

Raparigas do Código começou<br />

com uma iniciativa informal<br />

onde, pontualmente, se<br />

organizavam workshops de<br />

introdução à programação<br />

para mulheres. Volvidos três<br />

anos, a comunidade evoluiu<br />

para organização sem fins<br />

lucrativos (Associação Geração<br />

Ambiciosa) e conta com<br />

mais de 25 mentores, de<br />

áreas STEM, mas também de<br />

design, gestão de carreiras,<br />

entre outras. “Temos mentores<br />

de várias áreas, porque<br />

ninguém sabe tudo, e receber<br />

conhecimento de inúmeras<br />

e tão diferentes valências<br />

só pode ser uma mais-valia<br />

para estas mulheres”, diz,<br />

com orgulho Miriam.<br />

Apadrinhadas pela Amazon,<br />

Microsoft e Outsystems,<br />

entre outras grandes empresas,<br />

as Raparigas do Código<br />

apoiam e capacitam mulheres<br />

que procuram programas<br />

de qualificação ou requalificação<br />

das suas competências,<br />

bem como para o<br />

desenvolvimento de projetos<br />

pessoais de empreendedorismo.<br />

SAÚDE E BEM-ESTAR<br />

LISBOA 65+<br />

Um plano de saúde<br />

verdadeiramente inclusivo<br />

As condições de acesso ao<br />

Lisboa 65+ são simples:<br />

ter 65 ou mais anos e ser<br />

munícipe ou estar recenseado<br />

em Lisboa. Não é preciso<br />

preencher papeladas intermináveis,<br />

com pré-requisitos<br />

complexos ou informações<br />

pouco claras escritas em<br />

letras miudinhas. Basta fazer<br />

a inscrição na plataforma<br />

online do projeto ou nas farmácias<br />

aderentes de Lisboa,<br />

e pouco depois o idoso pode<br />

beneficiar de um plano de<br />

saúde gratuito, que inclui<br />

teleconsultas de medicina<br />

geral e familiar, assistência<br />

médica ao domicílio em caso<br />

de necessidade, e transporte<br />

em ambulância sempre que<br />

o médico ao domicílio<br />

assim determinar.<br />

Sendo acessível a todos os<br />

lisboetas com mais de 65<br />

anos, o plano Lisboa 65+<br />

tem especial atenção com os<br />

munícipes mais vulneráveis,<br />

ou seja, os beneficiários do<br />

complemento solidário para<br />

idosos (CSI). Em parceria com<br />

a Santa Casa da Misericórdia<br />

de Lisboa, estes munícipes<br />

têm acesso a um programa<br />

reforçado, que inclui médico<br />

assistente, oftalmologia,<br />

optometria e fornecimento<br />

de óculos graduados, materiais<br />

de incontinência urinária,<br />

higiene oral e medicina<br />

dentária e próteses.•


Navigate digital disruption<br />

with help from a global<br />

digital leader.<br />

dxc.com


portugal digital<br />

50


ENSAIAR<br />

O FUTURO<br />

No caminho da transição<br />

digital, são bem-vindos todos os<br />

instrumentos que potenciem a<br />

sua aceleração. A Rede Nacional<br />

de Test Beds é um deles e<br />

promete criar grande impacto na<br />

capacidade de desenvolvimento<br />

de novos produtos e serviços<br />

por parte das pequenas e médias<br />

empresas portuguesas.<br />

“<br />

TEXTO DE ANA SOFIA RODRIGUES FOTOS iSTOCK E CEDIDAS<br />

Campos de experimentação”. Foi assim que o<br />

primeiro-ministro traduziu e simplificou a expressão<br />

tecnológica “test beds”, aquando da<br />

apresentação oficial da sua Rede Nacional. De<br />

facto, expressa bem a ideia fundamental desta iniciativa,<br />

que prevê ser um empurrão para a transição digital de um<br />

número crescente de empresas. Test Beds são entidades<br />

que detêm capacidade instalada para o desenvolvimento<br />

de produtos e a prestação de serviços inovadores a PME e<br />

startups. Verdadeiros polos de inovação, recorrem a tecnologias<br />

como o 5G, a Internet das Coisas ou a Inteligência<br />

51


portugal digital<br />

A Rede Nacional de Test Beds foi oficialmente apresentada, no final do mês de março, na Universidade de Aveiro, numa cerimónia<br />

que contou com a presença do Presidente da República, do primeiro-ministro e de vários membros do Governo<br />

