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eBook-Caminhos_da_Fe-Augustus_NicodemusB

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CAMINHOS DA FÉ

UMA EXPOSIÇÃO DOS

SALMOS DE ROMAGEM


© 2018 Augustus Nicodemus Lopes

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998.

É expressamente proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por quaisquer

meios (eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, por

escrito, da editora.

Estação da Fé

Editor responsável: Renato Juneo

Revisão: Helen Bampi

Capa: Salvio Bhering

diagramação: Jasiene Guimarães

Impressão e Acabamento: Estação da Fé

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

_________________________________________________

Nicodemus, Augustus

Caminhos da fé

1. ed. – Goiânia: Estação da Fé, 2018

ISNB 978856566244-4

1. Cristianismo 2. Fé 3. Palavra de Deus 4. Vida cristã I.Título

13-04730 CDD-234

Índices para catálogo sistemático:

1. Ensino bíblico : Doutrina cristã 234

_________________________________________________

Todos os direitos desta edição reservados para Estação da Fé

Caixa postal 246 – Goiânia – GO – CEP 74001-970

Tel.: (62) 4101.1998 / (62) 3643-5251 – www.estacaodafe.com.br

1ª edição - Maio de 2018


1 a Edição

Goiânia

2018



ÍNDICE

7 Introdução

9 Salmo 120 - Enfrentando a mentira

19 Salmo 121 - Enfrentando os perigos da jornada

27 Salmo 122 - Jerusalém e o tabernáculo sombra de Cristo e

Sua igreja

39 Salmo 123 - Enfrentando a hostilidade

49 Salmo 124 - Se não fosse o Senhor

59 Salmo 125 - Enfrentando a adversidade

71 Salmo 126 - Como viver sempre alegre

83 Salmo 127 - Deus em primeiro lugar

95 Salmo 128 - A felicidade do que teme a Deus

107 Salmo 129 - Enfrentando o abuso

121 Salmo 130 - Das profundezas

135 Salmo 131 - Como vencer o orgulho do coração

145 Salmo 132 - Abençoarei a tua geração

159 Salmo 133 - Quando os irmãos vivem unidos

169 Salmo 134 -Abençoando e sendo abençoado



INTRODUÇÃO

Este livro é a exposição de uma série de salmos chamados

Salmos de Romagem, que tem início no Salmo 120 e vai

até o 134. É uma espécie de coleção de salmos dentro do

livro de Salmos. Como o nome sugere, eram salmos escritos para

serem entoados pelos peregrinos de Israel a caminho do Monte

Sião, em Jerusalém, para adorar no templo. Romagem, por sua

vez, significa uma peregrinação, uma caminhada com o objetivo

de visitar um lugar religioso. A Lei de Moisés mandava que os

judeus, pelo menos uma vez ao ano, fossem até Jerusalém, até o

templo, para adorar a Deus e fazer ofertas e sacrifícios. A alguma

das festas judaicas, o judeu tinha que comparecer; então, quando

chegava a época das festas, faziam-se caravanas de romeiros

judeus que saíam de toda parte na Palestina — e às vezes fora

dela — e caminhavam para Jerusalém levando animais para

serem sacrificados. Iam com as famílias, dormiam em tendas à

margem do caminho. Durante essas caminhadas, eles cantavam

esses salmos, do 120 ao 134. Cantavam outros também, mas

esses foram designados exatamente para aquela ocasião, por

isso é que eles são chamados de Salmos de Romagem. Era para

serem entoados durante a peregrinação que os judeus faziam até

Jerusalém.

O rei Davi escreveu pelo menos quatro desses salmos —

122, 124, 131 e 134 — e seu filho Salomão escreveu o 127; os

outros dez são anônimos. Os quinze salmos que compõem esta

coleção falam dos sentimentos do povo de Deus nas mais diversas

circunstâncias. Eles falam de angústia, esperança, confiança,

tristeza, alegria, dor, vingança, adversidade, queda pelo pecado,

confissão do pecado, tristeza pelos erros e reconciliação. Ou seja,


CAMINHOS DA FÉ

esses salmos expressam quase toda a gama de sentimentos e de

experiências que nós humanos, caídos, redimidos pela graça de

Deus, experimentamos aqui neste mundo.

Porém, o tema central de todos eles é que nós devemos

buscar a Deus em meio a todas essas circunstâncias. Esses

sentimentos descritos nos Salmos de Romagem ocorrem enquanto

estamos peregrinando. Nós mesmos estamos em peregrinação e

sabemos que o nosso lar não é aqui. Estamos caminhando para o

templo espiritual, a Jerusalém celestial, o reino eterno que Deus

preparou antes da fundação do mundo. Somos romeiros aqui

neste mundo, estamos caminhando. Infelizmente, há muitas

pessoas que não veem assim. Elas vivem e agem como se fossem

morar aqui para sempre, não conseguem ver mais além do que a

realidade presente.

Esses salmos, portanto, são apropriados para nos instruir

durante a nossa caminhada, como nós devemos nos comportar

diante dessas situações. Eles nos lembram de que somos romeiros

a caminho de nosso lar celestial. Eles nos mostram como Deus

nos trata em todas essas situações, encorajam-nos, nos animam e

nos fortalecem na fé que há em Cristo Jesus.

Estas exposições se baseiam em uma série de mensagens

que preguei nesses salmos nos cultos matutinos da Primeira Igreja

Presbiteriana de Goiânia. Minha oração é que esta obra seja uma

bênção na vida dos leitores.

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SALMO 120

ENFRENTANDO A MENTIRA

Na minha angústia, clamo ao Senhor, e

ele me ouve. Senhor, livra-me dos lábios

mentirosos, da língua enganadora. Que te

será dado ou que te será acrescentado,

ó língua enganadora? Setas agudas do

valente e brasas vivas de zimbro. Ai de mim,

que peregrino em Meseque e habito nas

tendas de Quedar. Já há tempo demais que

habito com os que odeiam a paz. Sou pela

paz; quando, porém, eu falo, eles teimam

pela guerra.

Este livro apresenta uma série de mensagens sobre

os Salmos de Romagem. E o primeiro é exatamente este, o

Salmo 120. Nele, o salmista está refletindo sobre uma situação

angustiosa pela qual está passando. Ele habita entre gente hostil

a ele, gente que usa a mentira e a bajulação para tirar a sua paz e

para destruí-lo, e ele não tem o que fazer. Sente-se encurralado.

Então ele clama a Deus, pedindo-lhe que o liberte daqueles

mentirosos, que Deus o livre de quem o calunia e que lhe faz o

mal. E o Senhor responde, mas de uma forma diferente: em vez

de tirar os lábios mentirosos e os caluniadores, Deus, na verdade,


CAMINHOS DA FÉ

faz com que o salmista olhe para aquela situação através de uma

perspectiva diferente.

Eu penso que este salmo se aplica muito bem a cada um

de nós que pelo menos uma vez na vida já passou por situação

parecida. Assim, vamos ver em primeiro lugar a situação

angustiosa do salmista, depois a oração que ele fez, em seguida

a maneira como ele posteriormente olha para a situação e o seu

lamento final, junto à sua decisão de perseverar em meio àquele

povo.

Ele diz no verso 2: Senhor, livra-me dos lábios mentirosos e

da língua enganadora. Nisso, ele revela o que estava lhe trazendo

angústia. Havia pessoas que estavam mentindo sobre ele; é o que

lábios mentirosos quer dizer. Provavelmente se trata de pessoas

que estavam difamando o seu nome, caluniando, injuriando e

espalhando inverdades a seu respeito. Ele estava sendo alvo de

uma campanha de difamação e de assassinato de caráter, o seu

nome estava sendo vilipendiado, pessoas estavam falando dele,

e não estavam falando a verdade, porque provavelmente não

o conheciam ou porque estavam repetindo aquilo que haviam

ouvido.

Essas pessoas não queriam paz com ele (120.6-7); queriam,

na verdade, polêmica, porque ele diz que mora no meio de gente

que odeia a paz e que teima pela guerra, mesmo quando ele quer

ter paz com essas pessoas. Então ele pede a Deus: Senhor, livra-me

dos lábios mentirosos e da língua enganadora (120.2). O salmista

se vê ali naquela situação em que é alvo de mentiras, calúnias,

bajulação e falsidade.

Ele estava nessa situação terrível e, como tal, em uma

profunda angústia. Observe o verso primeiro: Na minha angústia

clamo ao Senhor, e ele me ouve. A palavra angústia aqui denota

alguém que está preso em uma jaula, ou seja, ele se sentia

encurralado, sem saída; ele olhava aquela situação toda e não

sabia o que fazer. Para onde quer que olhasse, não havia saída, as

mentiras e calúnias estavam aumentando e ele se sentia como que

prensado à parede.

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SALMO 120 - ENFRENTANDO A MENTIRA

Em seguida, nós lemos sobre a sua oração: Na minha

angústia clamo ao Senhor, e ele me ouve (120.1-2). Aqui, na

verdade, ele não está somente dizendo o que está fazendo, mas

está também se lembrando de outras situações em que clamou a

Deus, e Deus o ouviu. Ele antes já havia buscado a Deus, e Ele

o tinha escutado. Por isso é que ele agora se anima a fazer isso

novamente. Ele se sente enjaulado e angustiado, mas lembra que

antes já havia orado a Deus, e Deus o escutara. Essa é a motivação

que o leva a buscar ao Senhor.

Agora observe os três pontos da oração dele:

Primeiro: ele clama. Ou seja, é mais do que pedir. O

clamor é um pedido intenso, fervoroso e cheio de desejo, mostra

a dependência que a pessoa tem de Deus e revela a sua humildade.

É um grito de socorro de alguém que se sente encurralado.

Segundo: o nome que ele usa para se referir a Deus. No

Antigo Testamento há vários nomes que são usados para se referir

a Deus. Aqui o salmista usa o nome com o qual Deus se revelou

à nação de Israel: YAHWEH, “Eu sou o que sou, eu sou o Deus

que existe desde toda a eternidade, não há como me definir,

porque eu sou aquilo que sou e não tem ninguém igual a mim”.

Foi com esse nome que Deus se revelou a Moisés e mais tarde

na aliança que fez com o Seu povo. E é a esse Deus, o Deus do

pacto, da aliança, o Deus Todo-Poderoso, que ele clama, a quem

ele pede socorro, porque ele não vê saída para aquela situação em

que se encontra.

Terceiro: ele clama em sua angústia. Na minha angústia

clamo ao Senhor. Nem todos fazem isso quando estão angustiados.

Com muita frequência, quando as pessoas estão se sentindo

angustiadas e desesperadas, elas blasfemam de Deus, questionam

a Deus, perguntando por que isso lhes está acontecendo,

abandonam ao Senhor ou deixam de buscá-lo, endurecem o

coração e não poucas vezes se afundam no pecado mais e mais.

Porém, esse homem, em sua angústia, clamou a Deus e pediu

socorro em meio a todo aquele sofrimento.

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CAMINHOS DA FÉ

Deus já o havia atendido e haveria, então, de livrá-lo mais

uma vez. No verso 2, ele clama angustiosamente ao Senhor que o

livre dos lábios mentirosos e da língua enganadora, pede que Deus

remova, mande para longe aqueles mentirosos que estão falando

dele, aquelas pessoas que estão promovendo aquela campanha de

difamação contra ele. Geralmente essa é a oração que nós fazemos

quando estamos diante de uma situação de aperto. O próprio

Senhor Jesus, no Getsêmani, orou de uma forma semelhante

diante da perspectiva da cruz, da traição e dos soldados que se

aproximavam para prendê-lo e levá-lo à morte (Mt 26.39).

O apóstolo Paulo também, ao receber um espinho na

carne, causa de grande sofrimento e angústia, três vezes orou

a Deus para que o removesse (2Co 12.7-8). É a oração mais

natural que nós fazemos, quando estamos passando por alguma

dificuldade, problemas financeiros ou de relacionamento. Nós

pedimos que Deus remova a causa do sofrimento, que leve para

longe esse tropeço ou as pessoas que nos estão fazendo mal, que

resolva a situação.

Porém, vemos que Deus não atendeu ao pedido do

salmista exatamente daquela forma (120.3-4). Ele agora olha

para a situação através de outra perspectiva, do ponto de vista de

Deus, pois passa a refletir o que é que vai acontecer com aqueles

mentirosos e enganadores que estavam atacando o seu próximo.

E então ele fala com aquelas pessoas dirigindo-se à língua delas,

como se a língua fosse uma pessoa, com a seguinte pergunta:

Que te será dado, ou que te será acrescentado, ó língua enganadora?

Em outras palavras, ele começa a pensar no que esse pessoal iria

ganhar, o que é que Deus lhes iria dar pelo que estavam fazendo.

Deus, então, lhe responde, afirmando que vai retribuir

a essas pessoas de acordo com o pecado que elas estavam

cometendo: Setas agudas do valente, e brasas vivas de zimbro

(120.4). Naquela época, uma das armas de guerra mais letais

era a flecha. O guerreiro levava uma aljava de setas muito bem

polidas e afiadas que eram mortais se disparadas no lugar certo.

A língua enganadora é como uma seta, os lábios mentirosos são

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SALMO 120 - ENFRENTANDO A MENTIRA

como flechas que são disparadas, penetram no coração, na alma

da pessoa, e causam um sofrimento muito grande. Deus, então,

como é justo, vai fazer com que os mentirosos experimentem

o seu próprio remédio, mandando contra eles setas agudas do

valente.

E quem é que vai mandar essas setas? Não é o salmista,

ele não está pagando o mal com o mal, não está retribuindo da

mesma forma, mas ele espera em Deus, que Ele faça justiça no

tempo certo. Deus haverá de cuidar deles. E não serão somente

setas afiadas, são mencionadas aqui brasas vivas de zimbro.

Zimbro era uma madeira muito densa e que era excelente para

fazer carvão, porque fazia um carvão muito quente e que durava

bastante. Então o salmista diz: “Sabe o que é que Deus vai dar

a você, língua enganadora, lábio mentiroso, que difama, que

espalha a mentira e a calúnia, causando incêndios, causando fogo

e desgraça em meio ao povo de Deus? Deus vai colocar brasas

vivas de zimbro sobre você, ou seja, Deus vai lhe castigar na

mesma medida em que você tem feito o mal”.

O salmista, a princípio, havia pedido a Deus para livrá-lo

desses mentirosos. Mas Deus lhe manda ficar exatamente onde

está, ouvindo as mentiras e as calúnias. Porque um dia Ele irá

fazer justiça. Talvez não seja exatamente neste momento da nossa

peregrinação, mas no final da peregrinação, quando tivermos

chegado ao novo céu e à nova Terra, quando Cristo vier e instalar

o Seu reino. Deus, então, haverá de retribuir com justiça contra

todo o pecado que foi cometido aqui neste mundo, e todo pecado

receberá o justo juízo. É com isso que o salmista se consola. Agora

ele não está mais na expectativa de sair daquela situação, de os

mentirosos serem removidos, mas ele permanece ali e entrega o

caso a Deus, pois o Senhor haverá de fazer justiça. Ele conhece a

verdade e, no tempo certo do Senhor, Ele haverá de fazer justiça

e juízo.

Em seguida, o salmista lamenta a sua situação, mas está

disposto a procurar a paz e a perseverar em meio àquelas pessoas

ainda que se sinta muito cansado e desanimado com a situação

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CAMINHOS DA FÉ

(120.5-7). Ele lamenta, no verso 5: Ai de mim. Não faz mal que

façamos isso de vez em quando; uma campanha de difamação não

é algo fácil de combater, ser alvo de mentiras, críticas, calúnias,

quando não são verdadeiras. Então, quando essas coisas não

procedem, ai de mim! Não é errado você chegar diante de Deus

e dizer: “Deus, estou sofrendo, estou passando por dificuldades,

estou sentindo em meu coração todo esse sofrimento”.

O salmista expressa o sentimento dele, dizendo: Ai de mim,

que peregrino em Meseque, e habito nas tendas de Quedar (120.5).

Meseque e Quedar eram duas regiões opostas e muito distantes

de Israel. Meseque ficava na Ásia Menor, ao norte, uma região

habitada por pagãos, e Quedar era na Arábia, local de uma tribo

pagã hostil, guerreira e predadora. Ninguém pode morar em dois

lugares ao mesmo tempo. O que ele provavelmente está dizendo

é que, mesmo que estivesse entre o povo de Deus, em meio a

pessoas que ele conhecia e com as quais tinha familiaridade, ele

se sentia um estrangeiro, como se morasse em Meseque ou em

Quedar. E ele estava cansado daquela situação, observe o verso 6:

Já há tempo demais que habito com os que odeiam a paz.

As pessoas que estavam promovendo aquela campanha

não queriam paz com ele; na verdade, odiavam-na, e os esforços

que ele fazia pela paz não tinham resultado. Observe o verso 7:

Sou pela paz, quando, porém, eu falo eles teimam pela guerra. Ou

seja, ele estava vivendo em um ambiente hostil, no meio do seu

povo, talvez no meio do povo de Deus ou em um ambiente de

pagãos — o salmo não deixa claro qual era a situação histórica

precisa do salmista — mas, ou entre o povo de Deus ou entre os

pagãos, ele estava se sentindo um estrangeiro no meio de um povo

que queria guerra, que odiava a paz. Ainda assim, ele persevera,

mora ali no meio daquele povo, fala com aquele povo, busca a paz

e a reconciliação com eles, mesmo que falassem mentiras contra

ele e fizessem difamação.

Este salmo tem aplicações práticas bem relevantes para

todos nós, mas eu queria que, antes de você se colocar no lugar do

salmista, você trocasse de posição. Será que algumas vezes não é

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SALMO 120 - ENFRENTANDO A MENTIRA

você o responsável por isso ter acontecido? Por exemplo, será que

nas redes sociais você não está falando mal, criticando, espalhando

boatos e atacando uma pessoa? Ou mesmo pessoalmente, faz

fofoca, fala mal dos outros, comentando sobre os pecados e erros

das outras pessoas e criticando-as? Então, antes de você se colocar

no lugar do salmista, coloque-se no lugar do lábio mentiroso e

pergunte honestamente a Deus se você tem sido instrumento

do pecado para fazer com que essa situação ocorra no meio do

Seu povo. Como é que você está usando a sua língua? Porque

não são poucas as vezes em que situações são criadas exatamente

porque no meio do povo de Deus nós teimamos pela guerra, não

queremos promover a paz, e a melhor maneira de acabar com a

paz é você começar uma campanha de difamação.

Agora que fizemos isso, vamos inverter: somos o salmista.

Talvez você esteja sofrendo com uma campanha de difamação

ou sendo alvo de críticas e de mentiras. Talvez no trabalho, que é

um lugar onde facilmente — e especialmente se é um ambiente

hostil — um crente verdadeiro experimenta esse tipo de coisas,

lábios mentirosos e língua enganadora; talvez na escola, na

universidade ou na família, porque há parentes que nem sempre

vão conosco e sabemos como esse tipo de situação em família é

pior ainda. Há, ainda, o caso de pastores evangelistas, obreiros,

missionários, trabalhando em lugares hostis. É uma situação

muito comum. Não poucas vezes eles vão pregar o Evangelho em

um ambiente ou a um povo que é extremamente hostil, onde a

resistência ao cristianismo é muito grande.

O salmo nos ensina a clamar a Deus em nossa angústia:

Na minha angústia clamo ao Senhor, e ele me ouve. Lembra-nos

de que Deus responde às orações, como o salmista relata aqui.

Ensina-nos a não deixarmos o ressentimento nem a mágoa

entrarem e habitarem em nosso coração; lembra-nos de que nem

sempre Deus responde às nossas orações por livramento, tirando

o incômodo, como Paulo queria que Deus tirasse o espinho na

carne. Conscientize-se de que nem sempre Deus vai livrá-lo de

situações angustiosas como essa removendo a dor e a causa do

15


CAMINHOS DA FÉ

sofrimento, porém Ele quer lhe dar graça para que você diga:

“Deus, eu entrego essas pessoas nas Tuas mãos e, mesmo que elas

busquem a guerra comigo, eu vou continuar a buscar e a promover

a paz”. É assim que a palavra de Deus nos ensina como combater

o mal: é vencer o mal com o bem, é vencer a mentira, a crítica e

a fofoca com oração e busca de paz, e não com ressentimento e

amargura.

Quero finalizar dizendo que este salmo pode ser considerado

— e tem sido considerado por muitos — como sendo um salmo

messiânico, porque quem é que passou por isso de forma perfeita

senão o nosso Senhor e salvador Jesus Cristo? Ele foi caluniado,

vilipendiado, traído, levantaram mentiras e injúrias contra Ele e

finalmente O mataram. Ele falava de paz, mas onde Ele andava

os inimigos iam contra Ele e queriam destruí-lo, por mais que

Ele falasse de paz e do Reino de Deus. Muitos estudiosos acham

que este salmo expressa os sentimentos do Messias, que, mesmo

que estivesse entre nós, foi como um estrangeiro, hostilizado,

perseguido, veio para o que era Seu, e o Seus não O receberam. E

é unido a Ele que você poderá enfrentar essa situação. Não tente

viver isso pelo seu esforço próprio, porque você não vai conseguir.

A nossa reação, quando as mentiras chegam, quando a calúnia e a

crítica se aproximam, é reagir, defender-nos da mesma forma e às

vezes de forma até mais intensa. Você só o conseguirá tendo paz,

humildade, pagando o mal com o bem, orando pelos inimigos e

esperando na graça de Deus mediante Jesus Cristo.

Este salmo, portanto, é um incentivo para que nós

andemos com o Senhor Jesus, que enfrentou e venceu esse tipo

de situação. Por isso, as grandes perguntas que este salmo nos faz

são: estamos unidos a Cristo? É dele que tiramos o poder para

viver neste mundo? Reagimos a essas coisas como Ele reagiu? O

espírito dele habita em nós e nos capacita a viver dessa forma? São

perguntas para que nós nos examinemos e vejamos como é que

reagimos à mentira, à calunia e à fofoca que vêm contra nós. Este

salmo nos mostra como devemos fazer: em oração e dependência

de Deus, perseverança na busca da paz e da reconciliação.

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SALMO 120 - ENFRENTANDO A MENTIRA

ORAÇÃO:

Ó Deus, dá-nos a Tua graça para aprendermos a clamar ao

Senhor em nossa angústia e olhar a situação da Tua perspectiva.

Um dia o Senhor haverá de estabelecer toda a verdade, toda a

justiça. Até esse dia, no final da nossa peregrinação, enquanto

somos romeiros, ajuda-nos a buscar a paz, ajuda-nos, Senhor,

a buscar reconciliação, mesmo contra aqueles que falsamente

nos acusam. Graças te damos, ó Deus, pelo Teu filho Jesus, que

enfrentou a mentira, a língua enganadora e os lábios mentirosos e

saiu vitorioso. Faz com que o poder da ressurreição esteja também

em nosso coração para que façamos da mesma forma. É em nome

dele que oramos. Amém.

17



SALMO 121

ENFRENTANDO OS PERIGOS DA JORNADA

Elevo os olhos para os montes: de onde

me virá o socorro? O meu socorro vem

do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele

não permitirá que os teus pés vacilem; não

dormitará aquele que te guarda. É certo

que não dormita, nem dorme o guarda

de Israel. O Senhor é quem te guarda; o

Senhor é a tua sombra à tua direita. De

dia não te molestará o sol, nem de noite,

a lua. O Senhor te guardará de todo mal;

guardará a tua alma. O Senhor guardará

a tua saída e a tua entrada, desde agora e

para sempre.

O salmo 121 é o segundo da coleção chamada Salmos de

Romagem, que são uma espécie de saltério dentro do livro dos

salmos. Como já foi dito na Introdução, esses salmos formam

uma coleção de hinos que eram cantados pelos peregrinos judeus

quando se dirigiam a Jerusalém, pelo menos uma vez por ano,

para o templo que ficava no Monte Sião, para participar de uma

das três grandes festas dos judeus.

Durante a caminhada, que às vezes poderia durar dias,

esses peregrinos judeus que vinham de cidades da Palestina e de

fora dela caminhavam em direção a Jerusalém e entoavam estes


CAMINHOS DA FÉ

salmos, que falam de muitas experiências que eles passavam, as

quais nós passamos também; tristezas, alegrias, há salmos de

confissão de pecado, outros que falam de esperança… como nós

vimos no capítulo anterior, o salmo 120 fala sobre como lidar

com a calúnia e a mentira quando nos acusam falsamente.

Essa coleção de salmos era muito querida por grandes

homens de Deus através da História, e eu tenho certeza de que

a explicação deles também trará conforto, orientação e sabedoria

para nós, que estamos em nossa peregrinação, caminhando para

a Jerusalém celestial, e passamos por tantos perigos e desafios.

A nossa caminhada é marcada por dificuldades, e estes salmos

nos lembram de como Deus deseja lidar conosco em meio a essa

peregrinação.

O salmo 121 nos lembra de que nós devemos buscar o

socorro de Deus em toda e qualquer situação que enfrentarmos

em nosso caminho neste mundo. Iniciemos com a pergunta do

salmista. No verso primeiro, ele pergunta: De onde me virá o

socorro? Essa pergunta era muito pertinente, porque havia muitos

perigos no caminho do peregrino até chegar a Jerusalém. Havia

perigo de salteadores e ladrões que ficavam esperando aquela

época do ano para fazer o arrastão, assaltando os peregrinos e

levando os seus pertences, quando não a sua própria vida; havia

animais selvagens como leões e ursos; às vezes, o caminho era

íngreme e montanhoso. Dependendo de onde ele vinha, o

peregrino tinha que atravessar uma cordilheira que ficava mais

ao norte de Jerusalém, onde o caminho era pedregoso e sujeito

a deslizamentos de pedras e rochas. Durante o dia, dependendo

da época do ano, o sol era muito escaldante, e as noites eram

extremamente frias. Havia perigos de dia e havia perigos à noite.

Assim, o peregrino a caminho de Jerusalém, o homem temente a

Deus, vulnerável, com sua mulher e filhos, levando animais para

serem sacrificados e muita bagagem, sente a sua vulnerabilidade e

a sua fraqueza e pergunta: De onde me virá o socorro?

Quem poderia socorrê-lo, então, em meio a tantas

dificuldades? Observe que ele faz essa pergunta depois de levantar

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SALMO 121 - ENFRENTANDO OS PERIGOS DA JORNADA

os olhos para os montes: Elevo os olhos para os montes e pergunto

de onde virá o socorro , ou seja, ele faz essa pergunta a si mesmo

depois de ter levantado os olhos para os montes. Havia muitos

montes no caminho do peregrino para Jerusalém, mas eu não

penso que aqui ele esteja se referindo aos montes que cercavam a

estrada. Ele está levantando os olhos para os montes de sua terra

natal ainda distantes, os montes de Jerusalém, especialmente o

Monte Sião, onde estava o templo de Deus e a arca da aliança, o

altar dos sacrifícios, onde os levitas celebravam o culto a Deus e

onde o sacerdote ministrava o perdão de Deus. É para lá que ele

está levantando os olhos.

Quando ele levanta os olhos para o Monte Sião, há uma

súplica, um pedido silencioso àquele que habita em Sião, Àquele

que habita nos montes de Jerusalém. Assim, essa expressão elevo

os meus olhos para os montes é um pedido de socorro ao Deus que

habita no Monte Sião, o Deus que escolheu Jerusalém para ser o

local de Sua habitação. É para lá que ele eleva os seus olhos e é de

lá que ele espera o socorro, como ele diz logo em seguida: O meu

socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra (121.2). Ou seja, ele

sabe que o seu socorro não está na companhia dos homens com

quem ele viaja, não está nas armas que eles estão levando para se

defender ou em algum tipo de equipamento. Não, a confiança e

o socorro dele estão exclusivamente no Senhor que fez os céus e a

terra. Se Deus não o socorrer, o salmista sabe que não virá socorro

de mais ninguém. Se nossa ajuda não vier do alto, ela não virá de

lugar algum.

Por que ele menciona aqui especificamente Deus como

o Criador dos céus e da terra nessa situação? A resposta é

simples: Deus fez os céus e a terra, portanto Ele domina sobre as

circunstâncias, Ele é Senhor de toda a criação, nenhuma criatura

tocará no salmista sem a permissão de Deus, e esse Deus usará

todas as criaturas que Ele quiser para proteger o salmista. As

dificuldades que vão acontecer, vão acontecer no mundo do qual

Deus é Senhor. O socorro do salmista está no Deus que fez todas

as coisas, os céus, a terra, o mar, que criou os ursos, os leões, que

21


CAMINHOS DA FÉ

criou as montanhas, os vales, que criou a raça humana. Ele não

somente criou todas as coisas, mas também preserva e mantém

todas elas e nos acompanha, Ele está conosco. Daí a esperança

do salmista no verso 2, e o seu coração descansa diante de todos

aqueles perigos.

Em seguida, até o verso 8, ele dá uma explicação do que

é que Deus faz para socorrer o Seu povo aqui neste mundo. Ele

pergunta: De onde me virá o socorro? E então responde: O meu

socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Pode ser o próprio

Deus respondendo: “Eu, o Senhor que fez os céus e a terra, não

permitirei que o teu pé vacile; vou te guardar de todo mal”. Pode

ser uma resposta do próprio Deus ou pode ser, de repente, uma

declaração de seu companheiro de viagem: “Olhe, Ele não deixará

que o teu pé vacile, Ele vai te guardar de todo mal, vai guardar tua

entrada, vai guardar tua saída”. Ou, mais provavelmente, é uma

explicação que o salmista está dando a si mesmo, pois ele olha

para os montes e diz: De onde virá o seu socorro? O coração dele

diz: Meu socorro vem de Deus que fez os céus e a terra, e aí ele pensa:

“Mas como é que Deus vai me guardar aqui neste mundo? Que

tipo de proteção e de socorro Deus vai me dar aqui neste mundo?”.

E então ele começa a falar consigo mesmo, assegurando-se de que

Deus haverá de protegê-lo.

Isso não é recitação de um mantra e tampouco pensamento

positivo. Porque sabemos que há pessoas que têm essa prática

de, quando estão em uma situação difícil, começar a rezar o Pai

Nosso como se a repetição de determinadas verdades bíblicas

em si pudesse ajudar-lhe ou tirar daquela dificuldade. O que o

salmista faz aqui é falar consigo mesmo. Ele já sabe que o seu

socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra e aí começa a

pregar para si mesmo. Essa pregação que ele faz de que Deus o

guarda é resultado das promessas que ele já conhece, resultado

da história do seu povo. Ele lembra quem é Deus, o que Ele fez

e qual é o poder dele disponível para socorrê-lo e para ajudá-lo.

Neste capítulo, você terá o resumo dessas promessas que

Deus fez e faz ao Seu povo de guardá-lo em todo tempo. São

22


SALMO 121 - ENFRENTANDO OS PERIGOS DA JORNADA

quatro promessas desse Deus, feitas em socorro ao Seu povo. A

primeira é que Deus promete que vai guardá-lo em todo lugar:

Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que

te guarda. É certo que não dormita, nem dorme o guarda de Israel

(121.3-4). Como eu disse, o caminho era longo e variado, havia

hora em que era subida, hora em que era descida; hora em que

o caminho era pedregoso, hora em que passava por campinas.

Deus está dizendo ao peregrino que, onde quer que ele estivesse

no caminho, Ele não iria permitir que o seu pé tropeçasse, Ele

iria guardar o seu pé, fortalecer os seus pés no caminho para que

ele não tropeçasse em momento algum. Deus lhe diz que não irá

nem cochilar, mas vai ficar atento, os Seus olhos estarão abertos

sobre o salmista durante o caminho; em todo lugar que ele fosse,

Deus o estaria vigiando. Veja o que diz o final do verso 3: Não

dormitará. Dormitar é cochilar, ou seja, não cochilará Aquele que

te guarda, não cochilará nem dormirá o Guarda de Israel.

Deus não somente promete que vai firmar os pés do

salmista para que ele possa caminhar em todo terreno, mas diz

que vai fazer isso com atenção. Sabemos que um vigia que cochila

não é de confiança. Mas, quando sabemos que há uma vigia que

não dorme à noite, o nosso coração fica tranquilo. Deus promete

que Ele não cochila e não dorme quando está cuidando de nós,

Ele vai firmar o nosso pé.

A segunda promessa é a de que Deus vai guardar o

peregrino em todas as ocasiões: O Senhor é quem te guarda; o

Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol,

nem de noite, a lua (121.5-6). O sol representa os perigos do dia

e ele próprio trazia ameaças para a integridade dos viajantes. Os

raios muito fortes e a insolação eram uma ameaça bem real. A

lua representa os perigos da noite. Então, de dia ou à noite, Deus

haveria de preservar o Seu povo na caminhada para Jerusalém. No

verso 5, Deus se apresenta como sendo a sombra do peregrino.

A frase O Senhor é a tua sombra à tua direita pode significar a

própria sombra do peregrino. O significado, então, seria este:

aonde vamos, a nossa sombra vai. Deus está dizendo que Ele é

23


CAMINHOS DA FÉ

como a sombra, a nossa sombra, ou seja, está ligado a nós. Talvez

a figura seja da sombra lançada pelos montes ou pelas árvores e

que servia de refrigério durante o maior calor do dia. Nesse caso,

o sentido é que Deus é esse refrigério.

Note, no início do verso 5, a frase O Senhor é quem te

guarda. Esse papel de guardar o peregrino, Deus não deixou com

os anjos, Ele poderia mandar uma legião de anjos, porém Ele diz:

“Sou eu mesmo que vou guardar você aqui, sou eu mesmo que

vou lhe acompanhar durante todo o caminho”. É o Senhor quem

nos guarda.

A terceira promessa é a de que Deus vai guardá-lo de todo

tipo de males: O Senhor te guardará de todo mal; guardará a tua

alma (121.7). O que significa essa expressão todo mal? Significa

todo tipo de males, males circunstanciais, aquilo que nos acontece

aqui neste mundo, doenças, enfermidades, catástrofes, desgraças

que vêm sobre nós inesperadamente, males que nós não queremos,

não pedimos e gostaríamos que não acontecessem. Deus promete

nos guardar dessas coisas. Isso não quer dizer, porém, que elas

nunca vão nos acontecer, mas que Deus não vai permitir que

esses males nos levem ao mal maior, que é perdermos a nossa

alma, porque veja o que ele diz em seguida: O Senhor te guardará

de todo mal; guardará a tua alma. O pior mal que pode haver é

você perder a sua alma. Aqui nesta vida, nós passamos por muitas

dificuldades, nenhum peregrino está isento disso. Deus promete,

contudo, que Ele vai usar essas dificuldades, esse sofrimento e

essas angústias para nos santificar e nos firmar em Sua verdade e

em Sua palavra.

A quarta promessa é esta: O Senhor guardará a tua saída

e a tua entrada, desde agora e para sempre (121.8). Deus vai nos

guardar aqui e para sempre. A expressão guardará a tua saída e a

tua entrada pode representar a saída do peregrino de sua cidade,

o caminho todo, até a entrada em Jerusalém. Ou seja, durante o

percurso, o tempo todo Deus vai guardá-lo, vai protegê-lo e vai

estar com ele. Não somente na saída e na entrada, mas desde agora

e para sempre, Deus promete guardar e proteger o Seu povo.

24


SALMO 121 - ENFRENTANDO OS PERIGOS DA JORNADA

Quero concluir este capítulo com uma observação: por

que é que Deus promete isso? Ele não tem nenhuma obrigação

de nos proteger. A chave para nós entendermos essa promessa de

Deus e a confiança do salmista está no verso 4, quando, no final

do verso, lemos que Ele é o Guarda de Israel. E aqui essa expressão

nos leva para a doutrina da aliança. Israel era o povo da aliança,

Deus havia escolhido a nação de Israel dentre todas as demais

nações para ser o Deus daquele povo e para que eles fossem o

povo do Seu louvor e para a Sua glória. Deus lhes deu a Sua lei, a

Sua aliança, o culto. Deus fez promessas à nação de Israel e tinha

um pacto com ela. Por isso Ele é o guarda de Israel. Ele guarda

não somente a nação, mas todo Seu filho, todo membro da nação

de Israel dentro da aliança.

Nós, os que cremos em Jesus Cristo, somos os descendentes

de Israel. A Igreja é a continuação espiritual da nação de Israel.

Deus tem com a Igreja um pacto, uma aliança firmada no sangue

de Cristo, não no sangue de animais, como foi feito na antiga

aliança, mas no sangue do Cordeiro derramado na cruz. Somos o

povo da aliança, Deus é o nosso Deus, Ele prometeu nos salvar,

nos abençoar, nos guiar, nos proteger, nos perdoar e nos dar

o novo céu e a nova terra, onde habita a justiça. Por isso essas

promessas são seguras, devido à aliança de Deus conosco, feita

com o sangue precioso de Jesus, porque, não fora o sacrifício de

Cristo e o Seu sangue, Deus não teria nenhum compromisso

conosco, o sol nos molestaria de dia, a lua nos molestaria à noite,

o nosso pé vacilaria, seríamos malditos na saída e malditos na

entrada e a nossa peregrinação aqui não seria rumo a Jerusalém

celestial, mas ao Inferno eterno e ao sofrimento indizível por

conta de nossos pecados. Porém, por causa de Cristo e do que Ele

fez na cruz, Deus se oferece a nós, dizendo: “Eu sou seu guarda,

eu sou o seu socorro, eu não vou nem cochilar olhando para você,

eu vou guardar-lhe o tempo todo, em todas as situações, eu vou

guardar a sua alma, eu vou lhe preservar até aquele grande dia”.

Portanto, não podemos dar outra aplicação deste salmo

a não ser essa. Olhemos para os montes, olhemos agora para o

25


CAMINHOS DA FÉ

Monte do Calvário. Este é o monte para onde olhamos agora,

não o Monte Sião, mas o Monte do Calvário, onde o nosso

Salvador foi levantado por nós, e nós perguntamos de onde virá

o nosso socorro. O nosso socorro vem daquele que morreu por

nós na cruz, ressuscitou ao terceiro dia, está sentado à direita de

Deus Pai, Todo-Poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os

mortos. É nele que está minha confiança, é nele que coloco a

minha esperança e é nele que espero, de dia e à noite, em qualquer

caminho, em todas as situações, que Ele guarde a minha alma.

Dificuldades virão, mas o meu socorro sempre estará presente, Ele

não vai permitir que eu seja tentado mais do que posso suportar,

Ele não vai permitir que Satanás quebre o meu relacionamento

com Ele. E nós podemos, como o apóstolo Paulo, dizer: Porque

estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os

principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a

altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá

separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm

8.38-39).

Que essa seja a sua esperança hoje, que você alegre o seu

coração e cultue a Deus de todo coração, louve-o e eleve os olhos

para os montes. O meu socorro vem do Senhor que não somente

fez o céus e a terra, mas me deu Seu filho para ser o meu salvador.

26

ORAÇÃO:

Senhor, que privilégio para nós, que alegria indizível e

cheia de glória sabermos que Tu és o Guarda de Israel, do Israel

espiritual, da Tua igreja, do Teu povo; saber que estas promessas

grandiosas chegam a nós na mediação do Teu filho Jesus

Cristo, que naquele monte levou sobre Si a nossa condenação,

derramando sangue da aliança, a nova aliança. Eu oro, Senhor,

pelo Teu povo, que o Senhor queira lhe trazer conforto, descanso

e renovação, que o Senhor abençoe aquele que sofre, que está

ansioso, preocupado, angustiado. Ó Deus, que os seus olhos se

levantem e possam olhar para o alto e descansar em Ti. É o que

nos te pedimos por amor de Jesus. Amém.


SALMO 122

JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

SOMBRA DE CRISTO E SUA IGREJA

Alegrei-me quando me disseram: Vamos

à Casa do Senhor. Pararam os nossos

pés junto às tuas portas, ó Jerusalém!

Jerusalém, que estás construída como

cidade compacta, para onde sobem as tribos,

as tribos do Senhor, como convém a Israel,

para renderem graças ao nome do Senhor.

Lá estão os tronos de justiça, os tronos da

casa de Davi. Orai pela paz de Jerusalém!

Sejam prósperos os que te amam. Reine paz

dentro de teus muros e prosperidade nos

teus palácios. Por amor dos meus irmãos e

amigos, eu peço: haja paz em ti! Por amor

da Casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o

teu bem.

O salmo que estudaremos neste capítulo foi escrito pelo

rei Davi. Ele deve ter feito a peregrinação a Jerusalém várias vezes

antes de se tornar rei. Este hino que ele compôs foi adotado pelos

peregrinos e bem expressava o sentimento de alegria que sentiam

pela casa do Senhor.

Aqui, temos o sentimento de alegria quando o peregrino

foi convidado para ir à casa do Senhor adorar a Deus, depois


CAMINHOS DA FÉ

a admiração que ele sentia diante de Jerusalém, ao dar uma

descrição da cidade (122.2-5), depois o desejo dele pela cidade

de Jerusalém, o que ele sentia no coração pela cidade e pela casa

de Deus (122.6-8), e uma decisão que ele toma no final, quando

contempla Jerusalém (122.9). É este salmo que estudaremos neste

capítulo, vendo o que ele significou naqueles dias, o que significa

para nós hoje e que lições podemos tirar para nós.

Farei primeiro algumas observações iniciais para que

entendamos bem o salmo. Comecemos falando sobre Jerusalém,

já que ela é o tema central do salmo. Jerusalém, cujo nome

era Jebus, pertencia aos jebuseus, povo que Davi conquistou.

Jerusalém passou a ser a cidade de Davi e mais tarde se tornou a

capital de todo o Israel. Deus havia dito a Moisés, muito tempo

antes, quando ainda estava no deserto, que, quando o povo

entrasse na terra prometida, Deus iria escolher um local, e um

local somente, onde Ele seria adorado, um centro do culto a ser

estabelecido na terra prometida. A razão que Deus deu a Moisés

para que houvesse um único lugar de adoração na terra prometida

era que os deuses dos povos pagãos que moravam naquela terra

eram deuses das montanhas, dos vales, dos altos, dos rios, das

árvores. Havia altares deles em todos os lugares, o que dava a ideia

de muitos deuses, e deuses espalhados. Deus queria um local só

de adoração para Ele. Era proibido adorar a Deus em outro lugar

que não fosse aquele que Ele havia ordenado. Porque Deus queria

mostrar que Ele é Deus de toda a terra, não é deus dos montes,

dos vales, do rio ou do deserto, mas é deus de toda a terra. Assim,

somente um local seria o centro de adoração, e o local escolhido

foi exatamente Jerusalém.

Quando Davi tomou a cidade de Jebus — que se tornou

Jerusalém —, Deus mandou que a arca da aliança, juntamente

com o tabernáculo que Moisés havia construído no deserto,

fosse levada para lá, no Monte Sião, e que fosse erigido aquele

tabernáculo que seria o centro de adoração de todo o povo de

Deus. A partir daí, quando o judeu quisesse adorar a Deus,

oferecer sacrifícios, trazer os seus dízimos e ofertas, encontrar o

28


SALMO 122 - JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

povo de Deus, ouvir a lei de Deus, prestar culto a Ele e cantar

os salmos, ele viria para Jerusalém. Não havia outro lugar, era

proibido adorar a Deus em qualquer outro lugar que não fosse

Jerusalém.

