antidepressão a revolucionária terapia do bem-estar(1)(1)
Se contribuir para o sustento das famílias dos meus empregados é umbenefício extra, eu não sou inútil.Se faço o melhor que posso para ajudar meus clientes e fornecedores pormeio da minha produtividade e criatividade, eu não sou inútil.Se a minha presença neste mundo faz alguma diferença para os outros,eu não sou inútil.Eu não sou inútil. Eu tenho muito valor!PERDER UM ENTE QUERIDOUm dos casos mais graves de depressão que tratei no início de minha carreirafoi o de Kay, uma pediatra de 31 anos cujo irmão mais novo havia se suicidado deuma forma horrível do lado de fora do apartamento dela, seis semanas antes. O queera particularmente doloroso para Kay era que ela se considerava responsável pelosuicídio dele, e os argumentos que apresentava para sustentar esse ponto de vistaeram muito convincentes. Kay sentia que estava diante de um problema insuportavelmentedoloroso que era totalmente realista e insolúvel. Achava que tambémmerecia morrer e pensava em suicídio na época da consulta.Um problema comum que aflige a família e os amigos de alguém que cometesuicídio é o sentimento de culpa. Há uma tendência a se torturar com pensamentoscomo: “Por que eu não evitei? Por que fui tão idiota?”. Nem mesmo psicoterapeutase conselheiros estão imunes a essas reações e podem se castigar, dizendo: “A culpafoi minha. Se pelo menos eu tivesse falado com ele de outra forma naquela últimasessão... Por que não o obriguei a dizer se estava ou não pensando em suicídio? Eudeveria ter intervido de forma mais enérgica. Eu o matei!”. O mais trágico e irônico éque, na grande maioria dos casos, o suicídio ocorre porque a vítima tem uma crençadistorcida de que seu problema não tem solução, sendo que, se fosse visto de umaperspectiva mais objetiva, ele pareceria bem menos aterrador e, com certeza, nãojustificaria o suicídio.A autocrítica de Kay era ainda mais intensa porque ela achava que havia tidomais oportunidades na vida do que seu irmão, então fez de tudo para tentar compensarisso oferecendo a ele apoio emocional e financeiro durante sua longa lutacontra a depressão. Providenciou sua psicoterapia, ajudou-o a pagar e até arrumoupara ele um apartamento perto do seu, para que pudesse chamá-la sempre que estivessemuito deprimido.Seu irmão estudava Fisiologia na Filadélfia. No dia do seu suicídio, ele procurouKay para perguntar sobre os efeitos do monóxido de carbono no sangue, para uma
apresentação que faria na sala de aula. Como Kay era hematologista e, portanto,especialista no assunto, achou que se tratava de uma pergunta inocente e lhe deu ainformação sem pensar. Não conversou muito com ele porque estava preparandouma palestra importante que faria na manhã seguinte no hospital em que trabalhava.Ele usou essa informação para fazer sua quarta e última tentativa na varandado apartamento de Kay, enquanto ela preparava sua palestra. Kay se consideravaresponsável pela morte dele.Sua aflição era compreensível, considerando-se a situação trágica pela qual haviapassado. Durante as primeiras sessões de terapia, ela descreveu por que se culpavae por que estava convencida de que seria melhor morrer:Eu tinha assumido a responsabilidade pela vida do meu irmão. E falhei, por isso mesinto responsável pela morte dele. Isso prova que não o apoiei devidamente como deveria.Eu devia saber que ele estava numa situação crítica, e não tomei nenhuma atitude.Quando olho para trás, parece óbvio que ele ia tentar cometer suicídio outra vez. Já haviafeito três tentativas anteriores. Se tivesse lhe perguntado quando me procurou, poderiater salvado sua vida. Senti raiva dele em muitas ocasiões no último mês antes de ele morrere, com toda a franqueza, às vezes ele era um fardo e uma frustração para mim. Certa vez,lembro de ter ficado irritada e dizer a mim mesma que talvez fosse melhor mesmo queele estivesse morto. Eu me sinto terrivelmente culpada por isso. Talvez quisesse que elemorresse! Eu sei que o deixei triste, e por isso acho que mereço morrer.Kay estava convencida de que sua agonia e sentimento de culpa eram pertinentese tinham fundamento. Por ser uma pessoa extremamente ética, com umaformação católica rigorosa, ela achava que era esperado que fosse castigada e