52<br />

Artificial, para apoiar as empresas no desenvolvimento<br />

de produtos e serviços-piloto, acelerando a sua produção,<br />

industrialização e comercialização. Através de<br />

laboratórios físicos ou virtuais, permitem às empresas<br />

mais pequenas e recentes testar a qualidade, a segurança,<br />

a escalabilidade e o desempenho dos seus produtos<br />

e serviços, num ambiente seguro e controlado, antes<br />

de serem lançados no mercado<br />

ou implementados<br />

em operações de grande<br />

escala. Segundo o Secretário<br />

de Estado da Digitalização<br />

e da Modernização<br />

Administrativa, Mário<br />

Campolargo, “o apoio que<br />

as equipas experientes das<br />

test beds irão conceder<br />

em matéria de capacidade<br />

tecnológica, equipamento<br />

e partilha de conhecimento<br />

vai permitir que as<br />

organizações mais pequenas ou em crescimento sejam<br />

munidas com novas capacidades e ferramentas para<br />

se adaptarem e inovarem num mercado cada vez mais<br />

competitivo e digital”.<br />

APOSTA ESTRATÉGICA<br />

Após a abertura de três concursos para desenvolvimento<br />

de projetos, a iniciativa Rede Nacional de Test<br />

Até ao terceiro trimestre<br />

de 2025, espera-se que<br />

sejam desenvolvidos 2.415<br />

produtos-piloto<br />

Beds, coordenada pela Estrutura de Missão Portugal<br />

Digital, com o apoio do IAPMEI, ANI, Compete, DGAE<br />

e Startup Portugal, recebeu um total de 54 candidaturas.<br />

Concluída a avaliação das propostas, consideraram-se<br />

30 elegíveis. Espera-se que os 30 consórcios<br />

selecionados desenvolvam, até ao terceiro trimestre<br />

de 2025, 2.415 produtos-piloto. Para tal, a Rede Nacional<br />

de Test Beds conta<br />

com um financiamento<br />

de 150 milhões de euros<br />

do Plano de Recuperação<br />

e Resiliência (<strong>PRR</strong>), um<br />

investimento que, segundo<br />

António Costa, “é uma<br />

pequena amostra do que é<br />

o potencial transformador<br />

do <strong>PRR</strong> para a economia<br />

portuguesa”.<br />

No final do mês de<br />

março, a Rede Nacional<br />

foi oficialmente apresentada<br />

na Universidade de Aveiro, numa cerimónia que<br />

contou com a presença do Presidente da República,<br />

primeiro-ministro, ministra do Estado e da Presidência,<br />

ministra de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior,<br />

ministro da Economia e do Mar e do secretário de Estado<br />

da Digitalização e da Modernização Administrativa,<br />

revelando a importância estratégica desta iniciativa.


REDE DE ESPECIALISTAS<br />

A Rede Nacional de Test Beds pretende cobrir vários<br />

pontos do país e é constituída pelos mais recentes polos<br />

de inovação. Face à heterogeneidade dos setores e<br />

das áreas temáticas, as Test Beds foram agrupadas em<br />

três categorias: “Líder” – são operadas por empresas<br />

com práticas de inovação e têm de desenvolver, no mínimo,<br />

40 produtos-piloto;<br />

“Excelência” – caracterizam-se<br />

pela sua elevada<br />

capacidade de experimentação<br />

e testagem, tendo<br />

de desenvolver, no mínimo,<br />

60 produtos-piloto;<br />

e “Excelência Europa” –<br />

integradas em consórcios<br />

europeus, pertencem à<br />

rede europeia de Test and<br />

Experimentation Facilities<br />

(TEF) e devem desenvolver<br />

um mínimo de 100<br />

produtos-piloto.<br />

Pela complexidade e diversidade do apoio prestado,<br />

as Test Beds selecionadas apresentam-se sob a forma<br />

de consórcios de empresas, funcionando numa lógica<br />

colaborativa e oferecendo um conjunto de serviços<br />

muito completo.<br />

As test beds são polos<br />

de inovação, que irão<br />

acelerar a transição digital<br />

das pequenas e médias<br />

empresas portuguesas<br />

O APOIO CERTO<br />

O que se pode, então, esperar de uma test bed? Capacidade<br />

tecnológica, disponibilização de infraestruturas<br />

e equipamentos físicos ou virtuais/digitais, serviços<br />

de demonstração, experimentação, simulação e teste<br />

a produtos e serviços com forte componente digital e<br />

elevada maturidade tecnológica, mas também capacitação,<br />

partilha de conhecimento<br />

e de experiência<br />

e orientação para a viabilidade<br />

comercial dos produtos<br />

e serviços e para acelerar<br />

o seu ciclo de inovação.<br />

As PME e startups interessadas<br />

podem consultar,<br />

no site do IAPMEI, todas<br />

as test beds disponíveis,<br />

em função da área temática,<br />

do setor de atividade<br />

e da distribuição geográfica.<br />

O percurso que leva ao<br />

lançamento de um novo produto ou serviço comercialmente<br />

viável é longo e envolve muitos riscos, especialmente<br />

para aqueles que estão menos preparados, que<br />

são mais jovens ou mais pequenos. Neste caso, não é<br />

preciso avançarem sozinhos. Com o equipamento certo,<br />

na companhia certa, tudo se torna mais fácil, mais<br />

rápido e aumentam as probabilidades de sucesso. É<br />

essa a filosofia da Rede Nacional de Test Beds.•<br />

53


portugal digital<br />

TEST BEDS EM DISCURSO DIRETO<br />

Vodafone Boost Lab e NOS HUB 5G são dois dos consórcios que fazem parte da Rede Nacional<br />

de Test Beds. Conheça-os melhor, na voz de Paulino Corrêa, Chief Network Officer da Vodafone<br />

Portugal, e de Judite Reis, Diretora de Mobile Engineering Network & Services da NOS.<br />

