Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
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REALIZAÇÃO
COORDENADORES
Layon Carlos Cezar
Luana Ferreira dos Santos
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Graziela Reis do Carmo
Lucas Felipe Rodrigues Ramos
AUTORES (ORDEM ALFABÉTICA)
Alan Ferreira de Freitas
Alair Ferreira de Freitas
Almiro Alves Júnior
Isabela Renó Jorge Moreira
Layon Carlos Cezar
Luana Ferreira dos Santos
Lucas Ferreira Mesquita
FOTOS E ILUSTRAÇÕES
Canva PRO
Marco Paulo Andrade
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ferramentas e metodologias para a gestão de
cooperativas e associações da agricultura
familiar / coordenadores Layon Carlos Cezar,
Luana Ferreira dos Santos. -- Viçosa, MG :
Editora Asa Pequena, 2022.
Vários autores.
Bibliografia
ISBN 978-65-84589-03-2
1. Agricultura familiar 2. Associativismo
3. Comunicação 4. Cooperativismo 5. Gestão da
qualidade 6. Gestão financeira 7. Planejamento
estratégico I. Cezar, Layon Carlos. III. Santos,
Luana Ferreira dos.
22-99498 CDD-630
Índices para catálogo sistemático:
1. Agricultura familiar 630
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
A obra foi produzida por meio do financiamento do Projeto Proater - realizado em parceria entre a Fundação
Renova e Universidade Federal de Viçosa.
SUMÁRIO
1. Introdução 07
2. Planejamento Estratégico 09
2.1 Análise a partir da Matriz FOFA 11
2.2 5W2H 14
2.3 Ciclo PDCA 17
3 Gestão de qualidade 21
3.1 Matriz GUT 23
3.2 Diagrama Espinha de Peixe 26
4 Comunicação, Marketing e Relacionamento 31
4.1 Marketing para cooperativas e associações da agricultura familiar 31
4.2 Gestão e posicionamento da marca das 33
organizações da agricultura familiar
4.3 Gestão da comunicação institucional e interpessoal 37
4.4 Organização do quadro social: construindo e mantendo 40
relacionamentos com cooperados e suas famílias
5 Gestão financeira 44
5.1 Balanço Patrimonial 45
5.2 Entendendo os custos de produção 49
5.3 Fluxo de Caixa 54
5.4 Tempo de retorno do investimento 59
Referências 63
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Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
1
Introdução
Você já parou para pensar na complexidade que é administrar associações
e cooperativas da agricultura familiar? Vamos analisar o caso de uma cooperativa:
ela deve se preocupar em organizar a produção; planejar as atividades; gerenciar
o empreendimento; comercializar os produtos para diferentes mercados; manter
um bom relacionamento com seus cooperados, fornecedores, clientes, parceiros,
dentre outros aspectos. Além disso, uma cooperativa deve prezar pela qualidade
dos seus produtos, preocupando-se com os processos internos de formação,
informação, integração dos seus cooperados e com a transparência da gestão.
Mediar todas essas relações e ainda gerenciar a organização pode ser um desafio
para muitas cooperativas e também para associações da agricultura familiar.
As organizações, de modo geral, precisam administrar recursos de diferentes
naturezas (materiais, humanos, financeiros, tecnológicos) e utilizar ferramentas
para planejamento e execução de suas atividades. O planejamento e o
desenvolvimento das organizações da agricultura familiar passam pela utilização
de ferramentas para aperfeiçoar a gestão, aprimorar processos e otimizar resultados.
Nesse sentido, é necessária a utilização de uma abordagem sistêmica, ou
seja, analisar e dar atenção à organização como um todo, prezando pela qualidade,
organização, controle, estoque e aspectos financeiros.
Quando falamos em “ferramentas”, referimo-nos a técnicas e práticas que
devem ser aplicadas para auxiliar e guiar as organizações. Para administrar uma
organização, pode-se utilizar diferentes ferramentas para atingir objetivos diversos.
Nesta cartilha, optamos por apresentar e explicar ferramentas direcionadas a
quatro eixos estratégicos específicos para melhorar a gestão do empreendimento,
com foco em cooperativas e associações da agricultura familiar:
(1) Planejamento estratégico;
(2) Gestão da qualidade;
(3) Comunicação, marketing e relacionamento; e
(4) Gestão financeira.
07
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Vamos pensar: por que é importante abordar estes eixos em uma
cooperativa ou associação da agricultura familiar?
As organizações precisam traçar objetivos e planejar suas ações e tarefas,
para isso é necessário utilizar de ferramentas de planejamento estratégico.
Precisamos pensar na gestão da qualidade dos produtos e/ou serviços, que é
uma exigência para se sobressair nos mercados. Além disso, trabalhar a gestão
da comunicação, marketing e relacionamento refere-se não só a divulgação de
produtos e/ou serviços, mas como uma organização interage com diferentes
públicos. E, por fim, o último eixo está relacionado à gestão financeira, com o
objetivo de entender ferramentas de planejamento e de controle das atividades
financeiras.
Juntos vamos compreender estes eixos e a aplicabilidade das ferramentas
que serão apresentadas.
08
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
2
Planejamento Estratégico
Para facilitar nossa compreensão sobre o que é o planejamento, vamos
relembrar uma cena da história “Alice no país das maravilhas”? A cena é um
diálogo que ocorre no encontro entre a Alice e o gato.
Figura 1 - Encontro entre Alice e o gato
Fonte: Readaptação realizada pelos autores, tendo como referência o
filme Alice no País das Maravilhas, de 1951.
Ao encontrar o gato, Alice pergunta:
- O senhor poderia me dizer qual o caminho que devo seguir para sair
daqui?
- Isso depende muito de para onde você quer ir, responde o Gato.
- Não me importo muito para onde, explicou Alice.
- Então não importa o caminho que você escolha, disse o Gato.
- (...) contanto que dê em algum lugar, Alice completou.
- Você pode ter certeza que vai chegar se você caminhar bastante,
finaliza o gato. (CARROLL, 2000, p. 81).
09
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Aprendemos uma lição com Alice e com o gato: para saber onde ir, é
preciso saber os caminhos por onde ir! Se não há foco e objetivo, torna-se difícil
escolher o caminho adequado e mais eficiente. A partir de um bom planejamento,
conseguimos definir os rumos para alcançar os nossos objetivos.
Planejar significa organizar um plano, antecipar os acontecimentos,
programar-se para executar atividades e ações. Assim como nós planejamos
nossas atividades pessoais e cotidianas, os membros de cooperativas e das
associações também precisam de planejamento para tomar decisões mais
assertivas. O planejamento contribui também para a tomada de decisão nas
organizações, pois permite identificar o momento adequado para execução de
ações, determinar objetivos e metas e definir os responsáveis e os recursos que
serão necessários.
Dizemos que o planejamento realizado pelas organizações é denominado
“Planejamento Estratégico” e pode ser aplicado tanto para pequenas, quanto para
médias e grandes associações e cooperativas da agricultura familiar. Segundo
o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (SEBRAE, 2020), o
planejamento estratégico traz a visão ampliada das organizações quanto ao
seu ambiente de negócios e aprimora sua capacidade de se inserir e explorar
as oportunidades existentes no mercado. Dessa forma, pode-se dizer que o
planejamento estratégico orienta as organizações, sendo um elemento essencial
para o seu desenvolvimento.
É importante lembrar que as cooperativas e associações são
empreendimentos coletivos e autogestionários, ou seja, o controle é realizado
pelos associados/cooperados e não por sócios ou acionistas majoritários. Cada
cooperado ou associado tem direito a um voto em instâncias deliberativas. Dessa
forma, no desenvolvimento do planejamento destas organizações, é imprescindível
integrar a direção e o quadro social, sendo o planejamento estratégico um retrato
das demandas concretas dos cooperados ou associados e das ações necessárias
para concretizá-las.
A primeira etapa para elaboração de um bom planejamento estratégico é a
realização de uma análise dos ambientes e cenários nos quais a organização se
encontra. Essa análise permite conhecer tanto o ambiente externo (elementos e
situações que não estão sob controle e podem ser monitorados), como também o
ambiente interno (elementos e situações que são mais controláveis). A ferramenta
utilizada para realizar esse diagnóstico dos ambientes é chamada de Matriz SWOT
– também conhecida como Matriz FOFA.
10
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
A ferramenta recebe o nome de FOFA uma vez que, por meio dela, podemos
identificar quatro aspectos importantes: F= Forças; O= Oportunidades; F=
Fraquezas; e A= Ameaças. A seguir, discutiremos melhor como utilizá-la em
associações e cooperativas da agricultura familiar.
2.1 Análise a partir da Matriz FOFA
Para realizar esta análise, é necessário fazer um diagnóstico, ou seja,
investigar os elementos do contexto no qual a organização se insere, que têm
potencial para influenciar o seu desempenho. Para facilitar a visualização e tornar
a ferramenta mais prática e simples, esta análise é realizada com o preenchimento
da matriz, no qual apontamos pontos fracos/pontos fortes e as oportunidades/
ameaças.
O ambiente interno é formado pelo conjunto de componentes internos
das associações e cooperativas, por exemplo, a assembleia geral, os conselhos,
a diretoria, os cooperados/associados e os funcionários. No ambiente interno,
apontamos pontos fracos e pontos fortes, sendo que os pontos fracos
representam fraquezas e falhas, enquanto os pontos fortes são as qualidades e
as forças que garantem vantagens competitivas 1 . No ambiente externo, definimos
as oportunidades, que afetam positivamente, e, as ameaças, que dificultam o
desenvolvimento organização.
Para facilitar a compreensão da utilização da ferramenta, apresentamos
o Quadro 1 com as orientações do que deve se inserir em cada um dos quatro
quadrados (eixos) que compõem a matriz FOFA.
1 Entendemos vantagens competitivas como um conjunto de fatores ou características que fazem
com que as associações e cooperativas se destaquem em relação às principais organizações concorrentes
no mesmo setor. Por exemplo, uma determinada cooperativa que realiza entregas mensais
de alimentos em pequenos supermercados da cidade pode ser muito eficiente para entregas dentro do
prazo estipulado, sem a falta de nenhum item. Essa eficiência na entrega pode ser considerada uma
vantagem competitiva dessa cooperativa, pois ela se destaca das demais concorrentes nesse quesito.
11
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Quadro 1 - Elaboração da Matriz FOFA
ASPECTOS POSITIVOS
ASPECTOS NEGATIVOS
AMBIENTE EXTERNO AMBIENTE INTERNO
PONTOS FORTES
CARACTERÍSTICAS POSITIVAS/
VANTAGENS INTERNAS
OPORTUNIDADES
ASPECTOS DIFÍCEIS DE
CONTROLAR, MAS QUE PODEM
BENEFICIAR A ORGANIZAÇÃO.
PONTOS FRACOS
FRAGILIDADES/ SITUAÇÕES QUE
PREJUDICAM O FUNCIONAMENTO
DA ORGANIZAÇÃO
AMEAÇAS
ASPECTOS EXTERNOS
QUE PODEM PREJUDICAR A
ORGANIZAÇÃO, MAS PODE-SE
BUSCAR MEIOS PARA MINIMIZAR
SEUS EFEITOS.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Vamos aplicar a ferramenta na prática? No Quadro 2, apresentamos alguns
pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças de uma cooperativa fictícia:
a Cooperativa Agroecológica de Produtos da Agricultura Familiar (Coopraf). É
importante lembrar que, a partir dos apontamentos demonstrados no exemplo,
o quadro deve ser preenchido de acordo com a realidade de sua cooperativa
ou associação, após um levantamento dessas informações junto aos membros
associados/cooperados.