sofresse.Eu sabia que havia algo de errado no seu raciocínio, mas não consegui penetrarmuito em sua irracionalidade durante várias sessões, porque ela era tão brilhantee persuasiva que conseguiu argumentar de forma convincente contra si mesma.Cheguei quase a acreditar também que sua dor dor emocional era “realista”. Então, achave que eu esperava que pudesse libertá-la de sua prisão mental ocorreu-me derepente. O erro que ela estava cometendo era o número dez discutido no CapítuloIII ‒ a personalização.Na quinta sessão de terapia, usei essa descoberta para questionar as concepçõesequivocadas no ponto de vista da Kay. Antes de mais nada, enfatizei que, se ela fosseresponsável pela morte de seu irmão, precisaria ter sido a causa dela. Como a causado suicídio não é conhecida, nem mesmo pelos especialistas, não havia razão paraconcluir que ela era a causa.Eu disse a ela que, se tentássemos adivinhar a causa do seu suicídio, seria a suaconvicção errônea de que era uma pessoa sem valor, um caso perdido, e que sua vidanão valia a pena. Como ela não tinha controle sobre o pensamento dele, não podiaser responsável pelas suposições irracionais que o fizeram acabar com a sua
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apresentação que faria na sala de aula. Como Kay era hematologista e, portanto,
especialista no assunto, achou que se tratava de uma pergunta inocente e lhe deu a
informação sem pensar. Não conversou muito com ele porque estava preparando
uma palestra importante que faria na manhã seguinte no hospital em que trabalhava.
Ele usou essa informação para fazer sua quarta e última tentativa na varanda
do apartamento de Kay, enquanto ela preparava sua palestra. Kay se considerava
responsável pela morte dele.
Sua aflição era compreensível, considerando-se a situação trágica pela qual havia
passado. Durante as primeiras sessões de terapia, ela descreveu por que se culpava
e por que estava convencida de que seria melhor morrer:
Eu tinha assumido a responsabilidade pela vida do meu irmão. E falhei, por isso me
sinto responsável pela morte dele. Isso prova que não o apoiei devidamente como deveria.
Eu devia saber que ele estava numa situação crítica, e não tomei nenhuma atitude.
Quando olho para trás, parece óbvio que ele ia tentar cometer suicídio outra vez. Já havia
feito três tentativas anteriores. Se tivesse lhe perguntado quando me procurou, poderia
ter salvado sua vida. Senti raiva dele em muitas ocasiões no último mês antes de ele morrer
e, com toda a franqueza, às vezes ele era um fardo e uma frustração para mim. Certa vez,
lembro de ter ficado irritada e dizer a mim mesma que talvez fosse melhor mesmo que
ele estivesse morto. Eu me sinto terrivelmente culpada por isso. Talvez quisesse que ele
morresse! Eu sei que o deixei triste, e por isso acho que mereço morrer.
Kay estava convencida de que sua agonia e sentimento de culpa eram pertinentes
e tinham fundamento. Por ser uma pessoa extremamente ética, com uma
formação católica rigorosa, ela achava que era esperado que fosse castigada e sofresse.
Eu sabia que havia algo de errado no seu raciocínio, mas não consegui penetrar
muito em sua irracionalidade durante várias sessões, porque ela era tão brilhante
e persuasiva que conseguiu argumentar de forma convincente contra si mesma.
Cheguei quase a acreditar também que sua dor dor emocional era “realista”. Então, a
chave que eu esperava que pudesse libertá-la de sua prisão mental ocorreu-me de
repente. O erro que ela estava cometendo era o número dez discutido no Capítulo
III ‒ a personalização.
Na quinta sessão de terapia, usei essa descoberta para questionar as concepções
equivocadas no ponto de vista da Kay. Antes de mais nada, enfatizei que, se ela fosse
responsável pela morte de seu irmão, precisaria ter sido a causa dela. Como a causa
do suicídio não é conhecida, nem mesmo pelos especialistas, não havia razão para
concluir que ela era a causa.
Eu disse a ela que, se tentássemos adivinhar a causa do seu suicídio, seria a sua
convicção errônea de que era uma pessoa sem valor, um caso perdido, e que sua vida
não valia a pena. Como ela não tinha controle sobre o pensamento dele, não podia
ser responsável pelas suposições irracionais que o fizeram acabar com a sua