VODAFONE BOOST LAB<br />

O que os levou a candidatarem-se à Rede<br />

Nacional de Test Beds?<br />

A apresentação da candidatura, liderada pela<br />

Vodafone e em colaboração com a Ericsson<br />

e Capgemini, partiu do entendimento de que<br />

as empresas que compõem este consórcio<br />

são as mais bem capacitadas para aproveitar<br />

e desenvolver soluções 5G e contribuir para a<br />

transformação digital do tecido económico do<br />

país, sobretudo numa altura de disrupção tecnológica<br />

trazida pelas novas gerações de redes<br />

de telecomunicações e que coincide, também,<br />

com as transições digital e verde preconizadas<br />

no <strong>PRR</strong>.<br />

Como foi constituído esse consórcio e quais<br />

os principais desafios que ultrapassaram<br />

nesse trabalho conjunto de candidatura?<br />

O facto de já termos trabalhado com estes<br />

parceiros no desenvolvimento de demonstrações<br />

reais das potencialidades do 5G no<br />

passado levou a que a constituição da equipa<br />

tenha sido bastante orgânica, sendo a óbvia<br />

e certa para esta tarefa. As diferentes valências<br />

das três empresas – seja a capacidade da<br />

Vodafone de chegar ao cliente final com uma<br />

oferta estruturada de produtos e um profundo<br />

conhecimento do potencial das redes<br />

para a digitalização; seja a Ericsson como<br />

uma empresa líder na área de tecnologias de<br />

telecomunicações e em especial no 5G; seja a<br />

Capgemini com a sua experiência e capacidade<br />

de desenvolver produtos não só na área de<br />

5G como noutras tecnologias de ponta – concorreram<br />

em complementaridade na preparação<br />

de uma candidatura sólida e completa. As<br />

sinergias e os interesses de chegar ao objetivo<br />

final eram tão claros para as três empresas<br />

que nos fizeram decidir entrar de forma conjunta<br />

no concurso.<br />

Qual o papel de cada empresa do consórcio?<br />

Cabe à Vodafone garantir a integração das<br />

soluções e o acesso à rede e a dinamização,<br />

promoção e scouting destes pilotos, ajudando<br />

no final à criação de um produto (ao invés de<br />

apenas uma tecnologia) que faça sentido comercialmente<br />

ao utilizador final. Por seu lado, a<br />

Ericsson suporta a cobertura de rádio e integração<br />

com a rede 5G, enquanto a Capgemini<br />

assegura, através de uma plataforma aberta,<br />

a disponibilização de micro-serviços e outras<br />

ferramentas tecnológicas que permitam às<br />

empresas aderentes desenvolver ou melhorar<br />

os seus serviços com funcionalidades disponibilizadas<br />

já off the shelf. É importante referir que<br />

54


os três membros do consórcio têm a mesma<br />

perspetiva, que é a de estarem abertos a construir<br />

a solução em conjunto com os parceiros<br />

com quem viermos a trabalhar.<br />

Que características destacaria, que o tornaram<br />

um projeto vencedor?<br />

A elevada complementaridade das valências<br />

que cada uma das partes aporta a este test lab e<br />

a possibilidade de ter essas capacidades disponíveis<br />

num único lugar, ao dispor da generalidade<br />

das empresas para que possam desenvolver<br />

produtos e serviços inovadores e disruptivos,<br />

é, no nosso entender, a vantagem mais diferenciadora<br />

deste projeto. Em paralelo, o Vodafone<br />

Boost Lab está aberto a ideias em vários<br />

estágios de desenvolvimento, desde as que só<br />

precisam de uma base estruturada para teste<br />

e scale-up, até às que pouco mais trazem do<br />

que um conjunto de componentes funcionais<br />

básicas, ou mesmo parcialmente especificadas,<br />

e para as quais os parceiros saberão mobilizar-<br />

-se para acelerar e potenciar o seu desenvolvimento.<br />

Em que áreas fundamentais pretendem centralizar<br />

o apoio do Vodafone Boost Lab?<br />

O compromisso do Vodafone Boost Lab é<br />

apoiar a chegada ao mercado de um conjunto<br />

diversificado de produtos e serviços-piloto, em<br />

áreas como as da Saúde Digital, Media e Entretenimento<br />

e Futuro da Mobilidade. Em todos<br />

estes domínios o papel do Vodafone Boost Lab<br />

será o de alavancar o conhecimento dos parceiros<br />

para transformar ideias e conceitos em<br />

soluções funcionais e converter soluções em<br />

produtos, com as integrações e a escala adequadas<br />

para que os use cases propostos façam<br />

a diferença.<br />

NOS HUB 5G<br />

O que os levou a candidatarem-se à Rede<br />

Nacional de Test Beds?<br />

A NOS acredita que o 5G é a tecnologia-chave<br />

para construir um futuro mais digital, inteligente,<br />

conectado, inclusivo e sustentável, absolutamente<br />

crítico para dar resposta aos desafios<br />

das empresas e das cidades portuguesas, pelo<br />

que assumiu o compromisso de acelerar a<br />

transformação digital do país através da última<br />

geração de rede móvel. Por isso, tem liderado<br />

o 5G desde o primeiro momento, tendo sido a<br />

operadora que mais espetro adquiriu. Também<br />

nesse sentido, tem investido milhões não só<br />

na expansão da rede móvel 5G, mas também<br />

na promoção da inovação alavancada por esta<br />

tecnologia. Por outro lado, a NOS tem apostado<br />

em investir numa série de atividades de I&D<br />

como fator de diferenciação e geração de valor,<br />

tendo sido uma das empresas portuguesas<br />

com maior investimento em I&D e pedido de<br />

patentes, em 2022. Numa lógica de inovação<br />

aberta, lançou o Fundo NOS 5G que apoia<br />

startups que possuam tecnologias e modelos de<br />

negócio que sejam potenciados e alavanquem<br />

a tecnologia 5G, e, no ano passado, criou o NOS<br />

