NOSSA GENTE
Este livro do memorialista Célio Cordeiro contém 100 crônicas publicadas na coluna 'Nossa Gente', do jornal Boca da Mata. Traz um perfil biográfico de personalidades que se destacaram na sociedade local, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico, religioso, esportivo, político e cultural de Carmo do Cajuru, MG.
Este livro do memorialista Célio Cordeiro contém 100 crônicas publicadas na coluna 'Nossa Gente', do jornal Boca da Mata. Traz um perfil biográfico de personalidades que se destacaram na sociedade local, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico, religioso, esportivo, político e cultural de Carmo do Cajuru, MG.
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NOSSA GENTE
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
Crônicas
Carmo do Cajuru
2021
NOSSA GENTE
Crônicas
CÉLIO ANTÔNIO CORDEIRO
100 crônicas publicadas no jornal ‘boca da mata’
⟴
projeto gráfico, organização e editoração
Jornal Boca da Mata
fotografias
Coleção do Autor
+ Fotos gentilmente cedidas por familiares
capa
André Camargos e Lorena Faria (Coletivo RAW)
impressão e acabamento
Geec Publicações
tiragem
300 exemplares
◈
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Cordeiro, Célio Antônio, 1950
Nossa gente: crônicas / Célio Antônio Cordeiro.
-- Carmo do Cajuru/MG : Jornal Boca da Mata,
2021.
ISBN 978-65-00-20542-8
1. Carmo do Cajuru (MG) - História 2. Crônicas
brasileiras 3. Personalidades - Carmo do Cajuru
(MG) - Biografia 4. Personalidades - Carmo do Cajuru
(MG) - Fotografias I. Título.
21-61744 CDD-B869.8
Índices para catálogo sistemático:
1. Crônicas : Literatura brasileira B869.8
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
PREFEITURA DE CARMO DO CAJURU
Programa “Luz e Esperança para o Mundo”
Ação realizada com recursos da Lei Federal n. 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc
ii
APRESENTAÇÃO
O jornal Boca da Mata tem a honra de apresentar esta obra do memorialista
e atento guardião da história de Carmo do Cajuru, Célio Antônio
Cordeiro, guardada nas suas famosas coleções de fotos antigas e nas
crônicas mensais da coluna NOSSA GENTE.
De início, o jornal Boca da Mata agradece a inestimável colaboração
voluntária do memorialista, na organização e editoração da coletânea,
e dos parentes e amigos dos nossos homenageados, que ajudaram a
enriquecer esta obra.
A proposta editorial da coluna NOSSA GENTE é registrar o perfil biográfico
das personalidades que se destacaram na melhoria da qualidade de
vida da sociedade cajuruense, seja do ponto de vista religioso, econômico,
esportivo, político ou cultural.
Ao lado da evocação de lembranças e saudades dos admiráveis casais
e, individualmente, de mulheres e homens, que deixaram marcas
indeléveis em Carmo do Cajuru, o BOCA DA MATA estende sinceras
homenagens aos familiares e descendentes. Também por fazerem parte
das 100 inspiradoras histórias humanas contadas nos últimos oito anos
pelo memorialista Célio Antônio Cordeiro, em nosso jornal mensal.
Ao promover esta publicação, temos consciência de estarmos irrigando
nossas raízes, convictos de que um povo que não conhece suas origens
acaba perdendo-se no meio da diversidade global. São nossas memórias
culturais, familiares, sociais, que nos dão a identidade de povo e nação
e nos distinguem dos demais.
Esta é uma publicação comemorativa dos 30 anos de fundação do jornal
Boca da Mata e dos 10 anos em que está sob nossos cuidados.
Gustavo Abib Bechelani Meireles
CÉLIO E A NOSSA GENTE
Nosso grande amigo Célio Cordeiro é um amante da história da nossa
terra. Grande colecionador de fotos, feitas por ele ou a ele doadas, Célio
tem um invejável registro fotográfico da nossa Carmo do Cajuru, desde
os seus primórdios.
Como escritor registra mensalmente, na sua coluna NOSSA GENTE,
no nosso Boca da Mata, as memórias fotográficas e textuais do povo
cajuruense.
São textos bem escritos por ele ou depoimentos de familiares das
pessoas que já se foram, enriquecidos de fotos que ele tem ou consegue
com as famílias das pessoas contempladas na sua coluna.
E a todo mês a memória histórica de nosso povo vem à baila, na coluna
NOSSA GENTE.
Sem elitismo, sem preferências, ele fala de pobres e ricos, famosos
ou não. O que norteia sua escolha é o fato de ter a pessoa feito
alguma coisa relevante para a nossa terra, mesmo que seja apenas o
cumprimento do dever de criar uma família legal, de ter sido um bom
pedreiro, carpinteiro, motorista, médico, dentista, professor, político, ou
ter simplesmente sido interessante na cidade.
Com a sua verve simples, sem metáforas ou alegorias, o Célio vem
registrando a memória antropológica de Carmo do Cajuru; tem mostrado
com elegância a NOSSA GENTE.
Eu espero um dia ser retratado na coluna do Célio. Daqui a pelo menos
vinte anos. Depois que eu morrer, pois ele só escreve as memórias –
claro – de quem já se foi. E eu quero demorar a ir embora.
Prof. Ernane Reis Gonçalves
À Romilda, minha esposa, aos meus filhos:
Renata, Lorena, Célio Henrique e Marcelo;
e ao meu netinho Théo.
À memória de Carmelita e Antônio Cordeiro Sobrinho,
meus pais.
O valor das coisas não está no tempo que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem
momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis
e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
O jornal Boca da Mata e o colunista Célio Cordeiro destacam
e agradecem as colaborações das seguintes pessoas,
na composição deste trabalho:
Alda Felizarda Duarte
Alessandro de Sá Guimarães
Aparecida Elaine de Souza
Aurélia Fonte Boa
Bia Duarte
Dênio Marra
Dora Estela Vasconcelos
Ernane Reis Gonçalves
Família Mano
France Vaz
Giovana Vasconcelos
Gustavo Abib Meireles
Isac Ferreira Soares
Ita Fonte Boa
José Raimundo Batista Bechelaine
Mara, Mary, Miriam e Mirna Rabelo Fonseca
Márcia Gomes
Marciano Guimarães Mansur
Maria Cleusa Nogueira Vilaça
Maria das Dores Ferreira
Marília Fonte Boa
Marina Fonseca
Matheus Vasconcelos
Rosana Vasconcelos
Sílvio Gonçalves de Almeida
Sol Nascente
Tamires Silva Barbosa
Zuleica Alves
Célio Antônio Cordeiro
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
ESPECIAL
Do Cruzeiro à praça N. Sra. Aparecida ................... 23
Museu e Arquivo Sacro-Histórico ................... 30
CASAIS EM DESTAQUE
Águida e Geraldo Boda ................... 36
Cezita e Sílvio José Rabelo ................... 40
Conceição Batista e Nhô Dito ................... 44
Conceição Maria e José Epifânio ................... 48
Conceição e Vicente Camargos ................... 52
Ermelinda Maria e Melquíades Batista ................... 56
Geni Mileib e Dico do Guilherme ................... 60
Lia e Dico Alexandre ................... 64
Maria José e Moussa Bcheleny ................... 68
Maria Terezinha e Walter da Fonseca ................... 72
Preta e Salomão ................... 76
Nair Miranda e João Arcanjo ................... 80
Teresa Maia e Abib Bechelane ................... 84
NOSSA GENTE
MULHERES INESQUECÍVEIS
Afonsina do Juca ................... 91
Ana Izabel de Jesus ................... 96
Balbina Gonçalves ................... 100
Conceição Maria de Jesus ................... 104
Conceição Vieira de Camargos ................... 108
Ester de Melo Malaquias ................... 112
Hortência Aparecida Ribeiro ................... 116
Ilda Rabelo de Carvalho ................... 120
Isabel Salomé de Castro ................... 124
Lalia Guimarães ................... 128
Laurita Lima Vieira ................... 132
Luci Guimarães Nogueira ................... 136
Lucia Guimarães ................... 140
Magali Gomes da Fonseca ................... 144
Maria de Lourdes Gonçalves ................... 150
Maria Nogueira Vasconcelos ................... 154
Marília Gomes Fonseca ................... 158
Paulina Guimarães ................... 164
Zulmira Felizarda Duarte ................... 170
Célio Antônio Cordeiro
HOMENS NOTÁVEIS
Agostinho Ferreira Tito ................... 177
Alípio Nogueira Avelar ................... 182
Pe. Altamiro de Faria ................... 186
Amim Mattar ................... 190
Anair Nogueira ................... 194
Antônio Cordeiro Sobrinho ................... 198
Antônio de Souza e Silva ................... 202
Braz Rabelo ................... 206
Cândido Pereira Guimarães ................... 210
Carlos Altivo ................... 214
Cezarino Ferreira de Araújo ................... 218
Cristino Mateus da Silva ................... 222
Domingo do Rosário ................... 226
Eli Benedito ................... 230
Francisco Eustáquio da Silva Maciel ................... 234
Genésio Fernandes Fialho ................... 238
Geraldo de Souza e Silva ................... 242
Geraldo Dias Barbosa ................... 246
Geraldo Guimarães ................... 250
Geraldo Mano da Silva ................... 254
Guido Alves de Oliveira ................... 258
NOSSA GENTE
Ilídio de Sá ................... 262
Izidoro Fonte Bôa ................... 266
Jamil Antônio Bechelaine ................... 270
Jésus Ferreira de Melo ................... 274
João Alves de Oliveira ................... 278
João Batista Nogueira Marra ................... 282
João da Mata Nogueira ................... 286
João da Silva .................. 290
João José Rabelo ................... 294
Pe. João Parreiras Villaça ................... 298
Joaquim Gonçalves de Melo ................... 302
Pe. José Alexandre de Mendonça ................... 306
José Alves Nogueira Filho ................... 310
José Demétrio Coelho ................... 314
José Dias Barbosa ................... 318
José Fernando Nogueira da Silva ................... 322
José Fonte Bôa ................... 326
José Gontijo Maia ................... 330
José Inácio Salomé ................... 334
José Jehovah Guimarães ................... 338
José Lázaro de Souza ................... 342
José Luiz Passos ................... 346
José Marra da Silva ................... 350
Célio Antônio Cordeiro
José Mateus da Silva Sobrinho ................... 354
José Mateus Filho ................... 358
José Nogueira Avelar ................... 362
José Rabelo Vieira ................... 366
José Vital Filho ................... 370
Márcio Humberto Vaz Fonseca ................... 374
Dr. Marcondes José da Silva ................... 378
Marinho Dias Barbosa ................... 382
Mário Domingos ................... 386
Maurício Meireles ................... 390
Messias Dias Barbosa Neto ................... 394
Nagib Mileib ................... 402
Nagm Bechelaine ................... 406
Oswaldo Cândido de Almeida ................... 410
Oswaldo Diomar ................... 414
Rafael Gomes Avelar ................... 418
Sebastião Ferreira Vilela ................... 422
Vicente Alves dos Santos ................... 426
Vicente Dias Barbosa ................... 430
Vicente José Pereira ................... 434
Waldemar Batista Marra ................... 54
Wanderley Domingos ................... 438
⧝
NOSSA GENTE
Célio Antônio Cordeiro
INTRODUÇÃO
Sejam estas primeiras palavras de saudação aos familiares e amigos
que colaboraram na elaboração das 100 crônicas que assinamos pela
coluna Nossa Gente do jornal Boca da Mata, entre 2012 e 2020.
Nesta publicação, os objetivos destacados pelo diretor Gustavo Meireles
na Apresentação estão intactos. Apenas o projeto gráfico e a
organização das crônicas foram alterados para se ajustar ao formato
de coletânea em livro, adotando-se a ordem alfabética na apresentação
dos nomes, diferente da ordem aleatória do jornal.
Assim é que, neste volume, reunimos as 100 crônicas, dispostas em
quatro categorias, contendo: (i) duas especiais sobre a Praça do Cruzeiro
e o Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia de N. S. do
Carmo; (II) treze sobre “casais em destaque”; (iii) dezenove sobre
“mulheres inesquecíveis”; e (iv) 66 sobre “homens notáveis”.
Contamos aqui um pouco das histórias humanas que permeiam a
identidade do povo cajuruense. São traços singelos do perfil de cada
focalizado, ilustrados por fotos raras nem sempre de boa resolução,
mas impregnadas de história e sentido.
Os relatos familiares, sobre os quais nos baseamos nestes escritos,
não falam de documentos oficiais, mas nos revelam os sentimentos
e os impactos que estas pessoas ilustres causaram na vida de nosso
município e do povo cajuruense.
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
ESPECIAL
22 Célio Antônio Cordeiro
Do Cruzeiro à praça N. Sra. Aparecida *
Deus nos ensinou a não aceitar facilidades, mas a encontrar vida na dureza da cruz.
Dom Hélder Câmara
Carmo do Cajuru era uma pequenina cidade e lá em cima, no alto do
morro, no meio do cerrado roçado a machado e queimado, na Fazenda
Várzea dos Pereiras, nasceu a Praça N.S Aparecida.
Em 1957, a senhora D.Isaura Maria de Jesus (avó materna do querido
padre José Raimundo Batista Bechelaine) procurou ao senhor Geraldo
Mano da Silva (Dico Mano), proprietário do terreno, e pediu-lhe
um espaço para ali colocar um cruzeiro, pois havia feito uma promessa,
alcançado a graça e agora queria cumprir, colocando uma Cruz e
uma imagem de N. Sra. Aparecida e queria um lugar bem alto.
Vista aérea da praça Nossa Senhora Aparecida, suas capelas e o cruzeiro no centro
* O autor agradece a colaboração da Família Mano na elaboração desta memória.
NOSSA GENTE
23
Terraplanagem na reforma da praça,
ao início dos anos 1980
A família concordou e assim
aconteceu... Abriu-se um pequeno
espaço para o cruzeiro de
madeira, que foi levado de carro
de boi, com mujita dificuldade.
O acesso era por uma estrada
improvisada onde passavam
carroças e carros de bois que iam
até a praia buscar areia e à olaria
(fábrica de tijolos do Sr. Nilton
Mano) que ficava perto da praia.
Colocação do cruzeiro de ferro (anos 1960)
Instalado o cruzeiro, com um Oratório de N.S Aparecida, pouco a
pouco foi se transformando num espaço de demonstração de fé,
onde as pessoas iam orar, cumprir promessas, fazer novenas e até
levar água ao pé da cruz para chover.
A Capela dos Milagres
A princípio foi construída uma pequena capela que recebeu o nome
de Capela dos Milagres, porque lá as pessoas deixavam objetos (pernas,
braços, cabeças de cera, fotografias, muletas, bengalas e outros)
em agradecimento a graças recebidas. Ela não existe mais, em
seu lugar temos a capela de Nossa Senhora Aparecida, mas muitos
dos objetos de demonstrações de fé se encontram lá na praça numa
pequena sala debaixo do cruzeiro.
24 Célio Antônio Cordeiro
Nessa época, o nosso Pároco era o saudoso padre João, que gostava
muito do Cruzeiro e o povo dizia que era muito longe. Ele respondia
que Cristo também levava seus discípulos para lugares distantes.
Com o passar do tempo e com a melhoria do espaço, o povo foi se
acostumando com a distância e o movimento só foi crescendo.
1960 - Aprovação pelo bispo Dom Cristiano Portela da planta para
a construção do Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Mas esta
construção não aconteceu.
No lugar do Santuário, levantou-se o Calvário e junto à Capela dos
Milagres construiu-se a capela de N. Sra. Aparecida, obra concluída
em 1962.
O 1 o Jubileu de N. Sra. Aparecida aconteceu em 1963, muito bem preparado
e concorrido.
Vista parcial de Carmo do Cajuru, ao final dos anos 1940. Ainda não existia a Praça.
Terraplanagem na reforma da praça,
ao início dos anos 1980
Construção do túmulo monumental do padre
João Parreiras Villaça, ao início dos anos 1980
NOSSA GENTE
25
1961 - Houve na cidade a primeira festa de São Cristóvão, com carreata
pelas ruas, dirigindo-se para a Praça do Cruzeiro. Com a presença
do Rev.mo Bispo, houve a benção solene da imagem. Em pouco
tempo, com o movimento crescendo, as obras aumentando, a cada
festa ali realizada, havia um pedido do padre João e do Bispo para
aumentar o espaço. Pelo reconhecimento da importância que tinha
esta praça, o Sr. Geraldo Mano e sua esposa D. Adelaide sempre lhes
concediam o terreno.
1962 - Construída a capela de São Cristóvão, com a mesma planta da
capela de Nossa Senhora Aparecida, onde passou a realizar todos os
anos a sua festa.
Nesta mesma época, o centenário de N. Sra. de Lourdes, o Arcebispo
Metropolitano de Belo Horizonte pediu a todas as paróquias que colocassem
um marco com a imagem em homenagem a Nossa Senhora.
O lugar escolhido foi a praça de N. Sra. Aparecida, onde construiu
a gruta de N. Sra. de Lourdes, lá nem água havia. Mas o sonho do
padre João ia crescendo...
Aí foram marcadas também as 14 Via sacras, inicialmente 14 cruzes
de madeira com 2 metros de altura, circundando a praça e, no centro,
o cruzeiro de madeira. Depois vieram as capelinhas da Via Sacra, por
doação de famílias católicas da comunidade.
Foram construídas as 14 Capelas, cada uma com um quadro da Via
Sacra e cada uma com um doador e responsável. Foi construída também
a Gruta de São José, protetor do Clero e das vocações sacerdotais.
A praça ganhou eletricidade, iluminando assim o oratório de N.
Sra. Aparecida e todas as capelas.
Em seguida, no lugar do cruzeiro de madeira, foi construído um cruzeiro
de concreto e vidro, todo iluminado, com 20 metros de altura, e
um nicho com a imagem de N. Sra. Aparecida.
1966 - Inauguração da praça de N. Sra. Aparecida. Houve uma grande
festa, dia 19 de maio. Muita preparação para a festa com missa e
bênção solene, com a presença do bispo Dom Cristiano. Praça que se
tornou ponto religioso e turístico do município.
26 Célio Antônio Cordeiro
“Praça do Cruzeiro”, antes da reforma, ao final dos anos 1970
E o Calvário? Como surgiu?
Da visita do Irmão José, representante do Lar Católico, que ficou encantado
coma beleza da praça e do local. Sugeriu ao padre João, que
fizesse um calvário e se ofereceu para tentar conseguir com a Congregação
do Verbo Divino de Juiz de Fora a doação de umas belíssimas
imagens que lá estavam sem utilidade, estragando-se e algumas
até quebradas. E assim aconteceu.
A Paróquia ganhou a imagem de um crucificado, uma imagem de
São João, uma de N. Sra. das Dores e uma de Anjo da Anunciação,
todas de 2m de altura. São peças históricas, esculpidas e talhadas na
Alemanha, há mais de 80 anos, naquela época. Foram restauradas.
Foi construído o Calvário e lá colocadas, com exceção do Anjo, que
foi colocado no pé do cruzeiro e, posteriormente, na frente da praça,
onde estão até hoje. O Calvário é o local de realização dos quadros
vivos da Semana Santa e outras grandes festas religiosas.
1982 - Morre o seu idealizador e realizador, padre João Parreiras
Villaça. Amava de uma maneira especial esta praça que manifestara
seu desejo de ser sepultado nela. O povo quis cumprir o seu desejo ,
mesmo contrariando as ideias do Bispo Diocesano, que diante de tamanha
insistência, concedeu a licença para tal. Seu túmulo foi construído
bem no início da Praça; bem localizado para ser visto e visitado
pelos cajuruenses.
NOSSA GENTE
27
Familiares do “Dico” Mano com o padre João, em reunião festiva
Hoje não temos mais uma estradinha de terra para se chegar à Praça
e, sim, a rua Cônego João Parreiras Villaça, que assim passou a ser
chamada após sua morte. Asfaltada com toda infraestrutura e urbanizada,
destaca-se no alto não do morro, mas da cidade, tornando-se
um de seus mais lindos pontos turísticos.
O conjunto da Praça do Cruzeiro transformou-se em um verdadeiro
“santuário a céu aberto”, conforme palavras do padre José Raimundo
Batista Bechelaine.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 024, Set. 2014
28 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
29
Museu e Arquivo Sacro-Histórico
Eu vejo o futuro repetir o passado; // Eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não para.
Cazuza
A ideia de criar o Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia Nossa
Senhora do Carmo, de Carmo do Cajuru, nasceu em 1997, conforme
relato do padre José Raimundo Batista Bechelaine, que lecionou no
curso de Filosofia, oferecido pela FUNEDI /UEMG, as disciplinas de
Ética, Seminário em Filosofia Moderna e Seminário em Filosofia Contemporânea.
— Naquela época, foi realizada, durante a festa da padroeira da cidade,
Nossa Senhora do Carmo, uma exposição de objetos que pertenciam
à paróquia. Desde então, eu comecei a perceber a necessidade
de se criar o museu — contou o padre José Raimundo.
Vista interna do Museu Sacro-Histórico de Carmo do Cajuru
30
Célio Antônio Cordeiro
O inesquecível padre José Alexandre, entre fotos
antigas de Carmo do Cajuru
Durante os 15 dias em que a exposição
esteve em cartaz, a professora
Marília Fonte Boa levou
seus alunos de Educação Artística,
do antigo 2º Grau da Escola
Estadual Padre João Parreiras,
para visitar a mostra e se propôs
juntamente com os estudantes,
em fazer um trabalho de classificação
e catalogação dos objetos
expostos.
O projeto de criação do Museu
contou ainda com o indispensável
apoio do Sindicato das Indústrias
do Mobiliário e Artefatos de
Madeira de Minas Gerais (SINDI-
MOV), por intermédio do Serviço
Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI).
Hilton Gontijo, como professor
dos serviços de aprendizagem
da escola, muito contribuiu com o início do Museu. Fez várias restaurações
de móveis, sendo um trabalho totalmente voluntário.
A criação do Museu
Em 1999, o projeto de criação do Museu foi apresentado ao Centro de
Pós-Graduação e Pesquisa da FUNEDI/ UEMG e passou a ser desenvolvido
pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião.
Com a orientação do professor padre José Raimundo, o projeto contou
com o trabalho de dois estagiários da instituição: Dênio Márcio
Marra, do 8º período de Filosofia, e Maria do Carmo Camargos Siqueira,
que se formou em Letras no ano de 2001.
NOSSA GENTE
31
Obras literárias raras, missais antigos, livros de práticas e manuais diversos, entre outros documentos,
enriquecem o acervo de objetos eclesiásticos do Museu e Arquivo Sacro-Históricos
Na época, o aluno de Letras da FUNEDI/ UEMG, Humberto de Alencar
Teixeira, trabalhou na confecção das etiquetas de identificação
dos objetos do museu. A 12ª Superintendência Regional de Ensino
(SER) cedeu para o museu a professora Admar Vilela Rabelo, que coordenou
o Museu com muito bom gosto, competência e muito esforço,
até o ano de 2005.
A partir de 2006, o Museu em parceria com a Prefeitura Municipal,
através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, passou a ser
coordenado pelo memorialista Célio Cordeiro. Posteriormente, o
Museu contou com os alunos estagiários Erivelta Diniz, Suely e Eduardo
Diniz, do Curso de História da FUNEDI, que muito auxiliaram,
principalmente na catalogação de objetos e na informatização.
Um acervo que se amplia
O museu sempre contou com o apoio da Paróquia Nossa Senhora
do Carmo, da boa vontade da Prefeitura Municipal e da Secretaria
de Educação e Cultura. Possui um grande acervo religioso e uma expressiva
contribuição da Comunidade, em importantes doações. São
mais de 1.200 objetos catalogados.
32 Célio Antônio Cordeiro
As escolas do nosso município têm sido também, de uma importância
inestimável, na valorização do Museu para a educação patrimonial.
Mais de 6.700 pessoas já passaram pelo local em e pesquisas,
conforme registros no livro de assinaturas de visitas.
O Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia Nossa Senhora do
Carmo, foi inaugurado em 30 de dezembro de 2000. O primeiro registro
de assinatura, foi da saudosa professora dona Lúcia Guimarães,
que teve um papel muito importante na valorização da cultura
de nossa querida terra.
Hoje, o museu é uma realidade!
O grande desejo de seu fundador, padre José Raimundo Batista, vai
realizando-se.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 001, Ago. 2012
NOSSA GENTE
33
34 Célio Antônio Cordeiro
CASAIS EM DESTAQUE
NOSSA GENTE
35
D. a Águida e Geraldo Boda
Amar é encontrar na simplicidade de um sorriso o desejo de ser feliz.
Gisa Matos
Nesta edição, falaremos de um casal de pessoas simples e corações
grandes, que com seus modos de vivência familiar e social, nos deixaram
grandes e preciosos legados.
Geraldo Gonçalves de Oliveira, conhecido como “Boda”, nascido em
Carmo do Cajuru, em 2 de fevereiro de 1908, era filho de Olímpio
Gonçalves e Adelídia Gonçalves. Casou-se com Águida Gonçalves em
21 de janeiro de 1950. Ela filha de João Paulo Gonçalves e Maria Agripina
de Jesus.
Era um casal unido, honrado e temente a Deus. Tiveram quatro filhos:
Adelídia, Maria da Fé, Geralda e Geraldo César.
Geraldo “Boda” e Águida Gonçalves
36 Célio Antônio Cordeiro
Desse belo casal, hoje são 11 netos: Flávio Milton, Leonardo Henrique,
Arthur Rodrigo, Érica, Aline, Leandro Heitor, Tiago José, Joyce
Gristina, Júnia Mara, Jéssica Rayane e Maria Eduarda. Bisnetos:
Vanessa, Rodrigo, Sthefany, Eduarda, Miguel Lunas, Lucas e Luca.
Adelídia, esposo: Heitor Milton (in merorian), Maria da Fé, esposo:
Guilherme, Geralda (in memorian), esposo: Valdivino e Geraldo César,
esposa: Olga.
Familiares de Boda e Águida, em momento de confraternização
Dona Águida era meiga, educada, cortês e amiga de todos. Mãe dedicada,
amorosa e exemplar. Vivia em prol de seu lar. Acompanhava
com zelo e educação a vida escolar de seus filhos. Dizia sempre que a
maior riqueza que os pais deixam a seus filhos é o estudo. Trabalhava
com afinco para ajudar no sustento do lar e nos estudos dos filhos.
Possuía fé inabalável em Jesus e era grande estudiosa da Bíblia. Gostava
de ler Salmos, conhecendo vários de cor.
Mãe presente, esposa amorosa, mulher guerreira, acolhedora fraterna
e boa conselheira. Cativava os adultos, jovens e crianças com sua
fala mansa e bons conselhos. Foi muito atuante na Paróquia de Nossa
Senhora do Carmo, Filha de Maria, quando solteira, posteriormente,
firme no Apostolado da Oração, Conferência de Nossa Senhora
Aparecida, Legião de Maria, equipe de coordenação das visitas e das
novenas da Santinha Visitadora, aos lares católicos.
NOSSA GENTE
37
Geraldo Gonçalves de Oliveira, conhecido carinhosamente por
“Boda” – homem tranquilo, risonho e humilde. Tinha uma paz imensa
no coração e achava solução para todos os problemas, colocando
os impossíveis nas mãos de Deus.
Fervoroso e leitor assíduo das Escrituras Sagradas. Amigo, sensato
e educado com todos que convivia. Trabalhou desde os 16 anos na
mesma firma, durante 40 anos: anteriormente, chamada de Fábrica
de Manteiga do Antônio Altivo, posteriormente, Cooperativa Agropecuária
de Carmo do Cajuru Ltda. Aposentou-se lá e deixou seu legado
de simplicidade, amizade, exemplo e honestidade.
Águida, meiga, educada e gentil; Boda, tranquilo, risonho e sábio - uma união feliz e duradoura
Dona Águida (ao centro) com os filhos: Maria da Fé, César, Adelídia e Maria Geralda
38 Célio Antônio Cordeiro
Era um exímio contador de histórias.
Mula-sem-cabeça, lobisomem
e caboclo d’água, eram
personagens sempre presentes
em suas histórias, que faziam
medo na criançada da rua, que
o rodeava, nas noites claras de
luar para ouvir as assustadoras
histórias.
Boda e Ainda (como era chamada
carinhosamente pelos íntimos)
foram casados durante 36
anos até que ele veio a falecer,
em 1986, deixando a querida
companheira solitária, triste e
saudosa dos bons tempos que
juntos conviveram. Em 2010, ela
também faleceu.
Além da saudade, Boda e Águida,
deixaram como exemplo,
para familiares e amigos, a certeza
de que a honra, a honestidade
e a dignidade devem seguir
juntas na vida.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 079, Abr. 2019
NOSSA GENTE
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D. a Cezita e Sílvio José Rabelo
É a pureza da simplicidade que enriquece a alma.
Ezequias Souza
Sílvio José Rabelo, nascido em 21 de setembro de 1931, na Comunidade
de Ribeiros, município de Carmo do Cajuru, provindo de uma
família muito simples e sempre dedicada ao trabalho na zona rural.
Viveu sua infância e adolescência ao lado dos pais e dos irmãos.
Era filho do casal dona Maria Ana de Matozinhos e Augusto José Rabelo.
Seu pai, depois de viúvo, contraiu um segundo matrimônio.
Teve como irmãos: Maria Jacinta, José Augusto. Augusta, Vitor, Joaquim
e Jacinta, todos esses do primeiro casamento. Do segundo casamento
com dona Lourdes Nogueira, teve mais três irmãos: João,
Geraldo e Conceição.
D. a Cezita e Sílvio José Rabelo, celebram Bodas de Ouro
40 Célio Antônio Cordeiro
D. a Cezita e Sílvio José Rabelo, celebram Bodas de Ouro com filhos, netos e bisnetos
Ainda bem jovem, Sílvio casou-se com Cezita Fonseca, em 29 de setembro
de 1956. Do casamento, vieram nove filhos: Maria de Lourdes,
José Anselmo, Cristiano, Zélia, Maria Augusta, Rosânia, Aspásia,
Francisco e Sílvia Regina. Hoje dessa descendência são 20 netos e 2
bisnetos.
Sílvio sempre batalhou muito para o sustento e a boa educação da
família, através dos diversos trabalhos e atividades na zona rural. Ao
lado de sua dedicada esposa dona Cezita, que além dos afazeres diários
do lar, era uma exímia bordadeira, muito prendada, costurava
e tecia, tudo isso para auxiliar no sustento e no bem-estar de sua numerosa
família.
Foi um produtor rural muito dedicado. Plantava de tudo que era possível.
O cultivo do milho era uma de suas preferências. A criação do
gado também foi muito importante para ele, que sendo associado da
Cooperativa de Produção, fornecia o leite produzido em sua fazenda.
Foi uma pessoa extraordinária, um exemplar esposo, pai e avô, sempre
muito atencioso com todos. Encontrava tempo de expressar bem
sua fé nas atividades religiosas de Ribeiros. Católico praticante, participava
das celebrações na capela do Sagrado Coração de Jesus (o
padroeiro local) através do Apostolado da Oração e de celebrações.
NOSSA GENTE
41
Foi confrade da Sociedade São Vicente de Paulo por muitos anos.
Participou das comissões de festas. Gostava muito de arrecadar
prendas para os leiloes, principalmente por ocasião da festa em louvor
a São Sebastião. Sempre valorizava muito as rezas em família,
em especial, a recitação do Terço à noite. Foi um benfeitor de sua
comunidade e o responsável pela doação do terreno onde foi construído
o cemitério de Ribeiros.
Pessoa de um espírito alegre, brincalhão e colhedor. O futebol foi
também uma de suas paixões. Jogou bola durante um bom tempo.
Gostava muito de reuniões em família e com os amigos. Adorava jogar
o tradicional “Truco” onde ouvia uma boa música sertaneja, tomava
um bom vinho e saboreava uma carne bem temperada.
Sempre prezou muito pelos bons exemplos e pela boa educação dos
filhos, através dos conselhos que fazia questão de transmitir. Amava
muito sua esposa, filhos e netos. Gostava muito de viajar e conhecer
novos lugares, de preferência com seus familiares. Teve um grande
número de bons amigos, que soube cativar durante sua vida.
Em 2013 juntamente aos familiares, passou por uma grande provação;
a perda de seu filho José Anselmo, que sempre esteve presente
ao seu lado, principalmente na difícil labuta com as tarefas do meio
rural.
Com a idade um pouco avançada, começou a sentir problemas de
saúde, o que o obrigou a mudar para a cidade. Enfrentou a doença
com paciência e resignação. Mesmo adoentado, ainda gostava de ir
para a roça, ver as plantas e os animais o que servia de terapia, pois
sempre amou muito a vida na zona rural.
Em 29 de março de 2019, já com a saúde muito abalada, veio a falecer,
justamente em uma sexta-feira, dedicada ao Sagrado Coração de
Jesus, sua grande devoção, deixando uma lacuna de grande saudade
aos familiares e amigos. Ficando como legado aos familiares, os seus
belos exemplos, suas boas ações, a honradez e a honestidade.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 088, Jan. 2020
42 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
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D. a Conceição Batista e Nhô Dito
Nenhum patrimônio excede àqueles que deixam pelos caminhos da vida,
quando se pratica o bem, a caridade e o amor.
José Dias Lara
A história de nossa querida Carmo do Cajuru, sempre foi repleta de
personalidades, que por aqui passaram e deixaram grandes legados
Nesta crônica, vamos descrever um pouco da vida do casal dona Conceição
Batista Antunes e Benedito Antunes dos Santos
O radialista Benedito Antunes
dos Santos, mais conhecido
como Nhô Dito, nasceu em 16 de
abril de 1915, em Santa Cruz do
Rio Pardo/ SP, filho de João Antunes
dos Santos e dona Benedita
Maria de Jesus.
Dona Conceição, o filho único Gláucio e Nhô Dito
Fez os seus primeiros estudos
em sua terra natal, no grupo escolar,
hoje, por ser um prédio antigo,
é tombado pelo Patrimônio
Cultural. Foi em Santa Cruz que
começou a desenvolver seus talentos
na comunicação.
Ainda bem jovem, mudou-se para Belo Horizonte, onde teve a oportunidade
de trabalhar como locutor de rádio. Trabalhou na Rádio Inconfidência
por um bom período, no programa “Bentinho no Sertão”.
No final dos anos 40, conheceu a bela jovem Conceição, com quem
namorou e se casou em 2 de fevereiro de 1950, em Carmo do Cajuru.
44 Célio Antônio Cordeiro
Dona Conceição e Nhô Dito, no Rio de Janeiro
Conceição Batista, nascida no
município de Carmo do Cajuru
em 1918, era filha de Agostinho
Batista de Souza Leite e dona
Isaura Maria de Jesus. Fez seus
primeiros estudos no Grupo Escolar
Princesa Isabel e, posteriormente,
foi para a cidade de
Itaúna onde estudou e se formou
na Escola Manoel Gonçalves.
Foi uma dedicada professora
e educadora, lecionou em São
José dos Salgados e em Carmo
do Cajuru, nos grupos escolares
Princesa Isabel e Vigário José
Alexandre, escola onde chegou
a ser vice-diretora.
Conforme mencionamos, casou-se em cerimônia celebrada em domicílio
pelo padre João Parreiras Villaça, na casa de seus pais. Ela
com 32 anos e Nhô Dito com 34. O casal teve um único filho, Gláucio
Batista Antunes dos Santos, que hoje reside no mesmo local onde
morou com seus pais.
Depois de casados, moraram por um curto período no Rio de Janeiro,
onde Nhô Dito teve a oportunidade de trabalhar na extinta Rádio
Mayrink Veiga. Voltando para Minas, trabalhou nas rádios Inconfidência
e Guarani de Belo Horizonte. Passou também por um período
na Rádio Aparecida, de Aparecida do Norte/ SP.
Posteriormente, morando em Carmo do Cajuru, trabalhou por um
longo período na Rádio Cultura de Divinópolis, produzindo e apreesentando
os famosos programas “Nhô Dito no Arraiá” e “Parada
Sertaneja”. Participava ativamente de festas de auditórios, quase
todos voltados para a música sertaneja. Auxiliava entidades, através
de campanhas, como a do agasalho, e no período natalino. Foi um
colaborador da Vila Vicentina.
NOSSA GENTE
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Em Divinópolis, Nhô Dito foi homenageado por diversas vezes por
entidades filantrópicas; recebeu placas, medalhas e troféus, sendo
que várias delas se encontram no Museu Sacro-Histórico da Paróquia
Nossa Senhora do Carmo, doadas juntamente com outros objetos,
pelo filho Gláucio.
Foi ele quem compôs os hinos das Escolas: “Grupo Escolar Princesa
Isabel” e do extinto “Colégio José Demétrio Coelho”, cujas letras encontram-se
também no Museu. Escreveu muitos poemas, compôs
músicas e contos durante sua vida. Foi um grande artista do rádio
brasileiro. Compositor, radialista, produtor e defensor da música sertaneja,
desempenhava com muito amor e com muita competência
tudo aquilo que tanto gostava de fazer. Interagia muito com o povo,
principalmente através de sua habilidade na comunicação pelas ondas
do rádio.
Dona Conceição e Nhô Dito, formavam um elegante casal
46 Célio Antônio Cordeiro
Nhô Dito, Dona Conceição e Gláucio, uma família unida e feliz
Dona Conceição, além de uma grande professora, como acima mencionado,
foi uma ótima mãe e uma grande esposa. Na sua preocupação
com os menos favorecidos, participou de conferências vicentinas,
ajudando a fundar a Conferência “Nossa Senhora Auxiliadora”.
Foi uma das pessoas que fizeram parte da diretoria, que fundou o
glorioso Sport Clube Cajuru, em 1931. Participou, juntamente com o
esposo, das festividades do cinquentenário do clube, em 1981.
O casal teve um matrimônio duradouro, de quase 40 anos. Professavam
com muita convicção a fé católica, sempre demonstrada em
atitudes e frequência à Igreja. “Nhô Dito” faleceu em 26 de junho de
1989 e dona Conceição em 15 de abril de 1995.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 099, Dez. 2020
NOSSA GENTE
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D. a Conceição Maria e José Epifânio
A memória é o espelho em que vemos os ausentes.
Joseph Juberth
É com essas lindas palavras do filósofo em epígrafe, que vamos iniciar
esta singela crônica de um casal que constituiu uma bela família
e nos deixou como exemplos de vida a dedicação à família, a honestidade
e a honradez, sempre pautadas em bons exemplos e muita dignidade.
Foram pessoas íntegras, e que ao longo de suas vidas fizeram
numerosas amizades.
Dona Conceição e José Epifânio, uma família unida e feliz
José Epifânio Zeferino era filho de João Epifânio Zeferino e de dona
Maria Joaquina de Jesus. Nasceu no dia 27 de setembro de 1911, na
comunidade de Amoras, município de Carmo do Cajuru. Provindo de
48 Célio Antônio Cordeiro
uma numerosa família, bem cedo já enfrentara a dura vida do homem
do campo, principalmente na agricultura.
Por onde passava, sempre deixava lembranças de grandes amizades
e exemplos de dedicação ao trabalho que desempenhava. Foi funcionário
por muito tempo na Rede Ferroviária Federal S.A./ Rede Mineira
de Viação. Por longos anos, foi motorista do setor educacional,
onde é lembrando com muito carinho, pelas professoras e alunos que
ainda estão vivos.
José Epifânio ao lado de uma das filhas
Em 9 de outubro de 1929, na matriz Nossa Senhora do Carmo, casou-se
com dona Conceição Maria de Jesus Epifânio, filha de Camilo
Bernardes da Silva e dona Isabel Maria de Jesus. Do casal, nasceram
10 (dez) filhos: Isabel, Irani, Ivo, Maria José, José Carlos, Expedito,
Helena, Antônio Fernandes, Edina e Elaine.
Dona Conceição, foi uma exemplar esposa e mãe de família. Com
suas habilidades na culinária, era uma exímia cozinheira e quitandeira.