É por isso que Jerusalém era o centro religioso da vida

do judeu. Era ali que estava o tabernáculo, a arca, os sacerdotes

e os altares. Ali, a Palavra de Deus era ensinada para o povo. E

não somente isso, Israel também se tornou a capital do reino. Lá

estava o trono de Davi e era ali que a dinastia do rei haveria de

governar a nação de Israel, como Deus havia prometido a Davi.

Israel era a capital do reino, era o centro religioso da nação e era

para lá que as tribos subiam para adorar a Deus. A cidade era

cercada de muros para proteção; embora ela tivesse sido edificada

em um lugar alto e era muito bem protegida, havia uma muralha

que cercava toda a cidade e várias portas que davam entrada ou

acesso a ela e que eram convenientemente guardadas. No centro

dela, estava a casa do Senhor, que era o tabernáculo que havia

sido construído no deserto, representando a presença de Deus

no meio do Seu povo. Era lá que Deus se manifestava de vez em

quando. A nuvem da glória de Deus chamada de Shekinah descia

sobre o tabernáculo e enchia-o.

Depois de Davi, seu filho Salomão levantou um templo.

Não foi Davi que construiu o templo. Quando ele escreveu este

salmo, ainda não havia templo, era o tabernáculo que estava

em Jerusalém. Porém, depois Salomão construiu um templo,

que, mais adiante, seria destruído pelos assírios e mesopotâmios

e reconstruído durante a época de Esdras e Neemias. Tanto o

tabernáculo como o templo representavam a presença de Deus

no meio do Seu povo.

Esse era o contexto. Em Jerusalém, o lugar da presença

de Deus, estava o tabernáculo, ali estavam os tronos de Davi,

dali saía a justiça, ali Deus se manifestava. Por isso, quando seus

irmãos disseram: “Vamos à casa do Senhor!”, qual foi a reação

dele? Alegria. O coração dele se alegrou, porque era lá que ele iria

cultuar a Deus. E esse é o meu primeiro ponto aqui neste capítulo:

29


CAMINHOS DA FÉ

o sentimento dos peregrinos quando convidados a viajarem até

Jerusalém: Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.

O peregrino morava longe e, quando chegou a época da festa e os

amigos lhe convidaram para irem juntos a Jerusalém, para adorar

a Deus e cultuá-lo, o coração dele se encheu de alegria. Ele amava

a Deus e queria cultuá-lo, queria servir a Deus, oferecer os seus

sacrifícios e levar as suas ofertas.

Estar com os irmãos era momento de renovação e de

deleite espiritual. Nós temos o privilégio de nos reunirmos pelo

menos duas vezes por semana e sentimos falta quando não é

possível irmos à igreja. O israelita que morava longe de Jerusalém

tinha esse privilégio três vezes por ano! Assim, quando chegou a

hora, o coração dele se alegrou porque ele iria a Jerusalém adorar

a Deus, oferecer sacrifícios, levar seus dízimos e ofertas. Ele se

alegrou porque ele amava a Deus, amava a casa do Senhor e era

uma oportunidade de renovação e deleite.

Agora, os próximos versículos relatam quando ele chega

a Jerusalém, passa os muros e olha a cidade: Pararam os nossos pés

junto às tuas portas, ó Jerusalém! Jerusalém, que estás construída como

cidade compacta, para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como

convém a Israel, para renderem graças ao nome do Senhor. Lá estão

os tronos de justiça, os tronos da casa de Davi (122.2-5). Imagine

o peregrino tendo entrado por uma das portas da muralha. Ele

coloca os pés dentro de Jerusalém e contempla a cidade. Ali está

o palácio de Davi, ali está o tabernáculo, e ele começa a descrever

Jerusalém com admiração, ele olha com deleite para a cidade

querida e fala com ela como se ela pudesse lhe ouvir. Pararam os

nossos pés junto às tuas portas, ó Jerusalém! Ele está falando com

a cidade, dizendo: “Cheguei, Jerusalém, meus pés já estão aqui

dentro das tuas muralhas”.

Ele olha para a cidade e seu coração se enche de deleite, e

ele diz: Jerusalém, que estás construída como cidade compacta, para

onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como convém a Israel, para

renderem graças ao nome do Senhor. Eram doze tribos em Israel,

mas todas elas se juntavam como se fossem uma ali em Jerusalém.

30


SALMO 122 - JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

Era uma nação compacta, tendo centro ali em Jerusalém. Essas

tribos vinham de todos os lugares. Subiam como convém a Israel

porque Deus mandou que eles fizessem isso. Era conveniente que

eles viessem para render graças ao nome do Senhor. Era isso que

eles faziam nas festas, era isso que faziam na casa do Senhor, iam

render graças a Deus. Essa gratidão era feita de diversas formas,

por exemplo, pelos louvores que eles cantavam no templo

dirigidos pelos levitas. Davi havia colocado corais e instrumentos

de música nos cultos feitos no templo e os levitas haviam sido

orientados sobre como deveriam conduzir o cântico durante os

sacrifícios. A lei especificava que, para cada tipo de pecado, havia

uma oferta. O peregrino trazia os dízimos que havia guardado

para aquela ocasião, dez por cento de tudo que ele colhia do seu

rebanho e também do seu campo era trazido para oferecer a Deus.

Ali ele encontrava os seus irmãos, os seus parentes e amigos. Era

festa no templo, havia um átrio onde ele podia cozinhar, onde

podia se reunir com a família; alguns acampavam em tendas,

havia lugar até para os amigos que não eram judeus, o átrio dos

gentios, onde os não judeus poderiam ir também e ficar. Eles só

não podiam entrar no templo.

O peregrino, então, volta seu olhar para o palácio de Davi

e diz: “Aqui estão os tronos da justiça, é daqui que Deus governa

o Seu povo, é daqui que procede a Lei, daqui sai a vontade de

Deus e daqui Davi julga os oprimidos, faz justiça e decide entre o

certo e o errado” (122.5). Jerusalém era o centro religioso e civil

de Israel naquele tempo. Nela havia os dois ofícios: sacerdote e

rei, que são dois ofícios de Cristo.

O salmista se alegrou quando foi convidado, chegou a

Jerusalém e ficou admirado com a cidade, porque era para lá que

subiam as tribos, era de lá que saía a justiça. Então ele expressa

o desejo do seu coração, o que sente por Jerusalém, pela casa

do Senhor. Ele primeiro pede aos seus irmãos que orem por

Jerusalém (122.6): Orai pela paz de Jerusalém! Aqueles eram

tempos turbulentos, o rei Davi era um homem de guerra, ele

tinha conquistado as nações ao redor, mas de vez em quando

31


CAMINHOS DA FÉ

alguma dessas nações se levantava contra eles, como os amonitas,

os filisteus, os moabitas, que faziam guerra contra Jerusalém.

Não poucas vezes, durante o seu tempo, Davi teve que defender

a cidade de ataques dos sírios, por exemplo, que vinham de

longe para tentar saquear Jerusalém e os campos ao redor dela.

Assim, o peregrino ora pela paz de Jerusalém. Ele queria que a

cidade tivesse paz porque somente na paz é que poderia haver

prosperidade, somente quando houvesse paz em Jerusalém é que

os peregrinos poderiam ir ali para cultuar a Deus. É em paz que

o culto a Deus floresce, é em paz que nós ganhamos o nosso pão.

Ele deseja também que haja paz dentro dos muros da

cidade (122.7). No verso anterior, ele ora pela paz de Jerusalém,

e a ideia que dá é que Jerusalém seja livre da guerra. Porém, ele

ora também para que haja paz dentro da cidade, porque às vezes

não há guerra fora, mas há dentro. Então deve haver paz dentro

de Jerusalém, entre os seus moradores, entre os peregrinos, entre

os irmãos, não somente paz fora dos muros. Prosperidade é outra

coisa que ele pede nos palácios, ou seja, que Deus abençoe o

rei com prosperidade, porque, uma vez abençoando o rei com

prosperidade, ela se estende para todos os seus súditos e para

todos os moradores da cidade.

Depois de pedir orações pela paz e prosperidade de

Jerusalém, ele mesmo ora (122.8). Até aqui, ele vem pedindo

orações pela paz dentro e fora de Jerusalém, pela prosperidade,

que o governo seja próspero. E aqui ele mesmo pede: Por amor

dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti! O que isso quer

dizer? É que, se houver paz e prosperidade em Jerusalém, os

irmãos e amigos poderão vir três vezes ao ano, poderão cultuar

na casa do Senhor, pois haverá prosperidade para toda a nação. O

israelita vai poder ganhar o seu pão, levar avante o seu comércio,

a sua produtividade, e a sua família vai ser sustentada, e, com ela,

os filhos dos filhos, e assim por diante.

Ao final, depois de ter aberto o coração dizendo que

queria que houvesse prosperidade, alegria e paz em Jerusalém,

o peregrino toma uma decisão: Por amor da casa do Senhor,

32


SALMO 122 - JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

nosso Deus, buscarei o teu bem (122.9). Por amor ao tabernáculo

localizado em Jerusalém, ele buscaria o bem da cidade. Buscar

o bem da cidade no contexto significa orar por ela, protegêla,

defendê-la das guerras, contribuir financeiramente para a

manutenção do culto a Deus realizado nela. Ele quer o bem de

Jerusalém, mas ele não somente ora para que Deus abençoe a

cidade, ele resolve que ele vai buscar o seu bem.

A pergunta agora é: o que isso tem a ver conosco? Por

que nós estamos falando aqui de Jerusalém e do tabernáculo? A

cidade de Jerusalém existe até o dia de hoje, mas o templo não, o

tabernáculo já não existe mais, já não há altares, não há sacerdotes.

Então o que nós, cristãos, que moramos aqui no Brasil, mais

de dois milênios depois que este salmo foi escrito, temos a ver

com isso? Em que sentido isso nos fala como cristãos? Eu quero

considerar alguns pontos aqui antes de fazer uma aplicação para

nós.

O primeiro ponto é que a vinda de Jesus Cristo ao mundo,

oitocentos anos depois que este salmo foi escrito, representa o

ponto central da história da redenção e da salvação. Representa

o cumprimento e a consumação de todas as promessas que Deus

havia feito antes dele. Em segundo lugar, essa vinda significa que

todos os rituais, tradições, cerimônias, símbolos e instituições

do Antigo Testamento já encontraram seu cumprimento. Estas

coisas eram sombra de uma realidade que haveria de vir. Quem

fala a respeito dessa sombra é o apóstolo Paulo, em Colossenses

2.16: Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por

causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Estas eram

as leis relacionadas com o templo, com o sacrifício e com a vida

religiosa do povo de Deus, com Jerusalém, com o tabernáculo,

com a casa do Senhor.

No verso 17, Paulo complementa: Que são sombras das

coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. Paulo está dizendo aqui

que o tabernáculo em Jerusalém, com todos os seus rituais, era

a sombra projetada pelo corpo de Cristo, que estava chegando.

Depois que Cristo veio, eu não preciso mais da sombra. Aquele

33


CAMINHOS DA FÉ

que projetava sua sombra nas páginas do Antigo Testamento já

chegou. É nesse sentido que temos que olhar para Jerusalém, para

a casa do Senhor e para o tabernáculo. Eles eram a sombra. O

corpo já veio, o corpo é de Cristo. Jerusalém não é mais para nós

a terra santa, não é mais o centro religioso do mundo. O próprio

Jesus disse à mulher samaritana: Já chegou a hora em que nem

aqui nem em Jerusalém vocês vão adorar o Pai, porque o Pai é

espírito e Ele procura adoradores que O adorem em espírito e em

verdade (Jo 4.24). Não há mais um único centro de adoração a

Deus, como havia no Antigo Testamento.

Em que sentido Jerusalém e o templo eram sombra de

Cristo? Primeiro, Jesus disse, em certa ocasião lá em Jerusalém,

em disputa com os fariseus: Destruam esse templo, e em três

dias o reconstruirei (Jo 2.19). Os judeus não entenderam. Eles

pensavam que Jesus estava se referindo ao templo de Salomão e

perguntaram: “Como esse homem vai reconstruir o templo em

três dias?”. Mas Jesus estava falando do templo do Seu corpo: “Se

vocês me matarem, três dias depois eu ressuscito”. Ou seja, Jesus

identifica o Seu corpo como o templo. Mais tarde, no Monte

da Transfiguração com Pedro, Tiago e João, a nuvem da glória,

aquela mesma nuvem que enchia o templo e o tabernáculo,

desce sobre Ele, e Deus fala: “Esse é meu filho amado, a ele ouvi”

(Mt 17.1-5). A nuvem da glória encheu o templo, o corpo de

Cristo, porque Ele é o templo. O templo apontava para Ele. Por

extensão, então, o templo se aplica a nós, porque estamos unidos

a Cristo. Esse é um ensino claro do Novo Testamento. Estamos

unidos ao nosso Salvador. Ele é o cabeça, e nós somos o corpo.

Estamos unidos ao Senhor Jesus inseparavelmente, por isso a

Bíblia diz que, quando Cristo foi ressurreto, nós ressuscitamos

com Ele; quando Ele morreu, nós morremos com Ele; quando

Ele foi glorificado, nós fomos glorificados com Ele.

Essa é a base da nossa certeza, de que seremos perdoados

e salvos, que estamos unidos a Cristo. A história de Cristo é a

nossa e, se Ele é o templo de Deus, nós somos o templo de Deus

por extensão. É assim que a Bíblia nos trata. Por exemplo, em

34


SALMO 122 - JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

Efésios 2.20, o apóstolo Paulo diz: Edificados sobre o fundamento

dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da

esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo

santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados

para morada de Deus em Espírito. Deus não mora mais no templo

de Jerusalém, mas habita plenamente em Seu filho Jesus Cristo

e, por extensão, naqueles que estão ligados a Cristo. É por isso

que no Novo Testamento a igreja é chamada de a casa de Deus.

É na igreja que Deus mora e, quando eu falo em igreja, não

me refiro às quatro paredes do edifício, mas do ajuntamento

dos crentes, do ajuntamento dos filhos de Deus, daqueles que

creem no Senhor Jesus. É nesses que Deus habita, e não mais em

edifícios. Eu sei que às vezes costumamos chamar a igreja de o

templo, porém chamamos de templo somente para lembrar que

no Antigo Testamento havia uma construção dedicada a Deus.

Contudo, a igreja não é o templo no sentido em que o templo de

Jerusalém era, porque Deus não habita dentro de nossas quatro

paredes; quando vamos embora da igreja, Deus não fica lá, Ele

vai conosco. Deus habita em Seu povo, nós somos o santuário

de Deus.

Veja ainda o que Paulo diz, escrevendo aos Coríntios

3.16: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de

Deus habita em vós? Nós somos o santuário de Deus. Havia duas

palavras para santuário na língua grega: uma significava o templo,

ou o tabernáculo, e a outra indicava o santuário, que era o santo

dos santos, aquele local mais íntimo onde estava a arca da aliança,

com a lei, e onde somente podia entrar o sacerdote uma vez por

ano, levando o sangue de um cabrito, no dia da expiação. Paulo

usa essa mesma palavra para dizer-nos que nós somos o santuário

de Deus.

Na sua primeira carta, Pedro diz: Vós também, como pedras

vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer

sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus

Cristo (1Pe 2.5). Pedro compara cada crente a uma pedra viva e,

juntos, nós constituímos um edifício onde Deus habita. Somos

35


CAMINHOS DA FÉ

as pedras vivas que compõem as paredes, o teto e a base desse

edifício vivo, orgânico, espiritual e invisível, no qual Deus habita

pelo Espírito Santo.

Por fim, lembremos o que Jerusalém representa na visão

do apóstolo João: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o

primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu,

João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu,

adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma

grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com

os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo

Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos

toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor,

nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas (Ap 21.1-4).

Jerusalém representa a Igreja na sua glória, a nova Jerusalém, o

tabernáculo de Deus, quando, no novo céu e na nova terra, Deus

vier para estar conosco e o povo de Deus vai estar com Ele para

todo o sempre.

Agora estamos prontos para dizer em que este salmo,

então, se aplica para nós hoje. A primeira aplicação é que, se você

quiser fazer uma peregrinação para Jerusalém, pode ir. Deve ser

maravilhoso você andar pelas terras bíblicas. Mas, por favor, não

traga um vidrinho da água do Rio Jordão pensando que aquilo é

santo, não traga uma raspinha do Muro das Lamentações pensando

que você está trazendo pedra de um lugar santo, não traga o vinho

feito com a uva do Monte das Oliveiras ou qualquer outra coisa

pensando que aquilo ali é mais espiritual. Não vá ao Muro das

Lamentações colocar bilhetes e orações entre as pedras, como os

judeus ortodoxos costumam fazer. Não faça isso. Não peça para o

pastor usar kipá dos sacerdotes ou usar uma estola sacerdotal, não

peça para trazerem a arca para a igreja, não peça para celebrar as

festas de Israel. Por quê? Porque tudo isso era sombra! Já temos a

realidade, que é Cristo. Eu não entendo por que há evangélicos

correndo atrás de judaizantes, pessoas querendo reintroduzir na

Igreja as práticas do Antigo Testamento, que eram sombras. Esta

é a primeira lição para nós: o culto cristão é espiritual, é simples e

não tem mais esses rituais e cerimônias.

36


SALMO 122 - JERUSALÉM E O TABERNÁCULO

Segunda aplicação: você deveria se alegrar pelo privilégio

que tem de fazer parte da Igreja de Deus e cultuar a Ele juntamente

com os irmãos. Medite na alegria do salmista! Da mesma forma

como ele se alegrava por poder ir a Jerusalém, para a casa do

Senhor, todos nós deveríamos nos alegrar e comemorarmos

quando chegar o domingo, quando poderemos, com nossos

irmãos, cantar louvores a Deus, ser instruídos na palavra dele. Ter

um momento de renovação espiritual. É um privilégio que Deus

tem dado a você poder cultuá-lo livremente com tanta frequência

e na frequência que você quiser. Infelizmente, há pessoas que não

valorizam isso, aqueles “desigrejados” que acham que essa vida de

comunhão, participar de uma igreja, ser membro, envolver-se, é

coisa do homem. Não é coisa do homem, a Igreja está no centro

dos planos de Deus, você não pode ser cristão “desigrejado”.

Terceira aplicação: assim como o peregrino encantou-se

com Jerusalém ao entrar por suas portas, assim também devemos

nos encantar e nos deleitar com a Igreja de Cristo. Eu não estou

dizendo que a Igreja não tem defeito. Ela é feita de pecadores

como eu e como você, mas pecadores arrependidos, pecadores

que estão no processo de crescimento, estão peregrinando e

caminhando para a verdadeira Jerusalém. Não deixe os defeitos

da Igreja fazerem com que você se torne cínico com relação a

ela. Nós somos pecadores, seu pastor é pecador, os presbíteros

também são, os diáconos também, e você também é. Nós estamos

no caminho, aprendendo. Assim, não deixe os defeitos da Igreja

fazerem com que você desanime dela, porque ela é o plano de

Deus para nossa vida aqui neste mundo, e não há outro.

Quarta aplicação: ore e interceda pela Igreja, peça a Deus

graça e misericórdia para os que têm a responsabilidade de trazer a

Palavra, de ministrar e conduzir a Igreja nos caminhos do Senhor.

Busque o bem da Igreja, proteja-a. Fale dela como sendo a noiva

de Cristo, o corpo de Cristo. Contribua financeiramente para

o seu sustento. Fale dela e do Senhor dela ao mundo, aos seus

amigos.

37


CAMINHOS DA FÉ

ORAÇÃO:

Ó Deus, graças te damos por Tua Igreja aqui no mundo.

Graças te damos pelo privilégio de sermos parte dela. Bendito seja

o Teu nome porque nos amaste e nos fizeste Teu povo. Senhor,

concede paz e prosperidade à Tua Igreja neste mundo! Dá-nos

alegria constante quando nos reunirmos com Teu povo para te

oferecer culto. É o que pedimos em nome de Jesus. Amém.

38


SALMO 123

ENFRENTANDO A HOSTILIDADE

A ti, que habitas nos céus, elevo os olhos!

Como os olhos dos servos estão fitos

nas mãos dos seus Senhores, e os olhos

da serva, na mão de sua Senhora, assim

os nossos olhos estão fitos no Senhor,

nosso Deus, até que se compadeça de nós.

Tem misericórdia de nós, Senhor, tem

misericórdia; pois estamos sobremodo fartos

de desprezo. A nossa alma está saturada do

escárnio dos que estão à sua vontade e do

desprezo dos soberbos.

Este é o quarto salmo da coleção dos Salmos de Romagem.

Ele trata especificamente da maneira como devemos enfrentar a

oposição que sofremos aqui neste mundo, o escárnio, a zombaria

dos ímpios, o que fazer quando não aguentamos mais, quando

estamos cansados da hostilidade e da perseguição que vêm contra

nós.

Vamos primeiro tentar entender a ocasião em que o

salmo foi composto. Muitos estudiosos acham que este salmo foi

composto na época em que Israel voltou do cativeiro. Você deve

se lembrar bem da história: os judeus haviam passado setenta

anos na Babilônia como escravos, cativos por conta do juízo de


CAMINHOS DA FÉ

Deus e da idolatria. Depois de setenta anos, Deus levantou o

espírito de Ciro, o persa, que era o imperador dos medos e persas,

e libertou os cativos, os israelitas e outros povos que estavam sob

cativeiro. Ele passou um decreto dando liberdade para que esses

povos voltassem para sua terra. Os judeus voltaram em grande

número para a terra prometida, para a Palestina. Porém, quando

eles chegaram lá, encontraram a terra ocupada pelos samaritanos,

que eram uma mistura de assírios com os judeus que haviam sido

deixados lá na época da deportação.

Esses povos casaram entre si e se misturaram, adotando

uma religião que era uma combinação da religião dos assírios

com a dos israelitas. Quando os judeus chegaram, a casa já estava

ocupada. Já havia gente morando lá, a vizinhança toda era desse

misto de gente. Havia também outros povos, os moabitas e

amonitas, que ocupavam as terras vizinhas e que não estavam

satisfeitos com o retorno dos judeus. Assim, quando os judeus

chegaram lá, deu-se início à oposição e à dificuldade. Havia, em

primeiro lugar, uma briga política pelo poder e pelo espaço. Os

samaritanos, os moabitas e os amonitas não queriam que Israel

ficasse ali, embora a terra fosse de Israel por direito. O rei Ciro

havia liberado para que eles voltassem e ocupassem aquela terra,

mas os vizinhos não queriam aquele povo ali e forjaram com

ele uma aliança de paz falsa. Depois, quebraram essa aliança e

foram ao rei fazer queixa dos judeus, que os judeus eram um

povo perigoso e que no passado eles já haviam se revoltado contra

os impérios mundiais. Houve ameaças e emboscadas e era uma

situação de grande opressão para o povo de Deus morando ali,

em meio a uma vizinhança que não queria sua presença.

É assim, então, que eles elevam os olhos para Deus e

pedem a Ele ajuda em meio àquela situação de hostilidade e de

sofrimento. Eles não aguentam mais o que estão passando. Muito

tempo depois, este salmo passaria a ser cantado pelos peregrinos

rumo a Jerusalém, lembrando-se da hostilidade do mundo, da

perseguição que eles sofrem e esperando somente em Deus. Hoje,

nós cantamos este salmo também. Nós o utilizamos para expressar

40


SALMO 123 - ENFRENTANDO A HOSTILIDADE

o nosso sentimento frente à hostilidade e a nossa oração a Deus.

Este salmo fala do povo de Deus sendo oprimido e perseguido,

enfrentando o escárnio e a oposição.

O apóstolo João nos avisou desse conflito. Ele disse: Não

vos maravilheis, se o mundo vos odeia (1Jo 3.13). O próprio Jesus

disse que teríamos aflições neste mundo! Jesus nunca nos iludiu

a respeito disso, nós somos uma minoria, estamos indo contra

a cultura dominante deste mundo, os nossos valores não são os

valores deste mundo. Na universidade, por exemplo, você vai

experimentar um confronto quanto àquilo que você aprendeu

em sua casa e na igreja sobre Deus, sobre a verdade, sobre o ser

humano, sobre a família. Vai haver um confronto entre isso que

você aprendeu e aquilo que os seus professores ateus, marxistas,

humanistas e esquerdistas vão dizer para você sobre família, sobre

gênero, sobre sexo, sobre criação do mundo e sobre uma série de

outras coisas. Eu tenho certeza de que a maioria dos cristãos sabe

o que é estar em um ambiente hostil e ser provocado por pessoas

que pensam diferente.

Isso pode acontecer no ambiente de trabalho, onde você,

talvez, vá sofrer discriminação e zombaria. Os outros, sabendo

que você é cristão, começam a conversar determinadas coisas

e há falatório, palavrões e piadas, às vezes provocações. Isso

pode ocorrer na própria família. Você se sente como que “fora

do ninho”, é objeto de escárnio e zombaria. O cristão sabe o

que é isso, a Igreja foi alertada desde o início; desde o Antigo

Testamento até o dia de hoje, ela está alertada para isso. Nós

estamos no mundo, mas não somos do mundo. O mundo nos

odeia, ele olha para nós como sendo pessoas estranhas. E está

ficando cada vez mais difícil, porque aquilo em que acreditamos

começa a ser rotulado de ódio. Se afirmarmos a família, temos

ódio contra os homossexuais; se afirmarmos a vida, somos contra

a mulher que tem o direito do aborto; se afirmarmos a defesa

própria, é discurso de ódio contra os criminosos, porque deve

haver direitos iguais. Daqui a pouco, tudo o que a Igreja disser

vai ser rotulado de discurso do ódio. Nós estamos caminhando

41


CAMINHOS DA FÉ

para isso, como se estivéssemos em uma peregrinação, na qual

estamos cercados de inimigos, de gente que nos ridiculariza, que

nos detesta, que faz zombaria e todo tipo de ameaças contra nós.

O que fazer, então, quando não aguentamos mais? É a

situação do salmista. Ele está cansado de ser ridicularizado,

perseguido, odiado, insultado e desprezado. E note que essa

hostilidade é injusta. Ou seja, o salmista está sofrendo por conta

de sua fé e de sua confiança em Deus. Não vamos confundir esse

tipo de sofrimento, que é injusto, com aquele sofrimento que

nós fazemos por merecer. Às vezes isso acontece, o crente diz que

está sendo perseguido em seu trabalho, mas o caso é que ele é um

péssimo empregado mesmo. Ele está sofrendo não por causa de

Cristo, mas porque é preguiçoso, chega tarde, não faz o trabalho

direito. Não estou falando desse tipo de perseguição que você fez

por merecer, o caminho aí é você se arrepender e mudar de vida.

Mas aqui, no salmo, é uma perseguição injusta. Esse escárnio, essa

zombaria, vêm por conta do ódio religioso mesmo. A hostilidade

do mundo contra a Igreja e contra os cristãos é porque eles são

cristãos e porque pregam e dizem coisas que são contrárias àquilo

em que o mundo acredita.

E o que fazer? Em primeiro lugar, como está no verso

primeiro, temos que elevar os olhos a Deus: A ti, que habitas

nos céus, elevo os olhos! Essa expressão tu que habitas nos céus,

literalmente, no hebraico, significa tu que estás entronizado no

céu. A figura aqui é de Deus sentado no trono lá nos céus, de

onde Ele domina o Universo, de onde controla todas as coisas.

É bom nos lembrarmos de que essa é a posição de Deus, porque

essa é a melhor maneira de olhar para Deus em uma situação de

conflito. Ele está no trono e domina todas as coisas, tem tudo em

Suas mãos e faz com que todas as coisas cooperem para o bem

dos que O amam. Nada foge ao Seu controle. Ele está sentado

no trono do Universo e o salmista eleva os olhos para Ele. Às

vezes, orar é isso, é você levantar os olhos para Deus, não precisa

nem falar, é só levantar os olhos, e Deus como que diz: “Eu estou

vendo”. Eleve o seu coração, a sua alma e o seu sentimento a Ele.

42


SALMO 123 - ENFRENTANDO A HOSTILIDADE

Não existe uma figura mais bonita de dependência do que essa,

alguém que está prostrado e que eleva os olhos em um sinal de

expectativa, dizendo ao Senhor que está precisando de auxílio.

As pessoas, às vezes, têm muita dificuldade em articular

orações. Orar é um exercício espiritual que precisa de treinamento.

Precisamos intencionalmente aprender a orar, mas por vezes orar

é simplesmente levantar os olhos, olhar para Deus como sendo

a nossa fonte de esperança e de socorro, já que não há esperança

no mundo e nos homens. Porém, há esperança em Deus e Ele

entende aquilo que nós estamos passando, basta um olhar quando

você está assim, quando está oprimido, saturado, basta um olhar

para Deus em esperança, para que Ele tenha compaixão.

A compaixão, por sua vez, é o próximo ponto, explicitado

no verso 2: Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos dos seus

Senhores, e os olhos da serva, na mão de sua Senhora, assim os nossos

olhos estão fitos no Senhor, nosso Deus, até que se compadeça de nós.

Talvez não entendamos direito este salmo porque não temos mais

esse costume, mas no Antigo Oriente todos os Senhores e as suas

esposas tinham servos que atendiam às suas necessidades e que

andavam ao seu lado. A figura aqui é de um Senhor, um patriarca

que está sentado à mesa, juntamente com sua esposa. Os servos

estão ali ao redor e ficam olhando para a mão do Senhor e da

Senhora, porque naquele tempo o patrão não falava com o servo,

mas dirigia-o pelo gesto da mão. Portanto, a obrigação do servo

era ficar olhando para a mão do patrão, o que é que o patrão iria

lhe sinalizar para fazer.

Deus está sentado no trono. Foi isso que nós vimos no

verso primeiro. E levantamos os olhos para Ele e olhamos para

a mão dele, esperando o que Ele vai fazer. Ele já viu a nossa

necessidade, já entendeu o nosso sofrimento, e ficamos agora

esperando que Ele nos proteja, nos sustente, nos console e nos

livre. Primeiro, quando passamos por essa angústia, levantamos

os olhos a Deus e oramos a Ele. Segundo, esperamos para ver a

resposta que Deus vai nos dar, exatamente como um empregado

ficava olhando para a mão do patrão, para ver o que é que o

43


CAMINHOS DA FÉ

patrão vai fazer. Deus, vendo a nossa necessidade, vai responder

de duas maneiras: primeiro, Ele pode tirar os nossos inimigos,

destruir os nossos opressores; às vezes, Deus faz isso. Há muitos

relatos na história de Israel em que Deus deu vitória militar aos

judeus contra aqueles que os oprimiam e acatavam. Assim, nos

dias de hoje, em uma situação de conflito, em uma situação em

que você está sendo oprimido, perseguido injustamente, exposto

ao ridículo, ao escárnio e à opressão, pode ser que, à medida que

você olha para Deus e espera nele, Ele simplesmente remova o

problema.

Porém, outras vezes Deus não remove o problema, mas

nos concede graça para suportá-lo. Há um episódio no Novo

Testamento muito conhecido que ilustra isso (2Co 12). O

apóstolo Paulo fala de um espinho na carne, um mensageiro de

Satanás enviado para esbofeteá-lo. Três vezes ele pediu a Deus que

o retirasse, e a resposta de Deus foi: “Não, porque a minha graça

te basta”. Deus não tirou o mensageiro de Satanás que esbofeteava

o apóstolo Paulo, mas deu graça para que Paulo pudesse suportar

todo aquele sofrimento que era trazido por esse agressor. Nós

olhamos para Deus, esperamos olhando para Sua mão para ver

o que Ele vai fazer e sabemos que Ele pode resolver de duas

maneiras: retirando a fonte do sofrimento — os escarnecedores,

inimigos e opressores — ou nos dando graça e misericórdia para

suportar.

E é exatamente isso que o salmista suplica no verso

seguinte: Tem misericórdia de nós, Senhor, tem misericórdia. No

final do verso 2, vemos que os nossos olhos estão fitos no Senhor,

nosso Deus, até que se compadeça de nós. Esse se compadeça de

nós, na verdade, é até que tenha misericórdia de nós e é a mesma

palavra que aparece no verso 3: Tem misericórdia de nós, Senhor,

tem misericórdia. Três vezes aparece a palavra misericórdia no

original, e é isso que o salmista está esperando, ele está olhando

para Deus, atento para a mão de Deus, e ele quer uma coisa, quer

misericórdia da parte do Senhor. Note que ele não pede a morte

dos inimigos, não pede a destruição daqueles que o estão fazendo

sofrer, mas pede apenas que Deus tenha misericórdia dele.

44


SALMO 123 - ENFRENTANDO A HOSTILIDADE

Misericórdia é uma atitude de compaixão e ajuda para

alguém que não merece, e que deveria receber exatamente o

contrário, isto é, punição. O salmista sabe que não merece nada

de Deus, é por isso que ele não suplica justiça, mas pede três vezes

misericórdia. Ele está olhando para a mão de Deus e esperando

um gesto dele, querendo que Deus mostre misericórdia para que

ele possa atravessar aquela situação, para peregrinar neste mundo

e chegar até o final da jornada.

No final do verso 3 e no verso 4, ele abre o coração e

expõe a Deus o que está sentindo e que é a causa da oração:

tem misericórdia; pois estamos sobremodo fartos de desprezo. Nós

já recebemos todo desprezo que poderíamos suportar, estamos

sobremodo fartos. Você sabe o que é uma pessoa sobremodo

farta? Acho que todos já tiveram essa experiência. O salmista

recebeu tanto desprezo, que a alma dele está estufada, ele não

tem mais lugar para mais nada, chegou ao limite, foi até onde

poderia ir. A nossa alma está saturada (123.4). É assim que ele está

se sentindo, a sua alma está saturada de desprezo, de escárnio, ele

não aguenta mais, chegou ao seu limite por conta dos que estão à

sua volta, que não estão nem aí para Deus, fazem o que querem.

Ele sofre devido ao desprezo dos soberbos, dos arrogantes que

não se humilham diante da verdade e diante de Deus e não têm a

menor compaixão pelo seu próximo.

Em conclusão, quero aportar algumas lições que este

salmo nos traz e que se aplicam aos momentos de angústia e

sofrimento:

Primeiro: neste mundo, você está sujeito a sofrer escárnio

e desprezo. O fato de que você é filho de Deus, foi salvo pelo

sangue de Cristo e que faz parte do povo de Deus não lhe dá

uma imunidade aqui neste mundo com relação à hostilidade das

outras pessoas. Na verdade, é muito mais provável que você vá

experimentar aqui neste mundo a hostilidade, o desprezo e o

escárnio daqueles que não temem a Deus.

Segundo: há muitas situações em que você pode chegar

ao limite. Veja como é profundamente humana aqui a expressão

45


CAMINHOS DA FÉ

do salmista: “Deus, eu não aguento mais!”. Passa-se a impressão,

em alguns círculos evangélicos, de que o cristão é um superhomem

e que ele enfrenta estoicamente todas as dificuldades da

vida, sempre vitorioso, sempre alegre. Mas há situações — e nós

temos que encarar isso na vida — em que nos sentimos como

essa pessoa aqui: “Deus, eu não aguento mais, está muito difícil,

cheguei até onde eu podia chegar…”. E, em uma situação como

essa, o caminho não é o desespero e desistir ou pensar que Deus

lhe abandonou, mas é elevar os olhos para Aquele que está nos

céus e esperar que Ele tenha misericórdia. Porque Ele haverá de

ter compaixão, ou removendo a dificuldade ou dando graça para

que você caminhe mais uma vez.

Terceiro: você sempre pode aguentar um pouco mais.

Quando eu servia ao Exército, muito tempo atrás, e era aspirante

a oficial, eu me lembro bem do sargento Silva, um homem

muito sério e muito querido por todos nós. Uma das coisas que

nós tínhamos que fazer como aspirantes era a temida marcha

dos 35 quilômetros. Colocávamos todo o equipamento nas

costas, dentro de uma mochila, e andávamos até o mato, onde

acamparíamos. Depois de 10 quilômetros de marcha, eu já estava

sentindo cansaço, e o Silva ao meu lado me dizendo que eu

poderia aguentar mais um pouco. Nos 30 quilômetros, eu já não

aguentava mais nada, e o Silva continuava a dizer que eu poderia

aguentar, que eu iria conseguir. E, ao final dos 35 quilômetros,

eu sabia que só cheguei lá por conta do encorajamento do Silva.

Este salmo fica constantemente nos dizendo isto: olhe

para Deus, olhe para Sua mão, aguarde, aguente mais um pouco.

Ele sabe que você está saturado. Sabe que sua alma não aguenta

mais. Mas você aguenta mais do que você pensa por causa da

graça de Deus em você, por causa da misericórdia de Deus, que

Ele promete nos dar. Você vai atravessar essa peregrinação e vai

chegar até a Jerusalém celestial. Por isso, confiemos em nosso

Deus.

Quarto: antes de aplicar este salmo para você, verifique

de todo coração se você às vezes não é o responsável, e não a

46


SALMO 123 - ENFRENTANDO A HOSTILIDADE

vítima. Talvez, no trabalho, você tenha escolhido uma pessoa que

faz de alvo para sua zombaria, ou em sua família, alguém que,

sempre que você pode, fica criticando ou levando ao escárnio ou

ao ridículo, ou até mesmo na igreja. Então, antes de você usar este

salmo como sendo a vítima, examine o seu coração e converse

com Deus sobre isso.

Quinto: faça a seguinte pergunta a si mesmo: o escárnio e

a zombaria que eu estou sofrendo não serão algo que eu mesmo

atraí? Devido às suas atitudes, à sua falta de amor, à sua crítica,

por seu trabalho malfeito ou qualquer atitude, será que você não

está simplesmente recebendo o castigo que merece pelos erros

que cometeu?

Sexto: olhe agora para o salmo pensando na situação

descrita. Aqui é um sofrimento injusto, um sofrimento por conta

da nossa fidelidade a Cristo e a Deus. Então o que você deve

fazer? Quero que você lembre aqui e que você tome o modelo de

Cristo como exemplo a ser seguido. Ninguém foi mais perseguido

pelo mundo do que Jesus Cristo e de forma tão injusta. Ele sofreu

escárnio de Sua família a princípio, de Seus amigos, irmãos, que

não acreditavam nele, de Sua cidade local, que não O aceitou, e

depois das autoridades religiosas. Finalmente, Ele foi rejeitado,

entregue, traído, abandonado por Seus amigos e crucificado. E

qual foi a atitude de Cristo em todo esse tempo? Exatamente essa

atitude que o salmo expressa bem: o que o nosso Salvador fazia

quando sofria injustamente por você e por mim era orar por Seus

perseguidores, Ele se entregava à misericórdia de Deus. Três vezes

Ele pediu misericórdia, mas teve que aguentar por conta dos

nossos pecados. Se somos discípulos de Jesus, é assim que vamos

enfrentar a hostilidade em todo lugar. Eleve os olhos para Aquele

que está nos céus e ore pelos seus inimigos, pedindo a Deus, em

Sua misericórdia, que use tudo isso para a glória do nome dele e

para que você possa crescer e aprender.

Que Deus nos dê a graça de sermos como peregrinos que

dependem do Pai Celestial. Que sejamos discípulos de Cristo,

nosso Salvador, que enfrentou tudo isso para nos redimir dos

47


CAMINHOS DA FÉ

nossos pecados, para que sejamos sal e luz aqui neste mundo

tenebroso.

ORAÇÃO:

Eu oro, Pai, por aqueles que estão sendo injustamente

perseguidos, desprezados, escarnecidos. Eu oro para que o Senhor

lhes dê renovação e esperança, que o Senhor lhes dê resiliência,

lhes dê a graça de continuar a te servir apesar de toda a oposição.

Eu oro, Senhor, para que Tu nunca permitas que nós sejamos

instrumentos do mal, perseguindo pessoas, ridicularizando,

oprimindo, assediando outrem, mas sejamos instrumentos da

Tua graça aqui neste mundo. Abençoa nossa Igreja, ensina-nos a

perdoar, amar e ser instrumentos de bênção para todos, em nome

de Jesus. Amém.

48


SALMO 124

SE NÃO FOSSE O SENHOR

Não fosse o Senhor, que esteve ao nosso

lado, Israel que o diga; não fosse o

Senhor, que esteve ao nosso lado, quando

os homens se levantaram contra nós, e

nos teriam engolido vivos, quando a sua

ira se acendeu contra nós; as águas nos

teriam submergido, e sobre a nossa alma

teria passado a torrente; águas impetuosas

teriam passado sobre a nossa alma. Bendito

o Senhor, que não nos deu por presa aos

dentes deles. Salvou-se a nossa alma, como

um pássaro do laço dos passarinheiros;

quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres.

O nosso socorro está em o nome do

Senhor, criador do céu e da terra.

Este salmo, composto pelo rei Davi, é um hino de louvor

e exaltação a Deus por livramentos, por libertação concedida

em momentos de grande perigo. Aqui, o rei Davi reconhece em

primeiro lugar que, se Deus não estivesse ao lado do Seu povo

e não interviesse em momentos difíceis, o povo estaria perdido.

Depois, ele bendiz a Deus porque Ele, em momento de perigo,

sempre vem em salvamento do Seu povo. E termina o salmo


CAMINHOS DA FÉ

declarando a sua confiança em Deus e conclamando o povo a

confiar no nome do Senhor.

A primeira pergunta que nós precisamos fazer é: em

que situação Davi escreveu este salmo? Quando tomamos

conhecimento de que Davi é o autor, fica fácil responder. Nos

livros históricos (Samuel, Reis e Crônicas), encontraremos pelo

menos três situações em que Davi poderia ter escrito este salmo.

A primeira é aquela história muito conhecida de quando ele

enfrentou o gigante Golias, o campeão dos filisteus, que estava

ameaçando o exército de Deus e ninguém tinha coragem para

aceitar o desafio do gigante. Golias queria lutar contra um

guerreiro escolhido de Israel, e quem ganhasse decidiria o destino

da guerra.

Davi era um pastor de ovelhas, um homem não treinado

na batalha. Ele havia sido enviado por seu pai para o campo dos

israelitas para trazer alimento aos seus irmãos que estavam no

serviço militar e ali ouviu o gigante Golias desafiando o povo

de Deus, e não somente desafiando-o, mas insultando a Deus.

Davi é tomado, então, de um grande zelo pelo nome do Senhor

e resolve ele mesmo partir para enfrentar aquele homem grande,

poderoso, um guerreiro, já experiente. Com uma pedrada na

testa do gigante, Davi pôs fim ao conflito. Se Deus não estivesse

ao lado de Davi, o gigante Golias o teria engolido vivo, como diz

aqui, as águas e as torrentes lhe teriam passado por cima. Mas

Deus estava do lado de Davi e lhe deu esse grande livramento.

Um outro momento na vida do rei Davi em que este salmo

poderia ter sido escrito é quando ele estava fugindo do rei Saul.

Quando Saul descobriu que Davi era o escolhido de Deus para

reinar em seu lugar, Saul começou uma campanha para matá-lo e

o perseguia onde soubesse que ele estava. Há um relato de como o

rei Saul, com seu exército, descobriu onde Davi estava acampado

e veio por um lado da montanha para circundá-la e chegar aonde

Davi estava; eles estavam separados somente por uma montanha.