HUB 5G enquanto espaço de cocriação e ideação<br />

para promover esta tecnologia.<br />

Com a Test Bed, as competências do NOS HUB<br />

5G foram expandidas no sentido de oferecer<br />

suporte técnico no desenvolvimento e teste de<br />

soluções, e infraestrutura suportada por apoio<br />

55


portugal digital<br />

técnico, tanto em laboratórios quanto em ambientes<br />

próximos da realidade. Adicionalmente,<br />

permitirá um foco na funcionalidade da solução<br />

e orientação para o mercado, disponibilizando<br />

condições mais orientadas à ideação e ao<br />

desenvolvimento de produto.<br />

A NOS candidatou-se no âmbito de um<br />

consórcio. Como foi constituído e quais os<br />

principais desafios que ultrapassaram nesse<br />

trabalho conjunto de candidatura?<br />

O consórcio foi criado tendo na base um conceito<br />

de multidisciplinaridade e complementaridade<br />

das várias competências necessárias<br />

para suportar as PME a que ele recorram. É<br />

constituído por um eixo transversal, liderado<br />

pela NOS, e que contará com a participação<br />

da Ericsson e do INESC TEC, que abarca toda a<br />

infraestrutura de suporte de conectividade e<br />

todos os serviços conexos à mesma, e por quatro<br />

eixos verticais que endereçarão a aplicação<br />

prática das tecnologias de conectividade de<br />

nova geração, em soluções concretas e orientadas<br />

a setores e áreas de negócio específicos,<br />

mais concretamente o setor da Indústria, o<br />

setor do Retalho, as soluções para a Saúde e<br />

ainda as Smart Cities e Sustentabilidade. Cada<br />

um desses eixos é dinamizado por entidades<br />

de referência: INESC TEC, a MC (SONAE), a Wells<br />

e o CEiiA.<br />

A base de complementaridade deste consórcio<br />

permitiu que fosse alinhado de forma fácil e<br />

eficiente, com elevada motivação, experiência e<br />

entendimento entre todas as entidades envolvidas.<br />

Todos estavam alinhados com o propósito<br />

da candidatura e com o seu papel no consórcio,<br />

tendo o processo de candidatura sido desenvolvido<br />

num ambiente de colaboração.<br />

Qual o papel de cada empresa do consórcio?<br />

Cada empresa desempenha um papel específico<br />

para alcançar os objetivos da candidatura.<br />

Contamos com quatro entidades copromotoras,<br />

mais concretamente a NOS Comunicações<br />

como empresa líder do consórcio, a NOS Technology<br />

e a MC e a Wells. Conta também com os<br />

parceiros-core INESC TEC e o CEiiA, assim como<br />

a Ericsson como parceiro de formação. Estas<br />

entidades colaboram ativamente no cumprimento<br />

da estratégia e objetivos, oferecendo<br />

condições e serviços da sua área de especialização<br />

para suporte ao teste de novos produtos.<br />

Contribuem também com condições de laboratório<br />

e testes em ambiente quase real altamente<br />

especializados.<br />

Que características destacaria, que o tornaram<br />

um projeto vencedor?<br />

Por um lado, a Test Bed assenta em tecnologias<br />

de comunicação e computação avançadas, alavancadas<br />

pelo 5G, que contribuirão de forma<br />

sólida para a transformação digital. As empresas<br />

participantes terão facilidade em selecionar<br />

e adotar as tecnologias de comunicação e<br />

tecnologias complementares mais adequadas<br />

para a criação dos seus produtos, de forma a<br />

alcançarem uma posição de vantagem competitiva.<br />

Por outro lado, o consórcio abrange<br />

setores variados, criteriosamente selecionados,<br />

promovendo uma multidisciplinaridade, versatilidade<br />

e abrangência nas condições de desenvolvimento<br />

e de testes.<br />

Os membros do consórcio têm elevado know<br />

-how, experiência e liderança nas respetivas<br />

áreas de atuação. Contribuem com conhecimentos<br />

especializados, recursos e experiência<br />

que alavancam a abordagem colaborativa do<br />

consórcio e consequentemente o seu valor no<br />

apoio ao desenvolvimento e testes dos novos<br />

produtos. A Test Bed ganha ainda especial<br />

dimensão e valência pela disponibilização de<br />

ambientes de teste em ambientes quase reais.<br />

É um fator de sucesso significativo, uma vez<br />

que permite que as empresas desenvolvam,<br />

testem e validem as suas soluções em cenários<br />

muito próximos da realidade, aumentando a<br />

confiança e eficácia dos produtos finais.<br />

Em que áreas fundamentais pretendem centralizar<br />

o apoio da vossa test bed?<br />

Temos como objetivo apoiar 165 pilotos 5G até<br />

2025, distribuídos em quatro domínios: Indústria,<br />

Retalho, Saúde, e Smart Cities & Sustentabilidade,<br />

demonstrando, de forma muito clara,<br />

a versatilidade e aplicabilidade das tecnologias<br />

5G na transformação digital nos diversos setores.•<br />

56


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apdc news<br />

JANTAR RESERVA<strong>DO</strong> – COM <strong>PEDRO</strong> TAVARES<br />

Trabalhar numa lógica<br />

diferenciada<br />

Criar serviços que respondam e antecipem necessidades de cidadãos e empresas é o objetivo da transformação<br />

da Justiça, numa lógica integrada, simples e eficiente. A revolução está em curso e o seu sucesso dependerá<br />

do nível de colaboração e do trabalho em ecossistema, seja dentro da AP seja com o setor privado.<br />

Texto de Isabel Travessa Fotos de Vítor Gordo/ Syncview<br />

Neste evento, reservado a patrocinadores anuais da APDC e membros da Direção, foi debatido o tema da digitalização da Justiça e o<br />

papel que as empresas das TIC podem e devem desempenhar num processo que é tudo menos simples<br />