Muito atenciosa com seu esposo e filhos, sempre persistente e
incentivando-os, na frequência às aulas e na dedicação escolar.
Cuidava com muito carinho dos afazeres do lar e prestava auxilio as
pessoas que a procurava. Deixou muita saudade aos filhos, aos netos
e ao grande número de amigos.
NOSSA GENTE
49
Ao lado de sua querida esposa, José Epifânio era amante da boa leitura.
Além da distração, o conhecimento adquirido lhe tornara pessoa
bem informada e culta. Sempre quando podia, fazia uma coisa
que ele muito gostava – viajar. Principalmente para visitar seus parentes
e amigos.
Pessoa de uma fé bem firme, sempre cuidava da família com muito
zelo e dedicação e ainda praticava a caridade, com ajuda aos mais
carentes.
Divertia-se muito com o seu violão e sua preferência musical era um
“chorinho”. Gostava muito de dançar a Catira ou Cateretê – uma dança
que hoje, em vários municípios, é tratada e às vezes até registrada
como um bem cultural imaterial.
Outra grande paixão, além da família, era o futebol. O senhor José
Epifânio, era torcedor do Cruzeiro Esporte Clube. No futebol amador,
sua paixão era o Sport Club Cajuru, onde brilharam seus filhos José
Carlos, Expedito e Toninho. Infelizmente, não chegou a ver alguns
netos e bisnetos jogando bola: Wesley, Camilo, Cristian, Carlos Henrique,
Pedro e Blau.
A vida conjugal do senhor José Epifânio e dona Conceição, serve de
exemplo para todos. Estiveram casados durante 52 anos, chegando a
celebração das bodas de ouro. Deixaram além de 10 filhos, 41 netos,
62 bisnetos e 21 tataranetos.
Em 21 de maio de 1981, José Epifânio partiu para a eternidade, abrindo
uma lacuna de muita saudade aos familiares e amigos. Pouco antes
de completar cinco anos de seu falecimento, dona Conceição foi
também morar na pátria celestial e novamente houve momentos de
tristeza e de muita comoção.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 062, Nov. 2017
50 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
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D. a Conceição e Vicente Camargos
Quando a vontade de vencer supera as dificuldades da vida,
a alegria de viver esplandece no olhar.
Leobino Filho
Nessa edição de Nossa Gente, falaremos de um casal muito conhecido
que teve uma longa e duradoura vida matrimonial de 67 anos com
muito trabalho, dificuldades e provações. Apesar disso, foram pessoas
simples, honestas e trabalhadoras. Criaram e educaram uma família
numerosa. Mesmo convivendo com as adversidades da vida, não
desistiram e viviam sempre com alegria estampada em seus rostos.
Dona Conceição Maria de Jesus, nasceu em 12 de fevereiro de 1928,
no município de Divinópolis. Era filha de Antônio Gonçalves dos Santos
e Agripina Maria de Jesus. Vicente Pereira de Camargos, também
nasceu no município de Divinópolis em 15 de dezembro de 1925. Era
filho de Isaac Pereira e Dionísia Francisca de Jesus.
Conceição Maria de Jesus e Vicente Camargos
52
Célio Antônio Cordeiro
Ambos, desde adolescentes, foram acostumados ao duro trabalho
de subsistência familiar.
Ainda bem jovens se conheceram e começaram a namorar. Depois
de um curto período de namoro, contraíram matrimônio no dia 10 de
novembro de 1945, no Santuário de Santo Antônio, na vizinha cidade
de Divinópolis.
Do casamento, nasceram 11 (onze) filhos: Jandira, Isaac Pereira (falecido),
Maria de Lourdes, Agripina, Libério, Marta, Isaac Neto, Antônio,
Dionísia, Luiz Sobrinho e Sebastião (falecido).
Dona Conceição, feliz com seus netos
Dona Conceição, foi uma grande mãe e educadora e, com tantos filhos,
a vida não foi nada fácil. Além de cuidar com muito carinho dos
afazeres domésticos, ajudava muito na criação dos filhos, sempre
com muita luta. Lavava roupas, fazia quitandas para vender e diversos
outros tipos atividades. Sempre muito alegre e prestativa, o que
a fazia uma pessoa carismática e muito popular.
Pessoa de uma fé muito firme, frequentou o Apostolado da Oração,
Conferências Vicentinas e Legião de Maria. Um detalhe que marcou
muito sua vida, foi a alegria e serenidade no semblante, mesmo em
momento de tristezas e dificuldades. Amava muito a natureza.
NOSSA GENTE
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Dona Conceição, Vicente e familiares no Reinado de N. Sra. do Rosário
Vicente Pereira foi também uma
pessoa que muito lurou nos trabalhos
da vida. Foi pedreiro,
carvoeiro, lavrador e fez outros
diversos tipos de trabalho. Sempre
rodeado por vários amigos.
Foi um grande amante de uma
cultura muito bonita de nossa
terra: a Folia de Reis e o Reinado.
No Reinado, participava e gostava
de acompanhar. Fez parte
de um grupo de Folia de Reis por
muitos anos.
O casal na Festa de N. Sra. do Rosário
Gostava muito da música sertaneja e como sua esposa, amava também
a natureza e gostava muito de cultivar plantações.
Viveram casados de 10 de dezembro de 1945 até o dia 12 de setembro
de 2012, quando Dona Conceição partiu para a eternidade.
Vicente Pereira teve um curto período de viuvez. No ano seguinte,
em 2013, no dia 04 de novembro também foi morar na pátria celeste.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 061, Out. 2017
54
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
55
D. a Ermelinda Maria e Melquíades Batista
“Uma comunidade que esquece o seu passado, não tem futuro”.
Dom Joseph Mahfouz
Eu sempre quis dedicar nesta coluna, homenagens a personalidades
do nosso querido distrito de São José dos Salgados. Naquela terra
querida, nasceram e viveram pessoas que muito dignificaram o nosso
município, nossos costumes, valorizando muito a nossa história e
nossa identidade.
Apesar de que nesta parte do livro, a coluna destaca histórias de casais,
a crônica é dedicada na verdade a três pessoas, importantes figuras
do município: Melquíades Batista Gomes de Miranda e dona
Ermelinda Maria das Dores (avós) e Maria Batista Bechelaine (professora
Fia, uma neta).
O casal D. Ermelinda Maria e Melquíades Batista
56 Célio Antônio Cordeiro
Melquíades Batista, nascido em aos 10 de dezembro de 1866, faleceu
em 21 de junho de 1936, em São José dos Salgados, onde está
sepultado.
Melquíades Batista casou-se com dona Ermelinda e tiveram cinco filhos:
Acácio, Maria, Conceição, Izaura e Josias. Este inesquecível casal
permanece vivo na memória de seus netos, bisnetos, trinetos e
tetranetos, em várias localidades de Minas e do Brasil.
Melquíades e sua esposa tivera grande influência, não só em Salgados,
como também, nas regiões mais próximas. Seu nome aparece
na história da vizinha cidade de São Gonçalo do Pará. Em sua casa,
eram recebidos os mais diversos visitantes, viajantes e candidatos,
em busca de apoio político. Lá, também se hospedavam os padres
visitantes e missionários.
Residência de Melquíades e dona Ermelinda, ao final do sec. XIX
O que era produzido em suas terras ia para o comércio das cidades vizinhas;
Divinópolis, Pará de Minas e Itaúna. Foi uma figura muito respeitada.
Homem de muita fé, tinha seu lugar habitual na capela que
ficava defronte a sua residência, hoje casa dos filhos de Josias Batista
Gomes (Jusa). Em fevereiro de 1915, foi designado Inspetor Escolar
da Instrução Primária, pelo município de Itaúna. Hoje, a principal rua
do distrito e a Escola Estadual trazem o seu nome.
NOSSA GENTE
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Dentre descendentes, dona Maria Batista Bechelaine, neta de Melquíades
(filha do casal Agostinho Batista de Souza Leite e de dona
Izaura Batista de Jesus), foi também uma grande personalidade que
construiu uma bela história, não somente no distrito, como também
em Carmo do Cajuru e em Itaúna.
Nascida aos 11 de setembro de 1916, iniciou seus estudos primários
na escola rural de Salgados e, posteriormente, concluindo-os no tradicional
Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje Escola Municipal. Neste
educandário, foi professora e diretora. Seu curso de magistério foi
feito na Escola Normal de Itaúna, concluído em 1934.
Foi uma dedicada educadora, que amava muito a arte de ensinar. Em
Itaúna, trabalhou como educadora no Grupo Escolar Souza Moreira,
em Santanense. Ali, chegou a ocupar a diretoria. Seu grande prazer
era a sala de aula. Foi transferida para o Grupo Escolar Jose Gonçalves
de Melo, onde trabalhou até se aposentar.
A professora Maria Batista Bechelaine e suas colegas do G. E. Princesa Isabel
58 Célio Antônio Cordeiro
Em 1945, casou-se com Nagm Antônio Mendonça Bechelaine. Desse
casamento nasceram quatro filhos. Dentre eles, o nosso querido Pe
José Raimundo Batista Bechelaine.
Dona Maria Batista deixou um
pequeno livro: “Traços de Giz
em Quadro Negro” em que casa
suas memórias pessoais com a
história regional. Ela sempre foi
conhecida por sua fé, o patriotismo,
a família e o magistério.
Suas memórias escolares, como
estudante e depois como professora,
marcadas pela tocante
singeleza, ficaram inacabadas,
pois veio a falecer aos 21 de fevereiro
de 1993, no Hospital Madre
Tereza, em Belo Horizonte,
tendo recebido os últimos sacramentos
por dom Cristiano Pena.
A professora Maria Batista Bechelaine
Para relembrar as vidas destas grandes figuras, no dia 11 de setembro
de 2016, na capela de São José do Salgado foi celebrada uma
missa pelos 100 anos do nascimento de D. Maria Batista Bechelaine
e pelos 80 anos do falecimento de Melquíades Batista Gomes de Miranda.
Um evento religioso e histórico, que contou com as presenças
de muitos familiares e amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 049, Out. 2016
NOSSA GENTE
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D. a Geni Mileib e Dico do Guilherme
Abrace como quem quer acolher, acolha como quem deseja ser solidário,
ajude como quem se coloca no lugar do outro.
Rozilda Costa
Dia 4 de junho de 1914, nascia Geraldo Rabelo da Silva, mais conhecido
como “Dico do Guilherme”, na comunidade de Ribeirão do Cervo,
em Cláudio. Durante a juventude, Dico costumava domar e barganhar
cavalos pelas proximidades daquela cidade. Foi então que, na
comunidade de Ribeiros, em Carmo do Cajuru, ele conheceu uma linda
moça - Geni Mileib - que, coincidentemente, também nascera no
dia 4 de junho, mas de 1923.
Apaixonados, casaram-se no dia 4 de junho de 1952, em comemoração
à data de seus aniversários, e foram morar em Ribeirão do Cervo.
O terreno no qual moravam foi parcialmente inundado pela construção
da Barragem e, com isso, eles receberam uma indenização. Com
a venda do que sobrou das terras, compraramum bom pedaço de terra
em Carmo do Cajuru, onde escolheram viver e criar seus oito filhos.
Dico do Guilherme e Geni Mileib
60
Célio Antônio Cordeiro
Foi chamado de louco pelos familiares, por comprar uma terra sem
muito valor e onde só havia serrado, inviabilizando a criação de gado.
Mas, com a sua amada e alguns filhos, ele persistiu nas terras, desbravando-a
com um carroção de bois, recolhendo e vendendo lenha,
que era o combustível para aquecer todos os fogões do município.
Assim, com a renda da lenha e do leite produzido por algumas vacas,
ele conseguiu construir a Fazenda Gameleira, mais conhecida como
“Casa do Dico do Guilherme”.
Sede da Fazenda Gameleira, a casa do amigo Dico do Guilherme
Com a construção da Barraginha, que fornecia água canalizada até a
estação de trem, Dico do Guilherme cedeu também um espaço para
a construção de uma caixa de captação de água para abastecimento
de uma boa parte da cidade.
Com a construção das torres de transmissão em seu terreno, Dico recebeu
uma indenização que lhe permitiu adquirir uma televisão e um
telefone, o de número 82 dos cem que tinha na cidade. A aquisição da
televisão era um atrativo para os moradores da rua José Fubá, que se
aglomeravam para assistir as telenovelas da época, e o telefone era
praticamente público, diante da escassez de comunicação, que fazia
esse meio de comunicação ser muito usado pela vizinhança.
NOSSA GENT
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Geni Mileib
Lembrança do casamento de Dico do Guilherme
e Geni Mileib, amigos de Cajuru do Cajuru
O casal Dico e Geni, em sua fazenda, se destacava entre os moradores,
pois eles eram muito receptivos, prestativos e simples, permitindo
a pernoite de tropeiros da região, o estacionamento para
charretes e carros de bois de muitos (que vinham da roça para as festividades
religiosas).
Sempre estavam a saciar a fome de muitos que vinham procurando
por trabalho, abrigo e comida, além de lhes dar a oportunidade
do primeiro emprego, contribuindo com a formação do caráter dos
mesmos.
Devido a essa aproximação com os mais carentes, eles se tornaram
integrantes ativos de várias instituições como creche, clube das
mães, comunidade São Vicente de Paula. Juntamente com alguns
parceiros mais influentes, conseguiram legalizar a aposentadoria de
muitos moradores, causando admiração e fortalecendo amizades.
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Célio Antônio Cordeiro
Com a ajuda do saudoso primo Nagib Mileib e de Amnys Rachid, eles
transformaram o serrado sujo, às margens da estrada, fundando o
bairro Nossa Senhora do Carmo, e permitiram ainda, que os trabalhadores
de baixa renda adquirissem lotes para construção de suas
casas, efetuando o pagamento de forma parcelada.
Visando também o desenvolvimento com qualidade do bairro, Dico
do Guilherme doou, em 1980, duas quadras para a construção de
uma escola, atualmente nomeada Escola Estadual Vigário José Alexandre.
Além da escola, foi doado também toda a faixa entre a praça
do bairro, até a capela de São Francisco que hoje é ponto de referência
para população.
O casal Dico do Guilherme e dona Geni Mileib, que apesar de não terem
sido nenhuma autoridade no município, tiveram uma passagem
notória, devido ao respeito e simplicidade com que tratavam as pessoas
e pela visão futurista para desenvolvimento do bairro e de nossa
querida Carmo do Cajuru
JORNAL BOCA DA MATA, n. 009, Jun. 2013
NOSSA GENTE
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D. a Lia e Dico Alexandre *
O Amor nasce da Fé, vive da Esperança e morre de Caridade.
Gian Cario Menotti
Nesta edição de Nossa Gente, vamos falar de um casal exemplar,
nascido e criado no simpático distrito de São Jose dos Salgados!
Fé, esperança e caridade são as maiores virtudes de um cristão. Elas,
porém, se resumem no amor, sem o qual nada que fazemos tem valor
ou sentido diante de Deus. O casal sobre o qual de agora em diante
escrevemos personificou estas virtudes e em tudo viveu o amor.
Alexandre Lopes Filho, mais conhecido como ‘Dico Alexandre’ e Maria
Araújo Lopes, chamada carinhosamente de ‘Dona Lia’.
Dico Alexandre e Dona Lia, abraçados pelo bispo D. José Belvino Nascimento, nas bodas de ouro,
em São José do Salgado
* O autor agradece a colaboração de Isac Ferreira Soares na elaboração desta memória
do exemplar casal D. a Lia e Dico Alexandre.
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Célio Antônio Cordeiro
Alexandre nasceu em São José
dos Salgados, no dia 22 junho de
1924, filho de Alexandre Lopes
Camargos e Maria Ana de Jesus.
Dona Lia nasceu em São José
dos Salgados no dia 11 de janeiro
1906. Filha de Antônio Araújo
Lopes e Maria Vicente de Jesus.
Eles nasceram e foram criados
em São José dos Salgados. Ambos
de famílias religiosas, cresceram
recebendo a fé através
dos pais. Deles também herdaram
o gosto pelas coisas de Deus
e a disponibilidade para servi-lo.
Se casaram em 21 de setembro
de 1942. Tiveram 11 filhos: Maria
dos Anjos, José Raimundo, Maria
José, Antônio Paulo, Alexandre,
Jair, Jadir, Maria Angelina,
Jurandir, Vandeir e Maria Aparecida.
Dos filhos receberam 20
netos e 11 bisnetos.
Dico Alexandre, em Aparecida do Norte
Dona Lia e Dico Alexandre na festa de casamento de um filho
NOSSA GENTE
65
Parentes de Dico Alexandre
Como receberam dos pais, também transmitiram aos filhos e netos
a fé e todos bons exemplos de uma família religiosa. Este casal era
conhecido por todos pela sua união, humildade e simpatia. Sempre
juntos em todos os momentos.
O senhor Dico Alexandre se destacava na comunidade pela sua dedicação;
servia o Altar do Senhor e seu povo. Foi Dirigente de Culto, Ministro
da Eucaristia, membro e animador do Congado e Folia de Reis.
Devota de Nossa Senhora Aparecida, uma verdadeira filha de Maria,
Dona Lia acompanhava seu esposo nas missas do final de semana e
em todas as festas da comunidade. Ela como membro do Apostolado
da Oração, fazia valer a fita que carregava entre os ombros. Era uma
missionária do Coração de Jesus.
Dico Alexandre no Reinado de São José do Salgado
66
Célio Antônio Cordeiro
Dona Lia e Dico Alexandre, no batizado do neto
Este casal morou quase toda vida na conhecida Volta do Brejo e, por
isso, se deslocavam de uma distância considerável para estar presentes
na comunidade. A distância, a estrada de terra sem iluminação,
nada disso era desculpa ou justificativa para se ausentarem das suas
obrigações. Sempre juntos, nunca separados. O exemplo deles pode
nos ajudar e muito nos dias de hoje. Pois viveram quase 64 anos casados.
Dona Lia faleceu aos 80 anos, no dia 04 de setembro de 2006. O senhor
Dico, no mesmo ano, aos 19 de dezembro, com 82 anos. Foram
ao encontro do seu Criador, para lá também continuarem lado a lado
como aqui sempre estiveram.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 081, Jun. 2019
NOSSA GENTE
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D. a Maria José e Moussa Bcheleny *
Há seis requisitos necessários para um casamento ser feliz:
o primeiro chama-se Fé, e os outros cinco, Confiança.
Elbert Hubbard
Uma das causas de muitos problemas que as famílias e a sociedade
atualmente enfrentam está na ausência de valores, na dificuldade de
transmiti-los através da educação.
Um modo interessante de manter e repassar valores às gerações novas
é a lembrança e comemoração dos fatos e personagens familiares.
Para toda pessoa, é significativo saber que está inserida numa
tradição, que tem história, uma identidade e origem. É estimulante,
isto é, faz bem à nossa autoestima.
No último 30 de agosto, completou-se um século da celebração matrimonial
que consagrou a união dos avós paternos deste articulista.
Dona Maria José e Mussa
* O colunista agradece a gentileza do padre José Raimundo Batista Bechelaine em ceder
a crônica “Cardenetas de Mussa”,que homenageia o notável casal Maria José e Mussa
68 Célio Antônio Cordeiro
O casamento uniu um jovem
imigrante à tradicional família
dos Mendonças de Pará de Minas.
Alguns destes vieram para
o distrito de Sant’Ana (hoje Itaúna),
onde viveram até o fim de
suas vidas: Jose Tito de Oliveira
com a esposa Maria José Mendonça
e os filhos Vicente, João,
Alzira, Isabel e José.
Voltemos no tempo: começava
o ano de 1892. Em Salima, nas
encostas do monte Líbano, bem
perto de Broumana e de Beirute,
quase às margens do mar Mediterrâneo,
aos 20 de janeiro,
nasceu Mussa (Moisés). Os pais
eram Jamile Mitre e Tanios Nacif
Bcheleny. A Família era cristã
Maria José e Mussa, jovem casal
maronita, como lá se diz. Católica,
como se diz aqui. No Oriente Médio, a pertença religiosa tem
significado também jurídico e político. Aos 15 anos, com parentes e
conterrâneos, veio para o Brasil. Nunca mais o rapaz veria seus pais
e sua terra.
A viagem, longa e penosa, fazia-se de navio, passando pelo porto de
Marselha, no sul da França. O irmão Jorge estabeleceu-se em Cláudio,
onde se casaria com a bela Nagibe, ali deixando filhos e netos.
Poucos anos depois, chegaria sua irmã Nímun (Nêmona), para juntar-
-se ao marido Nacife Mitre e à filha Tesbina, que tinham vindo antes.
Mussa abriu loja em Pará de Minas, em sociedade com primo. Em
dia de amoroso encantamento, viu passar uma jovem. Chamava-se
Maria José, o mesmo nome da mãe. No segundo dia, trocaram palavras.
No terceiro dia, pediu-a em casamento. A moça se encantara
com os olhos azuis e sotaque do “turco”. Tinha já um namorado, mas
terminou o namoro.
NOSSA GENTE
69
Em poucos meses casaram-se aos 30 de agosto de 1913, na Matriz de
Nossa Senhora da Piedade. Cem anos são transcorridos.
No comércio, havia a prática das Cadernetas, onde se registravam os
débitos dos fregueses. Numa dessas ‘cardernetas’, no seu português
claudicante, Mussa passaria a registrar os caminhos da sua existência,
o crescimento da família.
Na primeira página escreveu: “a Data de meu casamento que foi no
dia 30 di agosto di 1913 Pará de Minas”. Meses depois: “a 56 orase 50
minutos do dia 19 di jonho di 1914 naseu Najmn o primeiro filho Cidade
do Pará de Minas”. Dois anos transcorreram: “as 9 horas di segonda
feira di dia 13 de nofembro de 1916 naseu segondo filho Armando Parade
Minas”. Um ano depois: “e dia 15 de 9bro de 1917 a 8 e meia oras
da noite falesceu o segondo filho Armando Para de Minas”. Na data
seguinte: “as 1 oras e meia da tardse da sábado de 8 de jonho de 1918
nasceu Jamili tercera Para de Minas”.
Dois anos após: “as 3 horas da noite de Domingo de 23 de maio de 1920
naseu Jamil 4º filho Claudio Minas Brasil”. Como se vê, a família se
havia mudado para Cláudio. Dois anos depois: “as 1 oras da noite de
Domingo 1 di otobro di 1922 naseu 5º filho Abib Claudio Minas Brazil”.
Transferem residência para Itaúna, como consta a seguir: “a 11 oras
no dia terça feira di 1 di abril di 1924 naceu o 6º filho Roza Itauna Minas
Brazil”. Dias depois, outro registo: “faleceu Roza”. O ano seguinte
traria outra filha: “a uma ora depois de maio dia di quarta feira de 18 di
março di 1925 naceu Ilena 7ª em Itauna Minas Brasil”. Mais um ano e a
família volta a crescer: “em 20 de jolho di 1916 no dia di terça-feira as
11 oras di noite em cidadi de Itauna de estado di Minas Brazil naceo o 8º
filha por nome di Edelia”. Dois anos mais tarde: “No dia 1º di dezembro
as 4 e meia oras da tarde de 1928 nasseu o 9º filho por nome de Nelson
na cidade de Itauna Minas Brazil”.
Os anos de 1929 e 1930 passariam em branco: “terça feira do dia 17
de Março de 1931 as 7 e meia da tardi naseu o 10º filho o que si chama
Raimondo Itauna”. No ano seguinte: “no dia 29 di maio de 1932 naseu
seu 11º vilho o que si chama Antonio voi na cidade de Itauna Minas”.
70 Célio Antônio Cordeiro
No mês seguinte, registrava-se: “Antonio faleseu no dia 24 di jonho di
mesmo ano”. Um ano se passa; “quarta-feira di dia 7 de jonho di 1933
naseu o 12º. Vilha as 2 oras da tarde di nome di rene Itauna Minas”.
A numerosa família transfere-se para o distrito de Cajuru de Itaúna,
onde nasceria o caçula: “No dia 6 di otubro di 1936 naseu o 13º vilho por
nomi di Antonio no Cajuru moncipio di Itauna”.
Assim se encerra as anotações. Tudo transcrito em letra trêmula. Em
esforçado português, para que os descendentes pudessem ler. A Cardeneta
de Mussa é sagrada, santas letras. É relato de êxodos, amor
e trabalho, e mortes, é bíblia familiar. É história sem fim, que se derrama
no tempo e nos espaços. Aqui e ali, continua a fazer-se e a ser
escrita (J. R. Batista Bechelaine).
JORNAL BOCA DA MATA, n. 013, Out. 2013
NOSSA GENTE
71
D. a Maria Terezinha e Walter da Fonseca
Faça todo o bem que puder. Por todos os meios que puder. De todas as maneiras que puder.
John Wesley
Nesta crônica se misturam alegrias e saudades.* Walter Rabelo da
Fonseca, popularmente conhecido por Sô Tico, entre os amigos
“mais chegados”, por Jacó ou Coronel, nasceu em Carmo do Cajuru,
no dia 8 de janeiro de 1927, filho de Joaquim Rabelo da Fonseca e
Ladomilia da Fonseca e Silva.
Trabalhou como alfaiate e foi funcionário público da Prefeitura Municipal
por décadas. Foi integrante assíduo e dedicado das comissões
das festas de São Sebastião e Nossa Senhora do Carmo. Não media
esforços para ir à zona rural buscar as doações para os festejos, sendo
fervoroso devoto.
* O autor agradece a colaboração de Mirna, Mara, Mary e Miriam, filhas do casal em
destaque, na elaboração desta memória. Texto que agregou um amor incondicional pelos
pais, em nome delas e em nome dos genros, netos e bisnetos:
“Somos frutos dessa árvore Sô Tico e Dona Zinha, que continua plantada e enraizada
em cada um de nós. Eles se foram, mas nos deixaram um legado de amor,
honestidade, união, fraternidade e honradez; valores esses, que jamais serão
esquecidos. A eles o nosso amor eterno e saudades infinitas”.
72 Célio Antônio Cordeiro
Esteve à frente do “Projeto Mobral”, levando a todas as comunidades
rurais do município, a oportunidade da alfabetização e letramento.
Atuou esporadicamente na Banda de Música Santa Cecília, onde tocava
o afoxé e o banjo.
Era um amante do futebol, tendo sido um dos fundadores e um exímio
jogador do Tupy Futebol Clube, seu time do coração. Era torcedor
apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro. Participava ativamente
da ornamentação dos andores da Semana Santa.
Sô Tico e dona Zinha
A esposa do Sô Tico, dona Maria
Terezinha Guimarães Rabelo,
nasceu em Carmo do Cajuru, no
dia 6 de julho de 1935, filha caçula
de Jose Jeovah Guimarães
e Maria Elísia Guimarães. Dona
Zinha era conhecida pelo seu
rosto angelical, sua doçura e seu
sorriso encantador.
Foi costureira por muitos anos e gostava de confeccionar roupas para
crianças, onde mostrava suas prendas em bordados, rendas, tricô e
crochê. Casou-se aos 19 anos, com o Sô Tico, no dia 30 de setembro
de 1954.
Dona Zinha foi colaboradora da Paróquia Nossa Senhora do Carmo,
onde teve grande participação no Coral Nossa Senhora do Carmo,
ornamentação de altares da Matriz e dos andores de São Sebastião,
Nossa Senhora das Dores, Senhor dos Passos, Cristo Ressuscitado,
São Vicente e outros. Tarefas essas sempre auxiliadas pelo seu esposo.
Tomada de zelo, confeccionava e bordava as vestimentas, túnicas,
anjos, arranjos e flores para as imagens e andores, conferindo
sua originalidade em toda a ornamentação.
O casal teve quatro filhas: Mirna, Mara, Mary e Miriam. Seis netos:
Eduardo, Leonardo, Bernardo, Renato, Anna Elísia e Rafael. Hoje
tem dois bisnetos: Gabriel e Rafael, que, infelizmente, não vieram a
conhecer.
NOSSA GENTE
73
Sô Tico, ladeado por dona Zinha e filhas
Eles eram muito religiosos e testemunhavam essa espiritualidade,
recitando diariamente o Terço e sendo assíduos na missa dominical.
Foram membros da conferência Vicentina Nossa Senhora Auxiliadora.
Participaram por muitos anos dos grupos de Encomendações de
Almas, tradição antiga de nossa cidade.
Sô Tico, ladeado por dona Zinha, filhas, genros e netos
74 Célio Antônio Cordeiro
Sô Tico e Dona Zinha, viveram e seguiram os mandamentos de Deus
e sabiam que neles encontrariam proteção e valorização da vida. Viveram
juntos como a vida sendo um privilégio, em desafio, um sonho,
uma esperança e uma missão.
No dia 17 de setembro de 1997, Sô Tico partiu para a eternidade, deixando
um vazio muito grande. Dez anos depois, no dia 10 de maio de
2009, foi a vez de Dona Zinha ir para junto do Pai e ao encontro de
seu companheiro de caminhada.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 091, Abr. 2020
NOSSA GENTE
75
D. a Preta e Salomão *
Amar é sentir na felicidade do outro a própria felicidade.
Leibnitz
Maria Vilela Fonte Boa (Dona Preta), nascida no dia 11 de julho de
1925, na comunidade de Cláudio. Filha de João Vilela da Fonseca e
Ambrozina Ferreira de Jesus. Casou-se com Salomão Fonte Boa, filho
de Jorge José Fonte Boa e Afonsina da Fonseca Fonte Boa. Nascido
em um distrito dessa cidade, no dia 27 de novembro de 1918.
Salomão e Dona Preta, casaram na Igreja da matriz de Nossa Senhora
do Carmo, no dia 27 de maio de 1944. Depois de casados foram
morar na fazenda de seu pai, chamada “Canta Galo”. Viveram nesta
fazenda, felizes, por 10 anos e tiveram 5 filhos: Dora Stela, Maria
Cleusa (Ita), Dinajara, José Fernando e Jane.
Dona Preta (Maria Vilela) e Salomão Fonte Boa
* O autor agradece a colaboração de Ita Fonte Boa na elaboração desta memória do
exemplar casal D. a Preta e Salomão.
76
Célio Antônio Cordeiro
Dona Preta tinha um jeitinho doce, uma beleza especial, mas seu coração
era de uma verdadeira guerreira, batalhadora, que acalmava
com sua ternura e vencia com sua paciência. Sabia enfrentar a dor
e a perda, aquela que nunca tombava pelas armadilhas da dor. Era
um diamante lapidado por Deus, um verdadeiro orgulho para quem
a conheceu.
Era muito religiosa. Fazia parte do Apostolado da Oração, “Sagrado
Coração de Jesus”. Frequentava a Conferência de São Tarcísio. Gostava
de fazer caridade; sempre ajudava os menos favorecidos.
Dona Preta e Salomão, em reunião de família com filhos e netos
Salomão sempre foi amante da leitura. Seu sonho de juventude era
fazer odontologia, mas faltou-lhe oportunidade. Ele sempre dizia:
“Estuda, o estudo é muito importante para a vida, é através dele que
teremos um futuro melhor”.
A única vez que um filho conseguia um abraço dele ou um parabém,
era quando apresentava um diploma. Por esse motivo deixou a fazenda
e veio para a cidade em busca do conhecimento para os filhos.
A cidade era outro mundo, teve que adaptar a uma nova vida.
NOSSA GENTE
77
Acostumado com a vida do campo, mudou a sua profissão. Comprou
então uma serraria, que veio a dar muito certo. Tudo do jeito que precisava.
Os filhos estudando e ele se dando bem na nova profissão.
Alguns anos depois, com o falecimento da sua mãe, vendeu a serraria
e voltou para a fazenda.
Salomão adorava ver filmes. Sua paixão era tão grande que comprou
o cinema da cidade. Quando surgiu a tevê a cores, o filme passou a
não dar mais retorno financeiro, então, foi obrigado a fechar.
Dona Preta e Salomão, em confraternização familiar
Grande homem de caráter, exemplo de pai, marido e cidadão. Um
exemplo que transmitiu aos seus filhos, as maiores heranças que um
pai poderia ensinar: ter fé, educação, respeito.
Uma das características em que ele se destacava era ser solidário. Estava
sempre disposto a ajudar. Fez parte das festas de São Sebastião,
era um dos coordenadores. Foi vicentino por muitos anos, ajudava a
cuidar dos socorridos. Naquela época, muitos sofriam com a tuberculose,
então, ele deixava seu trabalho para levar os doentes para
fazer tratamento em, Belo Horizonte.
78
Célio Antônio Cordeiro
Dona Preta e Salomão, um casal feliz
Ajudou e foi um dos fundadores da Vila Vicentina. Lembro com clareza
o dia tão abençoado da primeira pedra fundamental, onde foi
colocado uma caixa com documentos e nomes de pessoas, que deram
o primeiro passo na construção de tão grande obra, que até hoje
acolhe pessoas com muito carinho.
Dona Preta e Salomão viveram um grande amor, por mais de 50 anos.
O amor entre ele era tão grande, tão verdadeiro, que nada abalava
e que resistia a qualquer dificuldade. Sempre unidos nos momentos
bons e ruins – e foram muitos. Sempre um ao lado do outro.
Já no leito de morte, Salomão pediu que ela não se casasse de novo e
escreveu uma mensagem para Dona Preta com os dizeres: “Me ensinou
a te amar/ me ensina a te esquecer”.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 071, Ago. 2018
NOSSA GENTE
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D. a Nair Miranda e João Arcanjo
Em casa, entre pais e filhos, pode-se aprender a amar, ter respeito, fé,
solidariedade, companheirismo e outros sentimentos
John Wesley
É sempre muito gratificante para este cronista ter oportunidade de
relembrar de pessoas que aqui viveram, deram seus recados e deixaram
importantes legados, que nos servem de exemplos para sermos
bons cidadãos.
João Pedro Arcanjo, conhecido carinhosamente por João Tocha, apelido
dado por ter sido por algum tempo, portador da tocha que sempre
acompanhava a Banda de Música durante as procissões religiosas
realizadas à noite.
Dona Nair e João Tocha
Nascido em 11 de agosto de 1921, era filho de Pedro Arcanjo e de
dona Rufina. Desde muito jovem, era muito dedicado aos seus pais
e também ao trabalho. Nos anos 1940 conheceu a bonita jovem Nair
Santos Miranda e em 30 de outubro de 1943, contraíram matrimonio.
80 Célio Antônio Cordeiro
Dona Nair e João Tocha, com sua grande família
Dona Nair Santos Miranda, nasceu em 1o de novembro de 1924, filha
de dona Maria da Conceição de Jesus e de Alfredo Miranda. Do casal,
nasceram 12 filhos, quatro deles falecidos. Vivos estão: Geralda,
Geraldo, José Murilo, Antônio, João Batista (Zinho), Valter (Tinho),
Maria José e Marcelo.
O casal sempre batalhou muito para criar a família numerosa. Ambos,
pessoas do bem: ela professora, costureira e quando podia,
através de orações, benzia muitos que a procuravam. Sempre dizia,
quem cura é Deus através da fé. Esse ato benéfico a tanta gente era
feito sem custo, com o intuito de ajudar as pessoas. Foi uma grande
mãe que sempre prezava o bem-estar da família sem jamais deixar
as lidas diárias.
O senhor João Arcanjo, foi um dos operários da construção da barragem
da represa Cajuru, nos anos 1950. Foi funcionário público da
Prefeitura Municipal, onde veio a se aposentar. Exerceu diversos tipos
de trabalho durante sua vida. Trabalhou na padaria de Jamil Antônio
Bechelaine (Sô Nenem) e de Maria de Lourdes Menezes (Nina)
NOSSA GENTE
81
– a esse casal, senhor João e dona Nair, tinham uma imensa gratidão,
tendo-os como verdadeiros irmãos, pois sempre foram muito ajudados
por eles, inclusive na construção da casa onde moraram, como
presente de amigos.
Dona Nair faleceu em 7 de agosto de 1984. João Arcanjo veio a falecer
quase 20 anos depois, ou seja, em 1o de setembro de 2003.
Em belo texto escrito pelo filho Valter “Tinho” Arcanjo, são lembrados
com carinho “várias pessoas amigas de Carmo do Cajuru, filhos
desta terra, e nossos tios Geraldo, Sina e Maria (por parte de pai) e
Heli Benedito (Mãe Preta), Luiz (Dentinho), Doralice, Laurice e Aparecida
(por parte de mãe).
“Dizer o quanto estimamos nossos pais, tios e tias e irmãos, é chover
no molhado, pois sempre fomos e ainda somos muito unidos e
Carmo do Cajuru é a nossa casa, é aquela cidade onde recebemos a
todos por igual. Feliz por morar aqui, feliz pela família que temos,
feliz pelos amigos... de nossa terra, nossa gente”.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 084, Set. 2019
82 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
83
D. a Teresa Maia e Abib Bechelane
O casamento feliz é e continuará a ser a viagem de descoberta
mais importante que o homem jamais poderá empreender.
Soren Kierkegaard
Quando deparamos com história de casais que tiveram longa vida
matrimonial, podemos deduzir que ao longo trajeto de suas vidas
houve amor, compreensão, doação e cumplicidade. Então, vamos falar
sobre um casal que exemplifica bem esses requisitos: dona Tereza
Maia Bechelane e Abib Antônio Bechelane.
Abib Antônio Bechelane, mais conhecido como Rabib, nasceu na vizinha
cidade de Cláudio, no dia 1o de outubro de 1922, filho de Moisés
Antônio Bechelane, natural de Salima, no Líbano, e Maria José de
Oliveira, natural de Pará de Minas.
Dona Tereza Maia e Abib Bechelane
84 Célio Antônio Cordeiro
Era o terceiro filho de nove irmãos. Veio para Carmo do Cajuru por
volta de 1934, depois de ter residido em Cláudio, Pará de Minas e
Itaúna. Fixou residência em Carmo do Cajuru e, na década de 1940,
conheceu a senhoria Tereza Maia, com quem se casou em 28 de setembro
de 1946. Ele tinha 24 anos e ela, 18. Tiveram oito filhos: Múcio
(que faleceu ainda bebê), Sandra, Elizabeth, Geraldo, Ronaldo,
Samira, Ricardo e Antônio Carlos e mais 13 Netos e 9 bisnetos.
Teresa Maia Bechelane nasceu em 19 de julho de 1927, em Carmo do
Cajuru. Era filha de um segundo casamento de Augusto Domingues
Maia e dona Maria Augusta Maia (Licota)
Rabib exerceu diversas atividades
na cidade. Trabalhou como
seleiro e sapateiro, além de ser
proprietário de um curtume e de
um açougue. Em 1966, aos 44
anos, abriu a loja “Casa Abib”,
na rua Tiradentes, onde ficou
por um bom tempo. Depois, mudou-se
para uma sede própria,
na mesma rua, administrada por
ele e pela sua esposa Teresa por
vários anos.
Dona Tereza e Abib, comemoram Bodas de Ouro
Na loja, vendia presentes; utilidades
domésticas; tecidos para
cama/ mesa/ banho; roupas e
aviamentos. Nos últimos anos,
as vendas se concentraram em
tecidos e aviamentos.
No comércio, Rabib e dona Teresa tornaram-se pessoas muito populares,
construindo muitas amizades, tanto da cidade, como no meio
rural. Ele se identificou tanto com sua profissão de comerciante de
loja, a ponto de muitos clientes se referirem a ele como o “Rabib da
Loja”. Embora não tenha sido somente esse o seu ganha-pão, era sua
NOSSA GENTE
85
base econômica e que auxiliava muito em manter boa criação e educação
da família, conforme já mencionamos, antes de envolver-se
em labores diferentes.
Aposentou-se com 85 anos. Durante muito tempo, exerceu um belo
trabalho voluntário de ser Juiz de Paz em nossa cidade. Realizou um
grande número de casamentos no cartório de Carmo do Cajuru. Faleceu
em 25 de agosto de 2012, aos 89 anos.
Dona Tereza e Abib, celebram com os filhos
Dona Teresa, além de uma grande esposa e companheira, cuidava
muito bem de sua numerosa família. Trabalhou como servente no
Grupo Escolar Vigário José Alexandre, hoje E. E. Vigário Jose Alexandre
por mais de 10 anos.