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Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Quadro 2 - Matriz FOFA da Coopraf
AMBIENTE EXTERNO AMBIENTE INTERNO
ASPECTOS POSITIVOS
PONTOS FORTES
• Produção de uma variedade de produtos
agroecológicos;
• Clientela consolidada
• Assistência técnica especializada
• Veículos próprios para realizar entregas.
OPORTUNIDADES
• Aumento do número de feiras
agroecológicas;
• Aumento da demanda de produtos
agroecológicos e orgânicos;
• Aumento do uso de canais digitais para divulgação
e comercialização.
ASPECTOS NEGATIVOS
PONTOS FRACOS
• Dificuldade para realizar o controle de
vendas;
• Baixa participação do quadro social;
• Não possui selo de certificação
de produção orgânica.
AMEAÇAS
• Preço dos concorrentes;
• Crise econômica/impactos da pandemia
da COVID-19;
• Enfraquecimento de políticas públicas de
compras de produtos da agricultura familiar,
como PAA e PNAE, durante a pandemia.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A utilização desta ferramenta pode contribuir para o alcance de alguns
resultados, como:
• Visualização e apresentação de potencialidades e de aspectos que precisam
ser trabalhados para aprimorar a gestão da organização;
• Facilidade na tomada de decisão, a partir da análise do ambiente interno e
externo à organização;
• Ajuda na definição de estratégias para solucionar os pontos fracos, que estão
no alcance de serem resolvidos, e os fatores que não são sujeitos às mudanças,
mas que se pode buscar alternativas para minimizar seus efeitos;
• Auxílio no planejamento, na definição de metas e objetivos e na correta
destinação de recursos.
No próximo tópico, vamos aprender um pouco sobre a ferramenta 5W2H
para planejamento de ações cotidianas da organização.
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Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
2.2 5W2H
Uma outra ferramenta que pode ser utilizada no planejamento das ações
e complementar a análise, a partir da Matriz FOFA, é a 5W2H. A sigla 5W2H
representa cinco palavras em inglês que começam com a letra W e duas com a letra
H, são elas: What (O quê?), Why (Por quê?), Who (Quem?), Where (Onde?), When
(Quando?), How (Como?) e How Much (Quanto?). Essa ferramenta é considerada
um plano de ação detalhado. Além disso, a praticidade e eficiência do 5W2H é
a principal característica da aplicabilidade da ferramenta, fazendo com que ela
possa ser utilizada em associações e cooperativas da agricultura familiar, a fim
de registrar de maneira organizada e planejada as ações e tarefas organizacionais
(SEBRAE, 2022).
A ferramenta funciona da seguinte maneira: para cada ação/tarefa a ser
executada na cooperativa, faz-se necessário levar em consideração sete aspectos,
como mostra a Figura 2.
Figura 2 - Sete perguntas da ferramenta 5W2H
Por quê?
O quê?
Quem?
Onde?
Quando?
Como?
Quanto?
Fonte: Elaborado pelos autores.
14
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Dessa forma, para cada ação/tarefa a ser executada, devemos responder a
perguntinhas básicas:
1. O que deve ser feito?
2. Por quê deve ser feito?
3. Quem ficará responsável por esta tarefa?
4. Onde ela deve ser executada?
5. Quando devemos realizar esta tarefa?
6. Como deve ser conduzida?
7. Quanto vai custar para executá-la?
VOCÊ SABIA?
Muitas organizações disponibilizam um quadro ou uma lousa para
utilização da ferramenta 5W2H no cotidiano. Cada ação é anotada com
giz, pincel ou caneta, facilitando a visualização de detalhes das tarefas
executadas.
Para facilitar, podemos inserir essas perguntas em um quadro e preenchêlo
no dia a dia da associação ou da cooperativa. Para exemplificar, apresentamos,
hipoteticamente, uma ação realizada pela Cooperativa Agroecológica de Produtos
da Agricultura Familiar. A partir deste exemplo, você poderá preencher com as
ações e as tarefas que serão executadas na sua associação ou cooperativa.
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Quadro 3 - Sete perguntas da ferramenta 5W2H
O quê? Por quê? Quem? Onde? Quando? Como? Quanto?
Reunião com os
cooperados para
a realização do
planejamento
estratégico
Necessidade
de atualizar o
planejamento
estratégico da
cooperativa
Membros do
Conselho de
Administração
e cooperados
interessados
Na sede da
cooperativa
Dia 02/02/2022 Reunião presencial
com utilização de
cartolinas afixadas
na parede para
registro das metas e
objetivos, seguindo
todos os protocolos
de segurança de
combate à COVID-19
R$600,00 para
aquisição de
materiais de apoio
didático e para
lanche.
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
A utilização desta ferramenta pode contribuir para o alcance de alguns
resultados, como:
• Permite guiar e orientar a organização, atuando como uma “bússola” para que
as ações não fiquem apenas nas palavras, sem definição do objetivo e dos
meios para alcançá-los.
• Auxilia no controle de ações/tarefas cotidianas;
• Otimiza os processos internos, pois demonstra aos funcionários e aos
cooperados/associados, de forma detalhada, clara e simples, quais e como as
ações/tarefas serão desenvolvidas.
Agora que já conhecemos um pouco sobre ferramentas de planejamento,
no próximo tópico, vamos entender melhor como implementar algumas ações e
atividades por meio do Ciclo PDCA.
2.3 Ciclo PDCA
A sigla PDCA dá nome a uma ferramenta de gestão interativa que tem
como objetivo facilitar a tomada de decisões, além de melhorar os resultados
da organização, por meio do aprimoramento de processos e atividades. Assim
como a sigla 5W2H, a sigla PDCA vem dos termos em inglês Plan, Do, Check e
Act, que traduzidos significam, respectivamente: 1. Planejar; 2. Implementar; 3.
Verificar; e 4. Agir. Para utilização dessa ferramenta, torna-se necessário seguir
os quatro passos para sua utilização, nessa ordem apresentada anteriormente.
Faz-se necessário, também, seguir as quatro etapas do preenchimento de um
círculo, que demonstra dinamicidade e possibilita uma revisão contínua de cada
etapa, tornando o processo mais dinâmico, como mostra a Figura 3.
Figura 3 - Ciclo PDCA
Fonte: Elaborado pelos autores.
17
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Vamos entender o que é preciso fazer em cada uma das quatro etapas?
ETAPA 1: PLANEJAR - Como o próprio nome já diz, é momento de planejar ações,
realizar um levantamento e identificar dados e fatos para estabelecer objetivos. É
momento também de traçar metas e os meios para realizá-las, a fim de garantir a
execução de processos de forma eficaz e eficiente;
VOCÊ SABE A DIFERENÇA DE OBJETIVO E META?
Algumas pessoas podem confundir o que seria um objetivo e uma meta,
mas os termos apresentam diferenças. O objetivo é o alvo que se pretende
alcançar, diz respeito a um fim que se deseja atingir. Meta é o meio para se
alcançar o objetivo. Dessa forma, definir um objetivo é essencial para orientar
as organizações. Antes de se definir o que será feito e qual caminho deve
ser percorrido, é preciso definir onde se quer chegar. Essa representação
será pautada em metas bem definidas.
Fonte: Adaptado de SEBRAE (2016).
ETAPA 2: IMPLEMENTAR - É o momento do “fazer”, de treinar pessoas e colocar
em prática as ações planejadas.
ETAPA 3: VERIFICAR - Consiste em checar e monitorar se os resultados esperados
e se tudo o que foi planejado na Etapa 1 foi concretizado.
ETAPA 4: AGIR - Apesar da etapa de agir ser confundida por algumas pessoas com
a etapa de implementar, elas são diferentes. Agir consiste em corrigir as falhas
identificadas durante o processo. Neste momento, são tomadas medidas para
correção das falhas, fazendo adaptações e ajustes necessários para melhorar o
processo. Além disso, é possível discutir o que deu certo e deve ser replicado.
COLOCANDO EM PRÁTICA...
Agora que já sabemos no que consiste cada etapa, que tal utilizarmos a
ferramenta na prática?
Ainda usando, como exemplo fictício, a Cooperativa Agroecológica de
Produtos da Agricultura Familiar (Coopraf), vamos preencher o ciclo seguindo as
4 etapas propostas. Na Coopraf, identificou-se na Etapa 1 que era necessário
aumentar a participação dos associados nas reuniões realizadas pela cooperativa,
assim como aumentar também a produção anual, visando atender um novo
mercado. A partir de discussões entre diretoria, funcionários e cooperados, foi
possível construir o Ciclo PDCA apresentado na Figura 4.
18
NÃO DEU CERTO
APENAS DIVULGAR AS REUNIÕES. É
NECESSÁRIO APLICAR METODOLOGIAS
PARTICIPATIVAS NAS REUNIÕES COM OS
COOPERADOS.
DEU CERTO
DEVEMOS MANTER A ASSISTÊNCIA
TÉCNICA ESPECIALIZADA
HOUVE AUMENTO DE 20% NAS VENDAS
ANUAIS.
PERCEBE-SE QUE HOUVE UM AUMENTO
SIGNIFICATIVO DA PRESENÇA NAS
REUNIÕES. NO ENTANTO, NÃO ATINGIU A
% ESPERADA E NOTOU-SE AUMENTO NA
PARTICIPAÇÃO ATIVA NAS REUNIÕES
Figura 4 - Exemplo de preenchimento do CICLO PDCA da Coopraf
REALIZAR DUAS REUNIÕES POR
SEMESTRE CONVOCANDO TODOS OS
COOPERADOS, TENDO COMO META A
PARTICIPAÇÃO DE PELO MENOS 80%
AUMENTAR EM 15% AS VENDAS ANUAIS
AMPLIAR DIVULGAÇÃO PRÉVIA DAS
REUNIÕES EM REDES SOCIAIS DA
COOPERATIVA
Vale ressaltar que este é apenas um exemplo
no qual você pode se basear, mas deve
adequar de acordo com a realidade de sua
cooperativa ou associação.
REFORÇAR A ASSISTÊNCIA TÉCNICA
NAS PROPRIEDADES ESTIMULANDO
PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS
Fonte: Elaborado pelos autores.
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
A utilização desta ferramenta pode contribuir para o alcance de alguns
resultados, como:
• Identificação e solução de dificuldades que não são facilmente visualizadas;
• Identificação e padronização de tarefas e processos que deram certo;
• Não exposição apenas das fragilidades, mas também apresenta proposições
para a resolução de problemas e determina um espaço para a avaliação de
todo processo;
• Dinamismo e flexibilidade para realização de ajustes necessários.
O próximo tema que abordaremos será a gestão da qualidade e as
ferramentas que podem ser aplicadas para aprimorá-la.
20
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
3
Gestão de qualidade
A qualidade de um produto ou de um serviço está relacionada com o conjunto
de procedimentos que visam a satisfação e a preferência do consumidor. No caso
das associações e cooperativas da agricultura familiar, os consumidores podem
ser pessoas que compram em supermercados, feiras, sacolões e/ou usuários
de políticas públicas de compra institucional de alimentos, como o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE).
A preferência do consumidor pelos produtos de associações e cooperativas
é importante, pois os consumidores podem optar por consumir produtos que eles
sabem que foram produzidos pela agricultura familiar, pela confiabilidade na origem
e por serem alimentos orgânicos, em alguns casos. No caso do PNAE, a chamada
pública 2 é o instrumento utilizado para a seleção de propostas para a aquisição de
alimentos da agricultura familiar com recursos provenientes do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FDNE). Não só a disponibilidade dos produtos,
mas a qualidade torna-se também um fator importante para o atendimento das
chamadas públicas, visto que o PNAE tem como um de suas diretrizes oferecer uma
alimentação de qualidade aos estudantes da educação básica pública brasileira.
