antidepressão a revolucionária terapia do bem-estar(1)(1)

adilio.mouracosta
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13.08.2023 Views

física, como uma amputação ou cegueira, diminuem a capacidade de ser feliz. Osamigos tendem a oferecer compreensão e simpatia, achando que isso representauma reação humana e “realista”. No entanto, o caso pode ser exatamente o contrário.O sofrimento emocional pode ser causado mais por um pensamento deformadoque por um corpo assim. Numa situação como essa, uma reação simpática podeter o efeito indesejável de reforçar a autopiedade e alimentar a ideia de que o deficienteestá condenado a ter menos alegria e satisfação que os outros. Por outrolado, quando o indivíduo afetado ou algum dos membros da família aprende a corrigiras distorções em seu pensamento, isso pode resultar numa vida emocional plenae gratificante.Por exemplo, Fran é uma mulher de 35 anos, mãe de dois filhos, que começoua apresentar sintomas de depressão quando a perna direita de seu marido ficou paralisadapara sempre por causa de uma lesão na coluna. Durante seis meses, elaprocurou alívio para sua sensação cada vez maior de desespero, e fez uma série detratamentos dentro e fora de hospitais, que incluíram o uso de antidepressivos eterapia de eletrochoque. Nada disso ajudou. Ela estava com depressão grave quandochegou a mim, e achava que seus problemas não tinham solução.Aos prantos, descreveu a frustração que sentia ao tentar lidar com a mobilidadereduzida de seu marido:Toda vez que vejo outros casais fazendo coisas que não podemos fazer, fico comlágrimas nos olhos. Olho para os casais fazendo caminhadas, pulando na piscina ou nomar, andando de bicicleta, e isso me dói. Seria muito difícil para o John e eu fazermoscoisas assim. Para eles isso é uma coisa à toa, como costumava ser para nós. Seria maravilhosose pudéssemos fazer isso agora. Mas você sabe, eu sei, e o John também sabe ‒ quenão podemos.No início, eu também tinha a sensação de que o problema de Fran era realista.Afinal, eles não podiam fazer muitas coisas que a maioria de nós pode fazer. E podemosdizer o mesmo das pessoas idosas, e também das que são cegas, surdas outiveram um membro amputado.Na verdade, se formos pensar, todos nós temos limitações. Então, será que todosnós deveríamos ser infelizes...? Estava intrigado com isso, quando a distorção deFran me veio à cabeça de repente. Você sabe qual é? Dê uma olhada na lista na p. 60agora e veja se consegue identificar... isso mesmo, a distorção que levou ao sofrimentodesnecessário de Fran foi o filtro mental. Fran estava identificando e insistindoem toda e qualquer atividade que não estivesse disponível para ela. Ao mesmo tempo,as muitas coisas que ela e John podiam ou poderiam fazer juntos não entravamem sua mente consciente. Não admira que ela achasse a vida triste e vazia.