Quando Saul se aproximou de Davi para matá-lo, chegou um

mensageiro e disse que os filisteus acabavam de invadir algumas

50


SALMO 124 - SE NÃO FOSSE O SENHOR

cidades e ele teria que partir. Saul, então, foi obrigado a desistir

e voltar para resolver os problemas. Foi a libertação de Deus a

Davi, que certamente seria morto naquele encontro que parecia

inevitável.

Mas também há um outro episódio na vida de Davi em

que ele poderia ter escrito este salmo. Foi quando o filho dele,

chamado Absalão, se revoltou contra o seu pai e quis tomar

o trono de Israel, liderando um golpe de Estado contra o seu

próprio pai. Quando Davi viu que Absalão vinha e que já tinha

os militares ao seu lado e os influentes e políticos, fugiu pela porta

dos fundos da cidade e foi embora, juntamente com a sua tropa.

Porém, deixou um conselheiro amigo chamado Husai no palácio.

Assim, quando Absalão tomou o palácio e reuniu todos, Husai

estava no meio.

Absalão, agora rei, perguntou aos conselheiros o que

deveria fazer com seu pai, que estava fugindo e estava para

atravessar o Rio Jordão. Então um conselheiro disse que teriam

que matar Davi, aproveitando que ele estava fraco e cansado.

Porém, Husai disse que esse conselho não era bom, porque Davi

poderia se revoltar e destruir o exército do filho. O melhor a fazer

seria deixá-lo atravessar o rio, acampar e, à noite, quando estivesse

tranquilo e descansado, o atacariam de surpresa. O rei resolveu

que o conselho de Husai era melhor. Isso foi o que livrou Davi,

o conselho daquele homem que estava no palácio, senão Davi

teria sido de fato destruído naquela noite. Se Deus não estivesse

ao lado de Davi quando os homens se levantaram contra ele, ele

teria sido aniquilado.

Nós não sabemos exatamente em qual dessas situações

este salmo foi escrito, e nem mesmo se foi escrito em uma outra

situação similar. O que sabemos é que houve pelo menos três

momentos na vida de Davi em que Deus efetuou um grande

livramento, Deus o livrou do perigo. O salmo é a respeito disso e

de que Deus está ao lado do Seu povo e intervém em sua salvação.

Mais tarde, este salmo foi adicionado aos cânticos dos

peregrinos a caminho de Jerusalém. Este salmo também é muito

51


CAMINHOS DA FÉ

conhecido entre os crentes porque expressa os sentimentos do

nosso coração em nossa jornada aqui neste mundo, quando nós

peregrinamos para a Jerusalém celestial. Nós poderíamos também

contar quantas vezes Deus esteve ao nosso lado e de quantos

perigos Ele nos livrou.

Partamos, então, para a exposição do salmo. Em primeiro

lugar, ele fala que Deus está ao nosso lado: Não fosse o Senhor,

que esteve ao nosso lado, Israel que o diga; não fosse o Senhor, que

esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, e

nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós

(124.1-3). Aqui, Davi está falando sobre Deus estar ao seu lado,

e é isso que vai fazer a diferença. Se Deus não estiver ao nosso

lado, nós estamos perdidos. É porque Ele está ao nosso lado que

somos libertados, que somos livres de situações de perigo, de

calamidade, de crises que vamos encontrar neste mundo.

Isso — Deus ao nosso lado — nada mais é do que aquilo

que na Bíblia e na teologia nós chamamos de a doutrina da

aliança, a doutrina do pacto. Deus fez uma aliança com o Seu

povo. Dentre a humanidade, Ele escolheu aqueles com quem fez

uma aliança selada no sangue de Jesus, prefigurada pelo sangue

dos animais no templo do Velho Testamento. Nessa aliança,

Deus diz que é o nosso Deus e que somos o Seu povo e está ao

nosso lado. Isso significa, então, em termos práticos, que Deus

age em nosso favor, nos liberta de perigos, nos livra não somente

de situações de riscos materiais, mas mais ainda de situações de

risco espiritual. Ele nos protege, nos corrige, nos sustenta, nos

guia aqui neste mundo, porque Ele é o nosso Deus e somos o Seu

povo, Ele está ao nosso lado.

É por isso que Davi, aqui neste salmo, e o apóstolo Paulo,

em Romanos 8.31, dizem: Se Deus é por nós, quem será contra nós?

O Senhor está do nosso lado por conta da aliança. Lembre-se de

que Deus está do nosso lado não por causa de méritos nossos,

não porque nós somos melhores do que qualquer outra pessoa,

não porque você é particularmente melhor e tem mais valor do

que qualquer outra pessoa; mas, pela misericórdia e pela graça de

52


SALMO 124 - SE NÃO FOSSE O SENHOR

Deus, pela aliança que Ele fez com Seu filho Jesus Cristo, porque

Jesus morreu e derramou Seu sangue pelo povo de Deus. Essa é

a doutrina fundamental do cristianismo, ou seja, é a partir disso

— de que Deus está do nosso lado — que nós podemos falar de

salvação, de vida eterna, perdão de pecados, do mundo vindouro

e de todas as bênçãos que Deus preparou para nós.

Nos versos de 3 a 5, Davi relata o que aconteceria se Deus

não estivesse do nosso lado: Não fosse o Senhor, que esteve ao nosso

lado, quando os homens se levantaram contra nós, e nos teriam

engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós; as águas nos

teriam submergido, e sobre a nossa alma teria passado a torrente;

águas impetuosas teriam passado sobre a nossa alma. Ele usa três

figuras para descrever o que é que aconteceria conosco se Deus

não estivesse ao nosso lado: a metáfora 1 de um terremoto — nos

teriam engolido vivos —, a terra se abrindo e as pessoas caindo

vivas na fenda que depois se fecha. No Antigo Testamento, há

pelo menos uma ocasião em que isso aconteceu, Deus fendeu

a terra e os inimigos do povo dele foram engolidos vivos (Nm

16.30-33).

A segunda figura que ele usa está ainda no verso 3: quando

a sua ira se acendeu contra nós. A ira se acendeu, a raiva ficou

tão intensa como uma fornalha, como fogo, que a tudo destrói,

que a tudo devora. Já a terceira figura está nos versos 4 e 5: as

águas nos teriam submergido, e sobre a nossa alma teria passado a

torrente; águas impetuosas teriam passado sobre a nossa alma. Se

o Senhor não estivesse ao seu lado, eles teriam sido destruídos,

como aqueles que perecem debaixo de uma grande inundação.

Essas três figuras, o terremoto, a fornalha e a inundação,

ilustram os perigos que nós passamos aqui nesta vida, e não

somente os perigos materiais, o risco físico, mas especialmente

os riscos e as ameaças espirituais. Temos que lembrar que essas

coisas têm uma aplicação espiritual e que, de todos os perigos que

podem nos cercar, o maior de todos é o perigo espiritual, aquele

que representa uma ameaça à nossa alma e ao nosso destino

eterno.

1 A metáfora é uma ilustração tirada da vida diária para ilustrar ou deixar claro um ponto espiritual.

53


CAMINHOS DA FÉ

Nos versos 6 e 7, porém, Davi diz que Deus libertou o

Seu povo. Ele usa mais duas metáforas para falar da libertação

de Deus. A primeira, a de um animal de presa, provavelmente

um leão: Bendito o Senhor, que não nos deu por presa aos dentes

deles. Escapar de um leão era praticamente impossível. Mas podia

acontecer! Davi sabia disso. Porque várias vezes ele livrou o seu

rebanho de um urso ou de um leão. Ele sabia o que eles poderiam

fazer quando pegassem um animal do rebanho, era uma salvação

quase impossível. Mas, bendito seja Deus, que não deixou que

fôssemos destruídos pelas presas do oponente!

A segunda figura que ele usa aqui é de uma armadilha

de pássaros: Salvou-se a nossa alma, como um pássaro do laço dos

passarinheiros; quebrou-se o laço, e nós nos vimos livres. Davi fala

que Deus o livrou como a um pássaro que escapa da armadilha.

Ele fala aqui que se quebrou o laço e eles se viram livres. Quem é

que quebrou o laço? Deus! Deus interferiu em uma situação que

parecia impossível, que não tinha saída, não havia luz no fim do

túnel, como um animal preso na boca de um leão, como uma

ave que está presa ao laço. Deus, então, interveio e, àquilo que

parecia impossível, vem a libertação. Por isso Davi diz: Bendito o

Senhor.

Depois de refletir sobre tudo isso usando essas figuras do

dia a dia, que ilustram muito bem esse ponto, ele conclui da única

forma possível: O nosso socorro está em o nome do Senhor, criador

do céu e da terra. Essa é a conclusão a que nós chegamos quando

olhamos para trás e vemos o livramento que Deus nos deu. É

nossa conclusão quando nos lembramos da doutrina da aliança,

que Deus está do nosso lado, quando nos lembramos das Suas

grandes e gloriosas promessas e como Ele é fiel. Não podemos

chegar a nenhuma conclusão a não ser essa, que o nosso socorro,

aqui nesta vida e para a vida futura, está somente no nome daquele

que é o Criador dos céus e da terra. É por isso que Ele pode fazer

essas interferências na história, é por isso que Ele pode atender às

orações e por isso Ele pode resolver casos impossíveis. Porque Ele

é o Criador dos céus e da terra, tudo lhe obedece, tudo está sob

54


SALMO 124 - SE NÃO FOSSE O SENHOR

o Seu controle, não há ninguém acima dele, não há quem possa

contestar a Sua vontade ou fazer aquilo que Ele não quer que seja

feito. Assim, o nosso socorro não está nos homens, embora Deus

possa usar as pessoas para nos ajudar, mas sabemos que por trás

de toda providência, de todo livramento, de toda ajuda e de todo

socorro está o nome do Senhor, que fez os céus e a terra.

Terminamos, então, perguntando-nos o que este salmo

nos ensina. Analisemos alguns pontos.

Primeiro: enfrentamos muitos perigos e situações de risco

em nossa jornada nesta vida. Está errada aquela teologia que

diz que porque Deus está ao nosso lado nada de ruim vai nos

acontecer. Não, o fato de que Deus está ao nosso lado não quer

dizer que Ele vá impedir os perigos ou fazer com que a nossa

vida seja supertranquila, sem problemas e sem dificuldades.

Mesmo que Deus esteja ao nosso lado, aqui neste mundo nós

sofremos violência das pessoas, adoecemos, passamos por crises

de relacionamento e crises financeiras. Aqui neste mundo, nós

estamos sujeitos também a muitos perigos espirituais que, em

um certo sentido, são muito mais graves do que esses perigos

temporais; nós corremos o risco de cair em pecado, de esfriar

nosso relacionamento com Deus, de ser tentados e oprimidos pelo

diabo, de sofrer hostilidade no mundo. A nossa vida é cercada de

ameaças, mas nós podemos e devemos aclamar ao nosso Deus em

todas as situações, lembrando o que diz o salmo 124.

Segundo, nem sempre Deus nos liberta retirando as

ameaças e os perigos físicos e temporais. Ter Deus ao nosso

lado significa que Ele vai fazer sempre aquilo que é melhor para

nós, e aquilo que é melhor para nós nem sempre é livrar-nos

do sofrimento, da dor e da angústia aqui. É através dessas coisas

que Deus obtém o fim maior, que é formar o nosso caráter, nos

fazer semelhantes ao Senhor Jesus Cristo; porque, Ele estando ao

nosso lado, a doença, a dificuldade financeira, as ameaças, não

vão nos destruir, mas vão nos fazer melhores crentes, maduros,

espirituais, vão nos desapegar dos amores deste mundo e vão nos

fazer desejar mais o reino vindouro e as coisas de Deus. O bem

55


CAMINHOS DA FÉ

maior que Deus quer para nós nem sempre está na segurança

financeira, na saúde física, no bem-estar neste mundo, mas é

Deus usando tudo isso para o nosso bem.

O apóstolo Paulo, por exemplo, reconheceu essa verdade,

após sofrimento intenso: E, para que não me ensoberbecesse com a

grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro

de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa

disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele

me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na

fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para

que sobre mim repouse o poder de Cristo (2Co 12.7-9). Não fora

Deus que estivesse ao lado do apóstolo Paulo, aquele espinho na

carne o teria destruído. Mas Deus atendeu à oração dele, não ao

tirar o espinho, porém dando graça para que ele pudesse suportar.

Assim também aconteceu com nosso Salvador lá no Getsêmani.

Ele pediu ao Pai que passasse dele aquele cálice, mas Deus negou

e deixou que o Seu próprio filho fosse levado à cruz e padecesse

aquela agonia. Ele tinha um propósito maior em tudo aquilo, que

era a redenção do Seu povo. Se Deus não estivesse ao nosso lado,

o Senhor Jesus não teria sido fortalecido para suportar a agonia

da cruz e morrer por nós, para que tivéssemos redenção. Assim,

o fato de termos Deus ao nosso lado não significa que vamos ter

uma vida isenta de problemas aqui. Significa que Ele vai usar isso

para o bem maior, que é o crescimento espiritual, para que nós

sejamos mais e mais parecidos com Ele.

A maior libertação de todas que Deus pode nos dar é dos

perigos eternos, espirituais. É Deus quem nos livra de Satanás.

Não é interessante que no Novo Testamento essas metáforas que

eu citei anteriormente são aplicadas a Satanás? Por exemplo,

Pedro diz aos seus leitores: Amados, não estranheis o fogo ardente

que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma

coisa extraordinária vos estivesse acontecendo (1Pe 4.12). Esse fogo

ardente, no contexto de Pedro, é instigado pela ação de Satanás

promovendo perseguição contra o povo de Deus. Quem é que

é chamado de leão que ruge e anda ao redor do povo de Deus?

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SALMO 124 - SE NÃO FOSSE O SENHOR

Satanás (1Pe 5.8). De quem é dito “cuidado com as astutas ciladas

e armadilhas”? Satanás (Ef 6.11). Todas essas figuras aparecem no

Novo Testamento e são aplicadas a Satanás, que é o inimigo de

nossas almas. Ele é que arma o laço, ele é o leão da presa, que vem

como esse incêndio, que quer passar essa torrente em cima de

nós. Deus nos livra aqui neste mundo de Satanás, o inimigo das

nossas almas, que nos tenta, que nos quer oprimir, que nos quer

derrubar e afastar do nosso Deus. Se Deus não estivesse ao nosso

lado, nós já teríamos sido destruídos completamente pelo diabo e

os demônios, espíritos malignos que estão ao nosso redor.

É interessante como essa passagem é entendida pelo

apóstolo Paulo em Romanos 8. Depois de fazer uma exposição

da obra da redenção e como Deus nos livra da condenação, Paulo

diz: Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem

será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes,

por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente

com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos

de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo

Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita

de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor

de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou

nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos

entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o

matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores,

por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que

nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as

coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem

a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do

amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.31-39).

Deus está ao nosso lado por causa de Cristo, por causa do

que Cristo fez na cruz. Foi Cristo que morreu, ressuscitou, está à

direita de Deus e intercede por nós. Por isso, eu gostaria que você

agora se levantasse da tristeza em que você se encontra, que você

abandonasse a mágoa, o medo, o temor do futuro e a ansiedade

e que se lembre das promessas de Deus. Que Ele está ao nosso

57


CAMINHOS DA FÉ

lado e esse partidarismo dele ao nosso favor é baseado no sangue

de Cristo, que foi derramado na cruz do Calvário por você e por

mim. Nada vai nos separar do amor de Deus. Essa tribulação que

você está passando, essa angústia, esse momento difícil, Deus vai

santificar isso pela Sua providência, para o seu bem. Nada pode

mais nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, por

isso todas as coisas cooperam para o bem daqueles que O amam.

Que você tenha a esperança e a alegria renovadas e louve

a esse Deus, cante a Ele e diga que quer viver para o Seu louvor,

porque, pelo Seu grande amor e misericórdia, Cristo morreu e lhe

livrou do maior de todos os perigos: a condenação eterna, que os

seus pecados, com justiça, mereciam.

ORAÇÃO:

Ó Deus, te damos graças porque o Senhor está ao nosso

lado, está ao lado do Teu povo e nada poderá nos separar do Teu

amor. Damos-te graças pela obra completa de Cristo e porque

através dela nós somos livres do laço do passarinheiro, da presa do

leão, da fornalha ardente, do terremoto que engole e da torrente

que destrói. Damos-te graça porque o Senhor nos preservará e

nos conservará para o Teu reino, aquele reino em que se aproxima

o mundo vindouro, que se achega a cada dia, quando o Senhor,

então, estabelecerá a justiça e a paz finalmente aqui neste mundo.

É o que nós te pedimos, em nome de Jesus. Amém.

58


SALMO 125

ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

Os que confiam no Senhor são como o

monte Sião, que não se abala, firme para

sempre. Como em redor de Jerusalém estão

os montes, assim o Senhor, em derredor

do seu povo, desde agora e para sempre. O

cetro dos ímpios não permanecerá sobre

a sorte dos justos, para que o justo não

estenda a mão à iniquidade. Faze o bem,

Senhor, aos bons e aos retos de coração.

Quanto aos que se desviam para sendas

tortuosas, levá-los-á o Senhor juntamente

com os malfeitores. Paz sobre Israel!

Este salmo é de encorajamento. Ele tem como objetivo

animar o coração do crente quando passa por uma grande

adversidade e momentos difíceis. Nós não sabemos quem o

compôs, mas ele é um dos salmos preferidos dos cristãos. Quem

não o conhece ou não gosta dele, não é mesmo? Quem não está

familiarizado com a sua abertura: Os que confiam no Senhor são

como o monte Sião? É um daqueles versículos que decoramos, pois

ouvimos desde pequenos, e o recitamos. Não sabemos quem o

compôs, mas sabemos que ele era usado pelos peregrinos judeus

quando se deslocavam de suas cidades para Jerusalém durante as

festividades anuais ordenadas pela lei de Moisés.


CAMINHOS DA FÉ

O nosso objetivo ao expor este salmo é trazer o conforto,

o ensinamento, a instrução e o encorajamento que ele trouxe ao

povo de Deus naquela época, considerando que nós somos o povo

de Deus hoje e que também estamos peregrinando, estamos aqui

neste mundo de passagem, caminhando para o nosso lar celestial,

a Jerusalém que está nos céus. Este salmo fala de como o povo de

Deus deve se comportar quando está passando por um período

de adversidade em sua jornada para a pátria celestial.

Vamos começar tentando imaginar a situação em que este

salmo foi escrito. O que é descrito no salmo é uma situação em

que o povo de Deus está vivendo debaixo da opressão dos ímpios.

Então, olhando a história da nação de Israel, há três possibilidades

em que isso poderia ter acontecido. Primeiro: quando a nação

de Israel estava em sua terra, porém estava dominada por uma

potência estrangeira, como os moabitas, os filisteus e os amonitas.

Isso aconteceu várias vezes, conforme lemos no livro dos reis e no

livro das crônicas. Nesses livros vemos que às vezes acontecia que

um povo estrangeiro dominava a terra prometida, e Israel ficava

debaixo da opressão daqueles povos ímpios. Uma dessas ocasiões

bem pode ter sido o momento em que o salmo foi escrito.

Uma outra situação era quando um rei judeu se tornava

ímpio e oprimia o povo de Deus. Esse é outro caso que

encontramos também no livro dos reis e no livro das crônicas.

Há vários períodos em que alguns dos reis de Israel, como o rei

Acabe, que eram extremamente ímpios, oprimiam o próprio povo

de Deus, e aqueles que temiam ao Senhor sofriam sob aquele

governo opressor.

Ou pode ter sido também em situações em que Israel

estava dominando sobre a terra, mas havia alguns bolsões de

resistência e hostilidade, alguns espaços que ainda pertenciam

aos inimigos, aos filisteus, amorreus e cananeus, que estavam ao

redor, e havia sempre aquele perigo e adversidade.

Qualquer que tenha sido a situação — e eu quero acreditar

que o que encaixa melhor aqui é um tempo em que Israel estava

sendo dominado por uma potência estrangeira; este salmo traz o

60


SALMO 125 - ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

mesmo quadro: crentes verdadeiros vivendo sob a adversidade, a

opressão e a perseguição. Havia o mau exemplo dos governantes

ímpios, que poderia corromper o crente verdadeiro, havia a

opressão, havia a injustiça. Com isso tudo, havia o risco de o

temente a Deus desanimar, desistir, ceder e, finalmente, aliarse

com os maus, com os ímpios, viver como eles viviam e fazer

aquilo que era abominável a Deus. E, naquela época, duas coisas

em particular eram tentações para o povo de Israel: a idolatria,

que era se curvar diante dos deuses desses povos que oprimiam a

nação de Israel, o que aconteceu várias vezes, e a imoralidade, ou

seja, a devassidão, a prostituição, que também eram características

desses povos ao redor da nação de Israel.

Este salmo é escrito nesse contexto. O povo de Deus estava

sendo oprimido e ameaçado. Os que temiam a Deus estavam

sendo provados constantemente. O salmo mostra, então, de que

maneira eles deveriam se comportar e enfrentar as situações de

adversidade. E são basicamente três atitudes que o salmista nos

recomenda:

A primeira é que nós temos que nos lembrar das promessas

de Deus; isso está nos versos de 1 a 3. A segunda atitude é a de

orar a esse Deus das promessas (verso 4). A última, que está no

verso 5, é que nós devemos ficar atentos contra a tentação e o

risco de nos desviarmos por conta dessa adversidade e provação.

Agora, veremos cada uma dessas recomendações feitas no salmo,

orando para que Deus o utilize para nos confortar, animar e

encorajar quando nós mesmos passamos por tantas adversidades

aqui neste mundo.

A primeira atitude que o salmista recomenda ao povo de

Deus é que se lembre das promessas do Senhor. Nos versos de

1 a 3, o salmista se dirige àqueles que confiam no Senhor. Essa

palavra, portanto, é para o verdadeiro israelita, para o verdadeiro

judeu, aquele que temia e amava a Deus. Ele é chamado aqui de

“aquele que confia no Senhor, é bom e reto de coração e pratica

o que é justo”. Essa descrição combina duas coisas: a fé pela qual

ele é justificado e perdoado e as atitudes que demonstram isso.

61


CAMINHOS DA FÉ

Ele é bom, justo e reto de coração porque foi justificado. Ou seja,

essa palavra aqui é dada aos verdadeiros crentes dentro do povo

de Israel. No meio do povo de Deus, havia os que se desviavam,

mas essa palavra aqui é para os que confiam no Senhor e O amam

de todo o coração.

É bom lembrar o que significa confiar no Senhor. A

confiança em Deus não era somente uma atitude de pensamento

positivo ou concordar que Deus existe. Aqui no contexto, bem

como em toda a Bíblia, confiar no Senhor significa firmar-se na

palavra dele, receber de Deus uma palavra e colocar sua vida, guiar

suas ações e fazer as suas escolhas com base naquela palavra. Por

quê? Porque foi Deus que disse, e Ele é o Criador, Ele é o Senhor,

o Todo-Poderoso, Ele é fiel e não mente, não muda. O que Ele

diz vai acontecer. Confiar em Deus é você viver pela palavra dele,

colocar sua vida no que Ele diz e dirigir as suas atitudes por tudo

aquilo que Deus já falou. Na época em que o salmo foi escrito, os

cinco livros de Moisés já estavam prontos, alguns outros salmos

já estavam prontos, os livros históricos já estavam prontos, o livro

de Josué já estava pronto, talvez até o livro de Jó. Então já havia

Escritura. Aquele que confia no Senhor é o que recebe a palavra

de Deus e deposita a sua esperança completamente nela.

Há particularmente três promessas que são feitas aqui para

os que confiam no Senhor. A primeira delas é firmeza. Observe o

verso 1: Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não

se abala, firme para sempre. O Monte Sião era um monte sobre

o qual estava a cidade de Jerusalém. Ele não é um monte muito

grande, não é uma montanha imponente como o Himalaia, mas

dá a ideia de fortaleza e de firmeza. Ele está firmado em uma

cadeia de montanhas, está muito seguro ali. Essa figura do monte

que passa a ideia de firmeza e estabilidade é aplicada àquele que

confia no Senhor. O que confia no Senhor é como um monte, ele

está firme, não se abala.

São duas coisas aqui que são ditas com relação à firmeza

do que confia no Senhor. A primeira é que aquele que confia

no Senhor é como o Monte Sião, que não se abala. O que isso

62


SALMO 125 - ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

significa? Na verdade, não significa que o crente não vai passar

por problemas, apenas que esses problemas não vão abalá-lo, não

vão destruí-lo, não vão afastá-lo de Deus, como diz o restante

do verso primeiro: ele fica firme para sempre. Nós estamos aqui

diante da doutrina ensinada em toda a Bíblia, de que aqueles

que confiam no Senhor serão guardados por Deus para todo o

sempre. Eles podem passar por adversidades, eles vão passar por

problemas e dificuldades, mas nunca serão removidos da presença

de Deus, nunca vão cair da graça de Deus, nunca vão perder esse

relacionamento com Ele, jamais serão cortados da Aliança. Eles

são como uma montanha, que não se abala. Os ventos sopram,

a tempestade vem, a chuva pode cair, porém os que confiam no

Senhor são como uma montanha, eles ficam ali, firmes. Note,

entretanto, que ele está firme pela fé, e não pelos méritos dele. Ele

está firme porque confia naquele que é firme, naquele que é fiel e

naquele que o sustenta.

A segunda promessa é de proteção. Veja o que diz o verso

2: Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o Senhor, em

derredor do seu povo, desde agora e para sempre. Aqui, outra vez

é tirada uma comparação da geografia de Jerusalém. O Monte

Sião estava no meio de uma cadeia de montanhas — na verdade,

é um planalto, onde está erigida a cidade de Jerusalém, cercado

por montanhas mais altas. Então, da mesma forma que aquelas

montanhas cercam a cidade de Jerusalém e fornecem um refúgio

natural contra os inimigos, Deus está ao redor do Seu povo, desde

agora e para sempre. O que isso significa? Em primeiro lugar, a

ideia de que Deus está em redor, ou seja, Ele nos cerca e nos

protege por todos os lados, não há nenhuma brecha por onde o

inimigo possa entrar.

Em segundo lugar, Ele faz isso agora e para todo o

sempre. Essa proteção de Deus para o Seu povo é uma proteção

que vai durar eternidade afora. Mais uma vez, o salmo não está

dizendo que essa proteção divina significa que Deus vai evitar que

algum mal nos aconteça, como uma opressão, uma doença, uma

dificuldade financeira, um acidente ou qualquer um dos males

63


CAMINHOS DA FÉ

que são comuns à natureza humana. O que o salmo está dizendo

aqui é que Deus vai nos proteger, vai nos cercar, para que nós

jamais nos afastemos dele, para que nós permaneçamos fiéis a

Ele e firmes no relacionamento com Ele, enquanto que outros se

desviam, como vamos ver no versículo final. Deus protege o Seu

povo dos ataques do diabo, dos ataques da carne, do mundo e do

nosso próprio coração, porque a Sua aliança e a Sua fidelidade

não podem ser quebradas.

A terceira promessa é de livramento. Atente para o verso 3:

O cetro dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que

o justo não estenda a mão à iniquidade. Veja que promessa! Como

eu disse, à época deste salmo, a nação de Israel estava oprimida

por um rei ímpio. Esse é o contexto provável aqui no verso 3. A

expressão o cetro 2 dos ímpios significa aqui o poder dos ímpios; o

poder dos ímpios não permanecerá sobre a sorte dos justos. Se os

justos aqui eram o povo de Deus, a sorte deles, ou a porção deles,

era a nação de Israel. Ou seja, havia um rei ímpio, um poder

ímpio, que estava dominando sobre a nação de Israel, mas Deus

estava dizendo que aquilo não permaneceria muito tempo, que

Ele não iria deixar que os justos fossem oprimidos pelos ímpios

durante muito tempo. Talvez eles fossem oprimidos durante um

período, talvez eles passassem um tempo de adversidade e aflição,

porém Deus não permitiria que isso demorasse muito, para que o

justo não estenda a mão à iniquidade (final do verso 3).

Se a perseguição é muito demorada, se o sofrimento é

muito grande, se a atribulação se demora muito, o justo pode

se corromper, ele desanima. Não são poucos os membros da

Igreja que, diante de muita aflição e dificuldade, abandonam a fé,

duvidando da existência de Deus. E, quando eles não abandonam

a fé, esfriam na fé, desanimam, ficam meio que confusos, em

dúvida, porque essas coisas ruins lhes estão acontecendo. Mas há

essa promessa para os que confiam no Senhor: Ele não permitirá

que o poder do ímpio permaneça sobre o justo, para que o justo

2 Cetro é o bastão que o rei tem na mão e que simboliza o poder real, com o qual ele dá as ordens, comanda

batalhas, determina ações, promulga leis; resumindo, o cetro representa o poder.

64


SALMO 125 - ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

não lance mão da iniquidade, para que ele não desista e queira

proceder como o ímpio, como o injusto e o corrupto, porque não

acredita mais que há diferença entre servir a Deus ou não.

No Novo Testamento, encontramos duas passagens que

são bem parecidas com essa. Uma delas é no sermão escatológico

de Jesus, em que o Senhor se referiu à grande tribulação, que é um

período de grande adversidade que um dia virá sobre o povo de

Deus. Ele disse que, se Deus não abreviasse aqueles dias, ninguém

se salvaria. Se Deus não abreviasse o tempo do sofrimento, da

adversidade e da provação, nem os eleitos suportariam (Mt

24.22).

Já a outra passagem é do apóstolo Paulo, em 1Coríntios

10.13: Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus

é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo

contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de

sorte que a possais suportar. Em outras palavras, o salmista está

dizendo: “Aguente mais um pouco, Deus é que sabe a medida,

Deus sabe o tempo, e Ele não vai permitir que o cetro do ímpio

permaneça sobre o justo, para que o justo não lance mão à

iniquidade”. Queremos nos livrar da adversidade logo, desejamos

que ela vá embora prontamente, mas Deus tem um propósito

com tudo isso!

E aqui está essa garantia, que é a terceira promessa do

salmo: quem está no controle é Deus, e não o ímpio, apesar

de ele ter o cetro. No tempo de Deus, Ele vai remover o poder

da adversidade, para que você não se corrompa. São essas três

promessas que nós devemos lembrar no tempo da adversidade.

Nós temos um grande Deus que está no controle de todas as

coisas, que sabe o que podemos suportar. O alvo dele não é

que nós aqui vivamos uma vida tranquila e confortável, mas

que permaneçamos fiéis a Ele, firmes em nossa fé e em nossa

confiança.

A segunda atitude que o salmo nos recomenda —

lembrando que a primeira é confiar nas promessas de Deus — é

orar em meio à adversidade (125.4). O salmista agora, depois

65


CAMINHOS DA FÉ

de ter se dirigido, nos versos 1, 2 e 3, aos seus irmãos que estão

passando por adversidades, dirige-se a Deus e faz uma oração:

Faze o bem, Senhor, aos bons e aos retos de coração. Ele ora: “Deus,

faze o bem a esse povo, esse Teu povo que está debaixo da

adversidade”. Fazer o bem aqui não significa tornar a nossa vida

mais fácil, significa nos firmar na fé, nos proteger da queda e do

afastamento.

Na carta de Paulo aos romanos, temos uma passagem

muito conhecida que diz que todas as coisas cooperam para o

bem dos que amam a Deus (Rm 8.28). Geralmente lemos esse

versículo pensando que o bem ali é o nosso conforto, é a nossa

prosperidade, a nossa saúde, a nossa segurança e o nosso bemestar

e exclamamos: “Puxa, que promessa maravilhosa! Deus usa

todas as circunstâncias para o meu bem, para que eu me sinta

bem, para que eu tenha tudo e seja próspero”. Mas não é esse o

bem a que a Bíblia se refere quando diz que Deus faz tudo para o

nosso bem. Também não é esse o bem a que o salmista se refere

quando ele ora e diz: Faze o bem, Senhor. O bem aqui é o bem

espiritual, é você estar firme com Deus, ficar firme nas promessas

dele, continuar a servir a Deus mesmo quando tudo está dando

errado. Confiar em Deus quando tudo está bom é muito fácil,

mas a nossa fé é provada quando Ele tira os nossos confortos

aqui neste mundo, quando tira aquilo que nos acalenta e nos é

seguro e nos faz andar pela fé e pelas Suas promessas, quando

tudo ao redor parece dizer o contrário. Então a oração é esta:

Senhor, faze o bem a esse povo, aos bons e aos retos de coração,

que são aqueles que confiam no Senhor e que estão passando

por essa adversidade. Esta deveria ser a nossa atitude em época

de adversidade, de aflição, de problemas: clamar ao Deus da

promessa e pedir que Ele cuide de Seu povo.

Finalmente, no verso 5, há a terceira atitude: temos que

vigiar contra as tentações. Observe: Quanto aos que se desviam para

sendas tortuosas, levá-los-á o Senhor juntamente com os malfeitores.

Quem são esses a quem o salmista se refere aqui como sendo os

que se desviam para as sendas tortuosas? São aqueles membros

66


SALMO 125 - ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

do povo de Deus que, debaixo do cetro do ímpio, debaixo do

poder da adversidade, desviam-se para sendas tortuosas. Eles

cedem diante da pressão no ambiente de trabalho, na escola, na

família, no ambiente público, em todo lugar, deixam-se dominar,

intimidar e enfraquecer pelo ímpio e pelo seu poder. Desviam-se

para caminhos tortos, saindo do caminho de Deus. São o oposto

daquele que fica firme como o Monte Sião.

Não são poucos, como eu disse, na história da Igreja, que,

debaixo de muita adversidade, perseguição e provação, desviaramse

por caminhos tortuosos, abandonaram a fé, abandonaram a

confiança em Deus, porque acharam que Ele não era justo e que

eles não mereciam sofrer daquele jeito. Eles não entenderam o

propósito de Deus, desanimaram e voltaram atrás. Mas olhe o que

o salmista diz sobre aqueles do povo de Deus que não suportam

caminhar os três quilômetros que ainda faltam e que querem

cair no meio do caminho: levá-los-á o Senhor juntamente com os

malfeitores. Deus vai tratá-los como vai tratar os malfeitores que

estão oprimindo o Seu povo e vai levá-los a juízo.

Esse versículo é uma advertência para nós, para que nós,

em meio à dificuldade e à adversidade, não sejamos corrompidos

pela tentação de desanimar, abandonar a Deus, negar ou esfriar

a nossa fé, virar as costas para Deus ou então praticar o mal. Por

exemplo, em seu ambiente de trabalho, o poder do ímpio lhe

impõe ou o obriga a fazer o que é contra a palavra de Deus, e você

resiste e resiste, até que a uma certa altura você cede e começa a

viver como ele. Você foi corrompido, tornou-se como um deles.

E a advertência aqui é que Deus vai tratar os que se desviam para

caminhos tortuosos como trata os malfeitores, ou seja, há um dia

em que Deus vai exercer juízo e justiça e vai ajustar as contas com

todos nós, e, nesse dia, os que confiam no Senhor serão como o

Monte Sião: eles não se abalam. Porém, os que se desviarem por

caminhos tortuosos serão tratados como os malfeitores.

A última oração do salmo é a que está no final do verso

5: Paz sobre Israel! Haja paz sobre o povo de Deus, que o povo

de Deus, em meio à adversidade, encontre paz em sua confiança,

67


CAMINHOS DA FÉ

que seja como o monte Sião, que não se abala, que confia no

Senhor que o cerca, como as montanhas cercam Jerusalém. Que

o povo de Deus confie na promessa dele de que a tentação vai ser

somente por um tempo e que Ele sabe o nosso limite e vai dar o

escape também para que o Seu povo permaneça firme para todo

o sempre.

Eu termino destacando três coisas que este salmo

nos ensina. Primeira, que o povo de Deus enfrenta muitas

adversidades. É fato, começou em Israel, debaixo do domínio

pagão, depois os cristãos sob o Império Romano, depois os

cristãos na época moderna, sob os regimes totalitários, como os

regimes islâmicos, o cristão no ambiente de trabalho, na própria

família, na sociedade moderna, com leis que o expulsam mais e

mais da esfera pública, que influenciam a sua maneira de criar

os filhos, a sua visão de família e de sexualidade. A Igreja vive

debaixo de adversidade desde o dia em que nasceu. Essa é a

nossa jornada aqui. Somos peregrinos em um mundo hostil, não

somos daqui, estamos aqui, mas não pertencemos aqui, a nossa

pátria é celestial. Neste mundo, vamos enfrentar adversidades, há

inimigos por todos os lados. Então, se você pensa no cristianismo

ou que ser cristão é algum tipo de religião que tem como objetivo

beneficiá-lo aqui neste mundo e que Deus vai lhe recompensar

dando tranquilidade, paz e segurança, você tem uma concepção

errada de cristianismo.

A segunda lição que desejo destacar neste salmo é que

Deus firma, protege e livra o Seu povo. Deus não vai impedir que

o sofrimento e a adversidade venham, mas vai nos sustentar para

que não caiamos nas provações. É o que chamamos em teologia

de perseverança dos santos. Aqueles a quem Deus amou, chamou,

justificou, por quem Cristo morreu e em quem o Espírito Santo

habita jamais decairão da graça, jamais abandonarão a fé em

Deus, mesmo que passem por muitas adversidades e tribulações.

E não é por mérito deles, é porque Deus os cerca, os protege

e os livra aqui neste mundo. Os que são de Deus haverão de

perseverar mesmo em meio a tantas provações, ainda que haja

momentos de adversidade, de questionamento e de dúvida.

68


SALMO 125 - ENFRENTANDO A ADVERSIDADE

Terceira: Deus haverá de levar a juízo aqueles que

oprimem o Seu povo. Haverá um dia em que Deus levará a juízo

os que oprimem o Seu povo. Nós queremos que Ele o faça aqui e

agora. Costumamos nos perguntar por que o ímpio prospera, e a

resposta é que Deus tem um dia apontado e já tem o juiz — que

será Jesus Cristo —, em que Ele vai julgar o mundo. Somente

nesse dia haverá justiça completa e então veremos que valeu a

pena servir a Deus. Nesse dia, ficará clara a diferença entre quem

teme a Deus e confia nele e quem virou as costas para Ele. Por

isso, nós temos de viver neste mundo olhando para o futuro. A

nossa confiança está nas promessas do Senhor, e não em qualquer

conforto terreno, não em qualquer coisa aqui deste mundo, mas

sim em quem fez os céus e a terra.

Porém, como é que você vai viver isso se você não lê a sua

Bíblia todo dia? Onde é que estão as promessas de Deus? Estão ali

nas Escrituras, mas os dias passam e você usa o seu tempo de forma

equivocada, não reserva momentos para ler a Escritura. Quando

vier a adversidade, com que você vai enfrentar a dor, o sofrimento,

a intriga, a inimizade, a calúnia e a opressão? Autoajuda? Não!

Com a Palavra de Deus! É nela que nós encontramos as promessas

de Deus para que vivamos como o Monte Sião. Lembre-se, você

tem que ter a sua mente na Palavra de Deus, seu coração tem que

estar firmado nela, por isso é que você precisa diariamente tirar

tempo para ler a Escritura e meditar nela, memorizá-la e fazer

dela a linguagem do seu coração.

Outra coisa que devemos fazer é orar sem cessar, como

nos ensina o salmo: Faze o bem, Senhor. Clamar a Deus, tirar

tempo todo dia em oração com o Senhor e pedir que Ele cumpra

as Suas promessas, porque Ele é fiel. Ainda, é preciso vigiar, não

desanimar diante da provação que parece demorada demais, não

imitar a prática dos ímpios, mas ficar firme na confiança em nosso

Deus e, acima de tudo, louvá-lo pelo nosso Senhor e Salvador

Jesus Cristo. É somente por conta dele — porque foi Ele que

aguentou até o final sem desistir, Ele que tomou sobre Si todos

os nossos pecados e bebeu até a última gota do cálice da ira de

69


CAMINHOS DA FÉ

Deus — que você e eu hoje podemos ser salvos, perdoados e fazer

parte do povo de Deus. Então louve a Deus por meio de Jesus

Cristo, nosso Senhor e Salvador, o Capitão da nossa fé, nosso

Sumo Sacerdote, por meio de quem nós somos conduzidos aqui

neste mundo, até aquele grande dia em que entramos em nossa

pátria celestial.

ORAÇÃO:

Ó Senhor, bendito seja o Teu nome! Tu és fiel! As Tuas

promessas são verdadeiras. Ensina-nos a perseverar aqui neste

mundo, em meio às provações. Dá-nos graça para permanecermos

firmes quando os ímpios nos perseguem e oprimem. Guarda o

Teu povo em Teu amor. E, se falharmos, tenha compaixão de nós,

e levanta-nos para continuarmos no caminho do Reino Celestial.

Em nome de Jesus, amém.

70


SALMO 126

COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

Quando o Senhor restaurou a sorte de

Sião, ficamos como quem sonha. Então,

a nossa boca se encheu de riso, e a nossa

língua, de júbilo; então, entre as nações se

dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito

por eles. Com efeito, grandes coisas fez o

Senhor por nós; por isso, estamos alegres.

Restaura, Senhor, a nossa sorte, como

as torrentes no Neguebe. Os que com

lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem

sai andando e chorando, enquanto semeia,

voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.

Este é um dos salmos prediletos do povo cristão. Ele fala

de restauração, alegria e júbilo. A palavra de Deus nos convoca

a vivermos assim, sempre alegres. Muitas passagens no Novo

Testamento falam a respeito disso, como: Alegrai-vos sempre no

Senhor; outra vez digo: alegrai-vos (Fp 4.4).

Esse desafio de permanecer alegres em toda e qualquer

situação tem levado os cristãos através da História a buscar a

Deus por orientação sobre a maneira pela qual nós podemos

sempre viver alegres. Mesmo quando a vida está cercada de

dificuldades, problemas, adversidades, conflitos, angústias e


CAMINHOS DA FÉ

temores, a orientação da Escritura é clara: Deus deseja que o Seu

filho aqui neste mundo sempre tenha o espírito tranquilo, de

regozijo e de gratidão por todas as coisas. A grande dificuldade é

como fazer isso. Este salmo nos fala de que maneira nós podemos

cultivar sempre um espírito alegre mesmo em meio às grandes

dificuldades.

Nós não sabemos quem compôs este salmo, mas com

certeza, ao fazê-lo, o salmista expressou muito bem os sentimentos

do povo de Deus depois que a nação de Israel foi libertada do

cativeiro da Babilônia. Esse é o provável contexto em que este

salmo foi escrito. Ele começa se referindo à restauração da sorte

de Sião no verso primeiro, que é uma referência à libertação da

nação de Israel do cativeiro babilônico.

Como você se recorda bem da história, os descendentes

de Abraão haviam entrado na terra prometida sob a liderança de

Josué, e, pela graça de Deus, conquistaram todas aquelas nações

que já habitavam ali e se tornaram o poder dominante na terra.

Então a terra passou a ser da nação de Israel, a terra que Deus

havia jurado dar aos descendentes de Abraão. Porém, o povo de

Deus, já na terra, esqueceu-se dele e começou a adorar outros

deuses, começou a se misturar com os povos pagãos e a adotar os

seus costumes. Assim, Deus mandou juízes e profetas, levantou

reis piedosos que reformaram parcialmente a religião de Israel.