Era exímia costureira, confeccionava camisas, calças, fronhas e lençóis.
Foi uma pessoa, tranquila, simples e serena. Gostava muito de
contar os ‘causos’ de sua mocidade e cantar as músicas de sua época.
Apreciava muito os almoços de domingo com os familiares. Faleceu
em 31 de dezembro de 2014, aos 87 anos.
86 Célio Antônio Cordeiro
Rabib e Teresa viveram casados por mais de 66 anos. Tiveram o privilégio
e a graça de comemorarem juntos aos familiares, várias bodas
de matrimônio.
Além da dedicação ao trabalho, tinham olhares e ações em prol de
uma boa criação da família. Sempre foram pessoas boas e acolhedoras
no meio social.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 097, Out. 2020
NOSSA GENTE
87
88 Célio Antônio Cordeiro
MULHERES INESQUECÍVEIS
NOSSA GENTE
89
90 Célio Antônio Cordeiro
D. a Afonsina do Juca
Na sua casa humilde e abençoada não faltava coragem, dedicação, carinho, fé e bondade.
C.A.C
Afonsina Silva Moreira, provinda de família humilde, nasceu em 8 de
janeiro de 1933. Desde sua infância e adolescência, já se mostrava
uma pessoa muito dedicada ao trabalho.
Ainda bem jovem, casou-se com José Moreira Filho, também uma
ótima pessoa e muito trabalhador, com quem conviveu por longos
anos, até a viuvez. Deste casamento, surgiram 13 filhos e com a família
tão numerosa, ainda tiveram o lindo gesto de adotar uma criança
desamparada.
Durante sua vida, foi uma verdadeira guerreira. Carregava consigo
uma imensurável alegria, marcada por suas canções. Esposa e mãe
muito comprometida, sem deixar de dar toda a atenção a vida caseira,
que não era nada fácil, ainda se dedicava muito às festas religiosas
da cidade.
Dona Afonsina, na ala das baianas da Escola de Samba Unidos do Pavão Dourado
NOSSA GENTE
91
Dona Afonsina Silva Moreira e José Moreira Filho
Sempre teve a admiração de vários padres, que por aqui passaram.
Ficavam impressionados com seu modo de viver. Com tanto trabalho
e provações, que são muito comuns às mães de famílias numerosas,
ainda deixava transparecer em seu semblante a alegria e o grande
amor pela vida.
Foi uma pessoa que se destacou muito nas festas do Reinado, uma
das principais manifestações culturais de Carmo do Cajuru.
Católica fervorosa, sempre marcava presença em celebrações religiosas,
como missas e procissões. Foi Rainha de Santa Isabel por
muitos anos. Tinha um enorme prazer em receber em sua casa as
guardas de congo.
Dona Afonsina do Juca, entre os netos Renata e Joel
92 Célio Antônio Cordeiro
Familiares de Dona Afonsina, em apresentação de Reinado
Dona Afonsina, presença marcante nas comemorações do Reinado
Dona Afonsina se destacou muito em outra festa tradicional de Carmo
do Cajuru, o Carnaval de Rua. Por várias vezes, apareceu na linha
de frente, na Escola de Samba Unidos do Pavão Dourado.
Sempre foi uma pessoa de muitas amizades e de uma incrível popularidade.
Com sua alegria sempre estampada no rosto, acolhia a
todos sempre com uma boa e animadora conversa.
NOSSA GENTE
93
Com o passar dos tempos, a família aumentava cada vez mais, surgindo
um grande número de netos e bisnetos. Os filhos e netos a tinham
como a grande matriarca que dava e recebia o carinho de todos.
Em 21 de fevereiro de 2010, com a saúde bastante debilitada, veio a
falecer. Sua morte causou muita tristeza, não só nos familiares como
também ao grande número de amigos e admiradores.
Dona Afonsina nos deixou vários exemplos: honestidade, alegria de
viver, dedicação ao trabalho e principalmente a fé. Para quem a conheceu,
deixou também muita saudade.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 019, Abr. 2014
94 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
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D. a Ana Izabel de Jesus
Educar-se é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano.
Paulo Freire
Ana Izabel de Jesus, filha de Antônio
Gomes Neto e Izabel Batista
de Miranda, nascida em 29 de
setembro de 1907 ,em Carmo do
Cajuru, foi a primeira normalista
e professora formada da cidade.
Iniciou seus estudos com professor
particular, na zona rural,
no distrito de São José dos Salgados,
com o professor Roberto
Mourão. Em Carmo do Cajuru,
teve aulas com a Dona Josefina,
também professora particular,
uma vez que não havia ainda o
Grupo Escolar.
Terminando o curso considerado
primário, hoje as quatro primeiras
séries do Ensino Fundamental,
foi continuar os estudos em
Itaúna, na Escola Normal Manoel
Gonçalves., onde foi aprovada
no exame de Admissão, em
1925.
Ana Izabel de Jesus, uma das primeiras
professoras do Grupo Escolar (hoje, Escola
Municipal) Princesa Isabel (1929)
96
Célio Antônio Cordeiro
Na época, o curso de formação
para professor correspondia ao
Ensino Médio com a duração de
três anos. Em 1928, formou-se
normalista e voltou para Carmo
do Cajuru, quando foi admitida
como professora no Grupo
Escolar (hoje Escola Municipal)
Princesa Isabel, em 1929. Esta
escola fora inaugurada no ano
anterior.
Na Escola Princesa Isabel, foi
Ana Izabel, formanda de Magistério (1928)
professora primária por muitos
anos e, por suas qualidades pessoais
e profissionais chegou à Diretoria da Escola, cargo que ocupou
por quatro anos. Mais tarde, foi Auxiliar da Diretoria, aposentando-
-se depois de completar 25 anos de carreira em 1954.
Foi casada com Joaquim Custódio da Silva e, após a aposentadoria,
passou a viver, até 1990, na fazenda Recanto da Felicidade, nome
dado por ela àquele lugar impregnado de amor e paz.
O casal Joaquim Custódio Silva e D. Ana Izabel de Jesus
NOSSA GENTE
97
Professora Ana Izabel, e suas colegas do grupo Escolar Princesa Isabel, anos 1950
Teve sete filhos: Célio ( falecido ainda criança ), Maria Helena, Carlos,
Cloves, Custódio, Claudionor e Maria Inês.
Sempre muito romântica e apaixonada pela fazenda, deixou para os
filhos, a mesma paixão pelo lugar onde passou muitos anos da sua
vida. Pessoa curiosa pelo saber, alegre, educada e feliz viveu até os
94 anos. Faleceu em maio de 2001. Deixou saudades eternas e marcou
presença na vida de quem a conheceu .
Em vida, recebeu homenagens da Câmara Municipal (Comenda Caa-
-yuru), da Escola Municipal Princesa Isabel e também do Rotary Clube
de Carmo do Cajuru.
Aualmente, dá nome à Casa da Cultura de Carmo do Cajuru, instalada
na antiga Casa Paroquial.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 013, Nov. 2013
98
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
99
D. a Balbina Gonçalves *
A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma
e a eleva acima de sua condição
Aristóteles
É incabível falar de música e de
cultura em nossa querida Carmo
do Cajuru sem deixar de lembrar
e de falar em Balbina Gonçalves
ou simplesmente Dona Bininha,
como ficou carinhosamente conhecida
por todos.
Nascida em Carmo do Cajuru,
em 1º de novembro de 1917, dia
dedicado a todos os santos, filha
de Juscelino Gonçalves e de
Dona Maria Santos. Seus avós
maternos foram: Cristino Marra
da Silva e Dona Maria Cândida.
Pelo lado materno, era neta de
Dona Ana Maia e Francisco Caetano.
Iniciou seus estudos, no Grupo
Cantora cajuruense Balbina Gonçalves (Bininha) Escolar Princesa Isabel, sendo
sempre uma aluna de grande
destaque, tanto no aprendizado, quanto em participações artísticas
que se realizavam naquele educandário.
Mais tarde, tornando-se professora (leiga) no mesmo Grupo Escolar.
Era portadora também do dom de ensinar e educar bem as crianças.
* O autor destaca a contribuição do jornal “Sol Nascente”, na elaboração desta memória.
100
Célio Antônio Cordeiro
Bininha no coral N. Sra. do Carmo, nos anos 1970, em apresentação na Matriz
Bininha dedicou grande parte de sua vida à música. Dona de uma voz
muito afinada e marcante, começou a demonstrar esse talento desde
os tempos de criança, quando era aluna do Princesa Isabel e como
coroadeira no mês de maio na matriz Nossa Senhora do Carmo.
Ainda muito cedo, passou a integrar ao coral da Matriz, fato que durou
por mais de 60 anos.
Nas atividades pastorais da Paróquia, sempre se destacou pela boa
vontade e pelo amor ao trabalho, em prol da igreja e do povo. Fez
parte do Conselho Pastoral Paroquial, foi ministra da Eucaristia,
Apostolado da Oração e Pastoral Carcerária.
Quando chegava a Semana Santa, fazia um trabalho difícil de ser
exercido: além de cantar no coral, se responsabilizava em repartir
envelopes nas casas e no recolhimento de contribuições.
Sua morte aconteceu de forma inesperada, em plena atividade no
que ela amava tanto: cantar no Coral da Matriz (Coral Nossa Senhora
do Carmo). No sábado, dia 21 de janeiro, depois de assistir à missa
das 19 horas, sentiu uma forte dor de cabeça, sendo hospitalizada no
domingo de manhã e vindo a falecer seis dias depois.
NOSSA GENTE
101
Bininha no coral N. Sra. do Carmo, já regido pelo jovem Edson Vilela, ao início dos anos 1980
Na manhã do dia 27 de janeiro de 1994, tivemos a triste notícia de
seu falecimento, abrindo assim uma grande lacuna, principalmente
na música sacra e litúrgica de nossa cidade. Foi celebrada uma missa
de corpo presente, pelo padre Amarildo José de Melo, com a homilia
proferida pelo padre José Raimundo Becheleine e em seguida o sepultamento
no cemitério local.
Até hoje, recordamos com muita saudade, dos tempos em que ela
cantava os motetos na Semana Santa, as ladainhas no mês de maio,
no coral em celebrações religiosas e em tantos outros eventos, em
que ouvíamos a sua bela e inconfundível voz.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 034, Jul. 2015
102
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
103
D. a Conceição Maria de Jesus
“A beleza está na simplicidade... Está no olhar...
A beleza é uma brisa suave de um coração cheio de fé, esperança e amor”
Aristóteles
Esta crônica é dedicada a dona
Conceição Maria de Jesus, nascida
em 3 de agosto de 1922, na
comunidade de Boa Esperança,
no município de Divinópolis, e
posteriormente veio morar em
Carmo do Cajuru.
Provinda de família modesta,
ainda cedo, conheceu as durezas
das labutas da vida para ajudar
os pais e familiares. Era filha
de Antônio Bernardo de Oliveira
e de Dona Maria de Jesus.
Ainda jovem, casou-se com Joaquim
Manoel Caetano, com
Dona Conceição Maria de Jesus
quem construiu uma família numerosa
de 7 filhos: Geraldo Caetano (Deco), Libério, Jésus, Plínio,
João Caetano, Aparecida e Antônio Caetano. Dessa geração, surgiram
30 netos, 47 bisnetos e 11 tataranetos. Foi uma grande esposa e
mãe exemplar, sempre entregue aos cuidados de sua família. Cozinhava
e fazia quitandas com muita arte e perfeição.
Desde a infância, dona Conceição já tinha grande devoção a Nossa
Senhora e a diversos santos. Adolescente, já possuía o hábito de rezar
o Terço todos os dias e com o tempo, descobriu o dom de rezar
pelas pessoas.
104 Célio Antônio Cordeiro
Quando alguém reclamava de algum mal, ela fazia orações pela
pessoa que, depois voltava para agradecer-lhe, porque as orações tinham
feito muito bem para aquele mal ou incômodo.
Com as notícias, foi crescendo o número de pessoas que a procuravam
para solicitar suas orações. Ficou muito conhecida em Carmo
do Cajuru, em cidades vizinhas a até mesmo em outros estados. Sua
casa estava sempre cheia de pessoas que vinham de perto ou de longe
para serem atendidas em orações.
Dona Conceição e o senhor Manoel Caetano
Dona Conceição comemora seus 95 anos, com amigas admiradoras
NOSSA GENTE
105
Ela tinha muito carinho e gostava tanto de atender as pessoas, que
por diversas vezes deixava de se alimentar para conseguir tempo
para rezar por todos que a procuravam naquele dia.
Mesmo aos 95 anos, ainda cheia de vitalidade e saúde, fazia questão
e insistia em rezar pelas pessoas que iam até ela. Era uma pessoa
muito acolhedora, muito alegre. Dançar e andar de barco na barragem
fazia um bem muito grande para ela.
Dona Conceição em um de seus passeios pela represa, com a neta
Em 2013, recebeu o título de Mulher Cidadã, concedido pelo vereador
Anderson Duarte de Oliveira, em reconhecimento ao bem que
ela fazia para tantas pessoas.
Dona Conceição era uma pessoa desprendida de bens materiais e
sem vaidades pessoais. Levou uma vida de santidade, iluminada e
abençoada ao longo da vida, sempre praticando o bem.
Em suas orações, não cobrava de ninguém, sempre revertia ofertas
que lhes eram feitas para pessoas necessitadas. Praticou de maneira
intensa, uma das virtudes mais bonitas: a caridade.
Em 2017, teve a saúde muito debilitada em razão da idade avançada.
Somente assim parou de atender as pessoas em suas orações.
106 Célio Antônio Cordeiro
No dia 3 de maio de 2018, aos 95 anos, veio a falecer, deixando uma
grande saudade e grandes lembranças aos familiares e ao grande número
de pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la. Seus grandes
legados ficarão eternamente gravados nos corações de muita
gente que a admirava e amava.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 101, Fev. 2021
NOSSA GENTE
107
D. a Conceição Vieira de Camargos
Existem pessoas desprendidas e sem vaidades, que se satisfazem apenas em servir
à família e à coletividade, sempre com espírito de amor e de fraternidade
Autoria Desconhecida
Conceição Vieira de Camargos
- Conceição do Queiroz, como
era conhecida e chamada carinhosamente
por todos - nasceu
em Carmo do Cajuru, em 9
de setembro de 1926. Filha de
Joaquim Vieira de Camargos e
Donina Benvinda de Faria. Teve
como irmãos: Maria Benvinda,
João Vieira, Vicente Vieira, Valdemira
e Cleusa.
Em 31 de outubro de 1946, casou-se
com Joaquim Viana de
Camargos, cuja convivência foi
muito bonita. Haja a vista, que
em outubro de 1996, ao lado dos
familiares e amigos, comemorou
as bodas de ouro em uma
linda celebração.
Dona Conceição, benfeitora de Carmo do Cajuru
Joaquim Viana, além de uma ótima
pessoa, foi um esposo muito
presente na vida de Dona Conceição
e dos familiares.
Deste grande e exemplar casal, surgiram os seguintes filhos: Maria
da Conceição, Joaquim Viana (Quinzinho), Romélia, Rosélio, Rômulo,
Ramires e Rildo.
108
Célio Antônio Cordeiro
Dona Conceição faleceu em 9 de março de 2010, sendo sepultada no
dia seguinte após velório muito comovente, onde recebeu várias homenagens
de entidades religiosas e filantrópicas. Dona Conceição,
sempre será lembrada não só pelos familiares, mas também por todos
quem com ela tiveram oportunidade de conviverem.
Esteve presente em diversos movimentos religiosos, sociais e beneficentes,
sem deixar é claro, de cumprir com muito zelo, o seu exemplar
papel de grande esposa, de mãe e de avó tão querida. Participou
ativamente do movimento vicentino, que ajuda muitas pessoas carentes,
sendo uma das fundadoras das Consocias. Teve uma brilhante
atuação na criação da Creche Divino Espírito Santo, do Clube de
Mães e Associação de Artesanato.
Dona Conceição e seus filhos, numa festa de aniversário:
Rômulo, Ramires, Quinzinho, Rosélio, Conceição, Romélia e Rildo
Quando da autorização por parte da Diocese, do Ministério da Eucaristia
para as mulheres, ela juntamente com Dona Terezinha Avelar,
foram pioneiras de nossa paróquia – serviço que desempenhou com
muito amor e muito zêlo por várias vezes.
Foi pioneira também, das mulheres cursilhistas de nossa paróquia.
Viveu intensamente o movimento, participando não somente de
grupos, como também com muita freqüência das ultreias paroquiais
e diocesanas.
NOSSA GENTE
109
Dona Conceição, desfila com amigos da Unibiótica
Foi uma quitandeira de dar gosto. Por suas mãos eram feitos diversos
tipos de doces, salgados e bolos, entre outros confeitos. Podemos
mencionar dois, que se tornaram famosos: o delicioso bolinho de
feijão e a maravilhosa amêndoa, para compor os agrados aos “anjinhos”
por ocasião das coroações no mês de maio. Além das amêndoas,
outros trabalhos que ficaram muito marcados no mês de maio,
foram a confecção de asas, vestimentas e coroas para as meninas
que se vestiam de anjos.
Dona Conceição sempre se mostrou como pessoa que amava muito a
vida e o trabalh. Mesmo sendo muito comprometida com as tarefas
do lar, ainda encontrava tempo para desenvolver verdadeiras obras
de arte, tudo feito de maneira muito artística.
Foi uma pessoa dedicada e muito carinhosa para com os filhos, netos
e familiares. Pessoa sempre bem humorada, sorridente e de fino
trato. Seu sorriso de sempre, nos transmitia paz e alegrias. Soube
cultivar de maneira notável durante sua vida, grandes amizades, que
ficaram gravadas nos corações e na mente de centenas de pessoas.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 012, Set. 2013
110
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
111
D. a Ester de Melo Malaquias
Não obstante o árduo labor a que se entregava diariamente, como grande mãe e esposa,
sobrava-lhe tempo para se dedicar às coisas do espírito e do coração.
C.A.C
Assim foi a grande figura de D.
Ester de Melo Malaquias, nascida
em 1o de novembro, dia
dedicado a todos os Santos, no
ano de 1916, em Carmo do Cajuru.
Filha de D. Evergista Nogueira
de Melo e Silvino Moreira de
Melo. Seus avós maternos: D.
Marília de Souza e João Maria de
Melo – o primeiro professor estadual
de Carmo do Cajuru.
Dona Ester de Melo Malaquias
Fez parte dos primeiros alunos
diplomados no histórico Grupo
Escolar Princesa Isabel, o primeiro
de Carmo do Cajuru, recebendo
seu diploma com distinção,
em 1928.
Ainda bastante jovem, começou a trabalhar como substituta de D.
Etelvina Ferreira Santiago, mãe do grande professor Odilon Santiago,
de Divinópolis. Lecionou por algum tempo em São José do Salgado,
chegando a reger mais de 70 alunos.
Pessoa muito educada, de uma didática apurada e de fino trato, sempre
somado o espírito altruísta, por onde passava deixava boas lembranças
e muita saudade.
112
Célio Antônio Cordeiro
Em 28 de julho de 1937, casou-
-se com Cândido Campos Malaquias
(Candinho). O casal, teve 9
filhos: Eclair, Orlando, Rômulo,
Laerson, Eulila, Marcos, Dalton,
Evânia e Ester Lane. Trabalhou
por longos anos no Grupo Escolar
Princesa Isabel, escola onde
chegou a ser efetivada. Foi uma
grande mestra, que se destacou
pela forma de lecionar e com a
gentileza em lidar com seus alunos.
Sempre os tratava, como se
fossem seus filhos.
Dona Ester e seu esposo Cândido Malaquias
Com esse seu carisma, até hoje seus ex-alunos relembram com muita
saudade daqueles bons tempos. D. Ester sempre optou por uma
vida simples e dedicada, como esposa, mãe, avó, procurando sempre
até nas menores coisas e acontecimentos, sempre cumprir com seu
dever para com a sua família, para com todos que dela se aproximassem
e para o bem do próximo.
Magali Fonseca e a neta Esterlara, ao lado de Dona Ester
NOSSA GENTE
113
Pessoa muito fervorosa, trabalhou durante muitos anos, como regente
de ensaios e coroações do mês de maio. Amava muito aos seus
“anjinhos”, como dizem os seus filhos; fazia também suas grinaldas
com véus e coroas, tudo pautado em espírito alegre e fraternal.
Acho que nenhum patrimônio excede a uma pessoa que deixa pelos
caminhos da vida a prática do bem, da caridade e do amor. Foi assim
o grande legado deixado por ela, não somente aos familiares, como
também aos ex-alunos e aos amigos.
Cheguei a ouvir de uma pessoa, que foi muito estimada em nossa
cidade – o saudoso Pe João: – “A Ester do Candinho é um grande
exemplo de mãe e até de santidade”. Eu, que tive o grande prazer de
conhecê-la, concordei plenamente com as palavras ditas pelo Padre.
Tinha uma inspiração muito grande para expressar sua Fé, através de
inúmeras e belas mensagens. Lendo algumas, deixo registrado aqui
um poema feito por ela, que muito me encantou:
UM BRINQUEDO DIFERENTE
Jesus brinca comigo, comigo quer sempre brincar,
mas ele tudo faz, para depois eu não chorar.
É um brinquedo diferente, dos brinquedos de criança.
o brinquedo dele dói, mas cria amor e esperança.
Brincando ele tomou-me, dois bons e queridos filhos
mas nunca desviou-me, de seus benditos trilhos,
Eu peço bom Jesus, e desejo de verdade
ponha peso em minha cruz, mas me livre das maldades.
Meu desejo nesta vida, ó meu bom Jesus amado
é que chegando a minha ida, eu daqui saia sem pecado.
Também lhe peço boa sorte, para os outros filhos meus
e que logo após a morte, os conduza para Deus.
Ester de Melo Malaquias
JORNAL BOCA DA MATA, n. 017, Dez. 2014
114
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
115
D. a Hortência Aparecida Ribeiro
Passamos pela vida uma só vez. Importa, pois, saber tirar dela as rosas
que poderão perfumar e enfeitar a nossa existência.
Peixoto da Silva
Dona Hortência, benfeitora de Carmo do Cajuru
Nossa Gente conta um pouco
sobre uma personalidade que,
com seu grande espírito altruísta
e fraternal, fez um bem muito
grande às entidades filantrópicas
de Carmo do Cajuru: D. Hortência
Aparecida Ribeiro.
Nascida em 7 de dezembro de
1932, em Santo Antônio do Monte,
ainda jovem, casou-se com
Pedro José Ribeiro (Coletor), em
4 de fevereiro de 1955. Do casal,
nasceram sete filhos: Jane, Kátia,
Kleiton, Kleiber, Kleise, Kleison
e Kássia. Família numerosa,
mas muito bem educada, principalmente
pelos bons exemplos
que ela espelha dos pais.
Seu marido, Pedro Ribeiro, era funcionário público – um serviço em
que estava sujeito a transferências para diferentes cidades. No final
dos anos 1970, a família residia em Divinópolis e Pedro foi transferido
para trabalhar no SIAT de Carmo do Cajuru. Depois de alguns anos
foi novamente transferido para Santa Bárbara e Barão de Cocais respectivamente.
116
Célio Antônio Cordeiro
Dona Hortência e companheiras da creche Divino Espírito Santo, nos anos 1990
Na década de 90, finalmente, vieram em definitivo para Carmo do
Cajuru. Foi a partir desta data que D. Hortência começou a prestar
serviços voluntários a entidades filantrópicas. Tinha muita facilidade
para angariar grandes amizades e, juntamente com elas, desenvolver
excelentes trabalhos. Dentre diversas pessoas, podemos lembrar
aqui de D. Terezinha Avelar e D. Conceição Viana de Camargos.
Dona Hortência e dona Maria do Quinca, na creche Divino Espíito Santo
NOSSA GENTE
117
D. Hortência ajudou muito no Clube de Mães, Creche Divino Espírito
Santo, Vila Vicentina e se dedicou à criação da Casa do Menor. Em
reconhecimento aos grandes serviços prestados, o seu nome foi escolhido
para dar o nome a entidade que hoje é: Casa do Menor D.
Hortência Aparecida Ribeiro – uma justa homenagem pelo muito que
fez em prol da instituição.
Dona Hortência, em outro momento na creche Divino Espírito Santo
Além de ter sido uma grande mãe de família, foi também uma esposa
exemplar. Ela se sentia muito feliz, quando fazia os outros felizes.
Em 4 de agosto de 1998, com a saúde debilitada, veio a falecer no
Hospital São João de Deus, para a tristeza dos familiares e amigos,
após três anos da perda de seu esposo Pedro Ribeiro. Ambos foram
sepultados em Carmo do Cajuru.
D. Hortência é um nome que sempre será lembrado pelo povo cajuruense.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 035, Ago. 2015
118
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
119
D. a Ilda Rabelo de Carvalho
A verdadeira sabedoria é aquela que encontramos nas coisas simples da vida
Iara Schmagel
Dona Ilda Rabelo de Carvalho
Falando-se de simplicidade,
vamos contar um pouco sobre
a vida de D. Ilda. Filha do casal
Francisco Jose Rabelo (Chico
Mariano) e D. Maria Francisca de
Jesus, ela nasceu na comunidade
de Ribeiros, em 16 de outubro
de 1932, em meio modesto.
Viveu na simplicidade e deixou
para os familiares e amigos,
grandes e importantes legados.
Ainda muito jovem, já se acostumara
com os trabalhos da vida.
Sempre auxiliava seus pais e irmãos
nos afazeres em geral.
Aos 20 anos, casou-se com Joaquim Teles de Carvalho, em 21 de outubro
de 1952. Moraram por algum tempo na comunidade do Sapé.
Meses depois, mudaram-se para a fazenda do Calhau, que ficava
mais próxima dos pais de D. Ilda. Naquela localidade, residiram até
1974, ano em que vieram em Carmo do Cajuru.
D. Ilda foi uma exímia bordadeira e tecedeira. Tecia e bordava em
casa e com isso ajudava muito no sustento da família. Lecionou na
Escola Municipal de Ribeiros, em substituição a outra professora que
licenciara.
120
Célio Antônio Cordeiro
Joaquim Teles de Carvalho, esposo de dona Ilda
D. Ilda e Joaquim Teles tiveram nove filhos: José Rabelo, Maria Nazaré,
Orlando, Clóvis, Antônio Claret, João Batista, Marcelo, Paulo e
Adriano. Em 1986, passou por uma difícil provação com a perda de
seu filho mais velho, José Rabelo. Hoje da descendência do casal,
existem 20 netos e 20 bisnetos.
Conforme já mencionamos, D. Ilda sempre viveu modestamente,
uma vida de muito trabalho, mas pautada por muita fé e diversas
ações sociais e religiosas. Quando criança foi coroadeira no mês de
maio, dedicado a Maria. Foi integrante da Pia União da Filhas de Maria,
catequista e, por ter uma bela voz, gostava muito da música de
corais, chegando a ser integrante por algum tempo, do Coral Nossa
Senhora do Carmo.
Foi uma das primeiras consócias da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.
Chegou a ser dirigente da Conferencia Nossa Senhora Auxiliadora.
Foi também, Ministra da Eucaristia por alguns anos. Viveu uma
vida de oração. Professava muito bem a sua fé, através da reza do
Terço. Foi a primeira catequista de seus filhos. Sempre rezava com
eles nos tempos de crianças.
NOSSA GENTE
121
Grande devota do Sagrado Coração de Jesus, fez parte enquanto
pôde, da Irmandade do Apostolado da Oração. Conforme aparece
em uma das fotos, participou da última Missa celebrada pelo saudoso
padre João Parreiras Villaça, na matriz de Nossa Senhora do Carmo,
no dia 18 de junho de 1982.
Dona Ilda com as colegas do Apostolado da Oração, na Igreja Matriz, junho de 1982
Seu falecimento se deu justamente no dia dedicado ao Sagrado Coração
de Jesus, no dia 30 de junho de 1991, deixando uma lacuna de
muita saudade aos familiares e amigos.
Durante o seu cortejo fúnebre, todos que acompanhavam, entoavam
hinos e cânticos em louvor a Nossa Senhora, pois sabiam da sua
devoção e do grande gosto que tinha pelos cânticos religiosos.
D. Ilda foi um grande exemplo de fé, simplicidade, caridade e do
amor aos familiares e ao próximo. Foi uma pessoa extraordinária,
uma grande esposa e uma mãe muito dedicada aos filhos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 087, Dez. 2019
122
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
123
D. a Isabel Salomé de Castro
A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.
Coelho Neto
Filha de Maria Agripina de Jesus
e João Salomé de Castro, nasceu
no município de Cláudio, na localidade
de Cachoeira de Santo
Antônio (Mon. João Alexandre),
em 28 de outubro de 1938.
Em Cajuru, onde veio morar ainda
menina, Isabel chamava a
atenção pelo belíssimo timbre
de voz.
Isabel Salomé, benfeitora de Carmo do Cajuru
Durante muitos anos, foi coroadeira
de Nossa Senhora, no mês
de maio. Adolescente ainda,
passou a integrar o Coral da Matriz
de Nossa Senhora do Carmo.
Por vários anos, representou com muito talento a figura de Verônica,
nas celebrações da “Semana Santa”.
Como era emocionante, sua voz cálida, ecoando sobre o silêncio contrito
da multidão, enquanto ela exibia a toalha com o rosto doloso do
Senhor! Quem presenciou isso, jamais esquecerá.
Era muito dedicada à Vila Vicentina, e de modo especial, tinha grande
cuidado com o santíssimo Sacramento Eucarístico, na Capela da
Vila. Funcionária da Prefeitura Municipal, trabalhava na Creche Divino
Espírito Santo.
124
Célio Antônio Cordeiro
Gostava muito de crianças e as
acolhia em sua casa. Tinha grande
número de afilhados, aos
quais gostava de dar pequenos
presentes.
Preocupava-se com os filhos das
mães solteiras, muito dos quais
lhe eram dados como afilhados,
que ela aceitava com grande carinho.
Tinha grande afeto também
pelos sobrinhos.
Isabel Salomé, vestida de “Verônica”, na tradicional
encenação da Semana Santa (anos 1960)
Dona Isabel, entre participantes da Catequese da Paróquia de N. Sra. do Carmo
Carmo do Cajuru sempre mostrou grandes talentos na música e Isabel
Salomé, como toda sua família, foi uma fonte de talentos na música
e ela se destacou muito dentre os membros da família.
Isabel detestava política, assunto que evitava. Tinha o sonho de se
aposentar, mas, inesperadamente, faleceu.
NOSSA GENTE
125
Dona Isabel Salomé, integra coral de Nossa Senhora do Carmo, nos anos 1970
Tinha ido a Belo Horizonte, a fim de se tratar da coluna, passou mal
na casa de sua irmã, no dia 28 de agosto de 1998 e veio a morrer antes
de dar entrada no hospital.
Com a morte dessa talentosa cantora, abriu-se uma lacuna no Coral
Nossa Senhora do Carmo, onde tantas vezes proporcionou uma inestimável
e inesquecível contribuição.
Quem teve o privilégio de conviver ou presenciar Isabel em suas
apresentações na música, hoje sente uma imensa saudade. Isabel
Salomé, com sua maneira simples e meiga de lidar com as pessoas,
deixou marcado para sempre o seu nome em nossa história, em nossa
cultura e no coração do povo cajuruense.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 005, Jan. 2013
126
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
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D. a Lalia Guimarães
A esperança é uma ave que pousa na alma, canta melodias sem palavras e nunca cessa.
Emily Dickinson
Maria Rosalina Guimarães, conhecida
carinhosamente como
D. Lalia, nasceu em Carmo do
Cajuru, aos 22 de outubro de
1907. Filha de Aurora Rosalina
Guimarães e Aquiles Guimarães.
Concluiu seus estudos em Carmo
do Cajuru.
A jovem Maria Rosalina Guimarães (Lalia)
Desde os seis anos de idade, começou
a se interessar muito pela
música e já fazia parte da equipe
das crianças que cantavam
lindas canções marianas nas
coroações do mês de maio. Por
influência de familiares, passou
a ter muito gosto pela música e,
na adolescência, já se destacava
na arte instrumental e no canto.
Foi na escola e na família que desenvolveu um grande talento em
recitais e no teatro, que antigamente em Carmo do Cajuru, além de
evento cultural, era momento de interação e muita diversão para o
povo. Todo esse trabalho era feito de maneira totalmente voluntária
e amadora. D. Lalia dedicou mais de 60 anos de sua vida às causas
sociais e religiosas. Executava de maneira brilhante o violino e o harmônio.
Ensinou e ajudou a compor um grande número de músicas
marianas, que ao longo dos tempos eram cantadas e entoadas nas
coroações de Nossa Senhora durante o mês de maio.
128
Célio Antônio Cordeiro
A música Lalia toca harmônio na Orquestra de Instrumentistas de Carmo do Cajuru
Além de ensaiar as crianças que vestiam de anjos, também foi a pessoa
responsável pela execução do harmônio do Coro da Matriz de
Nossa Senhora do Carmo. Participava ativamente do Coro da Igreja
em todas as festas religiosas, que eram celebradas na paróquia.
Nos programas das festas religiosas, o seu nome sempre aparece
como responsável pelo coro e orquestra, trabalho exercido de forma
voluntária, com muito amor e muita dedicação. Com o seu jeito carismático
de lidar com as crianças que participavam de coroações, as
crianças a tinham como se fosse uma mãe.
Dona Lalia, marcante presença com seu harmônio nas celebrações da matriz de N. Sra. do Carmo
NOSSA GENTE
129
Centenas de crianças da época, hoje adultas, incluindo mães e avós,
lembram com muita saudade dos anos que a aquela pessoa tão amável,
inteligente e talentosa fez de bom em suas vidas.
Na celebração da Semana Santa, D. Lalia deixou muitas lembranças,
cantando quando mais jovem ou executando com uma competência
formidável o seu violino ou o lindo som do harmônio da Igreja.
Auxiliava as equipes de figurantes da Semana Santa e das festas da
padroeira, na preparação de ambientes para celebrações. Para faltar
de uma missa cantada em latim, só se fosse por um motivo muito
justificável.
Dona Lalia e seu harmônio
Antes da conclusão do Concílio Vaticano II era muito comum as celebrações
de missas cantadas em latim e as Ladainhas de Nossa Senhora,
que permaneceram por mais tempo, nas celebrações do mês
de maio.
No Apostolado da Oração, fez parte da equipe administrativa e zeladora
por mais de 50 anos. Estas páginas seriam escassas, se fossemos
enumerar tudo que D. Lalia fez de bom para Carmo do Cajuru, terra
que ela sempre amou intensamente; para a Igreja; para a sociedade,
enfim, para o povo cajurense.
130
Célio Antônio Cordeiro
Lalia, na adolescência
Hoje D. Lalia é lembrada como
grande exemplo de bondade,
dedicação e desprendimento.
Faleceu aos 86 anos, no dia 8 de
junho de 1993, mês que a Igreja
Católica consagrou ao Sagrado
Coração de Jesus, que tão bem
ela o seguiu através do Apostolado
da Oração.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 004, Dez. 2012
NOSSA GENTE
131
D. a Laurita Lima Vieira
A Solidariedade e a Caridade, são práticas do Amor real” .
Mônica Christi
Dona Laurita, na sua juventude
Na história da querida Carmo do
Cajuru, sempre se depara com
importantes figuras que não são
cajuruenses, mas para esta cidade
vieram residir e se destacar
em grandes e importantes serviços
prestados em prol da sociedade.
Dentre essas pessoas, vamos
lembrar aqui da inesquecível
pessoa que foi Dona Laurita.
Nascida em Dores do Indaiá, aos
25 de setembro de 1928, ainda
criança, mudou-se para a pequena
cidade de Tapiraí, em Minas
Gerais, onde morou até 1958,
quando veio para Cajuru, juntamente
com os familiares.
Em 16 de janeiro de 1950, casou-se com Joaquim Vieira de Camargos.
Desta união, tiveram 3 filhos: Ronaldo, Maria José e Antônio Eurípedes.
Da descendência do casal, foram 8 netos, um já falecido e dez
bisnetos.
Dedicada esposa, carinhosa mãe e cuidadosa avó sempre atenciosa
para com todos, Dona Laurita, professou a fé católica, com muito
devoção a N. Sra. Aparecida, Sagrado Coração de Jesus e São Vicente
de Paulo. Por longos anos, foi zeladora do Apostolado da Oração.
132 Célio Antônio Cordeiro
Pessoa sorridente, sempre com
o semblante alegre e acolhedor.
Tinha um belo espírito de liderança.
Nos tempos das festas
religiosas, principalmente nos
tempos do saudoso padre João,
seu nome sempre integrava em
comissões organizadoras das
festas e celebrações, o que comprova
em muitos programas
previamente elaborados para
aquelas ocasiões.
No início da construção da Praça
do Cruzeiro, sempre colaborava
com novenas e realizações
Dona Laurita, em seu sorriso compassivo de leilões para angariar fundos,
que muito ajudaram no projeto
da referida construção. Por muitos anos foi a zeladora da capela de
Nossa Senhora Aparecida.
Dona Laurita, em comemoração com o esposo, filhos e netos
NOSSA GENTE
133
Seu trabalho social, foi de grande relevância. Em 21 de agosto de
1969, foi eleita por unanimidade para assumir a presidência da Conferencia
Feminina Nossa Senhora Auxiliadora e sendo reeleita por
diversas vezes nesse cargo.
Juntamente com as consórcias, prestou inúmeros serviços voluntários
em campanhas e ações sociais: Campanha do Agasalho, Natal,
compra de filtros e arrecadações financeiras para os mais carentes
e necessitados. Foi integrante do Conselho Particular da Sociedade
São Vicente de Paulo. Fez parte da Diretoria da Vila Vicentina, onde
também trabalhou com muito zelo, honradez e dedicação durante
7 anos. Em reconhecimento aos grandes serviços prestado a sociedade
cajuruense, em 1º de janeiro de 1990, foi agraciada com a medalha
Caa-yuru, pelos relevantes serviços prestados, em bonita festa
organizada pela Câmara Municipal.
Como já mencionado, Dona Laurita conseguia transmitir paz e força
em suas cativantes falas. Mesmo acometida de complicações de
saúde, por ser diabética, não perdeu a alegria de viver e viver bem,
sempre com fé e resignação, mesmo após perder sua visão. Ela continua
a enxergar, mas com seu coração.
Em 22 de abril de 2011, com a saúde bastante abalada, veio a falecer,
em plena Sexta- Feira da Paixão. Seu falecimento deixou uma marca
de grande saudade aos familiares e amigos.
Em 2 de abril de 2014, foi lembrada por nossas autoridades, como patrona
do CRAS, conforme Lei Municipal 2.423/ 2014, do prefeito José
Clarete Pimenta, em reconhecimento aos inúmeros serviços prestados
de forma voluntária em prol da sociedade cajuruense.
Para finalizar, registramos aqui, uma parte da bela oração de São
Francisco de Assis, oração que sempre a acompanhou em vida: “Senhor,
fazei-me instrumento de Vossa Paz, onde houver o ódio, que eu
leve o Amor”.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 090, Mar. 2020
134 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
135
D. a Luci Guimarães Nogueira*
A bondade em palavras cria Confiança; a bondade em pensamento cria Profundidade;
a bondade em dádiva cria Amor .
Lao Tsé
Dona Luci, na sua juventude
Dona Luci, como era conhecida,
nasceu em Carmo do Cajuru em
04/07/1926, filha de dona Clarinda
Guimarães de Sá e de Otávio
Djalma de Sá. Foi casada com
Sebastião Alves Nogueira e mãe
de três filhos: Geraldo, Conceição
e Cacilda.
A fé e a resiliência eram as suas
marcas registradas: a fé no futuro
melhor, a força interior para
suportar as provações que a vida
insistia em trazer. Aquela resistência
vinha da fé, do silêncio
em porto seguro, lugar de reflexão,
introspecção, onde encontrava
a paz necessária para lidar
com as provas do dia a dia.