Logo, a preferência do consumidor, seja qual for sua natureza, é critério de boa
qualidade, contribuindo para a sobrevivência das associações e cooperativas da
agricultura familiar hoje e no futuro.
Outro aspecto relacionado à qualidade é o controle, que pode ser preventivo
ou avaliativo. O controle preventivo possui o foco em evitar que certas falhas
aconteçam, já o controle avaliativo tem como foco detectar e avaliar falhas
existentes. Por exemplo, considerando uma cooperativa fictícia denominada
“Cooperativa dos Agricultores Familiares do Alto Rio Doce (Cooperdoce)”, que
atua tanto na produção de mel quanto de queijo, o controle preventivo pode atuar
na revisão e na manutenção de equipamentos e na inspeção da qualidade da
matéria-prima (leite) que será processada para a fabricação de queijo. O controle
avaliativo pode agir na inspeção do produto final, ou seja, verificar se o queijo
atende aos padrões de qualidade preestabelecidos.
Estratégias voltadas para a qualidade podem contemplar a eliminação de
perdas e a melhoria contínua, pois quando se busca melhorar cada processo, o
2 Acesse as chamadas públicas e resultados em: tps://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/
agricultura-familiar/pnae/chamadas-publicas-e-resultados.
21
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
desenvolvimento da organização ocorre com atividades que agregam mais valor
para o consumidor. Atividades de melhoria contínua podem ser desenvolvidas de
diferentes maneiras, mas o elemento essencial é que são orientadas para trabalhos
de aprimoramento constante em aspectos como: processos, fluxos de trabalho,
organização do espaço físico, divisão do trabalho, disposição de equipamentos e
instalações, dentre outros.
A participação de todos os cooperados no cotidiano das associações e das
cooperativas é fundamental para a gestão da qualidade, pois as interações entre
cooperados e conselhos proporcionam melhorias na administração. Quando há
um fortalecimento das relações entre os membros, há maior desenvolvimento
dessas organizações, pois todos se comprometem a participar dos espaços de
deliberação, a entregar os produtos de acordo com as quantidades e a qualidade
demandadas e a cumprir com os compromissos acordados com diferentes partes
interessadas 3 .
Considerando todos esses aspectos que foram relatados referentes à
qualidade, a Gestão da qualidade tem a perspectiva de coordenar as atividades
para controlar uma organização com base em alguns critérios – sumarizados na
Figura 5.
Figura 5 - Aspectos relacionados à Gestão da qualidade
ATENDER OS CONSUMIDORES
CONTROLAR A QUALIDADE
DESENVOLVER A MELHORA
CONTÍNUA
INCLUIR TODOS OS MEMBROS
Fonte: Elaborado pelos autores.
3 Partes interessadas são atores e organizações que se relacionam direta ou
indiretamente com as cooperativas. São exemplos: Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural (EMATER), Prefeituras, Secretarias Municipais, agentes de mercados
públicos ou privados, dentre outros.
22
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Uma perspectiva relevante da Gestão da qualidade é a utilização de
ferramentas. Apresentaremos duas importantes ferramentas – a Matriz GUT e o
Diagrama Espinha de Peixe – e como podem ser usadas de forma complementar.
A Matriz GUT está voltada para a definição e a análise dos problemas encontrados
e o Diagrama Espinha de Peixe para possíveis causas desses problemas.
Essas ferramentas da qualidade têm como foco a melhoria da gestão para o
atendimento das necessidades dos consumidores, visto que melhorias internas
no gerenciamento de associações e cooperativas da agricultura familiar podem
refletir em melhorias nos produtos e/ou serviços que são oferecidos.
3.1 Matriz GUT
O mapeamento de problemas que as associações e as cooperativas da
agricultura familiar enfrentam é uma forma de dar maior atenção ao problema
que é prioridade. Nesse sentido, a Matriz de Gravidade, Urgência e Tendência
(GUT) é uma ferramenta da qualidade que auxilia na priorização da resolução
de problemas por meio destes três critérios que compõem o próprio nome da
ferramenta. A Matriz GUT ajuda na definição de prioridade na tomada de decisão,
pois permite a identificação do que deve ser corrigido imediatamente e o que pode
ficar para outro momento. Assim, os problemas são classificados conforme os
itens apresentados no Quadro 4.
Quadro 4 - Matriz GUT: Gravidade, Urgência e Tendência
GRAVIDADE
URGÊNCIA
Avalia o impacto ou a intensidade que o problema pode gerar
se não for solucionado. É preciso analisar os pontos que
serão afetados (cooperados, produção, gestão, processos,
transporte e qualidade). Um problema extremamente grave
pode levar a organização ao fechamento.
Quanto mais rápido determinado problema deva ser
resolvido, mais urgente ele é. Esse é um fator que leva em
conta o prazo e o tempo necessários para solucionar um
problema. É importante pensar na seguinte pergunta: esse
problema pode esperar?
TENDÊNCIA
Indica se o problema tende a piorar rapidamente ou se deve
permanecer estável, caso não seja solucionado. É importante
pensar na seguinte pergunta: se não resolvermos isso, esse
problema vai piorar rapidamente?
Fonte: Elaborado pelos autores.
23
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Após conhecer a importância da Matriz GUT para identificar a ordem de
priorização na resolução de problemas, vamos então aprender como elaborar a
Matriz?
O primeiro passo é pontuar os problemas em escalas de 1 a 5, de acordo
com a Gravidade, Urgência e Tendência, como detalhado no Quadro 5. Depois
disso, deve-se multiplicar as pontuações para obter uma colocação, na qual o
problema com maior valor representa maior prioridade. Essa ferramenta pode
ser utilizada para a resolução de quaisquer problemas, mas é apresentada como
ferramenta da qualidade, pois contribui para a melhoria contínua de processos e
de atividades, o que também reflete na qualidade dos produtos e dos serviços.
Quadro 5 - Notas para a resolução de problemas aplicando Matriz GUT
GRAVIDADE URGÊNCIA TENDÊNCIA
Sem gravidade
Pode esperar
Não mudar nada
Pouca gravidade
Pouco urgente
Piorar em longo
prazo
Grave
Muito grave
Extremamente grave
O mais rápido
possível
É urgente
Precisa ser resolvido já
Piorar em médio
prazo
Piorar em curto
prazo
Piorar rapidamente
Fonte: Elaborado pelos autores.
Uma das principais vantagens da Matriz GUT é a sua facilidade de utilização,
podendo ser aplicada em qualquer área da associação ou cooperativa, tornandose
uma ferramenta de apoio às tomadas de decisões e à eliminação ou redução
dos problemas mais graves das organizações. A Tabela 1 mostra um exemplo de
aplicação da Matriz GUT como uma ferramenta da qualidade. Utilizamos como
exemplo fictício a Cooperdoce.
24
PROBLEMAS
ATRASOS NAS
ENTREGAS DOS
PRODUTOS
DEFEITO NAS
EMBALAGENS
FALTA DE
MANUTENÇÃO DOS
EQUIPAMENTOS
QUALIDADE
INAPROPRIADA DOS
PRODUTOS
Tabela 1 - Exemplo de aplicação da Matriz GUT
GRAVIDADE URGÊNCIA TENDÊNCIA
GRAU CRÍTICO
(G x U x T)
5 4 4
80
3 2 2 12
4 4 3 48
5 5 5 125
Fonte: Elaborado pelos autores.
PRIORIZAÇÃO
2º
4º
3º
1º
25
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Para definição do Grau Crítico é necessário multiplicar a escala da Gravidade
x Urgência x Tendência. A partir do resultado dessa simples conta, é possível
definir os problemas prioritários, sendo os mais prioritários os que apresentam
maiores Graus Críticos.
Pelos resultados da Tabela 1, é possível perceber que a qualidade inapropriada
dos produtos é o principal problema enfrentado pela Cooperdoce, seguido pelos
atrasos na entrega dos produtos, pela falta de manutenção dos equipamentos de
produção, e, por último, pelos defeitos nas embalagens. Sendo assim, a aplicação
da Matriz GUT revela, pelo exemplo apresentado, que a qualidade do produto é um
problema que precisa ter prioridade ao ser resolvido, pois isso pode gerar sérias
implicações negativas para a cooperativa.
Para ter esse exemplo resolvido em uma Planilha
do Excel, aplicando as fórmulas, basta acessar o QR
Code.
A Matriz GUT é importante para a priorização dos problemas a serem
resolvidos, no entanto, ela não foca em como resolvê-los. Por isso, esta ferramenta
é utilizada de forma comum em conjunto com outras, como o Diagrama Espinha
de Peixe.
3.2 Diagrama Espinha de Peixe
O Diagrama Espinha de Peixe é assim conhecido devido à sua forma gráfica
de apresentação. Esse Diagrama é uma ferramenta importante para auxiliar na
identificação das principais causas de um problema e possibilita análise de
todos os fatores envolvidos na execução de uma atividade. Portanto, o benefício
de utilizar essa ferramenta após a identificação de quais problemas devem ser
resolvidos consiste na identificação das causas para que o problema seja tratado,
levando em consideração quais os fatores estão causando a situação indesejada.
Além disso, é uma ferramenta visual que possui aplicação para qualquer tipo de
problema e pode ser usada em qualquer associação ou cooperativa da agricultura
familiar e de outras áreas.
26
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Após compreender a importância do Diagrama Espinha de Peixe para a
identificação das causas dos problemas, vamos então aprender como montar o
Diagrama?
O primeiro passo é identificar o problema principal, ou seja, uma situação
indesejada que gera efeitos negativos na associação ou na cooperativa. Por
exemplo, se analisarmos o exemplo anterior da aplicação da Matriz GUT, o
problema principal é a qualidade inapropriada dos produtos da Cooperdoce. Sendo
assim, a aplicação do Diagrama Espinha de Peixe focaria em buscar as possíveis
causas para esses problemas. Essas causas podem estar relacionadas a 6Ms –
Materiais, Métodos, Mão de obra, Máquinas, Meio ambiente e Medida:
• Materiais: causas relacionadas à matéria-prima ou a qualquer outro material.
• Método: causas associadas aos processos e procedimentos.
• Mão de obra: causas relacionadas ao pessoal envolvido (por exemplo:
desmotivação, falta de qualificação, imprudência).
• Máquinas: erros ou falhas em equipamentos e instalações.
• Meio ambiente: contexto que pode favorecer o surgimento de problemas.
• Medidas: causas relacionadas a como o processo é mensurado.
A Figura 6 apresenta um modelo de Diagrama Espinha de Peixe, com base
nos 6Ms.
Figura 6 - Diagrama Espinha de Peixe
Fonte: Elaborado pelos autores.
27
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Com base no modelo da Figura 5, vamos entender como podemos
identificar as principais causas do problema da qualidade inapropriada dos
produtos da Cooperdoce, por meio da aplicação do Diagrama Espinha de peixe?
Para isso, é preciso identificar causas relacionadas aos 6Ms. Considerando que a
Cooperdoce é uma cooperativa que realiza, dentre suas atividades de produção,
o processamento do leite para a produção de queijo, as principais causas do
problema da qualidade poderiam ser:
• Materiais: qualidade inapropriada da matéria-prima (“leite cru”);
• Método: falha no processo de conservação do leite na unidade de beneficiamento;
• Mão de obra: falta de qualificação dos cooperados e dos funcionários que
atuam no setor de processamento do leite;
• Máquinas: falhas em equipamentos e instalações de produção;
• Meio ambiente: dificuldades no atendimento da Instrução Normativa (IN) nº
55/2020;
• Medidas: temperatura de conservação do leite cru refrigerado na unidade de
beneficiamento de leite mensurada incorretamente.