Mas o povo continuava idólatra e endurecido de coração, até que

finalmente — usando um termo humano — a paciência de Deus

se esgotou e Ele resolveu castigá-los expulsando-os daquela terra

que Ele lhes havia dado.

Primeiro, Deus mandou os assírios, que eram, na época,

a nação que dominava o cenário político, econômico e mundial.

Os assírios invadiram o reino do norte, que tinha sua capital em

Samaria. Naquele tempo, Israel estava dividido em dois reinos.

O reino do norte, com capital em Samaria, onde havia o culto

aos bezerros de ouro; em vez de adorarem a Deus, eles adoravam

bezerros de ouro, imaginando que foram esses deuses que os

tiraram da terra prometida. Deus, então, mandou os assírios

72


SALMO 126 - COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

com seu chicote para castigar o Seu povo e levou o reino do

norte em cativeiro. E havia o reino do sul, cuja capital era Judá,

da dinastia de Davi, que seguia nos mesmos erros do reino do

norte. Deus mandou os babilônicos, que já tinham dominado os

assírios a essa altura, levarem cativo o restante do povo de Deus

para a Babilônia. Eles foram presos, muitos morreram, inclusive

velhos e crianças. A nação foi assolada, o templo foi destruído,

os muros de Jerusalém foram derrubados. Os judeus perderam

tudo que tinham e foram levados em massa para a Babilônia para

servirem ali como escravos. Ficaram cerca de setenta anos como

escravos dos reinos que dominavam a Babilônia. No começo, foi

o rei Nabucodonosor, depois veio Ciro, o persa, que dominou

a Babilônia. E, durante esse tempo, lá no cativeiro, os judeus

ficaram sem o templo, ficaram sem a terra, sem os sacrifícios, sem

os sacerdotes, sem o seu rei, embora Deus não tenha se esquecido

deles. Mesmo que o Seu povo estava no cativeiro, Deus ministrou

a eles através do profeta Daniel e outros que ele havia levantado,

como o escriba Esdras.

Passados cerca de setenta anos, Deus se lembrou do

Seu povo, teve misericórdia deles e moveu o coração de Ciro,

o rei da Pérsia, que dominava o mundo naquela época e havia

tomado Babilônia e todos os reinos. Esse rei, então, passou um

decreto libertando os judeus e autorizando que eles voltassem

para a sua terra, deu-lhes presentes e dádivas, inclusive forneceu

guardas para a viagem, dizendo: “Vão e reconstruam sua cidade,

reconstruam o templo ao Deus de vocês”. Deus moveu o coração

daquele governante cerca de setenta anos depois do cativeiro, e os

judeus voltaram, não todos, mas muitos voltaram e reocuparam

as cidades antigas que um dia lhes pertenceram e começaram a

reconstruir as suas casas, os muros, o templo. Esse é o período de

Esdras, de Neemias e dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias,

que são os três últimos profetas que nós encontramos no Antigo

Testamento.

Porém, a vida não estava fácil. Por um lado, eles estavam

muito alegres pela restauração de sua vida como nação, mas

73


CAMINHOS DA FÉ

as dificuldades para recomeçar eram muitas. Primeiro havia a

hostilidade dos povos ao redor: ninguém queria os judeus de

volta. A terra não tinha ficado vazia. Quando os judeus saíram da

terra, outros povos a ocuparam, e agora havia o problema de ter

que conviver com vizinhos que não queriam que eles estivessem

ali. E havia também a tentação de eles voltarem a cometer os

mesmos pecados. Na verdade, muitos dos judeus que voltaram

do cativeiro já estavam se misturando com as mulheres daqueles

outros povos e começavam a praticar idolatria. As dificuldades

financeiras eram muito grandes, porque eles receberam permissão

para voltar para a terra, porém ainda eram um povo subjugado,

sob o domínio do rei da Pérsia. Eles ainda tinham que pagar

tributo e não podiam ter o seu rei de volta. Eram governados

por um preposto, alguém enviado pelo rei da Pérsia para poder

dominar sobre eles. Além disso, muitos judeus haviam ficado na

Babilônia, o retorno foi parcial.

O salmista escreve este salmo nessa situação. Ele olha para

trás, vê a restauração, vê como Deus mudou a sorte do seu povo,

libertando-o, e relembra o sentimento que eles tiveram naquele dia,

a alegria que sentiram quando chegou a notícia de que poderiam

voltar. Então ele olha para a situação presente, as dificuldades

que eles estão vivendo, que a restauração não é completa, e ora

para que Deus termine a restauração. Ele olha para frente, para o

futuro, quando Deus haverá de trazer uma restauração completa

ao seu povo. É por isso que o salmo está dividido em duas partes.

Na primeira, a alegria pela restauração passada pelas bênçãos que

Deus já deu (versos 1 a 3) e, na segunda, a alegria pela restauração

futura, por aquilo que Deus haveria de fazer (versos 4 a 6).

Aqui no salmo 126, nós encontramos o padrão do

procedimento de como podemos atender à ordem de Deus

de vivermos contentes em todo lugar e sempre. Primeiro, nos

lembrando do que Deus fez, do que Ele nos deu em Cristo

Jesus, e, segundo, olhando para o que Ele ainda nos fará e, em

meio a isso tudo, orando para que Ele cumpra a Sua promessa.

Examinemos, então, o ensino deste salmo.

74


SALMO 126 - COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

Em primeiro lugar, o salmista se alegra, ou registra a

alegria do povo de Deus pela restauração passada (126.1-3). Eles,

na terra prometida, olham para trás, para aquele momento de

libertação, e lembram os sentimentos que tiveram quando essas

coisas aconteceram — são quatro. Quando o Senhor restaurou

a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Quando os cativos

souberam que estavam livres, que poderiam voltar para casa, foi

como um sonho. Era bom demais para ser verdade. A primeira

impressão foi uma mistura de incredulidade e alegria. Eles foram

surpreendidos por uma circunstância boa: o decreto do rei

dizendo que estavam livres e poderiam voltar para a sua terra. Era

um sonho!

Quando foi dito a eles que Deus restaurou a sorte de

Sião — Sião é outro nome para Jerusalém —, isto é, que agora

Sião, com Jerusalém e toda aquela região, voltou a ser deles, eles

ficaram como quem sonha, naquele estado de uma alegria quase

inacreditável pelo que Deus fez. Deus havia se lembrado deles,

miseráveis pecadores que estavam ali. Ele os tinha castigado,

estavam ali devido às suas faltas e culpas, mereciam tudo aquilo,

mas agora Deus teve misericórdia deles e os livrou do cativeiro.

A segunda reação está no verso 2: Então, a nossa boca se

encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo. Os judeus começaram a

rir à toa, a felicidade entrou em seu coração, eles batiam no ombro

um do outro e se juntavam para rir, para celebrar e agradecer, era

só felicidade. Deus havia mudado a situação deles, Deus os havia

restaurado daquela situação tão difícil e complicada, e a boca

deles se encheu de júbilo. Eles começaram a falar da alegria que

eles estavam sentindo por aquilo que Deus havia feito. A alegria

era tão grande, que eles não conseguiam se conter. A língua

deles se encheu de júbilo e eles expressavam para as pessoas, aos

vizinhos que eram de outras nações — lembre que na Babilônia

não havia somente os judeus, mas outros povos que haviam sido

conquistados também pelos babilônicos, assírios e persas —, e

diziam: “Você ouviu a boa notícia? O rei nos libertou! Nós vamos

voltar para casa!”. Então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o

Senhor tem feito por eles.

75


CAMINHOS DA FÉ

No verso 3, há o testemunho de glória a Deus: Com efeito,

grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres. Que

dias gloriosos aqueles em que chegou a notícia! Coração alegre,

coração exultante, coração embandeirado, em festa, alegria,

testemunho, lembrando-se de tudo que Deus fez, de como Ele

teve misericórdia, a língua cheia de júbilo, tudo isso redundando

em glória para Deus. De fato, quem assinou o decreto foi o rei,

mas sabemos quem é que segurou a mão do rei e o mandou

escrever isso: foi o nosso Deus, é Ele que está por trás de cada

libertação, de cada providência. [...] grandes coisas fez o Senhor por

nós; por isso, estamos alegres.

Contudo, aqueles dias estavam no passado. O salmista

agora ora e pede: Restaura, Senhor, a nossa sorte. Estranho, Deus não

a havia restaurado? Não é o que diz o verso primeiro? O que tinha

acontecido é que, passados os primeiros momentos, os primeiros

dias, meses e anos da euforia e da alegria, eles perceberam que a

vida mais ou menos retornara ao seu ritmo normal, eles estavam

de volta à terra prometida, mas a reconstrução da cidade era

complicada. É só ler o livro de Esdras e Neemias e você vai ver as

dificuldades que os samaritanos e outros povos estavam colocando

para a reconstrução da cidade. Havia calúnia, armadilhas, pessoas

que faziam fuxico para o rei sobre os judeus, que estavam

lutando contra aquilo. Além disso, os judeus pareciam meio que

desanimados, pois, em vez de construir a casa de Deus e trabalhar

na reconstrução do templo, estavam preocupados em abrir lojas,

abrir o seu negócio, a sua oficina, e somente o que sobrava eles

levavam a Deus.

O profeta Ageu levantou-se nessa época, perguntando:

“Por que vocês estão preocupados com a casa de vocês e não estão

reconstruindo a casa de Deus?”. O profeta Zacarias também

reclamou do povo nesse tempo. Esdras, o escriba que Deus

levantou como líder juntamente com Neemias, juntava o povo

e dizia: “Por que vocês estão devagar? Vocês estão oprimindo

os seus irmãos, vocês estão casando com mulheres desses povos

pagãos, estão começando a cometer os mesmos pecados que nos

76


SALMO 126 - COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

levaram um dia para a Babilônia como escravos”. A situação não

era fácil, e agora a alegria se transformava em oração: “Ó Deus, o

Senhor já restaurou a nossa sorte, mas ainda não completamente,

ainda há muita coisa a ser feita, Senhor, muita coisa precisa ser

avançada”.

Então o salmista usa duas analogias nessa oração como

expectativa daquilo que ele quer que Deus faça. A primeira está

ainda no verso 4, quando ele diz: Restaura, Senhor, a nossa sorte,

como as torrentes no Neguebe. O Neguebe é uma região deserta

que fica ao sul da Judeia. Ela passava a maior parte do tempo

seca. Havia muitos riachos que ficavam secos a ponto de o leito

ficar rachado. E de repente chovia nas montanhas e vinha uma

inundação, descendo montanha abaixo, e aqueles ribeiros se

enchiam da água que descia como uma torrente e irrigavam o

deserto. Era tempo de eles começarem a semear. O que o salmista

está dizendo com essa analogia é: “Deus, da mesma forma que

inesperadamente, de repente e poderosamente tu mandas a água

que enche aqueles ribeiros secos lá no sul do Neguebe, faz a

mesma coisa conosco, restaura a nossa sorte, vem com poder, vem

com graça, com majestade e abundância, restaura completamente

o Teu povo, termina a obra que o Senhor começou, exatamente

como aquelas torrentes do Neguebe”.

Nos versos 5 e 6, nós temos a segunda ilustração que ele

usa, da restauração completa que ele deseja que Deus faça: Os

que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando

e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus

feixes. Naquelas épocas de seca, eles tinham que plantar mesmo

que o terreno estivesse seco, à espera das torrentes do Neguebe.

O agricultor saía espalhando a semente, semeando em esperança,

porque ele dependia das chuvas. Enquanto ele semeava, as lágrimas

desciam de seus olhos, pois ele não sabia o que ia acontecer, se

a torrente viria, se as chuvas viriam, porque ele estava semeando

em terreno seco. O salmista lembra aqui da fidelidade de Deus,

dizendo: Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão, porque

o Neguebe será inundado com as águas mandadas por Deus:

77


CAMINHOS DA FÉ

Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo,

trazendo os seus feixes.

Note que ele se alegra olhando para trás: Quando o Senhor

restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então, a nossa

boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo. E agora ele se

alegra olhando para frente, dizendo: “Senhor, nosso trabalho

de semeadura aqui nesta terra agora é feito com lágrimas, mas

um dia nós voltaremos trazendo os feixes com júbilo”. Júbilo é

a mesma palavra que é usada no início do salmo. Ele olha para

trás, vê o que Deus fez e se enche de júbilo. Então, ele olha para

frente, para o que Deus fará, e se enche de júbilo. É assim que

nós vivemos felizes neste mundo, a nossa alegria não está restrita

aos bens materiais ou a qualquer outra coisa, mas à ação de Deus,

à história da redenção, àquilo que Ele fez por nós e àquilo que

haverá de fazer.

É isso que o salmo nos ensina quanto a viver alegremente

neste mundo. Ele nos lembra, em primeiro lugar, que devemos

olhar para trás e, no caso do cristão, devemos lembrar o que Deus

já fez por nós em Cristo Jesus. Temos mais motivos de alegria

olhando o passado do que os judeus quando foram libertos do

cativeiro, pois Deus nos libertou de um cativeiro pior do que o

cativeiro político, pior do que o cativeiro econômico: Deus nos

libertou da escravidão do pecado em Cristo Jesus, quando Ele

nos perdoou as nossas ofensas, nos livrou do cativeiro de Satanás,

quando nos tirou do reino das trevas e nos levou para o reino

do filho do Seu amor. Ele perdoou as nossas dívidas espirituais,

o salário do pecado, que é a morte. Ele nos perdoou isso, que é

muito maior e melhor do que o rei Ciro ter perdoado as dívidas da

nação de Israel e ter liberado aquele povo. Deus nos fez parte do

Seu povo, e isso é motivo de sonharmos, de rirmos, de falarmos e

de darmos testemunho.

É a isso que a Bíblia se refere como alegria da salvação. A

salvação é um fato consumado na vida do crente, ela já aconteceu,

e nós olhamos para trás e nos perguntamos como é que Deus

pôde perdoar pecadores como nós, como é que Ele pôde restaurar

78


SALMO 126 - COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

a nossa sorte; nós, miseráveis pecadores debaixo do cativeiro

de Satanás, da escravidão do pecado, condenados pelos nossos

delitos, com uma dívida diante de Deus que nós só podemos

pagar com a nossa alma no Inferno. Mas Deus perdoou, esqueceu,

nos libertou, nos fez Seus filhos e, mais do que simplesmente dar

uma terra como deu aos judeus, Ele nos fez herdeiros dele, nos

deu o mundo inteiro. Nós somos herdeiros de Deus e, portanto,

tudo isso nos pertence.

Portanto, a razão primeira da nossa alegria é essa, é olhar

para trás e dizer: “Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso

estamos alegres”. Você sabe por que vivemos tristes, abatidos e

desanimados? Porque nos esquecemos do que Deus fez. Razão

tem aquele hino quando diz: Conte as bênçãos, conte quantas são,

e você vai ver surpreso o quanto Deus já fez. Eu sei que esse hino

está se referindo à providência divina que Deus tem por nós

aqui nesta vida, mas essencialmente Ele nos lembra da grande

restauração que Deus nos deu em Cristo Jesus. É assim que nós

vivemos alegres neste mundo, olhando para trás e vendo quem

nós éramos e em que Deus nos tornou mediante Jesus Cristo.

O salmo também nos ensina que, aqui neste mundo,

essa restauração ainda não é completa. Expressamos isso da

seguinte maneira: o Reino de Deus já veio, já começou, a nossa

salvação já teve início, mas ainda não está terminada. Deus nos

libertou do pecado, porém nós ainda pecamos; Ele nos livrou da

condenação da morte, contudo ainda vamos morrer; Ele quebrou

o poder de Satanás sobre nós, entretanto o diabo ainda anda ao

redor, procurando alguém a quem devorar; Deus já nos livrou

da condenação eterna, todavia nós ainda vamos experimentar

a morte. O Senhor restaurou, porém ainda assim nós oramos:

“Restaura-nos, Senhor”.

Deus já nos restaurou, mas nós oramos: “Restaura-nos,

Senhor”. E nós olhamos, então, para o futuro, para aquele grande

dia em que Deus nos dará restauração completa, quando Ele nos

ressuscitará dos mortos, vencendo a morte definitivamente — só

a ressureição vai vencer a morte definitivamente —, quando Ele

79


CAMINHOS DA FÉ

nos dará a vida eterna, e a morte será banida, quando Ele nos

dará não uma posse em alguma parte deste planeta como deu a

Israel, mas nos dará um novo céu e uma nova terra, onde habita

a justiça; quando estaremos com Ele para todo o sempre, com o

Senhor Jesus, o amado da nossa alma, quando nunca mais haverá

dor, aflição, doença, angústia e depressão. Nós oramos e olhamos

para aquele dia, e o nosso coração se alegra, porque temos certeza

disso. Nós vivemos na esperança certa de que um dia Deus vai

fazer tudo isso conosco. Por isso, ao olharmos para trás e para

frente, o nosso coração se enche de júbilo, ainda que no presente

nós tenhamos que semear com lágrimas, ainda que no presente o

nosso coração se encha de temores e de expectativas. Ainda assim

nós oramos: “Ó Deus, cumpre o que o Senhor prometeu, traz o

reino eterno, manda o Teu filho, liberta o mundo do cativeiro do

pecado, glorifica os que são Teus, manda aquela colheita plena”.

E, enquanto não chega aquele dia aqui neste mundo, servimos a

Deus falando dele para os povos. Deus fez grandes coisas por nós,

de fato, por isso estamos alegres e servimos a Ele, aguardando o

dia da libertação.

Eu finalizo este capítulo com duas palavras de aplicação

prática. Primeiro, quero perguntar a você com toda a franqueza:

em que se baseia a sua alegria? O que faz você alegre? Quero

que você pense nisso. O que dá mais alegria a você? Talvez uma

pessoa, uma conquista pessoal, um carro que você adquiriu, uma

casa que você comprou, um projeto de viagem que você tem, a

conclusão do seu curso, seu namorado, seus filhos? O que lhe

enche de alegria?

Todas essas coisas materiais vão passar, um dia você vai

perder a sua mocidade, um dia você vai perder a sua beleza, a

sua saúde, o seu cônjuge, talvez até perca filhos, talvez perca

propriedades, tudo aquilo em que seu coração se foca como razão

de alegria aqui neste mundo. Todas essas coisas são passageiras,

todas elas são secundárias. A única razão, a única fonte verdadeira

de alegria, é Deus e a Sua obra por nós, o que Ele fez por nós em

Cristo, aquilo que Ele faz e aquilo que Ele fará.

80


SALMO 126 - COMO VIVER SEMPRE ALEGRE

É por isso que Jesus disse: “Nós estamos no mundo, mas

nós não somos do mundo”. Somos peregrinos. Nosso coração

tem que se desapegar dessas coisas aqui do mundo. Não é que

elas não sejam boas, não é que não devemos agradecer a Deus por

elas, mas a nossa alegria não pode estar nelas, porque um dia elas

faltarão. Muitos, quando perdem essas coisas, caem em depressão

e não retornam. Eu não estou dizendo que toda depressão é

resultado de uma visão espiritual deficiente, eu sei que há outras

causas para a depressão. Porém, eu desconfio que boa parte da

angústia, da tristeza, da solidão e do desânimo dos cristãos não

é um problema clínico, mas é falta de foco no que a Palavra de

Deus diz, de regozijo em Deus e nas coisas de Deus.

A segunda palavra é para aqueles que estão tristes, abatidos

e sem ânimo para continuar. Eu quero que hoje, pensando neste

salmo, você encha o seu coração de júbilo, que você olhe para

trás, não importam as tristezas, as angústias, a dor e o sofrimento,

eu quero que você olhe através delas e veja a libertação e o perdão

de Deus em Cristo Jesus, a reconciliação que Deus lhe deu

mediante Seu filho, e que isso encha o seu coração de júbilo a

ponto de você transcender à dor e à agonia que agora aprisionam

a sua alma. Que isso liberte você, que o recordar o que Deus fez

por você restaure o seu coração e a alegria da salvação, para que

você não viva dessa forma. Crentes desanimados e sem esperança

são uma péssima recomendação do Evangelho para o mundo.

Grandes coisas fez o Senhor por nós, por isso estamos alegres.

Ainda que agora esteja doente, sofrendo solitário, sem dinheiro,

sem perspectiva, confuso, eu sei o que Ele fez por mim, e o meu

coração se alegra por tudo isso.

ORAÇÃO:

Pedimos-te, ó Deus, que venhas como uma torrente no

deserto do Neguebe, inundando os ribeiros da nossa esperança

com alegria e trazendo aquela água e os frutos da semeadura em

81


CAMINHOS DA FÉ

feixes de júbilo, para que o nosso coração fique em festa e que nós

possamos mostrar ao mundo que, em meio ao desespero que nos

cerca, há motivo de alegria em um grande Deus que nos liberta e

fez por nós muito mais do que podemos pensar ou contar.

Enche-nos do Teu espírito, lembrando que o fruto do

espírito é a alegria e a paz. Ó Deus, nós queremos agora pedir

perdão ao Senhor por deixar que a tristeza, o pessimismo, o

desânimo, a desesperança, a murmuração e a reclamação encham

o nosso coração, aquele ressentimento e amargura que já duram

anos. Senhor, perdoa-nos, porque nem lembramos mais o que é

a alegria da salvação.

Enche de alegria o nosso coração, como a torrente que cai

sobre o Neguebe. Dá-nos, ó Deus, a alegria da salvação, para que

sejamos um povo alegre, o povo mais feliz deste planeta. Abençoa

a Igreja e que os Seus membros possam encontrar em Ti motivo

de regozijo em todas as coisas. Ó Deus, ouve a nossa oração.

Eu oro pelos aflitos e abatidos. Ergue-os, ó Deus, restaura

a sua sorte e que eles possam olhar para Ti e encher o coração de

gozo na presença do Senhor. É o que te pedimos por amor de

Jesus. Amém.

82


SALMO 127

DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

Se o Senhor não edificar a casa, em vão

trabalham os que a edificam; se o Senhor

não guardar a cidade, em vão vigia a

sentinela. Inútil vos será levantar de

madrugada, repousar tarde, comer o pão que

penosamente granjeastes; aos seus amados

ele o dá enquanto dormem. Herança do

Senhor são os filhos; o fruto do ventre,

seu galardão. Como flechas na mão do

guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz

o homem que enche deles a sua aljava; não

será envergonhado, quando pleitear com

os inimigos à porta.

Este salmo provavelmente foi escrito pelo rei Salomão,

conforme é dito no título — cântico de romagem de Salomão.

Além disso, o contexto em que foi escrito se aplica à época do rei

Salomão.

No final do verso 2, está dito que Deus dá aos Seus

amados o pão de cada dia. A palavra amado, no hebraico, deu

origem à palavra Jedidias, que foi o primeiro nome de Salomão

(2Sm 12.25). Os estudiosos do Antigo Testamento entendem

que de fato este salmo foi escrito pelo rei Salomão, provavelmente


CAMINHOS DA FÉ

naquela época em que ele estava construindo o templo e também

uma casa para si. Por isso o salmo inicia dizendo: Se o Senhor não

edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam.

Mais tarde, muitos anos depois de Salomão, este salmo

originalmente composto por ele foi adicionado aos Salmos de

Romagem e depois cantado pelo povo de Israel quando do

retorno do cativeiro babilônico. Ou seja, este salmo tem uma

longa história dentro da história do povo de Deus do Antigo

Testamento.

O contexto do qual eu quero que você esteja consciente

à medida que nós trabalhamos este salmo é exatamente esse do

retorno dos judeus do cativeiro. Eles haviam regressado depois

de setenta anos de escravidão e tinham que reconstruir aquele

mesmo templo que Salomão havia construído alguns séculos

atrás. Israel estava cercado por povos hostis, havia os samaritanos,

os amonitas, os moabitas, que não queriam que Israel reedificasse

a cidade de Jerusalém e muito menos o templo, fazendo de tudo

para impedir esse trabalho.

Nem todos os judeus haviam regressado do cativeiro, o

povo era pouco, os filhos eram poucos. Este salmo provavelmente

é adaptado para aquela ocasião e expressa o sentimento e as

convicções do judeu temente a Deus, querendo reconstruir

o templo e a sua própria casa, cercado de inimigos. O salmo

expressa aqui o seguinte ponto: sem a ajuda de Deus, os judeus

não conseguiriam reconstruir o templo.

Na verdade, sem a ajuda de Deus, eles não conseguiriam

reconstruir a nação depois de setenta anos de cativeiro. Nada

sem a ajuda de Deus poderia ser feito, nenhum bem aconteceria,

todos os seus esforços seriam em vão se Deus não estivesse com

eles. Note a repetição da frase: se o Senhor não.

Em outras palavras, o salmo nos ensina que nós devemos

aguardar em Deus e confiar nele enquanto desempenhamos os

nossos deveres, cumprimos as nossas tarefas e descansamos na

providência dele, porque, se Deus não estiver conosco, todo o

nosso labor, tudo que nós fizermos aqui neste mundo, será em

84


SALMO 127 - DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

vão. É isso que o salmo nos ensina, que, se Deus não estiver

conosco, nada do que nós fizermos aqui terá alguma valia.

E este salmo ensina essa verdade em quatro situações da

vida: a edificação de uma casa, a proteção de uma cidade, o ganho

do sustento e a importância da família.

Vejamos, agora, cada uma delas detalhadamente.

A primeira situação, que provavelmente deu origem ao

salmo, é a edificação de uma casa: Se o Senhor não edificar a casa,

em vão trabalham os que a edificam (127.1). A primeira referência

parece ter sido à construção da casa do Senhor, o templo, por

parte de Salomão. E Salomão estava muito bem consciente desse

fato. Ele tinha riquezas, tinha pessoas hábeis para construir a casa,

os povos amigos e aliados tinham mandado artífices, madeira e

pedras preciosas; o próprio rei Davi havia deixado muito material

e muita riqueza para que o seu filho Salomão construísse o

templo. Porém, Salomão sabia que, se Deus não edificasse a casa,

em vão ele estaria trabalhando, juntamente com todos os seus

empregados, para o desempenho da casa do Senhor.

Esse princípio se aplica à reconstrução ou à construção de

qualquer casa ou de qualquer projeto na vida. Se o Senhor não

edificar a casa, em vão nós trabalhamos. O que significa edificar

em vão se Deus não estiver conosco? Primeiro, pode significar

que o projeto não vai chegar ao fim, pois é Deus quem controla

as circunstâncias, é Deus quem dá saúde, quem dá os recursos,

é Deus que manda os obreiros. Por exemplo, a Torre de Babel

era um projeto que não estava de acordo com Deus. Os homens

a começaram, mas não a terminaram, porque Deus não estava

com eles. Se Deus não edificar a casa, eles trabalham em vão.

Se Deus não der as condições, nós vamos começar, porém não

vamos terminar.

Também pode significar que você até pode terminar, mas

não vai morar nela, ela vai ficar vazia ou outra pessoa vai ocupar

aquela casa. Ainda, pode significar que você vai construir e vai

morar naquela casa, porém não vai desfrutar dela.

85


CAMINHOS DA FÉ

O próprio Salomão, em várias passagens do livro de

Eclesiastes, fala a respeito disso, de pessoas que constroem

determinados itens, mas acabam não desfrutando, porque Deus

não está com elas. Veja, por exemplo, no livro de Eclesiastes,

que foi escrito pelo próprio Salomão, quando ele diz: Pois que

tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em

que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias

são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu

coração; também isto é vaidade. Nada há melhor para o homem do

que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho.

No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado

deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? Porque Deus dá

sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao

pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar

àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do

vento (Ec 2.22-26).

Salomão está dizendo que, se Deus não estiver com a

pessoa, ela vai construir, vai edificar, mas para outrem, em vão

ela vai trabalhar, todo o seu empenho será em vão, porque ela

não vai desfrutar do fruto do seu trabalho. Ela não vai ter alegria

nem paz naquilo que ela tanto se esforçou durante toda a vida.

Isso é verdade a respeito de muitas pessoas que passam a vida toda

lutando, sofrendo para ganhar alguma coisa, mas não conseguem

desfrutar daquilo, aquilo não lhes traz nenhuma satisfação ou

realização, a vida deles é trabalhar, alegria eles não têm nenhuma.

Ter paz e gozar do fruto do trabalho é um dom de Deus, por isso

é que, se Deus não edificar a casa, você está trabalhando em vão.

Ou você não vai terminar ou você vai terminar e vai servir para

outro, ou você até vai morar, mas a casa não vai alegrar o seu

coração, porque é somente Deus quem dá sentido às coisas que

nós fazemos aqui neste mundo. Sem Ele, nada do que fazemos

aqui vai nos satisfazer e alegrar o nosso coração, ou seja, sem Deus

todas as nossas empreitadas serão em vão.

Ainda, no livro de Eclesiastes, há um versículo que diz:

Quanto ao homem a quem Deus conferiu riquezas e bens e lhe

86


SALMO 127 - DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

deu poder para deles comer, e receber a sua porção, e gozar do seu

trabalho, isto é dom de Deus (Ec 5.19). Há um mal que vi debaixo

do sol e que pesa sobre os homens: o homem a quem Deus conferiu

riquezas, bens e honra, e nada lhe falta de tudo quanto a sua alma

deseja, mas Deus não lhe concede que disso coma; antes, o estranho

o come; também isto é vaidade e grave aflição (Ec 6.1-2). Às vezes,

uma pessoa tem tudo na vida, mas não tem prazer nas coisas que

tem, não tem alegria, não tem contentamento, porque, se Deus

não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se Deus

não estiver com nossas empreitadas aqui nesta vida, elas são em

vão, nós trabalhamos para nada.

A segunda referência que é usada no salmo para mostrar

que sem Deus nossa vida aqui neste mundo não vale nada é a

proteção de uma cidade. Ainda no verso primeiro, na segunda

parte, diz: Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a

sentinela (127.1b). Na época do retorno do cativeiro, o povo de

Deus estava ocupado em reconstruir os muros de Jerusalém, e os

inimigos não queriam que eles fizessem isso. O livro de Neemias

fornece o pano de fundo para este salmo. Lá você vai ver como

Neemias determinou guardas que vigiassem a cidade durante 24

horas, as famílias tinham que mandar pessoas que funcionassem

como vigias, e Neemias — que foi o grande líder na época da

reconstrução dos muros de Jerusalém e do templo — determinou

que os judeus trabalhassem com uma pá na mão e a espada na

outra, tal era o perigo. Eles estavam cercados de inimigos, era

preciso trabalhar com um olho no muro e outro no moabita que

estava querendo se aproximar e acabar com tudo.

Porém, o salmista sabe que, se Deus não guardar a cidade,

todas essas precauções serão em vão, a sentinela vigia em vão,

porque é Deus quem controla as circunstâncias. Quem é que pode

prever incêndios, terremotos, enchentes, pragas, epidemias? Tudo

pode acontecer, e a cidade irá para o chão. Em vão a sentinela

vigia se Deus não for o verdadeiro guarda da cidade, Ele é que é de

fato a nossa proteção. Isso não quer dizer que nós não temos que

tomar as medidas — coloque alarmes, faça seguro dos seus bens,

87


CAMINHOS DA FÉ

tranque as portas antes de ir dormir, tome todas as providências.

A Bíblia não é contra você tomar todo esse tipo de providência;

mas, em última análise, se Deus não guardar a cidade, tudo isso

é em vão. Ele é que é o guarda final de todas as coisas, porque

Ele é quem controla as circunstâncias, Ele é quem guia os fatos e

os acontecimentos. Tudo está na mão dele. Se Ele não estiver ao

nosso lado, podemos ter seguro, alarmes, cães guardando a casa,

podemos ter o que for, e nada disso vai nos proteger.

Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

Isso pode se aplicar não somente à cidade, mas também à nossa

integridade física, à nossa família, à própria Igreja de Deus,

enfim, a todos os ambientes em que nós estamos. O ponto é este:

é Deus, no final das contas, quem nos protege e cuida de nós.

Sem a proteção dele, nada do que fazemos aqui será de alguma

valia.

A terceira referência que nos é apresentada aqui neste salmo

é sobre o ganho do sustento: Inútil vos será levantar de madrugada,

repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus

amados ele o dá enquanto dormem (127.2). No verso primeiro,

ele diz que, se o Senhor não edificar a casa, é inútil o trabalho

dos que a edificam. Depois, se o Senhor não guardar a cidade,

é inútil o trabalho da sentinela. E agora, no terceiro quadro, ele

afirma que é inútil você acordar cedo, dormir tarde, suar para

ganhar o pão de cada dia. Temos que entender essa declaração

à luz do fato de que Israel era uma sociedade agrária, a forma

principal de sustento dos judeus era a agricultura, eles dependiam

especialmente das colheitas para poder sobreviver.

Ninguém que acorda cedo gosta de ir dormir tarde, e

ninguém que dorme tarde gosta de acordar cedo, não é verdade?

Só que aqui você encontra um homem que está fazendo essas

coisas, observe: Inútil vos será levantar de madrugada, repousar

tarde, comer o pão que penosamente granjeastes. Salomão está

dizendo que não adianta você trabalhar feito louco, acordando

de madrugada e indo dormir tarde para ganhar o seu pão. Tudo

isso é inútil se Deus não for com você. Afinal, esse seu trabalho

88


SALMO 127 - DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

será para quem? O resultado do seu esforço será para o quê? Em

que isso vai lhe trazer alegria, prazer e contentamento, se você

não consegue nem dormir, de tanto trabalhar? Se o trabalho é

o deus da sua vida, se trabalhar, ganhar dinheiro, amealhar bens

e fortunas é o alvo da sua existência, é inútil isso, é em vão, não

faz sentido. E Salomão diz aqui que, enquanto você está fazendo

isso, Deus dá o pão aos Seus amados enquanto eles dormem.

Enquanto eles estão dormindo, Deus está trabalhando por eles,

Deus faz a semente germinar, a chuva cair, faz e usa as leis da

natureza para promover a felicidade e o bem daqueles que O

amam e confiam nele.

O contraste aqui não é entre uma pessoa que está em

casa orando e esperando cair um pacote de dinheiro do céu e um

cidadão que está lá no campo lavrando com todas as suas forças.

O contraste é entre dois trabalhadores, o problema é a atitude

deles: um vive para isso, vive ansioso, nervoso, estressado, a sua

vida é trabalho o tempo todo, não tem paz, não dorme direito,

não tem alegria, não tem prazer no que faz; o outro trabalha

duro, mas ele deita e dorme, porque ele confia na providência de

Deus e que Deus haverá de suprir suas necessidades e lhe dar o

pão necessário para sua subsistência.

Sem Deus, o nosso trabalho é inútil. Sem Deus, o que você

faz aqui não vai satisfazer o seu coração, você vai passar sua vida

toda se esforçando, mas não vai conhecer paz, não vai conhecer

alegria, realização e gozo nas coisas espirituais, porque vai ser

inútil você fazer tudo isso. Em contraste, Deus dá essas coisas

com alegria aos Seus amados, àqueles que O amam, confiam nele

e querem viver para Ele.

A quarta referência trata da família: Herança do Senhor

são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Como flechas na mão

do guerreiro, assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche

deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com

os inimigos à porta (127.3-5). Filhos eram muito desejados em

Israel. Na verdade, eram muito desejados em todo o Oriente. Na

cultura oriental antiga, não havia plano de saúde, aposentadoria,

89


CAMINHOS DA FÉ

abrigo para idosos. Os pais dependiam dos filhos quando ficassem

velhos, e, quanto mais filhos, melhor. E eu continuo acreditando

nisso até hoje, porque plano de saúde e aposentadoria vão

garantir que você vai ter o que precisa para viver, mas e a solidão?

Quem vai visitar você? Quem vai estar lá com você para olhar as

fotos antigas, relembrar e chorar de saudade dos tempos antigos?

Quem vai fazer isso? Embora os tempos tenham mudado, isso

continua sendo verdade.

Ter muitos filhos era desejado naquela época não somente

para proteção e suporte dos pais quando ficassem idosos, mas

também para proteção da cidade. E, nessa situação, o povo de

Israel havia voltado do cativeiro, as famílias eram menores, as

dificuldades eram maiores do que quando a terra estava em paz e

havia prosperidade.

O salmo é adaptado para explicar esse ponto. Observe

a história que está sendo narrada: um pai de família está sendo

ameaçado por inimigos e é convocado para ir à porta da cidade,

porque lá era o tribunal, era lá que sentavam os juízes e os casos

eram julgados, as situações eram resolvidas, negócios eram

fechados. Um homem estava sendo convocado e confrontado por

seus inimigos para resolver um caso lá, e ele foi. Porém, quando

ele foi, ele foi cercado por dez homens enormes, formando

uma falange. Quando ele chegou lá, que os inimigos olharam,

começaram a falar fino diante daquele homem cercado por seus

filhos. Observe: Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre,

seu galardão. Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da

mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será

envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta. Lá na porta

da cidade, no momento do confronto, aquele homem não ficaria

envergonhado, porque ele estava cercado daqueles homens que

ele gerou quando jovem e que eram os seus filhos, que estavam

ali para sua proteção.

O salmo nesse ponto compara o pai cercado dos filhos

com um guerreiro cuja aljava está cheia de flechas. Imagine um

guerreiro que vai para a luta e tem o arco, mas não tem flechas.

90


SALMO 127 - DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

Os filhos são essas flechas na mão do guerreiro, em sua aljava,

quando ele vai para o combate.

Porém, o ponto é: quem é que dá esses filhos tão queridos

e desejados? De onde é que vêm os filhos? A resposta é que não

somos nós que damos nossos filhos a Deus, mas é Deus quem dá

os filhos a nós. Veja o que diz o verso 3: Herança do Senhor são os

filhos; o fruto do ventre, seu galardão. Ou seja, filhos vêm de Deus.

E agora você pode entender por que essa referência está aqui

também. Da mesma forma que Deus edifica a casa, da mesma

forma que Ele guarda a cidade e dá o pão, Ele também nos dá

a família, nos dá filhos, que são motivo de alegria, de quem nós

vamos depender, que são e serão instrumentos do Senhor para

proteção, não somente minha, mas também de toda a cidade.

Filhos são herança de Deus, e feliz o homem que enche a sua

aljava com eles.

O que este salmo nos ensina, então? Em resumo, o que

eu como cristão posso aprender deste salmo? Ele me ensina várias

coisas. A primeira delas, sem dúvida, é a soberania e a providência

de Deus sobre todas as coisas. Nosso Deus reina, Ele é Senhor,

está no controle da história e é quem edifica a casa, que protege a

cidade, que nos dá o pão de cada dia, que nos abençoa com filhos,

que nos dá segurança e proteção.

Isso nos leva ao segundo ponto que o salmo nos ensina: a

inutilidade de nosso labor, esforço e trabalho aqui neste mundo

sem a bênção de Deus. Nós vamos trabalhar para nada, vamos

nos esforçar para nada, vamos suar para nada. Se Deus não estiver

conosco, os nossos esforços serão em vão.

A terceira coisa que nós aprendemos aqui é que é Deus

quem preserva, sustenta e mantém o Seu povo, que cuida do Seu

povo e do sustento dele. Portanto, este salmo também nos ensina

a nossa total dependência de Deus. E aqui vem o ponto final dos

ensinamentos: se essa é a verdade, qual deve ser, então, o alvo

principal da minha vida? Qual deve ser o alvo principal da sua

vida? A resposta pode ser resumida naquilo que Jesus Cristo disse:

Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e

todas essas coisas vos serão acrescentadas (Mt 6.33).

91


CAMINHOS DA FÉ

Esse é o alvo maior da minha vida e da sua. Não é

correr atrás dessas coisas, mas buscar a Deus em primeiro lugar,

conhecê-lo, ter comunhão com Ele, estar reconciliado com Ele,

ter Deus ao seu lado. Essa é a prioridade número um da sua vida.

Não é você arrumar um casamento, um emprego, um diploma,

ser bem-sucedido, ganhar dinheiro… Todas essas coisas são boas

e nós devemos procurá-las, mas acima delas está aquilo que dá

sentido à vida: Deus, porque sem Ele nenhuma dessas coisas vai

valer a pena ou encher o seu coração.

Quantas pessoas há mesmo dentro das igrejas que

não fazem disso a prioridade número um da sua vida e estão

interessadas em outras coisas? Não estou dizendo que essas coisas

estejam erradas, mas só que elas tomam o lugar da coisa número

um, que é de fato buscar a Deus, porque sem Ele é inútil edificar

a casa, guardar a cidade e granjear o pão. É tudo em vão se não

for a bênção de Deus que está ao seu lado.

Eu termino com algumas aplicações práticas. Creio que

a primeira delas é para os desocupados e folgados. Há pessoas

que vão usar este salmo para dizer que não precisam trabalhar,

porque Deus dá tudo. A minha palavra primeira é para você: este

salmo não está ensinando a vadiagem, a preguiça. Ao contrário,

ele fala aqui de edificar uma casa, guardar uma cidade, granjear

o pão e criar filhos. Está falando de responsabilidade. O salmo

nos ensina que nós temos que fazer todas essas coisas. A Bíblia é

contra a preguiça, a ociosidade, viver à custa de outros quando

você poderia estar ganhando o seu pão e o seu sustento.

O apóstolo Paulo chega ao ponto de dizer que, se alguém

não quiser trabalhar, não coma também (2Ts 3.10). O que este

salmo nos ensina não é usar a fé em Deus e a confiança na

providência de Deus para ficarmos parados, sem fazer nada. Ele

nos ensina a trabalhar muito, só que confiando em Deus, sabendo

que o resultado do nosso trabalho é para a glória dele, oferecendo

o que nós fazemos a Ele, Deus sendo o princípio orientador de

tudo aquilo que fazemos.

92


SALMO 127 - DEUS EM PRIMEIRO LUGAR

A segunda aplicação é para os que vivem para acumular

bens, ganhar dinheiro, garantir segurança material. A pergunta

é: qual vai ser o valor disso tudo? De que adianta você ganhar o

mundo inteiro e perder a sua alma? Somente Deus pode lhe dar

condição de desfrutar do seu trabalho, do seu esforço, do seu

estudo e do seu planejamento. Portanto, a prioridade número um

da sua vida é aprender a descansar nas promessas de Deus e dar a

Ele o primeiro lugar em tudo que você fizer.

E, aqui, eu quero lembrar aos adolescentes e jovens que

esta é a melhor época para vocês começarem a pensar nisso.

Comecem a pensar nisso agora, consagrem a sua vida a isso desde

cedo, aprendam a dar a Deus o primeiro lugar, porque, à medida

que vamos crescendo e ficando velhos, vai ficando mais difícil,

hábitos antigos custam a morrer. Então aprendam cedo a buscar

a Deus em primeiro lugar, a viver uma vida de piedade e devoção

a Ele.

Contudo, a aplicação mais importante de todas tem a ver

com a salvação de nossa alma. Se estes princípios valem no mundo

material, imagine a aplicação com relação à nossa salvação. Em

vão nós trabalhamos para obter o perdão de pecados, em vão nós

nos esforçamos pensando em ganhar a salvação, porque quem

providencia, dá e supre a salvação é Deus, em Cristo Jesus. Se Ele

supre o pão de cada dia, se Ele supre a nossa casa, a segurança e

tudo mais, é Ele quem também nos dá redenção plena e completa

em Cristo Jesus. Se a Bíblia me ensina a depender de Deus para

o pão de cada dia, muito mais para a redenção da minha alma. E

aqui está o Evangelho, que é Deus quem providencia a redenção

dos meus pecados, o perdão das minhas iniquidades, Ele é quem

me salva da condenação eterna mediante Jesus Cristo, quem Ele

mandou ao mundo para ser o nosso redentor.