Essa é Luci Guimaraes, que teve um amor incondicional pelos filhos
e pelos netos e pela bisneta. E também àqueles que ela sempre procurou
ajudar, anonimamente, mesmo com os poucos recursos materiais,
nos estudos, nas cerimônias de formatura e principalmente
com a oração, seu ponto forte.
* O autor agradece a colaboração do Dr. Alessandro de Sá Guimarães, na elaboração desta
memória, que tão bem retrata a querida e admirável dona Luci.
136 Célio Antônio Cordeiro
No início, Sebastião Alves Nogueira, era um homem de posses, mas
logo os tempos mudaram e as dificuldades começaram e ela soube
permanecer firme diante dos obstáculos e procurou apoiar os filhos
e a família, sempre discreta, dona de casa, pacificadora, teve na simplicidade
e na discrição suas marcas.
Com o passar do tempo, o diabetes trouxe graves problemas de saúde
para o marido e finalmente a separação física; mas, ela permaneceu
forte, esteio da família. Então veio a grande provação, o câncer
no intestino retirado por cirurgia que, anos depois, retornou em metástases,
convidando-a para nova morada, em 28 de maio de 1999.
Dona Luci, foi uma boa representante
de uma classe de milhões
de mulheres, que lutam
uma vida toda, que fazem a vida
acontecer e quase sempre não
aparecem; anônimas, preferem
não ocupar lugar de destaque,
mas estão sempre lá, apoiando
a família, buscando diálogo e o
bem de todos, pessoas sustentadas
pela fé inabalável.
São essas mães que fazem a diferença,
que tornam esse mundo
melhor e, principalmente,
que deixam saudades nos corações
do que ficaram, uma saudade
leve, boa de sentir, que
Dona Luci, uma mãe admirável
traz um sorriso no rosto de quem se lembra dela, por saber, que apesar
de todas as dificuldades, ela soube suportar sem blasfemar. Foi
uma ótima aluna, aprovada em cada prova realizada e passou de ano
da escola da vida, fez do sofrimento o combustível para evolução e
aprendizado.
NOSSA GENTE
137
Dona Luci com o esposo, Sebastião Alves Nogueira, em confraternização com familiares
Com certeza, ela continua trabalhando e auxiliando um número ainda
maior de pessoas do outro lado da vida, do lado de cá, ela ainda
vive em nossos corações, mesmo após décadas da sua partida. Ela
estará sempre conosco, basta buscarmos na memória e a veremos,
discreta e serena, sempre mãe.
DONA LUCI *
Mulher...
Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis
Que divide sua alma em duas
Para carregar tamanha sensibilidade e força
Que ganha o mundo com sua coragem
Que traz paixão no olhar
Que luta pelos seus ideais
Que dá a vida pela sua família
Que ama incondicionalmente
Que se arruma, se perfuma
Que vence o cansaço
Que chora e que ri
Mulher que sonha...
* Poema escrito por Alessandro de Sá Guimarães
JORNAL BOCA DA MATA, n. 070, Jul. 2018
138 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
139
D. a Lucia Guimarães*
A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.
Daniel Duarte
Dona Lucia, na sua juventude
O mundo respirava os horrores
causados da Primeira Grande
Guerra, quando surgiu um vírus
letal que dizimou grande parte
da população mundial, a tão
falada Gripe Espanhola. Era novembro
de 1918. Neste mesmo
ano e neste mesmo mês, no dia
2, na casa da dona Aurora e do
Sô Aquiles Guimarães, nascia a
sexta filha do casal e foi chamada
de Lúcia, que significa, luz.
Em meio à escuridão que pairava
sobre a terra, uma criança foi
iluminada desde o nome. Assim
podemos começar a contar um
pouco da história de Dona Lúcia,
uma pessoa iluminada.
Era uma criança doce, meiga e delicada e assim cresceu entre seus
irmãos e primos que sempre enchiam as casas com sua alegria. Era
um tempo de famílias numerosas que tinham o hábito de frequentar
as casas para uma visita ou uma simples prosa, sentadas às calçadas
ou jardins.
* O autor agradece a colaboração de Marciano Guimarães Mansur, na elaboração desta
memória, que tão bem retrata a inesquecível dona Lucia Guimarães.
140 Célio Antônio Cordeiro
Professora Lucia Guimarães, é imortalizada na denominação do Auditório Municipal
Cajuru era ainda um povoado, onde a fé, a moral e o respeito estavam
presentes em todos os lares. Assim cresceu e desabrochou
aquela menina chamada de luz. Seus traços físicos pareciam os de
uma princesa e sua doçura encantava a todos. Era inteligente e habilidosa,
com um talento especial para bordados, costura, desenhos
e pintura.
Estava já virando uma mocinha, cheia de sonhos, como toda criança,
quando vem a Grande Depressão, a queda da bolsa de Nova Iorque.
O mundo se viu novamente numa grande crise econômica. Era o começo
dos anos 1930. A menina Lúcia, agora com seus 15 anos, e sua
irmã, Olímpia, a fim de continuarem os estudos, ingressaram na Escola
Normal de Itaúna, que era a referência no ensino para meninas
moças. O magistério era uma das poucas profissões exercidas por
mulheres.
Foram 3 anos difíceis, marcados pela distância e por perdas dolorosas
como o falecimento de seu pai, Aquiles, e do padre José Alexandre,
amigo da família. Terminados os estudos e já no esplendor dos
seus 18 anos, a bela moça retornou para Cajuru e começou sua longa
caminhada de meio século, dedicada ao ensino... E eis que alghumas
NOSSA GENTE
141
nações ingressam em novo momento sombrio para toda a Humanidade.
Tem início a Segunda Grande Guerra que durou até 1945. Mais
um período difícil de 7 anos transcorridos.
Entre as alegrias e tristezas que permeiam a vida humana, assim foi
com a menina luz, que agora já era uma moça feita, sem nunca perder
a doçura e a gentileza, que sempre foram características da sua
personalidade.
Foi professora e diretora no Grupo
Escolar Princesa Isabel, passando
pelo Colégio Dom Bosco,
Colégio Demétrio Coelho, Ginásio
Estadual e Escola Estadual
Padre João, sempre com
a mesma elegância e didática,
que a tornaram uma professora
inesquecível. Foi professora de
história, disciplina que amava e
conhecia profundamente.
Participou intensivamente da
vida social e religiosa da cidade
e tinha paixão pelo cinema. Ir ao
cinema era um evento imperdível.
Acompanhou todas as mudanças
em nossa cidade, desde que era um povoado até sua emancipação.
Dona Lúcia teve uma vida longa, vencendo o século XX e
chegando até a primeira década do novo século.
Aos 92 anos, no dia 2 de janeiro de 2010, a menina luz deixava a vida
terrena para se tornar um espírito de luz. Todos que tiveram o prazer
de conhece-la, guarda na memória a simpatia, a voz doce e mansa,
sempre pronta a ensinar e ajudar com paciência e educação. Uma
mulher compreensiva, elegante e moderna que sempre dizia que:
“ser feliz é muito fácil, basta querer” e que “na vida, não precisamos ser
perfeitos, basta ter paciência”.
142 Célio Antônio Cordeiro
Não posso fechar esta crônica sem dar meu próprio testemunho sobre
dona Lúcia Guimarães, que tem uma importância inestimável,
seja na minha trajetória escolar – quando fiz o curso primário no Grupo
Escolar Princesa Isabel, ela foi a diretora, durante os quatro anos
– seja no curso ginasial, quando também tive o privilégio de ser seu
aluno, durante mais outros quatro anos. Uma pessoa extremamente
educada, de fino trato e dona de uma didática impressionante.
Quando pensei em mostrar a história de Carmo do Cajuru através de
fotografias, ela e seu irmão Dr. Geraldo Guimarães, além de grande
incentivo e estímulo, colocaram à minha disposição, um rico e vasto
acervo fotográfico, para que eu pudesse copiar as fotos; fato, pelo
qual sou eternamente grato. Foi uma valiosa contribuição para consolidação
da maior coleção de fotos significativas de Carmo do Cajuru,
com milhares de reminiscências e experiências passadas.
Para concluir esta breve crônica, trazemos as palavras do professor e
escritor Ernane Reis Gonçalves, sobre a educadora dona Lúcia:
“Quando a vida escolar começou a me roubar a infância, Dona Lúcia foi
minha primeira diretora na Escola Princesa Isabel. Mais tarde, fomos
colegas de profissão, pois virei professor e cheguei até a ser diretor
dela, quando ela lecionava na Escola Padre João.
“Muitas lembranças – até de um aniversário dela. Fizemos uma festa,
cantei, dublei rock’n’roll.
“A História que ela nos ajudou a entender – e a gostar – e a fineza e a
educação dela, ajudaram-nos a sermos pessoas melhores”
JORNAL BOCA DA MATA, n. 094, Jul. 2020
NOSSA GENTE
143
Magali Gomes da Fonseca *
A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.
Daniel Duarte
Falar de Magali, a bonequinha de
olhos azuis, é falar de anjos, de
maio (mês de Maria). É falar da
dor e da alegria de viver, do canto
e da dança, de luta e de garra,
da saúde e da doença da vida e
da morte.
A jovem Magali,
Magali nasceu em 25 de julho
de 1975, filha de Marília Lúcia
Gomes Fonseca e Benedito Vital
da Fonseca e teve 6 irmãos. Com
quase dois anos de idade, vestiu-se
de anjo pela primeira vez
e cantou para Nossa Senhora
o “Ave Maria Sublime”. Daí em
diante não parou mais de cantar.
Coroou até os 13 anos de idade.
Estudou no Grupo Escolar Princesa Isabel e na Escola Estadual Pe.
João Parreiras Villaça, onde fez grandes e eternas amizades, entre
colegas de turma, professores e funcionários. Magali gostava de
aventuras, viagens, passeios pelo campo, de conhecer novas pessoas.
Era muito alegre e comunicativa, gostava de teatro, de recitar poesias
mas cantar e dançar eram suas atividades preferidas.
* O autor agradece, sensibilizado, a colaboração de Marina Fonseca e Márcia Gomes,
irmãs e testemunhas da vida de Magali, na elaboração desta emocionante memória.
144 Célio Antônio Cordeiro
Desde pequena, participava dos
vários eventos escolares, religiosos
e culturais da cidade. Na
escola, gostava de recitar, cantar
e, principalmente, dançar o
carimbó.
Na Semana Santa, participou
das encenações em vários papéis,
de figurante à bailarina.
Participou de corais, da Banda
de Música, mas, como ela dizia,
foi no flamenco que ela se encontrou,
onde cantava, representava
e dançava pela Palco Cia
de Artes. Cantava com um grupo,
em casamentos, festas, serenatas,
barzinhos e falava que
iam gravar um CD. A Gincana da
Independência teve um papel
importante em sua vida. Participou
das 10 realizações, liderando
e fazendo várias apresentações.
Outra paixão que tinha era
o Carnaval. Foi participante assídua
do Bloco da Latinha.
A menina Magali, uma verdadeira artista; fez o
máximo em tão pouco tempo de vida heróica
NOSSA GENTE
145
Como todos os seus irmãos, Magali começou a trabalhar desde pequena,
entregando jornais da Banca de Revistas e depois no Restaurante
de seu pai. Com 16 anos teve seu primeiro emprego formal em
Divinópolis e, entre outros empregos, trabalhou por último na 12ª
Superintendência Regional de Ensino. Por todos os lugares por onde
passou fez grandes amizades.
Em todas as reuniões e festas da família, Magali alegrava muito o
ambiente. Gostava de brincar, de cantar e dançar com os sobrinhos,
contar histórias, principalmente com fantoches.
A jovem Magali, antes e depois, com seu filhinho Matheus
Em 1997, então com 21 anos de idade, veio a doença e o início do
calvário em sua vida. Foi diagnosticada com um câncer no osso da
perna e fez sua primeira de nove cirurgias, na longa maratona por
hospitais em BH e Divinópolis.
Em 1999 uma grande alegria em sua vida: nasce seu filho Matheus,
fruto do relacionamento com José Adenilson Peixoto, com quem foi
casada. Magali carregava com coragem sua cruz. Após várias cirurgias
e quimioterapias teve sua perna amputada em 2002.
Apesar de todas as limitações, mantinha-se alegre e participante da
vida da comunidade. Engajou-se na ACCOM, ajudando a promover
eventos para angariar recursos financeiros para manutenção da Casa
146 Célio Antônio Cordeiro
de Apoio dos pacientes com
câncer.
Em 2003 veio a metástase no
pulmão e seu estado de saúde
foi agravando-se. Magali começa
a escrever um livro e sonha
em publicá-lo e doar o que for
arrecadado para o Hospital do
Câncer.
Surgem outras metástases e
aquele ser alegre e sorridente,
em meio à dor, ao sofrimento,
se transforma em um ser sereno.
Em seu olhar notava-se a
pergunta silenciosa: “Meu Deus,
meu Deus por que me abandonastes”?
Em seus últimos dias de vida, no
hospital, sem chance de cura,
com todas as funções vitais já
comprometidas, mas lúcida,
luta pela dignidade do doente.
Doente este que tem um corpo
fragilizado, mas um espírito forte,
que é um ser humano que até
seu último suspiro faz a sua história e merece ser bem tratado.
E sua mãe, que sempre estivera ao seu lado, a acompanha em seus
últimos momentos, rezando, pingando gotas de água em sua boca,
nesse corpo que já não consegue sugá-las, mas tem sede.
E como no céu deve existir muita música e alegria, Magali entrega a
Deus seu espírito e é convidada a coroar, agora, junto com os anjos,
cantando como tanto gostava:
NOSSA GENTE
147
— “Muito lindo é o Céu, todo cheio de alegria;
lá não há noite nem sombras, tudo é um claro dia,
muito lindo é o Céu, onde os anjos estão cantando;
não podemos escutá-los, sem primeiro viver chorando...
Após seu falecimento, sua mãe tomou a iniciativa de realizar seu sonho
e com a ajuda de amigos e parentes editou o livro “A Bonequinha
de Olhos Azuis”, que se encontra a venda em benefício do Hospital
do Câncer.
No encerrar desta emocionate crônica, ouve-se o cantar um trecho
desta música de Sérgio Britto (2001), tocada pelo grupo Titãs, Epitáfio,
música que adotara como filosofia de vida:
Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter
arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer... //
Devia ter aceitado as pessoas, como elas são. Cada um sabe a alegria e
a dor que trás no coração (...) Devia ter complicado menos, trabalhado
menos, ter visto o sol se pôr. Devia ter preocupado menos com problemas
pequenos, ter morrido de amor... // Devia ter aceitado a vida como
ela é. A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier...
JORNAL BOCA DA MATA, n. 068, Maio 2018
148 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
149
D. a Maria de Lourdes Gonçalves *
A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.
Daniel Duarte
Mamãe nasceu no dia 11 de fevereiro
de 1922, dia de Nossa
Senhora de Lourdes. Por isso
Maria de Lourdes. Dois irmãos:
Dico, com quem convivemos
muito e Elza, que não chegamos
a conhecer. A mãe, d. Arcanja,
morou em nossa casa desde que
nos soubemos gente. Sempre
reclamei que nunca fui à casa da
vovó, pois só conheci a Dindinha
(Arcanja) que não tinha casa
aonde eu ir.
Meu pai, o senhor Vicente Inácio
Gonçalves, o popular Dem, trabalhava
no correio e minha mãe,
visionária, acabou assumindo os
trabalhos, vindo a aposentarem-
-se, os dois, como funcionários
Dona Maria de Lourdes
dos Correios.
Um grande coração, nossa mãe criou os nove filhos, Dilermando,
Dalmo, Dinajara, Elza, Ernane, Dágma, Geraldo, Dóris e Dora, e acolheu
os sobrinhos Terezinha, em definitivo, Lelé, esporadicamente,
Lelena e Selma, temporariamente, além dos amigos dos seus filhos:
* O autor agradece a gentil colaboração de Ernane Reis Gonçalves, filho de dona Maria de
Lourdes, na elaboração desta memória que revela o ser elevado que ela foi.
150 Célio Antônio Cordeiro
Fernando Novais, Eustáquio do Brechó, Guinho, Rosalvo, que invadiam
a casa nos fins de semana e desfrutavam de todo o conforto
humilde que os filhos tinham.
Nossa mãe cantava, chegou a cantar no Coral Nossa Senhora do
Carmo, do qual tenho a honra de participar hoje, com minha mulher
Fátima e meu irmão, o Preto. Tenho no prelo um CD, “Máquina de
Costura”, com as canções que ela cantava e cuja capa terá a seguinte
explicação:
“A velha mãe, sentada, costurando na máquina de pé, cantando
a vida, a solidão, a paz, a gritaria da meninada – nove filhos,
mais uns sobrinhos que cria – a felicidade e todas as angústias da
mulher mãe do lar, aguardando o marido e guardando os filhos e
a vida.
A mãe que, antes de ser mãe e ser gente é mulher. E antes de
ser mulher, é lavadeira, cozinheira, arrumadeira, passadeira, às
vezes conselheira, companheira, esposa, e sempre fêmea e quase
sempre costureira que canta, encanta, quebra os quebrantos e as
agonias do homem, da vida e do mundo.
Dindinha, a avó única que eu conheci era assim.
Minha irmã, Naná é assim.
Minha mulher é assim.
A minha mãe foi assim.
Trabalhando no correio onde se aposentou como agente postal,
e em casa, cosendo com s (e com z também), cantando, minha
mãe deixou-nos crescer, a mim e aos meus irmãos, a uma família
que somos nós. Sentada à máquina de costura, uma velha Singer
de pé, depois uma Phillips, posteriormente uma Vigorelli, mamãe
alinhavava camisas e sonhos, chuleava calças e medos, cerzia
anáguas e lembranças, pespontava vestidos e alegrias, caseava
paletós e esperanças, embainhava camisolas e fé, remendava
meias e preocupações, franzia babados e ternuras, acolchetava
corpetes e venturas, bordava fronhas e amor, costurava lençóis
e vida, e, enquanto costurava, minha mãe cantava e deu-nos o
gosto de cantar. Suas canções são o que agora canto”.
E aí virão dezoito canções, algumas sem nome, de autoria desconhecida
ou ignorada.
Mamãe morreu no dia 26 de setembro de 2003, aos 81 anos de idade.
NOSSA GENTE
151
Dona Maria de Lourdes, com os filhos
Deixou-nos a alegria de viver,
uma fé extremada no Sagrado
Coração de Jesus, de cujo Apostolado
da Oração foi presidente
por muitos anos e esta vontade
de cantar.
E todas as vezes que no coral
Nossa Senhora do Carmo cantamos
o “Eu Quisera”, a emoção
me sufoca, lembrando-me da
minha querida Maria do Dem.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 046, Jul. 2016
152 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
153
D. a Maria de Vasconcelos Ribeiro do Ó *
A justiça é o vínculo das sociedades humanas;
as leis emanadas da justiça são a alma de um povo..
Juan Luis Vives
Mariazinha para a família e amigos
mais chegados ou, popularmente,
dona Maria, dona Mariazinha,
dra. Mariazinha ou dra.
Maria do Ó, fez história por onde
passou.
Sua irmã Dora Estela destaca
que Maria se tornou um ícone e
descreve alguns traços marcantes
de sua biografia.
“Primogênita de uma
prole de catorze filhos,
Mariazinha nasceu Maria
Nogueira Vasconcelos
[em 02/06/1927].
Teve suas primeiras lições
com um professor
particular que passava
pelas fazendas levando
instrução às crianças da zona rural. Mais tarde, matriculada na
Escola Pública da cidade, foi logo promovida à série subsequente
por apresentar boas condições de aprendizagem. Continuou os
estudos em Itaúna, onde se formou. Foi das primeiras professoras
normalistas de Carmo do Cajuru.
Dona Mariazinha
* O autor agradece a gentil colaboração das filhas Rosana e Giovana Vasconcelos e da irmã
Dora Estela Vasconcelos, na elaboração desta memória tão significativa para a história da
Educação e do Direito de Carmo do Cajuru.
154 Célio Antônio Cordeiro
“Iniciou sua carreira como professora. Era ambidestra. Escrevia
naturalmente, com ambas as mãos e só quem conheceu sua letra
pode apreciar a beleza e a arte que tinha.
Dona Mariazinha (no alto), feliz com os membros da fanfarra do Colégio Estadual
Mariazinha casou-se aos 26 anos com Nilson Ribeiro do Ó, a quem
chamava de Sô Nilson, e passou a se chamar Maria de Vasconcelos
Ribeiro do Ó, “nome do qual se orgulhava pela assinatura inusitada.
Teve nove filhos. Por motivos pessoais, revela a irmã, separou-se do
marido com alguns filhos ainda pequenos e assumiu a criação e a
educação deles.
“Sua carreira profissional foi profícua: de professora passou a inspetora
escolar, diretora de colégio, vereadora e atuava ultimamente
como advogada. Foi graduada em Letras e bacharel em Direito.
Fundou o Colégio Estadual de Carmo do Cajuru e foi diretora dele
por muitos anos (...) Isso também foi motivo de orgulho para ela.
NOSSA GENTE
155
“Como advogada, atendia, prontamente, a quem a procurasse,
não pelo valor monetário do trabalho, mas pelo prazer de ajudar.
Foi incansável guerreira. Primava pelo gosto do saber. Certa vez,
disse a alguém que entre um prato de comida e um jornal, na
hora do almoço, sua opção seria o jornal. A leitura, sabida como
alimento para o espírito, parecia alimentar-lhe também o corpo.
Não usava óculos de grau, dizia nunca ter tido dor de cabeça, nem
gripe, nem dor de garganta, doenças tão comuns!”
Dona Mariazinha em família, e sua alegria contagiante e luminosa
Sua filha, Rosana Joyce, descreve bem a trajetória da mãe na Educação
e no Direito:
“Baixinha, salto alto prá dar certa imponência, ela carregou uma
bagagem de feitos – extraordinários ou não – por toda a estrada
que trilhou, desde que se formou professora, passando pela inspetoria
de ensino, diretora – onde ganhou notoriedade pelo belo
trabalho que executou pela educação e cultura de milhares de
alunos do famoso Colégio Estadual, que ela amava, e era amada
e respeitada por todos!
“Baixinha, porém gigante na força de vontade e na luta por seus
ideais – que não eram poucos – se formou em Direito já na sua
melhor idade, e aí sim, ela realizou seu sonho de levar justiça por
cada canto que passasse.
156 Célio Antônio Cordeiro
“A vida não lhe sorriu muito não! Mas, mesmo assim ela sorria...
estendia sua mão a todos que batiam na sua porta... e colocava
muito amor em tudo o que fazia!”
Ao final de seu texto, Rosana, lamenta que, em pleno século XXI,
“nada, nem ninguém conseguiu barrar o inimigo que a consumiu
durante anos e anos presa à uma cama” e acabou levando-a em
27/04/2017. ”Ela amava viver, apesar de tantos percalços. E se pudesse
voltar, certamente entraria na fila novamente — afirma.
A filha Giovana Vasconcelos
também escreveu sobre a mãe,
agradecida pelos primeiros momentos
de calor e carinho recebido
dela e o grande legado que
deixou para toda a família: dinamismo,
garra, coerência e acima
de tudo, seriedade nas suas convicções.
“Foi uma pessoa com
qualidades excepcionais:
bondade, generosidade,
sinceridade,
lealdade, amizade espontânea
e autêntica pelos que sempre mereceram ser seus amigos.
Foi uma pessoa pública elogiada por muitos, muitas vezes
invejada por outros, e ainda havia aqueles que gostariam de seguir
seus exemplos. Portanto seu nome vai permanecer como uma
bela herança, principalmente pelo enorme bem que fez àqueles a
quem verdadeiramente amou, e que, as inquietudes de seu coração
de sonhadora puderam oferecer!”
Os grandes feitos em prol de Carmo do Cajuru ficarão eternamente
gravados na memória do povo local. Um grande vulto que jamais
será esquecido. É um privilegio de ter sido aluno e amigo dessa inesquecível
senhora.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 056, Maio 2017
NOSSA GENTE
157
D. a Marília Gomes Fonseca*
Todas as boas ações que eu possa praticar e todas as gentilezas que eu possa dispensar
a qualquer ser humano, devo aproveitar este momento para fazê-lo. Não devo adiá-las
nem esquecer-me delas, pois não voltarei a passar por este caminho.
Sabedoria Oriental - Lema de Marília Gomes
Nascida no dia 08 de setembro
de 1938, Marília Lúcia Gomes
Fonseca, filha do senhor Geraldo
Gomes Maia e dona Maria Pio da
Silva, seguiu sua vida a exemplo
de seus pais, com humildade, serenidade,
amor para com o próximo,
à família e a Deus. Sempre
dedicada e carinhosa com seus
treze irmãos. Uma dedicação e
zelo indescritíveis que foram experimentados
pelos filhos, enteados,
netos e sobrinhos.
Pessoa íntegra e batalhadora!
Iniciou sua carreira como professora,
na Escola Municipal Antônio
Pio da Silva (Ferrador), em
Dona Marília
agosto de 1957, com 19 anos de
idade. Lecionava para as crianças da comunidade bem como para alguns
de seus irmãos.
Em fevereiro de 1978, iniciou também seus trabalhos educacionais
como professora, seguida de bibliotecária na Escola Municipal Princesa
Isabel, onde encerrou suas atividades profissionais.
* O autor agradece a gentil colaboração da filha Márcia Gomes, na elaboração desta memória
tão significativa para Carmo do Cajuru.
158 Célio Antônio Cordeiro
Na escola do Ferrador aposentou-se no dia 02 de agosto de 1982. Tinha
gosto pela leitura e amava contar histórias. Todos que a ouviam
prendiam a atenção em suas fábulas e ensinamentos.
Era a leitora “Malussa”, a quem
seu avô Antônio Pio da Silva
apelidava e confiava para ler escrituras
e documentos da época.
Pelos seus pais era carinhosamente
chamada de “Bilussa” e
por seus familiares e comunidade
do Ferrador de “Lôra” ou tia
“Lôra”.
Como dedicação e zelo às coisas
de Deus, sempre ajudou nas
atividades religiosas. Gostava
muito de cantar! Com uma voz
entonada, ainda quando criança
louvava Nossa Senhora, coroando-a,
vestida de anjo, com muito
júbilo e devoção.
Dona Marília, ministra da Eucaristia
Dona Marília, com o esposo “Bené” e os filhos
NOSSA GENTE
159
Antes de se casar foi secretária da Pia União das filhas de Maria, nomeada
pelo saudoso cônego João Parreiras Villaça. Em 16 de dezembro
de 1970, casou-se com Benedito Vital da Fonseca, assumindo a
condição de mãe de quatro filhos maravilhosos: Marilda, Maísa, Marina
e Marcélio. E desta união, mais três filhos: Márcia, Magali (sempre
presente) e Maiher. Doze netos que a admirava.
Foi uma mãe exemplo! Incondicionalmente amou seus sete filhos
educando-os nas virtudes do amor, da fraternidade, da caridade, da
honestidade e sobre tudo da oração.
Deixou uma herança rica em sabedoria e dignidade. Sempre ativa
nos movimentos religiosos, consagrou-se ao Apostolado da Oração
com o título de zeladora em 1º de abril de 1960, propagando a devoção
ao Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria.
Em 15 de dezembro de 1985, foi nomeada Ministra da Eucaristia pelo
bispo dom José Costa Campos, sob a recomendação do padre Altamiro
de Faria.
Participou ativamente do Coral
Nossa Senhora do Carmo e sempre
ressaltava que suas habilidades
musicais foram construídas
sob a regência da querida e saudosa
Dona Lalia.
Na Semana Santa participava do
Quadro vivo na representação
de Maria Madalena. Estava sempre
presente e disposta a servir
à Igreja, à Deus! Coordenou por
vários anos as Coroações à Nossa
Senhora no mês de maio, ensaiando
e conduzindo as crianças
ao altar com zelo e devoção.
A jovem Marília, na Semana Santa
As ofertas de Flores à Santo Antônio,
realizada pelos meninos.
160 Célio Antônio Cordeiro
Marília os ensaiava, confeccionava os lírios de papel para as crianças
ofertarem e também oferecia aos mais carentes, as vestes para que
pudessem participar socializando-os aos demais.
Durante um período, realizou as coroações ao Sagrado Coração de
Jesus, feita pelos coroinhas da paróquia.
Foi peça fundamental na criação do grupo de homens e de mulheres
que até nos dias de hoje prestam essa maravilhosa homenagem ao
Sagrado Coração de Jesus. Sempre ativa, Marília, ajudava na ornamentação
da Igreja. Atuou como catequista desde 1965, com zelo
e carinho diferenciados; catequizava as crianças da comunidade do
Ferrador e posteriormente da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Dizia
que “quem cantava, rezava duas vezes”.
Dentre suas diversas atividades musicais participava também do
grupo de serestas, onde aprendia e ensinava canções diversas que
aqueciam os corações de quem as apreciavam. Marília foi uma mulher
simples e humilde.
Dona Marília, canta com o Grupo de Serestas de Carmo do Cajuru
Deixou um majestoso registro de sabedoria humana, que perdura
ainda no coração de todos que tiveram a honra de conviver ao seu
lado, espelhando em seus exemplos.
NOSSA GENTE
161
Sua fé inabalável nos mostrou que mesmo diante dos sofrimentos,
a presença de Deus em nossa vida é a alegria, a vitória que alcançamos
no nosso dia a dia. Como resposta à sua devoção a “Maria” numa
prática diária na Oração do Santo Terço, Marília faleceu no dia 7 de
outubro de 2010, dia dedicado à N. Sra do Rosário.
Inspirava-se nos ensinamentos do Papa João Paulo II que manifestava
também sua devoção ao Santo Rosário:
“O Santo Rosário é uma oração simples e fácil para todos, se
rezado com fé, esperança e amor, nos oferece vitória final, força
nas angústias e sofrimentos, e proteção especial reservada a todos
que em Deus depositam sua confiança”.
E nos deixando essa imensa saudade, com imensuráveis lembranças,
Marília terminou sua caminhada terrena nos braços da Virgem Maria.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 020, Maio 2014
162 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
163
D. a Paulina Guimarães*
Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui.
Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.
José Ortega y Gasset
As gerações vêm, realizam feitos,
deixam feitos e partem.
Esta é a lei natural da vida. Não
sabemos por quanto tempo estaremos
entre nossos familiares
e amigos por mais simples que
tenha sido a vida, haverá sempre
uma lembrança marcada de
saudade, batendo em algum coração.
Assim é a vida, assim é a
morte…
Dona Paulina é a caçula de 11
irmãos. É filha de Aquiles Guimarães
e dona Aurora do Cintico.
Sua irmã mais velha, a dona
Lalia, que tocava harmônio nas
missas da Matriz e executava
Dona Paulina
muito bem o violino junto, o Jacintinho,
além da dona Mariinha,
Sô Ladico, o Dinho do Messias, Zé Passos e o Quilinho. Muitos outro
ainda se lembram das vozes e do violão do Zé Salomé, da aguda voz
da dona Bininha e do cheiro dos cartuchos, das coroações do mês de
maio, com a presença iluminada do nosso saudoso padre João.
* O autor agradece a gentil colaboração do filho Marciano Guimarães Mansur, na elaboração
desta memória tão significativa para a sociedade cajuruense.
164 Célio Antônio Cordeiro
A adolescente Paulina, com os irmãos e a mãe, dona Aurora do Cintico
Existia nos anos 40 e 50, uma grande disputa entre as congregações
religiosas, para definir qual fazia o altar mais bonito. Sempre ganhava
a Congregação dos Moços e das Moças, da qual ela fazia parte, ao
lado de seus outros dois irmãos, o Dr. Geraldo e dona Lúcia Guimarães,
inesquecíveis na memória daqueles que trazem em sua história,
os ensinamentos destes dois verdadeiros mestres da educação.
Naquela época, a cidade vivia um efervescente momento cultural.
Além dos grandes bailes de gala, onde a jovem Paulina encantava a
todos com a elegância de seu estilo de seu salto 15, nas passadas de
um tango ou nos giros de uma valsa, tinha também a companhia de
teatro. Esta companhia foi iniciada pelo seu pai, Aquiles, e seu tio,
Jehovah Guimarães, o farmacêutico, e tinha o apoio do Godofredo
Passos, cunhado dos dois, engenheiro da estrada de ferro, homem
importante do Rio de Janeiro. Isso lá no início dos anos 20.
NOSSA GENTE
165
As pessoas iam ao teatro, havia
uma programação constante
de recitais de música, pequenos
saraus, jogos de víspora e das
grandes peças teatrais. Dramas
e comédias faziam a alegria e
socialização de Cajuru até os
anos 1950, com o cinema, que
sobreviveu duas décadas mais.
Paulina sempre era escolhida
para desempenhar os principais
papéis dramáticos, emocionando
os expectadores que lotavam
o cine-teatro.
O terceiro irmão era o Zé, que
vinha depois do Geraldo. Ainda
bem jovens ele e o outro irmão,
o Luís, que era acima da Paulina,
mudam se para a capital, Belo
A graciosa Paulina, na infância
Horizonte, onde se estabelecem,
se casaram, construíram
famílias e fazem história. A outra irmã, a Olímpia, que é acima do Luís
e abaixo da Lúcia, casada com Elísio da dona Zezé, irmão da Esperancinha,
e o outro irmão, o Jacinto, o quarto, um “virtuose”, casado
com Alice Mourão, irmã da Virica do Carlito, filhas da dona Antonina,
escolheram viver na vizinha Divinópolis, onde foram bem-sucedidos.
Júlia a mais bonita das moças do Sô Aquiles, era entre o Jacinto e a
Lúcia. Ainda menina, manifestou epilepsia e faleceu aos trinta e poucos
anos. Os dois irmãos que faltam na lista são a Zizi, a primeira, e o
José, que era entre a Lalia e o Geraldo. Estes morreram ainda muito
pequenos e, apenas oito da irmandade dos onze, cruzaram o séc. XX.
Dona Paulina tinha uma grande habilidade manual, fazia belíssimas
flores para enfeitar as casas, pois nessa época ainda não existia o
“1,99” e as flores “made in China”. Os vestidos das moças ganhavam
166 Célio Antônio Cordeiro
belas rosas, camélias, orquídeas e violetas feitas de seda, de cetim,
veludo ou algodão. Na lapela do paletó dos rapazes tinha sempre um
belo cravo vermelho, mas que podia também ser branco. Quantos
andores e altares foram decorados com suas famosas flores, palmas,
angélicas e lírios.
A carinhosa mãe Paulina, com os filhos
Casou-se em 1956 com Belo Mansur, filho de dona Salma e do Sô Felix,
“os turcos”, com quem teve sete filhos: Marcelo (Turco), Marquinho,
Márcio, Marília, falecida ainda bebê, Marciano, Magda, e Munir.
A alegre avó Paulina, com os netos e a irmã
NOSSA GENTE
167
Sete netos: Gabriela e Pedro, filhos do Turco; Bruno, já falecido, e
Thales, filhos do Marquinho e Lídia; Lauro e Lucas, os da Magda.
Dona Paulina tinha muitas habilidades, mas nenhuma maior que sua
capacidade de resignação e aceitação dos desígnios da vida e da vontade
de Deus. Foi sempre devota e agradecida a Deus por todas as
alegrias que teve e jamais proferiu blasfêmia contra Ele pelas coisas
que lhe entristeceram o coração.
Nos seus 88 anos de vida, construiu, passo a passo, cada degrau da
escada que a levaria ao céu, onde com certeza, está agora, junto de
Deus, de seus amigos e familiares e do grande amor da sua vida, o
Belo; comungando da paz do Senhor! Ficam para nós, muitas sabedorias,
mas especialmente uma que ela dizia sempre: “Na vida tudo
passa, só Deus não muda. Quem tem paciência e fé, tudo alcança”.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 06, Mar. 2013
168 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
169
D. a Zulmira Felizarda Duarte*
“Quase tudo é possível quando se tem dedicação e habilidade.
Grandes trabalhos são realizados não pela força, mas pela perseverança.”
Diego Lima
Nascida em 3 de dezembro de
1913, no meio rural, município
de Carmo do Cajuru, em um
lugar chamado “Sapé”, antes
pertencente ao município de Itaguara,
localizado entre Estivas
e Aroeiras, nasceu Zulmira Felizarda
Duarte, filha de Nicolau
Felipe e Felizarda Rosa.
Dona Zulmira, um mãe inesquecível
Casou-se aos 22 anos com José
Gonçalves Duarte com quem
teve uma única filha: Alda Felizarda
Duarte. Naquela época,
quando a filha se casava, ainda
permanecia morando na casa
dos pais por um determinado
tempo. Foi abandonada pelo esposo
com a filha ainda pequena.
Naquela tempo, o padre Geraldo Rodrigues Costa era o pároco de
Itaguara e regularmente visitava as comunidades rurais de Boa Vista,
Pará dos Vilela, Aroeira e Estiva para realizar celebrações. Zulmira
era responsável pela cozinha. Ficava uma semana trabalhando na
casa em que o padre ficava hospedado, fazendo os preparativos para
recebê-lo. Dessa forma, criou e educou sua filha.
* O autor agradece as gentis colaborações de dona Alda e Bia Duarte, filha e neta da inesquecível
dona Zulmira, na elaboração desta crônica.
170 Célio Antônio Cordeiro
Dona Zulmira, cozinheira e cuidadora
Zulmira seguiu sua vida trabalhando
como doméstica nas casas
de famílias Rabelo, como a
do Zé do Deco e dona Noêmia
Teixeira; Coca do Lôla e dona
Lia; e de Leopoldino e dona
Fausta (pais do proprietário do
Ateliê do Pão), entre outras.
Em 1951, o Sr. Francisco Rabelo
Filho, conhecido por “Quim Balduíno”,
pai do Zé do Quim, chamou
Zulmira para Carmo do Cajuru,
para tomar conta de seus
filhos que estudavam na cidade.
Pouco tempo depois, a mãe de
dona Zulmira faleceu, deixando
viúvo seu pai Nicolau que
também se mudou para Cajuru
para trabalhar na construção
da barragem, trazendo a outra
filha, Maria Felizarda, e suas sobrinhas
“Altair” (com onze anos)
e “Natail” (com sete anos), que
ainda estavam com ele na roça.
Sr. Nicolau (pai de Zulmira) arrumou uma casa ao lado da casa do
senhor Quim Balduíno, onde Zulmira cuidava dos filhos dele, do seu
pai e também da sua irmã que já estava muito doente, inclusive vindo
a falecer meses depois, deixando órfãs as duas sobrinhas. Então, Zulmira
precisou deixar de cuidar dos filhos do Sr. Quim, para se dedicar
ao pai, à filha Alda e ajudar na criação das sobrinhas.
Em 1952, padre Geraldo esteve em Cajuru para fazer uma visita para
a Zulmira e seu pai Nicolau, que também serviu como sacristão nas
comunidades rurais, no tempo em que as missas eram celebradas em
latim.
NOSSA GENTE
171
Conforme costume, quando um padre chegava na cidade, era preciso
se apresentar ao pároco local. Assim, padre Geraldo conheceu padre
João Parreiras Villaça que o convidou para se hospedar na casa paroquial;
mas, foi surpreendido com a resposta “não”, justificando que já
tinha sido acolhido na casa da sua cozinheira e do seu sacristão. Ao se
despedir, padre João acompanhou padre Geraldo até a residência de
Nicolau que, na atualidade, é o mesmo endereço onde reside Alda,
filha única de Zulmira.
Lá chegando, padre João convidou Zulmira para trabalhar com ele,
mas, ela tinha dificuldades, uma vez que precisava cuidar do pai, da
filha e das sobrinhas que ela considerava como filhas também. Com
a insistência do padre João, Zulmira começou a adiantar o serviço de
casa e a deixar orientações para as tarefas que as meninas ainda não
sabiam fazer, e logo depois, seguia para a casa paroquial. Sempre
voltava em casa para ver se as meninas tinham cumprido as tarefas
e ido para a escola.
