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antidepressão a revolucionária terapia do bem-estar(1)(1)

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gem psicanalítica ortodoxa para o tratamento da depressão. Nesse estudo clássico,

Freud declarou que, quando o paciente afirma ser indigno, incapaz e moralmente

desprezível, ele deve ter razão. Consequentemente, era inútil para o terapeuta

discordar do paciente. Freud acreditava que o terapeuta deveria concordar que o

paciente é, de fato, desinteressado, incapaz de amar, mesquinho, egocêntrico e desonesto.

Essas qualidades descrevem o verdadeiro eu de um ser humano, segundo

Freud, e o processo da doença só torna a verdade mais evidente:

O doente descreve-nos seu ego como indigno, incapaz e moralmente desprezível; ele

se recrimina, se insulta e espera ser rejeitado e castigado... Tanto do ponto de vista científico

quanto terapêutico seria igualmente infrutífero contradizer o doente que faz tais

acusações contra o seu ego. De algum modo ele certamente deve estar certo [grifo meu] e

descrever algo que se comporta tal como lhe parece. E de fato, logo teremos de confirmar,

sem restrições, algumas de suas afirmações. Ele realmente é tão carente de interesses, tão

incapaz para o amor e para o trabalho como afirma [grifo meu]... Em outras de suas autoacusações,

ele nos parece igualmente ter razão e capta a verdade apenas com mais agudeza

do que outros, não melancólicos [grifo meu]. Quando, em uma exacerbada autocrítica,

ele se descreve como um homem mesquinho, egoísta, desonesto e dependente, que sempre

só cuidou de ocultar as fraquezas de seu ser, talvez a nosso ver ele tenha se aproximado

bastante do autoconhecimento [grifo meu], e nos perguntamos por que é preciso adoecer

para chegar a uma verdade como essa.

Sigmund Freud, Luto e melancolia 16

O modo como um terapeuta lida com o seu sentimento de incompetência é crucial

para a sua cura, uma vez que a sua sensação de inutilidade é uma peça fundamental

da depressão. A questão também possui uma grande relevância filosófica ‒ será

que a deficiência é inerente à natureza humana? Os pacientes com depressão, na realidade,

estão encarando a verdade definitiva sobre si mesmos? E, em última análise,

qual é a fonte da verdadeira autoestima? Na minha opinião, essa é a questão mais

importante com a qual você vai se confrontar.

Primeiro, você não pode ganhar valor por meio do que faz. As realizações podem

trazer-lhe satisfação, mas não felicidade. O valor próprio baseado nas realizações

é uma “pseudoestima”, que não é autêntica! Todos os meus vários pacientes

bem-sucedidos, mas deprimidos, concordariam. Também não se pode ter um valor

próprio real baseado na aparência, no talento, na fama ou fortuna. Marilyn Monroe,

Mark Rothko, Freddie Prinz e uma infinidade de pessoas famosas vítimas de suicídio

atestam essa triste verdade. O amor, a aprovação, a amizade ou a capacidade

de manter estreitas relações de afeto também não podem acrescentar um pingo de

16. FREUD, S. Mourning and Melancholia. In:________ . Collected Papers, 1917. Trad. Joan Riviere.

Londres: Hogarth Press, 1952. v. VI. Cap. 8, 155-6 [Edição em português: FREUD, S. Luto e melancolia.

Trad. Marilene Carone. São Paulo: Cosac Naify, 2011. (N.T.)]

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