Eu concluo este capítulo perguntando a você qual é o seu

relacionamento com esse Deus. Ele tem o primeiro lugar em sua

vida? É Ele, de fato, o princípio orientador de tudo que você faz, a

razão de ser da sua existência? Que Deus fale ao seu coração e que

você possa dizer: “Sim, Senhor, se o Senhor não edificar a casa,

93


CAMINHOS DA FÉ

eu estou trabalhando em vão; se o Senhor não guardar a cidade,

eu estou vigiando em vão. É inútil eu levantar de madrugada

e suar para ganhar o pão de cada dia, porque o Senhor dá aos

Teus amados enquanto dormem”. Que essa seja a oração do seu

coração, que você diga a Deus que quer viver para a Sua glória e

depender dele em todas as coisas.

ORAÇÃO:

Pai, nós te agradecemos pela casa, pela cidade, pelo pão e

pela família; tudo isso vem do Senhor. Eu quero orar, Senhor, pelos

jovens que estão fazendo planos para o futuro, cujo coração bate

excitado quando pensa nos projetos e nos sonhos. Agradecemoste

por isso, porque os jovens podem sonhar, mas pedimos que

eles aprendam a dar-te o primeiro lugar em todas as coisas que

planejem, ser servos Teus em primeiro lugar e viver para a glória

do redentor e salvador Jesus Cristo.

Eu quero orar pelos filhos que têm pais idosos e que já não

lhes cuidam mais, negligenciam os seus pais. Ó Deus, ajuda-os

a lembrar da dívida de gratidão e também do dever bíblico de

abençoar os pais quando estiverem carentes, idosos e solitários.

Também quero orar pelos casais, por aqueles que casaram

e não pensam ter filhos, aqueles que têm medo de trazer filhos

ao mundo, que eles ouçam este salmo, Senhor, e vejam a grande

bênção que são filhos, que são a herança Tua, galardão Teu para

os Teus amados. Abençoa-nos, ó Deus, com famílias frutíferas e

numerosas, mesmo em uma época difícil como a de hoje. Que

nós olhemos além das dificuldades financeiras e vejamos as Tuas

promessas. Abençoa a Tua Igreja e dá-nos a graça de vivermos

para Ti todos os momentos da nossa vida. Amém.

94


SALMO 128

A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor

e anda nos seus caminhos! Do trabalho de

tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te

irá bem. Tua esposa, no interior de tua casa,

será como a videira frutífera; teus filhos,

como rebentos da oliveira, à roda da tua

mesa. Eis como será abençoado o homem

que teme ao Senhor! O Senhor te abençoe

desde Sião, para que vejas a prosperidade de

Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas

os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!

Este salmo trata de algumas das bênçãos materiais que

Deus prometeu dar àqueles que O temem aqui neste mundo. O

salmo declara a felicidade dessa pessoa que teme a Deus e que é por

Deus abençoada. A expressão bem-aventurado, que abre o salmo,

significa simplesmente isto: feliz é aquele que ama ao Senhor. Ele é

bem-aventurado porque as coisas que vão acontecer a ele são boas,

por isso ele é feliz. E essa felicidade, conforme lemos no salmo,

consiste em uma família constituída, uma prole numerosa, filhos

ao redor da mesa. O bem-aventurado come do seu trabalho, tem

o suficiente para o seu sustento, vive muitos anos, vê os filhos dos

filhos e vê, ainda, a prosperidade do povo de Deus. Esse é o ideal


CAMINHOS DA FÉ

de felicidade que este salmo nos passa, daquele que teme a Deus.

Ou seja, aqui neste mundo ele é abençoado com um casamento

feliz, família constituída, longevidade, trabalho e o privilégio de

ver a sua posteridade, bem como o progresso do povo de Deus.

Este salmo, que era cantado juntamente com outros

pelos peregrinos a caminho de Jerusalém, tinha alguns objetivos.

Primeiro, incentivar aqueles que temiam a Deus a continuar a

viver em obediência aos caminhos do Senhor. Segundo, despertar

a gratidão do povo de Deus diante das bênçãos materiais. O

salmo está dizendo que ter trabalho, sustento, família e filhos,

viver em comunidade e ver a prosperidade do povo de Deus são

privilégios que Ele dá. Por isso, este salmo nos convida à gratidão

e a relembrar que toda coisa boa, na verdade, vem de Deus.

O salmo também parece ter o objetivo de promover a

comunhão e a unidade do povo de Deus. Nós vamos ver que

essas bênçãos estão relacionadas a Jerusalém, ao templo, à paz

da cidade, que representa a Igreja, o povo de Deus. Assim, meu

objetivo neste capítulo é entender de que maneira este salmo tem

validade ou se aplica aos dias de hoje e também despertar em nós

o temor a Deus, a gratidão e o desejo de continuar a servi-lo aqui

neste mundo.

O salmo tem duas partes: na primeira, há uma descrição de

como Deus abençoa aqueles que O temem, como será abençoado

aquele que teme ao Senhor (128.1-4). Na segunda, o salmista ora

por aquele que teme ao Senhor, pedindo que Ele derrame as Suas

bênçãos sobre ele (128.5-6).

Vamos começar vendo as bênçãos que Deus promete

dar àquele que O teme. Elas estão referidas nos versos de 1 a 4.

No verso 1, lemos: Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor.

Ou seja, essas promessas não são do tipo “é assim que Deus vai

abençoar o mundo todo”. Não, elas são dirigidas àquele que teme

ao Senhor. É verdade que há muita gente que não teme ao Senhor

e que tem família, filhos, prosperidade, trabalho e morre com

mais de 100 anos de idade. É que essas bênçãos materiais, na

Bíblia, sempre são vistas como sendo acompanhadas com o poder

e a capacidade para você desfrutar delas.

96


SALMO 128 - A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

O livro de Eclesiastes, por exemplo, escrito pelo rei

Salomão, descreve uma época em que ele tinha tudo o que alguém

poderia querer. Ele era um político poderoso, um governante

temido, um homem extremamente rico que tinha de todos os

prazeres que poderia imaginar. Contudo, ele simplesmente não

encontrava alegria naquelas coisas. Ele tinha muito, e não tinha

nada, era uma pessoa rica, culta, que tinha servos e empregados,

próspera, porém não tinha prazer naquelas coisas. E então ele diz

que percebeu que tudo aquilo que tinha era vaidade, “vaidade das

vaidades”. É assim que ele descreve, no livro de Eclesiastes, a vida

do homem que tem tudo, e ao mesmo tempo não tem nada.

Assim, quando um salmo como este diz que Deus

abençoa com prosperidade material os Seus servos, está incluído

aqui que Deus também lhes dá alegria nessas coisas, o que nos

leva à seguinte conclusão: um crente, mesmo tendo pouco, pode

ser feliz, porque a verdadeira felicidade é você se alegrar naquilo

que Deus lhe deu aqui neste mundo. Há pessoas que têm muito,

mas vivem angustiadas, vivem sem prazer e sem alegria. E, ao

contrário, há também pessoas que têm muito pouco, mas que

são uma fonte constante de alegria e de satisfação, ficam “felizes

da vida”, mesmo com aquelas coisas poucas que têm. As bênçãos

materiais que vêm de Deus sempre são acompanhadas com o

prazer e a alegria nessas coisas, ainda que nem sempre elas sejam

muitas e nem sejam abundantes.

Lembre-se de que temer a Deus não é ter medo de Deus,

embora com certeza deveríamos ter também, porque Ele é o

criador de todas as coisas, Ele é o Senhor da nossa vida e na mão

dele está o poder de nos fazer eternamente felizes ou eternamente

miseráveis. Ter medo de Deus é prudente, porém o temer a Deus

vai mais além. O ímpio é que tem medo de Deus. O que teme

a Deus, na verdade, tem por Ele um amor respeitoso, é uma

combinação de amor e respeito, e isso se mostra na prática, pela

obediência à vontade de Deus, que é o que o salmista diz ainda

no verso 1, explicando quem é aquele que teme a Deus: Bemaventurado

aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos.

97


CAMINHOS DA FÉ

Portanto, o que teme a Deus é alguém que O ama e O

respeita e que, como resultado, anda nos Seus caminhos, anda

de acordo com a Sua vontade, vontade esta revelada na Escritura.

É na Bíblia que nós encontramos a revelação dos caminhos de

Deus, quem é Deus, o que Ele gosta, o que Ele promete, do que

Ele se agrada, o que Ele proíbe. É a revelação do caráter de Deus,

do Seu querer e da Sua vontade.

A pessoa que teme a Deus é aquela que O ama, respeita

e procura viver aqui neste mundo de acordo com a Sua vontade.

É a essa pessoa que essas promessas são feitas: Bem-aventurado

aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Essa é a

descrição do verdadeiro crente, tanto no Antigo como no Novo

Testamento. O verdadeiro crente é aquele que teme ao Senhor,

que tem esse amor respeitoso para com Ele e, como resultado,

anda nos caminhos que Deus revela.

As bênçãos que são prometidas estão nos versos 2 a 4.

Para que possamos entendê-las, temos que nos lembrar em que

contexto o salmo foi escrito.

O quadro de felicidade que encontramos é o quadro da

felicidade do Antigo Oriente, na época de Israel. A pessoa que era

feliz no Antigo Oriente era uma pessoa que tinha uma propriedade,

que plantava e colhia e se alimentava daquela fazendinha; essa

pessoa tinha uma esposa, muitos filhos e vivia muito tempo. Via

os netos, via os bisnetos, peregrinava para Jerusalém, junto com o

povo de Deus, e lá oferecia os seus sacrifícios e via a prosperidade

do povo de Deus. Esse era o ideal de felicidade no Israel do

Antigo Oriente, e é assim que Deus retrata aqui aquele que será

abençoado por Ele.

Há duas coisas que precisamos levar em consideração ao

tentarmos entender esse ponto. Primeiro: essas coisas que são

descritas como sendo o padrão de felicidade, e que eram o padrão

de felicidade naquela época, em alguma medida, continuam

sendo padrão de felicidade ainda hoje na sociedade ocidental. Eu

sei que a família vem sendo questionada, o estilo de vida antigo

vem sendo cada vez mais abandonado, estilos alternativos de

98


SALMO 128 - A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

família vêm surgindo, as mulheres que antes eram caseiras estão

mais independentes financeiramente. Hoje as pessoas casam mais

tarde e ter dois filhos já é muito para a maioria delas. Alguns

casais não querem nem ter filhos. Eu sei que tudo isso hoje é

questionado, mas ainda assim eu creio que nós devemos levar em

consideração que essas coisas que são colocadas aqui e que eram o

padrão de felicidade daquela época de alguma maneira satisfazem

os desejos mais profundos do coração do homem. Qualquer que

seja a cultura e o tempo em que ele vive, ele quer trabalhar, quer

ganhar seu sustento através do trabalho das suas mãos, seja na

chácara do Antigo Oriente, seja como profissional de TI em uma

moderna multinacional. Ainda hoje nós continuamos a desejar

alguém para constituir família e ter filhos. Nós queremos viver

muito, queremos ver outras gerações, queremos ver os nossos

filhos. São desejos que estão gravados no coração do homem,

porque Deus nos fez à Sua imagem e semelhança. Nosso Deus

é triuno, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. As três

Pessoas vivem em harmonia e em comunhão. E nós fomos criados

à imagem desse Deus. Sendo assim, mesmo que este salmo tenha

sido escrito para aquela época, os princípios contidos nele valem

para nós hoje.

A segunda coisa que precisamos lembrar é a aliança que

Deus havia feito com Abraão e seus descendentes. Deus chamou

Abraão e lhe fez uma promessa. Abraão é o pai da nação israelita.

Deus lhes fez uma promessa de que lhes daria uma terra, uma

terra só para eles, que eles se tornariam uma grande nação, uma

nação numerosa, que o nome deles seria engrandecido. Deus

também prometeu que através dos filhos de Abraão outras nações

seriam benditas e que, um dia, da descendência de Abraão viria

o Messias.

Imagine então que, além de você ser oriental, ainda tinha

o incentivo dessa aliança, um Deus que disse que o salvador do

mundo poderia ser um de seus filhos. Toda família e todo homem

temente a Deus viviam na expectativa de que da linhagem

deles viria o Messias. A terra era vista como um dom de Deus,

99


CAMINHOS DA FÉ

trabalhar a terra, ver o fruto da terra, comer do fruto da terra, era

um dom de Deus. Com todos esses incentivos, o israelita vivia

na expectativa de ser abençoado por Deus com propriedade,

prosperidade, filhos, uma mulher que cuidasse da família, que ele

vivesse muito e que vivesse em comunhão com o povo de Deus.

Volto a dizer que essas coisas ainda estão no nosso coração, elas

ainda fazem parte dos anseios mais profundos do nosso coração.

Era assim que Deus abençoaria o israelita fiel.

Vamos, então, examinar mais de perto essas promessas.

Após pronunciar de maneira geral a felicidade do que teme a

Deus (128.1), o salmista diz: Do trabalho de tuas mãos comerás,

feliz serás, e tudo te irá bem (128.2). Ou seja, vai dar tudo certo

para você aqui. Percebemos aqui que aquela maldição que foi

colocada na queda é atenuada. Quando Adão caiu lá no Paraíso,

Deus disse: […] maldita é a terra por tua causa! Com fadiga comerás

dela todos os dias de tua vida. Ela te produzirá também espinhos e

abrolhos, porque tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3.17-19). Com a

bênção de Deus, o trabalho que foi colocado como uma maldição

é revertido para ser uma bênção, Deus abençoa com trabalho

aqueles que são Seus, aqueles que O temem. Há oportunidade

de trabalhar, o privilégio de ganhar o pão com seu próprio labor.

Sabemos que há situações de pessoas que estão comendo

do trabalho de outros. Talvez achar emprego esteja difícil, as

circunstâncias não são favoráveis, mas o ideal de Deus para nós

é que nós comamos do trabalho das nossas próprias mãos. Se

formos fazer algum tipo de correção aqui, seria ao preguiçoso,

aquele que quer passar a vida toda comendo do trabalho dos

outros. Uma bênção que Deus dá àqueles que são Seus é de fato

poder trabalhar e ter o prazer de comer do trabalho da sua própria

mão. Neste caso, o israelita comeria da sua plantação, frutos e

sementes, leite, vinho, azeite, carne, tudo isso como o produto

do seu trabalho no campo, e ele seria feliz, na alegria de estar

ali na terra prometida, alegria de comer do próprio trabalho, de

sustentar a família e os filhos e de ter recursos para ajudar outras

pessoas.

100


SALMO 128 - A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

A segunda promessa é esta: Tua esposa, no interior de tua

casa, será como a videira frutífera (128.3). O interior da casa era

aquele departamento na tenda ou da casa do israelita que era

reservado para a mulher. Essa declaração revela o ideal de esposa

para aquela época, uma mulher caseira, boa dona de casa que

gosta da vida em família. Há mulheres que realmente não têm

a vocação de casar. Para constituir família, a mulher tem que ser

caseira; não é que ela não possa trabalhar fora, se a necessidade

assim o exige, mas ela tem que gostar da vida do lar, de fazer as

coisas em casa, de estar com o marido e os filhos. Há mulheres que

seriam mais felizes se ficassem solteiras, porque não têm vocação

para serem donas de casa. O casamento é o padrão de Deus para a

raça humana, porém isso não quer dizer que todos têm que casar

para serem felizes. O padrão de relacionamento, casamento e de

família envolve uma mulher que queira constituir casa, ela tem

que gostar da ideia de viver com o marido, ter filhos e criá-los.

Tudo isso faz parte do ideal bíblico de propagação e propalação

da nossa espécie e também da Igreja de Deus. Dessa forma, aqui

a mulher é comparada a uma videira frutífera, uma parreira que

dá muitas uvas, assim contribuindo para que o povo de Deus se

multiplique e que a Sua bênção chegue a outros povos.

A terceira promessa mencionada é esta: teus filhos, como

rebentos da oliveira, à roda da tua mesa (128.3). A oliveira era

outra árvore nacional dos israelitas. Eles gostavam muito da

parreira por causa do vinho, e da oliveira por causa do azeite.

A figura aqui representada é do homem cercado de filhos, que

são comparados a brotos de oliveira. O homem vai viver muito

e vai morrer, mas no lugar dele há os brotos já surgindo. A ideia

aqui é de renovação, a perpetuidade da família, de continuação

da linhagem; o seu nome e o seu sangue vão continuar através

desses que estão chegando, resultado desse casamento. São duas

ideias: da renovação e continuação do povo de Deus. E, como

eu disse, havia a esperança da chegada do Messias: um daqueles

filhos poderia ser o Messias.

101


CAMINHOS DA FÉ

O salmista conclui a primeira parte reafirmando, no verso

4: Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! É assim

que Deus vai abençoar aquele que O teme e que anda nos Seus

caminhos, ele receberá de Deus essas coisas e o prazer e a alegria

que elas trazem ao seu coração.

Agora, na segunda parte do salmo (128.5-6), o salmista

ora por essa pessoa que teme ao Senhor. A oração é para que

essas bênçãos venham juntas com a bênção geral sobre o povo de

Deus. Era como se o salmista dissesse que essas bênçãos não são

individuais, mas vêm acompanhadas com as bênçãos do povo de

Deus. Talvez o salmista queira enfatizar aqui a nossa unidade,

a ideia de que nós fazemos parte de um povo; não somente

somos abençoados, mas fazemos parte de um povo abençoado.

O salmista ora como se o homem abençoado estivesse diante

dele e pudesse ouvir: Eis como será abençoado o homem que

teme ao Senhor! Então ele se volta para o homem no verso 5 e o

abençoa, dizendo: O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas a

prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos

de teus filhos. Paz sobre Israel!

E o que ele diz nessa oração? Primeiro, que o Senhor o

abençoe desde Sião. Sião é o nome do monte onde estava edificada

a cidade de Jerusalém, onde estava o templo de Deus. Quando

ele diz o Senhor te abençoe desde Sião, ele está dizendo que essas

bênçãos vêm do Deus que mora em Jerusalém, o Deus da aliança,

o Deus de Israel, de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de Davi,

o único Deus verdadeiro, Criador dos céus e da terra. De lá de

Sião, Ele vai abençoar você, ou seja, essas bênçãos não me chegam

individualmente, mas procedem do Deus que é o Deus de um

povo. É esse Deus que está me abençoando, eu sou parte desse

povo, e essas bênçãos vêm em decorrência disso.

A segunda coisa que ele pede está ainda no verso 5:

para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua

vida. Aqui não é somente uma oração para que o israelita viva

muitos anos e seja longevo, mas para que ele viva o suficiente

para, durante esse tempo, ver a prosperidade do povo de Deus.

102


SALMO 128 - A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

Aqui percebemos que isso não é tanto uma bênção material. Você

lembra que eu disse que essas bênçãos vêm acompanhadas com

as bênçãos espirituais? A bênção não é só viver muito, porque,

sinceramente, tem gente que vive muito e gostaria de ter morrido

cedo, pois sua vida é infeliz. Então, não é só viver muito, mas é

viver muito e ver a prosperidade do povo de Deus, viver para ver

os filhos dos filhos andando nos caminhos do Senhor, a Igreja

crescendo e se multiplicando, o Reino de Deus avançando e as

bênçãos sendo derramadas sobre os nossos queridos. Só assim vale

a pena viver muito, ter uma vida longa, para ver a prosperidade

da Igreja, o crescimento do povo de Deus e dos nossos filhos, que

vêm logo em seguida, no verso 6: vejas os filhos de teus filhos. É

outro pedido: longevidade para ver os netos e bisnetos. Mas não

é só ver os netos e os bisnetos, é vê-los andando nos caminhos

do Senhor, vivendo para a glória de Deus. É assim que Deus vai

abençoar aquele que O teme.

Em conclusão, o que é que o salmo nos ensina? Primeiro,

que Deus abençoa aqui neste mundo aqueles que O temem e andam

nos Seus caminhos. Nós não podemos nos esquecer disso, de que

há promessas de bênçãos materiais, Deus não somente abençoa

com bênçãos espirituais, como perdão de pecados, reconciliação,

novo nascimento, adoção, nos dar o Espírito Santo, nos dar a paz,

nos dar a tranquilidade. Tudo isso vem do Altíssimo, porém Ele

também nos abençoa com bênçãos materiais — prosperidade,

trabalho, longevidade, saúde, conforto —, privilégios que nós

temos que são dados da parte de Deus, incluindo a alegria de

participar dessas coisas, de trabalhar e de se sustentar, o privilégio

de casar, ter filhos e vê-los andando nos caminhos de Deus, ver o

povo de Deus abençoado e crescendo aqui neste mundo. É isso

que este salmo nos ensina, que o nosso Deus é poderoso para nos

abençoar materialmente também.

Agora, há ocasiões e situações em que nós não

compreendemos por que Deus decide não conceder essas

bênçãos mesmo aos que são fiéis. Podemos pensar aqui, por

exemplo, nos crentes perseguidos nos países islâmicos. Eles são

103


CAMINHOS DA FÉ

tementes a Deus, O amam, são crentes em Jesus. Mas são presos,

torturados, a família é separada, membros da família são mortos,

seus bens são arrestados pelas autoridades, eles não têm nenhuma

dessas bênçãos e morrem cedo. Então, por motivos que nós não

compreendemos, às vezes o Deus soberano, em Sua sabedoria,

resolve não abençoar os fiéis com bênçãos materiais. Isso quer

dizer que os fiéis que estão desprovidos de bênçãos materiais serão

infelizes? Não, porque a Bíblia nos ensina a temer a Deus, amá-lo

e nos alegrar nele quando Ele nos abençoa assim ou quando tira

essas bênçãos.

Jó, por exemplo, que era um homem temente a Deus,

tinha muitos filhos, era próspero, mais do que todos os do

Oriente. Um dia, o diabo foi dizer a Deus que Jó só era feliz

porque o Senhor o cobriu de bênçãos, mas que, se Deus tirasse

tudo dele, ele provavelmente não seria mais temente a Ele. Deus,

então, deu permissão ao diabo para tirar-lhe tudo, inclusive a

saúde. E o diabo assim o fez. Porém, Jó, mesmo privado de todos

esses confortos, família, trabalho, prosperidade, saúde, disse: Deus

deu, Deus tomou, bendito seja o nome do Senhor. Em momento

algum Jó atribuiu a Deus falta alguma.

Normalmente Deus abençoa materialmente aqueles que

O temem e andam nos Seus caminhos, por isso você pode orar por

isso, você pode pedir isso, não está errado. Mas o que você precisa

saber é que isso não é uma regra geral, não acontece sempre. Às

vezes, na soberania e na sabedoria de Deus, por motivos que não

sabemos, Ele prova o crente, tirando-lhe essas coisas e fazendo

com que ele atravesse momentos de dificuldade financeira e

relacional, crises na família, problemas de saúde… Deus faz isso

para nos testar, porque o problema da bênção é que, quando

Deus nos abençoa com muita coisa, ficamos acomodados, e um

crente acomodado não ora, não agradece, não quer ir à igreja; é

quando a necessidade aperta que ele vai de joelhos, clama e lê a

Bíblia. Então, Deus não pode nos abençoar sempre com muito,

porque isso seria ruim para nós. Por isso, Ele às vezes tira nossos

confortos, exatamente para que nos lembremos de que, de todas

104


SALMO 128 - A FELICIDADE DO QUE TEME A DEUS

as bênçãos que nós temos nesta vida, a maior de todas é o próprio

Deus na pessoa do Seu filho Jesus. Tudo mais pode nos faltar;

porém, se nós tivermos o Senhor, então temos tudo. Se Deus é por

nós, quem será contra nós? (Rm 8.31)

Que Deus conforte o seu coração e lhe encha de alegria

em servir ao Senhor juntamente com o Seu povo.

ORAÇÃO:

Senhor, nós queremos pedir pelos Teus filhos que te

temem, que andam nos Teus caminhos, mas que estão passando

por momentos de privação, dificuldade e luta. Ó Deus, dálhes

pleno contentamento na fartura e na necessidade. Oramos

também para que o Senhor seja servido em aliviar nossas dores

aqui neste mundo. Cura os doentes, dá o pão de cada dia, abre

portas de emprego para os jovens que estão chegando ao mercado

de trabalho. Ajuda aqueles que estão estudando também, os

adolescentes que estão lutando ainda com a questão da vocação,

o que vão ser, que trabalho vão escolher, que caminho vão seguir.

Ajuda também os pais que lutam com filhos desobedientes e

rebeldes. Ajuda-nos, ó Deus, em toda essa situação e nos dê graça

para ver o Teu povo caminhando e prosperando. Dá-nos a graça

de ver os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos andando nos

Teus caminhos, para a glória do Teu nome e alegria do Teu povo.

É o que pedimos em nome de Jesus. Amém.

105



SALMO 129

ENFRENTANDO O ABUSO

Muitas vezes me angustiaram desde a minha

mocidade, Israel que o diga; desde a minha

mocidade, me angustiaram, todavia, não

prevaleceram contra mim. Sobre o meu dorso

lavraram os aradores; nele abriram longos

sulcos. Mas o Senhor é justo; cortou as

cordas dos ímpios. Sejam envergonhados e

repelidos todos os que aborrecem a Sião!

Sejam como a erva dos telhados, que seca

antes de florescer, com a qual não enche a

mão o ceifeiro, nem os braços, o que ata os

feixes! E também os que passam não dizem: A

bênção do Senhor seja convosco! Nós vos

abençoamos em nome do Senhor!

Não se sabe exatamente em que contexto este salmo foi

escrito nem quem o escreveu, mas tudo indica que foi escrito e

depois cantado durante um período de opressão da nação de Israel

por povos inimigos. Talvez em uma das opressões em tempos de

dominação estrangeira, quando Israel estava na terra prometida.

Aqui, o salmista trata dos abusos e dos sofrimentos enfrentados

pelo povo de Deus através de sua história e como Deus os livrou.


CAMINHOS DA FÉ

A divisão do salmo é fácil: em primeiro lugar, o salmista

dá uma descrição, ou lembra, dos abusos que o povo de Deus

sofreu através de sua história e da angústia que esses sofrimentos

causaram (129.1-3). Depois, ele expressa a sua certeza de que

Deus haverá de preservar o Seu povo como sempre preservou

(129.4), e em seguida faz uma oração imprecatória contra os

inimigos do povo de Deus e que causaram todo esse sofrimento

(129.5-8).

Quanto aos abusos cometidos contra o povo de Deus,

estes são relatados nos versos de 1 a 3: Muitas vezes me angustiaram

desde a minha mocidade, Israel que o diga; desde a minha mocidade,

me angustiaram, todavia, não prevaleceram contra mim. Sobre o

meu dorso lavraram os aradores; nele abriram longos sulcos. Nessa

passagem, o salmista fala dos sofrimentos da nação de Israel como

se ele fosse a nação de Israel, ou como se ele fosse o porta-voz da

nação de Israel. Note que ele diz muitas vezes me angustiaram e,

também, no verso 2, desde a minha mocidade me angustiaram.

Porém, ele não está falando de si próprio, de sua experiência

pessoal, mas está falando como se fosse a nação de Israel, conforme

relata o final do verso primeiro. Depois de dizer muitas vezes me

angustiaram desde a minha mocidade, ele diz: Israel que o diga.

Então quem, na verdade, está dizendo é a nação de Israel, ele

funciona como o porta-voz.

Essa é uma figura de linguagem muito usada chamada

personificação, em que a pessoa fala como se fosse a nação de

Israel, para narrar as experiências de sofrimento que a nação teve.

O que, então, ele nos ensina sobre os abusos que o povo de Deus

sofreu em sua história? Primeiro, que foram muito intensos. Note

que ele diz muitas vezes me angustiaram. Não foi uma vez só,

não foram duas, mas muitas vezes que houve situações de abuso,

opressão e hostilidade contra o povo de Deus. Ele também repete

o termo angustiar duas vezes: no verso primeiro — muitas vezes

me angustiaram — e no verso 2, como se não tivesse dito antes

— desde a minha mocidade me angustiaram. Nós sabemos que é

uma das características da literatura hebraica dar ênfase a alguma

108


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

coisa através da repetição. Quando você encontra repetições que

às vezes até parecem uma redundância, na verdade se trata de

um artifício literário para expressar ênfase. O fato de ele repetir

a mesma frase duas vezes significa que ele está querendo dizer

que os sofrimentos e a angústia causados pelos abusos sofridos

realmente foram muito intensos. Ele também nos diz que não

somente aconteceram muitas vezes, mas que foram constantes.

O que causou essa angústia não foram acidentes pessoais,

catástrofes como terremotos, secas, pestes, que traziam prejuízo

para aquele povo, especialmente porque era um povo que

dependia da agricultura. Mas ele diz que foram pessoas: desde a

sua mocidade eles o angustiaram. A palavra eles não aparece no

texto em português, porém está no hebraico, “eles o angustiaram

desde a sua mocidade”. Ele está falando de pessoas que oprimiram,

que hostilizaram e que provocaram abuso.

Esse sofrimento que a nação passou é descrito como

sendo brutal. Observe o que ele diz no verso 3: Sobre o meu dorso

lavraram os aradores; nele abriram longos sulcos. Aqui, ele está

usando a figura bem conhecida na nação de Israel do agricultor

que vai para o campo com uma junta de bois, e amarrado com

cordas aos bois está o arado, que era uma peça em forma de v em

que o agricultor poderia segurar e que tinha um aguilhão que

entrava na terra, uma espécie de faca. Ele fustigava os bois, que

puxavam o arado, e ele enfiava o aguilhão na terra. Os bois iam

puxando e o aguilhão ia abrindo os sulcos na terra, aonde depois

a semente seria lançada.

Ele diz aqui, fazendo uma comparação, que os sofrimentos

eram tantos e tão intensos, que era como se alguém estivesse

lavrando em suas costas, passando o arado, com aquele aguilhão

penetrando e rasgando tudo e deixando a ferida aberta. É a figura

que ele usa para descrever a brutalidade dos sofrimentos que a

nação de Israel passou.

Mas, então, a que ele se refere? Lembremos a história de

Israel. Há pelo menos três situações que podem estar na mente do

salmista. Primeiro, a escravidão no Egito durante quatrocentos

109


CAMINHOS DA FÉ

anos. Mal a nação de Israel nascera, tornou-se escrava do faraó

por quatrocentos anos. Nesses anos, o faraó escravizou os filhos

de Israel, brutalizou, mandou matá-los, chicoteou, torturou-os,

causou todo tipo de abuso possível ao povo de Israel durante

esse tempo. Outra situação que pode estar na mente do salmista

é aquele tempo em que Israel estava na terra prometida, mas

dominada por povos pagãos, como os moabitas, os amonitas, os

filisteus e os sírios, que de vez em quando se levantavam contra a

nação de Israel, invadiam Canaã, subjugavam os judeus, levavam

os filhos como escravos, tomavam conta das plantações e os

obrigavam a pagar pesados tributos. Era um tempo de opressão e

de abuso sofrido.

Ou então ele se refere aos setenta anos de exílio que eles

passaram na Babilônia, para onde foram levados como escravos,

tirados de sua terra, tendo suas propriedades todas confiscadas.

Muita gente morreu e a nação foi transportada para o exílio, e lá

sofreu brutalidade e perseguição. Um exemplo do sofrimento que

eles passaram durante o tempo de exílio na Mesopotâmia é aquele

que nos é narrado no livro de Ester, quando Hamã se levanta para

matar todos os judeus, e, se não fosse a intervenção de Deus, toda

a nação teria sido dizimada naquele período de escravidão.

O nosso salmista provavelmente está se lembrando de

todos esses episódios e dizendo: muitas vezes me angustiaram.

Muitas vezes angustiaram a nação de Israel, muitas vezes ela foi

angustiada desde que nasceu como nação, e os sofrimentos foram

tão grandes, que era como se alguém passasse um arado nas suas

costas. Esses são os abusos e sofrimentos que nós experimentamos

durante a nossa história, como povo de Deus.

Estamos a dois mil e quinhentos anos desde que este salmo

foi escrito e temos a vantagem da história para ver que esses abusos

continuaram. Eles não pararam aqui com este salmo. O Israel de

Deus, a Igreja, sofreu muito também. A Igreja foi perseguida,

dizimada pelo Império Romano, ou, pelo menos, o Império

Romano procurou dizimá-la durante os quatro primeiros séculos

de sua existência; houve pelo menos dez perseguições desde Nero

110


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

até Diocleciano, que foi o último imperador, que perseguiu com

muita ferocidade os cristãos até o século quarto. Durante a Idade

Média, os fiéis foram perseguidos e mortos depois da Reforma

Protestante, reformados e puritanos perseguidos e mortos,

cristãos oprimidos, assediados, presos e torturados em regimes

comunistas e islâmicos. Hoje o cristianismo continua sendo a

religião mais perseguida do mundo.

Apesar de todas essas angústias que são descritas aqui,

voltando ao nosso salmista, ele tem esperança. Estamos, então, na

segunda parte do salmo, no verso 4, quando ele diz: Mas o Senhor

é justo; cortou as cordas dos ímpios. Ele já havia dito no verso 2 que

aquelas tentativas de destruir o povo de Deus não prevaleceram,

e aqui no verso 4 ele explica por que não prevaleceram: porque

Deus, que é justo, cortou as cordas dos ímpios. Ele se refere ao

fato de que a nação de Israel, apesar de toda aquela perseguição

que foi feita pelo faraó no Egito, os povos pagãos da Palestina

pelos babilônicos e assírios durante o período do exílio, a nação

sobreviveu, o povo de Deus continuou a existir; apesar de todo

o abuso e do sofrimento passado, ela saiu da escravidão do Egito

para ser uma nação, Israel sobreviveu aos reis pagãos na Palestina

e voltou do exílio para a sua terra.

A Igreja também sobreviveu e tem sobrevivido ao longo

de sua história. Sobreviveu à perseguição dos imperadores na

Idade Média, experimentou a reforma e a revitalização. Apesar

da perseguição, ela cresceu e se instalou nos países comunistas,

continua crescendo e se expandindo no mundo, em que pese os

lavradores terem arados em suas costas. A razão pela qual o povo

de Deus não foi destruído e não tem sido destruído é exatamente

aquilo que o salmista diz no verso 4: a fidelidade de Deus para com

o Seu povo. Ele diz aqui que Deus cortou as cordas dos ímpios.

Você lembra que eu comentei como é que o arado funciona?

Então, imagine-os arando as costas do justo e Deus chegando e

cortando as cordas, trazendo libertação. Deus interrompe, chega

no momento crucial em que não há mais esperança e corta as

cordas dos ímpios que estavam passando o arado nas costas do

111


CAMINHOS DA FÉ

povo de Deus. É a maneira de o salmista dizer e falar da libertação

de Deus. Deus não permitiu que o Seu povo fosse destruído e

extinto, e o salmista diz que Ele fez isso porque Ele é justo.

Em que sentido Deus é justo para preservar o Seu

povo? Primeiro, porque Ele aborrece a impiedade, a crueldade

e a brutalidade. Por isso, Ele não permitiu que essas coisas

prevalecessem contra o Seu povo. Segundo, porque Deus é fiel.

Lembra a combinação dessas duas coisas, lá na primeira carta de

João? Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos

perdoar os pecados (1Jo 1.9). A justiça de Deus anda junto com a

Sua fidelidade, porque Ele tem uma aliança com Seu povo, Ele

lembrou-se do Seu povo e o protegeu, não deixou que Seu povo

fosse destruído, por amor à Sua palavra. Ele fez uma aliança,

um pacto com o Seu povo, e Ele é fiel àquilo que promete. A

fidelidade de Deus impediu e tem impedido que a Igreja seja

destruída, Jesus ratificou isso quando disse que as portas do

Inferno não haverão de prevalecer contra a Igreja de Deus e que

Deus haverá de manter o Seu povo até o dia do juízo final e

depois eternamente na glória.

Agora vem a terceira parte do salmo e que é a mais

complicada: o salmista relembra a história e a fidelidade de Deus

e ora pela destruição dos seus inimigos: Sejam envergonhados

e repelidos todos os que aborrecem a Sião! Sejam como a erva dos

telhados, que seca antes de florescer, com a qual não enche a mão o

ceifeiro, nem os braços, o que ata os feixes! E também os que passam

não dizem: A bênção do Senhor seja convosco! Nós vos abençoamos

em nome do Senhor! (129.6-9). Ou seja, ele ora para que Deus

destrua os Seus inimigos, aqueles que causaram esse sofrimento,

essa angústia ao povo de Deus. Que o Senhor, então, os destrua!

Esse tipo de oração que a pessoa que teme e conhece a

Deus faz pedindo a destruição dos inimigos é chamada de oração

imprecatória. Nessa oração, o temente a Deus pede que Ele castigue

os inimigos, que lhes retribua conforme aquilo que eles fizeram

contra o povo de Deus. Observe alguns exemplos: A morte os

assalte, e vivos desçam à cova! Porque há maldade nas suas moradas

112


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

e no seu íntimo (Sl 55.15); Ó Deus, quebra-lhes os dentes na boca;

arranca, Senhor, os queixais aos leõezinhos. Desapareçam como águas

que se escoam (Sl 58.6-7); Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva, a sua

esposa. Andem errantes os seus filhos e mendiguem; e sejam expulsos

das ruínas de suas casas. De tudo o que tem, lance mão o usurário;

do fruto do seu trabalho, esbulhem-no os estranhos. Ninguém tenha

misericórdia dele, nem haja quem se compadeça dos seus órfãos (Sl

109.9-13). Estas são chamadas orações imprecatórias, que se

fazem contra os inimigos. Você encontra muitas delas no livro

dos salmos. No Novo Testamento temos exemplos disso também.

Observe o que o salmista está pedindo que Deus faça com

esses inimigos que causaram tanto sofrimento ao Seu povo: no

verso 5, que eles sejam envergonhados e repelidos; nos versos 6

e 7, que eles sejam ressecados, restem poucos, inúteis e de pouca

duração, como aquela erva que é plantada no telhado. Por não

haver solo, ali a erva não tem raízes e o sol a queima. Ela dura

pouco, a ponto de que o ceifeiro que passa não consegue nem

encher uma mão com aquela erva. Ela se seca, é pouca e não tem

profundidade. O que ata os feixes também não consegue nem

levar uma braçada delas, porque é pouca e dura pouquíssimo.

É isso que ele está dizendo: “Deus, faz com que os inimigos do

Teu povo sejam como essa relva que cresce no telhado, ressecada,

pouca e inútil, que não tem finalidade nenhuma”.

E não só isso, mas ele diz também, no verso 8, que

ninguém abençoe esse povo dizendo: “Eu te abençoo em nome

do Senhor. Ele pede que ninguém abençoe esses ímpios, que eles

sejam realmente relegados à maldição, que sejam completamente

destruídos. Isso, à primeira vista, esse tipo de oração, pode soar

estranho para quem é crente. Será que eu posso fazer uma oração

dessas contra os inimigos, as pessoas que me angustiaram, que me

aborreceram e que causaram tanta angústia?

Eu quero dizer algumas coisas breves sobre esse tipo

de oração. Quando você estuda essas orações imprecatórias na

Bíblia, você percebe primeiro que o que o salmista ou a pessoa

que está orando quer não é vingança pessoal. Ele não está com

113


CAMINHOS DA FÉ

raiva pelo que eles lhe fizeram e não pede a Deus que acabe com

eles por isso. A sua preocupação não é vingança pessoal, em

momento algum. Todas essas orações imprecatórias, na verdade,

são manifestações do desejo de que Deus seja glorificado e que a

justiça dele seja feita. Elas são movidas por indignação do crente

que ama a Deus e vê que o Seu povo está sofrendo. Ele quer

que Deus faça justiça contra os seus adversários e que a verdade

de Deus seja estabelecida, lembrando que o Senhor é amor, mas

também é justo e verdadeiro.

O segundo fato sobre essa oração é que nenhuma dessas

pessoas na Bíblia que faz esse tipo de oração resolve se vingar

pessoalmente dos seus inimigos. Ao contrário, o que elas fazem

é entregar os inimigos nas mãos de Deus. Elas não vão pegar a

espada e dizer que elas mesmas vão fazer justiça, mas entregam

essas pessoas a Deus e dizem: “Deus, faça justiça, não sou eu que

vou fazer com minhas mãos, mas o Senhor faça justiça”.

A terceira coisa é que o alvo final dessas orações sempre

é a glória de Deus e nasce do desejo de ver Deus vindicado. Já a

quarta é orar pela destruição dos inimigos de Deus, caso eles não

se arrependam. Seria mais ou menos assim: “Senhor, eu oro para

que eles se arrependam, oro para que eles se convertam, os meus

inimigos e os inimigos do povo de Deus, que eles se convertam

para a Tua glória; mas, se eles não se converterem, se eles não se

arrependerem, destrói-os, Deus, para que a Tua glória e a Tua

justiça sejam manifestas”. Temos que orar pela conversão dos

inimigos, mas a conversão passa pelo arrependimento. Devemos

orar para que Deus salve os nossos inimigos. Porém, para isso,

eles têm que se arrepender, e, se eles não quiserem se arrepender,

que Deus dê o justo juízo e a justa retribuição, ou seja, castigo,

condenação e destruição porque eles não se arrependeram.

Nosso dever, primeiramente, como cristãos é orar pela

conversão e arrependimento dos ímpios, dos inimigos de Deus.

Contudo, se eles não querem se arrepender e mudar, nós podemos

orar conforme os salmos nos mostram, para que Deus faça a Sua

justiça e que exerça a Sua ira santa contra os seus inimigos. Aqui

114


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

está meu quinto ponto: que essa oração pode, sim, ser feita por um

crente com relação aos inimigos do povo de Deus que perseguem,

assolam, abusam, torturam e matam o povo de Deus e também

quando o cristão é vítima de um abuso pessoal da parte de ímpios

que o perseguem e angustiam. Inclusive, a seguir veremos alguns

trechos bíblicos sobre o tema.

Jesus disse aos Seus discípulos que, quando eles fossem

evangelizar, entrassem em uma cidade e não fossem recebidos,

que batessem o pó da sandália contra aquele povo. Bater o pó

da sandália significa dizer “nem o pó das ruas, das cidades de

vocês, eu quero que esteja comigo, porque vocês são objeto da

ira de Deus”, e Jesus disse que menos rigor haverá para Sodoma e

Gomorra, no Dia do Juízo, do que para aquela cidade (Mt 10.15).

O apóstolo Paulo estava sendo julgado perante o sinédrio,

e, quando o julgamento começou e Paulo iniciou sua defesa, o

sumo sacerdote mandou um empregado bater na boca de Paulo,

que se virou para o sacerdote e disse: Deus haverá de te destruir,

parede branqueada (At 23.3). Então o empregado questionou

como Paulo podia dizer isso de um sumo sacerdote, ao que Paulo

respondeu que não sabia que ele era o sumo sacerdote. Desculpouse,

não pelo que disse, mas porque disse contra o sumo sacerdote.