Mesmo trabalhando para o padre João, Zulmira era sempre convidada
para trabalhar nas festas de casamentos. Sua culinária era famosa.
Entre tantos outros, a boa lembrança de trabalhar na casa dos
pais de Célio Cordeiro, a dona Carmelita e o senhor Antônio Cordeiro.
Assim, foi a trajetória de Zulmira até o dia em que o padre João deu
baixa em sua carteira de trabalho. Padre João faleceu no dia 24 de junho
de 1982 e Zulmira, no mês seguinte, em 8 de julho, 15 dias após,
também faleceu. O senhor José Mateus Filho (Zé Mateuzinho, como
era conhecido) disse: “É... o Pe. João não quis ficar lá sem a sua cozinheira”.
Dedicação, bondade, habilidade e perseverança, sempre marcaram
a vida de dona Zulmira. Foi uma pessoa sempre comprometida com
o papel que desempenhava. Muito alegre e carismática, deixou muita
saudade a centenas de amigos que com ela conviveram.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 67, Abr. 2018
172 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
173
174 Célio Antônio Cordeiro
HOMENS NOTÁVEIS
NOSSA GENTE
175
176 Célio Antônio Cordeiro
Agostinho Ferreira Tito*
Evitar conflitos não é fugir dos problemas, mas resolvê-los da forma mais nobre possível.
Itrio Netuno
Uma cidade se faz de homens e
mulheres, isto é, gente. Gente
essa que vai fazendo a história e
a história fazendo gente. Muitos
são aqueles que se destacam por
lutas heroicas, outros por grandes
obras e aqueles que se tornam
eternos pelo exemplo.
E foi pelo exemplo que Agostinho
Ferreira Tito (Sô Tito) ficou
na memória da cidade de Carmo
do Cajuru.
Agostinho Ferreira Tito (Sô Tito)
Nascido em 3 de janeiro de 1903,
filho de Osório Ferreira Pimenta
e Ana Batista Miranda, residentes
na Mangonga, onde criou
seus nove filhos e teve vários de
seus netos e netas.
De lavrador a pequeno comerciante, foi buscando sempre aqui e em
outras terras ganhar a vida. Numa dessas tentativas, conheceu em
Retiro dos Farias, dona Dica, a mulher com quem, tardiamente (para
a época), casou-se e tiveram doze filhos.
* O autor agradece a gentil colaboração de Maria das Dores Ferreira (Dorinha do Sô Tito)
na elaboração desta memória.
NOSSA GENTE
177
Sô Tito, com os irmãos e cunhada, confraternização familiar
Grande homem. Soube ser marido e pai. Soube ensinar dando exemplo
de honestidade, caridade e equilíbrio. Católico fervoroso, sempre
presente nas celebrações e obras da Igreja.
Ajudou a fundar as conferências de São Vicente de Paula e continuou
confrade assíduo até à morte. Foi membro do Conselho Paroquial,
quando o pároco era o padre João, até no tempo do padre Altamiro.
Também foi dos primeiros ministros da Eucaristia, na paróquia de
Nossa Senhora do Carmo, quando esse ministério era ainda um tabu.
Exerceu, com carinho e respeito,
essa missão de 1973 a 1984. Ao
aceitar essa tarefa, mostrou que
apesar da idade, era um homem
além do seu tempo.
Essa qualidade de acompanhar
as mudanças do mundo fez dele
Dona Dica, a neta e Sô Tito
um homem que sabia ouvir, por
isso era sempre procurado para aconselhar, resolver, como ele sempre
dizia, “pendengas de estradas e água” na zona rural. Outras vezes
eram as brigas dos casais o motivo para receber em casa tantas
pessoas.
178 Célio Antônio Cordeiro
Um baralhinho com os amigos, a prosa fácil, as ponderações nas desavenças,
um amigo para os momentos difíceis, um ouvinte atento,
fizeram com que o Sô Tito fosse conhecido e admirado por muitos.
Política sempre foi uma paixão, não essas paixões cegas que tratam o
adversário como inimigo como era costume na sua época. Mas como
forma de inserir na comunidade e acompanhar o desenvolvimento
do município.
Dona Dica e Sô Tito, no casamento
Encerramento de um retiro vicentino em 1953
Por isso que, em 1949, época em que o vereador não recebia salário,
foi vereador da primeira legislatura de Carmo do Cajuru. Foi também
membro do Conselho Administrativo da Cooperativa dos Produtores
de Carmo do Cajuru por vários anos, serviço esse também voluntário.
A política continuou sendo um dos assuntos prediletos. Militou no
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que abrigava algumas
lideranças contrárias ao Regime Militar. Muitas foram as vezes
em que sua casa era reduto de longas conversas para definir candidaturas,
determinar estratégias de campanha e busca de apoio.
Já com idade avançada e sem o que fazer para manter a obrigação de
provedor da família, vendia bilhetes das Loterias (Federal e Mineira).
Quase sempre brancos, que após serem conferidos, o comprador recebia
um pequeno sorriso e o comentário “não foi dessa vez”.
NOSSA GENTE
179
Para complementar a renda, buscava em São Gonçalo do Pará doce
de leite, manteiga e requeijão para revender a granel. São muitos
aqueles que ainda se lembram do gostinho doce que a guloseima
deixava na boca em tempos de comércio ainda fraco na cidade.
Sô Tito, para uma grande maioria, ‘Tito Cambista’ para os menos íntimos,
Tito do Osório para muitos dos parentes e Pimenta para os
padres João e Amarildo.
E foi assim que, em 4 de janeiro de 1992, Sô Tito, o homem de cabelos
branquinhos, deixou saudosos aqueles que o conheceram e um
pouquinho de saber na história do povo cajuruense.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 015, Dez. 2013
180 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
181
Alípio Nogueira Avelar
Pessoas existem, desprendidas e sem vaidade, a quem apenas satisfaz o desejo de ser úteis
à coletividade e a grande atenção aos familiares.
José Dias Lara
É com as belas palavras da epígrafe,
que vamos, descrever um
pouquinho sobre o muito que foi
esse grande vulto de nossa querida
Carmo do Cajuru - o saudoso
Alípio Nogueira Avelar.
Nascido em Carmo do Cajuru em
9 de fevereiro de 1933. Em 18 de
julho de 1959, casou-se com Maria
Silvério Nogueira de Avelar
(“Dona Fia”), constituindo uma
bela família com seis filhos: Fátima,
Tovar, Heleno, Angélica,
Andréa e Nei.
Formou-se em contabilidade em
1969, Em agosto de 1970, com
resultado da força e dos próprios
méritos, Alípio Nogueira
Alípio Nogueira Avelar
de Avelar, constituía seu sonho, nasceu a Organização Contábil Avelar
- Contabilidade Avelar. Uma empresa familiar, que foi iniciada em
um pequeno cômodo residencial e posteriormente transferida para a
sede oficial na praça Vigário José Alexandre, 95 - no centro em Carmo
do Cajuru - MG. Ainda exercendo profissão de contador, paralelamente
trabalhou como Escrivão do Crime na comarca de Carmo do
Cajuru e mais tarde foi transferido para comarca de Divinópolis onde
se aposentou em 14 de agosto de 1985.
182
Célio Antônio Cordeiro
Alípio foi um dos fundadores do
Tupy Futebol Clube, onde atuou
como atleta e diretor durante
toda sua vida. No Tupy, deixou
sua marca pela dedicação e
amor ao clube.
Foi também um dos fundadores
do Rotary Club de Carmo do Cajuru,
em 25 de janeiro de 1982,
juntamente com outros companheiros,
quando se destacou por
sua liderança e companheirismo
rotário.
Alípio Avelar, festeja conquista com a torcida do
Tupy Futebol Club.
Abaixo, o time titular do Tupy; Alípio é o quarto
na linha de frente (da esq. p/ dir.)
Foi presidente por dois mandatos,
além de exercer todos os
cargos da diretoria, deixando
um legado de atitude e de competência
em 36 anos de vida.
NOSSA GENTE
183
Alípio com a família
Alípio, em homenagem da Câmara Municipal de
Carmo do Cajuru
Foi um dos fundadores da Vila
Vicentina e do Centro Esportivo
Olímpico. Sempre foi participativo
e colaborador com sua
inteligência, sabedoria ímpar e
acima de tudo, um coração gigantesco,
onde abraçou e acolheu
todo aquele que necessitou
de sua ajuda.
Alípio foi uma pessoa que se dedicou intensamente ao trabalho.
Soube com dignidade e atenção, criar e educar, ao lado de “Da Fia”,
a sua bela família.
Grande exemplo de pai, de esposo e de cidadão. Sempre acorria com
muito zelo aos serviços voluntários, quando solicitado.
Durante sua vida, recebeu várias homenagens por relevantes serviços
em prol de muitos. Entre as homenagens estão: a comenda “Caa-yuru”,
em dezembro de 2004; e da Justiça Eleitoral, em dezembro
de 2008, pelos serviços prestados durante longos anos, como mesário
em dezenas de eleições realizadas em Carmo do Cajuru.
184
Célio Antônio Cordeiro
Alípio, elevado espírito de cidadania
Depois de uma longa enfermidade,
com a saúde muito frágil,
por causa do Alzheimer, em 27
de setembro de 2015 veio a falecer.
Seu corpo foi velado na sede
do Rotary Club com o comparecimento
de centenas de amigos
e companheiros, que foram levar
aos familiares o conforto e
a solidariedade durante aquele
momento de comoção.
Deixou muita saudade por ser
um exemplo de homem e de um
grande profissional.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 069, Jun. 2018
NOSSA GENTE
185
Pe. Altamiro de Faria
O que há de melhor no homem somente desabrocha quando se envolve em uma comunidade.
Albert Einstein
Padre Altamiro
Padre Altamiro nasceu em 25 de
junho de 1920, em uma fazenda
próxima a São José dos Rosas, no
município de Santo Antônio do
Monte. Filho de Joaquim Faria
Nascimento e de Alice de Faria
e Silva, desde criança se mostrava
muito dedicado e inteligente.
Bem cedo, sentiu-se chamado a
abraçar o sacerdócio.
Ainda adolescente, foi matriculado
no seminário do Coração
Eucarístico de Belo Horizonte.
Foi nesse Seminário que realizou
seus estudos até a ordenação,
em 31 de outubro de 1943, na
Igreja N. Sra. das Dores, do bairro
Floresta, em Belo Horizonte.
Foi ordenado pelo bispo dom Antônio dos Santos Cabral, numa bonita
manhã de domingo, por ocasião da festa de Cristo Rei.
Antes de vir para Carmo do Cajuru, passou por diversas paróquias.
Deixando sempre, além de um rastro de saudades, os frutos de seu
belo trabalho, em cada paróquia por onde passou.
Como sempre, a paróquia de Nossa Senhora do Carmo e o povo cajuruense,
pelos desígnios divinos, sempre foi agraciada por grandes
párocos. Com o padre Altamiro não foi diferente.
186
Célio Antônio Cordeiro
Sua chegada, acompanhada por
dom José Costa Campos, ocorreu
de uma forma brilhante, em
uma tarde de domingo, no dia 5
de fevereiro, na praça Presidente
Vargas, repleta de fiéis, indo,
em seguida, para a Matriz, onde
ocorreu a posse, em bela concelebração.
A partir desse dia, a paróquia
Nossa Senhora do Carmo ficaria
marcada para sempre, com os
grandes serviços prestados por
esse verdadeiro altruísta.
Cito aqui um trecho escrito por
Maria das Dores Ferreira (Dorinha
do Sô Tito), no Jornal Sol
Nascente, de outubro de 2003.
O padre Altamiro em celebração de casamento
Ela descreve de uma maneira muito cristalina o que foi a presença de
padre Altamiro na paróquia:
“Em 1984 chega a nossa cidade Padre Altamiro. Figura simples,
frágil, mas que escondia uma disposição invejada. Iniciaram-se
os trabalhos. Uma reunião aqui, outra acolá. Uma pastoral
a mais, assembleias, diagnósticos, conversas, sondagem,
trabalhos em grupos, formação de conselhos, cursos para os
catequistas, eleições ... E nós que nunca tínhamos participado
de uma Igreja de base, fomos aprendendo que havia um outro
jeito de ser católico, cristão, enfim de sermos Igreja.
Corais, grupos de reflexão, pastoral familiar, operária, da catequese,
da juventude. Nossa paróquia começou a mostrar a
cara na Diocese. Povo animado não faltava. Era só cutucar e
isso nosso pastor sabia fazer e de uma forma que deveria ser
exemplo para tantos que iniciam a vida sacerdotal”.
NOSSA GENTE
187
Padre Altamiro recebe cumprimentos do prefeito Edson Vilela e vereadores pelo titulo de Cidadão
Honorário de Carmo do Cajuru (CEO)
Foi assim, respeitando diferenças,
animando os paroquianos
nos momentos difíceis, orientando
aqueles confusos, evangelizando,
fazendo descer até
nós o Deus Emanuel que Padre
Altamiro deixou sua marca na
nossa história do povo e na vida
individual.”
Em 9 de dezembro de 1988, deixou
nossa cidade, para ser pároco
de São Sebastião do Oeste.
Mas para a felicidade, principalmente,
dos moradores do distrito
de São José dos Salgados,
retornara a trabalhar em nosso
meio, como vigário paroquial.
Lembrança de padre Altamiro
188
Célio Antônio Cordeiro
Em São José dos Salgados, exerceu de forma notável o seu sacerdócio.
Chegou naquela comunidade em 11 de dezembro de 1998, ali
permanecendo até 2008. No ano seguinte, com quase 90 anos e com
a saúde muito frágil, veio a falecer, no Hospital São João de Deus, em
12 de janeiro de 2009.
Pelos relevantes serviços prestados, não só à paróquia como também
para a comunidade cajuruense, recebeu várias homenagens em vida.
Em Carmo do Cajuru foi agraciado pela comenda “Cayuru” e também
com o título de Cidadão Honorário, no dia 27 de dezembro de 2003.
Por diversas vezes, foi distinguido também pela Igreja Católica.
Hoje, os paroquianos de Nossa Senhora do Carmo e os moradores
de São José dos Salgados relembram com muita saudade daquele
homem simples e de aparência franzina, que tanto contribuiu para o
bem-estar de todos que o conheceram.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 018, Mar. 2014
NOSSA GENTE
189
Amim Mattar
Ele se fez figura benemérita de Carmo do Cajuru, em gesto de gratidão, próprio de pessoas
generosas, para retribuir a hospitalidade que recebeu quando aqui chegou.
C. A. C.
Os imigrantes sírio-libaneses
foram sempre benquistos na
região Oeste de Minas. Foi assim
com Amim Mattar, com seu
espírito aberto e realizador, disposto
sempre às boas iniciativas
e incansável na busca de seus
ideais.
Natural do Líbano, nascido em
1898. Era filho de Ali Mattar e de
Hala Massaud Souki. Ainda bem
jovem veio para o Brasil e fixou
residência em Vendinha, no município
de Formiga, MG.
Amim Mattar, no dia instalação do município
em 1 o /01/1949
Em 17 de maio de 1919, casou-se
com Maria Conceição de Jesus,
filha de João Ramos e de dona
Minelvina Rosa de Campos, todos
naturais de Formiga.
Chegou a Carmo do Cajuru pouco depois de seu casamento. Teve
duas filhas: Maria dos Anjos, casada com Ilídio Pereira da Silva e Maria
Leonídia (Lilia), casada com Sebastião Pereira.
Pelos relatos da história cajuruense, ele foi uma das principais figuras
na luta pelo ideal da emancipação de nosso distrito. Foi digno de
louvores por tudo que fez para que a emancipação se concretizasse.
190 Célio Antônio Cordeiro
Na época, foi um dos principais
comerciantes, sendo também
um empresário e fazendeiro de
destaque. Foi um cajuruense por
adoção e de coração.
A esposa Maria Conceição de Jesus e Amim
Mattar, em sua produtiva fazenda
Para dar força ao ideal da emancipação,
construiu prédios e incentivou
muito o crescimento
de nossa economia. Construiu
um prédio de três pavimentos
em uma das principais ruas de
Carmo do Cajuru, para influenciar
ainda mais a conclusão dos
trabalhos pró-emancipação. Ele
próprio afirmava que um de seus
grandes desejos era ver Carmo
do Cajuru, tornar-se uma grande
cidade.
O prédio de três andares, local de reuniões em vários momentos do processo de emancipação e do
município recém-instalado
NOSSA GENTE
191
Foi sempre uma pessoa de um
coração aberto a grandes iniciativas
filantrópicas, homem simples,
de trato acolhedor e muito
amor ao trabalho, qualidades
que o tornaram uma figura ilustre
e um personagem muito importante
entre os idealistas da
comissão pró-emancipação.
Foi homenageado com muita
justiça, como presidente honorário
da referida comissão, por
seu elevado espírito público. Ele
é parte integrante da nossa história;
mais cajuruense que muitos
cajuruenses natos.
Amim Mattar, caminhando com sua feliz esposa
pela cidade que tanto amavam
Seu falecimento ocorreu no dia 31 de julho de 1964, em Divinópolis,
depois de ter sido vítima de lamentável acidente de trem, em Carmo
do Cajuru.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 023, Ago. 2014
192 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
193
Anair Nogueira*
A medida do amor é amar sem medida.
Santo Agostinho
Foi em Amoras, zona rural de
Carmo do Cajuru, que nasceu,
em 14 de setembro de 1923,
Anair Nogueira. Seus pais, Roquechil
Nogueira Penido e Custódia
Alexandrina de Jesus tiveram
mais seis filhos: Conceição,
Lourdes, Antônio, Maria Júlia
(Lulú), Zilda e Alice.
Estudou na Escola Princesa Isabel,
mas não chegou à quarta
série. Vinha e voltava a pé e dizia
que fazia muitas estripulias por
estes caminhos.
Quando jovem foi para Belo Horizonte
servir ao Exército e só
Anair Nogueira
não foi para os campos de batalhas
da II Guerra como foram
seus colegas Sr. Carlito e Sr. Dico, porque na véspera do embarque
veio a notícia de que a guerra havia acabado.
Em setembro de 1949 casou-se com Maria José, conhecida por todos
como Dona Zezé, filha de Sebastião Faleiro e Francisca Rosa de Jesus,
que também moravam em Amoras.
* O autor agradece a gentil colaboração de Maria Cleusa Nogueira Vilaça, filha do Senhor
Anair na elaboração desta crônica.
194 Célio Antônio Cordeiro
Depois de casados, seguiram
morando na zona rural. Ele picava
lenha e ela fazia farinha, que
ele levava e vendia no comércio
de Carmo do Cajuru.
Com o dinheiro que conseguiu
economizar, abriu um pequeno
cômodo de comércio na cidade,
situado à rua Tiradentes. Ia e
voltava a pé todos os dias, quase
7 Km, até que conseguiu se mudar
de vez para a cidade.
Sô Anair Nogueira e dona Zezé, amor sem fim
Morou de favor até comprar sua
casa, na rua José Demétrio Coelho,
onde viveu quase a vida
toda e onde também construiu
seu cômodo de comércio.
Quando aposentou se tornou cafeicultor. De sua lavoura saíram muitos
caminhões de café e muitos empregos temporários. Na cidade
não havia quem não conhecesse o Sô Anair.
Sô Anair Nogueira e sua esposa Dona Zezé, entre familiares
NOSSA GENTE
195
Vereador Anair Nogueira, no palanque de autoridades, em desfile de Sete de Setembro (1970)
Foi bom e caridoso vicentino e
também o primeiro Cursilhista
de Cajuru. Era assíduo e cuidadoso
nas reuniões e Ultréias.
Foi um Cristão autêntico; filho
amoroso; pai responsável, bondoso
e exigente; um amigo fiel e
alegre; marido apaixonado, que
sempre presenteava sua esposa
com uma rosa no dia dos namorados.*
Era apaixonado por política. Foi
vereador nos mandatos dos prefeitos
José Mateus Filho, João da
Mata Nogueira e Cícero Rabelo.
Foi presidente da Câmara.
Vereador Anair Nogueira, em flagrante social
Não posso deixar de acrescentar a esta biografia que Sô Anair, na década de 1960,
foi também tesoureiro e importante colaborador nas construções da Praça do Cruzeiro
e da Vila Vicentina. Ele fez parte do grupo de vicentinos que muito trabalhou para
que o projeto humanitário fosse realizado (CAC).
196
Célio Antônio Cordeiro
Adorava uma pescaria. Seus amigos não gostavam de ir sem ele, pois
diziam que era um cozinheiro de mão cheia, alegre e contador de
“causos”.
Sô Anair e Dona Zezé tiveram doze filhos e vinte e seis netos. Já na
velhice, uma doença degenerativa da visão o deixou praticamente
cego, mas não o impediu de viver como sempre gostou: alegre, contador
de “causos”, bom conselheiro e excelente companhia.
“Minha esposa é a princesa da minha vida e meus filhos, meu maior tesouro”
foram as palavras mais repetidas por ele mesmo, às vésperas
de nos deixar, em dezembro de 2010.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 042, Mar. 2016
NOSSA GENTE
197
Antônio Cordeiro Sobrinho*
Todo trabalho honesto sustenta, honra e dignifica o ser humano.
Sérgio Pinheiro
Antônio Cordeiro Sobrinho, ou
simplesmente Cordeiro, como
era tratado por muitos, nasceu
em 18 de agosto de 1918, no município
de Cláudio. Filho de José
Fabião Cordeiro e de Maria Jose
do Carmo de Jesus.
Provindo de família numerosa
da zona rural, ainda bem novo,
já se dedicava ao trabalho, na
difícil labuta da lavoura de subsistência
e da economia familiar.
No final dos anos 1930, conheceu
a bela jovem Carmelita, em
Carmo do Cajuru, e apaixonou-
-se por ela. Depois de um curto
Antônio Cordeiro Sobrinho
período de namoro, em 21 de
dezembro de 1940, casaram-se em cerimônia realizada na matriz de
Nossa Senhora do Carmo, por padre Augusto Cerdeira. Do casamento,
nasceram 10 filhos: Maria Irene Cordeiro, José Antônio Cordeiro,
Maria Lúcia Cordeiro, Carlos Antônio Cordeiro, Antônio Cordeiro Filho,
João Antônio Cordeiro, Célio Antônio Cordeiro, Geraldo Antônio
Cordeiro, Maria Paulina Cordeiro e Maria da Glória Cordeiro.
* Esta é uma singela homenagem que jornal Boca da Mata prestou à saudosa figura de
meu saudoso pai, Antônio Cordeiro Sobrinho, extensiva aos familiares e principalmente
sua inesquecível esposa dona Carmelita Cordeiro, nossa tão querida e saudosa mamãe!!
198
Célio Antônio Cordeiro
Os 10 filhos de dona Carmelita e Antônio Cordeiro
No início do casamento, residiram por algum tempo na região urbana
de Carmo do Cajuru. Posteriormente, mudaram-se para uma
pequena propriedade rural no municio de Divinópolis, onde o casal
batalhava muito para o sustento dos filhos.
No final dos anos 1940, alcançaram uma grande realização, vindo residir
na fazenda da Pólvora, onde conseguiram com muito esforço
comprar parte da fazenda. Por ter uma boa localização, muito próxima
da cidade, realizaram um grande sonho: a educação escolar dos
filhos, no antigo Grupo Escolar Princesa Isabel. Com muito esforço e
trabalho, o casal prosseguia rompendo os grandes desafios na criação
e educação de uma família numerosa.
Dona Carmelita, além de grande mãe de família e esposa exemplar, o
auxiliava muito através da sua máquina de costura, da grande habilidade
como cozinheira e afazeres em geral como dona de casa, além
de ser uma grande educadora.
O Cordeiro mostrou ser um administrador de grande habilidade, com
a experiência adquirida ao longo de sua vida. Foi conselheiro fiscal e
administrativo na antiga Cooperativa dos Produtores Rurais, ao início
dos anos 1970.
NOSSA GENTE 199
Antes, Carmo do Cajuru possuía duas cooperativas, mas, por sugestão
da Itambé, em 1975, houve fusão das duas. Já no início, Cordeiro
assumiu o cargo de conselheiro administrativo e, posteriormente, o
cargo de Diretor Comercial por três gestões seguidas.
Suas gestões foram sempre aprovadas por um índice expressivo de
associados. Alguns até hoje relembram com saudades de seu tempo
na Cooperativa. O mesmo acontecia com o quadro de funcionários,
que em sua grande maioria, o estimava muito.
Prestou serviços de forma voluntária ao Sindicato Rural, como membro
da diretoria, quando da gestão de João Cordeiro de Melo na presidência.
Como cumpridor de seus deveres de cidadão, fez parte do
Corpo de Jurados de nossa cidade, por vários anos, chegando a participar
de vários Júris.
As várias gerações da família Cordeiro e dona Carmelita - Confraternização pelas Bodas de Esmeralda
Homem de fé cristã, foi membro assíduo da Liga Católica; colaborou
com a Vila Vicentina, Creche e em obras na construção da Praça do
Cruzeiro. Além de ajuda financeira, doou toda pedra gasta na construção
do calvário, construído pelo prefeito Wilson Mano da Silva.
200
Célio Antônio Cordeiro
Ajudava e apoiava, quando era
solicitado, em diversas campanhas
promovidas pela Igreja,
como os leilões, como mostram
os programas de festejos religiosos
da época. Foi um grande
exemplo de pai, avô, amigo e
principalmente de esposo. Casamento
duradouro, que chegou a
Dona Carmelita e Cordeiro, quase 60 anos juntos
celebrar as bodas de ouro e que
pelos desígnios de Deus, faltou pouco para celebrar também os 60
anos de uma bem-sucedida vida conjugal.
Em 20 de setembro de 1998, numa manhã de domingo, vítima de um
aneurisma cerebral, ao lado de sua amada esposa e de alguns familiares,
partiu para a vida eterna, deixando uma grande lacuna e momentos
de tristeza aos familiares e amigos.
O casal que focalizo nesta são os meus queridos e saudosos pais.
Grandes legados nos deixaram, como a dedicação ao trabalho, a fé
e, principalmente, a honestidade.
Hoje, o nome de meu pai é muito lembrado, principalmente pelos
produtores rurais mais velhos. No Parque de Exposições, ele dá nome
ao “Tatersal Municipal Antônio Cordeiro Sobrinho”. In memorian, foi
homenageado também pela Câmara Municipal de Carmo do Cajuru,
com a comenda “Caa-yuru”, pelos relevantes serviços prestados ao
município.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 060, Set. 2017
NOSSA GENTE 201
Antônio de Souza e Silva
A alegria e o sofrimento são inseparáveis, como compassos diferentes da mesma música.
Hermann Hesse
Antônio Cotó: reinadeiro, carnavalesco, atleta
Estas lembranças mostram bem
quem foi o saudoso cajuruense
“Antônio Cotó”. Antônio de
Souza e Silva, filho de dona Carmelita
de Souza e Silva e de José
Cassimiro da Silva, nasceu em
Carmo do Cajuru, no dia 15 de
setembro de 1952, dia dedicado
a Nossa Senhora das Dores. Em
22 de dezembro de 1973, casou-
-se com Maria de Fátima, união
da qual nasceram seus três filhos:
Marlúcia, Gláucio e Eduardo.
Que deram ao casal três netos:
Mairon, Maycon e Melyssa.
Cotó é sempre lembrado quando
o assunto é esporte. Ele deixou
sua marca, vestindo com
muito brilho as camisas dos nossos
gloriosos times Tupy Futebol
Clube e Sport Club Cajuru. Além
de atleta, trabalhou nas equipes
de base, ajudando muito na formação
de novos atletas e bons
cidadãos.
Casamento, na Matriz de N. S. do Carmo
202
Célio Antônio Cordeiro
Já no carnaval, também desempenhou
um papel de destaque.
Ele era um apaixonado pela festa,
deixando para Carmo do Cajuru
um feito importantíssimo:
a fundação da Escola de Samba,
“Unidos do Pavão Dourado” em
10 de março de 1988, da qual foi
o presidente por vários anos.
Muito devoto de Nossa Senhora
do Rosário, Antônio passou boa
parte de sua vida colaborando
com o Reinado através do trabalho
voluntário, desenvolvido
com amor e afeto.
O notável Antônio Cassemiro Cotó
Foi Capitão de um terno de Catupé,
que muito alegrava a Irmandade
de Nossa Senhora do
Rosário e também das demais
irmandades aqui existentes.
Quando podia, se deslocava
com sua guarda para outras cidades,
inclusive a Aparecida do
Norte. Sempre tinha como grandes
parceiros, além de sua esposa,
o seu irmão Geraldo de Souza,
“Lado”, demais familiares e
amigos de batalha.
O casal dona Maria de Fatima e Antônio Cotó
Assim foi o Antônio de Souza
e Silva, pessoa que soube conquistar
muitos amigos e admiradores
com seu espírito altruísta
e muito voltado para as coisas
alegres da vida.
NOSSA GENTE 203
Antônio Cotó, em dois tempos no futebol
A tradicional Escola de Samba “Unidos do Pavão Dourado”
204
Célio Antônio Cordeiro
Quando a enfermidade surgiu em sua vida, procurava com superação
vencer os obstáculos pelos dolorosos tratamentos a que fora submetido.
Mesmo com o apoio da família, sofreu com resignação os desígnios
traçados por Deus.
Em 25 de fevereiro de 2015, com a saúde já frágil, veio a falecer,
abrindo lacunas em nossas festas e manifestações populares.
Antônio Cotó é considerado um sinônimo de futebol amador, carnaval
e reinado em Carmo do Cajuru. Lembrar e não reverenciar com
muita saudade a grande figura que foi o “Antônio Cotó” é impossível.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 031, Abr. 2015
NOSSA GENTE 205
Braz Rabelo
Boa vontade e cooperação podem ser vistas em mentes educadas
Helgir Giroto
Em se falando de boa vontade e
cooperação, nesta crônica, vamos
tratar de uma personalidade
cajuruense ímpar.
Foi um dos mais expressivos
cooperativista conhecidos, que
muito trabalhou em prol dos
trabalhadores rurais – o saudoso
Braz Rabelo.
Provindo de família simples e
numerosa e muito dedicada ao
trabalho, sempre valorizavam
muito a honestidade e a honradez,
legados que herdaram de
seus pais, senhor Olinto Gonçalves
Rabelo e dona Concessa Maria
da Fonseca. Teve 7 irmãos:
José Rabelo, Gil Rabelo Neto e
Rute Rabelo (falecidos). Ainda
vivos: Brígida, Nair, Guadalupe
e Olíria.
Nascido em Carmo do Cajuru,
em 23 de julho de 1936, desde
muito jovem com seus pais e irmãos
já se acostumara com as
batalhas da vida, em duras tarefas
do cotidiano.
Maria Augusta e Braz, recém casados
206 Célio Antônio Cordeiro
No início dos anos 60, conheceu a bela jovem Maria Augusta, de
quem se apaixonou e, em 11 de fevereiro de 1961, casaram-se. Do
casal nasceram nove filhos: Geraldo Evangelista, Maria Lindaurea,
Dalmira, Áurea (falecida), Jaime, Carmindo, Gilberto, Gilmar e Jordelho.
De sua descendência são 12 netos: Aureliano, Karina, Carolina,
Arilson, Tatiane, Bruna, Maria Aurélia, Paula, Brenda, Miguel Augusto,
Daniele e Fábio.
Maria Augusta e Braz, entre os filhos
Braz Rabelo sempre foi ligado ao meio rural. Em 1954, tornou-se associado
da cooperativa de produção, onde por longos anos fornecia
a sua produção leiteira. Com muito compromisso e fidelidade á cooperativa,
por quase 60 anos esteve filiado, sempre como fornecedor.
Em 2008, foi agraciado com uma bela homenagem por ter sido o associado
com maior tempo de cooperativa e com belos exemplos de
cooperativismo. Além de produtor, teve a oportunidade de exercer
dentro da organização, os cargos de Conselheiro Fiscal e Administrativo,
durante vários anos.
Fez parte dos primeiros associados que fundaram a Cooperativa de
Crédito Sicoob Carmocredi, hoje Sicoob Centro União, onde fez parte
do primeiro Conselho de Administração, período onde o trabalho
era exercido sem remuneração.
NOSSA GENTE
207
Na vida social exerceu o cargo
de inspetor no extinto Colégio
José Demétrio Coelho. Durante
18 anos, trabalhou na também
extinta Danceteria Aquárius.
Sempre foi uma pessoa calma
e muito prudente para resolver
algum problema nos cargos em
que exerceu.
Em 15 de agosto de 2015, com a
saúde muito abalada veio a falecer,
deixando uma grande lacuna
social e saudade aos familiares
e amigos.
Netos de dona Maria Augusta e senhor Braz
Braz Rabelo, conforme acima mencionado, esteve sempre ao lado
do homem do campo. Foi um exemplar pai de família ao lado de sua
dedicada esposa Maria Augusta.
208 Célio Antônio Cordeiro
Foi um grande voluntário para com a Igreja. Seu nome é mencionado
em comissões de festas religiosas pelos programas de vários anos
que se encontram arquivados no Museu Sacro Histórico de Carmo do
Cajuru. Trabalho feito de maneira voluntária, assim como diversos
outros que prestou.
Deixou legados importantes aos familiares e à sociedade: amor ao
trabalho, boa educação, honradez e honestidade.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 095, Ago. 2020
NOSSA GENTE
209
Cândido Pereira Guimarães
Disciplina é a ponte entre metas e realizações.
Jim Rol
Aqui está um pouco da vida de
um grande cajuruense, que foi
de uma importância inestimável
para o lazer e para a cultura de
nossa cidade, além de ter sido
um exemplar profissional, com
muita dignidade e habilidades.
Cândido Pereira Guimarães,
Candico, foi um homem de fibra.
Muito dedicado à família e muito
bem relacionado socialmente,
fez bons amigos, deixando
para todos nós seu exemplo de
força, coragem e disciplina.
Cândido Pereira Guimarães, Candico, presença Nasceu em 30 de agosto de
marcante e feliz
1921, em Carmo do Cajuru, então
distrito de Itaúna. Filho de Jacinto Pereira Guimarães, ferroviário,
e Ana Maia Guimarães, do lar. Foi o terceiro dos cinco filhos do casal,
que sempre foram muito unidos e criados com disciplina. Tinham tarefas
em casa, para ajudar a mãe na lida doméstica.
O pai, preocupado com a saúde debilitada da esposa, estava sempre
procurando tratamento médico para ela, motivo que levou a família
a se mudar de cidades com frequência. Por isso, Candico morou também
em São João Del Rei e concluiu o curso primário em Lavras.
A família retornou a Cajuru, em meados de 1936. Ele e o pai foram
mordidos pelo cachorro de estimação “Petit”, que apresentava sinto-
210
Célio Antônio Cordeiro
mas da doença da raiva. Assim, tiveram que se deslocar para Juiz de
Fora, buscando tratamento no Instituto Pasteur.
Uma das diversões na pequena Cajuru era juntar a meninada à noite,
no adro da Igreja, apostando quem tinha coragem de ir até o cemitério,
acender um cigarro e fumar diante das sepulturas.
Seu primeiro trabalho foi na Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Trabalhou
na Estação do Tigre, na Serra da Saudade, terras do rio Indaiá.
Em 1943, foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, sendo enviado
ao exército, em São João Del Rei. O governo não sustentava
seus convocados, por isso seu irmão mais novo, José, ia todos os
meses a São João, levando Cr$ 50 (cruzeiros), que deviam cobrir os
gastos.
Enviados ao Rio, os convocados aguardaram meses ali a chegada do
navio estadunidense, que os levaria para a Itália. Foram comandados
pelo general José Nobre da Costa.
Cândido Pereira Guimarães, Candico, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
Na Europa, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) – foi incorporada
ao 5º Exército Estadunidense, no front italiano. Foram enviados cerca
de 25 mil homens, entre soldados e oficiais.
Ao final da Guerra, em 1945, retornou ao Brasil, junto com seus companheiros,
sendo recebidos com glórias, banda de música e muitos
foguetes, fatos assim contados por seu pai, Jacinto Guimarães:
NOSSA GENTE 211
— Meu filho Candico foi incorporado à Força Expedicionária em
1943, seguindo para o Rio de Janeiro, em 1944 e, dali para a Europa,
servindo na Grande Guerra como radiotelegrafista. Visitei-
-o no Rio, por ocasião do seu embarque para a guerra e assisti
sua chegada vitoriosa no Rio (...) Sua chegada aqui, em 1945,
foi motivo de grandes festas. Foi um período de grandes preocupações
e sofrimento para mim, mas também de inexplicável
alegria no seu regresso.
Como foi um moço muito vistoso
e bem-humorado, teve muitas
namoradas, mas escolheu a
Elza para ser sua companheira.
Casaram-se na primavera de
1948 e tiveram seis filhos: Wagner,
Ricardo, Kátia, Jussara, Walter
e Susana.
Cândido e Elza, rostos sorridentes sempre
Elza com os filhos, em festa natalina
Trabalhou na Prefeitura de Cajuru e foi determinado para fazer curso
de finanças em Belo Horizonte, para atuar na organização da emancipação
política de Cajuru, em dezembro de 1948. De 1956 a 1969
gerenciou a Cooperativa Agropecuária de Carmo do Cajuru.
212
Célio Antônio Cordeiro
O time do Tupy Futebol Clube, fundado por Candico, no qual também foi atleta
Gostava muito de futebol e junto com os companheiros da cidade,
fundou o Tupy Futebol Clube, que ainda atua em Cajuru. Amante da
arte cinematográfica, comprou um projetor de 16 mm e construiu o
Cine Carmo, que logo se tornou a diversão da cidade.
No início de 1969, após sua aposentadoria, mudou-se para Divinópolis,
para educar os filhos. Seu lazer preferido era a casa na Barragem
de Cajuru, batizada “Xodó do Vô”, onde gostava de pescar, jogar truco
com amigos e tomar uma cachacinha, atividades nunca abandonadas.
Filiou-se ao Clube da Melhor Idade Vida Nova logo após sua
criação, que funcionava no Salão Paroquial de Santo Antônio. Teve
participação ativa nas festas promovidas pelo clube, nas viagens,
bailes e gostava muito dos jogos de Bingo.
Marido muito presente e companheiro inseparável, para os filhos, foi
exemplo de fortaleza, honestidade, perseverança e honradez. Com a
chegada dos netos, mostrou-se avô dedicado, brincalhão e amoroso.
Em fevereiro de 2007, foi chamado de volta ao Pai, mas seu exemplo
e seus ensinamentos continuam presentes em nossa memória, norteando-nos
na caminhada.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 080, Maio 2019
NOSSA GENTE 213
Carlos Altivo
Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico,
origem e cultura é como uma árvore sem raízes.
Bob Marley
Verificando a história de Carmo
do Cajuru, sempre iremos nos
deparar com presenças de várias
pessoas que vieram de outras
cidades e aqui construíram
muitas histórias, pautadas em
bons serviços prestados em prol
da comunidade local.
Carlos Altivo
Assim como fomos privilegiados
pelos feitos dessas grandes
figuras, e de muitas outras que
vieram de fora, a vizinha e progressista
cidade de Divinópolis,
tem registrado na sua bonita
história, a presença de uma das
figuras mais ilustres, que nasceu
em Carmo do Cajuru. Trata-se do
grande cidadão Dr. Carlos Altivo.
Carlos Altivo nasceu em 8 de junho de 1921, em Carmo do Cajuru,
filho de Antônio Altivo e Maria Alves Altivo. Sua trajetória estudantil,
iniciou-se no tradicional Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje Escola
Municipal Princesa Isabel. Conforme dizia a saudosa professora Lúcia
Guimarães, no Grupo, ele era um aluno diferenciado.
Aqui em Carmo do Cajuru, tivemos muitas marcas positivas desse
grande homem. Quando nossa terra aspirava à sua emancipação, ao
início dos anos 1940, o jovem advogado empenhava-se muito, dan-
214
Célio Antônio Cordeiro
Carlos Altivo, com um grupo de empresários de Divinópolis e Carmo do Cajuru, ao final de reunião na
Associação Comercial e Industrial de Divinópolis (ACID)
do o seu apoio ao primeiro movimento pró-emancipação, conforme
registram os relatos feitos por Jose Demétrio Coelho.