A Instrução Normativa nº 55, de 30 de setembro de
2020 apresenta regulamentos técnicos que fixam
a identidade e as características de qualidade que
devem apresentar o leite cru refrigerado, o leite
pasteurizado e o leite pasteurizado tipo A.
Para maiores informações, acesse o QR Code.
A partir da definição dos 6Ms relacionados ao problema da Cooperdoce,
chegamos ao preenchimento do diagrama da Figura 7.
28
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Figura 7 - Diagrama Espinha de Peixe
COOPERATIVA/ASSOCIAÇÃO: COOPERARD
DATA: 20/01/22
RESPONSÁVEL: MARIA DA SILVA
CARGO: COOPERADA E DIRETORA DE PRODUÇÃO
Materiais
Método
Mão de obra
Qualidade
inapropriada do leite
Processo de
conservação do leite
Falta de
qualificação
Máquinas
Medida
Meio ambiente
Problema:
Qualidade
inapropriada do queijo
e do requeijão
Falhas em
equipamentos e
instalações
Dificuldades no
atendimento da IN
55/2020
Temperatura de
conservação do
leite
Fonte: Elaborado pelos autores.
Pelo Diagrama apresentado na Figura 6, percebe-se que o problema de
qualidade dos produtos da Cooperdoce possui diferentes causas associadas
aos 6Ms. Além disso, essas causas revelam que a falha relacionada à qualidade
da matéria-prima é de responsabilidade dos cooperados que entregam o “leite
cru”, ou seja, há necessidade de trabalhar a qualidade desde a produção do leite
na propriedade rural. Já outras falhas ocorrem dentro da cooperativa e estão
associadas a diferentes atividades do processo produtivo, como: conservação
do leite, qualificação da mão de obra, equipamentos e instalações, temperatura
do tanque de resfriamento. É preciso considerar também um cenário ainda mais
amplo, que se refere ao atendimento de padrões de qualidade exigidos pela IN
55/2020. Esses padrões são exigências de regulação governamental para a cadeia
produtiva do leite e precisam ser cumpridos pelos produtores e empreendimentos
de beneficiamento, pois são fundamentais para a qualidade dos produtos.
A utilização dessas ferramentas da qualidade pode contribuir para o alcance
de alguns resultados, como:
• A Matriz GUT permite a identificação de problemas organizacionais e a
aplicação de critérios que auxiliam na definição de quais problemas devem ter
prioridade na resolução, auxiliando na tomada de decisão;
• O Diagrama Espinha de Peixe contribui para a análise das causas dos problemas
identificados na Matriz GUT, para que esses problemas sejam resolvidos ou
29
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
minimizados;
• Usadas de forma complementar, essas ferramentas podem auxiliar os gestores
na identificação e na correção de diferentes problemas e falhas, melhorando o
desempenho organizacional.
Já percebemos como a qualidade e a utilização de ferramentas podem
contribuir para a melhoria do gerenciamento de associações e cooperativas da
agricultura familiar. Outra atividade importante para a administração dessas
organizações é a Gestão de Marketing, que vamos tratar no tópico a seguir.
31
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
4
Comunicação, Marketing e Relacionamento
Produzir algo bem-feito, com qualidade e com controle dos custos
levantados para produção é essencial para organizar as atividades nas associações
e cooperativas. Porém, é preciso também saber divulgar o produto de forma clara
e direta, gerando o interesse de compra por diferentes consumidores. Para criar
formas de identificar melhor os produtos e divulgá-los de forma direta, recorremos
ao que chamamos de marketing.
Marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar,
comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para consumidores,
clientes, parceiros e a sociedade em geral.
Fonte: AMA (2021).
4.1
Marketing para cooperativas e
associações da agricultura familiar
Para implementar o marketing, recorremos ao que chamamos de 4Ps ou
Mix de Marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção.
O P de Produto está voltado para definir com clareza qual é o produto, quais
características são essenciais para serem destacadas, como ele está embalado ou
empacotado e qual é o formato que será comercializado. Para ser mais claro, vamos
utilizar como exemplo uma cooperativa de produtores de mel. Essa cooperativa,
após extrair o mel das favas e realizar os procedimentos necessários para
garantir a qualidade, irá envasar o produto em bisnagas de diferentes tamanhos
ou garrafas de vidro reutilizáveis. Para a venda nas feiras livres, é fundamental
que o produto esteja lacrado, com rótulo informando os ingredientes presentes
na composição, uma tabela nutricional, o prazo de validade e, se possível, uma
logomarca da associação com o nome, endereço e contato. Esses elementos são
preocupações diretas do P de Produto.
Já que temos um produto, agora é hora de pensar no P de Preço. Mas qual
preço devo cobrar pelo meu produto? Para saber isso, é fundamental conhecer
o custo total para produzir os produtos, ou seja, os custos fixos (despesas que
ocorrem todo mês independentemente da quantidade produzida, como o aluguel,
o telefone, a internet) e os custos variáveis (aqueles que aumentam dependendo
31
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
da quantidade produzida, como a energia elétrica utilizada na máquina para
empacotar o café ou o valor gasto para despolpar acerola em uma agroindústria
que terceiriza essa parte da produção).
Sabendo então que a soma dos custos fixos e dos custos variáveis formam
o custo total de produção, agora é hora de determinar um preço de venda.
Muitas cooperativas e associações que não sabem o custo total de produção
acabam determinando um preço de venda muito abaixo e acabam “pagando para
trabalhar”, ou seja, vendem um produto abaixo do custo total de produção e ao
invés de terem sobras após as vendas têm prejuízos.
O P de Praça refere-se ao local onde o produto será comercializado. No
caso da agricultura familiar, os principais canais de comercialização são as feiras
livres, os supermercados e mercadinhos de bairros, além da entrega direta para as
escolas, por meio de programas governamentais, como o PNAE. Nesse momento
de se preocupar com o P de Praça, é fundamental posicionar o produto em locais
estratégicos, de forma que estejam bem visíveis para os consumidores e que,
em caso de entrega, esta seja realizada utilizando veículos que não danifiquem
os produtos. Sabemos que, por conta da qualidade de muitas estradas rurais,
a questão do transporte pode levar a perdas da produção por danificações dos
produtos in natura ou danos nas embalagens. Assim é fundamental que ao planejar
o P de Praça, as associações e as cooperativas contratem ou utilizem veículos
próprios que possam armazenar as caixas e demais formas de embalagem,
respeitando o limite de capacidade da carga, a temperatura mínima e máxima
permitida e considere as condições das estradas rurais.
O P de Promoção está ligado à comunicação e à divulgação tanto da
organização em que os agricultores familiares estão inseridos, quanto ao produto
e/ou serviços que oferecem. Nesse momento, é fundamental utilizar estratégias
de comunicação que informe claramente qual é a organização, quais são os seus
produtos, quais os preços dos produtos, onde eles podem ser encontrados e qual
a forma de entrar em contato com a associação ou com a cooperativa que os
produzem.
Atualmente, muitas organizações utilizam de redes sociais como Instagram
e Facebook para fazer essa comunicação, porém isso pode ser feito de forma
associada ou substituído por outros meios, como anúncios de rádio, publicação no
jornal da cidade, panfletos, folders e até por meio de cartazes escritos à mão. Não
existe um canal de comunicação melhor que o outro, o importante é comunicar e
passar a mensagem.
Assim, juntando as ações para cada P, temos estratégias de marketing
32
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
definidas para as organizações se posicionarem melhor nos diferentes mercados
atendidos, possibilitando melhorias tanto da imagem da organização quanto dos
produtos ofertados. Qualquer organização que gerencia bem suas estratégias
de marketing tem possibilidades para fidelizar melhor tanto seus associados/
cooperados, quanto os seus consumidores.
4.2
Gestão e posicionamento da marca das
organizações da agricultura familiar
Como estamos falando muito a respeito de comunicação e estratégias,
para se tornar mais visível para o público em geral, uma questão fundamental é o
posicionamento da marca, que é conhecido em inglês como branding.
“Branding é uma estratégia de gestão da marca que visa torná-la mais
reconhecida pelo seu público e presente no mercado. A estratégia busca
a admiração e desejo pelos valores que a marca cria em torno de si
mesma. Seu objetivo principal é despertar sensações e criar conexões
fortes, que serão fatores relevantes para a escolha do cliente pela marca
no momento de decisão de compra.”
Fonte: SEBRAE (2019).
Já entendemos que criar uma marca é essencial para destacar os produtos
e para destacar a própria organização. Mas como e por quais meios é possível
fazer uma logo? Antes de elaborar uma logo, é fundamental que sejam discutidos
entre os cooperados/associados o que é essencial na marca. Essa marca será
usada tanto para definição da organização quanto nos rótulos dos produtos.
Assim, levantar cores, imagens, fontes (tipo de letra), formatos e demais elementos
que possam definir a logo tornam o processo de elaboração mais dinâmico,
participativo e com a cara do grupo.
Você sabia que há diferenças entre logo, logotipo e logomarca?
Logo é um elemento de design gráfico que pode incluir nome, símbolo
ou marca, representando uma organização ou produto. Logotipo é um
arranjo distintivo de letras no qual as organizações são prontamente
reconhecidas pelos clientes. Logomarca, por sua vez, é um termo
incorreto e redundante, pois as palavras “logo” e “marca” apresentam
significados similares.
Fonte: Adaptado de Mangu (2021).
33
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Existem vários sites gratuitos que permitem a elaboração de uma logo.
Vamos simular aqui o passo a passo para elaboração no site Canva 4 . Acessando
o site, o usuário pode fazer uma conta gratuita, criando um login e senha. Após
essa etapa inicial, ele encontrará a tela mostrada na Figura 8.
Figura 8 - Página inicial do Canva.
Fonte: Canva (2021).
Nesta tela, clique na barra superior “Buscar no Canva”, digite “Logotipo” e
aperte a tecla “enter”. A tela mostrada na Figura 9 surgirá com várias opções de
logotipos quase prontos. Basta escolher um e inserir as informações desejadas.
Escolha aquele que melhor represente a ideia levantada na discussão em grupo e
insira as informações principais.
Figura 9 - Página de Logotipos do Canva
4 Disponível em: https://www.canva.com/.
Fonte: Canva (2021).
34
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Para simular esta etapa, elaboramos aqui uma logo da cooperativa
fictícia Cooperdoce. Encontramos um modelo com a imagem de um pinheiro,
que é a imagem que representa o cooperativismo e atende bem ao propósito da
organização. O modelo encontrado está nomeado como “Verde e Bege Pinheiro
Clean e Moderno Imobiliária Logo” e destina-se a uma ideia de logo para imobiliária,
como pode ser observado na Figura 10.
Figura 10 - Página da logo Verde e Bege Pinheiro Clean e
Moderno Imobiliária Logo
Fonte: Canva (2021).
A partir desse modelo criado pelo Canva, fizemos algumas alterações de
cor, inserimos o nome fantasia da cooperativa (nome completo registrado na
junta comercial), a sigla e duplicamos os pinheiros, chegando na nossa logo
apresentada na Figura 11.
Figura 11 - Página de desenvolvimento da logo Cooperdoce
Fonte: Canva (2021).
35
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Com o logotipo finalizado, é só clicar em “Baixar” para fazer o download da
imagem e utilizá-la como quiser. Agora nossa cooperativa tem uma logo para ser
divulgada, como mostrado na Figura 12, em duas versões de cores.
Figura 12 - Logo da Cooperdoce
Fonte: Elaborado pelos autores.
Podemos agora aplicar essa logo no rótulo dos produtos da organização.
Para isso, na barra “Buscar no Canva”, na página inicial (Figura 8), digite “Rótulo”
e aperte a tecla “enter”. Escolha a opção que mais se adequa à realidade da
sua organização e insira as informações essenciais da composição do produto,
campo para escrever à mão o prazo de validade e insira a logo da cooperativa ou
associação.