58<br />

Reportagem fotográfica:<br />

https://www.flickr.<br />

com/photos/apdc/<br />

sets/72177720311198002/<br />

with/53187933985/<br />

“TEMOS de ter capacidade de arriscar,<br />

inovar, fazer diferente, concretizar,<br />

envolver e trabalhar em conjunto<br />

com o setor privado. A APDC pode<br />

ajudar-nos a que isto seja possível”.<br />

A mensagem é do Secretário de<br />

Estado da Justiça, orador convidado<br />

de um jantar reservado da Associação,<br />

que decorreu a 14 de setembro,<br />

onde defendeu a importância de<br />

“aprender uns com os outros. É<br />

essencial estarmos perto das empresas<br />

e das organizações, para não<br />

ficarmos fechados numa redoma e<br />

sim trabalharmos em conjunto”.<br />

Para Pedro Tavares, a Administração<br />

Pública tem de “fazer o impossível<br />

e andar para a frente, numa lógica<br />

de pensar e trabalhar diferente”,<br />

disponibilizando uma experiência<br />

de serviço público que reflita as<br />

necessidades concretas de cidadãos<br />

e empresas. A aposta é pensar com<br />

inovação, “trabalhando numa lógica<br />

diferenciada”. O que admite ser um<br />

desafio, pois o processo “tem dores<br />

de crescimento, associadas a muito<br />

legacy ao nível tecnológico, dos pro-


cessos e da cultura”.<br />

Mas esta revolução já está a acontecer<br />

na Justiça e em várias frentes, até<br />

porque é um dos setores que beneficia<br />

dos fundos do <strong>PRR</strong>. O governante<br />

assegura que há já muitos serviços<br />

pensados e criados “numa lógica<br />

de prestação de serviço agregado e<br />

integrado”, dando exemplos como<br />

o Cartão do Cidadão ou a Empresa<br />

na Hora. Este é um caminho sem retorno,<br />

até porque os cidadãos estão<br />

muito mais exigentes.<br />

Por isso, o processo de digitalização<br />

da Justiça está a ser implementado<br />

tendo em conta várias áreas distintas,<br />

como o reforço da liderança<br />

estratégica, com a capacitação dos<br />

líderes, para que falem todos “a mesma<br />

língua e acrescentem valor”. Ou<br />

a aposta nas pessoas, imprimindo<br />

uma cultura de mudança dentro do<br />

setor e captando novo talento.<br />

A tecnologia, que não é “um fim<br />

em si mesma, mas um meio fulcral<br />

de conseguir endereçar” e garantir<br />

“boas soluções”, é também essencial.<br />

Através das soluções adotadas<br />

pretende-se garantir o aumento da<br />

eficiência, a gestão dos grandes volumes<br />

de informação e melhor serviço<br />

a cidadãos e empresas.<br />

Nos tribunais, o governante admite<br />

que a mudança é ainda mais complexa.<br />

Porque se há<br />

muito que tem de<br />

ser feito na simplificação<br />

legislativa,<br />

tudo tem a ver com<br />

“processos, muito<br />

focado em pessoas<br />

e tecnologia”. Uma<br />

das novidades<br />

é a adoção, até final do ano, de<br />

uma plataforma desenvolvida em<br />

Até final do ano, será<br />

adotada uma nova<br />

plataforma que vem<br />

substituir os sistemas<br />

CITIUS e SITAF<br />

“A execução do <strong>PRR</strong> não pode apenas ser financeira. Quando estamos a trabalhar numa<br />

reforma como esta, temos de ultrapassar esse paradigma. Tem de ser medida pelo<br />

impacto, pelo que tem de haver um conjunto de dimensões associadas à geração de<br />

impacto”, defende o Secretário de Estado da Justiça<br />

colaboração com os juízes, que vem<br />

substituir os sistemas CITIUS e SITAF.<br />

Assim como o Guia<br />

Prático da Justiça,<br />

que assenta em IA<br />

e usa técnicas de<br />

deep learning. Em<br />

termos de automatização<br />

de tarefas e<br />

interoperabilidade,<br />

já foram também<br />

dados muitos passos.<br />

E Pedro Tavares vai ainda mais<br />

longe na ambição, com o Programa<br />

Govtech da Justiça. O objetivo é desenvolver<br />

um conjunto de projetos<br />

de inovação em colaboração com<br />

universidades, centros de investigação<br />

e startups, para “criar o que<br />

serão as experiências do amanhã”.<br />

E remata com uma condição que<br />

considera ser essencial: a medição<br />

do impacto, o que vai muito além<br />

da execução financeira. Para isso, já<br />

tem uma parceria com o ISCTE e a<br />

Universidade de Coimbra.•<br />

59


apdc news<br />

JANTAR RESERVA<strong>DO</strong> APDC COM AXIANS | RICAR<strong>DO</strong> REIS<br />

“Ameaça de recessão<br />

não é culpa do BCE”<br />

Os juros na Europa só deverão voltar aos 2% no segundo trimestre de 2025. Até lá, há que controlar a inflação.<br />

Num cenário de novas relações entre blocos económicos, a China terá um papel determinante.<br />