Paulo também menciona um tal Alexandre que lhe causou

muitos males e diz: Deus haverá de pagar a ele conforme as suas

obras (2Tm 4.14). Note que Paulo não estava procurando uma

vingança pessoal, mas entregou Alexandre nas mãos de Deus, que

é santo e justo.

Em Apocalipse, João tem uma visão do céu, das almas

dos que foram mortos pelo nome de Jesus, os mártires, e estas

almas estavam perguntando a Deus até quando Ele não vingaria

o sangue daqueles que habitavam sobre a terra. Eles estavam

pedindo a Deus quando é que o Senhor faria justiça, quando é

que o Senhor iria punir os inimigos, destruir aqueles que queriam

destruir o Seu povo (Ap 6.10). No mesmo livro de Apocalipse,

é mencionada a queda da grande Babilônia, que representa os

reinos desse mundo que perseguem o povo de Deus. Lá, o anjo

115


CAMINHOS DA FÉ

passa gritando que caíra a grande Babilônia: Exultai sobre ela, ó

céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou

a vossa causa (Ap 18.20).

Ou seja, a oração imprecatória faz parte, sim, da vida

do cristão. Agora, se você vai orar dessa forma, você tem que

fazer exatamente como a Bíblia ensina, pensando nos inimigos

do povo de Deus. A minha oração sempre é esta: “Senhor, eu

oro pela conversão desse povo que persegue os cristãos, que os

aniquila e os tortura, trazendo-lhes a morte. Eu oro para que eles

se convertam; mas, se eles não quiserem se converter, eu sei o que

é que o Senhor vai fazer, o Senhor vai castigá-los e destruí-los.

Que assim seja, Deus, porque Tu és justo, verdadeiro e bom”. Eu

creio que essa é a aplicação que nós podemos fazer quanto a este

salmo.

Alguém pode perguntar se eu não me esqueci de mencionar

a oração de Cristo na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o

que fazem (Lc 23.34). Quanto a isso, duas observações: a primeira

é que Jesus não queria uma vingança pessoal contra aquelas

pessoas. Segunda: estava implícito na oração de Jesus que aquele

perdão que Ele pede a Deus para os Seus inimigos seria mediante

o arrependimento; se os inimigos dele não se arrependessem,

é claro que Jesus não oraria pelo perdão, porque perdão é para

quem se arrepende. Se não há arrependimento também não há

perdão. Logo após a oração de Jesus, o centurião que estava ali,

vendo aquilo, disse: Verdadeiramente, esse homem era justo! (Lc

23.47). Aquele soldado respondeu à oração de Jesus, arrependeuse

e foi perdoado ali. Implicitamente, ele estava dizendo que

errou, que havia crucificado o filho de Deus, liderado os soldados

que enfiaram os pregos em Suas mãos e pés.

A oração de Jesus também se reflete no ladrão na cruz.

Um deles se virou para Jesus e começou a insultá-lo. O outro,

então, o repreendeu e disse: “Por que você ainda faz isso? Nós

estamos aqui porque nós merecemos, estamos aqui recebendo o

castigo dos nossos pecados, mas este nenhum mal fez” (Lc 23.40-

41). Jesus, então, se voltou para ele e disse: “Hoje você vai estar

116


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

comigo no paraíso” (Lc 23.43), ou seja, houve perdão, porque o

que houve antes foi o arrependimento da parte do ladrão. Então

a minha oração é: Senhor, salva os ímpios, salva aqueles que

me perseguem, salva aqueles que me torturam, aqueles que me

abusam e produzem todo tipo de sofrimento; mas, se eles não

quiserem se arrepender, julga-os, ó Deus, entrego-os na Tua mão.

Tu, que és santo e verdadeiro, faz aquilo que Tu disseste que faria

com todo ímpio que se rebela contra Ti.

O que, então, em resumo, você pode aprender? Como

você deve enfrentar o abuso e a angústia que por vezes vêm sobre

você? Há alguns pontos que quero destacar aqui: primeiro, você

vai sofrer, sim. Esteja consciente de que neste mundo os filhos de

Deus sofrem, sim, abusos, hostilidade, opressão e perseguição.

Por isso, não fique surpreso nem espantado quando essas coisas

acontecem em sua vida. Não é que Deus lhe abandonou, mas

Ele permite que essas coisas aconteçam com o Seu povo, como

Ele permitiu com a nação de Israel e como tem permitido com a

Igreja através da história.

Segundo: Deus sempre está com você. Lembre-se de que

Deus sempre esteve com o Seu povo em meio ao abuso sofrido, Ele

nunca permitiu que os Seus fossem completamente destruídos ou

que chegassem a um ponto de desespero em que abandonassem

a fé. Ao contrário, Ele sempre os sustentou no meio da provação

e da dificuldade.

Terceiro: ore por seus inimigos. Ore pelo arrependimento

e conversão daqueles que cometeram abusos e injustiça contra

você e ore também para que Deus exerça o juízo se eles não se

arrependerem, como o salmista faz aqui.

Quarto: você não deve alimentar sentimentos de vingança.

Não alimente sentimentos de ira, vingança, ódio e rancor, mas

deixe essas pessoas na mão de Deus, como diz a Palavra: “Deus

haverá de retribuir”. Em Romanos 12, Paulo diz: Não vos vingueis

a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira. Não deixemos que a

nossa ira entre no caminho, porém deixemos que a ira de Deus

se manifeste.

117


CAMINHOS DA FÉ

Quinto: Deus vai fazer justiça. Espere o dia do juízo,

Deus vai, sim, fazer justiça. Eu sei que o nosso coração clama por

justiça aqui neste mundo, especialmente quando estamos sendo

injustiçados, mas há um dia em que Deus vai fazer isso, e você

espera esse dia e entrega os seus inimigos nas mãos do Deus que

pode convertê-los, o Deus que pode trazer a justiça sobre eles.

Alguém me pergunta: “Pastor, mas é muito difícil isso,

nós perdoarmos, orarmos pela conversão dos inimigos ou não

guardar rancor e mágoa no nosso coração”. Aqui, eu termino

dizendo que as forças para isso vêm mediante a comunhão com

Jesus Cristo. Jesus sofreu o abuso da humanidade em nosso

lugar, Ele foi angustiado, passaram o arado em Suas costas,

Ele foi chicoteado, mas orou pela conversão dos Seus inimigos

e entregou-se a Deus, para que Deus fizesse toda a justiça.

Unidos a Cristo, nosso redentor e salvador, nós teremos o poder

necessário para enfrentar o abuso, a hostilidade, a perseguição e o

sofrimento aqui neste mundo da maneira correta. Os sofrimentos

nem sempre irão embora, não adianta pedir a Deus para sempre

passar de você o cálice ou tirar-lhe o espinho na carne. Deus nem

sempre vai atender a esse tipo de coisa, mas Ele sempre vai lhe

dar a graça para que você possa suportar, para que você possa

orar pelas pessoas que lhe afligem, lhe maltratam e lhe incutem

sofrimento; Ele vai lhe dar a graça também para que você anseie o

dia da glória e da justiça de Deus, em que os inimigos de Deus e

do Seu povo serão finalmente destruídos para a glória do Senhor

e para o estabelecimento de toda a justiça. Que Deus assim

nos fortaleça em meio a toda dificuldade e hostilidade que nós

enfrentamos.

ORAÇÃO:

Ó Deus, ajuda-nos a ver a realidade como o Senhor a

vê. O Senhor é Deus amoroso e perdoador, mas também é

fogo consumidor. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

118


SALMO 129 - ENFRENTANDO O ABUSO

Pedimos, nosso Deus, que o Senhor converta os inimigos da

Igreja e do Teu povo, aqueles que infligem perseguição, morte e

tortura, que são infiéis.

Pedimos que o Senhor levante missionários, que o

Evangelho se espalhe nesses países e cidades onde essa perseguição

aberta ou velada acontece. Mas também, Senhor, se eles não se

arrependerem, trata-os conforme as suas obras, dá-lhes o retorno

e a paga merecida, porque Tu és Deus justo e verdadeiro, Tu não

permitirás que a injustiça prevaleça, para que o justo não tenha

que lançar mão à iniquidade. Damos-te graças porque Jesus é o

nosso redentor e sofreu o abuso em nosso lugar, e é em nome dele

que nós oramos. Amém.

119



SALMO 130

DAS PROFUNDEZAS

Das profundezas clamo a ti, Senhor.

Escuta, Senhor, a minha voz; estejam

alertas os teus ouvidos às minhas súplicas.

Se observares, Senhor, iniquidades, quem,

Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está

o perdão, para que te temam. Aguardo o

Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero

na sua palavra. A minha alma anseia pelo

Senhor mais do que os guardas pelo romper

da manhã. Mais do que os guardas pelo

romper da manhã, espere Israel no Senhor,

pois no Senhor há misericórdia; nele, há

copiosa redenção. É ele quem redime a

Israel de todas as suas iniquidades.

Este é um dos salmos mais apreciados de todo o saltério.

Era um dos salmos prediletos de Agostinho, era o salmo predileto

de Lutero, de Calvino e de um dos grandes escritores puritanos,

John Owen, que escreveu um comentário de mais de trezentas

páginas só sobre ele. Lutero considerava este salmo um dos salmos

paulinos, ou seja, um dos salmos em que o Evangelho e a graça de

Deus aparecem de forma mais clara em toda a Bíblia. Não é sem

motivo que essas pessoas gostavam deste salmo. Basta lê-lo e nós


CAMINHOS DA FÉ

já nos identificamos com ele, percebemos que aqui estão algumas

das verdades centrais da vida cristã. Este salmo é um dos Salmos

de Romagem, mas é também considerado um dos sete salmos

penitenciais que temos na Bíblia.

Os salmos penitenciais são aqueles em que o autor derrama

o coração diante de Deus. Ele está quebrantado, encontra-se

arrependido e quer o perdão de Deus; expressa toda a tristeza

do seu coração e busca a Deus por misericórdia. São sete desses

salmos — o salmo 6, o salmo 32, o salmo 51, o salmo 102, o

salmo 143 e este salmo aqui, que é uma combinação das duas

coisas. Ele expressa não somente os anseios do peregrino quando

caminha para Jerusalém, mas também as profundidades do nosso

coração.

Nós não sabemos quem escreveu este salmo nem sabemos

ao certo a situação em que ele foi escrito. O autor está passando

uma grande tribulação em sua alma e busca a Deus lá do fundo

do poço, procura a Deus por perdão e depois exorta os seus

companheiros a fazerem o mesmo. Este salmo pode ter sido

escrito como uma expressão de algo que estava acontecendo com

a nação de Israel. Você se recorda de que os judeus foram levados

como cativos para a Babilônia, onde passaram setenta anos

longe de casa, presos como escravos, sendo assediados, sofrendo

hostilidade e abusos. Alguns acham que este salmo foi escrito

naquela época. Outros acham, porém, que foi escrito para ser

cantado naqueles dias de jejum, oração e humilhação que eram

parte do calendário religioso de Israel. O mais provável, todavia,

é que este salmo esteja expressando a experiência pessoal do seu

autor, depois de ter caído em pecado, quando ele humilha-se

diante de Deus, busca a Sua ajuda, busca restauração e depois

exorta os seus irmãos a fazerem o mesmo. De qualquer forma,

este salmo descreve bem a experiência de todos os filhos de Deus

quando se encontram nas profundezas e de lá clamam a Deus por

perdão.

Nós veremos primeiro a oração que o salmista faz (130.1-

2), depois o argumento que ele usa com Deus para que o Senhor

122


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

o perdoe (130.3-4), logo em seguida a espera dele pela resposta de

Deus depois de ter orado (130.5-6) e por último o ensinamento

que ele faz à nação de Israel (130.7-8).

Comecemos, então, com a oração que ele faz a Deus:

Das profundezas clamo a ti, Senhor. Escuta, Senhor, a minha voz;

estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas (130.1-2). O que

motivou o salmista a orar? A resposta é o estado em que ele se

encontrava. Ele diz: das profundezas eu clamo a ti. A expressão das

profundezas descreve no livro dos salmos uma situação crítica de

perigo e de calamidade, ou então uma angústia profunda da alma.

Com certeza essa é a situação em que o salmista se encontra aqui.

Ele está nas profundezas de sua alma, perturbada pelo pecado

que ele cometeu, o coração dele está turbado, a sua consciência

está culpada. Ele havia perdido a alegria da salvação, sentia-se

como alguém que tinha sido lançado ao mar e foi afundando,

afundando, e chegara lá no fundo, nas profundezas do oceano,

lançado fora da presença de Deus. Ele estava em profundo

desespero. Essa era a situação em que ele se encontrava. A sua

alma estava turbada, ele se sentia nas profundezas, lançado de

diante de Deus.

Agora, note que o que ele perdeu aqui com o seu pecado

foi a alegria da salvação. Ele não perdeu a salvação, porque

ele ainda está chamando por Deus, ele dá mostras de que está

arrependido, sente tristeza por seu pecado e quer o perdão de

Deus. Ele é um crente que caiu e está se sentindo nas profundezas,

com a consciência culpada, o coração inquieto e a incerteza do

favor de Deus. A alegria espiritual foi embora, ele se encontra em

profunda perturbação, e é de lá das profundezas que ele clama a

Deus.

Aqui já temos uma lição preciosa para quando caímos

em pecado, quando tropeçamos e fazemos o que não devemos

e que começamos a nos sentir assim, lá no fundo do poço, nas

profundezas. A nossa primeira reação é nos escondermos de Deus

ou pararmos de buscá-lo. Esse homem aqui clama das profundezas.

Ele não deixou as profundezas impedirem a sua busca por Deus.

123


CAMINHOS DA FÉ

É isso que devemos fazer quando nos encontramos lá no fundo

do poço, em profundo desespero. Nós temos que fazer o que este

salmo nos ensina: clamar a Deus. Quem é crente verdadeiro já

passou por alguma experiência dessas. Não é à toa que Lutero,

Calvino e Agostinho gostavam deste salmo e que é um dos salmos

prediletos da Igreja através da História. Ele reflete uma situação

em que nós cristãos com frequência nos encontramos, lá nas

profundezas, lá no fundo, sentindo-nos desesperados, sem saída,

a consciência turbada, sem a alegria da salvação, incertos com

relação ao que Deus está sentindo por nós. Foi essa situação que

fez com que o salmista orasse.

Agora, em segundo lugar, note que a oração dele é uma

súplica: Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos

às minhas súplicas. Súplicas é uma palavra que carrega um pedido

de socorro de alguém que sabe que não merece resposta. Por isso

ele suplica, pede com emoção, com o coração. Ele demonstra

com essa súplica toda a sua dependência de Deus. Quando

suplicamos a alguém, nos colocamos em uma posição de total

dependência e de não merecimento, porque a súplica já revela que

nós temos consciência de que não merecemos nem ser ouvidos

nem atendidos. A súplica é o último recurso do desesperado, ele

chegou a um ponto em que não tem mais o que negociar, não

tem mais o que exigir e o que reivindicar, só lhe resta suplicar, e

é o que nosso salmista faz. Lá das profundezas, ele suplica, como

Jonas nas profundezas do mar, como Daniel na cova dos leões ou

como o profeta Jeremias quando foi lançado ao fundo do poço.

Os versos 1 e 2 nos dizem com clareza o que ele suplica,

o que ele quer de Deus. Primeiro, ele diz, no verso 2: Escuta,

Senhor, a minha voz. Ele quer que Deus o ouça. Na maioria das

vezes em que suplicamos a Deus em uma situação de desespero,

queremos só isso, que Deus nos ouça, porque sabemos que Ele é

bom, que Ele é Todo-Poderoso e pode nos tirar daquela situação.

Queremos só que Ele nos ouça, porque, se Deus nos ouvir, o

problema estará resolvido, da maneira que Ele quiser, no tempo

que Ele quiser e da forma como Ele quiser.

124


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

“Ouve a minha voz.” É só isso que ele quer, e é claro que

aqui no meio está implícito um pedido de perdão dos pecados

que ele cometeu e que o levaram a ficar nessa situação. Essa oração

ilustra bem o verdadeiro arrependimento. O que Deus deseja de

nós quando caímos em pecado é que nos arrependamos daquele

pecado e que O procuremos, para que recebamos o perdão.

Essa oração é uma oração de alguém que está verdadeiramente

arrependido, está procurando a Deus em uma atitude súplice,

das profundezas em que ele se encontra. Deus com certeza está

pronto a atender quando percebe o arrependimento verdadeiro

em nosso coração. É isso que esses dois versículos nos ensinam,

que lá das profundezas nós podemos suplicar que Deus nos ouça

e nos perdoe.

Nos versos 3 e 4, o salmista argumenta com Deus como

que querendo convencer o Senhor a perdoá-lo. Essa é uma parte

importante da vida de oração. Nós suplicamos, nos colocamos

diante de Deus totalmente dependentes dele, mas Deus nos

convida a argumentar com Ele. Era como se Deus dissesse:

“Tudo bem, eu estou te ouvindo, me dê algum motivo para que

eu perdoe você; por que eu deveria perdoá-lo? Por qual razão eu

deveria atender à sua oração? Argumente comigo, me convença”.

Faz parte da sua oração “convencer” a Deus que Ele deve atender

ao seu pedido. Deus quer ouvir as suas razões e motivos para

que Ele lhe atenda. Esse engajamento em argumento com Deus é

uma das partes mais profundas da oração; não é só você chegar e

dizer a Deus que quer um emprego, por exemplo — e eu sei que

pode parecer óbvio por que é que você quer um emprego —, mas

Deus quer que você elabore: por que Ele lhe daria um emprego?

Ah, porque você tem que ganhar o seu pão, porque quer ajudar

as outras pessoas… É preciso argumentar com Deus.

E é o que o salmista faz agora. Primeiro ele quer que Deus

o ouça, e em seguida ele argumenta com Deus por que é que Ele

deveria perdoá-lo, dando-lhe dois motivos. Note que ele não se

defende nessa argumentação, ele não vai dizer que quer que o

Senhor o perdoe porque há pessoas piores do que ele, ou então

125


CAMINHOS DA FÉ

que quer que o Senhor o perdoe porque a culpa não foi somente

dele. Note que ele não se desculpa. Observe os dois argumentos

que ele usa diante de Deus: o primeiro está no verso 3: Se

observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? O que

ele está dizendo a Deus aqui é o seguinte: se o Senhor for seguir

estritamente a lógica da Sua justiça, o Senhor terá que destruir a

raça humana toda. Deus é santo, justo e verdadeiro e por isso tem

que castigar todos aqueles que praticam a iniquidade, porque Ele

não pode contemplar o mal, não pode conviver com o pecado. A

santidade de Deus exige que todo pecador seja castigado e que a

pessoa que peca seja destruída.

Porém, disso vem o segundo ponto: todos os homens

praticam a iniquidade, não há um que não peque. Então,

consequentemente, Deus tem que aniquilar toda a raça humana.

É isso que ele está dizendo aqui: Se observares, Senhor, iniquidades.

Observar poderia ser traduzido como fazer uma lista: “Então,

Senhor, se o Senhor for anotar meticulosa e detalhadamente as

iniquidades que os homens cometem e punir cada uma delas,

o Senhor sabe quem vai sobrar na terra? Ninguém. Quem

subsistirá, se nós todos somos pecadores, pecamos diariamente e

quebramos a Tua lei? Se o Senhor for tomar nota ponto a ponto

disso, detalhe por detalhe, e castigar-nos de acordo com as nossas

iniquidades, ninguém vai sobreviver diante de Ti, a raça humana

será extinta. É isso que o Senhor quer? É isso que o Senhor quer

fazer?”. Veja que argumento que ele utiliza diante de Deus!

Agora, é claro que Deus observa todos os pecados,

iniquidades, transgressões e faltas que os homens cometem diante

dele. O salmista não está questionando que Deus tem o direito

de fazer isso, mas que, se Deus não tiver misericórdia — que é

o próximo argumento —, a raça humana será completamente

destruída diante dele. Ao argumentar assim, ele está confessando

a sua culpa, está dizendo que ele está no meio desse povo que vai

ser destruído, porque é pecador, ele admite a sua culpa e o seu

pecado.

126


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

Aí, vem o segundo argumento, exposto no verso 4:

Contigo, porém, está o perdão, para que te temam. Aqui, ele diz:

“Tu és o Deus santo que pode destruir a humanidade por causa

dos seus pecados. Mas o Senhor tem também autoridade para

perdoar, tem poder para isso, contigo está o perdão; o perdão não

está com os homens, não está com os falsos deuses, não está em

lugar nenhum, mas está contigo, só o Senhor pode perdoar. É

isso que eu peço, não justiça, porque, se o Senhor me tratar com

justiça, eu serei aniquilado, porém eu peço misericórdia, eu peço

perdão, e contigo está o perdão”.

E por que é que o perdão está com Deus e com Ele

somente? Porque Ele é o Criador dos céus e da terra, porque Ele

fez o homem à Sua imagem e semelhança e colocou a raça humana

debaixo da Sua autoridade. Quando nós pecamos, pecamos contra

Ele; quando você mente para o irmão, é mentira contra Deus;

quando você maltrata um irmão, você está maltratando a Deus;

quando você fala mal de um irmão, em última análise, você está

falando mal de Deus. Todo pecado é contra Deus, por isso Ele é o

ofendido maior e final, e só quem é o ofendido pode perdoar. Eu

não posso perdoar por outra pessoa; mas, como todo pecado no

final é uma ofensa contra Deus, quem pode nos perdoar é Deus.

Com Ele está o perdão; não é com os homens, não é com falsos

deuses, não sou eu que perdoo, mas o perdão está com Deus, e o

poder de conceder o perdão está também com Ele.

Perdoar, na Bíblia, não significa fazer vista grossa, do

tipo “não vi nada”. Também não significa não levar em conta,

minimizar, relativizar ou deixar por menos. O perdão na Bíblia

é sempre o resultado de uma transação, alguém tem que ser

punido. Deus é justo, e para que Deus perdoe o pecador tem que

ser castigado. O perdão não é liberado de graça, o pecador tem

que ser punido. Como é que isso era feito na época do salmista?

Quando um judeu pecava, ele levava um animal ao templo como

oferta pelo seu pecado. O sacerdote derramava o sangue daquele

animal e pronunciava o perdão para o israelita pecador, que saía

do templo se considerando perdoado. Mas aquele animal tinha

127


CAMINHOS DA FÉ

morrido no lugar dele, o sangue daquele animal era considerado

como pagamento pelo pecado que ele havia cometido. O templo

de Jerusalém, na verdade, era um grande açougue, centenas de

animais eram sacrificados diariamente ali, o sangue corria o

tempo todo do altar, porque sem derramamento de sangue não

há perdão de pecados. É claro que aquele sangue dos animais

na verdade não podia perdoar pecados, mas era um símbolo do

Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Aqueles sacrifícios apontavam para o filho de Deus, Jesus

Cristo, que veio ao mundo e que se ofereceu no altar da cruz,

no Monte Gólgota. O sangue dele derramado na cruz é o preço

que Deus pagou para poder perdoar-nos hoje. Então, quando o

salmista diz contigo está o perdão, ele não somente está dizendo:

“O Senhor tem o poder de perdoar”, mas está dizendo: “O Senhor

tem todos os recursos necessários para que esse perdão seja dado”,

porque ele sabia que sem sangue não havia perdão; “Contigo está

o perdão, o Senhor providencia o sacrifício, o Senhor tem todos

os recursos pelos quais o perdão pode ser dado”.

Ainda, há um terceiro argumento oferecido pelo salmista

para que Deus o perdoe: para que te temam (130.4). Aqui, ele

apelou para a glória de Deus. Ele diz, no final: “Senhor, se o

Senhor me perdoar, o Senhor vai ser glorificado, as pessoas vão

temer ao Senhor”. Temer a Deus, na Bíblia, não é ter medo dele.

Como é que eu vou ter medo de quem me perdoa? Temer aqui é

respeitar, é um amor respeitoso, adoração, veneração. “Contigo,

Senhor, está o perdão para que as pessoas te busquem, elas sabem

que o perdão está com o Senhor, por isso elas te adoram, elas têm

um respeito pelo Senhor, porque só o Senhor pode perdoar, e, se

o Senhor não perdoar, elas serão destruídas; então, no final, se o

Senhor me perdoar, isso vai aumentar a Tua glória, as pessoas vão

olhar para o Senhor e dizer: ‘Esse é o Deus de Israel, esse é o Deus

verdadeiro, o Deus que perdoa pecados’.” Ou seja, o salmista aqui

está apelando para aquilo que Deus preza mais, que é a própria

glória: “Senhor, me perdoa, porque a glória no final será Tua, as

pessoas vão temer e honrar o Senhor”.

128


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

Você sabe argumentar com Deus assim? Sabe por que boa

parte das nossas orações não são respondidas? Porque não fazemos

aquilo que Deus nos ensina. Simplesmente pedimos que Ele nos

dê, porque queremos e queremos, e nos esquecemos de dizer a

Deus por quê. Precisamos conversar, argumentar com Ele. Esse

tempo que gastamos em comunhão com Deus, argumentando

com Ele, é o que faz a oração. Conversar com Ele, argumentar

com Ele, se engajar com Ele, esse é o tipo de oração que Deus se

deleita em responder.

Espero que você já tenha notado que o perdão de Deus não

leva a uma vida dissoluta. Digo isso porque poderíamos pensar

assim: “Se Deus me livra e me perdoa, eu vou me sentir tranquilo

para pecar de novo, pois eu sei que Ele vai me perdoar”. Assim,

isso de que Deus perdoa acaba nos deixando mais relaxados

para cometer o pecado, porque temos certeza do perdão. Por

exemplo, se o menino sabe que ele pode fazer uma coisa errada

e que nenhum mal vai lhe acontecer, a mamãe e o papai não

vão repreendê-lo, então o menino se sente encorajado para ficar

fazendo aquela coisa errada, já que não tem consequência. Se eu

sei que Deus me perdoa, será que isso não me leva a viver uma vida

errada porque eu sei do perdão de Deus? Mas não, observe o que

o salmista diz: Contigo está o perdão, para que te temam. Quem é

verdadeiramente perdoado vai temer a Deus, vai respeitá-lo e não

vai querer pecar mais. O perdão de Deus tem esse efeito naquele

que se arrependeu e foi perdoado. Nós queremos nos ver livres do

pecado e das consequências dele, nós vamos temer a Deus, e não

abusar da bondade dele toda vez que Ele nos perdoa.

Agora vamos para a espera do salmista depois de ter orado

(130.5-6). Essa é uma parte também muito importante da oração.

A oração não termina quando acaba, porque, depois de você ter

orado, entra no estado de espera e expectativa. Muitos de nós

fazemos uma oração a Deus, acabamos de orar e simplesmente

esquecemos o assunto. Ouvi uma vez uma história que aconteceu

no Nordeste. Era uma localidade de muita seca, uma cidade do

interior, e o pastor pediu no domingo que na quarta-feira todos

129


CAMINHOS DA FÉ

fossem à igreja porque eles iriam orar por chuva. Na quartafeira,

a igreja toda foi, mas somente uma menininha levou um

guarda-chuva. Não é interessante? Quantos estavam realmente

na expectativa de que Deus havia de responder? Quantas vezes

pedimos a Deus coisas que realmente não esperamos que Ele vá

dar? Porém, o salmista, depois de ter argumentado com Deus,

coloca-se em um estado de espera: Aguardo o Senhor, a minha

alma o aguarda; eu espero na sua palavra. A minha alma anseia

pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã (130.5-

6). Observe como ele fica nesse estado de espera ansiosa para que

Deus atenda à sua oração, ele quer se sentir perdoado. Ele pediu

perdão a Deus, argumentou com Deus por que Deus deveria

perdoá-lo, e agora ele quer sentir a resposta do Senhor, quer

experimentar a certeza de que Deus o atendeu e que seus pecados

foram perdoados, ele quer ter essa confirmação no coração de que

foi atendido.

Atente para o fato de como é que ele espera. São quatro

observações:

Primeira: ele espera de todo o coração: Aguardo o Senhor,

a minha alma o aguarda. Esse a minha alma o aguarda é uma

expressão para dizer que é uma espera sincera, que parte do

coração, então ele está engajado realmente, ele deseja isso.

Segunda: ele espera confiando nas promessas de Deus: eu

espero na sua palavra. Que palavra é essa? Antes dele, na lei de

Moisés, Deus havia prometido perdoar quem se arrependesse.

No livro de Êxodo, Deus aparece a Moisés e diz que é um Deus

compassivo, clemente e longânimo e que perdoa a iniquidade

(Êx 34.6-7). O salmista conhecia a lei, e na lei há promessas de

que Deus haveria de perdoar o Seu povo, como parte da aliança

que Deus tinha feito com a nação de Israel. O salmista espera

confiando nessa palavra de Deus. O Senhor prometeu que ele

perdoaria aqueles que se arrependessem e O buscassem. Ele se

apega àquela palavra e a sua alma espera a resposta de Deus.

Terceira: ele espera com ansiedade: A minha alma anseia

pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã. A

130


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

figura que ele traz aqui é de um vigia que passa a noite acordado

vigiando uma instalação que lhe foi confiada; está tudo escuro, e

na escuridão podem surgir os perigos e as ameaças. E o que é que

o vigia mais anseia durante aquelas longas noites de espera? Que

o sol surja no horizonte. “A minha alma anseia pelo Senhor mais

do que um vigia espera o nascer do dia”, é a figura que ele usa para

mostrar a ansiedade com que está aguardando a resposta de Deus

e a profundidade com que ele deseja isso. Às vezes, nós pedimos

as coisas para Deus, mas não há anseio em nosso coração, não

há essa expectativa, não há esse desejo, essa espera angustiada, de

que Deus nos responda. Note aqui que ele anseia isso tudo, o que

mostra o quanto ele queria experimentar o perdão de Deus e o

quanto ele queria voltar a ter a certeza da salvação.

Quarta: ele espera no Senhor. Nós já vimos que o salmista

esperava de todo o coração. Ele não tinha mais nada a fazer. Já

havia argumentado com Deus, trouxe diante de Deus as razões

pelas quais o Senhor deveria perdoá-lo, e agora ele entrou em

estado de espera. Não tinha mais nada que ele pudesse fazer, ele

não podia mover um dedo para o perdão dos pecados, não podia

fazer uma única boa obra, não havia nenhum ritual na Igreja que

ele pudesse fazer para o perdão de seus pecados, pois só quem

perdoa pecados é Deus. Por isso, agora ele espera no Senhor. Só

Deus podia perdoá-lo.

A última parte do salmo diz que, enquanto o salmista

espera, ele se volta para os amigos e, com base na sua experiência,

os exorta a buscar o Senhor: Mais do que os guardas pelo romper

da manhã, espere Israel no Senhor, pois no Senhor há misericórdia;

nele, há copiosa redenção. É ele quem redime a Israel de todas as suas

iniquidades (130.7-8). Primeiro ele orou, depois ele argumentou

com Deus, esperou e, por último, pregou, virando-se para os

amigos e dizendo: “Israel — ou seja, meus irmãos —, esperem

em Deus, assim como eu estou esperando”. Para isso, ele utiliza

três argumentos:

Primeiro: em Deus há misericórdia. Misericórdia é o que

nós precisamos. Nós não precisamos de justiça, nunca peça a

131


CAMINHOS DA FÉ

Deus que lhe faça justiça; se Deus for fazer justiça, Ele vai mandar

você para o inferno. Diga: “Senhor, misericórdia é só o que eu

quero, não me trates como eu mereço, na verdade me trata ao

contrário do que eu mereço”. Misericórdia, é isso que o salmista

pede a Deus. Este é o seu primeiro argumento: espere em Deus,

porque nele há misericórdia.

Segundo: Deus perdoa. No verso 7, ele diz: nele, há copiosa

redenção; abundante redenção, Deus redime, perdoa, recebe

pecadores e faz isso com abundância.

Terceiro: Ele é o Deus de Israel. É ele quem redime a Israel

de todas as suas iniquidades; Ele é o Deus que tem uma aliança

com Israel. Os outros deuses não podem perdoar. Os ídolos, que

são fruto da imaginação humana, não podem perdoar, Maria não

pode perdoar, os santos não podem perdoar, o Papa não pode

perdoar, os bispos não podem perdoar, pastores não podem

perdoar, igreja não pode perdoar, mas no Senhor há abundante

redenção, Ele é quem redime Israel de todas as suas iniquidades.

Concluindo, o que podemos aprender com este salmo?

Eu quero resumir rapidamente aqui: primeiro, não há nada mais

importante na vida do que receber o perdão de pecados. Pode

nos faltar tudo nesta vida, o pão de cada dia, a saúde, amigos…

mas o perdão de pecados é a coisa mais importante para a nossa

existência aqui.

Segundo: nós podemos ter a certeza do perdão de pecados,

a certeza da nossa salvação. Nós perdemos a alegria e a certeza

da salvação quando pecamos, mas pelo arrependimento e pela

oração, com um pedido de perdão, Deus nos renova, nos perdoa

e nos restaura.

Terceiro: aprendemos com este salmo que Deus está

pronto a ouvir as nossas orações pelo perdão, se nós estivermos

de fato arrependidos, se nós buscarmos esse perdão com base no

sacrifício completo de Jesus Cristo.

Como está você hoje com relação a isso? Talvez você

esteja nas profundezas agora. É exatamente daí que você tem

que clamar a Deus; talvez você esteja com a consciência pesada,

132


SALMO 130 - DAS PROFUNDEZAS

o coração perturbado, perdeu a alegria da salvação, não tem

mais certeza do relacionamento com Deus, Ele está como que

distante; você lê a Bíblia, porém ela não fala mais, você perdeu a

vontade de orar, aquele tempo gostoso de comunhão com Deus

já se foi, você se sente lá nas profundezas. Eu quero que agora

você lembre que é exatamente onde está, nas profundezas, que

você tem que clamar a Deus e se chegar para Ele com súplicas,

argumentando com Ele, dizendo: “Deus, não me trates conforme

os meus pecados merecem, mas contigo está o perdão, Deus, por

isso me perdoa, levanta-me de onde eu estou, traz-me de volta a

uma vida espiritual firme, eu quero ser cheio do Espírito Santo,

quero andar contigo, torna a dar-me a alegria da Tua salvação”.

Se você está nessa situação hoje, eu quero que você ouça a palavra

de Deus e que, das profundezas, clame a Deus e diga: “Senhor,

aqui estou, renova-me, enche o meu coração de alegria, ensiname

a viver para a Tua glória, liberta-me dessa situação, para que

Tu sejas temido, pois em Ti há copiosa redenção”.

ORAÇÃO:

Ó Deus misericordioso e bom! Das profundezas

clamamos a Ti. Ouve a oração de todo aquele que, sinceramente

arrependido, te busca com o coração contrito, implorando o Teu

perdão. Damos-te graças pelo sacrifício perfeito de Jesus Cristo,

Teu filho, por meio do qual podemos obter pleno perdão para

nossas iniquidades. A Ti seja sempre a glória. Em nome de Jesus,

amém.

133



SALMO 131

COMO VENCER O ORGULHO

DO CORAÇÃO

Senhor, não é soberbo o meu coração, nem

altivo o meu olhar; não ando à procura de

grandes coisas, nem de coisas maravilhosas

demais para mim. Pelo contrário, fiz calar

e sossegar a minha alma; como a criança

desmamada se aquieta nos braços de sua

mãe, como essa criança é a minha alma para

comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde

agora e para sempre.

Este salmo é atribuído ao rei Davi. Davi, o mais conhecido

dos reis de Israel, era pastor de ovelhas, Deus o tirou detrás do

rebanho e o colocou como rei no lugar de Saul. Ele foi o segundo

rei de Israel e, de todos, o mais conhecido. Tido como o amigo de

Deus, escreveu vários dos salmos. Era homem de guerra, temente

a Deus. Este salmo é um salmo em que ele exorta o povo de Deus

a esperar somente em Deus depois que ele aquieta e acalma o seu

próprio coração.

Os salmos foram escritos durante alguma situação, algum

ambiente vivencial, que deu origem à sua forma e à maneira

como ele foi escrito ou ao tema dele. Os estudiosos se perguntam

qual foi a situação na vida do rei Davi que o levou a escrever este


CAMINHOS DA FÉ

salmo. Uma das possibilidades é quando Davi ainda não era rei

de Israel e foi acusado pelo rei Saul e pelos seus súditos de ter

ambições de se tornar rei, matar Saul e ocupar o trono de Israel.

Nós lemos a respeito desses episódios nos dois livros de Samuel e

também no livro das Crônicas. De fato, houve uma época em que

Deus deixou muito claro que Davi seria o verdadeiro rei de Israel.

Porém, quem reinava era Saul, e ele começou a olhar para Davi

como sendo o seu rival, aquela pessoa que tomaria o trono em seu

lugar. Os súditos do rei Saul o ficavam instigando e dizendo que

Davi estava tramando contra ele, porque Davi tinha aspirações e

queria ser o rei de Israel. Isso fez com que o ódio de Saul por Davi

se multiplicasse e que ele procurasse matar Davi diversas vezes.

Então talvez tenha sido nessa ocasião que Davi escreveu

este salmo, em que ele diz que o seu coração não buscava essas

coisas, ele não queria coisas extraordinárias, o olhar dele não

era soberbo nem altivo; ao contrário, a sua alma estava muito

tranquila, confiante e satisfeita nos braços de Deus como uma

criança está nos braços de sua mãe. Ele não estava procurando

essas coisas, a satisfação dele era em Deus. Deus o bastava.

Ele termina o salmo dizendo ao povo, seus compatriotas, que

colocassem a sua esperança e a sua confiança somente em Deus,

agora e para todo o sempre, porque Ele é quem pode de fato

satisfazer os anseios mais profundos do coração.

Assim, este salmo é uma expressão dos sentimentos de

Davi diante de Deus. Note que, embora seja dirigido a Deus, este

salmo não é uma oração. Davi não pede nada aqui, ele só declara

seus sentimentos diante do Senhor. Quando ouviu aquelas

acusações, ele chegou à presença de Deus e disse: “Senhor, eu vou

responder a essas acusações diante de Ti, o Senhor me conhece,

sabe que o meu coração não está procurando essas coisas, sabe

que eu não planejo coisas grandes demais para mim, que a

minha alma está tranquila, segura e que o Senhor é minha única

satisfação e minha única esperança”. Este salmo é uma espécie

de prestação de contas que Davi faz da sua alma diante de Deus,

porque Deus é aquele que conhece o que se passa dentro de nós.

136


SALMO 131 - COMO VENCER O ORGULHO DO CORAÇÃO

Ocasionalmente, nós temos que dar contas dos nossos atos às

pessoas, aos homens, àqueles que nos rodeiam, mas, acima de

tudo, nós sempre temos que dar contas do nosso coração diante

de Deus. É isso que Davi está fazendo aqui, uma prestação de

contas, porque ninguém conhece nossa alma melhor do que Deus,

Ele é quem sonda o mais íntimo do nosso coração, e é quando

nós nos colocamos na presença de Deus que temos verdadeiro

conhecimento de nós mesmos.

João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, que é o

livro clássico da Reforma Protestante, ao falar do conhecimento

de Deus, diz que, quanto mais você conhece a Deus, mais você

se conhece; ao contrário do que diziam os filósofos: “Conhece-te

a ti mesmo”, na ideia de que, quanto mais você se examina e se

analisa, mais você tem um conhecimento correto de si mesmo.

Mas Calvino e outros reformadores disseram que, quanto mais

você conhece a Deus, mais você vai conhecer a si mesmo, porque

é diante de Deus que o nosso coração se manifesta, diante de Deus

a nossa mente fica clara. Quantas vezes eu tenho me chegado

diante de Deus confuso e perplexo e começo a orar, começo a

buscá-lo, a ler a Escritura, a conversar com Deus, e de repente

fica claro o que está em meu coração. As minhas verdadeiras

intenções, os motivos do meu coração se aclaram na presença de

Deus. É diante dele que nós nos conhecemos e conhecemos o

nosso coração.

O nosso coração, conforme diz o profeta Jeremias, é

desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? (Jr 17.9). Nós não

conhecemos o nosso coração profundamente e com frequência

somos enganados por ele. Por isso, Davi comparece diante de

Deus e examina o seu coração, concluindo: “Senhor, as minhas

intenções estão corretas, eu não quero ser rei de Isael, eu não

estou buscando a coroa, eu não quero ter poder e glória, o Senhor

conhece o meu coração, o Senhor sabe que eu estou me sentindo

na verdade como uma criança desmamada nos braços de sua

mãe”. Essa é uma das grandes vantagens da oração e da vida em

comunhão com Deus, que nós aprendemos a nos conhecer a nós

mesmos.

137


CAMINHOS DA FÉ

Durante a Reforma Protestante, os salmos foram

metrificados, inclusive por João Calvino, para serem cantados

pelos crentes. Havia muita gente que achava que não deveria

cantar o salmo 131, porque era muito ousado. Observe o que

o salmo está dizendo: Senhor, não é soberbo o meu coração, nem

altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de

coisas maravilhosas demais para mim. Quem é que pode cantar

isso? Quem é que pode dizer de todo o coração que isso é verdade

a respeito do seu coração? Então, houve muitos que, depois da

Reforma Protestante, achavam que cantar isto seria hipocrisia ou

falsa humildade. Uma resposta que se deu para isso é que os salmos

foram escritos para nos ensinar. Nós podemos cantar um salmo

como este, podemos ler em conjunto um salmo como este, como

expressão do que está em nossa alma, porque eles foram feitos

para nos ensinar aquilo que nós devemos ser e de que maneira

nós podemos obter o ideal que é colocado aqui. Podemos ler este

salmo juntos ainda que seja para dizer: “Ó Deus, faz com que o

meu coração seja como Davi, faz com que eu possa dizer isso de

todo o coração, faz com que o meu coração seja humilde como o

de Davi, para que eu possa declarar essas verdades diante de Ti”.

É isso que é este salmo, uma prestação de contas, uma

avaliação sincera das intenções do coração diante de Deus e

que deveria ser cantado pelos peregrinos à medida que eles

caminhavam para Jerusalém, dizendo que a confiança deles estava

somente em Deus, assim como uma criança depende, confia e

descansa nos braços de sua mãe.

Agora veremos os três versículos detalhadamente. No

primeiro, Davi nega que está sendo movido pela soberba; no

segundo, ele diz qual é o verdadeiro estado de sua alma, e no

terceiro ele exorta o seu povo a confiar somente em Deus.

Em primeiro lugar, Davi nega que está sendo movido

pela soberba: Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o

meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas

maravilhosas demais para mim (131.1). Se a situação em que Davi

escreveu este salmo é aquela que eu descrevi no início, antes de

138


SALMO 131 - COMO VENCER O ORGULHO DO CORAÇÃO

ele se tornar rei, sendo acusado de que tinha ambições políticas,

então o salmo faz todo sentido. Ele está dizendo aqui: Senhor, não

é soberbo o meu coração, ou seja: “O meu coração não é orgulhoso,

eu não estou querendo ser rei, assumir uma posição de domínio

e de glória sobre os demais membros do meu povo, não há essa

soberba em meu coração”. Não é que Davi esteja dizendo que

ele nunca foi soberbo; mas, com respeito àquele assunto, o seu

coração estava em paz.

