antidepressão a revolucionária terapia do bem-estar(1)(1)

adilio.mouracosta
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13.08.2023 Views

depressão ou qualquer outra. Além disso, a preguiça pode desaparecerquando a depressão acabar.Holly parecia estar mesmo envolvida nessa argumentação e se divertindo comela. Após uma série de acusações e defesas como essas, ela admitiu que não tinhanenhum motivo convincente para morrer, e que qualquer júri sensato iria decidirem favor da defesa. O mais importante é que Holly estava aprendendo a questionare responder aos seus pensamentos negativos sobre si mesma. Esse processo trouxe aela um alívio emocional parcial, mas imediato, o primeiro que ela havia sentido emmuitos anos. Ao fim da sessão de consulta, ela me disse: “Não me lembro de ter mesentido tão bem alguma vez. Mas agora me vem à cabeça o pensamento negativo‘Pode ser que essa nova terapia não seja tão boa como parece’.”. Em resposta a isso,ela sentiu uma súbita onda de depressão novamente. Eu lhe garanti:Holly, a defensoria ressalta que isso não é um problema real. Se a terapia não for tãoboa como parece, você vai descobrir isso em poucas semanas, e ainda terá a opção de ficarinternada por um longo período. Não terá perdido nada. Além do mais, a terapia podeser em parte tão boa como parece, ou quem sabe até melhor. Talvez você esteja dispostaa tentar.Diante dessa proposta, ela decidiu voltar à Filadélfia para o tratamento.O desejo de Holly de cometer suicídio era apenas resultado de distorções cognitivas.Ela confundiu os sintomas de sua doença, como a letargia e a perda de interessepela vida, com sua verdadeira identidade e se rotulou de “preguiçosa”. ComoHolly equiparava seu valor como ser humano às suas realizações, ela concluiu queera uma pessoa sem valor e merecia morrer. Tirou a conclusão precipitada de quejamais conseguiria se recuperar, e de que sua família ficaria melhor sem ela. Magnificouseu desconforto dizendo “Não posso aguentar”. Sua sensação de desespero eraresultado de querer adivinhar o futuro ‒ sem a menor lógica, ela tirou a conclusãode que não poderia melhorar. Quando Holly viu que só estava presa a uma armadilhacriada por seus pensamentos pouco realistas, sentiu-se aliviada de repente. Paracontinuar melhorando, tinha de aprender a corrigir seu pensamento negativo permanentemente,e isso exigia grande esforço! Ela não ia se entregar assim tão fácil!Após a nossa consulta inicial, Holly foi transferida para um hospital da Filadélfia,onde eu a visitava duas vezes por semana para iniciar a terapia cognitiva. Ela teveuma passagem turbulenta pelo hospital, com mudanças drásticas de humor, masconseguiu receber alta após um período de cinco semanas, e eu a convenci a se matricularnum curso de meio período durante o verão. Por algum tempo, seu humorcontinuou a oscilar como um ioiô, mas ela apresentava uma melhora geral. Às vezesHolly afirmava sentir-se muito bem por vários dias. Isso representou um grandeavanço, pois eram os primeiros períodos felizes que ela tinha desde os 13 anos.