Texto de Isabel Travessa Fotos cedidas<br />

“Voltar aos 2% (de juros na Europa) só será possível na segunda metade de 2025, mais de quatro anos depois do desvio inicial, o que<br />

me parece tarde”, antecipa Ricardo Reis<br />

60<br />

A AMEAÇA de recessão que paira<br />

sobre as economias europeias, que<br />

deverá ocorrer em 2024, não é culpa<br />

do BCE, mas sim da crise energética<br />

gerada pela invasão russa da<br />

Ucrânia e por todos os impactos<br />

subsequentes. Na sua origem estará<br />

também o pós-pandemia, porque<br />

a recuperação económica estava<br />

a acontecer de forma demasiado<br />

rápida. A perspetiva é do conhecido<br />

economista Ricardo Reis, que está<br />

otimista quanto ao recuo da inflação,<br />

mas não quanto aos juros.<br />

O professor na London School of<br />

Economics and Political Science,<br />

consultor académico do Banco de<br />

Inglaterra e da Reserva Federal de<br />

Richmond, e vencedor do prémio<br />

Yrjo Jahnsson, foi o orador convidado<br />

de um jantar reservado promovido<br />

pela APDC e pela Axians Portugal.<br />

Ricardo Reis, que também foi orador<br />

no 32º Digital Business Congress,<br />

desmistificou neste encontro preconceitos<br />

económicos e debateu<br />

estratégias de mudança.<br />

Assim, abordou temas como as tensões<br />

geopolíticas atuais, que condicionam<br />

cada vez mais a economia, a


quebra na confiança dos<br />

consumidores e empresas,<br />

a crise na habitação<br />

e a pressão salarial. E<br />

não tem dúvidas de que<br />

a posição geopolítica<br />

da China determinará o<br />

futuro das relações entre<br />

blocos económicos num<br />

cenário mundial.<br />

Relativamente à situação<br />

na Europa e perante<br />

cerca de 80 empresários<br />

que estiveram presentes,<br />

desmistificou a “culpa” do<br />

Banco Central Europeu<br />

na situação económica,<br />

com as suas sucessivas<br />

subidas das taxas diretoras para<br />

combater a alta inflação.<br />

Para Ricardo Reis, “quer queiramos<br />

quer não, esta será uma recessão<br />

ainda com origem no pós-pandemia.<br />

A recuperação foi demasiado rápida,<br />

a atuação do BCE demasiado lenta”,<br />

uma vez que só agiu em meados de<br />

2022, quando deveria ter começado<br />

a implementar medidas de contenção<br />

da inflação no<br />

último trimestre de<br />

2021.<br />

“Em 2024, quando<br />

a recessão chegar<br />

e for preciso baixar<br />

as taxas de juro, o<br />

BCE não o vai poder<br />

fazer pois ainda<br />

estará a combater<br />

a inflação, que cairá naturalmente.<br />

Voltar aos 2% só será possível na<br />

segunda metade de 2025, mais de<br />

quatro anos depois do desvio inicial,<br />

o que me parece tarde”, antecipa o<br />

economista.<br />

Numa conversa rica em múltiplos<br />

“A recuperação foi<br />

demasiado rápida<br />

e a atuação do BCE<br />

demasiado lenta”,<br />

considera o economista<br />

Ricardo Reis<br />

O economista com Sandra Fazenda Almeida, Diretora Executiva da APC, Rogério<br />

Carapuça, Presidente da APDC, e Pedro Faustino, Managing Director da Axians Portugal<br />

insights económicos, considerou que<br />

a atual situação que se vive na Europa<br />

teve na sua origem uma sequência<br />

de fatores externos e sucessivos:<br />

pandemia, quebra nas cadeias logísticas,<br />

crise energética e guerra.<br />

O Presidente da APDC considerou<br />

este encontro “um<br />

grande contributo<br />

para perceber o<br />

contexto macroeconómico”.<br />

Para<br />

Rogério Carapuça,<br />

“vivemos tempos de<br />

profundas transformações<br />

e de<br />

enorme imprevisibilidade”,<br />

cenário em que “é essencial<br />

refletir sobre as políticas e estratégias<br />

que estão a ser implementadas,<br />

para garantir que temos empresas e<br />

economias mais resilientes e à ‘prova<br />

de futuro’ e maior qualidade de vida<br />

para os cidadãos”. Tendo um país<br />

“uma oportunidade sem precedentes<br />

de mudança estrutural”, todos temos<br />

de refletir para “tomar decisões<br />

esclarecidas, em colaboração e em<br />

ecossistema”.<br />

Também Pedro Faustino,<br />

Managing Director na Axians Portugal,<br />

considerou que “não há milagres<br />

e a situação estrutural da economia<br />

portuguesa só muda se o país criar<br />

mais riqueza. Isso faz-se nas empresas.<br />

São elas que têm um papel<br />

fundamental a desempenhar, com<br />

o seu espaço de influência e com o<br />

ativismo económico. Tem sido para<br />

nós, por isso, um enorme privilégio<br />

promover estes encontros-debate<br />

com reconhecidas personalidades do<br />

pensamento económico. Precisamos<br />

definitivamente de mais pragmatismo<br />

na decisão e de mais ambição e<br />

rigor na execução”, conclui o gestor.•<br />

61


62<br />

“O impacto social positivo, assente em modelos de negócio sustentáveis, pode ser lucrativo e escalável”, garante Inês Sequeira,<br />

fundadora e diretora da Casa do Impacto, uma lufada de ar fresco, desde 2015, na área do empreendedorismo social e ambiental