No nosso exemplo, criamos um rótulo para as bisnagas de mel envasadas
pela cooperativa.
Figura 13 - Rótulo do Mel Cooperdoce
Fonte: Elaborado pelos autores.
36
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Na imagem principal, criamos um nome para o mel, inserimos informações
sobre o peso e as formas de conservação. Além disso, utilizamos a logo da
cooperativa, para que nossos consumidores a conheçam; inserimos uma breve
descrição e um e-mail para contato. Por fim, inserimos as informações nutricionais
e deixamos as datas de envase e de validade do produto para serem preenchidas
à caneta. Essas informações nutricionais e de validade podem ser acessadas por
meio de um(a) nutricionista da prefeitura local.
Agora é fundamental trabalhar a aplicação da logo da cooperativa nos
diferentes produtos a serem comercializados e nas demais formas de comunicação
para divulgação do empreendimento. Podemos criar canais de comunicação
direta e indireta com cooperados, com os consumidores e com a comunidade em
geral, como será demonstrado na sequência.
4.3
Gestão da comunicação institucional e
interpessoal
Uma vez que a organização já possui uma logo para divulgação dos seus
produtos é fundamental que agora sejam utilizados mecanismos para que o
público em geral conheça o que é feito pela organização, quem são os membros
associados, quais produtos e serviços são ofertados, possíveis preços e formas de
acesso. Para isso, a organização pode utilizar de veículos como as redes sociais,
panfletos, cartazes, anúncios em rádio, podcasts, entre outros.
Para facilitar a compreensão, vamos reunir os meios de divulgação em três
grupos: 1) Mídia Impressa, 2) Mídia Digital e 3) Mídia Informal.
1
A mídia impressa é a utilização de panfletos, cartazes, folders, filipetas,
jornais e demais formas físicas impressas em papel para que as
pessoas possam ler. É importante, nesse tipo de mídia, utilizar uma boa
qualidade de impressão, independentemente se for colorido ou preto
e branco, para que as informações principais sejam comunicadas. As
organizações podem utilizar desse tipo de mídia, por exemplo, para
serem entregues nas feiras livres ou para serem disponibilizadas em
balcões de lojas e supermercados para divulgação de seus produtos.
37
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
2
3
A mídia digital pode ser viabilizada com o uso de sites e redes
sociais, como Youtube, para produção de vídeos; WhatsApp para
envio de comunicação rápida, imagens e arquivos; Instagram para
publicação de fotos, vídeos curtos e stories (pequenas publicações
de 15 segundos que permanecem por 24h na página); e sites para
informações mais completas e até para a compra dos produtos.
Cabe citar, também, os podcasts: áudios sobre assuntos específicos
gravados e disponibilizados em alguma plataforma na internet. As
organizações podem utilizar desse tipo de mídia, por exemplo, quando
têm necessidade de apresentar melhor as organizações, a história de
vida dos agricultores, eventos que irá promover, links de reportagens
interessantes e até promoções em dias específicos.
A mídia informal é o uso de materiais físicos como os descritos na
mídia impressa, porém feitos à mão com o uso, por exemplo, de canetas,
tinta ou colagens, bilhetes nos produtos e o uso de comunicados via
rádio local. As organizações podem utilizar desse tipo de mídia quando
conta com poucos recursos financeiros para investir nos anteriores
ou quando deseja valorizar as informações de forma bem artesanal,
enviando mensagens para seus consumidores junto aos produtos
adquiridos.
Mas qual é a melhor mídia a ser utilizada? Não existe. A melhor é
aquela que consegue informar de forma eficiente aos diferentes públicos. Cada
organização deve analisar os recursos físicos e financeiros que têm para essa
finalidade, observar o que ela deseja comunicar, como ela deseja comunicar e
assim decidir qual é a melhor mídia. Apesar das vantagens, cada mídia também
possui desvantagens, como apresentado no Quadro 6.
38
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Tipos de Mídia
MÍDIA IMPRESSA
MÍDIA DIGITAL
MÍDIA INFORMAL
Quadro 6 - Vantagens e desvantagens de cada tipo de mídia
Vantagens Desvantagens
NÃO DEPENDE DE EQUIPAMENTO
PARA SER ACESSADA
ALTO CUSTO
NECESSIDADE DE QUALIDADE DE
IMPRESSÃO
CUSTO BAIXO
A INTERAÇÃO COM QUEM ELABORA AS
INFORMAÇÕES É RÁPIDA
ACESSO POR UM MAIOR NÚMERO DE PESSOAS
MAIS FÁCIL A DIVULGAÇÃO
NECESSIDADE DE PRODUZIR
CONTEÚDO CONSTANTEMENTE
CUSTO BAIXO
RAPIDEZ NA ELABORAÇÃO
DESPADRONIZAÇÃO DO
CONTEÚDO
POSSIBILIDADE DE ERROS DE
ESCRITA
Fonte: Elaborado pelos autores.
39
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Independente da mídia utilizada, a organização tem que se preocupar em
realizar e em manter bons relacionamentos com seus públicos. Garantir um bom
relacionamento com clientes é permitir que possam conhecer a realidade dos
agricultores familiares e, assim, valorizar a produção. Essa comunicação deve
permitir repassar informações aos clientes, aos fornecedores e à comunidade em
geral, esclarecendo as informações solicitadas e ouvindo as principais demandas
e desejos esperados. Ouvir esses públicos garante que a organização esteja mais
próxima do que realmente os consumidores precisam e que constantemente ela
tenha condições de se aperfeiçoar.
Mas esses relacionamentos devem ser mantidos apenas com esses
públicos? Não. É fundamental que as organizações e, principalmente, as
cooperativas criem mecanismos de Organização do Quadro Social, popularmente
chamado de OQS, como apresentado na próxima seção.
4.4
Organização do quadro social: construindo e
mantendo relacionamentos com cooperados
e suas famílias
Uma cooperativa pode ser vista como um empreendimento econômico
e uma associação democrática que realiza suas atividades de forma conjunta,
portanto, criar meios para comunicar melhor suas atividades e assim buscar se
aproximar dos cooperados é uma das estratégias mais interessantes para que
seus membros se sintam representados pela organização em que estão inseridos.
Sabemos que muitas vezes o agricultor familiar, preocupado com suas
atividades rotineiras, pode ter dificuldades para participar de tudo que a cooperativa
oferece e até ter dificuldades de saber o que será realizado e em que data. Para
tentar amenizar tais problemas e gerar mais interesse pelos cooperados, a
proposta da Organização do Quadro Social (OQS) tem ganhado cada vez mais
força.
• Mas afinal, o que é OQS?
A OQS pode ser entendida como uma estratégia ou conjunto de ferramentas
que tem como intuito organizar a relação do cooperado e de sua família com a
cooperativa, criando espaços para o exercício efetivo da participação. Como a
participação depende do interesse do cooperado nas questões da cooperativa,
criar espaços formais para tomadas de decisões coletivas, para formação em
40
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
cursos e capacitações e ainda para confraternizações representa uma forma de
implementar a OQS.
• Por que a OQS é interessante para agricultores familiares?
Provavelmente, você que é agricultor familiar já conversou com outros
agricultores que são associados de outras cooperativas ou associações e
compartilharam problemas comuns. Esses problemas giram em torno do
desconhecimento sobre o que é discutido nas assembleias e reuniões, da falta
de comprometimento de alguns membros conselheiros e até cooperados, da
presença de caroneiros que só comercializam com a cooperativa quando o preço
de compra dos produtos é maior que o pago no mercado convencional, dentre
tantos outros. Segundo Santos (s.d.) “é, portanto, um círculo vicioso, pois o
associado não participa da cooperativa porque não a conhece; e não a conhece
porque não participa”.
Assim, perante as inúmeras demandas não atendidas ou não ouvidas
pelos conselheiros da organização, os agricultores, a partir do momento que
têm informações suficientes sobre caminhos para viabilizar a resolução de tais
questões, podem utilizar dos espaços criados pela OQS para fazer valer os seus
direitos. Com isso, provavelmente se sentirão mais representados e participarão
com mais entusiasmo dos processos, rotinas e planejamentos da organização.
• Como criar e manter a OQS viva na cooperativa?
Sabemos que se não aguarmos nossas plantações, provavelmente, elas
morrem, né? Se aguarmos pouco, as plantações precisarão de mais água e
morrerão de sede; mas se aguarmos muito, deixarão o solo encharcado e também
morrerão. Essa também é a lógica da OQS na cooperativa. A cooperativa deve
criar canais para que a medida certa de informações e comunicações sejam
implementadas, para que a ideia não morra por falta de atividades ou sufoque os
membros por excesso de informações.
A OQS pode ser implementada por meio de reuniões orientadas ao debate
de temas específicos; de cursos de formação em áreas específicas para os
agricultores familiares; de eventos de divulgação das ações realizadas pela
cooperativa; de grupos de estudos em temas específicos da agricultura familiar; de
núcleos de jovens e/ou de mulheres agricultoras; dentre tantos outros. Entretanto,
essas atividades devem fazer parte de um planejamento formal e não ocorrer de
forma esporádica.
41
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
As mídias digitais também podem se tornar aliadas no processo de
implementação e manutenção da OQS. O uso de grupos de WhatsApp para envio
de informações; o uso de canais específicos do Youtube para palestras e para
cursos de formação para os associados; e a criação de páginas do Facebook com
fóruns de discussão sobre determinados temas são exemplos práticos para que
os espaços formais criados para viabilização da OQS sejam mantidos.
O Quadro 7 traz uma síntese e um exemplo dos principais canais para
implementação e manutenção da OQS, sua definição, exemplos de como podem
ser aplicados e uma sugestão de frequência de realização das reuniões de cada
canal.
Quadro 7 - Canais de OQS
Canais de OQS
Definição Exemplo Frequência
Reuniões
Orientadas
Reuniões realizadas na
sede da cooperativa ou
em espaços específicos,
no intuito de discutir uma
temática que seja do
interesse da maior parte dos
cooperados.
Reunião para
esclarecimentos sobre as
chamadas públicas do PNAE
e a capacidade de entrega de
cada produtor.
Sempre que
convocada pelos
cooperados.
Cursos de Formação
e Capacitação
Curso de formação em áreas
específicas ou capacitação
em áreas que os associados
já dominam, mas não de
forma aprofundada.
Curso de formação em
conselho fiscal e de
administração, ministrado
por um membro da OCB ou
da própria cooperativa.
Três vezes ao
ano, dependendo
da necessidade
de formação e
capacitação dos
cooperados.
Eventos de
divulgação
Eventos realizados pela cooperativa
para divulgação de
sua forma de atuação e dos
produtos produzidos por cada
agricultor familiar.
Participação em evento para
divulgação dos produtos
da agricultura familiar
disponíveis para venda na
Exposição Agropecuária da
cidade ou em feiras livres.
Uma vez ao ano
Grupos de Estudos
Grupos para estudos sobre
temas pertinentes para os
agricultores familiares.
Grupos de estudos sobre a
pedagogia de Paulo Freire,
sobre a ideia do comércio
justo ou sobre a produção
orgânica.
Quinzenalmente
Núcleo de Jovens e/
ou Mulheres
Núcleo para articulação do
trabalho dos jovens no campo
e visibilidade das mulheres.
Núcleo de Jovens e Mulheres
que articulados discutem mais
espaços para participação
e tomada de decisões na
cooperativa. Esse núcleo
também pode cobrar dos
conselheiros oportunidades
para se associarem de forma
individualizada, sem ser
subordinado à associação de
apenas um membro da família.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Mensalmente
42
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
É fundamental que os canais expostos no Quadro 7 sejam implementados
de forma associada, ou seja, que mais de um canal exista e que estes sejam
auxiliados pelas estratégias de marketing e de comunicação da cooperativa. Além
disso, a frequência para realização de cada atividade em cada canal dependerá do
interesse, da participação e das respostas quanto à necessidade de ajustes pelos
participantes. Não existe uma forma certa ou errada para implementar a OQS.