Na década de 1950, colaborou bastante na criação da Cooperativa
dos Produtores Rurais, juntamente do seu pai, Antônio Altivo, e de
outros grandes fazendeiros e associados daquela época. Foi o orador
oficial, em solenidade muito marcante para os cajuruenses e divinopolitanos:
a inauguração da Barragem Cajuru, que teve a presença
ilustre de Juscelino Kubtischek de Oliveira.
A cidade teve seu apoio também, quando da criação da Cia Telefônica,
ao início dos anos 1960. Foi um dos grandes amigos desde a
infância, do senhor João da Mata Nogueira, fundador do Grupo Líder
e um dos políticos e empresários mais influentes de nossa terra. Nunca
se esquecia de seu torrão natal. Esteve por aqui por centenas de
vezes, em eventos importantes, como aparece nas fotos ilustrativas
do texto. Vinha muito com sua família para rever amigos.
Segundo relato de seu filho Antônio Carlos, pelo menos uma vez por
mês era sagrado virem à Carmo do Cajuru, sentarem em uma mesa
do famoso bar do Sô Ladico para se deliciarem dos picolés e dos sor-
NOSSA GENTE 215
vetes feitos por ele. Nos tempos
de jabuticabas maduras, uma
agradável visita era feita à casa
da saudosa Maria Marra, onde
um pé bem carregado da fruta já
estava reservado, os familiares
de Carlos Altivo.
Teve grande importância para
Divinópolis, devido ao seu profícuo
trabalho e suas importantes
contribuições, principalmente,
para a cultura, a política e a educação.
Foi industrial, advogado,
professor, diretor do Colégio Estadual
Santo Tomás de Aquino
e das Faculdades Integradas do
Oeste de Minas (FADOM) e, ainda,
um dos fundadores da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras
de Divinópolis (FAFID), hoje
UEMG (Campus Divinópolis) e
Colégio Leão XIII.
Carlos Altivo
Também foi grande orador, cronista e declamador. Escreveu por mais
de 15 anos nos jornais de Divinópolis. Está entre os fundadores da
Academia Divinopolitana de Letras, cuja reunião para criação ocorreu
em sua residência, no dia do seu aniversário, em 1961. Apesar
de nunca haver publicado em livro as suas crônicas, disponibilizou-as
em quase todas as publicações da ADL, onde ocupou a cadeira de
número quatro.
Homem de coragem que sempre acreditou na cidade e sua população,
engrandecendo-a, Dr. Carlos Altivo foi um pioneiro e participou
do início de quase tudo que pode ser considerado importante em Divinópolis.
Dedicou a vida a lutar por valores como a Cultura e a Educação
e a preservação do rio Itapecerica, valendo-se de suas crônicas
216
Célio Antônio Cordeiro
para bater na tecla de que é preciso cuidar de suas águas, evitar a
poluição e o acúmulo do lixo.
Além do seu caráter empreendedor, ambientalista e visionário, Carlos
Altivo também era conhecido como “o Patativa do Oeste” devido
a sua brilhante oratória. Seu talento político pode ser explicado pelo
amor à cidade, onde foi vereador durante um bom período, na década
de 1950 – época em que o cargo era ocupado por voluntários. Ficou
conhecido por desafiar as irregularidades e dizer a verdade sobre
a política. Em 1996, recebeu o título de Cidadão Honorário e em 2001
o de Amigo de Divinópolis.
Maria José e Carlos Altivo, no casamento
Eu particularmente, tive uma
grande admiração por essa formidável
pessoa. Era muito comum,
sua presença na praça
Geraldo Corrêa (rua São Paulo)
junto de diversos amigos. Por várias
vezes, eu o encontrei naquele
local. Quando me via, sempre
perguntava: — “E aí Cajuru, como
está a nossa terrinha boa?” Como
adotou Divinópolis como sua segunda
terra, sentia-se orgulhoso
em dizer: “Tenho duas cidades de
coração”.
Em 1950, casou-se com Maria José Pardini, com quem chegou a celebrar
as bodas de ouro. Do casamento, nasceram quatro filhos: Antônio
Carlos, Ana Maria, Gina Mara e Ângelo Geovane. De sua descendência,
em 2018, existiam mais 13 netos e 10 bisnetos.
Em 13 de outubro, com a saúde frágil, no Hospital São João de Deus,
veio a falecer, deixando muita saudade aos familiares e a milhares de
amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 075, Dez. 2018
NOSSA GENTE 217
Cezarino Ferreira de Araújo
Não existe grandeza, onde não há simplicidade, bondade e dedicação.
Liev Tolstói
Cezário, como era mais conhecido
era uma pessoa simples, que
vivia de forma simples, com muita
dedicação em tudo que fazia e
um coração cheio de bondade.
Cezarino Ferreira de Araújo, o
“Cezário”, nasceu na comunidade
de Olarias, município de Carmo
do Cajuru, em 1o de julho de
1944. Filho de Norvina Cândida
de Jesus e Joaquim Teles Fialho,
foi o quinto filho de uma família
numerosa, com dez irmãos.
Cezarino Ferreira de Araújo
Amante do futebol, gostava
muito de praticá-lo nos bons
tempos de juventude. Bom de
bola, participava sempre dos
torneios realizados nas diversas
comunidades rurais.
Na vida profissional, foi funcionário da Siderurgia Cajuruense. Trabalhou
também na Nardelli S/A, na conservação dos trilhos, que
traziam desenvolvimento para o município. Trabalhou em algumas
fábricas de móveis. Por um bom tempo, trabalhou na Prefeitura Municipal,
onde permaneceu até a sua aposentadoria.
218
Célio Antônio Cordeiro
Os jovens Cezarino e Maria Vicência, no casamento
Em 1973, casou-se com Maria Vicência Pires da Rocha, de cujo matrimonio
nasceram quatro filhos: Maria Luzia, Flaviana, Júlio César
e Karla.
Sempre foi uma pessoa de muita fé cristã. Dedicou parte do seu tempo
à Sociedade São Vicente de Paulo, através da Conferencia Nossa
Senhora do Rosário de Fátima.
Filhas, filho e neta de Cezarino e dona Maria Vicência
NOSSA GENTE 219
Cezáreo e sua sanfona representa tradição, melodia e ritmo na folia de Reis
Como se sabe, Carmo do Cajuru
tem, entre suas muitas manifestações
culturais e religiosas
marcantes, o Reinado e a Folia
de Reis, como manifestações
folclóricas.
Foram duas das grandes paixões
culturais do Cezário. Com
sua sanfona de 8 baixos sempre
trazia ânimo e alegria com seus
solos e acordes. Isso ocorria nos
festejos da cidade, na zona rural
e, às vezes, em outras cidades
também.
Cezário, foi um exemplar pai de
família, de esposo, de avô e de
ser humano, que viveu de maneira
simples, mas sempre rodeado
de muitos amigos.
Cezáreo e sua sanfona de oito baixos
220
Célio Antônio Cordeiro
Em 19 de agosto de 2012, foi vítima de um infarto agudo que o levou
a morte, causando uma grande tristeza aos familiares e amigos. Deixava
para todos, além da saudade, um legado de cidadania ativa, de
valorização das tradições, da alegria de sua presença.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 057, Jun. 2017
NOSSA GENTE 221
Cristino Mateus da Silva
A vontade de humor – a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada
– constitui um truque útil para a arte de viver.
Viktor Frankl
Ele se identificou tanto com a
profissão, a ponto de os amigos
e o povo em geral se referirem a
ele como o “Cristino da Venda”.
Mas não foi só esse o seu ganha-pão.
Antes de assumir esse
ofício, envolveu-se em diversos
labores.
Cristino Mateus da Silva
Nascido em Carmo do Cajuru,
em 28 de julho de 1916, filho de
Antônio Mateus da Silva e de
dona Augusta Marra da Silva,
provindo de uma família modesta
e bastante numerosa. Perdendo
de forma prematura o irmão
mais velho, passou a ajudar muito
com seu trabalho no sustento
da família. Ainda muito jovem,
ajudava seu pai no árduo serviço
da roça.
Depois de morar algum tempo em São José dos Salgados, acompanhado
de seus pais, veio para Cajuru. Casou-se com Aurestina Gomes
da Silva e foi morar na fazenda do senhor Augusto Nogueira Maia,
onde praticava agricultura de sobrevivência. Como não sentia progresso
nesta profissão, voltou novamente para a cidade e adquiriu
uma padaria no bairro Bonfim, depois vendida ao seu funcionário
Rossine Sabino de Souza, jovem experienter em panificação.
222
Célio Antônio Cordeiro
Cristino e dona Tina, lembrança do casamento
Depois de passar pela experiência
como padeiro, Cristino resolveu
trabalhar como pedreiro.
Nesta profissão, deixou como
marca a obra de alvenaria anexada
ao cemitério, que ainda
se encontra resistindo à ação
do tempo até os dias atuais. Na
época, o local era destinado ao
sepultamento de pagãos.
Cristino, ao lado dos filhos; lembrança da família
Finalmente depois de passar por várias e diferentes profissões, estabeleceu-se
no comércio, adquirindo um imóvel de Rafael Gomes
Marra (o senhor Lete) localizado na rua Tiradentes, onde abriu a sua
loja. A partir daí, surgiu a “Venda do Cristino”, onde trabalhou por
longos anos, até se aposentar. No comércio, tornou-se pessoa muito
popular, por seu excelente atendimento, e pela facilidade de manter
grandes e boas amizades.
NOSSA GENTE 223
Dona Tina e Cristino, em meio a familiares, na festa de Bodas de Ouro de seus pais
Homem simples, muito bem-
-humorado e de fino trato. Gostava
muito de brincadeiras e de
dar boas gargalhadas, quando a
ocasião o permitia.
Ao longo de sua vida, por sua
bondade e popularidade, foi
contemplado com mais de 100
afilhados, fato do qual o fazia
sentir-se muito feliz e orgulhoso.
Cristino nos deu um grande
exemplo de dedicação, sobretudo
aos filhos.
Com tanto trabalho e família numerosa,
ainda tinha o costume
de praticar a nobre virtude da
caridade para com os mais necessitados
que o procuravam.
Cristino, neto e moto, em momento descontraído
224
Célio Antônio Cordeiro
Pelos desígnios de Deus, com apenas 47 anos, perdeu sua bondosa
esposa e abdicou-se de um segundo matrimônio para viver em prol
do bem-estar dos filhos, que quando perderam a mãe alguns deles,
ainda eram bem pequenos. Com muita fé e coragem enfrentou a situação,
sem perder a alegria e a vontade de criá-los bem.
De sua união com dona Tina, nasceram doze filhos. Desses, criaram-
-se nove: Dirceu, Maria Augusta (in-memorian), Paulina, Lúcia, Elisabete,
Angélica, Pida, Jordane e Júlio (in-memorian) sendo que em
vários, antecedem os nomes: de José ou de Maria, devido à devoção
com a Sagrada Família.
Em 23 de abril de 1989, já com a saúde debilitada, porém ainda muito
lúcido, veio a falecer. Para seus filhos, além da grande saudade, deixou
o grande exemplo de pai dedicado, amoroso e trabalhador. Para
os amigos, ficaram as lembranças daquele senhor risonho, íntegro,
honesto e sincero, que deixou muita saudade.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 017, Fev. 2014
NOSSA GENTE 225
Domingo do Rosário
Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos.
Albert Einstein
Domingo de Oliveira (do Rosário), raiz produnda
do Reinado de Carmo do Cajuru
Domingo de Oliveira (do Rosário)
nasceu em Carmo do Cajuru,
no dia 4 de outubro de 1897, filho
de Benedito Antônio de Oliveira
e de Maria Antônia. Casou-
-se duas vezes. *
A primeira vez, no dia 11 de fevereiro
de 1919 (religioso) com
Maria Rosa, filha de Antônio
Moreira e de Rosa de Jesus. Com
ela tiveram sete filhos: Geraldo,
Mário, Domingos, Wanderley
(Belém), Maria da Conceição,
Wanda e Geórgia.
Na segunda vez, em 26 de julho
de 1969, com Maria Geralda da
Silva, filha de Geraldo Adão e Silva e de Rita Maria de Jesus. Com ela
não teve filhos.
* Seu pai, Benedito Antônio de Oliveira, ex-escravo (de Antônio José de Oliveira, de quem
herdou o sobrenome) casou-se duas vezes também. Na primeira, com Ana Maria de
Jesus. Depois, em 23 de agosto de 1891, com Maria Antônia, ex-escrava de Joaquim Luís
de Melo.
São filhos de Benedito, além de Domingo, dona Conceição, mãe de dona Eli (Mãe Preta)
e do senhor Luís Gonzaga (“Dentinho”), estimado pandeirista e tintureiro de Carmo do
Cajuru, na década de 1950).
226
Célio Antônio Cordeiro
Domingo do Rosário foi um grande personagem da história de Carmo
do Cajuru, presidente da irmandade da Nossa Senhora do Rosário
durante muitos anos. Um grande líder. Estava predestinado a ser
grande devoto de Nossa Senhora do Rosário. Nasceu num Domingo,
durante as comemorações da irmandade. Seu pai era também devoto
da Santa e um grande líder, mesmo antes da igreja do Rosário,
construída em 1883.
Serviu o Exército em 1922, em
São João Del Rei, quando já estava
casado, onde aprendeu a
ler e escrever, tornando-se uma
pessoa muito desenvolvida.
Domingo do Rosário, Capitão do Reinado
Foi primeiro motorista habilitado
de Carmo do Cajuru. Trabalhou
na fábrica de manteiga de
Antônio Altivo, em 1950. Trabalhou
também, na Usina e Barragem
de Carmo do Cajuru, em
1958/1959, sendo um de seus
primeiros funcionários. Trabalhou
também na Siderurgia Cajuruense,
na década de 1960.
Participou ativamente das atividades sociais e culturais de sua terra,
como líder das Encomendações de Almas durante a quaresma e da
Folia de Reis, cantando com sua voz grave e bonita. Foi também confrade
vicentino.
Em 1962, quando o Pe. Parreiras Villaça idealizava a construção da
Praça de Nossa Senhora Aparecida, foi ele uma pessoa que colaborou
muito com o seu trabalho, para que as obras fossem realizadas.
Sendo um trabalho totalmente voluntário.
NOSSA GENTE 227
Neta ostenta estandarte da Irmandade N. S. do Rosário
No tempo de Domingo do Rosário, o reinado de Carmo do Cajuru era
muito bonito, uma grande festa. Um gigantesco mastro era erguido
em frente da igreja e centenas de bandeirolas tremulavam por todo
lado. Peregrinos de longe e das comunidades rurais vinham a pé para
pagarem promessas, locomovendo-se de joelhos em torno da igreja.
Para completar seu papel como agente da história de sua terra, foi jogador
do Cajuru Futebol Clube, o primeiro time de Carmo do Cajuru.
228
Célio Antônio Cordeiro
Domingo do Rosário com seu
amor e dedicação com a Irmandade
do Rosário, deixou um
legado muito importante para
a nossa religiosidade e cultura
através do Reinado.
Capela do Rosário (concluída em 1883)
Hoje, Carmo do Cajuru, pode orgulhar-se
de ter uma das festas
mais tradicionais e de rara beleza
de nossa querida terra.
Quantos grandes líderes dessa festa seguiram seu belo exemplo, no
trabalho e no amor por nossa cultura, tradição e fé.
Domingo do Rosário jamais será esquecido. Está em destaque entre
as pessoas especiais que se dedicaram de corpo e de alma para,
preservar, nutrir e fazer crescer, cada vez mais, essa linda tradição
afrobrasileira da comunidade cajuruense.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 010, Jul. 2013
NOSSA GENTE 229
Eli Benedito
Habita uma paz imensa nas trilhas benditas da minha terra natal
e tudo à minha volta se traduz em poesia na paisagem do meu ser.
Miriam da Costa
Aqui está um pouco da vida de
um grande vulto de Carmo do
Cajuru. Ele foi uma estrela que
brilhou muito na vida profissional,
na cultura e nas tradições:
Eli Benedito.
Nascido em Carmo do Cajuru,
em 30 de novembro de 1931, Eli
Benedito foi pai de nove filhos,
que são frutos de dois casamentos,
além de um filho adotado.
Casou-se pela primeira vez em
30 de setembro de 1954 e teve
seis filhos. No segundo casamento,
teve mais três filhos, somando
quatro filhos e seis filhas.
Durante toda sua vida se mostrou
um grande pai, dedicado ao
Eli Benedito, benfeitor do Reinado cajuruense
bem-estar de sua família.
Eli começou a trabalhar desde jovem. Em Carmo do Cajuru, trabalhou
como servente de pedreiro até 1949. No mesmo ano partiu para
fora: 1949 a 1952. Depois de seu alistamento militar, passou pela Escola
de Sargentos do Exército (ESA), na cidade de Três Corações. Em
1952, retornou a sua terra natal, trabalhando como alfaiate até 1958.
Eli Benedito foi jogador do Tupy Futebol Clube e participou da Banda
de Música.
230
Célio Antônio Cordeiro
Sobrinhos de Eli Benedito, presença nas festas do Rosário (praça do Cruzeiro)
Ainda em 1958, mudou-se definitivamente para Goiás, onde estava
sendo erguida a nova capital brasileira (Brasília), levado pelo engenheiro
Dr. Mário Meireles, indo trabalhar na Companhia Urbanizadora
da nova capital. Sendo também secretário particular do referido
engenheiro.
Eli Benedito, em solenidade, ao final da temporada do Reinado de N . S do Rosário
NOSSA GENTE 231
O jovem Eli Benedito, admirado pelos músicos da Banda Santa Cecília
Mais tarde, após a inauguração de Brasília, recebeu o cartão da Associação
dos Candangos Pioneiros de Brasília. Prestou serviços diversos
na Presidência da República.
Em 1961, na chefia do Gabinete Civil, permaneceu até fevereiro de
1968. No ano de 1988, recebeu uma promoção a Assistente do Departamento
de Administração do Palácio do Planalto, onde ficou até
março de 1990. Foram várias suas atividades na Capital do País.
Foi muito dedicado aos estudos. Fez o curso primário, no Grupo Escolar
Princesa Isabel, em Carmo do Cajuru. Curso Ginasial nos Colégios
Caseb – Plano Piloto 1o e 2o; no Setor Leste- Plano Piloto, 3o e
4o ano. Curso Colegial: Centro de Ensino Médio Elefante Branco, 1o
ao 3o ano. Fez também diversos cursos técnicos, todos em Brasília.
Durante todo o tempo que esteve fora, nunca deixou de estar presente
e prestar relevantes serviços a uma de suas grandes paixões:
o Reinado, especialmente, preservado pela Irmandade de Nossa Senhora
do Rosário. Dedicou-se de corpo e alma ao resgate e a preservação
desta centenária manifestação religiosa e cultural de Carmo
do Cajuru. Por longos anos, foi o Capitão General e zelador de Nossa
Senhora do Rosário, sendo um dos principais responsáveis pelas festas
e celebrações do Congado.
232
Célio Antônio Cordeiro
A Irmandade é uma das grandes referências Reinado tradição. Sempre
teve um importante papel social, cultural e religioso no nosso
município, agregando e estimulando a solidariedade entre as pessoas
da Comunidade.
Mesmo depois de ser acometido de um AVC, o senhor Eli encontrava
forças para deslocar de Brasília para acompanhar os festejos do Reinado.
Essa ilustre figura foi, sem dúvidas, um dos principais líderes
desta bela manifestação de fé e de cultura do povo cajuruense.
Em 23 de março, depois de passar
por um período bem adoentado,
veio a falecer, trazendo
muita tristeza, não só aos familiares,
mas também ao grande
número de amigos.
Para finalizar, registro aqui uma
bela oração escrita por ele e que
consta da lembrança da missa
de 7 o dia:
“Que a Senhora do Rosário
me embale no Manto Sagrado...
No Rosário eu nasci,
no Rosário eu me criei,
agora o Rosário me guarda
na vida eterna. Amém”.
Mestre Eli Benedito, o amor pela terra natal
JORNAL BOCA DA MATA, n. 039, Dez. 2015
NOSSA GENTE 233
Francisco Eustáquio da Silva Maciel
A Caridade ensinada melhora os ouvidos, a Caridade praticada aprimora os corações.
Emmanuel
Hoje escrevo sobre a popular figura
do ‘Teacher’, como era carinhosamente
tratado por todos.
Provindo de uma família simples,
gente muito boa e muito
dedicada ao trabalho. Nasceu
em Carmo do Cajuru, em 5 de
setembro de 1951, filho de Pedro
Maciel da Silva e Dona Maria
Jose da Silva. Filho caçula, teve
mais quatro irmãos: Maria Teresinha,
José (Didi), Pedro Paulo e
Benjamim.
Seu brilhante currículo escolar
iniciou-se em 1959, depois de
Francisco Eustáquio, o “Teacher”.
ser matriculado no curso Primário
do Grupo Escolar Princesa
Isabel. Na época, mostrou-se um aluno dedicado ao estudo e de notável
inteligência.
Depois de cursar o antigo Primário, fez da primeira a 4ª Série, no extinto
Colégio Dom Bosco, em Carmo do Cajuru. Já formado, prestou
exames de seleção no Colégio Estadual de Divinópolis, hoje Escola
Santo Tomás de Aquino. Cursou o Clássico, durante mais três anos.
Paralelamente, fez também o curso de Magistério, no Colégio José
Demétrio Coelho. Finalmente, depois de ser aprovado no vestibular
da UFMG, fez o curso de letras, nas matérias de Português e Inglês.
234
Célio Antônio Cordeiro
Na vida profissional, teve também
uma carreira de destaque
até se aposentar. Lecionou em
colégios polivalentes nas cidades
de Araxá, Itaúna e Divinópolis.
Sempre deixava marcas
de saudades, por onde passava,
pelo seu dinamismo, sua amizade
e por sua excelente didática.
Francisco Eustáquio, aluno dedicado
Em Carmo do Cajuru, foi o local
onde mais trabalhou. Foi professor
no Colégio José Demétrio
Coelho e por longos anos na Escola
Estadual Padre João Parreiras
Villaça, onde chegou a ser
também Diretor.
Nos tempos de estudante do Colégio José Demétrio Coelho, gostava
muito de participar de programações musicais. Era presença ativa
nos desfiles cívicos de 7 de setembro junto dos irmãos Benjamim e
Pedro Paulo e outros colegas, que organizavam belas fanfarras, dando
um brilho todo especial aos grandiosos desfiles realizados naquela
época.
Francisco Eustáquio, em solenidade de formatura do Colégio José Demétrio Coelho (anos 1970)
NOSSA GENTE 235
Em 10 de julho de 1976, casou-se com Dona Hilda Costa de Oliveira
Maciel, com quem teve três filhos: Francis Oliveira Macie (casado
com Adriana de Souza Maciel), Cléo Oliveira Maciel e Tiago Oliveira
Maciel.
Para falar sobre sua vida de serviços voluntários prestados em prol do
povo e da sociedade, vamos resumir um pouco, pois foram muitos.
Desde criança tinha os olhares voltados para a Caridade. Foi confrade
da Conferência São Luiz Gonzaga. Tinha um carinho enorme para
fazer visitas aos socorridos da Vila Vicentina. Foi também doador de
córneas.
A fanfarra do Colégio José Demétrio Coelho, ensaiada pelo Teacher (1970)
Católico praticante, foi missionário nas celebrações da Semana Santa
na zona rural, por diversas vezes. Foi catequista, ministro da palavra,
celebrando por vários anos, os cultos fúnebres de exéquias. Foi
participante e um grande colaborador do grupo da Renovação Carismática
Católica.
Durante um bom tempo, participou do Movimento de Cursilho de
Cristandade, chegando a fazer palestras e a trabalhar em diversas
equipes de ações durante a realização do Cursilho.
236
Célio Antônio Cordeiro
Eustáquio Maciel, lembrança da formatura
A música foi um de seus maiores
hobbies. Por longo período, foi
músico da Associação Musical
Cajuruense, atividade que desempenhava
com muito amor e
com muita disposição.
No dia 27 de fevereiro de 2015,
veio a falecer encerrando assim
sua temporada na vida terrena
e indo morar no plano de cima
junto ao nosso Criador.
Hoje sua saudosa figura ainda é
muito lembrada, não somente
pelos familiares, como também
por um grande número de amigos,
que com ele conviveram.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 085, Out. 2019
NOSSA GENTE 237
Genésio Fernandes Fialho
A verdadeira caridade é impalpável como a luz e invisível como o perfume:
dá o calor, dá o aroma, mas não se deixa tocar nem ver.
Coelho Neto
Genésio, treinador técnico, festeja com o Tupy
Eis aqui um pouco sobre a vida
de Genésio Fernandes Fialho;
pessoa que se destacou muito
pela vida compromissada com
trabalho voluntário em prol de
outras pessoas, por sua fé e por
sua dedicação ao Tupy F. C.
Genésio fazia parte de uma família
numerosa e composta por
mais oito irmãos, sendo ele, o
quinto filho de José Fernandes
Prudêncio e dona Maria Augusta
de Jesus. Nasceu no dia 14 de
junho de 1940, na comunidade
(fazenda) dos Fialho, no município
de Carmo do Cajuru. Aos
doze veio para a cidade.
Desde jovem, gostava muito de
futebol, tornando-se uma das mais expressivas figuras na história do
glorioso Tupy Futebol Clube. Trabalhou muito na formação de atletas,
nas categorias de base do clube, e chegou por diversas vezes, ser
o técnico da equipe principal do Tupy.
Quando no comando do time, foi campeão por diversas vezes, em
várias categorias. Inúmeras são as pessoas que se lembram, com saudade,
dos bons tempos do Tupy sob o comando dele.
238
Célio Antônio Cordeiro
Genésio foi o representante do time alvinegro cajuruense, junto a
LMDD, por vários anos. Teve uma breve passagem como treinador
do Sport Club Cajuru.
Foi um treinador muito carismático, que não se preocupava apenas
com as habilidades físicas do jogador, mas também com a formação
moral e a autoestima de seus comandados. É considerado uma
pessoa vencedora por seu meritório trabalho em prol do futebol cajuruense.
Em 28 de agosto de 1973, casou-se com Arlete Luiza de Almeida Fernandes,
filha de dona Isabel Luiza de Almeida e de José Viana de Almeida.
Do casal, vieram três filhos: Daniel, Isabel Augusta e Pablo
Ricardo. Genésio, foi um dedicado esposo e exemplar pai de família.
Na vida profissional cumpria
com muita dignidade e dedicação
os trabalhos que exercia. Foi
proprietário de lavanderia e trabalhou
no setor de Assistencia
Social da Prefeitura Municipal.
Católico fervoroso, Genésio
exerceu durante alguns anos os
cargos de ministro da Eucaristia
e ministro da Palavra e ajudou
muito nos trabalhos da construção
da capela de São Francisco
de Assis.
Genésio e Arlete, na cerimônia de casamento
Ele foi o primeiro presidente da
Associação de Moradores do
Bairro Nossa Senhora do Carmo.
Foi um confrade assíduo e
também o primeiro presidente
da Conferência São Francisco de
Assis.
NOSSA GENTE 239
Genésio, ao lado da equipe infantil do Tupy, em 1967 - Técnico de Futebol Infantil
Genésio, ao lado da equipe vitoriosa do Tupy, nos anos 1970 - Técnico de Futebol Amador
Com tanto trabalho voluntário, recebeu ainda em vida, uma homenagem
da Câmara Municipal local, configurada na comenda Caa-yuru
e na denominação de um logradouro urbano com seu nome: rua
Genésio Fernandes Fialho. Vítima de um infarto agudo, infelizmente,
Genésio faleceu ainda bem jovem e deixou muitas saudades. Partiu
com apenas 60 anos de idade, no dia 23 de abril de 2001, porém, seu
legado permanece, sendo um exemplo de profissional, desportista,
esposo e filho.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 026, Nov. 2014
240
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 241
Geraldo de Souza e Silva
Para o homem honrado, a satisfação de bem servir é o melhor prêmio.
Gaspar Melchior
Geraldo de Souza e Silva (Lado), Capitão da
Guarda de Reinado
Como se observa, ao longo da
história de Carmo do Cajuru, há
muita identidade com as tradições
religiosas e culturais. Duas
delas são muito marcantes: o
Reinado e o Carnaval. Para falar
dessas manifestações, é muito
difícil não se lembrar de grandes
nomes de destaque no meio.
E o caso do senhor Geraldo de
Souza e Silva, o “Lado”, como
era conhecido e chamado carinhosamente
por todos.
Provindo de uma família numerosa,
era filho de.
Nasceu em Carmo do Cajuru, em
29 de setembro de 1954. Foi o 4º
filho da numerosa prole do casal
José Cassemiro da Silva e de dona Carmelita de Souza e Silva. Seus
irmãos: José Cassemiro (Zezinho), Maria Jose (Tita), Antônio (Cotó),
João (Pelé), Jorge e Maria do Carmo (Neca).
Foi uma família criada com dificuldades, mas sempre com belos
exemplos de perseverança, amizade e dignidade. Foi sempre uma família
muito querida e honrada.
242
Célio Antônio Cordeiro
O jovem jogador do Sport, Lado (o primeiro à esquerda), na fileira de baixo
O “Lado” iniciou seus estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje
Escola Municipal; depois, com a fundação da nova Escola, foi transferido
para o Grupo Escolar Vigário Jose Alexandre que, na época,
funcionava onde hoje está parte do prédio da Clínica Municipal.
Desde criança, teve uma grande habilidade com a bola. Jogou durante
longos anos, defendo a camisa do Sport Club Cajuru, sempre sendo
um dos destaques do time em seu tempo. Desde cedo, também
despertou o seu amor e a sua dedicação pelo Reinado.
Teve uma ativa e importante participação na Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário, tornou-se o primeiro Capitão da Guarda Conga,
até alcançar um dos maiores postos da referida irmandade, que foi a
de Capitão Regente.
Sempre gostou de um batuque. Animou e regeu por vários anos, a
bateria da Escola de Samba “Unidos do Pavão Dourado”
Casou-se com Maria Eunice, com quem constituiu uma bela família.
Tiveram os filhos: Janice Aparecida, Renato Cassemiro e Aline Eunice,
hoje todos casados.
NOSSA GENTE 243
Geraldo “Lado” e a esposa Maria Eunice
Foi uma pessoa que professava
bem a sua fé, através de gestos
concretos. Frequentou Grupos
de Casais e de Noivos, onde ministrava
palestras preparatórias.
Trabalhou por muitos anos na
Fundição Cajuru, como moldador
e forneiro, mesmo após aposentar-se
por tempo de serviço.
Geraldo de Souza e Silva sempre
executava suas tarefas com
grande responsabilidade e cumprindo
com dedicação os seus
deveres.
Mesmo depois de mais velho, resolveu a voltar novamente à Escola
(EJA) para a conclusão do segundo grau.
Em 22 de junho de 2006, veio a falecer, provocando uma grande comoção
e tristeza aos familiares e amigos.
A Família que aqui deixou, deu continuidade aos seus anseios para
que, além da memória viva, prevalecessem também, as muitas e
boas lembranças deixadas em sua trajetória e principalmente as alegrias
que ele proporcionou aos familiares e a muitos amigos.
Geraldo de Souza e Silva, deixou a todos legados de honestidade,
honradez e alegria de bem viver.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 076, Jan. 2019
244
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 245
Geraldo Dias Barbosa
Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.
Aldous Huxley
O músico e comerciante Geraldo
Dias Barbosa, “Sô Ladico”, como
era conhecido carinhosamente
por todos, nasceu em Carmo do
Cajuru, em 18 de março de 1918.
Fez seus primeiros estudos no
Grupo Escolar Princesa Isabel,
como era o nome de antigamente.
Casou-se por duas vezes.
O primeiro, com Ana Augusta
Maia, com quem teve duas filhas:
Lêla e Ana Maria. Em 12
de agosto de 1949, ficou viúvo
e, em 22 de setembro de 1951,
casou pela segunda vez com Catarina
Batista Rabelo.
O ex-prefeito Geraldo “Ladico”
Do segundo casamento, nasceram
mais sete filhos: Natálio,
Antônio, Josias, Natália, Selma, Geraldo e Amélia. Pelo seu modo de
ser, viver e lidar com tanta gente, tornou-se pessoa muito popular.
Foi um comerciante tradicional de Carmo do Cajuru e dotado de uma
grande sabedoria e de dons refinados na música. Possuía uma excelente
memória e uma conversa que conquistava a todos. Sob uma
grande modéstia e simplicidade, escondia-se um homem sábio, honesto,
dedicado pai de família e um dos músicos cajuruenses mais
expressivos.
246
Célio Antônio Cordeiro
Foi um grande amante da boa leitura, o que fez com que se tornasse
um grande conhecedor da história e de assuntos gerais. Gostava
muito de Política, e repudiava muito os políticos corruptos, que depreciavam
a política.
Na história política de Carmo do Cajuru, marcou presença como vice-
-prefeito ao lado do prefeito Geraldo Gonçalves de Souza (“Dico da
Mata”), assumindo temporariamente a prefeitura, quando Dico teve
breve afastamento.
O músico Geraldo “Ladico” é diplomado como vice-prefeito
Ajudou muito na criação do Sport Club Cajuru, tanto na construção
do campo, como também na admistração, onde foi presidente por
vários anos.
Gostava muito de tocar violino, o instrumento predileto. Fez parte
da orquestra paroquial, banda de música na Semana Santa, no mês
de maio e em diversos eventos para os quais era sempre convidado.
Além de ser exímio tocador, chegou a compor músicas carnavalescas
e algumas valsas.
”Sô Ladico” recebeu homenagens no Fórum e também na Câmara
Municipal, pelos relevantes serviços prestados à sociedade local.
NOSSA GENTE 247
O violinista “Sô Ladico”
Faleceu no dia 20 de novembro de 2000, deixando muita saudade
não somente aos familiares e a muitos amigos cajuruenses. Um grande
número de frequentadores encontravam em seu bar, os inesquecíveis
picolés e sorvetes e o espaço de encontro de amigos, onde havia
a boa prosa do homem sábio e muito comunicativo, que sempre
brindava os frequeses com belas músicas ao violino.
Sô Ladico foi uma das personalidades cajuruenses que, pelo seu próprio
brilho, destacou-se na trajetória musical e cativou o respeito e
admiração de todos, que com ele tiveram o privilégio de conviver.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 011, Ago. 2013
248
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 249
Geraldo Guimarães
Não basta adquirir sabedoria; é preciso também usá-la.
Cícero
Vamos relembrar e homenagear
uma figura muito querida e admirada
pelos cajuruenses: Geraldo
Guimarães, nascido em 30
de janeiro de 1911, filho de dona
Aurora Rosalina Epifânio Guimarães
e de Aquiles Guimarães.
É lembrado como uma pessoa
muito culta e de uma grande
sabedoria. Sua memória evoca
saudade e carinho dos familiares
e das muitas pessoas que tiveram
o privilégio de conhecê-lo.
Fez os seus primeiros estudos
em Carmo do Cajuru e parte de
sua preparação para a faculdade,
foi em Belo Horizonte. Ainda
O jovem Geraldo Guimarães
jovem, seguiu para a cidade de
Ribeirão Preto (SP), onde se formou em Odontologia, pela Faculdade
de Farmácia e Odontologia.
Formado, voltou para sua terra natal, em outubro de 1945. Chegando
aqui, exerceu com muita dignidade e competência a sua profissão,
durante muitos anos, no gabinete localizado em sua residência. Foi o
primeiro dentista do Posto Municipal de Saúde, de 1965 a 1982.
250
Célio Antônio Cordeiro
Em 15 de março de 1948, casou-se com Maria de Freitas Gontijo, com
quem teve oito filhos; José Nilson, José Eugênio, Maria Célia, Maria
Marta, Lúcio, Maria Cristina, Mário e Maria Angélica. Foi um grande
esposo e um pai muito dedicado, que sempre prezava por uma boa
educação de seus filhos.
Paralelamente a sua profissão de dentista, a partir do final dos anos
1950 até os anos 1970, lecionou Ciência e História nos extintos colégios
Dom Bosco e José Demétrio Coelho, ao quais ajudou na fundação.
Na década de 60, ajudou também a fundar o Ginásio Estadual,
hoje Escola Estadual Padre João Parreiras Villaça, onde se destacou
como um dos melhores professores.
Tinha uma didática muito apurada e era muito respeitado e admirado
por todos os alunos e colegas professores. Uma profissão, que
segundo ele próprio, amava demais.
Dr. Geraldo e familiares (da esq. p/ dir.):
NOSSA GENTE 251
Foram muitas as marcas positivas deixadas, por onde esteve presente.
Foi um dos fundadores do glorioso Sport Clube Cajuru e secretário
da primeira Diretoria do Clube. No início dos anos 60, contribuiu muito
para a fundação da Cia. Telefônica, onde foi o diretor-presidente.
Seguindo os passos de seu pai, Aquiles Guimarães, como um grande
fotógrafo, contribuiu muito para os importantes registros fotográficos
que compõem o acervo de fotos antigas de Carmo do Cajuru. Vale
lembrar, que Dr. Geraldo foi um dos incentivadores e colaboradores
na histórica filmagem da Semana Santa de 1951.
Colaborou também em duas importantes construções de nossa cidade:
a Vila Vicentina e a Praça Nossa Senhora Aparecida (do Cruzeiro).
Foi confrade durante muitos anos e colaborava mensalmente com
doações em favor dos mais necessitados.
Participava ativamente da vida
social, cultural e religiosa, ligadas
as nossas tradições. Ao lado
de suas habilidosas irmãs Lúcia,
Paulina e Lalia Guimarães, ele
sempre ajudava a preparar bem
os ambientes festivos das celebrações,
andores, altares do
mês de maio e de outras festas
religiosas como a Semana Santa
e a Festa da Padroeira.
Geraldo conduz sua filha ao altar
Dr. Geraldo Guimarães foi um
grande músico de nossa cidade.
Ajudou a fundar e participou da
Banda da Associação Municipal
e da Orquestra Paroquial.
Na Câmara Municipal, foi vereador no período de 1963 a 1966, embora
ele mesmo chegasse a falar que não levava jeito em trabalhar
na política, achava muito difícil tomar um lado, devido suas inúmeras
amizades com todos. Seu lado era sempre o do bem-estar do povo e
do progresso de Carmo do Cajuru.
252
Célio Antônio Cordeiro
Pelos grandes e relevantes serviços
à comunidade, recebeu
várias homenagens, dentre elas,
a comenda Caa-yuru e uma honrosa
homenagem feita pelo Rotary
Clube nos anos 1970. Recebeu
um certificado de “Honra ao
Mérito”, do Ministério da Educação
e Cultura, em 1973. Foi também
o Patrono do Grêmio Estudantil
da Escola Estadual Padre
João Parreiras Villaça.
Dr. Geraldo foi grande colaborador
e incentivador do trabalho
historiográfico do professor
Oswaldo Diomar, em suas importantes
obras sobre a história
Dr. Geraldo em momento social
de Carmo do Cajuru, reconhecido pelo historiador em artigo no Jornal
Sol Nascente de agosto de 1994.
No dia 3 de junho de 1994, depois de uma longa enfermidade, veio a
falecer, deixando uma lacuna de muita saudade aos familiares, alunos
e amigos.
Deixou para nós, legados muito importantes: dedicação ao trabalho,
honestidade, sabedoria e simplicidade. *
JORNAL BOCA DA MATA, n. 082, Jul. 2019
* Eu o admirava muito. Além do dr. Geraldo ter sido um grande mestre que tive no Ginásio
Estadual, foi também um grande conselheiro. Através dele e de suas Irmãs dona Lúcia
e dona Lalia, tomei gosto pela fotografia e pela história de nossa querida terra. Grande
parte do meu acervo mais antigo, saiu da casa daquela tradicional família, que sempre
valorizou a nossa cultura.