Então, de repente, ela tinha uma recaída para um estado de depressão grave. Nessasocasiões, tornava-se ativamente suicida outra vez, e fazia de tudo para tentar meconvencer de que não valia a pena viver. Como muitos adolescentes, parecia sentirraiva da humanidade toda, e insistia que não fazia sentido continuar vivendo.Além de ter sentimentos negativos em relação ao seu próprio valor, Holly haviadesenvolvido uma visão extremamente negativa e desiludida do mundo inteiro. Elanão apenas via-se presa a uma depressão sem fim e incurável, mas, como muitosadolescentes de hoje, havia adotado uma teoria pessoal de niilismo. Essa é a formamais radical de pessimismo. O niilismo é a crença de que não existe verdade ousignificado em coisa alguma, e que tudo na vida envolve sofrimento e agonia. Paraum niilista como Holly, o mundo não oferece nada a não ser desgraça. Ela estavaconvencida de que a verdadeira essência de cada pessoa e objeto no universo era malignae terrível. Sua depressão, portanto, era o inferno na terra. Holly vislumbravaa morte como a única saída possível e ansiava por ela. Vivia reclamando e discursandocinicamente sobre as crueldades e as desgraças da vida. Insistia que a vida eracompletamente insuportável o tempo todo, e que os seres humanos eram totalmentedesprovidos de qualidades redentoras.A tarefa de fazer que uma jovem tão inteligente e persistente enxergasse e admitisseo quanto seu pensamento estava distorcido foi um verdadeiro desafio paraeste terapeuta! O longo diálogo a seguir ilustra suas atitudes extremamente negativas,bem como o meu esforço para ajudá-la a perceber a falta de lógica do seupensamento:Holly: Não vale a pena viver, pois no mundo há mais coisas ruins do que boas.David: Suponhamos que eu fosse o paciente deprimido, você fosse meu terapeutae eu lhe dissesse isso. O que você diria?(Usei essa estratégia com a Holly, pois sabia que seu objetivo na vida era serterapeuta. Imaginei que diria algo sensato e otimista, mas ela foi mais esperta.)Holly: Eu diria que não posso discutir com você!David: Então, se eu fosse um paciente seu com depressão e lhe dissesse que nãovalia a pena viver, você me aconselharia a me atirar pela janela?Holly (rindo): Sim. Quando penso a respeito, é a melhor coisa a fazer. Se vocêpensar em todas as coisas ruins que estão acontecendo no mundo, o certoé ficar muito chateado e entrar em depressão.David: E qual é a vantagem de fazer isso? Vai ajudar a corrigir o que está erradono mundo, por acaso?Holly: Não. Mas não dá para corrigir essas coisas.David: Não dá para corrigir todas as coisas ruins do mundo, ou não dá paracorrigir algumas delas?

depressão ou qualquer outra. Além disso, a preguiça pode desaparecer

quando a depressão acabar.

Holly parecia estar mesmo envolvida nessa argumentação e se divertindo com

ela. Após uma série de acusações e defesas como essas, ela admitiu que não tinha

nenhum motivo convincente para morrer, e que qualquer júri sensato iria decidir

em favor da defesa. O mais importante é que Holly estava aprendendo a questionar

e responder aos seus pensamentos negativos sobre si mesma. Esse processo trouxe a

ela um alívio emocional parcial, mas imediato, o primeiro que ela havia sentido em

muitos anos. Ao fim da sessão de consulta, ela me disse: “Não me lembro de ter me

sentido tão bem alguma vez. Mas agora me vem à cabeça o pensamento negativo

‘Pode ser que essa nova terapia não seja tão boa como parece’.”. Em resposta a isso,

ela sentiu uma súbita onda de depressão novamente. Eu lhe garanti:

Holly, a defensoria ressalta que isso não é um problema real. Se a terapia não for tão

boa como parece, você vai descobrir isso em poucas semanas, e ainda terá a opção de ficar

internada por um longo período. Não terá perdido nada. Além do mais, a terapia pode

ser em parte tão boa como parece, ou quem sabe até melhor. Talvez você esteja disposta

a tentar.

Diante dessa proposta, ela decidiu voltar à Filadélfia para o tratamento.

O desejo de Holly de cometer suicídio era apenas resultado de distorções cognitivas.

Ela confundiu os sintomas de sua doença, como a letargia e a perda de interesse

pela vida, com sua verdadeira identidade e se rotulou de “preguiçosa”. Como

Holly equiparava seu valor como ser humano às suas realizações, ela concluiu que

era uma pessoa sem valor e merecia morrer. Tirou a conclusão precipitada de que

jamais conseguiria se recuperar, e de que sua família ficaria melhor sem ela. Magnificou

seu desconforto dizendo “Não posso aguentar”. Sua sensação de desespero era

resultado de querer adivinhar o futuro ‒ sem a menor lógica, ela tirou a conclusão

de que não poderia melhorar. Quando Holly viu que só estava presa a uma armadilha

criada por seus pensamentos pouco realistas, sentiu-se aliviada de repente. Para

continuar melhorando, tinha de aprender a corrigir seu pensamento negativo permanentemente,

e isso exigia grande esforço! Ela não ia se entregar assim tão fácil!

Após a nossa consulta inicial, Holly foi transferida para um hospital da Filadélfia,

onde eu a visitava duas vezes por semana para iniciar a terapia cognitiva. Ela teve

uma passagem turbulenta pelo hospital, com mudanças drásticas de humor, mas

conseguiu receber alta após um período de cinco semanas, e eu a convenci a se matricular

num curso de meio período durante o verão. Por algum tempo, seu humor

continuou a oscilar como um ioiô, mas ela apresentava uma melhora geral. Às vezes

Holly afirmava sentir-se muito bem por vários dias. Isso representou um grande

avanço, pois eram os primeiros períodos felizes que ela tinha desde os 13 anos.

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