Desde que a OQS seja um processo sistemático (realizado formalmente em várias
etapas) e fruto de um planejamento estruturado e articulado com os associados,
o melhor caminho e meio para implementação e manutenção dependerá de cada
empreendimento.
A aplicação de ferramentas de comunicação, marketing e relacionamento
pode contribuir para o alcance de resultados, como:
• Definir com clareza quais são os produtos para a identificação do melhor
formato em que eles devem ser comercializados;
• Estabelecer um preço de venda condizente com os custos de produção para
que haja sobras e não prejuízos;
• Determinar os canais de comercialização dos produtos para posicioná-los de
forma estratégica ou comercializá-los via políticas públicas;
• Utilizar estratégias de promoção que envolvem a comunicação e a divulgação,
para que a organização possa posicionar melhor sua marca no mercado;
• Criar mecanismos de OQS com o intuito de construir e manter o relacionamento
com os cooperados/associados e suas famílias, fortalecendo as relações
sociais e a participação de todos.
Que tal agora falarmos um pouquinho sobre a gestão financeira das
cooperativas e associações da agricultura familiar?
43
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
5
Gestão financeira
A situação financeira das cooperativas e associações é um aspecto
fundamental que não pode ser deixado de lado. As finanças dessas organizações
são essenciais para a sua sobrevivência e manutenção, por isso, é importante
entender as questões principais dessa área. Os descuidos financeiros podem levar
a cooperativa ou associação a ter mais custos do que rendimentos. Estamos aqui
para tentar ajudar nisso. A área financeira não é nenhum “bicho de sete cabeças”.
Antes de falarmos sobre as boas práticas, vamos destacar alguns
termos que você pode ver por aí, e que são fundamentais para entender
a situação financeira sua organização:
O primeiro deles é a receita. Você sabe o que é?
A receita de uma cooperativa ou associação representa os recursos
financeiros (dinheiro) provenientes da venda de mercadorias ou da
prestação de serviços por essas organizações.
Lado a lado com a receita, nós temos as despesas, que são os valores
gastos para que manter a organização funcionando e os custos para
garantir sua produção. Podemos citar, como exemplo, o valor pago na
conta de luz, a compra de matéria-prima, o pagamento de impostos,
pagamentos de mão de obra, aluguel, entre outros.
Para garantir que sua associação ou cooperativa esteja bem financeiramente,
é importante que seus associados/cooperados e administradores reconheçam
quais são todas as despesas envolvidas, saibam como cobrar adequadamente
por seus produtos, e como utilizar sua receita para manter os pagamentos em dia.
Veremos que existem ferramentas que podem ser utilizadas para fortalecer essa
gestão financeira, minimizando riscos de prejuízos no empreendimento, criando
cenários futuros para a organização, e avaliando se determinados projetos
atendem às expectativas.
Considerando que existem uma série de instrumentos que podem auxiliar
na gestão financeira, selecionamos aqueles mais comuns, cuja aplicação
recomendamos, devido à simplicidade e ao potencial de resultados positivos.
44
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
5.1
Balanço Patrimonial
O Balanço Patrimonial (BP) é um instrumento exigido por lei, que tem
como finalidade mostrar de forma detalhada como está a situação financeira da
organização. Ele não deve ser visto como uma mera obrigação legal, mas como
a principal referência para nortear a gestão financeira de qualquer empresa ou
entidade. A partir dele, associados e cooperados podem observar uma série de
aspectos como: bens móveis e imóveis; aplicações financeiras; e dívidas. Por sua
vez, os gestores o utilizam para analisar a situação em que a organização se
encontra ou se encontrava em um determinado período, estudando a evolução de
seus recursos e de seu patrimônio.
Agora que você já sabe o que é, vamos observar como ele é composto? O
Balanço Patrimonial é dividido em três partes: o Ativo, o Passivo, e o Patrimônio
Líquido. Cada um deles com sua importância para ser possível analisar a saúde
financeira da organização.
1. ATIVO: Trata-se dos bens e direitos da organização. Ele nos mostra onde
os recursos financeiros foram aplicados. Ativo é o dinheiro que a organização
possui ou todo bem que pode ser convertido em dinheiro. Os ativos podem ser
classificados como:
• Ativo Circulante: refere-se ao valor que a associação/cooperativa já possui em
dinheiro (no banco, em caixa, aplicações financeiras etc); mas também engloba
bens ou direitos que podem e que pretendem ser transformados em dinheiro
ainda no curto prazo (como produtos em estoque, produtos esperando para
ser vendidos, ou quando é realizada uma grande venda e o pagamento só será
recebido no mês seguinte).
• Ativo Não Circulante: são os ativos que não possuem perspectiva de serem
convertidos em dinheiro no curto prazo, seja por não interesse, seja por
inviabilidade. Por exemplo: um imóvel e tratores são bens de uma associação/
cooperativa, que não precisam ser convertidos em dinheiro; outro exemplo
são pagamentos a serem recebidos em um prazo de três anos que, apesar
de serem um recurso de direito da organização, não estão disponíveis para
utilização em curto prazo.
Algumas organizações optam por colocar o Ativo em uma página separada
do Passivo e do Patrimônio Líquido, mas uma forma também comum é enquadrá-
45
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
lo ao lado esquerdo do BP, em que a tabela é dividida em duas colunas, alinhando
o nome do item do Ativo e o seu valor. Para ilustrar essa composição, observe o
exemplo a seguir:
Tabela 2 - Organização do Ativo
ATIVO
CIRCULANTE
CAIXA (DINHEIRO IMEDIATAMENTE DISPONÍVEL)
R$ 63.000,00
R$ 12.000,00
CONTA BANCÁRIA
R$ 20.000,00
DINHEIRO A RECEBER
R$ 19.000,00
ESTOQUES
R$ 12.000,00
NÃO CIRCULANTE
PAGAMENTO A RECEBER NO LONGO PRAZO
R$ 512.000,00
R$ 62.000,00
IMÓVEL PRÓPRIO
R$ 300.000,00
VEÍCULOS
R$ 120.000,00
EQUIPAMENTOS
R$30.000,00
TOTAL
R$ 575.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
2. PASSIVO: São as obrigações financeiras com terceiros, como pagamentos
pendentes a cooperados ou associados, salários, impostos, parcelas de
financiamentos, entre outros. Esses também podem ser classificados de forma
semelhante ao ativo: quando uma obrigação será paga até o final do ano seguinte,
então é um passivo circulante; por outro lado, quando o prazo para pagamento
ultrapassa esse limite, é considerado um passivo não circulante. Assim como o
Ativo, cada linha é composta por um item, como apresentado a seguir:
46
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Tabela 3 - Organização do Passivo
PASSIVO
CIRCULANTE
R$ 86.000,00
FORNECEDORES
R$ 40.000,00
IMPOSTOS A PAGAR
R$ 8.000,00
SALÁRIOS
R$ 23.000,00
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO A PAGAR NO CURTO
PRAZO
NÃO CIRCULANTE
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO A PAGAR NO LONGO
PRAZO
R$ 15.000,00
R$ 70.000,00
R$ 50.000,00
DÍVIDAS COM FORNECEDERES A PAGAR NO
LONGO PRAZO
R$ 20.000,00
TOTAL R$ 156.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
De modo geral, enquanto o Ativo indica os bens e os direitos pertencentes
à organização, o Passivo mostra como estão sendo despendidos os recursos
financeiros. Já o Patrimônio Líquido, por sua vez, refere-se aos recursos que
pertencem, de fato, à associação/cooperativa ou aos cooperados
3. PATRIMÔNIO LÍQUIDO (PL): Representa o total de valores que os membros
associados possuem dentro das contas da instituição em determinado momento.
Além disso, o PL também explicita quanto a organização possui em reservas
financeiras, e quanto acumulou de ganhos/perdas financeiras no ano.
Pertencente ao PL, o Capital Social é formado pelos investimentos que
cooperados fizeram na organização, no momento de entrada ou ao longo de sua
permanência no grupo. No caso das cooperativas, o Capital Social é composto
pelas quotas integralizadas (pagas) pelo cooperado. Já as associações não
possuem capital social, tendo seu patrimônio inicial (nos primeiros anos)
geralmente formado por doações ou taxas pagas pelos associados.
Assim, unido ao Ativo e ao Passivo, o Patrimônio Líquido costuma ser
o terceiro item apresentado no Balanço Patrimonial. A seguir, na Tabela 4,
47
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
apresentamos um exemplo similar ao das cooperativas, por normalmente
possuírem alguns itens que as associações não possuem.
Especificamente em cooperativas, é exigido por lei que elas possuam uma
Reserva Legal (responsável por lidar com eventuais prejuízos financeiros próprios)
e uma Reserva de Assistência Técnica Educacional e Social (denominada de
RATES, utilizada geralmente para ações em prol dos cooperados e comunidade).
Além disso, quando as Sobras (o “lucro” das cooperativas) não forem totalmente
utilizadas, ou quando houver Perdas (“prejuízo” financeiro) que não serão pagas
pela reserva de emergência, essas devem ser repassadas em assembleia e
distribuídas entre seus cooperados. Em todos os casos citados, é necessário que
seja registrado dentro do Patrimônio Líquido.
Tabela 4 - Organização do Balanço Patrimonial
BALANÇO FICTÍCIO PARA O ANO DE 2021
ATIVO
PASSIVO
CIRCULANTE
R$63.000,00
CIRCULANTE
R$86.000,00
CAIXA
R$12.000,00
FORNECEDORES
R$40.000,00
CONTA BANCÁRIA
DUPLICATAS A
RECEBER
ESTOQUES
NÃO CIRCULANTE
DIREITOS A RECEBER
NO LONGO PRAZO
IMÓVEL
R$20.000,00
R$19.000,00
R$12.000,00
R$509.000,00
R$62.000,00
R$300.000,00
IMPOSTOS A PAGAR
SALÁRIOS
FINANCIAMENTO
CURTO PRAZO
NÃO CIRCULANTE
FINANCIAMENTO
LONGO PRAZO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
R$8.000,00
R$23.000,00
R$15.000,00
R$70.000,00
R$70.000,00
R$416.000,00
VEÍCULOS
R$120.000,00
CAPITAL SOCIAL
R$70.000,00
EQUIPAMENTOS
R$27.000,00
RESERVA LEGAL
R$103.000,00
RESERVA DE
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
SOBRAS À DISPOSIÇÃO
DA ASSEMBLEIA
R$120.000,00
R$53.000,00
TOTAL:
R$572.000,00
TOTAL:
R$572.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Os levantamentos realizados no Balanço Patrimonial apresentam benefícios
como:
• Transparência para analisar as origens e as destinações dos recursos
financeiros;
• Auxílio na observação da evolução patrimonial ao longo de anos;
• Facilitação na definição e ajuste de estratégias para garantir que haverá
recurso disponível nos momentos necessários.
48
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Lembrando que a construção de um Balanço Patrimonial anual é obrigatória,
como apontado pela ITG (Interpretação Técnica Geral) 2002, que trata sobre
as demonstrações contábeis de entidades sem fins lucrativos. Além disso, é
fundamental destacar que o Total dos Ativos deve ser igual ao Total dos Passivos
(Passivos + Patrimônio Líquido) e, caso isso não ocorra, é preciso verificar se
alguma conta foi lançada errada ou esquecida.