NOSSA GENTE 253
Geraldo Mano da Silva
A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.
Ralph Emerson
Em capítulos da história de Carmo
do Cajuru, sempre encontramos
grandes e importantes
figuras, que através do seu trabalho,
sua dedicação e doação,
muito contribuíram para o bem
comum e com o desenvolvimento
do município.
Aqui está um breve relato sobre
a vida do senhor Geraldo Mano
da Silva, popularmente conhecido
como “Dico Mano”.
O senhor Dico Mano
Geraldo Mano da Silva nasceu
na cidade de Carmo da Mata, em
2 de novembro de 1910, filho do
casal Adelino Mano e Cândida
Carolina de Jesus. Seu pai era de
nacionalidade portuguesa e sua
mãe nascida em Carmo da Mata.
Dico Mano ainda bem jovem, conheceu as durezas da vida através do
trabalho na agricultura que, na época, era muito exigido pelos pais.
Dedicou-se ao trabalho de agricultor e produtor rural. Com o carro de
bois, exerceu também o custoso trabalho de transportar lenha e madeira
até as imediações da estação ferroviária onde eram exportadas
para a capital mineira e outras cidades.
254
Célio Antônio Cordeiro
Com apenas 22 anos, casou-se com Adelaide Nogueira de Souza, na
época com apenas 21 anos. Adelaide nasceu em Carmo do Cajuru, filha
de Custódio Nogueira Gontijo e dona Josina Maria de Souza (dona
Josa) que era prima em 1º grau do saudoso Pe. João Parreiras Villaça.
O casamento ocorreu em 2 de outubro de 1933, em celebração feita
pelo Padre José Alexandre de Mendonça, na matriz de Nossa Senhora
do Carmo. Do matrimonio nasceram quinze filhos: Maria de Lourdes,
Adelino, Antônio, Nilton, Neusa, Wilson, Elena, Cleusa, Leila,
Sônia Stela, Custódio, José Mano, Zilda, Fátima e Ilda.
O senhor Dico Mano (sentado, último à direita), na inauguração da Cooperativa de Produção (1951)
Fruto de muita dedicação ao trabalho, Dico Mano tornou-se um dos
grandes produtores rurais de Carmo do Cajuru. Preocupava-se muito
com a situação dos produtores de leite e principalmente dos que formavam
um grande grupo de pequenos produtores. Foi quando junto
aos amigos fazendeiros, iniciaram uma batalha, para que Carmo do
Cajuru, tivesse uma Cooperativa de produção de maior porte do que
as que naquela época existiam.
Em 9 de maio de 1950, fundaram a Cooperativa Agropecuária, inaugurada
solenemente em 1o de janeiro de 1951, na praça Presidente
Vargas, em frente da Estação Ferroviária.
NOSSA GENTE 255
Em 25 de abril de 1957, através de seus esforços e de outros fazendeiros
e produtores, fundou-se mais uma importante Cooperativa
– a Cooperativa do Produtores Rurais de Carmo do Cajuru, que funcionou
durante vários anos até dezembro de 1974. Geraldo Mano da
Silva teve um papel muito importante no bom funcionamento dessa
Cooperativa, estando sempre à frente, demonstrando sempre sua
habilidade de um grande administrador.
Foi um grande colaborador da Vila Vicentina e também nas diversas
atividades da igreja, amigo que era muito próximo do padre João,
como se observa nos muitos programas de festejos religiosos da paróquia,
onde seu nome sempre aparece mencionado em comissões
festeiras.
O senhor Dico Mano, em reunião festiva na família
Foi através de seu desprendimento e de sua boa vontade que Carmo
do Cajuru possui hoje um dos mais belos cartões postais – a maravilhosa
praça Nossa Senhora Aparecida, popularizada como “Praça do
Cruzeiro”. Foi ele quem fez a doação do terreno em que se encontra
a praça, além de colaborar financeiramente com várias obras ali realizadas.
Fez também uma importante doação do terreno onde se
encontra a Escola Estadual Pe. João Parreiras Villaça.
256
Célio Antônio Cordeiro
Dicogostava muito da política. Chegou a ser vice-prefeito de José Batista
de Menezes (Jose Teles). Por coincidência, teve um filho e um
neto que ocuparam o cargo de prefeito municipal de nossa cidade.
Dico Mano e dona Adelaide tiveram uma longa vida conjugal, celebrando
as Bodas de Diamante. Foram 63 anos juntos, tristemente
interrompidos com o falecimento de seu esposo, em 21 de julho de
1985, depois de sofrer dois infartos seguidos. Momentos de muita
comoção e tristeza marcaram o passamento de Dico Mano, velado
por centenas de parentes e amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 065, Fev. 2018
NOSSA GENTE 257
Guido Alves de Oliveira
Aquele que tem caridade no coração, tem sempre qualquer coisa para dar.
Santo Agostinho
Nesta crônica está um pouco do
homem simples, dedicado ao
trabalho e à ação social e à família,
que foi o senhor Guido Alves
de Oliveira, nascido na comunidade
de Ribeiros, em 24 de março
de 1934, filho do casal Francisco
Alves Ribeiro e Romualda
Maria de Jesus. Teve 7 irmãos:
Tito, Ivo, Célio, Celita, Alzira,
Etelvina e Expedito.
Guido Alves de Oliveira
De família numerosa, desde
adolescente, foi acostumado
com as batalhas da vida. Viveu
sua infância e adolescência na
comunidade natal.
Trabalhou num pequeno armazém que ficava próximo da praça da
Igreja de Ribeiros. Gostava muito de ajudar nos trabalhos da igreja,
seja como coroinha e sacristão do padre Raul Silva, pároco de Carmo
do Cajuru, além de ajudar no altar, acompanhava o padre em visitas
aos doentes.
Nos anos 50, conheceu a jovem Noêmia Adelaide de Vasconcelos,
com quem se casou em 20 de abril de 1957, trazendo ao mundo os
filhos Anair, Zélia, Daura, João Bosco e Eunice.
258
Célio Antônio Cordeiro
Guido em momento de descontração com a família
Veio para a região urbana de Carmo do Cajuru em 1959. Aqui, trabalhou
como sapateiro em um pequeno espaço com Ramiro Antônio
Dias. Posteriormente, passou a trabalhar no comércio de armarinhos,
na rua Tiradentes.
Sua esposa Noêmia, também muito dedicada ao trabalho, o auxiliava
no comércio, sem se descuidar dos deveres do lar. Sendo uma
requisitada costureira, ajudava também nas despesas cdomésticas.
Na época, Carmo do Cajuru ainda cidade pequenina, havia poucas
lojas, e com muito esforço Guido conseguiu ampliar o seu comércio
de cama, mesa e banho, proporcionando melhor rendimento familiar.
Amava muito essa profissão; trabalhou como comerciante até
se aposentar e, mesmo depois, deu continuidade à vida empresarial.
Foi uma pessoa de amplo convívio social, o que o tornava pessoa
muito conhecida. Por seu modo de viver, fazia muitas amizades, especialmente
no meio rural.
Nas horas de folga, gostava muito de jogar baralho com seus amigos
e vizinhos. Foi uma pessoa sempre com uma alegria estampada no
rosto. Praticou muito a virtude da caridade, sendo membro ativo da
Sociedade São Vicente de Paulo, durante longos anos.
NOSSA GENTE 259
Fez parte de várias comissões
encarregadas de organização
de festas religiosas, conforme
registros em programas de festejos
realizados em nossa Paróquia,
onde serviu como conselheiro
paroquial. Foi congregado
mariano, por um longo período,
nos anos 1960. Participava ativamente
do grupo de ministros
da Eucaristia.
Fazia parte de um grupo de amigos
das caminhadas matutinas,
dentre eles: José Dias Barbosa
(Pipoca), Romeu Mateus, Paulo
Lourenço, Rafael Avelar, Walter
Rabelo (Tico da Zinha) e João
Mota.
Durante uma dessas caminhadas,
sentiu fortes dores no peito
e foi encaminhado ao hospital,
onde teve de se submeter a uma
cirurgia para colocação de pontes
de safena.
Guido, adolescente, em Ribeiros
Após 30 dias, ainda no CTI, não resistiu e veio a falecer, trazendo momentos
de grande comoção e tristeza aos familiares e amigos. Seu
falecimento se deu no dia 30 de maio de 2003.
Guido deixou legados importantes para os familiares: exemplo de
um afetuoso pai de família, honestidade no trabalho e principalmente
a prática da bela virtude da caridade e do amor.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 078, Mar. 2019
260
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 261
Ilídio de Sá
A grandeza de um coração, a retidão de um caráter, o espírito de doação,
só os pequenos fatos, os gestos singelos os sabem exprimir.
Geraldo Moreira
O bondoso senhor Ilídio de Sá
Ilídio de Sá, nasceu em 5 de abril
de 1915, em Carmo do Cajuru,
filho de Osório Carlindo de Sá e
Maria Angelina de Sá.
Estudou até o Primário. Na juventude,
foi produtor de leite e
sócio da Cooperativa dos Produtores
Rurais de Carmo do Cajuru,
bom negociante de gado,
tinha o dom da compra e venda
de animais. Essa habilidade fez
dele um homem conhecido na
região, de boas e numerosas relações,
principalmente, porque
era rigoroso com os compromissos
assumidos e bom no trato
com as pessoas.
Casou-se com Maria Nogueira Maia, em junho 1942, com quem teve
seis filhos, sendo quatro homens: Osvaldo, Ronaldo, Arnaldo e Aroldo;
e duas mulheres: Maria da Consolação e Sônia. Durante toda a
vida, auxiliou a irmã Geni de Sá e não deixou nada faltar, principalmente
nos momentos mais difíceis da doença. Ele também mostrou
sua generosidade ao abrigar e cuidar de Olívia de Sá, outra irmã, que
viveu por muitos anos com ele, além de Custódia, a cunhada acometida
por transtorno mental, não deixando faltar dignidade e auxilio
material a todas.
262
Célio Antônio Cordeiro
O casal Maria Nogueira Maia e Ilídio de Sá
O equilíbrio na medida certa,
sem exageros, sem excessos,
discreto nas atitudes e palavras,
que eram ditas após profunda
ponderação, mas que tinham
muito conteúdo, principalmente
para aqueles que conseguiam e
tinham o privilégio de ouvi-las.
A paciência também era uma característica
marcante do senhor de Ilídio de Sá, assim também seu
silêncio e resiliência diante dos desafios da vida, da doença e dos problemas
familiares – suas principais virtudes.
Homem da terra, baseava sua filosofia de vida no trabalho. Mesmo
na terceira idade, com o corpo já debilitado, gostava de ir para fazenda,
cuidar da criação, curar o gado, colocar o sal no cocho e consertar
cercas.
Na cidade, gostava de cuidar das galinhas e dos porcos, como forma
de ocupar o tempo em casa; ficar parado, jamais. Ao final do dia, não
dispensava a latinha de cerveja, apenas uma e pronto.
O casal Maria Nogueira Maia e Ilídio de Sá com os filhos
NOSSA GENTE 263
O senhor Ilídio foi sempre um homem de fé. Colaborou muito com os
menos favorecidos, fazendo doações à Vila Vicentina e a muitas pessoas
que lhe solicitavam algum tipo de ajuda, sempre com o espírito
alegre e coração aberto.
O senso de humor refinado, mantido até nos anos em que esteve
acamado, apresentando bom ânimo, boa conversa e uma boa taça
de vinho ao final do dia, um dos poucos prazeres que os médicos permitiram.
Faleceu aos 94 anos, depois de longo período de 4 anos acamado,
certamente marcado pela perda da esposa, que faleceu acometida
pelo Mal de Alzheimer. Coincidência ou não, ele deixou de caminhar
exatamente no dia em que ela faleceu.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 048, Set.. 2016
264
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 265
Izidoro Fonte Bôa *
Paciência e perseverança tem o efeito mágico
de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.
John Quincy Adams
Izidoro José Fonte Bôa nasceu
na fazenda Itaipava no dia 6 de
fevereiro de 1931, filho de Fidelis
José Fonte Bôa e Maria Carmelita
Vasconcelos, sendo o segundo
dos 10 filhos.
Ele tinha um braço “especial”,
consequência da provável criança
extremamente curiosa, aventureira,
criativa, habilidosa e
inteligente que era, pois eram
adjetivos que o identificavam e o
diferenciava em toda a sua vida.
Lembro-me dele contar que,
aos 6 anos de idade, sofreu um
acidente no ralo de mandioca
(moinho de pedra). Seu braço
Izidoro Fonte Bôa
esquerdo foi “engolido” naquelas
engenhocas e ficou todo dilacerado...
Contava que após o acidente, teve o braço envolto por
taquaras de bambú e pano e foi levado em carro de boi para Itaúna,
para receber socorros médicos.
* O autor agradece a gentileza de Marília e Aurélia, filhas do senhor Isidoro na elaboração
desta crônica. Era uma pessoa simples e de coração muito aberto! Sempre disposto ao
trabalho voluntário. Seu legado é sua vida exemplar e sua perseverança.
266
Célio Antônio Cordeiro
Desde então passou por grandes sofrimentos, muita febre e nos seis
meses seguintes ficou muito fraco, a ponto de temerem-lhe a sorte...
tempos idos e sofridos! As sequelas desse acidente foi um braço mais
curto e retorcido, com uma mão limitada, mas que nunca o inibiram
de exercer qualquer atividade, inclusive tocar instrumento de sopro
na Banda de Música Santa Cecília.
As cicatrizes produziram imagens
lindas em seu braço, como
paisagens, penas e outras várias
figuras que nos deixavam maravilhados!
Após se aventurar pela
capital, em busca de dias melhores,
montou uma das primeiras
oficinas de marcenaria de Carmo
do Cajuru e casou-se com
Ceci Maia (Fonte Boa), em 15 de
setembro de 1955. Juntos constituíram
uma barulhenta família
de 7 filhos (Carmelita, Marilia,
Elder, Eugênio, Leda, Aurélia e
Karla), que está na 4 a geração.
Os móveis da casa ainda são os
Ceci Maia e Izidoro Fonte Bôa
mesmos que ele próprio fez: o
jogo de quarto, o jogo de copa com mesa que se estende (coisa muito
moderna na época), cadeiras com acento em couro trabalhado,
cristaleira com vidros bisotados, tudo em verniz ‘asa-de-barata’. Os
móveis da cozinha são pintados e já mudaram de cor várias vezes ao
gosto da matriarca. Esses móveis têm 60 anos e parecem novos, por
serem de boa qualidade e bem cuidado.
Izidoro era também um grande sonhador, idealizador e experimentalista.
Dono de uma inteligência privilegiada, não tinha medo de tentar...
Dizia que nasceu no tempo errado, que deveria ter nascido num
tempo mais “moderno”. Nosso melhor passatempo era desafiá-lo a
fazer conta de multiplicar de 3 números “de cabeça”. Ele dava o resultado
antes que armássemos as continhas.
NOSSA GENTE 267
Sempre lamentamos sua morte tão prematura.
Um dia resolveu aprender a dirigir. Procurou o memorável Dr. Geraldo
Guimarães que o explicou em uma longa prosa como funcionava
um carro. Aí, do nada, já chegou lá em casa com um Jeep. Alguns
anos depois abriu uma oficina mecânica. Estava sempre estudando
e pesquisando, apesar de ter concluído apenas a quarta série. Trabalhou
intensivamente e em grande variedade.
Izidoro, Ceci e a jovem família
Dona Ceci e os filhos
Que eu me lembre foi tratorista, leiteiro, mecânico, sitiante, motorista,
corretor imobiliário... trabalhou também em grandes empreiteiras
fora daqui como mestre de obras: na construção da Usina de
Furnas, na mineração em Itabira, Usina de Nova Era, construção de
Brasília... mas, a lembrança mais forte que temos é de seus inúmeros
trabalhos, que é também a que mais prezamos e nos orgulhamos.
Era admirável a sua alegria, dedicação espontânea e gratuita às coisas
da igreja de Deus e do povo. Era um vicentino nato e convicto;
grande discípulo missionário de Jesus Cristo.
Braço forte na edificação da Vila Vicentina, da praça Nossa Senhora
Aparecida, (do Cruzeiro), Salão Paroquial e Casa Paroquial.
268
Célio Antônio Cordeiro
Era também realizador e executor das invenções modernosas do
amado e amigo padre João, que sempre queria fazer inovações na
igreja para as celebrações.
Faleceu pouco antes de completar 53 anos, no dia 14 de janeiro de
1984. Deu-nos um grande susto e deixou-nos uma grande saudade,
mas sobretudo a satisfação e o orgulho de tê-lo tido como pai.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 036, Out. 2015
NOSSA GENTE 269
Jamil Antônio Bechelaine
Não há satisfação maior do que aquela que sentimos
quando proporcionamos alegria aos outros.
Masaharu Taniguchi
A vida dos grandes homens é
sempre aferida pelas suas grandes
obras. Muitas vezes, no entanto,
a grandeza de um coração,
a disposição em trabalhar
em prol da comunidade e a retidão
de caráter, exprimem também
a grandeza de uma pessoa.
Quando se observa a história de
Carmo do Cajuru, nota-se que
passaram por aqui pessoas que
muito fizeram pelo lugar e sua
gente, mesmo vindas de outras
cidades. Nesta edição, mostraremos
um pouco do “Sô Nenem
da Nina” – homem que viveu na
simplicidade, mas conseguiu
Jamil “Nenem da Nina” Bechelaine
inscrever seu nome na sociedade
cajuruense, com seu trabalho voluntário e de sua marcante animação
nas festas populares.
Jamil, “Sô Nenem” ou ainda “Nenem da Nina”, nasceu na vizinha
cidade de Cláudio, em 23 de maio de 1920. Filho do libanês Moisés
Antônio Bechelaine e de Maria José Mendonça de Oliveira. Teve nove
irmãos: Jamili, Nagm, Helena, Abib, Nelson, Raimundo, Adélia, Renée
e Antônio.
270
Célio Antônio Cordeiro
Ainda bem jovem, casou-se
com Maria de Lourdes Menezes
(Nina) e tiveram um filho, Geraldo,
e os netos Samyr e Sâmara.
Em Cajuru, desempenhou diversas
profissões. Na política,
foi vereador durante o período
de 1960 a 1963 e vice-prefeito
no período de 1963 a 1967. No
poder legislativo, os serviços
prestados não eram remunerados
como hoje. O trabalho era
voluntário, mesmo sendo eleito
pelo povo.
Maria de Lourdes Menezes e Jamil
Tinha uma grande paixão pelas
festas populares. Onde acontecia
uma, lá estava o Sô Nenem,
participando, dançando e marcando,
espalhando alegrias a
todos. Outra grande paixão dele
era o Carnaval; coordenava e fazia
questão de marcar sua presença
nos desfiles de rua e também
nas festividades fechadas.
No final da Semana Santa, era
uma tradição a ‘malhação do Judas’,
um acontecimento que não
fazia parte da celebração religiosa,
pois se tratava de um evento
profano, mas trazia muita alegria
ao povo e principalmente a
criançada. Por longos anos, Sô
Nenem esteve à frente destes
momentos de alegria.
Jamil, em desfile de Carnaval
NOSSA GENTE 271
Jamil, em confraternização com amigos na fazenda Mangonga
Juntamente com sua a esposa Nina, construiu um clube no centro da
cidade, onde promoviam bailes e jogos, o que trazia ao povo, alegrias
e entretenimento.
Foi também funcionário público indicado por Alfredo Mattar, em Divinópolis,
para onde se mudou. Trabalhou na Escola Estadual Polivalente
como Inspetor de alunos e, posteriormente, no Colégio Estadual,
hoje Escola Estadual São Tomaz de Aquino, onde se aposentou.
Mesmo morando em Divinópolis, sempre estava presente nas festas
locais.
Depois de viver uma vida que muito contribuiu com a nossas tradições
e nossa cultura, já com a saúde fragilizada, Jamil veio a falecer
no dia 8 de julho de 2003, em Divinópolis. Foi velado em Carmo do
Cajuru e sepultado no Cemitério do Bonfim.
Um legado muito importante ele nos deixou como herança: alegria e
trabalho... saudades!
JORNAL BOCA DA MATA, n. 029, Fev. 2015
272
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 273
Jésus Ferreira de Melo
A bondade do homem pode ser escondida, mas nunca extinta.
Nelson Mandela
Um pouco sobre a vida de Jésus
Ferreira de Melo, pessoa do
bem, carismático, simples, que
foi muito dedicado ao trabalho
e prezava sempre pela honestidade.
Com seu modo de viver e
de ser e até de sua resignação ao
sofrimento, marcou de maneira
notável a sua vida terrena.
Nascido em 6 de agosto de
1928, na fazenda dos Paivas,
município de Claudio, filho de
Alexandre Gonçalves de Melo e
Maria Luiza de Jesus (dona Mariquinha),
vindo de uma família
numerosa.
Aos 23 anos, casou-se com Anízia
Nogueira Gonçalves de Melo.
Jésus Ferreira Melo
Do casal, nasceram 14 filhos: Maria Dalva, Maria Dinalva, José Celso,
José César, José Alexandre, Petrino José, Dilma, Delma, Denise, Edson,
Elmo, Daniela, Elso e Maria Luiza.
Mesmo sendo patriarca, ainda encontrou tempo e disponibilidade de
prestar grandes serviços em prol da comunidade. Fez parte de conselhos
da Cooperativa de produção e de Sindicato Rurais, onde prestou
relevantes serviços ao trabalhador rural.
274
Célio Antônio Cordeiro
Em 1976, foi eleito vereador da
Câmara Municipal de Carmo do
Cajuru, cujo trabalho era executado
na época, sem qualquer
tipo de remuneração.
Foi membro muito ativo no movimento
de Cursilho e Sociedade
São Vicente de Paulo. Em festividades
religiosas, fez parte de
dezenas de comissões, como se
nota em vários programas, que
estão nos arquivos do Museu e
Arquivo Sacro-Histórico, desde
Ex-vereador Jésus e dona Anízia
o início da década de 50 até a
década de 80. Teve uma vida muito marcada por grandes provações,
mas sua grande fé e resignação não o deixava entregar os pontos.
Em 30 de novembro de 2015, depois de uma longa enfermidade, veio
a falecer. Centenas de pessoas marcaram presença no seu velório.
Deixando muita saudade aos familiares e amigos.
A grande família do senhor Jésus e dona Anízia
NOSSA GENTE 275
O jovem casal Anízia e Jésus
Familiares manifestaram admiração pelo senhor Jesus Ferreira de
Melo, como se pode perceber pelo texto a seguir, que consta na lembrancinha
distribuída após a missa do 7 o dia:
“Ele foi exemplo de esposo, pai e avô... Sempre teve a família
como a inspiração para tudo! A todo tempo dedicado, presente,
amoroso, procurando fazer o melhor! Viveu o amor
no sentido mais pleno e bonito que existe.
No rosto, sempre tinha um sorriso acolhedor. Carinhoso,
nunca negava colo e nem uma boa prosa. Ao próximo,
sempre teve a mão estendida e o coração aberto.
Deixou a todos nós momentos inesquecíveis, alegres,
assim como soube suportar e tirar lições das provações da vida.
Sempre com muita fé, forças e coragem.
Deixa, naturalmente, uma grande saudade,
mas sabemos que está muito bem ao lado do Pai.”
JORNAL BOCA DA MATA, n. 043, Abr. 2016
276
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 277
João Alves de Oliveira
Amor Vincit Omnia (O amor vence todas as coisas).
Caravaggio
João Alves de Oliveira – Dico Dionísio,
como ficou mais conhecido
– nasceu em 28 de dezembro
de 1920, em Ribeiros. Filho de
Dionísio Antônio de Oliveira e
Norvina Maria do Amor Divino,
teve uma infância feliz ao lado
dos pais e irmãos José, Jacinto,
Maria Luzia, Ester, Valdemar,
Djanaria e Cloves. Ajudou os
pais, desde cedo, no trabalho
com a terra.
João Alves de Oliveira, o Dico Dionísio
Diante das dificuldades com a
educação dos filhos, Dionísio
contratou uma professora para
alfabetizar os filhos e posteriormente
estender o ensino a toda
comunidade. Nico cursou até o
quarto ano do grupo.
Ainda criança, foi coroinha nas celebrações das missas na comunidade,
na época, celebradas pelo padre Augusto Cerdeira. Cresceu no
seio familiar com orientação para a religiosidade, o respeito e o amor
ao próximo.
Na juventude, conheceu sua primeira namorada Alzira de Sousa,
também da comunidade de Ribeiros, que anos mais tarde, com ela
viria se casar.
278
Célio Antônio Cordeiro
Em fevereiro de 1943 foi convocado
para servir ao Exército
Brasileiro. Convocação esta que
se deu com o objetivo de servir
ao Brasil e aliados na Segunda
Guerra Mundial.
Deixou então sua namorada, família,
amigos, parentes e aquela
vida serena de cidadezinha do
interior. Muitos de seus sonhos
foram interrompidos, viu-se
sendo arrancado do seu mundo
para um mundo desconhecido,
juntando-se à outros brasileiros
também convocados.
O Brasil foi então à Segunda
Guerra Mundial com a Força
Expedicionária Brasileira (FEB),
instituída em 9 de agosto de
1943, para lutar na Itália, ao lado
dos exércitos aliados contra o
nazi-fascismo.
Convocado no Sexto Regimento
O canhoneiro Dico, antes do embarque para Itália
de Infantaria Paulista – Caçapava/SP,
viajou em junho de 1944, no navio “General MANN”, rumo à
Itália, sob o comando do general Zenóbio da Costa. Desembarcou no
porto de Nápoles. em 16 de julho de 1944.
Na função de atirador de morteiro (canhão), Nico Dionísio participou
da tomada de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945, depois de
várias tentativas fracassadas sob rígido inverno e neve, jamais vistos.
A tomada de Montese, que se iniciou em 14 de abril de 1945, foi a
mais sangrenta batalha da FEB, sob o comando do General Mascarenhas
de Morais.
NOSSA GENTE 279
No início da tarde de 17 de abril,
três dias depois de iniciada a
ofensica aliada para tomada de
Montese, Nico foi gravemente
ferido por uma granada. Socorrido
pela Cruz Vermelha, foi levado
ao hospital de campanha,
onde passou por várias cirurgias.
João sempre contava que, naquele
momento lá estendido no
chão e ferido, rogou bênçãos de
“Nossa Senhora Maria Santíssima”
que o cobrisse com seu
manto e o salvasse. E foi atendido.
Ainda hospitalizado recebeu
a notícia do fim da guerra.
A campanha dos pracinhas brasileiros
na Itália foi concluída em
Cartas de Dico Dionísio à família e namorada
2 de maio de 1945, quando foi declarado o cessar-fogo no front italiano,
com rendição das forças nazistas.
Nico retornou ao Brasil em julho de 1945. Recebeu do Ministério da
Guerra diplomas e medalhas de honra, como o de Sangue do Brasil
(por ferimento em ação), Certificado de Operações da Itália; em anos
posteriores foi congratulado com outros diplomas.
Chegou à sua terra natal, em 8 de agosto de 1945. Na estação teve
uma recepção fervorosa e emocionante. Com muita alegria contava
da emoção de chegar na casa dos pais e abraça-los, rever os irmãos e
também depois, de reencontrar a namorada que o esperava. Houve
ali na casa momentos de oração em família e depois muita festa com
muitos fogos de artifícios comprados pelo pai. O filho herói voltara à
comunidade!
Continuou vivendo ali mesmo na zona rural como agricultor e pecuarista,
vindo a se casar com Alzira de Souza em 7 de fevereiro de 1947,
tendo três filhos: Ângela; Dionísio e Marisa.
280
Célio Antônio Cordeiro
Mudou-se da comunidade de Ribeiros para a cidade, em 1963, ano
também em que ingressou no Departamento de Correios e Telégrafos
(DCT), trabalhando por 11 anos. Durante suas atribuições como
carteiro, inúmeras vezes atendia em sua casa pedidos de pessoas,
que não sabiam ler e escrever, para ler as cartas e redigir as respostas
conforme eram ditadas.
Retornou ao Exército e obteve a Reforma (aposentou-se), passando a
dedicar-se mais e com muita satisfação aos convites de professores,
alunos, e outras instituições para narrar os fatos ocorridos no front e
a importância do amor à pátria. Sempre participou com entusiasmo
dos desfiles de 7 de setembro em Carmo do Cajuru e em outras.
Em 7 de setembro de 1998, na gestão do prefeito Roberto Fonseca
inaugurou-se a Praça em homenagem aos ex-combatentes, posteriormente
repaginada pelo então prefeito Edson Vilela.
Nico Dionísio foi por muito tempo confrade da Conferência de São
Vicente de Paulo. Sempre em todos os seus atos concretizava-se a
fé, a paz e a união.
Como lazer e descanso, sempre retornava a sua Ribeiros, no convívio
dos amigos, parentes e, como sempre dizia – “para ouvir a Natureza”.
Sempre foi de muita simplicidade e muito amor à família, pela esposa
Alzira, filhos (Ângela, Dionísio e Marisa), genros Célio e Ricardo; a
Valdir Nogueira e Sávio Augusto, pessoas que fizeram parte de sua
vida como se fossem filhos e a todos seus afilhados.
O senhor João Alves de Oliveira, o Dico Dionísio, faleceu em 7 de fevereiro
de 2013, deixando exemplo de fé, patriotismo e sempre muita
gratidão à Deus pelo dom da vida, oportunidade que lhe foi dada e
que honrosamente a cumpriu.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 077, Fev. 2019
NOSSA GENTE 281
João Batista Nogueira Marra
A alegria e o amor são as duas grandes asas para os grandes feitos.
Goethe
João Batista Nogueira Marra, o João Coalhada
João Batista Nogueira Marra
(João Coalhada) nasceu em Carmo
do Cajuru, em 9 de janeiro
de 1935, filho de Deiró Marra de
Oliveira e Aldivina Alves Nogueira.
Seu nome originou-se de promessa
feita por sua mãe, por ter
sido atendida em um pedido de
cura logo quando ele nasceu.
A partir de junho de 1935, e durante
todas usa vida, convidava
os parentes, amigos e vizinhos
para rezarem no dia de São João,
agradecendo a vida do filho.
Após as orações, enchia a peneira
de biscoitos, que ela mesma assava no forno de varrer, e servia ao
redor da fogueira, com grande satisfação.
Apesar de a promessa ser da mãe, João continuou com a devoção até
junho de 2000. Após seu falecimento, os familiares continuaram as
rezas por ocasião do dia de 24 de junho.
Seu primeiro emprego foi na fazenda de Jorge Fonte Boa, onde ele
gostava de trabalhar por ter muita fartura. Depois de tirar o leite, arreava
o cavalo; tomava um café reforçado com quitandas para saciar
a fome e seguia até a Cooperativa de Carmo do Cajuru, para entregar
o produto da ordenha.
282
Célio Antônio Cordeiro
Naquele estabelecimento, João Batista fez amizades sinceras. Era
prestativo e bem-disposto; sempre transportava encomendas para
a fazenda. Muitas vezes, o leite azedava e virava coalhada, em consequência
do calor e do longo trajeto ao sol, entre a fazenda e a Cooperativa.
Nessas condições, ele retornava com o leite azedo para
fazer um delicioso requeijão. Aliás, coalhada fresca era o derivado
de leite que ele mais apreciava, o que lhe deu o apelido carinhoso de
João Coalhada.
Na adolescência, João Batista começou a como candeeiro, carregando
lenha em carro de boi com João da Mata Nogueira, vindo posteriormente
a se tornarem amigos inseparáveis. Um sempre aconselhando
com o outro, trocando ideias, traçando objetivos e apoiando
os sonhos um do outro.
João Batista, ao lado de familiares
João Batista também trabalhou na construção da barragem de Carmo
do Cajuru, ficado lá até terminar toda obra. A empreiteira percebeu
sua eficiência e o convidou para continuar trabalhando com
a empresa em uma nova obra: construção da barragem de Itutinga,
perto de Lavras. Ele, todo satisfeito, trabalhou nesta obra também
até sua conclusão. Terminada a barragem resolveu regressar a sua
terra natal e passou a trabalhar prestando serviços à Fundição do Dr.
Gaspar por muitos anos.
NOSSA GENTE 283
Foi confrade da Sociedade São Vicente de Paulo, seresteiro e formava
uma dupla sertaneja com a irmã Zezé, que andava na garupa da
bicicleta a cantar nos arredores de Aroeiras, Ribeiros e outros povoados.
Ele tocando violão e cantando e sua irmã fazendo a segunda
voz. Eles encantavam por onde passavam.
João Batista, em declamação ao som do violão
Depois, João Batista passou a participar de rodas de violas e cada dia
mais violeiros o convidavam para declamar e cantar. Foi numa dessas
apresentações, que conheceu sua “princesa dos olhos” – Terezinha.
Seguia em sua bicicleta bem equipada, violão às costas, para a casa
de Gualter Nogueira Penido e Rita Maria de Jesus – que se tornaram
sogros. E toda família ficava ao redor de João e seu violão, numa festa
familiar com doces, quitandas e café até alta madrugada com músicas
e cantos. Namoro saudável, que tornou a “princeza Terezinha”
em rainha do lar. Em 15 de abril de 1961, casou-se com ela, sua companheira
de todos os momentos, que o incentivou a trabalhar por
conta própria.
Seu amigo e compadre Jadir Marra lhe emprestou a primeira máquina
de solda para trabalhar, em troca de toda assistência técnica necessária
a Siderúrgica Cajuruense. Posteriormente, veio a constituir
sua microempresa hoje denominada Marra & Cia.
284
Célio Antônio Cordeiro
João Batista e dona Terezinha tiveram onze filhos: Maria Aparecida
(†) Romilda, Geraldo, Laura (†), João, Enilda, Vanilda, Gilson, Gilberto,
Luziane e Evanilson. Trouxeram ao mundo uma grande família
bem-educada, dispostos ao trabalho aos fazeres escolares. Foi um
grande esposo e um exemplar pai de família.
João Batista foi uma pessoa de muita fé, católico praticante, ajudou
a fundar a primeira festa de São Cristóvão, assim como também a de
São José Operário, nas quais ajudava a preparar o veículo para transportar
as imagens nas procissões.
Foi associado da Cooperativa de produção, onde fornecia sua produção
de leite, e um dos sócios fundadores do Sicoob/Carmocredi,
além de generoso colaborador da Vila Vicentina, por ocasião das festas
de São Sebastião.
Em vida, foi homenageado pela Câmara Municipal com a comenda
“Caa-yuru”, em reconhecimento a relevantes serviços prestados em
prol da sociedade. Deixou para seus familiares legados de grandes
valores: boas amizades, amor ao trabalho e honestidade. Sempre
teve um semblante sorridente, que o caracterizava como o símbolo
de alegria.
Em 25 de julho de 2000, por coincidência, no dia de São Cristóvão,
santo de sua devoção, foi chamado para o plano de cima, deixando
uma lacuna de saudade, não somente para os familiares como também
para centenas de amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 083, Ago. 2019
NOSSA GENTE 285
João da Mata Nogueira
Trabalho é a engrenagem que movimenta os sonhos para que se tornem realidade.
Wesley Nabuco
João da Mata
É falando de trabalho e dignidade,
que nesta crônica, contaremos
um pouco do muito que o
saudoso João da Mata Nogueira
fez para nossa querida Carmo do
Cajuru e tantas outras.
João nasceu em Carmo do Cajuru,
no dia 3 de março de 1927,
na fazenda Água Sumida, filho
de dona Augusta Alves Nogueira
e do senhor Modestino Pinto
Brandão. Foi o caçula de uma
família composta por mais 4 irmãos:
Maria, Miguel, Vicentina
e Geraldo. Uma família simples,
que sempre prezou pelo amor
ao trabalho e pela honestidade.
Desde a infância gostava muito de trabalhar com madeira. Fazia com
extrema facilidade arapucas e gaiolas, que, segundo palavras dele,
chegou a ganhar algum dinheiro. Um fato triste em sua vida foi perder
os seus pais quando tinha apenas 13 anos de idade. Fez o curso
primário no Grupo Escolar Princesa Isabel.
Quando Adolescente, trabalhou como lustrador de móveis em uma
marcenaria em Carmo do Cajuru. Em 12 de fevereiro de 1953, casou-
-se com Luziária Alves Batista, com quem teve cinco filhos: Augusta,
Célia, Célio, Aurélio e Cláudio.
286 Célio Antônio Cordeiro
Posteriormente ao trabalho de
lustrador de móveis, com muita
vontade de vencer e com muita
determinação, resolveu abrir o
seu próprio negócio fundando a
sua primeira fábrica de móveis
no início dos anos 50. Situada
na rua Joaquim Rabelo, denominada
Mobiliadora Líder. Foi
quando demonstrou sua grande
capacidade administrativa
no setor moveleiro. Conseguiu
enxergar um futuro promissor
e continuou a correr atrás dos
seus sonhos.
João da Mata, em sua marcenaria
João e dona Luziária com os filhos e netos
Alguns anos depois, adquiriu um terreno no alto do bairro Bonfim,
onde foi construída a grande fábrica de móveis do Grupo Líder. Algum
tempo depois a construção de outra fábrica em Mateus Leme.
NOSSA GENTE
287
Ao longo dos anos, empregou muitos funcionários, incentivou os interessados
a montarem suas fábricas, através da fundação do bairro
das Indústrias.
O Grupo Líder, sob a direção de João da Mata Nogueira e contando
com seus filhos, que seguiram os seus passos no ramo moveleiro, se
expandiu tanto que, além das diversas fábricas, ainda passou a ter
dezenas lojas não somente em várias cidades de Minas Gerais, como
também em outros estados e representantes até em outros países.
Se hoje Carmo do Cajuru tem uma grande projeção nacional e internacional
no setor moveleiro, foi graças ao grande espírito empreendedor
de João da Mata Nogueira. Junto com sua grande esposa Dona
Luziária, construiu uma bela família. A maioria dos filhos tornou-se
grandes empresários que trilharam os caminhos do grande patriarca.
Hoje, Carmo do Cajuru vem sendo um dos principais pólos moveleiros
do País. João da Mata fez com que a nossa querida terra, passasse
a intitular-se como a “Cidade dos Móveis”.
João da Mata Nogueira foi um dos mais influentes políticos de nossa
terra. Foi vereador em três gestões e na década de 1950 foi também
vice-prefeito. Foi prefeito em dois mandados e com brilhantes atuações
para o desenvolvimento municipal. No seu primeiro mandato,
fez grandes reformas nas praças da Matriz e 1º de Janeiro. Foi um dos
responsáveis por várias outras obras publicas. A criação da Cia. Telefônica,
criação da Escola Estadual, antigo Ginásio Estadual.
Com o Dr. Hermon de Vasconcelos Barros criou o primeiro Colégio
de Carmo do Cajuru - o Colégio Dom Bosco, posteriormente adquirido
por João da Mata, passando a se chamar Colégio Comercial José
Demétrio Coelho. Foi uma escola de um grande conceito, onde se
formaram centenas de alunos, que brilharam como profissionais não
só em nosso meio, como também pelo Brasil a fora.
Foi uma pessoa de uma importância inestimável no setor da Educação.
Tinha um grande espírito de solidariedade, colaborava muito
com a Igreja em obras sociais.
288 Célio Antônio Cordeiro
Ajudou na criação e construção
da nossa Vila Vicentina. Sempre
participava de eventos sociais
esportivos e religiosos. Foi muito
atento também com a saúde
do povo. Vários dos médicos que
trabalharam em Carmo do Cajuru,
vieram para aqui graças aos
esforços e ao espírito caridoso
de João. Como Prefeito, sempre
foi muito envolvido com as nossas
comunidades rurais, principalmente
na conservação das
estradas e das escolas.
Conforme acima mencionado, provindo de uma família simples,
nunca deixou de sonhar e de fazer com que seus sonhos tornassem
realidade, através do trabalho e da determinação. Sonhava com um
mundo além do tempo em que vivia. Soube criar bem e dando bons
exemplos a sua bela família. Hoje, em sua maioria são grandes empresários,
mas continuam pessoas simples como o pai e muito estimados
pelos colaboradores e pela sociedade.