cidadania<br />

MUDAR<br />

O MUN<strong>DO</strong>,<br />

um projeto de cada vez<br />

Nem excessivamente sonhadores, nem incorrigíveis pessimistas. Na<br />

Casa do Impacto a vontade de fazer acontecer caminha lado a lado com<br />

o sonho de tornar o mundo melhor, através de projetos com impacto<br />

social positivo.<br />

TEXTO DE MARIA JOÃO ALVES FOTO VÍTOR GOR<strong>DO</strong>/SYNCVIEW<br />

Mudar o mundo é para muitos uma utopia. Os<br />

pessimistas dirão que a lista de problemas que<br />

assola os nossos dias parece não ter fim e tentar<br />

resolvê-los é um trabalho inglório. Os mais<br />

positivos argumentarão que, com resiliência e idealismo<br />

q.b, o sonho pode tornar-se realidade. A Casa do<br />

Impacto é um meio termo perfeito entre as duas faces<br />

da moeda: são realistas com uma missão. “Queremos<br />

contribuir ativamente para a criação de impacto social<br />

positivo. Sabemos que não vamos resolver todos os<br />

problemas do mundo, mas diariamente fazemos um<br />

esforço ativo para o deixar um bocadinho melhor”, garante<br />

Inês Sequeira, fundadora e diretora desta Casa.<br />

Criada em 2015, em comunhão com os valores promovidos<br />

pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,<br />

a Casa do Impacto ambicionava ser uma lufada de ar<br />

fresco num setor onde a expressão “empreendedorismo<br />

social e ambiental” levantava mais dúvidas do que<br />

certezas. “Temos feito um longo caminho para desmistificar<br />

o impacto que o empreendedorismo social e ambiental<br />

pode ter. Só olhando com inovação para questões<br />

estruturais, encontraremos soluções duradouras a<br />

longo prazo”, declara Inês, com convicção.<br />

Empenhada em mostrar ao mundo que o impacto<br />

social positivo é o adubo para um futuro mais risonho,<br />

Inês é perentória ao afirmar que este caminho só fará<br />

sentido se partilhado pela sociedade civil e pelo tecido<br />

empresarial. “Os problemas sociais e ambientais que<br />

vivemos são demasiado grandes, complexos e afetam<br />

tantas pessoas que não faz sentido só algumas organizações<br />

se ocuparem deles. Enquanto cidadãos, mas<br />

também enquanto coletivo, temos de encontrar soluções<br />

rapidamente. Hoje, agora!”, afirma.<br />

Criar, estruturar e abraçar os projetos que chegam<br />

à Casa do Impacto, em sintonia com os Objetivos de<br />

Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização<br />

das Nações Unidas, é muito mais do que<br />

um mero formalismo para esta organização. É uma<br />

questão estruturante. Só assim lhes faz sentido. E isso<br />

passa também por uma sustentabilidade financeira,<br />

pouco considerada pelo setor. “Ainda há a ideia de que<br />

a resolução de problemas socais e ambientais não pode<br />

caminhar lado a lado com a saúde financeira. Como se<br />

só o bom coração fosse suficiente para guiar a pessoa<br />

na sua demanda, e o dinheiro não pudesse ser parte da<br />

equação”, lamenta. Iniciativas como Entrepreneurship<br />

Awards, RISE for Impact ou Fundo +PLUS, entre tantos outros<br />

projetos apadrinhados pela Casa do Impacto, são<br />

prova de que com a semente certa “o impacto social<br />

positivo, assente em modelos de negócios sustentáveis,<br />

pode ser lucrativo e escalável”, garante Inês.<br />

Hoje, o trabalho da Casa do Impacto já não é visto<br />

com a desconfiança de outrora e os números comprovam-no:<br />

desde 2015, mais de 70 startups ganharam ali<br />

vida e foram investidos mais de três milhões de euros<br />

em projetos ali desenvolvidos. As mentalidades estão a<br />

progredir, com um número crescente de players a procurarem<br />

ser agentes ativos de mudança. “Muitos dos<br />

programas da Casa do impacto já são hoje financiados<br />

por empresas, e isso é uma mudança de paradigma que<br />

me deixa muito orgulhosa”, confessa Inês, com notória<br />

satisfação. Afinal, o sonho era mesmo possível: o<br />

mundo pode ser um bocadinho melhor para todos.•<br />

63


ultimas<br />

PORTÁTEIS QUE IMPULSIONAM CRIATIVIDADE <strong>DO</strong>S UTILIZA<strong>DO</strong>RES<br />

SOLUÇÃO PIONEIRA DE INTERNET<br />

DE HIPERVELOCIDADE<br />

DISFRUTAR do entretenimento em casa, colaborar em tempo<br />

real no trabalho ou criar conteúdos em movimento é<br />

agora mais fácil, com os novos portáteis da gama Pavilion<br />

Plus, que passou ainda a ter, pela 1ª vez, um portátil de 16<br />

polegadas. A HP diz que os novos equipamentos - Pavilion<br />

Plus de 14 polegadas e Pavilion Plus de 16 polegadas -<br />

foram concebidos para impulsionar a criatividade sempre<br />

que a inspiração surgir. Foram concebidos tendo em conta<br />

o design e a sustentabilidade. E, para maior produtividade,<br />

foi também apresentado o novo Rato Bluetooth Programável<br />

HP 420/425. Os novos equipamentos dispõem de ferramentas<br />

intuitivas para comandar a sala virtual, incluindo<br />

uma câmara de 5 MP, um microfone de matriz dupla, e um<br />

obturador manual da câmara para maior tranquilidade nos<br />

dias “fora da câmara”. Inícios de sessão mais rápidos com<br />

a segurança acrescida do reconhecimento facial Windows<br />

Hello controlos de vídeo para uma melhor colaboração,<br />

através do HP Presence. Incluem os mais recentes processadores<br />

da Intel (modelos de 14 e 16 polegadas) e da AMD<br />

(apenas no modelo de 14 polegadas) para criar mais e<br />

mais depressa e descarregar conteúdos rapidamente com<br />

o Wi-Fi 6E.•<br />

64<br />

JÁ ESTÁ NO MERCA<strong>DO</strong> uma oferta de internet a 10 Gbps simétricos (download e upload),<br />

destinada aos segmentos de consumo e empresarial. Trata-se de uma solução pioneira<br />