O BP é apenas uma das ferramentas possíveis para uma gestão financeira
organizada e bem-sucedida. Além dele, outras análises podem ser realizadas,
permitindo um melhor controle sobre custos, preços e um melhor gerenciamento
do dinheiro da organização.
5.2
Entendendo os custos de produção
Você sabia que muitas cooperativas, assim como muitas empresas, não
conhecem quais são os seus custos? Por conta disso, sem saberem a razão, é
comum que tenham prejuízo ou seus lucros reduzidos. Nesse tópico você vai
entender o que são custos de produção e qual sua importância para garantir bons
retornos à organização. Vamos lá?
Como ponto de partida, vamos observar o caso da cooperativa fictícia,
Cooperdoce, e como seus custos podem impactar suas oportunidades e
competitividade.
Suponhamos que a Cooperdoce consiga produzir 1 quilo de queijo a um
custo de R$30,00. Na mesma cidade, existe uma família de produtores
que consegue produzir, ao custo de R$40,00, a mesma quantidade.
Ambas possuem as mesmas oportunidades para comercializar com
mercados, porém, devido ao menor custo de produção, a Cooperdoce
tem uma melhor margem para reduzir seu preço de venda, a fim de
conquistar os mercados locais. Dessa forma, reconhecendo que o
custo estava limitando suas oportunidades de lucro, a família produtora
decidiu associar-se a outras famílias, a fim de compartilhar insumos e
equipamentos e, assim, reduzir seus preços, gerando menor impacto no
retorno proveniente das vendas e consequentemente na renda da família.
49
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Sem saber qual é o preço para produzir determinado produto, como vamos
saber o preço a ser cobrado por ele? Viu como os custos são importantes? Pois é!
Para precificar corretamente, é necessário listar quantos e quais são os custos de
produção.
Os custos de produção são aqueles ligados ao processo fabril, ou seja,
quanto está sendo pago para preparar e finalizar a mercadoria. Nesse sentido,
para que nem a cooperativa ou associação, nem os produtores saiam no prejuízo,
é necessário que o preço final (de comercialização) do produto seja superior aos
custos de sua criação. Se isso não ocorrer, os membros vão “pagar para trabalhar”.
Para evitar isso, o primeiro ponto é que sejam identificados os recursos financeiros
utilizados para produção, que podem ser desde a aquisição de matéria prima
(como a compra, pela cooperativa, das produções dos cooperados), manutenção
de máquinas e mão de obra, até recursos que parecem distantes da produção,
como o papel utilizado para imprimir algum documento.
Desse modo, podemos distribuir o dinheiro gasto em dois tipos de custos:
• Custos “Diretos” ou “Variáveis”: são aqueles que podem ser facilmente
identificados e medidos em relação a cada produto, como a matéria prima
utilizada na produção, a mão de obra para produzir ou as embalagens utilizadas.
Nesse caso, os custos geralmente são alterados com base no volume ou na
quantidade produzida.
• Custos “Indiretos” ou “Fixos”: são aqueles que não se sabe ao certo o valor
por produto, como pagamento de limpeza do local, energia elétrica utilizada,
aluguel do espaço, manutenção de máquinas ou material de escritório. E que
também podem possuir valores fixos, que não se alteram conforme a produção,
como aluguel de galpão, pagamento de internet ou pagamento de salários.
COMO DEFINIR OS PREÇOS APÓS CONHECER OS CUSTOS?
No caso dos custos diretos é uma tarefa um pouco mais simples. Basta
identificar quais são os custos diretos para a produção da mercadoria, e dividir
pela quantidade de unidades a serem comercializadas. Assim saberemos qual
deve ser o mínimo a ser cobrado para quitar estes custos e ter retorno financeiro.
Porém, somado a isso, devemos também calcular os custos fixos ou
indiretos que, devido à dificuldade de mensuração sobre cada produto, podem ser
distribuídos seguindo diferentes estratégias. Vale ressaltar que cada organização
tem seus próprios critérios para distribuir tais valores, com base no preço final que
considerarem viável e aceitável para comercialização. Como base, apresentamos
50
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
algumas maneiras comuns:
• Precificação por tempo de produção: Esse critério é geralmente adotado
em atividades industriais, em que aqueles produtos que dependem de mais
tempo para serem elaborados são considerados também como aqueles que
demandam mais dos recursos indiretos.
Como exemplo, suponhamos que a Cooperdoce, em sua unidade de
beneficiamento de mel, realiza a produção de meleiras paralelamente à produção
de balas e de mel com própolis em spray. Para essa estratégia de produção,
devemos saber qual o tempo gasto para a fabricação de cada produto. Assim,
trouxemos a seguinte estimativa, na qual identificamos o tempo total de produção
a partir da quantidade produzida e do tempo estimado para produzir cada unidade,
como pode ser visualizado na Tabela a seguir:
Tabela 5 - Tempo de produção na unidade de beneficiamento de mel
Produto
Unidade/mês x Tempo p/unidade = Tempo total
Mel (meleira)
1700
1,5 minutos
2550 minutos
Bala de mel
(pacote)
300
8 minutos
2400 minutos
Mel com Própolis
(frasco)
800
4 minutos
3200 minutos
Tempo de produção total
8150 minutos
Fonte: Elaborado pelos autores.
Cada produto demanda um tempo diferente para ser produzido, porém os
custos de mão de obra, pagamento do financiamento para aquisição do espaço
e limpeza do ambiente são custos fixos comuns que devem ser considerados no
momento de determinar o preço de venda de cada um deles. Dessa forma, a partir
do custeio proporcional ao tempo de produção, caso esses custos totalizassem
R$13.000,00 mensais, teríamos o seguinte cenário, apresentado na Tabela 6:
51
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Tabela 6 - Custos indiretos (ou fixos) por unidade a partir do tempo de produção
Produto
Unidades
x Tempo total =
Custo por
unidade
Mel (meleira)
1700
2550 minutos
R$2,39
Bala de mel
(pacote)
300
2400 minutos
R$12,76
Mel com Própolis
(frasco)
800
3200 minutos
R$6,38
TOTAL 2800 unidades 8150 minutos
R$13.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Para calcularmos o custeio com base no tempo de produção, fizemos o
seguinte cálculo:
1° Passo: Identificar quantos reais seriam relativos a cada tipo de produção:
Com uma “regra de três”, dividimos o tempo de produção total pelo tempo de
produção do respectivo produto (ex: Meleira), e o custo fixo total pelo valor que
queremos descobrir.
I) 8150 min ÷ 2550 min = R$13.000,00 ÷ X
II)
3,2 = 13.000 ÷ X
III) X = 13.000 ÷ 3,2 = R$4062,00
2° Passo: Dividir os custos fixos do tipo de produção, pela quantidade de unidades
produzidas:
R$4062,50 ÷ 1700 unidades = R$2,39 por unidade
Calculados os custos diretos e indiretos sobre cada unidade do produto,
basta somar seus preços e teremos o “custo de produção”, ou seja, o mínimo a ser
52
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
arrecadado, por unidade, para que sua etapa de produção (e exclusivamente ela)
seja paga.
• Proporcional à média de faturamento: Outra estratégia comumente adotada
é a precificação a partir do faturamento médio de cada produto. Nesse caso, é
preciso ter informações de vendas já realizadas. Para isso, suponhamos que,
após a comercialização, as meleiras arrecadam uma média de R$12.750,00;
a venda das balas, R$6.000,00; enquanto os sprays de mel com própolis
conseguem, em média, R$7.200,00. A partir desse cenário, temos a seguinte
situação, apresentada na Tabela 7:
Tabela 7 - Custos indiretos por média de faturamento
Produto
Faturamento
% do
Faturamento Custo Fixo Qtde.
Custo Fixo
p/unidade
Mel
(meleira)
R$12.750,00
49%
R$6.370,00
1700 R$3,75
Bala de mel
(pacote)
R$6.000,00
23%
R$2.990,00
300 R$9,97
Mel com
própolis
(spray)
R$7.200,00
28%
R$3.640,00
800 R$4,55
TOTAL
R$25.950,00
100%
R$13.000,0
2.800 R$18,27
Fonte: Elaborado pelos autores.
Notamos que, nessa segunda estratégia, o único produto a ter seu custo fixo
aumentado foi o mel em meleira que, devido à expressiva quantidade de unidades,
teve um aumento de apenas R$1,36 comparada à estratégia anterior. Por sua vez,
o pacote de balas e o mel em spray obtiveram uma redução mais significativa,
de R$2,79 e de R$1,83 por unidade, respectivamente. Portanto, objetivando uma
melhor aceitação dos preços gerais da marca, a adoção do segundo critério,
especificamente nesse caso, poderia ser a melhor opção.
indiretos:
Além das maneiras citadas, existem outras formas de distribuir os custos
53
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
• Aplicar o custo indireto proporcionalmente aos custos diretos: Se o preço
para produzir as balas, em custos diretos, corresponde a 10% dos custos
diretos totais da fábrica, então sua produção seria responsável por absorver
os mesmos 10% em custos indiretos.
• Aplicar o custo indireto proporcionalmente ao escoamento de cada
mercadoria: Produtos que possuem uma melhor aceitação pelo mercado e
frequentemente têm seus estoques esgotados, pagariam mais do que aqueles
que possuem maior dificuldade para venda total da produção.
Ressaltamos que a forma como serão distribuídos os custos para a
precificação dos produtos pode ser alterada, conforme interesses e estratégias da
organização. Porém, qualquer que seja a medida adotada, não podemos esquecer
de fazer o pleno levantamento dos custos envolvidos, a fim de garantir que o
preço de venda seja suficiente para cobrir todas as despesas relativas.
A partir do levantamento dos custos de produção, podemos:
• Entender melhor o grau de eficiência produtiva;
• Identificar fatores para que a produção se torne mais barata;
• Ter maior flexibilidade na precificação das mercadorias.
Entretanto, para o planejamento a longo prazo de qualquer organização,
não basta apenas que ela saiba quanto cobrar para pagar suas despesas básicas,
é importante analisar a viabilidade dos seus projetos, para entender se realmente
possuem um potencial de retorno financeiro que justifique sua aplicação ou se
devem repensar as estratégias.
5.3 Fluxo de Caixa
O Fluxo de Caixa (FC) é a anotação detalhada do caminho que o dinheiro
percorre/percorrerá em um projeto ou momento determinado. A partir de sua
construção, é possível saber qual será o valor a ser pago em um novo projeto da
associação ou da cooperativa, por exemplo, como a construção de uma fábrica ou
unidade de beneficiamento; assim como também será possível estimar a receita
que o projeto trará e qual o tempo previsto para isso.
Construído com base nos valores que entrarão e sairão do caixa, é
importante que a organização possua um FC definido a partir de diferentes
54
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
cenários e variáveis; e com receitas e custos bem classificados para uma análise
aprofundada. Nesse sentido, sugere-se a seguinte divisão:
Quadro 8 - Divisão do Fluxo de Caixa
DIRETAS
RECEITAS
INDIRETAS
FIXO
DE INVESTIMENTOS
CUSTOS
CIRCULANTE
OPERACIONAIS
Fonte: Elaborado pelos autores.
A receita “direta” é fruto da comercialização dos produtos da associação ou
cooperativa; e a “indireta” trata de retornos complementares, que não representam
a atividade principal, como ganhos sobre valores residuais (a eventual valorização
de um terreno ou preço de maquinário por exemplo).
Por outro lado, referente aos custos, podemos ter aportes em investimentos
ou custos operacionais. Enquanto os investimentos “são aqueles que correspondem
à instalação da unidade de produção” (BUARQUE, 1984); os custos operacionais
são equivalentes à compra de insumos necessários para manter a produção e as
vendas em funcionamento (em “operação”). Nesse sentido, tem-se a divisão dos
investimentos em duas classes: Fixos ou Circulantes
• Os investimentos fixos dizem respeito à aquisição e à construção de bens e
instalações necessárias para que ocorram as atividades.