Em seguida, ele diz que o seu olhar não é altivo, ou seja,

ele não olha para as pessoas de cima para baixo, que é um sinal

de desprezo. Ele não menospreza as outras pessoas como se ele

fosse alguém e os outros não fossem nada. Ele não se considera

maior ou acima das pessoas que estão ao seu redor, o seu olhar

não é altivo. Há pessoas que sabem com o olhar dizer “você não

vale nada”, e só com o olhar de desprezo delas nos sentimos

minúsculos. Mas Davi diz: “Senhor, o meu olhar não é altivo, eu

não estou olhando para as pessoas assim, e exatamente porque o

meu coração não é soberbo eu não estou querendo essas coisas,

não estou me julgando acima dos outros”.

Ainda, ele diz: Não ando à procura de grandes coisas, ou seja,

“Senhor, Tu me conheces, eu não estou secretamente, no íntimo

do meu coração, querendo coisas maravilhosas demais para mim”.

É o que ele vai dizer em seguida: “Eu não estou procurando aquilo

que está acima da minha capacidade e para o qual eu não fui

preparado nem destinado por Ti, eu me contento com aquilo que

o Senhor me deu, eu quero viver dentro daquilo que o Senhor

me proporciona, eu não passo a minha vida procurando ser mais,

ter mais e sempre alcançar uma posição maior e mais elevada;

não, Senhor, eu não ando à procura de grandes coisas, eu estou

satisfeito com a porção que o Senhor me deu nesta vida”.

E a quarta negativa dele está no final do verso primeiro: “Eu

não procuro coisas maravilhosas demais para mim”. Há pessoas

que acham que não têm nada maravilhoso demais para elas, não

é? Há pessoas que acham que são as melhores, que podem tudo e

que são capazes de tudo, têm uma opinião sobre tudo, sabem sobre

139


CAMINHOS DA FÉ

tudo, já leram sobre tudo, conhecem tudo, aquelas pessoas que

sempre têm que estar por cima. Davi, porém, diz: “Senhor, eu não

sou assim, eu não estou procurando coisas maravilhosas demais

para mim, eu estou satisfeito com as coisas normais do dia a dia,

eu não estou querendo que o Senhor faça nada extraordinário em

minha vida, eu me contento em viver a vida comum como pastor

de ovelhas — é o que ele era provavelmente quando escreveu

este salmo —; eu sou pastor de ovelhas, é assim que eu ganho

minha vida, é assim que eu sustento a minha família. Todos

estão dizendo que eu estou querendo ser rei, mas não é verdade.

Eu, rei? Senhor, isso é maravilhoso demais! Quem sou eu para

ocupar o trono de Israel?”. Porém, há pessoas que, ao contrário,

dizem, por exemplo, quando ouvem a notícia de que serão “rei de

Israel”: “Já era tempo, vocês já deveriam ter reconhecido que eu

sou o melhor”. Mas aquele que é verdadeiramente humilde não

procura essas coisas, e, quando ele é agraciado ou indicado para

uma posição de honra, ele até fica surpreso: “Como é que eu, que

não sou digno disso, fui alçado a essa posição?”.

Note ainda que é diante de Deus que Davi expressa a

humildade do seu coração. Perceba o quão sério é isso. Ele não

está falando diante dos homens; uma coisa é você chegar para

alguém dizendo que não é orgulhoso, não tem pretensões, e outra

é você se ajoelhar e, sinceramente, diante de Deus, dizer: “Senhor,

sonda o meu coração, ó Senhor, conhece as minhas intenções,

meu olhar não é altivo, meu olhar não é soberbo, eu não procuro

essas coisas grandes nem coisas maravilhosas demais para mim”.

E aqui passamos para o versículo 2, no qual Davi agora faz

o contrário. Primeiro, ele disse o que não estava em seu coração

(131.1), e agora ele descreve como é que ele sente o seu coração:

Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma (131.2). Não é

que ele não era tentado por essas coisas. O profeta Samuel o

havia ungido, dizendo que ele seria rei de Israel. É claro que Davi

pensou a respeito daquelas coisas, mas ele fez calar a sua alma,

sossegar o seu coração, como se dissesse: “Senhor, se o Senhor vai

me fazer rei de Israel, que seja no tempo do Senhor e no modo

140


SALMO 131 - COMO VENCER O ORGULHO DO CORAÇÃO

do Senhor; eu não vou levantar a mão contra o ungido do Senhor

que é Saul, mas vou esperar o tempo do Senhor”. Não faltaram

pessoas que dissessem: “Você tem a oportunidade agora, mata

Saul”.

Você se lembra do episódio em que Davi estava escondido

com seus homens bem lá no fundo da caverna de Adulão? Saul

entrou lá, despreocupado, e os homens de Davi lhe disseram: “É

agora, mata”, e Davi disse: “Meu coração não está à procura de

grandes coisas, irmãos, se Deus for me dar o reino, será da forma

dele, da maneira dele, no tempo dele. O meu olhar não é altivo,

eu não olho de cima para baixo para Saul, eu não quero acabar

com a vida dele, eu não sou digno de estar no trono de Israel, eu

já aquietei a minha alma”.

Que exercício extraordinário de humildade! Isso se

chama domínio próprio, que é fruto do Espírito (Gl 5.22-23). O

homem que domina o seu coração domina tudo. Davi aquietou

o seu coração diante de Deus, e usa uma figura, ainda no verso 2,

para descrever bem aquilo que ele estava sentindo: como a criança

desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a

minha alma para comigo (131.2). Essa é uma figura muito bonita,

da criança que estava inquieta, que mamou e agora está satisfeita

nos braços de sua mãe. Davi diz: “Da mesma forma que aquela

criança está ali nos braços de sua mãe, a minha alma está nos Teus

braços, ó Deus”. Essa figura expressa três pensamentos:

Primeiro: total dependência. Uma criança de peito

depende completamente de sua mãe, pois ela não se alimenta

sozinha. A primeira ideia que é transmitida aqui com essa figura,

assim, é de total dependência: como um bebê depende de sua mãe

para viver, Davi diz: “A minha alma também depende do Senhor,

e é isso que alimenta a minha alma, e não desejos e grandeza”.

Segundo: plena satisfação. Um bebê, depois que foi

alimentado, fica nos braços da mãe completamente satisfeito;

antes, ele estava chorando, mas agora está rindo, ou então

dormindo, tranquilo, porque está completamente satisfeito,

não está pensando mais em nada a não ser naquela sensação de

satisfação que está sentindo.

141


CAMINHOS DA FÉ

Terceiro: segurança. O bebê, nos braços de sua mãe,

se sente seguro, não se preocupa com nenhuma ameaça, não

está imaginando que coisa alguma possa atingi-lo, ele se sente

protegido. Era assim que Davi se sentia com relação a Deus,

protegido, satisfeito, seguro e totalmente dependente. Por isso,

a alma dele estava tranquila, por isso ele não estava procurando

coisas grandes demais para ele. Quando o crente está satisfeito

em Deus, ele não vive à procura dessas coisas, a alegria dele é

em Deus e nas coisas de Deus, ele busca em primeiro lugar o

Reino de Deus e a Sua justiça e sabe que as outras coisas serão

acrescentadas. Mas, quando invertemos isso, a alma se inquieta,

se agita, a pessoa vive em um constante estado de angústia e

de preocupação. Porém, quando ela encontra em Deus plena

satisfação, ela se aquieta como esse bebê, o coração não está

procurando coisas maravilhosas demais, o olhar não é altivo nem

o coração é orgulhoso, porque está satisfeito como um bebê nos

braços de sua mãe.

A satisfação plena em Deus é o remédio mais eficaz contra

a altivez, a soberba e o desprezo pelos outros. E é por isso que,

tendo aprendido essa lição, Davi vai um passo mais além. Agora,

conforme o verso 3, ele quer que aquele que vai ser o seu povo

experimente o mesmo: Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e

para sempre (131.3). Assim como a criança espera em sua mãe

por sustento, segurança e satisfação, Davi espera em Deus, que

seja Ele a razão da existência de Israel, que seja Ele a fonte de

satisfação plena, agora e para todo o sempre. Esperar transmite a

ideia de esperança: “Ponham a sua esperança no Senhor”. E essa

esperança, quando Davi diz isso, está baseada em duas coisas:

Primeira: em quem Deus é. Ele é o Deus da aliança, o

Deus de Israel e o Deus todo-poderoso, o Deus onisciente,

misericordioso e bom que nos conhece, nos sustenta e nos ama.

Eu só posso esperar em Deus porque eu sei quem Ele é, a minha

esperança está nele, porque eu sei quem Ele é, senão eu não teria

esperança, eu teria suspeita, dúvidas e questionamentos. Mas eu

sei quem é Deus, o meu criador, o meu redentor, que deu Seu filho

142


SALMO 131 - COMO VENCER O ORGULHO DO CORAÇÃO

para morrer pelos meus pecados, que derramou na cruz sangue

precioso para que eu pudesse me reconciliar com Ele. Esse é o

Deus do qual a Bíblia diz: “Põe a tua esperança nele, aguarda nele,

descansa nele. Espera, ó Israel, no Senhor, pelo que ele é e pelo

que ele prometeu”. Deus nos fez promessas maravilhosas, Ele nos

prometeu a vida eterna em Seu filho Jesus Cristo, prometeu-nos

a ressurreição, a imortalidade, prometeu que estaria conosco em

nossas aflições aqui neste mundo, que, mesmo que passemos por

dificuldades e contrariedades, ele está conosco a cada momento,

Ele prometeu que não nos deixaria ser provados e tentados mais

do que nós podemos suportar. Por isso, espere em Deus, aquiete

a sua alma, não busque coisas grandes demais nem seja altivo seu

olhar nem soberbo o seu coração, mas espere em Deus e descanse

nele para encontro da paz aqui neste mundo.

Os peregrinos deviam cantar isso quando estavam a

caminho de Jerusalém, pois é um Salmo de Romagem, e nós

também devemos cantá-lo à medida que caminhamos aqui neste

mundo e peregrinamos em direção à Jerusalém celestial.

Eu estava lendo a história de Viktor Frankl, que era

um neurologista e psiquiatra austríaco que viveu nos campos

de concentração nazista. Ele atravessou todo aquele período e

sobreviveu, afirmando que o fez porque tinha esperança de que

alguém o viria libertar. Ele não era cristão, mas tinha esperança

de que alguma coisa haveria de acontecer que quebraria o poder

dos nazistas. Em sua biografia, ele descreve como passou fome,

sede, frio, doenças e muito medo, mas sobreviveu porque tinha

esperança. Porém, ele narrou vários casos que encontrou de

prisioneiros que perderam a esperança, e, quando um prisioneiro

perdia a esperança, ele ficava somente deitado na cama, não

obedecia às ordens dos nazistas, não comia, não fazia as suas

necessidades no lugar certo, simplesmente ficava ali esperando

para morrer.

Viver sem esperança traz esse tipo de paralisia, inércia e

morte. A nossa esperança como cristãos não está nas coisas grandes

e maravilhosas, naquilo que nós podemos obter e conquistar com

143


CAMINHOS DA FÉ

o nosso mérito, mas a nossa esperança, que nos ajuda a viver neste

mundo, está no Senhor Deus de Israel, Criador dos céus e da

terra, nosso redentor. Portanto, eu quero convidar você a colocar

a sua esperança somente nele. Talvez você esteja aflito, agitado,

pensando em uma série de coisas, seu coração esteja turbado, mas

eu quero que você, no fundo do seu coração, ore este salmo e diga

ao Senhor: “Aquieta meu coração, satisfaz a minha alma como

uma criança, faz-me sentir a segurança que há nos Teus braços,

faz com que eu viva em paz aqui neste mundo, que eu confie em

Ti e nas Tuas promessas para que eu possa dar testemunho de

quem Tu és e que vale a pena servir ao Deus vivo, agora e para

todo o sempre. Amém”.

ORAÇÃO:

Ó Deus, que essa declaração de Davi seja a nossa. Que,

com confiança, nós possamos dizer que aquietamos nossa alma

e nosso coração e que estamos tranquilos e confiantes como um

bebê nos braços de sua mãe e que a nossa esperança está somente

no Senhor, agora e para todo o sempre.

Senhor, Tu és a nossa esperança. Em Ti somente

encontramos plena satisfação e descanso para as nossas almas

como Teu filho um dia nos disse: “Vinde a mim todos vós que

estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. Oro, Senhor,

pelo Teu povo, por aqueles que estão inquietos, desesperançados,

agitados na busca de coisas maravilhosas e grandes demais. Oro

por aqueles cujo olhar é soberbo e cujo coração é altivo. Eu peço,

Senhor, que a Tua palavra cure, instrua, abençoe, repreenda,

console e conforte, que Teu povo seja transformado depois de

ouvir a Tua voz, porque ela aquieta o coração e dá luz e instrução.

Fica com Teu povo sempre, ó Senhor. Amém.

144


SALMO 132

ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

Lembra-te, Senhor, a favor de Davi, de

todas as suas provações; de como jurou ao

Senhor e fez votos ao Poderoso de Jacó:

Não entrarei na tenda em que moro, nem

subirei ao leito em que repouso, não darei

sono aos meus olhos, nem repouso às minhas

pálpebras, até que eu encontre lugar para o

Senhor, morada para o Poderoso de Jacó.

Ouvimos dizer que a arca se achava em

Efrata e a encontramos no campo de Jaar.

Entremos na sua morada, adoremos ante

o estrado de seus pés. Levanta-te, Senhor,

entra no lugar do teu repouso, tu e a arca

de tua fortaleza. Vistam-se de justiça os

teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Por

amor de Davi, teu servo, não desprezes o

rosto do teu ungido. O Senhor jurou a Davi

com firme juramento e dele não se apartará:

Um rebento da tua carne farei subir para o

teu trono. Se os teus filhos guardarem a

minha aliança e o testemunho que eu lhes

ensinar, também os seus filhos se assentarão

para sempre no teu trono. Pois o Senhor

escolheu a Sião, preferiu-a por sua morada:


CAMINHOS DA FÉ

Este é para sempre o lugar do meu repouso;

aqui habitarei, pois o preferi. Abençoarei

com abundância o seu mantimento e de pão

fartarei os seus pobres. Vestirei de salvação

os seus sacerdotes, e de júbilo exultarão os

seus fiéis. Ali, farei brotar a força de Davi;

preparei uma lâmpada para o meu ungido.

Cobrirei de vexame os seus inimigos; mas

sobre ele florescerá a sua coroa.

Para algumas pessoas, o Antigo Testamento é complicado,

chato e difícil. Alguns crentes gostariam que só existisse o Novo

Testamento e, de preferência, só o Evangelho de João; do Antigo,

talvez se salvassem os salmos, mas não um salmo desse tamanho

e tão complexo.

A verdade é que o cristianismo, a nossa religião que

Deus nos deu, a única verdadeira, não surgiu “do nada”. Ela é

a continuação e o desenvolvimento da revelação que Deus fez

desde o início do mundo a pessoas especiais e em seguida a um

povo que Ele escolheu, que foi a nação de Israel. Nós não temos

como entender o cristianismo se não entendermos de onde nós

viemos e o que somos. Em um certo sentido, ser cristão é ser

um historiador, é gostar de história, é ser um arqueólogo, um

pesquisador, é procurar entender as nossas raízes. Há muitas

religiões que independem de história, especialmente as religiões

místicas, as religiões orientais, que não são baseadas em fatos

históricos, eventos salvadores e intervenções de deuses na natureza

e na história. Para eles, conceitos como história da salvação são

indiferentes. Muitas dessas religiões se concentram no aqui e no

agora e no relacionamento que a pessoa tem com a divindade,

mas cristianismo é mais do que isso. O cristianismo é uma

doutrina que tem enraizamento histórico, é um desenvolvimento

de promessas e fatos muito mais antigos do que nós, e, sem

compreendê-los, nós não saberemos o que é de fato a nossa fé.

146


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

Tudo isso fica solto no vácuo se você não for às origens, aos

tempos antigos, ao Antigo Testamento, aprender a respeito de

como tudo começou.

Este salmo é um exemplo disso. Ele condensa muitas das

principais doutrinas que são fundamentais para o cristianismo e

vem na forma de uma oração que foi feita por Salomão por ocasião

da inauguração do templo em Jerusalém. Essa oração expressa

aqueles pontos fundamentais a respeito da Igreja de Deus daquele

tempo e que se cumpriram através da história, até que chegassem

até nós. Então, eu vou iniciar este capítulo contando um pouco

da história, para que possamos entender este salmo.

Iniciarei com a história da arca da aliança: Deus apareceu

a um homem chamado Abraão e lhe fez uma promessa, de que,

dentre os filhos dele, viria um povo numeroso que Deus escolheria

para ser o Seu povo, povo único e exclusivo. Prometeu ainda que

de entre os seus filhos viria um que seria uma bênção para todas

as nações do mundo. Deus fez exatamente isso, chamou esse

homem, fez-lhe promessas, tirou-o de onde ele morava e ofereceu

a ele uma terra. Esse homem morou naquela terra muitos anos,

sem nunca ter tido título de propriedade. Os seus filhos foram

para o Egito para escapar da fome e lá se multiplicaram. Deus

mandou um homem chamado Moisés, que tirou os filhos de

Abraão do Egito, trouxe-os de volta para a terra prometida e fez

uma aliança com eles, dizendo: “Eu tirei o pai de vocês lá de onde

ele morava e fiz grandes promessas, e entre elas estava essa de que

vocês, os filhos de Abraão, seriam o meu povo. Nós vamos agora

celebrar esse casamento, essa aliança, eu sou o Deus de vocês, e

vocês são o meu povo”.

E Deus, então, estabeleceu algumas condições desse pacto:

“Primeiro: eu sou o único Deus que vocês vão adorar, porque

também não existe outro, eu sou o único Deus verdadeiro. Vocês

serão o meu povo exclusivo, eu não vou adotar outras pessoas,

outros povos, mas vocês serão o meu povo. A base do nosso

relacionamento vai ser a lei, que inclui os dez mandamentos.

Eles expressam o que eu gosto, e é isso que eu quero que vocês

147


CAMINHOS DA FÉ

façam. Se vocês me desobedecerem, oferecerão sacrifícios como

pagamento da culpa, eu estou separando uma tribo inteira dentre

vocês de sacerdotes, que vão sacrificar animais e oferecer ofertas

pelos pecados que vocês cometerem; então, toda vez que vocês

quebrarem essa lei, vocês vão ao sacerdotes, levam um animal,

que vai ser morto no lugar de vocês. Vocês é que deveriam morrer,

pois quebraram a minha lei, mas esse animal vai ser morto no

lugar de vocês. E, como vocês são um povo nômade, um povo

que está sempre andando, se deslocando, eu vou fazer uma arca,

uma caixa de madeira coberta de ouro, onde vou colocar os dez

mandamentos dentro, que é esse acordo que nós estamos fazendo.

E essa arca vai estar com vocês o tempo todo, aonde vocês forem

vocês vão levar essa arca, que é a arca da aliança. Dentro dela

estarão os dez mandamentos; no topo dela, vocês vão fazer dois

anjos de ouro batido, um virado para o outro, cujas asas se toquem

no meio. É ali que o sumo sacerdote, o principal dos sacerdotes,

uma vez por ano vai derramar sangue de um animal para perdão

de todos os pecados. Essa arca só poderá ser levada pelos levitas

e sacerdotes, ninguém mais poderá mexer nela. Vocês farão uma

tenda portátil e, quando vocês andarem, vão desarmar a tenda,

colocar nas costas dos levitas e vão andando. Quando eu disser

‘é aqui’, vocês param, armam a tenda, põem a arca lá dentro,

chamam o sacerdote e se inicia tudo de novo”.

Em resumo, Deus fez um pacto com a nação de Israel, e a

arca era o símbolo da presença dele.

Finalmente, o povo de Israel entrou na terra prometida,

como Deus havia dito, e tomou posse dela. Mas começou a

adorar outros deuses, esquecendo-se de Deus, e a arca se perdeu,

ninguém sabia onde ela estava. Na verdade, ninguém estava mais

preocupado com Deus, eles estavam adorando os deuses dos

assírios, dos egípcios, dos filisteus e dos fenícios. Esqueceram-se

de Deus, e a arca de Deus, o símbolo da presença dele, ninguém

sabia onde estava. Ela andava de um lado para o outro. Teve um

tempo em que ela ficou com os filisteus, que a conquistaram e

a levaram para dentro do templo do deus Dagon, o deus peixe,

148


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

dos filisteus. Há até um episódio interessante: quando trouxeram

a arca do Senhor e a colocaram no templo de Dagon, a imagem

de Dagon caiu em frente à arca de Deus. O povo ficou alarmado,

pensou: “Mas que coisa estranha, o deus Dagon se curvando diante

dessa arca”, então moveram Dagon de lugar, e no dia seguinte ele

caiu, quebrou os pés e as pernas. Os filisteus disseram: “Esse deus

dos judeus é maior do que o deus Dagon, nós temos que tirar ele

daqui”. Deus começou a castigar os filisteus com peste bubônica,

doenças em meio ao povo, e os filisteus acharam melhor devolver

a arca, porque o deus dela era poderoso demais, e deram um jeito

de mandá-la de volta aos israelitas.

Ela acabou parando na fazenda de alguém, em um campo

que ficava em Efrata, e ficou lá durante anos, esquecida, até que

Davi se tornou rei de Israel. Davi amava a Deus e queria que o

povo se voltasse a Ele. Davi perguntou onde estava a arca, símbolo

da presença de Deus, ao que lhe foi respondido. Então, ele fez

todo um cortejo, juntou gente, fez uma grande festa. Pegaram a

arca e a levaram para Jerusalém, para a colocarem no tabernáculo

do Monte Sião. Mas, no meio do caminho, começaram as

complicações. A arca foi caindo do carro, e um homem bem

intencionado chamado Uzá colocou a mão nela para segurá-la,

e foi fulminado, morrendo na hora. Davi disse: “Esse Deus é

terrível demais, é tremendo demais, como é que vou levar um

Deus desse lá para o meu palácio?”. Então deixou a arca em um

pedaço de terra que havia comprado de um judeu.

Depois que Davi aprendeu que quem deveria conduzir a

arca eram os levitas, e ninguém mais poderia tocar nela, organizou

uma procissão em que a arca ia na frente levada pelos levitas,

tudo conforme Deus havia mandado, oferecendo sacrifícios,

e levaram-na para o tabernáculo que Davi havia montado no

Monte Sião. Assim, a arca entrou lá e por lá ficou. Mas Davi não

estava satisfeito. Ele disse: “Mas não está certo isso, porque a arca

do Deus que eu amo está numa tenda e eu moro num palácio

de marfim, de ouro, de madeira preciosa, cheio de servos, e a

arca da aliança está lá num barraco. Isso não está certo, eu quero

149


CAMINHOS DA FÉ

construir um templo definitivo onde a arca vai ficar, o local do

seu repouso”. E Davi começou a se preparar para fazer isso. Deus,

então, mandou um profeta falar com Davi, dizendo: “Davi,

tenho duas notícias para você, uma ruim e uma boa, eu vou

começar com a ruim: você não vai fazer um templo para Deus,

porque você é homem de guerra, você matou muita gente, você

fez muitas guerras e não vai construir um templo para o Senhor.

A boa notícia é que o Senhor viu o teu desejo e a tua devoção, e

te fez um juramento: um filho teu vai construir esse templo. Mais

ainda, Davi, de ti virá aquele que vai se sentar no trono de Israel

e ele vai ser rei para todo o sempre. Tem uma condição: se vocês

cumprirem a lei do Senhor, Davi, não vai faltar um filho teu que

se sente no trono de Israel. Deus será pai para ele e ele será um

filho para Deus”.

Deus fez esse juramento a Davi, que concordou. Essa

segunda parte foi dita a Davi em uma visão. Ele, então, louva a

Deus e encarrega seu filho Salomão de construir o templo. Ele já

deixara preparado material, ouro, pedras preciosas, e Salomão,

então, quando Davi morre, assume o reino, construindo um

templo magnífico, coberto de ouro, de pedras preciosas, de

especiarias, exatamente como Moisés havia determinado que se

fizesse. E agora chegou a hora da inauguração. O salmo 132 fala

dessa inauguração, relata sobre o dia em que Salomão trouxe a

arca da aliança para dentro do templo, a oração que ele fez e o

que pediu.

O meu objetivo é expor essa oração de Salomão como

uma oração pela prosperidade do povo de Deus. É uma oração

em que se pede que Deus seja exaltado, oração que deveria ser

a expressão do nosso coração, do desejo da nossa alma. Que o

profundo do nosso ser seja consumido por esse desejo ardente de

ver a glória de Deus e a prosperidade do Seu povo.

Vamos iniciar com a oração em si. Neste capítulo, eu

farei de forma diferente dos outros: neles, eu começo no verso

primeiro e vou trabalhando até o final, mas agora começarei no

meio do salmo, onde há a oração que Salomão fez naquele dia

150


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

da inauguração. São os versos 8, 9 e 10: Levanta-te, Senhor, entra

no lugar do teu repouso, tu e a arca de tua fortaleza. Vistam-se de

justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Por amor de Davi,

teu servo, não desprezes o rosto do teu ungido. Essa oração, você

vai encontrar repetida no segundo livro de Crônicas, onde temos

todos os detalhes do que estava acontecendo (2Cr 6.41-42).

A oração que Salomão está fazendo na hora em que os

sacerdotes vão trazer a arca para dentro do templo é: Levanta-te,

Senhor, como se Deus estivesse esperando aquele momento. Ele

pede quatro coisas: primeiro, entra no lugar do teu repouso, tu e

a arca de tua fortaleza. O templo que Salomão havia feito era o

lugar do repouso de Deus, porque Deus havia andado de lugar

em lugar — lembra que a arca representava a presença de Deus?

Aonde ela ia, o Senhor ia —, estava andando por Jerusalém,

parava na fazenda de um, na fazenda de outro, ninguém sabia

onde estava, porém agora ela teria um local definitivo. Por isso,

Salomão diz: entra no lugar do teu repouso. Não é que Deus precisa

de repouso, não é que habita em locais feitos por mãos humanas,

mas é a maneira de dizer que aquele local é o local onde as pessoas

iriam buscar a Deus, onde Ele ouviria as orações, onde Deus se

encontraria com Seu povo. Por isso ele pede que o Senhor entre

na casa que ele lhe preparou, a arca, que era o símbolo do Seu

poder.

A segunda oração está no verso 9: Vistam-se de justiça os

teus sacerdotes; que esses que vão ministrar ao Senhor, que vão

ministrar o louvor, a adoração, que vão ensinar a palavra de Deus

e que vão fazer os sacrifícios sejam vestidos não somente com

aquelas vestes especiais que a lei de Moisés mandava. Salomão ora

assim: “Senhor, que os Teus sacerdotes estejam vestidos de justiça,

que eles sejam pessoas justas e santas diante de Ti, para poder

ministrar ao Senhor o culto do qual o Senhor é digno”.

A terceira oração está no final do verso 9: e exultem os teus

fiéis; ou seja, que aqueles que estão aqui neste momento, que

te amam, que são fiéis a Ti, exultem, fiquem cheios de alegria

com a chegada do Senhor no templo, porque é isso que importa.

151


CAMINHOS DA FÉ

Se o Senhor não estiver no templo, os fiéis não vão exultar de

alegria. A razão do nosso gozo e prazer em irmos nos juntar com

os irmãos é exatamente o encontro com Deus. É isso que é culto,

ir encontrar Deus.

E a última oração, registrada no verso 10: Por amor de

Davi, teu servo, não desprezes o rosto do teu ungido. Por amor de

Davi, aquele a quem o Senhor fez o juramento e a promessa, “não

despreze o rei, o teu ungido” — o ungido aqui é o rei, que era

ungido por um profeta para ser rei de Israel. No caso, Salomão

está pedindo aqui por ele mesmo: “Não vires o rosto de mim, não

desprezes o meu rosto, não tires de mim a Tua graça, eu preciso

de Ti para governar esse povo, fica comigo”.

Resumindo, houve quatro pedidos:

- “Senhor, entra no templo”;

- “Sacerdotes, pratiquem e vivam a justiça”;

- “Povo de Deus, alegre-se com a presença dele no culto”;

- “Senhor, não desprezes o Teu ungido” — lembrando que

a palavra ungido, em hebraico, é messias, ou seja, “não desprezes o

Teu ungido, o Messias”.

Essa é a oração. Vejamos agora que ela se baseia em duas

coisas: na parte que vem antes e na parte que vem depois. Na parte

que vem antes, Salomão está apelando para um juramento que

Davi fez. Observe como ele começa o salmo: Lembra-te, Senhor, a

favor de Davi, de todas as suas provações; ele vai fazer a oração, mas

ele está preparando o caminho antes de orar, dizendo: “Senhor, eu

quero que o Senhor se lembre de Davi e de como ele sofreu, Davi

queria muito construir um templo para o Senhor. Uzá morreu,

Davi foi rejeitado, o Senhor não deixou Davi construir o templo,

mas ele te amava muito, Senhor”. Veja, no verso 2, como ele fez

um juramento ao Senhor: Não entrarei na tenda em que moro,

nem subirei ao leito em que repouso, não darei sono aos meus olhos,

nem repouso às minhas pálpebras, até que eu encontre lugar para o

Senhor, morada para o Poderoso de Jacó; Salomão está dizendo:

152


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

“Senhor, lembra do amor que Davi tinha por Ti a ponto de ele

ter feito este juramento?”. É claro que isso é em sentido figurado,

é uma hipérbole, mas é uma maneira clara de expressar esse forte

sentimento. Para Davi, era prioridade. A coisa mais importante

em sua vida era achar o lugar da habitação de Deus, o lugar da

arca, o local de culto a Deus, esse era o desejo do seu coração, era

o anseio dele, ele amava a Deus e queria isso para Deus, e fez um

juramento de que iria fazer isso.

Nós sabemos que Deus apareceu a Davi e disse: “Não vais

fazer isso, mas sim o teu filho”. Porém, o amor de Davi por Deus

é a base da oração de seu filho Salomão: “Senhor, lembra-te de

Davi, meu Pai, de como ele te amou, como ele foi fiel a Ti”.

Aqui percebemos a influência de um homem fiel sobre toda a

sua descendência. Eu ficaria muito grato e honrado — e talvez

eu nem vá ver esse dia, porque quem sabe esteja na glória —

se um dia um filho ou um neto meu orasse a Deus e pedisse:

“Deus, lembra-te de Augustus, de como ele te amou, como ele

quis te servir; eu não mereço nada, não tenho mérito nenhum,

mas lembra dele, lembra-te de toda a sua descendência, que quer

te servir”. Pais, vocês não estão deixando em vão um referencial

aos seus filhos. Queira Deus que um dia seus filhos possam dizer:

“Senhor, atenda minha oração, não por minha causa, mas por

causa dos meus pais, lembra-te dos meus pais, de como eles te

amavam, como oraram e pediram por mim”. Essa é a base da

oração de Salomão.

Depois de fazer essa oração, Salomão agora se lembra do

juramento de Deus a Davi. Na primeira parte, é o juramento de

Davi para Deus, agora Salomão se lembra do juramento de Deus

para Davi, quando Deus apareceu a Davi e disse: “Tu não vais

construir o templo, mas o teu filho vai”. Deus fez outras promessas

na ocasião. Do verso 11 ao 12, nós temos a recapitulação das

promessas: O Senhor jurou a Davi com firme juramento e dele não

se apartará: Um rebento da tua carne farei subir para o teu trono.

Se os teus filhos guardarem a minha aliança e o testemunho que eu

lhes ensinar, também os seus filhos se assentarão para sempre no teu

153


CAMINHOS DA FÉ

trono (2Sm 7.12-16). Está aqui o juramento que Deus fez a Davi

naquela ocasião: “Davi, um de vocês vai construir o templo, um

de teus filhos. Mas eu vou fazer mais do que isso, eu vou te dar

para sempre o reino de Israel, um filho teu sempre estará sentado

no reino de Israel, se andar de acordo com os meus caminhos”.

Deus tinha Jesus Cristo, o Messias, em mente aqui. Jesus

era filho de Davi e nasceria muito tempo depois. Salomão, depois

de tudo isso, cometeu erros, casou com mulheres que não eram

tementes a Deus, passou a adorar os deuses dessas mulheres,

desviou-se no fim da vida. O seu filho Roboão foi um insensato.

Quando assumiu o trono, dividiu o reino, ficando ele com o

reino do sul, que era o reino de Judá, e o reino do norte ficou com

capital em Samaria, com Jeroboão. A primeira coisa que Jeroboão

fez quando os reinos se separaram foi construir um templo em

Samaria e colocar ali dois bezerros de ouro, dizendo que esses eram

os deuses que tiraram Israel da terra do Egito. Assim, entraram

profundamente na idolatria e esqueceram-se de Deus. Depois de

Roboão, veio outro rei insensato, que quebrou a aliança com o

Senhor, até que finalmente Deus se cansou de tanta rebelião e os

expulsou da terra prometida. E foi durante a invasão babilônica e

o desterro que a arca se perdeu. Não sabemos mais onde ela está,

ela foi levada talvez para Babilônia, como se a presença e a glória

de Deus tivessem saído da nação de Israel. Mas, olhando para a

história posterior, vemos a fidelidade de Deus no cumprimento

daquelas promessas feitas a Davi, porque de Davi veio aquele que

se assentou finalmente no trono de Israel, Jesus de Nazaré, filho

de Davi. Ele morreu pelos nossos pecados, ressuscitou dos mortos

e sentou no trono do universo, à direita de Deus. Ele é chamado

na Bíblia constantemente de a raiz de Davi, o descendente de

Davi, aquele a quem foram feitas as promessas. Ao ressurgir dos

mortos e subir aos céus e se sentar à direita de Deus, Ele cumpriu

essas promessas.

Voltando ao nosso salmo, Deus diz em seguida que vai

escolher Sião como sendo o local da Sua habitação: Pois o Senhor

escolheu a Sião, preferiu-a por sua morada: Este é para sempre o

154


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

lugar do meu repouso; aqui habitarei, pois o preferi. Abençoarei com

abundância o seu mantimento e de pão fartarei os seus pobres. Vestirei

de salvação os seus sacerdotes, e de júbilo exultarão os seus fiéis. Ali,

farei brotar a força de Davi; preparei uma lâmpada para o meu

ungido. Cobrirei de vexame os seus inimigos; mas sobre ele florescerá

a sua coroa (132.13-18). Ou seja, tudo aquilo que Salomão pediu,

Deus está dizendo que vai fazer.

Olhemos para trás: essas promessas foram feitas há dois

mil e oitocentos anos. O cristianismo é o cumprimento de todas

essas promessas na pessoa de Jesus de Nazaré. Deus entrou em Seu

templo — Jesus Cristo é o templo de Deus. Veja o que o apóstolo

Paulo diz em Colossenses: Em Cristo habita corporalmente toda a

plenitude da divindade (Cl 2.9). O templo era uma figura de Jesus

Cristo, em quem Deus habitou completamente, e nós, unidos a

Cristo, somos agora habitação de Deus. Deus não habita em um

lugar físico, Ele habita naqueles que estão ligados a Jesus Cristo,

que é aquele que o templo representava. A arca era símbolo da

aliança entre Deus e o Seu povo. Nós não precisamos mais da

arca, ela até desapareceu, nem sabemos mais onde está. Porém,

ela é simbolizada na aliança que Deus tem com o Seu povo,

firmada em promessas maiores e selada no sangue de Jesus, e não

no sangue de animais que era derramado na tampa daquela arca

uma vez por ano.

Quanto aos sacerdotes, todo o povo de Deus agora

é sacerdote. Nós ministramos ao Senhor, nos aproximamos

diretamente dele, não mais oferecendo sacrifícios de animais,

mas com base no sacrifício completo de Cristo Jesus, por meio

de quem nós temos acesso direto a Deus. Quando nos reunimos

na igreja, nós só podemos fazer o que fazemos porque tudo que

foi dito neste salmo se cumpriu. Deus entrou em Seu templo,

Seus sacerdotes se revestiram de justiça, o povo se alegrou, a arca

entrou em Seu repouso, Deus escolheu Sião e prometeu abençoála

e, da descendência de Davi, veio aquele que se sentou não só

no trono de Israel, mas no trono do universo.

155


CAMINHOS DA FÉ

Você não pode ser cristão e ignorar que o cristianismo está

baseado em atos salvadores de Deus na História. O cristianismo

é uma fé histórica, que se baseia em fatos; se esses fatos não

existiram, a nossa fé é vã, nós estamos vivendo uma ilusão, e

seria melhor abandonarmos a fé se esses fatos não forem verdade.

E o fato mais importante de todos é a ressurreição do filho de

Davi. Eu quero terminar esta parte, antes de fazer a aplicação,

lendo o que disse o apóstolo Pedro no dia de Pentecostes —

Pedro está falando aos judeus de Jerusalém depois da morte e da

ressurreição de Cristo, depois que o Espírito Santo veio: Irmãos,

seja-me permitido dizer-vos claramente a respeito do patriarca Davi

que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo permanece entre nós

até hoje. Sendo, pois, profeta e sabendo que Deus lhe havia jurado

que um dos seus descendentes se assentaria no seu trono (aqui, Pedro

está lembrando aquele juramento, Davi era profeta e sabia do

juramento que Deus fez de que um descendente haveria de se

sentar no trono para sempre). Prevendo isto, referiu-se à ressurreição

de Cristo [...] (At 2.29-31).

A ressurreição de Cristo é o cumprimento daquela

promessa que Deus fez a Davi: “um descendente teu vai se sentar no

trono de Israel para todo o sempre”. Jesus reina, mas não somente

sentado no trono de Israel, porém no trono do universo. É isso

que é o cristianismo, é a conscientização de que Deus cumpriu

as Suas promessas, é o cumprimento, o desenvolvimento e o

desabrochar de toda essa história, tendo como clímax a vinda de

Jesus Cristo ao mundo. E o que nos compete hoje como cristãos,

como pessoas que creem nessa história, pessoas que creem nesses

fatos? O salmo já nos indica: primeiro, nós nos reunimos para

adorar esse Deus, para dizer a Ele: “Tu és fiel, Tu cumpriste todas

as Tuas promessas”; segundo: este salmo nos ensina a orar pela

prosperidade da Igreja, do povo de Deus, assim como Salomão

estava orando: “Senhor, vem habitar entre nós, faz o Teu povo

se alegrar”. Salomão amava a Deus e queria o bem da Igreja do

Senhor, e nós nos reunimos para isso. Somos parte desse povo

e oramos e pedimos que Deus cumpra todas as Suas promessas

entre nós.

156


SALMO 132 - ABENÇOAREI A TUA GERAÇÃO

Há também uma terceira aplicação que nós percebemos

aqui: não fosse o descendente de Davi, Jesus Cristo, ter realizado

o sacrifício completo e perfeito, nenhum de nós poderia chegar

à presença de Deus para adorá-lo, porque a promessa era

condicional: “Se os teus filhos andarem nos meus mandamentos,

eu cumprirei todas as promessas”. Um deles cumpriu, Jesus

de Nazaré. Ele cumpriu exatamente a lei, aquela lei que estava

dentro da arca, Ele guardou toda ela, não quebrou um único

mandamento. Portanto, a promessa agora é segura e nós podemos

nos chegar a Deus hoje e adorá-lo e servi-lo de todo o coração.

Como está o seu coração? Eu quero que hoje você desperte

para algumas coisas. Primeiro, que você diga em seu coração:

“Eu quero conhecer esse Deus, eu quero conhecer essa redenção,

quero amar esse Deus e viver de todo coração para ele, não quero

ser um crente de fim de semana, mas quero viver a minha vida

a cada momento da semana como um discípulo de Jesus Cristo,

crente no Criador de todas as coisas”. Eu quero que você veja

também a importância de estudar e conhecer a Escritura, gastar

tempo lendo o Antigo Testamento e vendo as promessas. As

histórias não estão aqui em vão, esse livro nos foi dado para isso,

para que conheçamos a Deus e conheçamos quem somos, o que

estamos fazendo aqui e para onde vamos. Em outras palavras, essa

mensagem é um chamado para que saiamos da superficialidade,

do meio compromisso, da mornidão, e digamos: “Eu quero ser

um cristão de verdade, consciente da minha herança, que sei das

minhas origens, sei de onde vim e para onde vou”. Um salmo

como esse nos convoca a isso.

E, finalmente, é um salmo que nos chama à oração,

ensinando-nos a orar. O salmista ora, mas ele ora baseado em

duas coisas: primeiro, que Deus se lembre da piedade e fidelidade

dos que vieram antes de nós e que, por amor a nossos pais

espirituais, nos abençoe. Segundo, que Ele se lembre de todas

as Suas promessas para conosco. A oração nada mais é do que

lembrar a Deus a história: “O Senhor já fez isso antes, faz de

novo, e as promessas que o Senhor prometeu estão aqui na Bíblia,

cumpre a Tua palavra, porque Tu és fiel”.

157


CAMINHOS DA FÉ

ORAÇÃO:

Ó Deus Todo-Poderoso, graças te damos por Tua fidelidade.

Graças te damos porque cumpriste tudo que prometeste ao Teu

servo Davi. Louvamos o Teu nome por Jesus Cristo, em quem

todas as Tuas promessas se realizam. Concede que sejamos servos

fiéis aqui neste mundo, enquanto aguardamos o retorno de Teu

Filho para estabelecer o Reino eterno. Amém.

158


SALMO 133

QUANDO OS IRMÃOS VIVEM UNIDOS

Oh! Como é bom e agradável viverem unidos

os irmãos! É como o óleo precioso sobre a

cabeça, o qual desce para a barba, a barba

de Arão, e desce para a gola de suas vestes.

É como o orvalho do Hermom, que desce

sobre os montes de Sião. Ali, ordena o

Senhor a sua bênção e a vida para sempre.

Este é mais um dos Salmos de Romagem atribuídos ao

rei Davi. Aqui ele fala a respeito da união do povo de Deus, da

unidade e da harmonia que deveria haver entre o povo de Deus.

Quão bom e quão agradável é viverem unidos os irmãos! Tudo

indica que este salmo foi composto depois que Davi assumiu

o governo de todo Israel. Temos que voltar um pouquinho na

história para entender o que está acontecendo aqui.

Depois que o povo de Israel entrou na terra prometida,

debaixo da liderança de Josué, a terra foi dividida entre as doze

tribos. Essas doze tribos tinham juízes que governavam sobre uma

parte de Israel, outros juízes sobre outra parte de Israel, e havia

muita confusão, muita contenda e muita controvérsia. Nessa

época, apareceram juízes que governavam sobre todas as tribos,

como Sansão, Jefté e finalmente o próprio Samuel, que também

era profeta. A lei que havia naquela época era que cada um fazia


CAMINHOS DA FÉ

o que bem achava diante dos seus olhos. Não havia um local

certo de adorar a Deus, as tribos tinham seus santuários; havia

santuários mais ao norte e santuários mais ao sul. A confusão era

generalizada. Finalmente, depois que os filhos de Samuel, que

iriam se tornar juízes, se corromperam, os israelitas cansaram e

disseram que queriam um rei, e Deus lhes deu o rei Saul, que foi o

primeiro dos reis de Israel, e, debaixo dele, as tribos se ajuntaram.