de internet de hipervelocidade através de fibra, 10 vezes mais rápida do que as demais<br />

ofertas, lançada pela MEO, da Altice Portugal. Que garante que trouxe ao país “uma nova<br />

realidade tecnológica, com acesso a uma rede com velocidade, fiabilidade e estabilidade<br />

nunca alcançada”. Destina-se a famílias com diversos equipamentos conectados e a PME<br />

com necessidades de internet cada vez mais veloz, menor latência e maior fiabilidade, de<br />

forma a garantir a melhor experiência de serviço. Disponível em todas as capitais de distrito<br />

do país, vem responder a um contexto de crescente consumo de dados e necessidade<br />

de maior velocidade de acesso. Sob a umbrella Speed Edition, é materializada em vários<br />

novos pacotes.•


METRO TEM SISTEMA<br />

DE ACESSO MAIS AVANÇA<strong>DO</strong><br />

DA EUROPA<br />

JÁ É POSSÍVEL aos passageiros do Metropolitano de<br />

Lisboa aceder ao metro através do próprio telemóvel,<br />

cartão bancário ou smartwatch, sem necessidade de<br />

comprar previamente um bilhete ou cartão pré-pago.<br />

Este novo sistema de pagamento de última geração,<br />

mais inteligente, rápido e cómodo, foi possível através<br />

da aplicação da tecnologia universal de pagamento EMV<br />

(Europay-Mastercard-Visa), mantendo-se em paralelo<br />

os restantes modelos de pagamento existentes anteriormente.<br />

Com ele, a Indra converteu Lisboa numa das<br />

primeiras cidades da Europa com um sistema avançado.<br />

Este salto tecnológico implicou uma atualização do<br />

sistema de controlo de acessos com novos leitores para<br />

pagamento com cartão bancário físico ou cartão virtual,<br />

renovação do sistema de backoffice de bilhética, instalação<br />

do backoffice EMV e integração do ecossistema com<br />

a gateway de pagamentos financeiros. Visa e LittlePay<br />

foram parceiros.•<br />

CHAMADA 5G VIA SATÉLITE JÁ É UMA REALIDADE<br />

ACABA de ser concluída com êxito a primeira chamada de voz 5G através de conetividade por<br />

satélite. O ‘feito’, uma estreia mundial, foi realizado através de um smartphone 5G convencional,<br />

um Samsung Galaxy S22. A chamada decorreu entre Madrid e o no Maui, no Havai, zona sem<br />

ligação móvel de voz ou de dados, graças à parceria entre a Vodafone e a AST SpaceMobile. Foi<br />

ainda realizado um teste de download de<br />

dados, batendo-se o anterior recorde de<br />

transferência de dados de banda larga<br />

móvel via satélite, com um download rate<br />

de 14 Mbps. A experiência prova que as<br />

comunicações via satélite têm o potencial<br />

de conectar milhões de pessoas nas regiões<br />

mais remotas à internet, através de equipamentos<br />

móveis convencionais. Levando<br />

assim o acesso a milhões de pessoas,<br />

através da tecnologia espacial. A Vodafone<br />

espera que a infraestrutura terrestre da AST<br />

SpaceMobile em Espanha desempenhe um<br />

papel fundamental no estabelecimento de<br />

uma futura rede de satélites.•<br />

65


ultimas<br />

SOLUÇÃO DE ZAPPING CONQUISTA PATENTE NOS EUA<br />

UM SISTEMA inovador que usa os padrões de zapping<br />

dos utilizadores para melhorar a forma como estes mudam<br />

de canais de televisão nas suas boxes conquistou<br />

uma patente nos Estados Unidos. A solução, desenvolvida<br />

pela NOS, permite, com esta análise de padrões, fazer<br />

uma pré-sintonização do que será o “próximo canal”<br />

mais provável, aumentando a rapidez e melhorando a<br />

experiência do zapping. Sendo que toda a informação é<br />

anonimizada e confidencial. Para o operador, o projeto<br />

exemplifica a forma como a ciência de dados e a IA<br />

podem ajudar a melhorar performance dos produtos<br />

atuais e futuros. E diz estar a trabalhar em novas formar<br />

de usar as ferramentas tecnológicas para melhorar e<br />

criar produtos e serviços que vão ao encontro<br />

das necessidades dos clientes, desenvolvendo<br />

para isso um ecossistema<br />

inteligente.•<br />

PLATAFORMA MOSTRA<br />

COBERTURA DE REDES<br />

EM TEMPO REAL<br />

HÁ UM NOVO instrumento que permite aos portugueses<br />

conhecerem, em tempo real, a cobertura de redes<br />

de comunicações de todos os operadores no território<br />

nacional. Através dele, é possível avaliar a disponibilidade<br />

e qualidade dos serviços de comunicações e alertar para<br />

zonas onde haja necessidade de complementar a rede, o<br />

que ajudará na definição de políticas públicas para o setor.<br />

A plataforma GEO.Anacom, lançada pelo regulador das<br />

comunicações, em resultado de uma iniciativa legislativa<br />

conjunta das áreas governativas da Digitalização, da Coesão<br />

Territorial e das Infraestruturas, está já disponível em<br />

www.geo.anacom.pt e tem informação sobre as comunicações<br />

eletrónicas e as comunicações postais, fornecida pelos<br />

operadores nos termos da lei. Assume-se como um living<br />

atlas em constante evolução e uma ferramenta essencial<br />

para cidadãos e empresas.•<br />

66


Precisa<br />

de um sinal?<br />

O nosso<br />

é o mais<br />

forte<br />

Melhor<br />

internet móvel<br />

pela 3.ª vez<br />

consecutiva

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