55
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Exemplos de investimentos fixos:
• Compra de terreno;
• Gastos com arquiteto/engenheiro;
• Custos preliminares às edificações (nivelamento, demarcação de terra etc.);
• Obras complementares (para transmissão de energia, água etc.);
• Edificação (como a construção de prédio ou de um armazém);
• Aquisição de máquinas, ferramentas agrícolas, veículos e utensílios.
Os investimentos circulantes, também chamados de “capital de trabalho”,
tratam das despesas compreendidas entre o início das atividades e a entrada de
receitas das vendas, ou seja, enquanto a produção da associação ou da cooperativa
ainda não estiver sendo comercializada. Podemos citar como exemplos: salários;
contas de luz, de água, de internet, de telefone etc.; e aluguel.
Para entendermos na prática, imagine a seguinte situação: uma cooperativa
de produtores de goiaba, que até então comercializava apenas a fruta, decide
projetar o Fluxo de Caixa para analisar a viabilidade de começarem a produzir e
a vender também goiabada. Para isso, os gestores consideraram o tempo desde
o início da construção da unidade de produção até o término do primeiro ano de
vendas do produto, chegando ao seguinte cenário:
Tabela 8 - Receitas diretas com o novo modelo de negócio
Vendas 1º semestre 2º semestre 3º semestre 4º semestre
Goiaba fruta
R$550.000,00
R$550.000,00
R$500.000,00
R$450.000,00
Goiabada
- -
R$150.000,00
R$300.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Além da receita direta, foram identificadas também receitas indiretas.
Atualmente, o terreno da cooperativa está avaliado em R$1.100.000,00, tendo como
base seu tamanho, localização e as condições em que se encontra. Além disso,
o governo está reformando e ampliando uma rodovia próxima, melhorando as
condições de logística (como o transporte de mercadorias) na região. A estimativa
56
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
é que esse investimento público irá valorizar o preço dos terrenos locais, em média,
em 10%. Fora isso, a construção do galpão, onde será montada a fábrica, também
valorizará o imóvel, por se tratar de um prédio que poderia facilmente ser utilizado
por outros que desejassem adquirir o terreno; e a estimativa é que o novo prédio
inclua um valor de R$80.000,00 ao local. Assim, dentro das receitas, os gestores
somaram estas previsões, como apresentado na Tabela 9:
Tabela 9 - Receitas diretas e indiretas com o novo modelo de negócio
Vendas
1º Semestre
2º semestre
3º semestre
4º semestre
Receita
direta
R$550.000,00
R$550.000,00 R$650.000,00 R$750.000,00
Goiaba fruta
R$550.000,00
R$550.000,00 R$500.000,00 R$450.000,00
Goiabada
-
- R$150.000,00 R$300.000,00
Receita
indireta
R$110.000,00
- R$80.000,00 -
Valorização
com rodovia
(10%)
R$110.000,00
- - -
Valorização
com galpão
- - R$80.000,00 -
Fonte: Elaborado pelos autores.
Com a previsão de receita em mãos, adicionamos os custos para a
construção do galpão e para manter a nova produção em funcionamento. Na
Tabela 10, demonstramos o resultado do Fluxo de Caixa, com base no cenário
exemplificado.
57
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Tabela 10 - Fluxo de Caixa com fábrica de goiabada
Receita/
custo 1º semestre 2º semestre 3º semestre 4º semestre Total
Receita
direta
R$550.000,00 R$550.000,00 R$650.000,00 R$750.000,00 R$2.500.000,00
Receita
indireta
R$110.000,00 - R$80.000,00 - R$190.000,00
Custo de
Investimento
Fixo (-)
(R$60.000,00)
(R$340.000,00)
- -
(R$400.000,00)
Custo de
Investimento
Circulante (-)
(R$4.000,00)
(R$15.000,00)
(R$25.000,00) -
(R$44.000,00)
Custos
Operacionais
(-)
(R$50.000,00) (R$50.000,00) (R$90.000,00) (R$110.000,00) (R$300.000,00)
Total
R$546.000,00 R$145.000,00 R$615.000,00 R$640.000,00
R$1.946.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Na contabilidade, é comum que valores
negativos, como as despesas e prejuízos
financeiros, sejam escritos entre parênteses.
Então, da próxima vez que observar valores
entre parênteses, não estranhe!
É apenas um número negativo!
58
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Como projeto esboçado e o Fluxo de Caixa desenhado, os gestores perceberam
que no segundo semestre haveria gastos significativos para a construção da
fábrica e isso reduziria expressivamente os resultados da cooperativa no período.
Porém, após a análise ser apresentada aos cooperados em Assembleia, a maioria
entendeu que embora constatada uma redução momentânea nas receitas, tratavase
de um investimento a longo prazo que traria ganhos maiores no futuro. Desse
modo, por meio de votação, os cooperados aprovaram o projeto, e a cooperativa
conseguiu diversificar sua produção e ampliar seus ganhos.
Atenção: Na maioria das vezes, não será possível prever com exatidão os valores
para construir o Fluxo de Caixa, principalmente quando forem planos para longo
prazo. Então, para evitar surpresas desagradáveis, o recomendável é que sempre
se trabalhe com a construção de ao menos um cenário pessimista, prevendo
aumento nos preços, possíveis quedas nas receitas e até atrasos nos prazos.
A construção de um Fluxo de Caixa detalhado apresenta os seguintes
resultados e benefícios para uma organização:
• Previsibilidade do orçamento de projetos;
• Pode ser utilizado desde pequenas e pontuais movimentações, até projetos
mais longos e complexos, permitindo a definição dos critérios de prazos e de
orçamentos, conforme realidade de cada organização;
• Ajuda a identificar se o projeto ou ideia é viável.
5.4
Tempo de retorno do investimento
O tempo de retorno, também conhecido como “período de Payback”, é o
tempo que o um projeto leva para pagar o investimento feito inicialmente. Esse
tempo é compreendido entre o momento inicial do projeto e o momento em que a
soma das receitas tenha superado os custos acumulados.
Suponhamos que um grupo de cafeicultores decida criar uma cooperativa
para unir suas produções e, juntos, acessarem novos mercados e oportunidades.
Para isso, encontraram a necessidade de compra de dois novos moedores de
grãos industriais, duas seladoras de embalagens e um novo caminhão para escoar
a produção para diferentes regiões. É importante que seus preços e quantidade
sejam registrados, pois a cooperativa precisa pensar em como retornar esse valor.
Como mostra a Tabela 12, a soma dos itens necessários totalizou R$570.000,00
de investimento inicial a ser feito pelo grupo.
59
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Tabela 11 - Custos para associação de cafeicultores
Item
Preço unitário Quantidade Custo Total
Moedor
industrial
R$2.500,00
2
R$5.000,00
Seladora
R$2.500,00
2
R$5.000,00
Caminhão
R$560.000,00
1
R$560.000,00
TOTAL
R$570.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Em paralelo, calcularam qual seria sua receita a partir da soma de suas
safras e concluíram que, anualmente, conseguiriam alcançar R$280.000,00 em
receitas. Assim, para avaliarem a viabilidade e se estariam dispostos a arcar com
os custos, os produtores simularam seu Fluxo de Caixa a partir do parcelamento
de todos os itens em 24 meses (1º e 2º ano), como apresentado na Tabela 12.
Tabela 12 - Fluxo de Caixa de produtores de café
Receita/
custo 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano Total
Receita total
R$280.000,00 R$280.000,00 R$280.000,00 R$280.000,00 R$1.120.000,00
Investimentos
Fixos (-)
(R$290.000,00) (R$280.000,00) - - (R$570.000,00)
Demais
custos (-)
(R$40.000,00)
(R$40.000,00)
(R$40.000,00)
(R$40.000,00)
(R$160.000,00)
Total
(R$50.000,00)
(R$40.000,00)
R$240.000,00
R$240.000,00
R$390.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
60
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
Como os custos não são todos pagos imediatamente, e os resultados são
alternados nos primeiros anos, os produtores analisaram o tempo de retorno para
identificar quando conseguiriam recuperar o valor investido. Para isso, inicialmente,
identificaram o ano em que conseguiriam ficar com seu caixa positivo.
Como mostrado na tabela a seguir, eles anotaram, na coluna do meio, qual
seria o resultado financeiro de cada ano de operação; enquanto, na coluna da
direita, se encontra a soma dos resultados dos respectivos anos passados. Veja
na Tabela 13 que o Fluxo de Caixa do período são os valores encontrados na
tabela anterior e o Fluxo de Caixa acumulado de cada período nada mais é do que
o Fluxo de Caixa do período anterior somado ao Fluxo de Caixa do período atual.
Tabela 13 - Ano de payback para cafeicultores
Ano
Fluxo de caixa do
período
Caixa acumulado
1º
(R$50.000,00)
(R$50.000,00)
2º
(R$40.000,00)
(R$90.000,00)
3º
(R$240.000,00)
R$150.000,00
4º
(R$240.000,00)
R$390.000,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quando colocaram lado a lado os resultados de cada ano e os ganhos/
prejuízos acumulados após os resultados, ficou claro que no terceiro ano seria o
momento em que teriam terminado de arcar com os custos e sairiam do prejuízo,
alcançando o caixa positivo de 150 mil reais.
Supondo então que a comercialização seria constante ao longo dos meses
do terceiro ano, o grupo resolveu calcular o mês exato em que poderiam “respirar
aliviados”, já que superariam as dívidas do seu empreendimento. Para isso:
1) Dividiram o valor total estimado do Fluxo de Caixa do Período para o ano
de superação (terceiro ano) em 12 parcelas iguais, encontrando a previsão de
arrecadação mensal: R$ 20.000,00 por mês;
61
Ferramentas e Metodologias para a Gestão de Cooperativas e Associações da Agricultura Familiar
2) Dividiram o valor negativo acumulado (90 mil) pela estimativa mensal
encontrada anteriormente (R$90.000,00 / R$20.000,00 = 4,5 7 ).
Portanto, caso as aquisições ocorressem em janeiro de 2022, a cooperativa
recuperaria seus investimentos em meados do mês de maio, no terceiro ano de
atividade.
A identificação do período de retorno do capital investido pode contribuir
para apoiar a organização na análise dos seguintes aspectos:
• Tempo para que determinado investimento “se pague”;
• Se o tempo para retorno é adequado e se atende as expectativas da organização.
7 Aproximadamente no 5º mês a partir da data de início das atividades.
62
REFERÊNCIAS
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visão contemporânea. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
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2021.
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2021.
CARROLL, L. Alice no país das maravilhas. 2. ed., revista. 2000.
Disponível em: https://www.objetivo.br/arquivos/livros/alice_no_pais_
das_maravilhas.pdf. Acesso em 20 nov. 2021.
MARTINS, M. O. Aplicação do método 5W2H em uma microempresa de
artefatos têxteis. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) -
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade
Federal do Amazonas, p. 39. 2017.
MANGU, M. B. Logotipo ou logomarca? Qual dos dois termos é
correto usar? Disponível em: https://www.mangu.com.br/logotipo-oulogomarca-qual-dos-dois-termos-e-correto-usar/.
Acesso em: 20 nov.
2021.
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de resolução de problemas no seu negócio. Disponível em: https://
rockcontent.com/br/blog/matriz-gut/. Acesso em: 18 nov. 2021.
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social – Uma ferramenta de conscientização e participação responsável.
Belo Horizonte: s.d., Sistema Ocemg.
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https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/pb/artigos/brandingo-que-significa-e-qual-sua-importancia,79cd6fcf8e24b610VgnVCM1000
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