antidepressão a revolucionária terapia do bem-estar(1)(1)

adilio.mouracosta
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13.08.2023 Views

David: Detesto desapontá-lo, mas irá descobrir que em muitos outros aspectosda minha vida eu sou mais imperfeito ainda. Portanto, seestá me desprezando como terapeuta, presumo que vai me desprezarmais ainda como pessoa.Terapeuta: Bom, eu realmente o subestimo como pessoa. Acho que isso descrevebem o meu sentimento em relação a você.David: Você me subestima pelo fato de não corresponder ao seu critério deperfeição? Eu sou um ser humano e não um robô.Terapeuta: Não tenho certeza se entendi a pergunta. Eu julgo as pessoas peloseu desempenho. Você fez uma besteira, por isso tem de encarar ofato de que vou julgá-lo negativamente. É duro, mas é a realidade.Eu achava que você devia se sair melhor por ser nosso preceptor enosso professor. Esperava mais de você. Agora parece que até eupoderia ter lidado melhor com aquela paciente do que você!David: Bem, eu acho que você poderia ter se saído melhor do que eu comaquela paciente naquele dia, e essa é uma área em que eu acho queposso aprender com você. Mas por que me subestimar por isso? Seficar decepcionado e perder o respeito toda vez que perceber queeu cometi um erro, muito em breve você se sentirá péssimo e nãoterá respeito algum por mim, pois venho cometendo erros todos osdias desde que nasci. Você quer mesmo esse desconforto? Se quisercontinuar a apreciar nossa amizade, e espero que faça isso, terá deaceitar o fato de que não sou perfeito. Talvez esteja disposto a observaros erros que cometo e apontá-los, para que eu possa aprendercom você enquanto estou lhe ensinando. Quando eu parar de errar,perderei boa parte da minha capacidade de crescer. Reconhecer ecorrigir meus erros ‒ e aprender com eles ‒ é um dos meus maiorestrunfos. E se puder aceitar que sou humano e imperfeito, talvez possaaceitar que você também é. Talvez queira sentir que você tambémpode cometer erros.Esse tipo de diálogo transcende a possibilidade de você sentir-se rejeitado. Reivindicarseu direito de errar, paradoxalmente, faz de você um ser humano superior.Se o outro ficar desapontado, a culpa é dele, mesmo por ter criado uma expectativapouco realista de que você é mais do que humano. Se não embarcar nessa expectativaabsurda, você não terá de ficar com raiva ou na defensiva quando fizer algumabesteira ‒ nem precisará sentir vergonha ou constrangimento. A escolha é clara:

você pode tentar ser perfeito e acabar infeliz, ou pode almejar ser humano e imperfeitoe se sentir melhor. O que você escolhe?13.O próximo método é se concentrar mentalmente numa época da sua vida emque você era realmente feliz. Que imagem vem à sua cabeça? Para mim, é a imagemde descer até o Havasupai Canyon nas férias de verão, quando eu estava na faculdade.Esse desfiladeiro é uma parte isolada do Grand Canyon, onde só é possívelchegar a pé ou a cavalo. Eu fui com um amigo. Havasupai, uma palavra indígenaque significa “povo das águas verde-azuladas”, é o nome de um rio azul-turquesa quebrota no chão do deserto e transforma o estreito desfiladeiro num paraíso exuberantecom vários quilômetros de extensão, até finalmente desaguar no rio Colorado.Há várias cachoeiras com dezenas de metros de altura e, no final de cada uma delas,uma substância verde contida na água se deposita no fundo e nas margens do rio,que se tornam lisos e brilhantes como uma piscina azul-turquesa. Uma profusãode álamos e arbustos com flores roxas em forma de trombetas acompanha o rio.Os índios que vivem ali são pacatos e acolhedores. É uma lembrança feliz. Talvezvocê tenha alguma lembrança como essa. Então pergunte a si mesmo ‒ o que essaexperiência teve para ser perfeita? No meu caso, nada! Não havia banheiros e dormimosao ar livre, em sacos de dormir. Eu não ando em trilhas com perfeição nemnado com perfeição, e nada ali era perfeito. Não havia eletricidade na maior partedo vilarejo por causa do seu isolamento, e a única coisa que tinha para comer noarmazém era feijão em lata e salada de frutas ‒ nada de carne ou verduras. Mas a comidaficava deliciosa depois de caminhar e nadar o dia inteiro. Então, quem precisade perfeição?Como você pode usar uma lembrança feliz como essa? Quando está tendo umaexperiência supostamente prazerosa ‒ comer fora, fazer uma viagem, ir ao cinemaetc. ‒, você pode estragá-la fazendo um balanço de tudo que está faltando e dizendoa si mesmo que não pode se divertir. Mas isso é besteira ‒ é a sua expectativa que oaborrece. Vamos supor que a cama do hotel seja muito desconfortável e você tenhapago uma boa quantia pelo quarto. Você já ligou para a recepção e eles não têm nenhumaoutra cama ou quarto disponível. Que azar! Você pode aumentar seu problemaexigindo perfeição, ou evocar sua lembrança “feliz e imperfeita”. Lembra dotempo em que você ia acampar, dormia no chão e adorava? Então, com certeza vocêpode se divertir nesse quarto de hotel se quiser! Mais uma vez, a escolha é sua.

David: Detesto desapontá-lo, mas irá descobrir que em muitos outros aspectos

da minha vida eu sou mais imperfeito ainda. Portanto, se

está me desprezando como terapeuta, presumo que vai me desprezar

mais ainda como pessoa.

Terapeuta: Bom, eu realmente o subestimo como pessoa. Acho que isso descreve

bem o meu sentimento em relação a você.

David: Você me subestima pelo fato de não corresponder ao seu critério de

perfeição? Eu sou um ser humano e não um robô.

Terapeuta: Não tenho certeza se entendi a pergunta. Eu julgo as pessoas pelo

seu desempenho. Você fez uma besteira, por isso tem de encarar o

fato de que vou julgá-lo negativamente. É duro, mas é a realidade.

Eu achava que você devia se sair melhor por ser nosso preceptor e

nosso professor. Esperava mais de você. Agora parece que até eu

poderia ter lidado melhor com aquela paciente do que você!

David: Bem, eu acho que você poderia ter se saído melhor do que eu com

aquela paciente naquele dia, e essa é uma área em que eu acho que

posso aprender com você. Mas por que me subestimar por isso? Se

ficar decepcionado e perder o respeito toda vez que perceber que

eu cometi um erro, muito em breve você se sentirá péssimo e não

terá respeito algum por mim, pois venho cometendo erros todos os

dias desde que nasci. Você quer mesmo esse desconforto? Se quiser

continuar a apreciar nossa amizade, e espero que faça isso, terá de

aceitar o fato de que não sou perfeito. Talvez esteja disposto a observar

os erros que cometo e apontá-los, para que eu possa aprender

com você enquanto estou lhe ensinando. Quando eu parar de errar,

perderei boa parte da minha capacidade de crescer. Reconhecer e

corrigir meus erros ‒ e aprender com eles ‒ é um dos meus maiores

trunfos. E se puder aceitar que sou humano e imperfeito, talvez possa

aceitar que você também é. Talvez queira sentir que você também

pode cometer erros.

Esse tipo de diálogo transcende a possibilidade de você sentir-se rejeitado. Reivindicar

seu direito de errar, paradoxalmente, faz de você um ser humano superior.

Se o outro ficar desapontado, a culpa é dele, mesmo por ter criado uma expectativa

pouco realista de que você é mais do que humano. Se não embarcar nessa expectativa

absurda, você não terá de ficar com raiva ou na defensiva quando fizer alguma

besteira ‒ nem precisará sentir vergonha ou constrangimento. A escolha é clara:

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