Porém, Saul não foi um bom rei, e conflitos internos

começaram a acontecer. Com a morte de Saul, houve guerra civil

entre as tribos, e a tribo de Judá escolheu Davi para ser o seu

rei. As outras onze tribos não aceitaram Davi e elegeram Isboset,

que era descendente de Saul. Aí começou a guerra civil na nação

de Israel. O reino de Judá, comandado por Davi, lutava contra

as onze tribos comandadas por Isboset. Depois de um conflito

sangrento que durou muitos anos, finalmente a tribo de Judá

venceu, e Davi foi, então, coroado rei de todo Israel. A guerra

cessou, a paz foi estabelecida. Jerusalém foi reconhecida como o

lugar que Deus havia escolhido para seu adorado. Não era mais

possível ter outro templo, outro local de adoração, mas somente

lá em Jerusalém. E o povo se viu debaixo do domínio do rei

Davi, que foi um bom rei. Durante o seu período, quando as

doze tribos estavam unificadas debaixo da sua liderança, a nação

de Israel prosperou em todos os sentidos, aumentou o território,

conquistou inimigos, teve prosperidade financeira e espiritual, o

culto a Deus se estabeleceu. Davi fez mudanças no templo, criou

o sistema de levitas e de corais e passou o reino unificado para

o seu filho Salomão. Então essa é a ocasião em que este salmo

foi escrito, para comemorar aquela unidade que finalmente havia

chegado à nação de Israel.

Agora, partiremos para a exposição detalhada do salmo

e veremos que lições ele traz para nós hoje, terminando com

algumas aplicações.

No verso primeiro, Davi expressa a sua alegria com a

unidade do povo de Deus: Oh! Como é bom e agradável viverem

unidos os irmãos! (133.1). Os irmãos aqui são os irmãos judeus,

160


SALMO 133 - QUANDO OS IRMÃOS VIVEM UNIDOS

os judeus de todas as tribos que estavam agora unificados viviam

em união. Eles tinham agora um único rei, que dava identidade e

unidade à nação. Não havia mais guerra civil, eles poderiam viver

em paz. Um israelita da tribo de Manassés poderia conviver em

paz com o israelita da tribo de Zebulom, a tribo de Gade poderia

viver em paz com a tribo de Benjamim. Eles poderiam viajar no

território das outras tribos, não havia barreira na fronteira, era

zona livre. Era um momento de grande prosperidade e alegria.

Porém, o salmo está falando especialmente daquela união

espiritual que agora havia entre as doze tribos. Eles estavam

unidos para adorar o mesmo Deus, e não mais deuses como

Baal ou Astarote, os baalins e aqueles outros deuses pagãos que

comumente eram adorados durante o tempo dos juízes. Mas

agora Deus, e somente Ele, era o Deus de Israel, e o Seu culto

era celebrado somente em Jerusalém, onde estava o tabernáculo,

a arca da aliança, a lei de Deus, os sacrifícios e os sacerdotes.

Por isso Davi diz: “Como é bom e agradável viverem unidos os

irmãos”. Que coisa boa quando há paz, quando há tranquilidade,

prosperidade e alegria, essa convivência pacífica que havia debaixo

do rei Davi e pela providência de Deus.

Davi se refere a essa união, em segundo lugar, como sendo

boa e agradável. Não é preciso explicar muita coisa sobre isso. O

que é bom e agradável é algo que nos dá prazer e enlevo. Faltam

adjetivos para poder descrever o que a união de fato representa,

por isso é que Davi escolheu duas figuras para explicar essa união

e por que ela é boa e agradável. A primeira é o óleo que era

derramado na cabeça do sacerdote. Ele diz, no verso primeiro:

Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! Aí, faz uma

comparação no verso 2: É como o óleo precioso sobre a cabeça, o

qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas

vestes. Esse óleo era confeccionado de acordo com uma receita

que Deus tinha dado a Moisés. Ninguém mais podia fazer esse

óleo a não ser os sacerdotes. Ele era composto do azeite mais

fino de oliva e quatro especiarias extremamente caras e raras. O

resultado era um óleo especial muito perfumado. Quando ele

161


CAMINHOS DA FÉ

era derramado, o cheiro se alastrava pelo tabernáculo e todos

podiam sentir o aroma daquele óleo, particularmente porque

ele era derramado em abundância. Era derramado na cabeça e

ia descendo pelo rosto de Arão, passava pela barba e descia pelas

vestes. A orla à que Davi se refere aqui, sempre pensamos que é a

gola, mas é o pé da túnica, é a orla inferior. O óleo passava pela

roupa toda e chegava até lá embaixo. Davi diz que a união era

semelhante a esse óleo.

Outro detalhe é que esse óleo era usado somente na unção

do sacerdote. Quando um sacerdote era escolhido para ministrar

diante de Deus, ele era ungido com esse óleo, que era derramado

de maneira abundante sobre a sua cabeça em uma cerimônia

pública. Ao fazer essa comparação, Davi pode ter tido algumas

ideias em mente. Por exemplo, a união é preciosa como aquele

óleo raro e caro. Assim, a união no meio do povo de Deus é

algo também precioso e às vezes raro e caro para nós. Talvez não

seja uma coisa tão comum, por isso ela devesse ser valorizada e

buscada como aquele óleo tão precioso. Talvez Davi também

tenha pensado na fragrância. Aquele era um óleo extremamente

perfumado, que agradava. É gostoso quando cheiramos um bom

perfume, nos dá prazer. A união do povo de Deus é como esse

perfume que agrada e enleva.

Entretanto, eu penso que talvez Davi tinha em mente

particularmente outro ponto que faz mais sentido quando olhamos

o contexto: o óleo começava a ser derramado na cabeça e passava

por todo o corpo do sacerdote, indo até o final de suas vestes,

ou seja, o óleo percorria Arão todo, expressando unidade. Da

mesma forma que aquele óleo passava por Arão completamente,

unindo todas as peças de seu vestuário, a união trazia todas as

tribos juntas. Penso que esse é o ponto de comparação: o óleo que

escorria passava pela cabeça, pela barba, pelos ombros, pelo peito,

ia descendo pelas pernas, até chegar lá embaixo, à orla das vestes

e às sandálias. Ou seja, Arão, que era o representante de Deus

diante do povo e do povo diante de Deus, era coberto da cabeça

aos pés pelo mesmo óleo. O óleo que era derramado na cabeça era

162


SALMO 133 - QUANDO OS IRMÃOS VIVEM UNIDOS

o mesmo óleo que chegava lá nos pés, e isso expressava a união

do povo de Deus. É nesse sentido que o óleo se encaixa aqui. Eu

sei que a primeira reação nossa é pensar que Davi está pensando

no óleo porque é precioso e cheiroso, mas a ideia de ele escorrer

completamente, cobrindo o sacerdote todo, expressa a ideia de

união, de unidade e coesão. Assim era o povo de Deus, unido

como aquele óleo que passava pelo corpo inteiro do sacerdote,

que era representante do povo diante de Deus.

Contudo, ele tem uma segunda comparação aqui, que

está no verso 3, quando ele diz que essa união do povo de Deus

é como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. O

Hermom é o monte mais alto no norte de Jerusalém, o seu pico

permanece coberto de neve a maior parte do ano. Ele fica hoje

onde é a Síria e pode ser visto a quilômetros de distância. É uma

montanha imponente, a mais alta daquela região. E ali, no pé do

Hermom, havia uma terra alagada, o sol batia e a água evaporava,

formando um orvalho, uma névoa grossa que caía sobre o Monte

Hermom.

Agora, nós perguntamos: e Sião? Porque ele diz que é como

o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. O problema

é que Sião está a quilômetros de distância, Hermom está no norte

e Sião está no sul. Como o orvalho de Hermom cai nos montes

de Sião? Novamente, é a mesma figura do sacerdote, a ideia aqui

do orvalho não é tanto de algo frutífero, refrescante, assim como

o orvalho fecunda a terra, mas é que o mesmo orvalho que caía lá

no Monte Hermom, no norte, era trazido pelo vento e caía sobre

os montes de Sião, unindo as duas montanhas. Mais uma vez há

ideia de unidade. As duas figuras que Davi usa aqui — a união

do povo de Deus é como óleo que corre pelo sacerdote e é como

o orvalho que fecunda dois montes distantes — trazem a ideia

de unidade, e o israelita entenderia isso perfeitamente. Ele estava

familiarizado com os ritos sacerdotais, ele sabia como o sacerdote

era ungido, e também estava familiarizado com a geografia da

Palestina. Ele entenderia perfeitamente o que é que Davi estava

querendo dizer.

163


CAMINHOS DA FÉ

As duas figuras apontam para Deus como sendo aquele

que concede a união tanto no óleo quanto no orvalho. Há a ideia

de algo que é derramado em cima e que escorre, unindo por onde

passa. E a união é essa bênção que vem de Deus, vem de cima

e escorre sobre nós e nos une debaixo de um cabeça que é Jesus

Cristo. As duas figuras escolhidas pelo rei Davi são muito bonitas

e muito apropriadas.

O resultado dessa união está no final do verso 3, quando

Davi diz: Ali (nos montes de Sião), ordena o Senhor a sua bênção e

a vida para sempre. Sião era o local do santuário, para ali subiam

as tribos de Israel unificadas, era o símbolo da união espiritual

do povo de Deus, e era ali que Deus ordenava a Sua bênção. Ali,

quando o povo estava reunido, quando o povo, em consenso,

buscava a Deus com um só coração, uma só alma e um só desejo.

O sentido é esse, que Deus abençoa o Seu povo ali, quando

este está unido para servi-lo. A união é a base da bênção; se não

há união, se não há comunhão, se não há unidade, Deus não

ordena a bênção e a vida para sempre, porque, onde há discórdia,

descontentamento, dissenção, divisão, inimizade, intrigas e

separação, o Espírito Santo de Deus é entristecido, o óleo não

corre e o orvalho não desce. Mas, ali onde o povo de Deus está

unido, Ele ordena a Sua bênção e a vida para sempre.

Que o ali seja aqui e que Deus derrame sobre nós o óleo

precioso e o orvalho do Hermom, a Sua bênção e a vida sobre o

povo de Deus unido debaixo de um só cabeça, Jesus Cristo. Isto

me leva para o próximo ponto: o que este salmo significa para nós

hoje? Vamos ver mais um pouquinho de história.

Durante o reinado de Salomão, os irmãos viveram em

união, as tribos estavam unidas e, como eu disse, Israel prosperou

e cresceu em todos os sentidos. Mas, depois que Salomão

morreu e seu filho Roboão assumiu o trono, o reino se dividiu

novamente, os filhos de Salomão brigaram entre si e o reino do

norte se separou com a maioria das tribos e estabeleceu um novo

santuário em uma nova capital na cidade de Samaria, rapidamente

entrando em declínio, pois agora não havia mais Davi para

164


SALMO 133 - QUANDO OS IRMÃOS VIVEM UNIDOS

guiá-los, com sua mão forte, sábia e espiritual. Eles adoraram

outros deuses, construíram dois bezerros de ouro, colocaram-nos

em um santuário na cidade de Samaria e disseram: “Eis aqui,

Israel, os deuses que te tiraram da terra do Egito”; e o povo todo

abandonou a Deus e começou a seguir os bezerros de Samaria.

Assim, começou a guerra do reino do norte com o reino do sul.

O reino do sul ficou com os descendentes de Davi, que

continuaram com Jerusalém como capital. A idolatria começou

a voltar, embora de vez em quando havia um filho de Davi que

se sentava no trono e que promovia uma limpeza, uma reforma e

um avivamento, e o povo voltava para Deus; mas, quando aquele

rei morria, voltava a idolatria toda. Finalmente Deus mandou o

juízo sobre o reino do norte, que foi levado cativo pelos assírios

que invadiram toda aquela região, mataram os judeus e os levaram

para fora da terra. O reino de Judá ainda demorou um pouco

para ser atingido. Por amor a Davi, Deus ainda segurou um

pouquinho o reino do sul, mas finalmente os babilônicos vieram

e levaram embora os judeus como cativos para a Babilônia.

Ali, Deus havia ordenado a Sua bênção e a vida para

sempre. Mas, não havendo mais união, não havendo mais

unidade, veio guerra, perda, tristeza e morte. Como a história de

Israel tão claramente nos ensina, foi nessa época que os profetas

como Isaías, Jeremias, Ezequiel e Oseias começaram a falar do

reino do Messias, que o Messias haveria de vir para a nação de

Israel e que Ele haveria de unificar outra vez as doze tribos, que

outra vez o reino do norte e o reino do sul seriam um povo só.

Os profetas disseram que o Messias seria um dos descendentes de

Davi que se assentaria em seu trono. Os profetas todos começaram

a falar da esperança messiânica que era a vinda do filho de Davi,

que haveria de reunir os judeus debaixo do mesmo rei, que era o

Senhor Jesus. Era disso que os profetas estavam falando.

O filho de Davi já veio, é Jesus Cristo, filho das promessas,

que morreu na cruz pelo Seu povo, por aqueles que são Seus, e

ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e se assentou no trono

de Davi, à direita de Deus, no trono do universo, e reina. E o

165


CAMINHOS DA FÉ

povo do filho de Davi ressurreto e vivo, Jesus Cristo, é um povo

que é composto agora não somente dos judeus, os que creram

nele e creem nele também, mas de todos aqueles que, de todas as

nações, confessam que Jesus Cristo é o filho de Deus, o Senhor e

Salvador. Nós estamos ligados a Jesus Cristo pelo Espírito Santo

e, portanto, ligados entre nós pelo mesmo espírito em Cristo.

Deus cumpriu essa promessa, Ele tem um povo que está unido

entre si de forma inquebrantável, unido ao filho de Davi, um

povo único que adora o único e verdadeiro Deus.

Você já percebeu como é que Tiago começa a carta dele?

Ele inicia falando das doze tribos que se encontram na dispersão

(Tg 1.1-2). Tiago não está escrevendo para as doze tribos de Israel

literalmente, ele está se referindo à Igreja de Cristo. A Igreja é as

doze tribos reunidas. O filho de Davi reina, Ele tem um povo e

nós estamos unidos debaixo dele, somos irmãos, estamos ligados

uns aos outros, porque há uma só fé, um só Deus, um só salvador

e um só Espírito que habita em nós. Por isso nós podemos hoje

dizer quão bom e quão agradável é que os irmãos vivam em união.

Há algumas aplicações que eu quero fazer aqui,

terminando este capítulo. Primeiro, eu me dirijo àquelas pessoas

que se sentem solitárias aqui neste mundo, talvez sem parentes ou

longe da família, não casaram, não tiveram filhos. Eu queria que

vocês olhassem para o povo de Deus como sendo o seu povo, a

sua família, os seus irmãos. É isso que a Igreja representa, ela é a

expressão desse povo único de Deus. Uma das experiências mais

agradáveis nas oportunidades em que a minha esposa e eu temos

tido de viajar pelo mundo é que, aonde chegamos e encontramos

crentes em Cristo Jesus, nos sentimos em casa; aonde quer que

tenhamos viajado, encontramos irmãos, e é como se fosse família,

é como se nós nos conhecêssemos há muito tempo. E eu quero

que você olhe a Igreja dessa maneira. Procure oportunidades

de comunhão, procure estar com os irmãos, procure conhecer

aqueles que fazem parte desse mesmo corpo e que têm a mesma

fé, desfrutar da amizade deles, participar da comunhão com eles,

e juntos adorar e servir o mesmo Deus.

166


SALMO 133 - QUANDO OS IRMÃOS VIVEM UNIDOS

A segunda palavra é para aqueles que vão à igreja apenas

para escutar um sermão. A igreja é muito mais do que isso. O que

nós fazemos aos domingos é apenas uma das muitas atividades

e engajamentos que expressam a nossa união e nossa união

com Jesus Cristo. A igreja é muito mais do que isso que nós

experimentamos nos cultos dominicais. Por isso eu quero que

você olhe para a igreja como sendo a sua família, o seu povo, com

o qual você deveria se envolver mais e onde você deveria buscar

respostas, ajuda, comunhão, alegria, fraternidade e amizade. As

oportunidades são muitas e elas estão aí.

A terceira aplicação é para aqueles que são céticos e

desconfiados da Igreja por conta das suas muitas divisões e

denominações. “Pastor, o que o Senhor está falando é muito

bonito, mas e os batistas, metodistas, pentecostais? Como

explicar isso aí diante da união?” Eu quero que você olhe para

essas divisões e diferenças que existem entre o povo de Deus

como sendo aquelas doze tribos. Cada uma delas tinha os seus

costumes, o seu modo de falar, mas todos eram judeus, apenas

moravam em locais diferentes. Deus tem somente uma igreja,

que é composta de todos aqueles que professam a fé em Cristo

Jesus como Senhor e Salvador, e todo aquele que professa a Jesus

como único Senhor e Salvador é meu irmão. Agora, nós, que

cremos nisso, nos dividimos, há a tribo dos presbiterianos, a tribo

dos batistas, dos metodistas, dos irmãos pentecostais, uns são

mais eufóricos no culto, outros são mais calados na maneira de

adorar, uns têm uma forma em que organizam a igreja no sistema

eclesiástico, outros já têm outra forma. Mas é um povo só, se crê

no Senhor Jesus como Senhor e Salvador, se recebe a Escritura

como palavra infalível e inerrante de Deus. Nós temos as nossas

diferenças culturais e regionais; mas, como povo de Deus, somos

um só.

Agora, na hora em que o israelita começava a adorar Baal,

aí já não era mais irmão dos demais judeus. Há diferenças que são

fatais para a comunhão. Um grupo de irmãos que vai negar, por

exemplo, a divindade de Jesus Cristo, a autoridade da Escritura e

167


CAMINHOS DA FÉ

que Cristo morreu pelos nossos pecados, não faz parte do nosso

povo. Aqui não é apenas uma questão de divisão e denominação,

aqui já é outra religião. Mas, entre aqueles que creem no Senhor

Jesus como Senhor e Salvador, há diferenças que não são fatais ou

cruciais para quebrar a nossa união e a nossa unidade.

Jesus Cristo tem um povo, e esse povo vive debaixo dele,

unido a Ele pelo Espírito Santo e entre nós pelo mesmo Espírito.

Um dia, as doze tribos espirituais deixarão de existir e Deus terá

um povo, e um povo somente na vinda do Senhor Jesus. Quando

Ele vier buscar a Sua igreja, todas essas diferenças serão desfeitas.

E então, vendo como somos vistos e entendendo como somos

entendidos, participaremos dessa plena união e unidade da qual a

vida da Igreja é apenas um pálido reflexo aqui neste mundo.

Eu termino com um apelo para todos nós, para que,

no vínculo da paz e no poder do Espírito Santo, mantenhamos

essa união e essa unidade visível entre nós como testemunho da

unidade do povo de Deus, porque é ali que o Senhor determina a

sua bênção e a vida para sempre. Como é bom e agradável viverem

unidos os irmãos! É como óleo precioso sobre a cabeça que desce

pelo corpo, é como o orvalho do Hermom, que desce também

no sul, nos montes de Sião, unindo tudo, porque ali onde há

unidade ordena o Senhor a Sua bênção e a vida para sempre.

ORAÇÃO:

Senhor, concede-nos a alegria de viver essa unidade, essa

união com todo o nosso coração. Concede, Senhor, que aquilo

que impede essa união, as desavenças, as diferenças, as discórdias

e as contendas, seja removido, que haja perdão, reconciliação,

humildade e compreensão. Oro que haja união nas famílias, nos

relacionamentos entre os amigos, na Tua Igreja em geral, no Teu

povo. Amém.

168


SALMO 134

ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

Bendizei ao Senhor, vós todos, servos do

Senhor, que assistis na Casa do Senhor,

nas horas da noite; erguei as mãos para o

santuário e bendizei ao Senhor. De Sião

te abençoe o Senhor, criador do céu e da

terra!

Este capítulo apresenta o último salmo que compõe

a série dos Salmos de Romagem. O salmo que fecha esta série

fala a respeito de bênçãos, de como bendizemos a Deus e como

Ele também nos bendiz. Lembrando que os salmos iniciam em

Quedar — salmo 120, no qual o peregrino diz: “Ai de mim,

que moro em Quedar” — e terminam aqui em Sião, quando o

peregrino chega a Jerusalém, onde a bênção está.

A situação provável para a escrita deste pequeno salmo é

a seguinte: a caravana de peregrinos chega a Jerusalém e se dirige

ao templo, que era o local da adoração a Deus, e ali convoca os

sacerdotes e levitas a bendizer a Deus e a orar por eles, e isso já no

finzinho do dia, no turno da tarde, iniciando-se já o turno que

levava ao dia seguinte. Os sacerdotes, então, se voltam e abençoam

o povo com a bênção sacerdotal que era exclusiva deles.

Se olharmos dessa maneira, o salmo fica claro. Ele tem

duas partes: a primeira, nos versos 1 e 2, em que o peregrino


CAMINHOS DA FÉ

exorta os levitas e sacerdotes a bendizerem a Deus e a interceder

por eles; e a segunda parte, que é só o verso 3, são os sacerdotes

que se voltam para o povo, dizendo que o Senhor os abençoe de

Sião. É, portanto, uma antífona, ou seja, um salmo de fala e refala,

os peregrinos falam e os sacerdotes respondem — os peregrinos

falam nos versos 1 e 2 e os sacerdotes respondem no verso 3.

Vamos ver, então, os detalhes do salmo e depois verificar de

que maneira ele pode ser usado por nós nos dias de hoje, quando

não temos templo, não vamos a Jerusalém e muito menos temos

sacerdotes. Assim, de que maneira este salmo pode ser aplicado

a nós?

Vamos começar com a exortação dos peregrinos aos

sacerdotes e levitas para que bendigam a Deus: Bendizei ao

Senhor, vós todos, servos do Senhor, que assistis na Casa do Senhor,

nas horas da noite; erguei as mãos para o santuário e bendizei ao

Senhor (134.1-2). Embora nossa tradução Almeida não diga, no

hebraico esta passagem começa com uma expressão que poderia

ser traduzida como Atenção ou Eis aqui, chamando atenção

dos sacerdotes. É um salmo que começa com essa expressão de

chamado e de atenção para os que estão servindo a Deus no

templo de Jerusalém.

Eles são chamados aqui no verso primeiro de servos do

Senhor. Todo o povo de Israel, todo israelita verdadeiro, era servo

de Deus, mas os sacerdotes e levitas eram chamados de servos de

Deus porque se dedicavam exclusivamente ao serviço de Deus,

no templo. Eles assistiam na casa do Senhor. A assistência que

eles prestavam a Deus na casa do Senhor, que era o templo de

Jerusalém, incluía oferecer os sacrifícios, que não eram poucos.

Temos de pensar no templo de Jerusalém quase como um

açougue gigantesco, onde animais eram mortos um atrás do outro

no grande altar que ficava no centro e na entrada do santo dos

santos. É por isso que havia uma tribo inteira que era dedicada ao

serviço do templo, porque ali se faziam esses sacrifícios de manhã,

à tarde e à noite. A assistência que o sacerdote e levitas faziam

incluía primeiro essa oferta dos sacrifícios. O povo trazia muitas

170


SALMO 134 - ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

ofertas para Deus, trazia os dízimos, os grãos, farinha, dinheiro

em espécie, e os sacerdotes e letivas tinham que tomar aquelas

ofertas, apresentá-las diante de Deus e armazená-las nos diversos

compartimentos que havia no templo.

E era momento também, algumas vezes, durante o dia,

especialmente na hora dos sacrifícios da manhã, da tarde e da

noite, de os sacerdotes instruírem o povo na palavra de Deus,

lendo a lei de Moisés e dando a explicação. Eles oravam pelo

povo e o abençoavam. Era essa a rotina que se fazia no templo

o dia todo. Era um local muito movimentado, com muita

gente chegando, especialmente durante as três festas da Páscoa,

Tabernáculo e Pentecostes, quando os israelitas vinham de todas

as partes para adorar a Deus.

No caso, nota-se aqui que essa caravana parece ter chegado

ao fim do dia, e exorta os servos do Senhor que assistem em Sua

casa a bendizer a Deus nas horas da noite. Lembre-se de que o dia

terminava às seis horas e a noite começava em seguida. Para os

judeus, o dia começava com a noite. Esse grupo de peregrinos deve

ter chegado ao templo de viagem já no fim do dia, de tardezinha,

quando a turma de sacerdotes da noite estava chegando.

Eles iriam assistir na casa do Senhor durante as horas

da noite. O que eles faziam não envolvia mais sacrifícios, mas

tinham que manter o fogo do altar aceso. O fogo do altar nunca

poderia se apagar, a lei de Moisés mandava isso. Também o

candelabro de ouro, o menorá, com sete braços, tinha que ser

mantido aceso o tempo todo. Lá dentro estava a arca da aliança,

com as tábuas da lei e outras riquezas e preciosidades. O turno da

noite mantinha acesas todas as luzes do templo e preparava tudo

para o dia seguinte. Quando o serviço regular começasse, às seis

da manhã, deveria estar tudo pronto para novamente começar a

morte de animais.

Algumas vezes, havia judeus que passavam a noite no

templo. Há um caso no Novo Testamento da profetiza Ana, que

não se afastava do templo dia e noite, vivendo em jejum e orações

(Lc 2.36-37). Às vezes, alguns israelitas viravam a noite em vigília,

171


CAMINHOS DA FÉ

orando e buscando a Deus ali no templo. Era sempre preciso que

o templo estivesse aberto e houvesse pessoas lá.

Os peregrinos chegam, então, na hora do turno da noite

e dizem aos sacerdotes e levitas: “Bendigam a Deus todos vocês,

servos do Senhor, que assistem na casa do Senhor nas horas

da noite”. A exortação é para que eles bendigam ao Senhor, e

a impressão que dá é que eles estão dizendo: “Não somente se

dediquem aos arranjos que precisam ser feitos durante a noite para

o dia seguinte, mas que durante a noite vocês estejam também

bendizendo a Deus, estejam louvando a Deus, adorando-o,

intercedendo pelo Seu povo durante a noite”. Ou seja, o apelo

era para que não faltasse oração, louvor e adoração a Deus no

templo, mesmo durante a noite. Aquele local de adoração deveria

ser cheio com os louvores de Deus, com orações e súplicas diante

dele.

E como é que eles deveriam fazer isso? O verso 2 diz:

Erguei as mãos para o santuário e bendizei ao Senhor. A exortação

que é feita aqui aos sacerdotes e levitas é que eles bendissessem

a Deus levantando as mãos, ou seja, como expressão da elevação

do coração. O levantar de mãos durante as orações ou durante o

louvor e bendizer a Deus é apenas um símbolo do elevar da nossa

alma e do nosso coração. Também, quando nós levantamos as

mãos para o alto, fazemos referência ao fato de que nós estamos

aqui e Deus está acima, e, como nós levantamos as mãos abertas,

significa que estamos pedindo a Ele e estamos prontos para

receber.

O que torna uma oração eficaz não é a postura física que

nós tomamos: de joelhos, em pé, sentados, deitados, levantando

mãos, com as mãos baixas, mãos para a direita, para a esquerda…

nada disso torna a oração mais eficiente; mas, porque nós somos

alma e corpo, com frequência a postura física serve para expressar

o nosso estado de alma. Por isso é que na Bíblia é muito comum

você ver pessoas aquebrantadas que se ajoelham para orar, pois a

postura de joelhos expressa o que vai na alma, a humilhação e o

quebrantamento diante de Deus. O levantar as mãos na oração

172


SALMO 134 - ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

pode expressar esse elevar do nosso coração e da nossa alma, e é

uma expressão também da dependência que nós temos de Deus.

Ele está nos céus e nós estamos aqui, e nossas mãos estão elevadas

para receber dele a Sua graça e a Sua misericórdia.

Certa vez, eu estava pregando em uma igreja pentecostal,

em um encontro de obreiros, e notei que durante o louvor eles

estavam muito cautelosos porque havia um pastor presbiteriano

ali: eu! Depois eles vieram conversar comigo e me perguntaram se

em minha igreja podia levantar a mão. Eu respondi que sim, que

não havia nenhuma proibição, não fazemos disso uma regra ou

lei, deixamos cada um à vontade para fazer isso, o que ensinamos

é que uma oração não vai ser mais eficiente se você levantar as

mãos. O que faz com que Deus ouça a oração são outras coisas

que a Bíblia diz: a oração tem que ser feita em nome de Jesus,

tem que ser feita com fé, com sinceridade, com devoção, com

entrega total do nosso coração. Se você faz levantando mãos

ou não, é uma opção sua, mas lembrando apenas que a eficácia

da oração não está na postura física que nós tomamos, embora

você vai encontrar recomendações como esta: “Bendiga a Deus

levantando as mãos”. Às vezes, a postura física convém porque ela

expressa o sentimento que existe em nossa alma.

No caso aqui em particular, os peregrinos estão exortando

os sacerdotes: “Levantem as mãos para o santuário”. O santuário

era a parte mais interior do templo, onde estava a arca da aliança.

Havia o santo lugar, que era o templo, e havia, dentro dele, o

santo dos santos, que era uma câmara cujo acesso era restrito e

proibido a todos, menos ao sumo sacerdote, que entrava lá uma

vez por ano no dia da expiação, para derramar sangue pelo povo

de Deus sobre o propiciatório, a tampa da arca. E era tão restrito

o acesso, que, depois de um tempo, criou-se o costume entre os

sacerdotes de que, quando o sumo sacerdote fosse entrar lá, era

amarrada uma corda em seu tornozelo, caso ele passasse mal lá

dentro. Como ninguém poderia entrar, se, depois de um tempo

puxando, o sacerdote não reagisse, os levitas o puxavam para ver

se ele estava bem. Isso não estava na lei de Moisés, mas era um

costume prático que os judeus adotaram.

173


CAMINHOS DA FÉ

Então, aqui, os levitas são exortados a bendizer a Deus e a

interceder pelo povo levantando as mãos em direção ao santuário,

que é onde estava a arca da aliança. Por que isso? Porque a arca

da aliança simbolizava a presença de Deus, era ali que Deus

se manifestava. Você deve se lembrar dos salmos que dizem:

“Deus mora no meio dos querubins”, e quase sempre as pessoas

imaginam Deus no céu cercado de querubins. Mas não era isso, e

sim que em cima da arca havia dois querubins voltados um para

o outro, com suas asas se tocando. Era ali que Deus habitava, a

arca com os querubins era símbolo da presença de Deus. Quando

diz: “Levantai as mãos para o santuário”, é mais ou menos dizer:

“Levantai as mãos para o Deus que habita entre os querubins,

que está lá onde está a arca, que é símbolo da Sua aliança e do

Seu acordo com o Seu povo”. Bendizer a Deus significa falar bem

dele, elogiá-lo, louvá-lo, e também o levantar das mãos significa

súplice oração.

Agora o quadro está completo: os peregrinos chegam ao

fim do dia e dizem: “Bendigam a Deus a noite toda. Sabemos que

vocês têm trabalho para fazer, mas não se esqueçam de bendizer

a Deus levantando suas mãos para a presença dele, orando por

nós, louvando e bendizendo esse Deus para que não falte louvor

na casa dele”.

E aí há a resposta dos sacerdotes, no verso 3: De Sião te

abençoe o Senhor, criador do céu e da terra! Imaginamos os sacerdotes

se voltando para o povo e pronunciando aquela bênção sacerdotal.

Essa prerrogativa de abençoar o povo era dos sacerdotes. Está no

Livro de Números, 6.22-27: Disse o Senhor a Moisés: Fala a Arão

e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel e dirlhes-eis:

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer

o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o

rosto e te dê a paz. Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel,

e eu os abençoarei. Era uma prerrogativa do sacerdote abençoar o

povo de Deus conforme aquela bênção.

Aqui, é o que eles fazem no verso 3, eles se voltam para

o povo e abençoam, dando dois destaques. Primeiro: De Sião

174


SALMO 134 - ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

te abençoe o Senhor. Sião é Jerusalém, ou seja, “De Jerusalém

te abençoe o Senhor”. Por que isso? Mais uma vez, Sião é onde

estava o templo, onde estava a arca que simbolizava a presença

do Senhor e a aliança dele com o Seu povo. Quando o sacerdote

diz: De Sião te abençoe o Senhor, seria lembrar que é o Deus da

aliança, o Deus que tem um pacto conosco, e a sede do Seu reino

é Jerusalém. “E de lá, onde quer que você se encontre, quando

você voltar para sua casa lá nos confins de Zebulom e Naftali,

nos extremos de Israel, ao norte e ao sul, ainda assim de lá de

Jerusalém o Senhor haverá de te abençoar, Ele sempre estará

contigo, pois Ele é o Deus da aliança.”

O segundo destaque que o sacerdote dá aqui na bênção

é que: De Sião te abençoe o Senhor, criador do céu e da terra! Aqui

está a razão pela qual Deus pode nos abençoar, porque Ele é o

criador do céu e da terra, tudo é dele, portanto Ele pode dar

bênçãos dos céus e pode dar bênçãos da terra, e nada impede o

Seu poder. Eu não posso abençoar você porque eu não sou dono

de nada. Nós não temos como abençoar, nós podemos pedir

que Deus, Criador dos céus e da terra, abençoe o nosso irmão,

mas nós não podemos abençoar uma pessoa, porque é o maior

que abençoa o menor, e nós somos todos iguais. Só Deus pode

abençoar, porque Ele tem todas as coisas em Suas mãos e pode

tirar dos Seus tesouros e concedê-los aos homens, bênçãos dos

céus e bênçãos da terra.

Por isso é que eles dizem: De Sião te abençoe o Senhor,

criador dos céus e da terra, eles foram cuidadosos em dizer: “Que

o Senhor te abençoe, não somos nós que te abençoamos, mas é

o Senhor”.

O que nós podemos aprender com este salmo tão

curtinho, mas tão rico de lições preciosas para nós? Eu quero

destacar, antes de trazer alguma aplicação prática, dois ou três

pontos que tornam o salmo relevante e para que ele faça sentido

para nós hoje. Nós temos que lembrar, em primeiro lugar, que os

sacerdotes do Antigo Testamento, bem como os levitas, eram uma

figura, um símbolo de Jesus Cristo. Deus instituiu os sacerdotes

175


CAMINHOS DA FÉ

e levitas como uma figura que simbolizava aquele sumo sacerdote

final, maior, perfeito e completo, que seria o Seu filho Jesus

Cristo. À semelhança dos sacerdotes, Ele ofereceu sacrifícios pelo

povo, e o sacrifício que Ele ofereceu foi a Si mesmo, Ele era o

cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Cristo era ao

mesmo tempo sacerdote e oferta, era o ofertante e a oferta em Si.

Ele ministrou a Deus um sacrifício completo e perfeito, absoluto,

final e suficiente pelos pecados do Seu povo.

Depois da morte, Ele subiu aos céus, entrou no santo dos

santos, na presença de Deus, onde vive para interceder por Seu

povo. Ele nos entende e se compadece de nós, porque Ele é um

de nós. É o único mediador entre Deus e os homens, e, através

dele, Deus nos abençoa, e nós bendizemos e adoramos a Deus,

chegando até a Sua presença.

Nós hoje, portanto, não temos mais sacerdotes, pessoas

que vão oferecer sacrifícios de animais, orar e interceder por nós

diante de Deus para que Ele nos perdoe; nós não temos mais o

sistema de levitas, aquele sistema que havia no templo; o templo,

com os sacerdotes e os levitas e os sacrifícios de animais, era tudo

figura de Cristo, símbolo do sacrifício completo que Ele faria

por nós. É por isso que hoje nós não temos mais templo. Eu sei

que costumamos nos referir ao edifício da igreja como sendo o

templo, mas não no sentido do Antigo Testamento. Ali, o templo

era um local separado, específico e único onde Deus habitava,

e era onde, e somente onde, Ele aceitaria receber adoração. Os

templos cristãos não são como o templo do Antigo Testamento,

são apenas locais que foram construídos para reunião do povo de

Deus. Púlpito não é altar — às vezes você ouve o pastor dizendo:

“Eu quero convidar os irmãos a virem até o altar do templo”. Mas

nós não temos mais altar. Pastor também não é sacerdote. Tudo

aquilo se cumpriu em Jesus, Ele é o nosso sumo sacerdote, em

quem nós temos todos aqueles privilégios que eram apresentados

pelo ministério levítico.

Agora, um segundo ponto que nós temos que lembrar é

que a Bíblia se refere aos cristãos em geral como sendo sacerdotes.

176


SALMO 134 - ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

Cito apenas três passagens. Na sua primeira carta, Pedro diz,

falando aos cristãos: também vós mesmos, como pedras que vivem,

sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de

oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de

Jesus Cristo (1Pe 2.5). Você percebe a linguagem que Pedro está

usando aqui? Ele está usando a linguagem do Antigo Testamento

e aplicando aos cristãos, dizendo-lhes que eles são pedras que

vivem, edificadas na casa espiritual. A figura aqui é do templo

de Jerusalém, mas ele está dizendo agora que os crentes é que

são templo, um templo espiritual de pedras vivas. Cada um de

nós, por assim dizer, figuradamente, é um tijolo desse templo

espiritual onde Deus habita.

Pedro diz em seguida: para serdes sacerdócio santo. Agora

cada crente é um sacerdote diante de Deus. Observe: a fim de

oferecerdes sacrifícios espirituais. Então está tudo aqui: templo,

sacerdote, sacrifício, só que tudo isso agora é aplicado aos crentes

em Jesus. Nós somos o templo, somos os sacerdotes e oferecemos

a Deus um sacrifício espiritual — não mais de animais —, que é

a entrega do nosso coração, da nossa vida, do nosso louvor e do

nosso caminhar. Ou seja, Deus continua a ser servido, mas por

um povo espiritual que O adora na mediação do único sumo

sacerdote, que é Jesus Cristo.

Veja, ainda, o verso 9: Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio

real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus. Também

Apocalipse 1.5-6, quando João diz: Àquele que nos ama, e, pelo

seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino,

sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos

séculos dos séculos. Amém! Os cristãos, então, são constituídos

como sacerdócio santo, sacerdotes para Deus. E o que é que isso

significa? Não é no sentido de mediador, porque o único mediador

entre Deus e os homens é o sumo sacerdote Jesus Cristo. Nós

somos chamados de sacerdotes porque temos acesso à presença

de Deus como só o sumo sacerdote no Antigo Testamento tinha,

quando ele chegava ao santo dos santos uma vez por ano. Nós

agora podemos chegar à presença de Deus a qualquer momento,

177


CAMINHOS DA FÉ

em qualquer lugar, e orar a Deus, bendizer a Deus, ouvir a Sua

voz, ser por Ele instruídos e consolados. Que grande privilégio

para nós!

No Antigo Testamento, o judeu temente e piedoso a

Deus tinha que ir ao templo, tinha que depender do sacerdote,

para que o sacerdote intercedesse por ele, para que o sacerdote

oferecesse sacrifícios, e ele ficava esperando a bênção. Hoje,

nós nos achegamos a Deus em casa, no trânsito, no trabalho,

fazendo compras, na escola… em qualquer lugar nós elevamos

nosso coração a Deus, chegamos à Sua presença, cultuamos a Ele,

nos reunimos na casa dos irmãos. Que privilégio para nós que

vivemos depois da vinda de Jesus e depois de Ele ter cumprido

todas as leis cerimoniais!

Isso traz algumas implicações para nós: pastor não é

sacerdote, pastor não é mediador, não perdoa pecados, a oração

do pastor não é mais eficiente do que a sua, pastor não tem poder

para abençoar ninguém. Nós podemos pedir, e devemos pedir,

que Deus abençoe os nossos irmãos.

Agora, outras aplicações práticas. Este salmo se torna um

salmo de encorajamento para que nós bendigamos a Deus em

todo tempo, nos turnos do dia, da tarde e da noite. Que não

faltem diante de Deus o louvor e a adoração do Seu povo, que

haja em nós aquilo que mais tarde o apóstolo Paulo vai dizer:

Orai sem cessar (1Ts 5.17). Aproveitemos esse grande privilégio

que nos foi dado de chegar à presença do Criador dos céus e da

terra a todo tempo, em qualquer lugar e qualquer que seja a nossa

situação. Façamos isso mediante Jesus, lembremos que é somente

pela mediação dele, pelo Seu sacrifício e pela Sua intercessão que

nós podemos fazer, e devemos fazer isso em todo tempo.

Uma palavrinha que eu daria também àqueles que estão

angustiados, aflitos, atribulados e abatidos: este salmo é um

convite a vocês buscarem a bênção de Deus. Cheguem-se a Ele na

mediação de Jesus e tragam diante dele as suas aflições e ansiedades

em todo tempo e confiem que Ele vai atender às suas orações.

Este salmo nos traz vários incentivos para que nós façamos isso.

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SALMO 134 - ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADO

Primeiro, porque ele diz: “Que o Senhor te abençoe, Ele, que é

o Criador dos céus e da terra”. Isso é um incentivo para você! O

Criador dos céus e da terra, que tem todo o poder, que do nada

fez tudo que existe e que governa tudo que existe, está acessível a

você, e você pode levar-lhe as suas angústias e necessidades.

O salmo também diz que Ele é o Deus que mora em Sião,

a cidade que era o símbolo da aliança, do pacto que Deus tem

conosco por meio de Jesus Cristo. Deus é fiel. Há também um

incentivo aqui para que nós busquemos a Deus na esperança de

sermos ouvidos: é que nós temos um sumo sacerdote que intercede

por nós. As nossas orações chegam à presença de Deus mediante a

intercessão de Jesus, que, ao lado do Pai, intercede por nós, pede

por nós, toma as nossas orações e as apresenta ao Pai santificadas

e purificadas pelo Seu sangue e pelo Espírito Santo. Há todo um

incentivo aqui para que você ore, para que chegue diante de Deus

e deposite diante dele a sua angústia e necessidade.

Diante de todo esse incentivo que este salmo nos dá,

reconheçamos que nós desperdiçamos muitas oportunidades de

chegar à presença de Deus, gastar tempo diante dele para adorálo,

servi-lo, assisti-lo e bendizê-lo, levantar as mãos diante dele,

cultuá-lo, suplicar, colocar diante dele as nossas necessidades. Boa

parte dos nossos problemas e angústias é porque não fazemos o

que o salmo 143 está dizendo: Bendizei ao Senhor, vós todos, servos

do Senhor, que assistis na Casa do Senhor, nas horas da noite; erguei

as mãos para o santuário e bendizei ao Senhor.

Que Deus assim nos dê esse espírito de adoração e temor

e que nós busquemos o nosso Deus mediante Jesus em todo

tempo.

ORAÇÃO:

Que privilégio o Senhor nos dá, Senhor, Criador dos céus

e da terra, de chegarmos à Tua presença, não somente na igreja,

lugar dedicado ao Senhor, mas em todo lugar; levantar as mãos,

179


CAMINHOS DA FÉ

levantar nosso coração, elevar a nossa alma e as nossas palavras

diante de Ti e chegar à Tua presença na mediação do Teu filho

Jesus, na certeza de que Ele está intercedendo por nós. Damos-te

graças por esse grande privilégio, queremos bendizer o Teu nome

agora, por isso ajuda-nos a orar sem cessar. É o que te pedimos,

por amor de Jesus. Amém.

180



Estação da Fé

Caixa postal 246 - CEP 74001-970

Goiânia - GO

Tel.: (62) 3653-5251 / 4101-1998

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