A solução revelou-se incrivelmente simples. Eu propus a Fran o seguinte:Vamos supor que, em casa, entre as sessões, você fizesse uma lista de todas as coisasque você e o John podem fazer juntos. Em vez de se concentrar nas coisas que vocês nãopodem fazer, aprenda a se concentrar nas que vocês podem. Eu, por exemplo, adorariair à lua, mas acontece que não sou astronauta, por isso não é provável que algum dia eutenha essa oportunidade. Ora, se eu ficar insistindo no fato de que na minha profissão ena minha idade é extremamente improvável que algum dia eu possa chegar à lua, possoficar muito chateado. Por outro lado, há muitas coisas que eu posso fazer e, se eu meconcentrar nelas, não me sentirei desapontado. Então, quais seriam as coisas que você eo John podem fazer a dois?Fran: Bom, nós ainda gostamos da companhia um do outro. Saímos para jantar,e somos companheiros.David: Certo. O que mais?Fran: Passeamos de carro juntos, jogamos cartas. Vamos ao cinema, ao bingo.Ele está me ensinando a dirigir...David: Veja, em menos de 30 segundos você já citou seis coisas que podem fazerjuntos. Vamos supor que tivesse até a próxima sessão para continuara lista. Quantos itens você você acha que poderia encontrar?Fran: Um monte. Eu poderia citar coisas que nunca pensamos em fazer, talvezalgo incomum como saltar de paraquedas.David: Isso mesmo. Pode até pensar em coisas mais ousadas. Tenha em menteque você e o John, na verdade, podem ser capazes de fazer muitas coisasque está presumindo que não possam. Por exemplo, você me disseque não podem ir à praia. Comentou o quanto gostaria de nadar. Poderiamir a uma praia um pouco mais retirada para que não precisassemficar tão constrangidos? Se eu estivesse numa praia e você e o John estivessemlá, sua deficiência física não faria a menor diferença para mim.Aliás, recentemente estive numa linda praia na costa norte do LagoTahoe, na Califórnia, com minha esposa e a família dela. Estávamosnadando, quando de repente fomos parar numa enseada que tinha umapraia de nudismo, e lá estava aquela molecada toda, sem roupa nenhuma.É claro que eu não fiquei olhando para nenhum deles, quero deixarbem claro! Mesmo assim, reparei por acaso que um dos rapazes nãotinha a perna direita do joelho para baixo, e ele estava lá se divertindojunto aos outros. Por isso, não estou absolutamente convencido de quesó porque alguém é deficiente ou não tem um dos membros não pode irà praia e se divertir. O que você acha?Algumas pessoas podem debochar da ideia de que um problema tão “difícil ereal” possa ser tão facilmente resolvido, ou de que uma depressão intratável como a

física, como uma amputação ou cegueira, diminuem a capacidade de ser feliz. Os

amigos tendem a oferecer compreensão e simpatia, achando que isso representa

uma reação humana e “realista”. No entanto, o caso pode ser exatamente o contrário.

O sofrimento emocional pode ser causado mais por um pensamento deformado

que por um corpo assim. Numa situação como essa, uma reação simpática pode

ter o efeito indesejável de reforçar a autopiedade e alimentar a ideia de que o deficiente

está condenado a ter menos alegria e satisfação que os outros. Por outro

lado, quando o indivíduo afetado ou algum dos membros da família aprende a corrigir

as distorções em seu pensamento, isso pode resultar numa vida emocional plena

e gratificante.

Por exemplo, Fran é uma mulher de 35 anos, mãe de dois filhos, que começou

a apresentar sintomas de depressão quando a perna direita de seu marido ficou paralisada

para sempre por causa de uma lesão na coluna. Durante seis meses, ela

procurou alívio para sua sensação cada vez maior de desespero, e fez uma série de

tratamentos dentro e fora de hospitais, que incluíram o uso de antidepressivos e

terapia de eletrochoque. Nada disso ajudou. Ela estava com depressão grave quando

chegou a mim, e achava que seus problemas não tinham solução.

Aos prantos, descreveu a frustração que sentia ao tentar lidar com a mobilidade

reduzida de seu marido:

Toda vez que vejo outros casais fazendo coisas que não podemos fazer, fico com

lágrimas nos olhos. Olho para os casais fazendo caminhadas, pulando na piscina ou no

mar, andando de bicicleta, e isso me dói. Seria muito difícil para o John e eu fazermos

coisas assim. Para eles isso é uma coisa à toa, como costumava ser para nós. Seria maravilhoso

se pudéssemos fazer isso agora. Mas você sabe, eu sei, e o John também sabe ‒ que

não podemos.

No início, eu também tinha a sensação de que o problema de Fran era realista.

Afinal, eles não podiam fazer muitas coisas que a maioria de nós pode fazer. E podemos

dizer o mesmo das pessoas idosas, e também das que são cegas, surdas ou

tiveram um membro amputado.

Na verdade, se formos pensar, todos nós temos limitações. Então, será que todos

nós deveríamos ser infelizes...? Estava intrigado com isso, quando a distorção de

Fran me veio à cabeça de repente. Você sabe qual é? Dê uma olhada na lista na p. 60

agora e veja se consegue identificar... isso mesmo, a distorção que levou ao sofrimento

desnecessário de Fran foi o filtro mental. Fran estava identificando e insistindo

em toda e qualquer atividade que não estivesse disponível para ela. Ao mesmo tempo,

as muitas coisas que ela e John podiam ou poderiam fazer juntos não entravam

em sua mente consciente. Não admira que ela achasse a vida triste e vazia.

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