Em 8 de março de 2019, Sô João, como era tratado carinhosamente
por todos, partiu para vida eterna. Com certeza, com o sentimento
de dever cumprido aqui na terra.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 096, Set. 2020
NOSSA GENTE
289
João da Silva
A simplicidade é o tempero de todas as virtudes.
Joanna Coelho
É falando de simplicidade, que
nesta crônica mostra-se um
pouco da vida de um casal de
gente simples, que apesar dos
muitos trabalhos e provações da
vida, nos deram belos exemplos
de amor, doação e resignação
marcaram suas vidas.
Muito curioso falar em João da
Silva, pois todos o conheciam
por Mário de Souza. Segundo informações
da família, o apelido
originou-se devido a uma grande
semelhança com um ex-jogador
do Atlético Mineiro.
Apesar de sua estatura física, ele
O jovem João da Silva, o popular Mário de Souza foi um dos grandes jogadores do
futebol amador do Cajuru. Jogador
de muita raça e de uma incrível velocidade, atuou com destaque
nos gloriosos Tupy e Sport, dos anos 1950-60.
Nascido em 10 de maio de 1939, na zona rural, filho de Cândido Romão
da Silva e dona Maria Rosa da Silva. Desde criança já enfrentava
a dura vida na agricultura, auxiliando na renda familiar dos pais.
Ainda jovem, conheceu Zilda Batista Duarte (Dorinha), também, nascida
na zona rural, filha de Elísio Absalão Batista e dona Geralda Leonel
Duarte. Em 19 de outubro de 1963, casou-se com ela e constituiu
290 Célio Antônio Cordeiro
uma bela família. Dessa união,
nasceram seis filhos: Hamilton,
Antônio Carlos, José Geraldo,
Valdir Magela, Maria Divina e
João da Silva Filho. Em 2018, a
descendência do casal, além dos
filhos (noras e genro), está com
sete netos e seis bisnetos.
João da Silva, ilustre agente cultural do Reinado
João da Silva, além de ter sido
um grande jogador de futebol,
amou muito e exerceu atividades
em diversas tradições culturais.
O mesmo aconteceu com
sua esposa que sempre o acompanhava,
em diversos eventos.
Ele foi comandante da guarda
de Congo e do terno de Moçambique,
nas apresentações do
Reinado de N. S. do Rosário.
Gostava muito e participava também, da tradicional Folia de Reis,
hoje registrada como um bem imaterial de Carmo do Cajuru. Foi pandeirista
de samba e tinha um apego especial ao pagode e a música
sertaneja, principalmente o forró.
Hoje todas essas preferências culturais que tanto gostava, ficaram
como legado para os familiares.
Na vida profissional, foi funcionário da Cia Siderúrgica Pains (Divinópolis).
Posteriormente, veio trabalhar na Fundição “Irmãos Nogueira”
de propriedade de José Alves Nogueira Filho. Foi um ótimo e dedicado
funcionário da fundição, onde trabalhou até aposentar-se.
Mesmo com os proventos, seu orçamento familiar carecia de algo
mais, o que o levou a trabalhar com Ilídio de Sá, onde, pelo seu modo
de ser, gozava de muita simpatia com a família.
NOSSA GENTE
291
João da Silva, talento do Tupy Futebol Clube
João da Silva, talento do Sport Club Cajuru
292 Célio Antônio Cordeiro
Muitas provações difíceis ocorreram
na vida do casal. Ainda
muito nova, dona Zilda passou a
conviver com doença renal, cujo
tratamento era feito em Belo
Horizonte.
Foram muitas e muitas viagens
para se submeter à dolorosa hemodiálise.
Daí por diante, contava
sempre com a ajuda dos
filhos mais velhos.
Depois de 10 anos de tratamento,
com apenas 45 anos, dona
Zilda veio a falecer, deixando
alguns filhos ainda bem novos,
causando muita tristeza aos familiares.
O falecimento ocorreu
no dia 30 de novembro de 1991.
A partir daí, João da Silva passou
a exercer o papel de pai e de
mãe do lar.
Em 2011, João da Silva submeteu-se
a uma cirurgia no coração
e houve a necessidade do uso de
um marcapasso. Pouco tempo
depois, foi vítima de um AVC,
vindo a falecer em 1o de agosto
de 2011, causando assim, outro
momento de dor e comoção aos
familiares.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 066, Mar. 2018
NOSSA GENTE
293
João José Rabelo
Uma das missões mais nobres de um indivíduo é fazer
com que os outros saibam prosseguir sem sua presença.
Baudelaire
João José Rabelo era o mais
novo dos oito irmãos: Alvina,
Elisa, Maria, (Sinhá), Daniel,
Francisco e José. Nasceu em 2
de fevereiro de 1898, na fazenda
Contendas. Seus pais, Joaquim
Rabelo e dona Maria Gonçalves,
eram proprietários dela. Foi lá
que João José firmou raízes e
criou família.
João José Rabelo, ainda bem jovem
Como seus irmãos partiram para
outros lugares, ele ficou cuidando
da mãe que estava doente.
Teve a sede da fazenda por herança
e lá permaneceu até quando
pode trabalhar.
Como não havia Grupo Escolar na região, as crianças eram alfabetizadas
por um professor particular que atendia na cidade. Era o professor
Joanica. As crianças vinham das fazendas para receberem os
primeiros ensinamentos: ler, escrever e contar. Assim que elas aprendiam
as lições básicas, encerravam os estudos; sem diplomação.
Aqueles alunos mais curiosos e que gostavam do saber, continuavam
aprendendo por si mesmos. Era o caso dele. Sempre privilegiou o
conhecimento. Escrevia e lia com desembaraço, embora não tivesse
uma formação escolar formalizada.
294
Célio Antônio Cordeiro
Sede da saudosa fazenda de João José
Casou-se aos 26 anos com Augusta Nogueira de Souza, 10 anos mais
nova que ele. Era muito carinhoso com ela e lhe chamava de “Chica”,
nome que nunca se soube o porquê.
Assumindo o matrimônio, construiu uma casa nas redondezas a que
deu o nome de Casinha. Ali nasceram os primeiros filhos. O lugar foi
por muitos anos um reduto de saudosas lembranças. Para não perder
o vínculo, lá mantinha uma criação de porcos, como uma desculpa
para estar sempre ali. Conservou a singela morada por muitos anos.
Anos mais tarde, com a necessidade de cuidar da mãe, transferiu-se
com a família, para a sede da fazenda e ali permaneceu por toda a
vida. Teve 14 filhos, sendo sete homens e sete mulheres: Maria, Helena,
Cícero, Ceny, César, Sadi, Carlos Alberto, José, Maria José, Dora,
Geraldo, Maria Tereza, Helder e Liliane. Sua descendência conta com
mais de cem pessoas entre filhos, netos, bisnetos e trinetos.
Como era comum nas fazendas, a lida começava com o dia ainda escuro
e o descanso só vinha ao entardecer. Trabalhava-se de sol a sol,
de segunda a segunda, de janeiro a janeiro. Não havia férias naquele
tipo de trabalho.
NOSSA GENTE 295
Fazendeiros costumavam colocar
os filhos na lida da fazenda.
Seriam braços a mais na produção
agropecuária. Ele, porém,
não seguiu essa cartilha. Proporcionou
oportunidade para cada
um seguir o que lhe fosse querer.
E assim a maioria partiu para outras
atividades profissionais tendo
ficado na fazenda apenas um
de seus filhos, que conviveu com
ele por mais tempo desfrutando
melhor da sua companhia. Seja
louvado!
João José e Augusta, amor eterno
Era um homem político como somos todos nós; tinha suas preferências
partidárias, sem ser politiqueiro. Torcia em silêncio. Respeitava o
oponente, embora tivesse o partido de simpatia. Nunca pleiteou um
cargo público. Assistia aos acontecimentos políticos com moderação.
João José e Augusta, em celebração de Bodas de Ouro, na Matriz de N. Sra. do Carmo
296
Célio Antônio Cordeiro
Não era muito afeito a práticas religiosas, mas respeitava quem fosse.
Não discutia credo e estava sempre pronto a colaborar com eventos
da Igreja como leilão, barraquinhas, jubileu e construções, em
consonância com a esposa que era muito religiosidade.
No final da vida, converteu-se e rezava com frequência. Não conviveu
bem com o envelhecimento também. Desejava uma máquina
que pudesse voltar no tempo. Deve ter sido atendido em suas orações
porque morreu em paz. Tranquilo, sem dor, em silêncio, discreto
como ele sempre fora.
Faleceu em 26 de fevereiro de 1991. Não concretizou um de seus
maiores sonhos que era completar 100 anos.
Foi exemplo de dignidade e honradez. Entrou para a história de Carmo
do Cajuru como cidadão honesto, trabalhador; e deixou nos corações
de seus filhos e descendentes uma saudade imensa.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 047, Ago. 2016
NOSSA GENTE 297
Pe. João Parreiras Villaça
Toda vocação sacerdotal é um mistério, um dom que supera infinitamente o homem.
São João Paulo II
Um pouco da vida do cônego
João Parreiras Villaça, o estimado
“Padre João”.
João Parreiras Villaça
Em 21 de março de 1906, na pequena
Crucilândia, nascia uma
criança, batizada com o nome
de João, filho de um casal simples:
Jacinto de Souza Parreiras
e dona Dorcelina Vilacinha Parreiras.
Somente Deus, poderia
prever que naquela data vinha
ao mundo um menino que, futuramente,
se transformaria em
uma das mais carismáticas figuras
de Carmo do Cajuru.
Fez os seus primeiros estudos em sua terra natal. Foi uma criança e
adolescente que se sobressaia bem na escola, era um bom filho, mas
sempre rotulado como uma criança custosa.
Para a surpresa dos pais e familiares, seu irmão Graciano desistiu na
última hora de ir para o seminário, entendendo que sua vocação não
era ser padre. Foi aí que o jovem João Parreiras afirmou estar decidido
ir em lugar do irmão. De início, Jacinto e Dorcelina não acreditaram
nas palavras do filho, por se tratar de um jovem que não parecia
ter vocação. Mas, foi nesse momento, que o chamado divino ao sacerdócio
se fez forte em João, que afirmara com muita convicção, a
imensa vontade de ir para o seminário.
298
Célio Antônio Cordeiro
Assim, em 2 de fevereiro de 1925, João ingressou no Seminário Coração
Eucarístico de Belo Horizonte. Em 22 de setembro de 1934, foi
ordenado padre por dom Antônio dos Santos Cabral, na Catedral da
Boa Viagem, em BH, selando de maneira solene o seu “sim” na mais
sublime vocação de evangelizar.
Celebrou a primeira missa em sua terra natal. Passou por várias paróquias,
entre elas, Lagoinha em Belo Horizonte, Ribeirão Vermelho,
Desterro de Entre Rios e São Gonçalo do Pará. Nesta paróquia, permaneceu
durante seis anos, até que, muito adoentado por um problema
renal, teve de retornar a Crucilândia para concluir o tratamento.
Em sua terra, permaneceu entre janeiro de 1943 a dezembro de
1948, como pároco.
João Parreiras Villaça, celebrando na Matriz de N . S. dfo Carmo
Veio para Carmo do Cajuru, em 6 de janeiro de 1949, ano em que foi
criado o município de Carmo do Cajuru. A paróquia passava por um
período difícil, desde a morte do padre José Alexandre. Nenhum padre
conseguia se firmar aqui para preencher a lacuna deixada por ele.
Em sua primeira fala, padre João afirmou que estava vindo para ficar
e que, esforço, dedicação e boa vontade não lhe faltariam. Começou
a impressionar seus paroquianos, a partir das celebrações da Semana
Santa daquele ano.
NOSSA GENTE 299
Com belas celebrações litúrgicas,
procissões e principalmente,
da instituição dos quadros vivos
na Praça da Matriz, onde era
erguido o palco (calvário) com
muita beleza e muita evangelização.
No ano de 1950, celebrou o primeiro
Jubileu do Bom Jesus, na
Comunidade de Angicos, que,
assim como a Semana Santa,
atraía fiéis locais e vindos de cidades
vizinhas. Reorganizou as
irmandades existentes e fundou
várias outras. A festa da padroeira
também passou a ser realizada
de forma notável. O mês
Pe. João, na procissão de N. Sra. do Carmo (1981) de maio transformou-se em
inspiradoras celebrações com
maior participação da comunidade. Assim todas as celebrações do
calendário religioso ganharam muita ênfase, através da dedicação e
do entusiasmo do pároco.
Já existiam aqui, alguns pontos que agradavam muito ao padre João:
a Banda de Música, o Coral da Matriz e a boa vontade dos paroquianos,
em reconhecimento ao bem que ele fazia para a população.
Gostava muito de construir. Com seu grande esforço e a ajuda do
povo, lebou adiante o projeto da belíssima Praça do Cruzeiro. O local
é onde repousam seus restos mortais, em atendimento ao pedido
feito por ele, em conversas com vários amigos.
Teve grande participação na criação do Ginásio Estadual, que hoje
leva o seu nome, cedendo as dependências da antiga Casa Paroquial
– hoje Casa de Cultura Ana Isabel de Jesus – para que o sonho da criação
da escola fosse concretizado.
300
Célio Antônio Cordeiro
Nos anos 50, ergueu uma nova sede paroquial, depois transformada
em Centro de Pastoral. Na década de 60, apoiou de forma notável a
construção da Vila Vicentina. Ele também edificou várias capelas nas
comunidades rurais e urbanas, e também foi um dos grandes incentivadores
na criação da nossa primeira comarca em 1953, infelizmente
extinta em 1975.
Em reconhecimento aos seus grandes feitos em prol de Carmo do
Cajuru, recebeu o título de Cidadão Honorário, em 26 de dezembro
de 1981, com a Matriz repleta de gente.
Em 1982, já com a saúde fragilizada, foi vítima de uma úlcera gástrica
que o levou a ficar um período em convalescência. Passou a celebrar
missas na sala da Casa Paroquial, antes de ser liberado para as celebrações
de maio.
Sua última celebração com procissão foi na festa de Corpus Christi.
Na Matriz, celebrou a festa do Sagrado Coração de Jesus, quando
foi fotografado pela última vez, juntamente com os integrantes do
Apostolado da Oração. Sua última missa na Matriz foi na manhã do
dia 19 de junho, antes de ir ao povoado de Estivas celebrar missa.
Depois de almoçar, quando se despedia do povo, sofreu uma queda,
que lhe causou grave fratura no colo do fêmur.
Internado no Hospital São João de Deus, cinco dias depois, na tarde
de 24 de junho de 1982, dia de São João Batista, veio a falecer.
Seu corpo foi velado, em meio a muita comoção, com o tocar dos
sinos durante toda e noite, missa de corpo presente, presidida pelo
monsenhor Antônio Ordones e concelebrada por vários sacerdotes,
a matriz repleta.
Após a celebração, o féretro seguiu até a praça do Cruzeiro, onde
aconteceu o sepultamento. Todo o trajeto da Matriz até o Cruzeiro
foi enfeitado com belos tapetes e muitas flores: uma forma de homenagem
por parte de seus paroquianos que tanto o amaram.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 040, Jan. 2016
NOSSA GENTE 301
Joaquim Gonçalves de Melo
No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude.
Stendhal
A presente crônica destaca uma
pessoa, que através do amor ao
trabalho, dos belos exemplos e
principalmente por sua simplicidade,
soube viver bem, ajudar
outros e conquistar um grande
número de amigos.
Joaquim Gonçalves de Melo
Joaquim Gonçalves de Melo,
também conhecido por Joaquim
Misael, nasceu em 20 de janeiro
de 1905, no município de Itaguara.
Por coincidência ou por influência
da data de nascimento, dia
de São Sebastião, este se tornou
uo santo de sua devoção, juntamente
com Santa Luzia.
Era o filho caçula de uma numerosa família composta por oito irmãos.
Seus pais, Misael Gonçalves de Melo e dona Maria Francisca
de Jesus, eram pessoas de vida modesta, mas muito dedicadas aos
filhos e ao trabalho.
Residiu por alguns anos na comunidade de Aroeiras, no município de
Itaguara. Em 1974, veio com a família morar em Carmo do Cajuru.
Foi casado com dona Orondina Caetano de Melo, com quem teve
sete filhos: Maria, Milton Eustáquio, Maria de Lourdes, Nelson Custódio,
Maria Isabel, Jadir e Maria Helena.
302
Célio Antônio Cordeiro
Joaquim Misael e seu acordeón, acompanhado de violão e flauta por seus netos
Joaquim Misael, em solo de acordeon
Adotaram também Marta Aparecida,
que ficou aos cuidados
da família, com apenas um ano
de idade. Criada com muito carinho,
zelo e atenção, sendo reconhecida
como filha por todos
os familiares. Dessa numerosa
família, surgiram: 19 netos e 20
bisnetos.
Joaquim Misael, pessoa de grande
fé, foi confrade vicentino,
durante 30 anos na conferencia
São José de Cupertino, demonstrando
aí o seu espírito de caridade
e solidariedade.
Trabalhava com muita arte, objetos feitos de bambus e taquara: balaios,
esteiras de carro de bois, cestos e forros de casas.
NOSSA GENTE 303
Sô Joaquim, sua filha Lourdes, com o neto, em festa familiar
Na música, demonstrava muitas qualidades em executar vários instrumentos
musicais como: violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro e
acordeom. Marcava muito sua presença em Folias de Reis, festas juninas,
festa de Santa Cruz, Encomendações de Almas e outras mais,
sempre quando solicitado. Nunca gostou de fazer uso de remédios;
apenas quando era necessário. Preferia recorrer aos chás e as plantas
medicinais e gostava muito de fazer caminhadas.
Em 21 de janeiro de 1994, perdeu sua esposa Dona Orondina, depois
um longo período de vida matrimonial. Mesmo convivendo com
muitas provações, principalmente a perda de entes queridos, levava
a vida com batalha e muita resignação. Aos 99 anos, no dia 26 de
maio de 2014, já com a saúde fragilizada, veio a falecer. Deixando aos
familiares e amigos uma imensa saudade.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 052, Jan. 2017
304
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 305
Pe. José Alexandre de Mendonça
A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado
do amor de um para com os outros.
Papa Francisco
Para falar da história religiosa e
cultural cajuruense e até da política,
impossível não lembrar
primeiro da ilustre figura desse
grande sacerdote que passou
por Carmo do Cajuru.
Filho de Hipólito Furtado de
Mendonça e de dona Francisca
Lara de Mendonça, nasceu em
23 de março de 1866, em São
Tiago, então distrito de Bom Sucesso.
Iniciou seus estudos preparatórios
em 1879 no Colégio
Apostólico do Caraça.
Em 1886, foi para o Seminário
de Mariana, ordenando-se no
Padre José Alexandre
dia 25 de julho de 1889, em Diamantina,
por dom Antônio dos Santos. Carmo do Cajuru foi a sua única
Paróquia, tendo início em 1889, dia 15 de dezembro, conforme
registro no Livro de Tombo.
Foi um pároco tão importante para a nossa Paróquia, que a sua história
se mistura com a de Carmo do Cajuru. Ele não foi apenas um
grande guia espiritual; mas um verdadeiro “pai do povo” da época,
o conselheiro, o benfeitor, que cuidava dos bens materiais e do progresso
da vila Cajuru.
306 Célio Antônio Cordeiro
Padre José Alexandre
Para lembrar de seus inúmeros feitos em prol do povo, basta lembrar
da construção de nosso principal cartão postal, ou seja de uma das
mais belas e suntuosas igrejas do Estado de Minas Gerais. Padre José
Alexandre idealizou o estilo da matriz de Nossa Senhora do Carmo,
inspirado na igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, do Colégio
do Caraça, local onde iniciou os seus estudos. Para quem conhece a
Igreja do Caraça, seja até mesmo por fotografia, nota a grande semelhança.
Padre José Alexandre, na demolição da vetusta capela de N. S. do Carmo
NOSSA GENTE
307
Construiu também,a antiga sede
Paroquial, hoje Casa de Cultura
“Professora Ana Izabel de Jesus”.
O padre José Alexandre é
o padre que mais tempo esteve
à frente da Paróquia (47 anos).
Construiu a Matriz em apenas 6
anos, entre 1906 e 1912, quando
foi benzida em 15 de setembro.
Faleceu em 8 de março de 1936, pouco antes de completar 70 anos.
Conforme relato na ‘Cajuru Revista’, de 1948, com o seu falecimento,
nunca havia sido visto antes, momentos de tanta dor e tristeza pela
grande perda de um vulto tão querido do povo.
Os funerais do padre José Alexandre foram uma consagração comovente
de prestígio social e de gratidão pública. O seu corpo foi dado
à sepultura, para ficar perpetuada, no interior do majestoso templo
que ele, com auxílio do povo construiu.
Conforme relata o professor Osvaldo Diomar, em seu livro da “História
de Carmo do Cajuru” (p. 67), o padre José Alexandre será sempre
lembrado como um dos mais importantes protagonistas da história
local, mesmo que desapareçam todos aqueles que o conheceram.
Seu nome está gravado na Placa do Grupo Escolar ”Vigário José Alexandre”;
a Praça da Matriz tem o seu nome e um busto foi colocado
no local, para que sempre seja.
308 Célio Antônio Cordeiro
É impossível esquecer desse verdadeiro benfeitor, que viveu para o
povo e expressou várias vezes sua felicidade de ser um cajuruense
por adoção e de coração.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 093, Jun. 2020
NOSSA GENTE
309
José Alves Nogueira Filho
Honeste vivere, neminem laedere, suum cuique tribuere (Viver honestamente, não prejudicar
ninguém, atribuir a cada um o que lhe pertence).
Direito Romano
Nascido em Carmo do Cajuru,
em 29 de outubro de 1923, filho
de José Alves Nogueira e Conceição
Batista de Menezes. Faleceu
em Carmo do Cajuru em novembro
de 2001.
Desde criança, foi muito dedicado
ao trabalho com os pais e
com seus estudos. Fez o antigo
curso primário no Grupo Escolar
Princesa Isabel. O curso Ginasial
foi feito no Ginásio São Geraldo,
em Divinópolis.
Concluído o curso ginasial foi
José Alves Nogueira Filho, o Dr. Gaspar
morar em Belo Horizonte, onde
concluiu o curso clássico e posteriormente
ingressou na Universidade Católica, cursando Direito e
se tornando, historicamente, o primeiro advogado do município de
Carmo do Cajuru.
Em 23 de janeiro de 1947, casou-se com Carmina D’Alessandro e tiveram
oito filhos: Jairon, Jaida, Jane, José Carlos, Maria Aparecida,
Juliane, Jackson (†) e James.
Advogado, empresário e também fazendeiro, era carinhosamente
chamado por todos de “Dr. Gaspar”. Além de ser um esposo exemplar,
foi um virtuoso pai de família.
310
Célio Antônio Cordeiro
Na vida política municipal, teve uma brilhante atuação; foi vereador
em dois mandatos, chegando a ser presidente da Câmara Municipal,
sendo que na época o trabalho do vereador era voluntário, era eleito
para trabalhar pelo povo. Foi o que ele sempre o fez de maneira
notável.
Como estudante, era ativista em prol da emancipação de Carmo do
Cajuru. Trabalhou pela criação da Comarca e, mais tarde, quando fechada,
batalhou bravamente para restabelecê-la.
José Alves Nogueira Filho, discursa em evento cívico comemorativo da Independência do Brasil
Quando foi criado o primeiro
colégio na cidade, Colégio Dom
Bosco, a influência do Dr. Gaspar
foi notória, por sua colaboração
com Hermon de Barros, na instituição
do educandário que tão
bem fez aos jovens cajuruenses.
No Dom Bosco, foi professor de
História do Brasil, um trabalho
que exerceu de uma forma quase
que voluntária.
Dona Carmina e Dr. Gaspar, em recorte social
NOSSA GENTE 311
Ajudou também na criação da
Vila Vicentina e se tornou confrade
da Sociedade São Vicente
de Paula. Foi um grande incentivador
e ajudante nas obras
da praça do Cruzeiro. Durante
muitos anos, dona Carmina, sua
esposa, cuidou da capela de São
José. Devoto de São Cristóvão,
em 1961, com apoio do padre
João Parreiras Villaça, idealizou
a festa dos motoristas com
cortejo de veículos pelas ruas
da cidade. Hoje, esta festa faz
parte do calendário religioso local,
sendo realizada anualmente
José Alves Nogueira Filho, o Dr. Gaspar
com a mesma fé e grande adesão da sociedade. wFoi também um
dos idealizadores da Irmandade da Liga Católica, da qual foi secretário
durante vários anos. Por relevantes serviços prestados a sociedade
cajuruense, em 1983, foi homenageado pelo Rotary Clube de
Carmo do Cajuru, em uma linda solenidade, recebendo uma placa de
prata em reconhecimento ao seu trabalho.
Entre as várias homenagens por ele recebidas, destacam-se o Diploma
do Cinquentenário da OAB, por ser integrante notável da turma
de bacharéis de 1950, homenagem recebida na capital mineira, no
dia 11 de agosto de 2000. Dr. Gaspar foi homenageado In Memoriam
com a Medalha Desembargador Hélio Costa, encaminhada pelo juiz
diretor da Comarca de Carmo do Cajuru, Dr. Jacinto Copatto Costa, à
sua esposa dona Carmina D’Alessandro Nogueira.
Dr. Gaspar foi sempre um exímio orador que encantava seus ouvintes
com sua erudição e conhecimentos. Em solenidades importantes lá
estava ele, fazendo eloquentes discursos. Pela sua bondade, simplicidade,
honestidade e grande espírito fraternal, sempre será lembrado
por todos que tiveram o privilégio de ter convivido com ele.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 003, Nov. 2012
312
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 313
José Demétrio Coelho
Estamos construindo alegremente, porque estamos construindo bem.
O estacamento forte e resistente suportará a riqueza futura.
José Jehovah Guimarães (1949)
Nas páginas da história de Carmo
do Cajuru, nota-se a presença
de grandes vultos vindos de
outras localidades, que se dedicaram
de corpo e alma ao progresso
do povo cajuruense e ao
desenvolvimento municipal. Integração
absoluta como se fosse
a terra natal, tão grande o sentimento
de amor por este lugar.
O jovem José Demétrio Coelho, guarda-livros
No livro do historiador Oswaldo
Diomar (História de Carmo do
Cajuru: 1747-2000), depara-se
com inúmeras pessoas assim
comprometidas.
O ferroviário José Demétrio Coelho, primeiro prefeito eleito de Carmo
do Cajuru (1949) e principal líder da criação do município, no ano
anterior, nasceu na cidade de Oliveira, em 2 de julho de 1889, filho de
Horácio da Silva Coelho e de Maria Cândida da Silva.
Veio para Carmo do Cajuru como agente ferrociário da Estação de
Carmo do Cajuru. Casou-se aqui, com Maria da Silva Coelho. Tiveram
apenas um filho, Osvaldo Coelho que se tornou médico renomado
em Belo Horizonte.
314
Célio Antônio Cordeiro
Depois de alguns anos em Carmo do Cajuru, José Demétrio Coelho
voltou para sua terra natal, para ocupar um cargo de guarda-livros
(contador) em uma fábrica de tecidos e, posteriormente, tornar-se
comerciante.
Mas Cajuru não lhe saiu do coração e, em 1940, mudou-se novamente
para a vila, para realizar o trabalho mais importante de sua vida:
estimular e orientar o processo de emancipação do distrito, criar o
município (27 de dezembro de 1948). e transformar a vila crescente
em promissora cidade.
O prefeito José Demétrio Coelho e seu vice José Marra da Silva, com os companheiros do movimento
de criação do município, instalado solenemente em 1 o de janeiro de 1949
Em pouco mais de dez anos, fez um notável trabalho social e cultural,
participando de vários movimentos da nossa sociedade, inclusive da
imprensa. Pessoa íntegra, honesta e de fino trato, foi presidente da
Sociedade São Vicente de Paula, de associações esportivas e de movimentos
religiosos e políticos.
Escritor nato e estudioso, escreveu várias obras, sendo que algumas
delas encontram-se no Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia
Nossa Senhora do Carmo. Escrevia para vários jornais aqui do Oeste,
principalmente de Carmo do Cajuru e de Divinópolis. Foi o primeiro
gerente do Banco da Lavoura S.A., cargo que exerceu com grande
dedicação e competência.
NOSSA GENTE 315
O casal José Demétrio e dona Maria da Silva
Em 1949, foi eleito prefeito municipal.
Apesar de muito precária
a renda do novo município,
conseguiu dentro do possível,
desenvolver uma profícua administração,
com foco na Educação
e Cultura, essencial para
a qualidade de via e desenvoilvimento
do povo.
Nos dias atuais, a pessoa de
José Demétrio Coelho é lembrada
com saudade e gratidão por
sua atuação incansável em prol
de Carmo do Cajuru. Seu nome
nunca será esquecido pelos cajuruenses.
Na praça Primeiro de Janeiro, há um singelo monumento em sua homenagem,
para destacar o seu pioneirismo. Uma das principais vias
urbanas leva o seu nome.
No passado recente, houve uma conceituada escola com o seu nome,
o Colégio José Demétrio Coelho, por onde passaram vários alunos
brilhantes e que continuam a brilhar, não somente por aqui, como
também em diversos pontos do País.
Foi um líder exemplar, acima das divergências políticas que sabia
como niguém superar, e que não mediu esforços em trabalhar pelo
povo.
Faleceu em 22 de julho de 1955 em Belo Horizonte, depois de escrever
um relato sobre os acontecimentos e pessoas envolvidos na campanha
de emancipação.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 008, Maio 2013
316
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 317
José Dias Barbosa
A matemática do tempo é simples. Você tem menos do que pensa e precisa mais do que acha.
Kevin Ashton
— Dona Dina, o Pipoca está em
casa?
— Nada, o Pipoca não para’qui,
deve estar aí pela rua! — informava
dona Dina.
Difícil não era encontrá-lo. Bastava
dar uma volta pelas redondezas
da igreja matriz e lá estava
o “Sô Pipoca”, normalmente, em
uma boa prosa com os amigos,
auxiliando alguém em alguma
tarefa ou divertindo as crianças.
José Dias Barbosa, “Sô Pipoca”
Elas ficavam maravilhadas e
querendo aprender como ele
conseguia fazer aqueles sons de
pássaros, apenas soprando por
entre as duas mãos entrelaçadas
como uma espécie de flauta.
José Dias Barbosa, “Sô Pipoca”, “Pipoca” ou apenas “Poca”, para os
mais íntimos, nasceu em 5 de agosto de 1927, mas registradono dia
26 – por isso, brincava dizendo que fazia dois aniversários por ano.
Era o sexto filho de oito do comerciante Messias Dias Barbosa e da
dona Amélia Augusta da Conceição.
318
Célio Antônio Cordeiro
Desde criança, era apaixonado por passarinhos e pescarias. O engraçado
apelido fora adquirido ainda na infância, quando pequenino era
fácil vê-lo sentado no alpendre de casa, sempre com uma cuia cheia
de pipocas no colo.
Aluno exemplar, iniciou seus estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel
e, aos 13 anos, era o Diretor do jornal “Sol Nascente” que estava
em seu quarto ano de publicação.
Posteriormente ingressou no internato do Colégio São Geraldo, em
Divinópolis, onde concluiu o Ginasial, em 1945 sempre com notas altas,
principalmente nas matérias exatas.
Terminado o curso, sem condições financeiras e não podendo realizar
seu sonho de continuar na vida acadêmica, retornou para Cajuru,
onde passou a trabalhar com o pai no armazém, além de ministrar
aulas de matemática no Colégio Dom Bosco.
No ano de 1951, ingressou por
concurso público no Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas
(IBGE), ocupando o cargo
de Coordenador de Atividades
Estatísticas, quando dirigiu e coordenou
inúmeros levantamentos
e censos demográficos de
Carmo do Cajuru e região, assim
como diversas pesquisas que
ainda hoje servem à história do
município.
José Dias Barbosa, dançando com a filha Musa
Casou-se em 1954 com Edna
Dias da Fonseca (dona Dina),
com quem teve quatro filhas:
Mônica, Apolônia, Ladomina
(falecida ainda bebê) e Musa.
NOSSA GENTE 319
“Sô Pipoca” e dona Dina
Católico muito fervoroso, sempre teve atuação marcante na vida paroquial.
Por sua facilidade em lidar com números e contas, foi tesoureiro
da Paróquia Nossa Senhora do Carmo durante todos os anos de
ministério do saudoso padre João Parreiras Villaça, de quem era muito
amigo e grande auxiliar nos assuntos administrativos da paróquia.
Foi também, por vários anos, Ministro da Palavra, Ministro das Exéquias,
Cursilhista, presidente da Conferência Vicentina e organizador
da Festa de São Sebastião, na qual era leiloeiro e tesoureiro.
Por sua facilidade com os números, era muito procurado pelas pessoas
para fazer a Declaração de Imposto de Renda. As pessoas lhe
pediam ajuda no preenchimento dos formulários do Fisco. Essa atividade
tornou-se tão intensa que, em vários anos, nos meses de abril,
o Fórum cedia uma sala para esse serviço voluntário.
Atuou ainda na função de Comissário de Menores e por um tempo
como Juiz de Paz da Comarca.
A vocação para o auxílio ao próximo, a sua generosidade, sua alegria
e sua preocupação com as pessoas eram uma constante em sua vida.
320
Célio Antônio Cordeiro
Vivendo em plenitude tais virtudes, com outros ilustres cajuruenses,
foi um dos fundadores do Centro de Reintegração Social do Projeto
Novo Horizonte, na comunidade de Ribeiros. Sempre acreditou na
possibilidade de reabilitação das pessoas, sobretudo pela fé.
Em 2 de fevereiro de 2002, ele partiu da vida terrena para a Glória
Eterna, depois de cumprir bem sua missões terrenas e espirituais
conforme os desígnios divinos.
José Dias Barbosa, além de ter sido um grande exemplo de pai e
esposo, era de uma popularidade sem par. Durante sua vida, soube
conquistar muitos amigos, por isso, é sempre lembrado com muita
saudade, por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 030, Mar. 2015
NOSSA GENTE 321
José Fernando Nogueira da Silva
A vida é mais simples do que a gente pensa; basta aceitar o impossível,
dispensar o indispensável e suportar o intolerável.
Autoria Desconhecida
Nascido em Carmo do Cajuru,
em 22 de janeiro de 1946, filho
de Martinho Silva e dona Cristina
Nogueira. Provindo de uma
família composta de pessoas
simples, porém muito honradas
e trabalhadoras. Teve mais três
irmãos.
José Fernando “Alemão”
Desde bem novo, já acostumara
com as difíceis labutas da vida.
Quando criança fazia parte de
uma Conferencia Vicentina, junto
aos amigos de infância e adolescência.
Nos anos 1950, foi matriculado no Grupo Escolar Princesa Isabel,
onde concluiu o curso Primário. Muito cedo, aprendeu a profissão de
pedreiro, trabalho que executava com muita maestria. Foi considerado
por muitos como um dos profissionais de primeira linha de Carmo
do Cajuru.
Trabalhou em importantes obras em nossa terra, como as da Vila
Vicentina, Centro Esportivo Olímpico, Praça do Cruzeiro e Igreja do
Bom Jesus de Angicos, dentre outros. Trabalhou na construção do
aeroporto de Cumbica (Guarulhos, SP) e também em obras em Santa
Catarina, onde conheceu Hermann Schmacher (O alemão da Barragem),
um dos engenheiros responsáveis pela construção da barragem
de Carmo do Cajuru.
322
Célio Antônio Cordeiro
Ele amava muito a sua profissão. Gostava muito de um churrasquinho
com os amigos e familiares, nos finais de semana. Foi sempre
uma pessoa bem-humorada e brincalhona.
José Fernando “Alemão”, posa em foto histórica do Tupy F. C.
Outra grande paixão do “Alemão do Tupy” era o futebol. Aliás o apelido
que ganhou foi por ser um bom jogador no time cajuruense, desde
bem jovem e por muitos anos.
Foi jogando bola que construiu grandes e boas amizades e admiradores.
Naquela época, o futebol amador viveu uma fase de ouro. Era
praticado com muita arte e com muita raça.
Em 27 de maio de 1972, aos 20 anos, casou-se com Maria do Carmo
Barbosa Nogueira, com quem constituiu uma bela família. O casal
teve cinco filhos: Mirian, Alexandro, Patrícia, Cristina e Fernanda.
Hoje, de sua descendência, existem cinco netos: Daniela, Mylena,
Mariah, Camila e Matheus.
NOSSA GENTE 323
José Fernando “Alemão” e familiares
Batalhou arduamente com sua esposa, com muita dificuldade financeira,
para a criação dos filhos. Muito exigente quanto ao comportamento
e rendimento escolar, ele tinha uma forte preocupação com o
futuro dos filhos. Como dizia, era através dos estudos que poderia ter
certeza de uma vida melhor.
José Fernando, foi um ótimo esposo, um pai exemplar e um grande
cidadão. Pelo seu modo de ser, vivia sempre cercado por dezenas
e mais dezenas de amigos. Conforme citado pelos familiares, teve
amizade muito próxima com pessoas como Taquinho (seu parceiro
no time do Tupy), Cabritinho, Roberto Fonseca, Afonso, Celinho da
Líder, César da dona Elvira e muitos outros.
Em 21 de novembro de 1996, após enfrentar os efeitos nocivos de
um melanoma, veio a falecer, deixando um grande rastro de saudade
entre os familiares e os seus muitos amigos. Ficaram como legados a
lealdade, a qualidade de seu ofício e a simplicidade do viver.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 074, Nov. 2018
324
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 325
José Fonte Bôa
O trabalho dignifica o homem, o prazer aperfeiçoa a obra,
a paixão dá sentido e o amor eterniza.
Autoria Desconhecida
Nesta crônica, focaliza-se a vida
de um grande cajuruense, que
viveu entre nós de maneira simples
e sempre pautada no amor
ao trabalho, dignificado pela honestidade
e honradez.
José Fonte Boa nasceu em 26
de março de 1917, filho de dona
Afonsina da Fonseca e Jorge
Fonte Boa. Desde criança, se
acostumara com a labuta do trabalho
familiar. Cursou o Primário
no Grupo Princesa Isabel.
Em 1942, esteve em Juiz de
Fora, no Exército, período em
que aprendeu muito e adquiriu
bastante experiência para a
vida. Em 9 de maio de 1947, depois
de um curto período de na-
José Fonte Bôa
moro, casou-se com Ana Maria de Melo. Do casal, nasceram três filhas:
Afonsina, Maria Nilce e Maria Geralda. Com apenas cinco anos
de convivência, ficou viúvo com o falecimento de dona Ana.
Após cinco anos de viuvez, veio a namorar e se casar com Sirene
Maia Fonte Boa. No segundo matrimônio, tiveram seis filhos: Geraldo
Maia, Márcio, Jaime, Maria Jose, Maria da Conceição e Jose. Com
dona Sirene, viveu durante 30 anos – um casamento muito sólido.
326
Célio Antônio Cordeiro
José Fonte Bôa, a caminho da cidade com sua primeira esposa, senhora Ana Maria, e os pequeninos
Ao longo de sua vida, José Fonte Boa se destacou por muitos serviços
prestados em prol da comunidade, sem deixar de falar do zelo e
dedicação que tinha pelos familiares. Foi um fazendeiro trabalhador
e bem-sucedido. Fornecedor de leite, associado da Cooperativa de
Produção por muitos anos, lá exerceu o cargo de Conselheiro Fiscal,
sendo também, quase na mesma época, membro Conselho do Sindicato
Rural.
Em outubro de 1981, participou com distinção do Concurso Regional
de Produtividade de Milho. Em setembro de 1982, recebeu do Ministério
da Agricultura, o título de “Produtor Modelo” pelo seu bom desempenho
no Setor Agropecuário. Em abril de 1985, recebeu homenagem
como Personalidade Destaque/ 1984, em Produção Agrícola.
NOSSA GENTE 327
Em 5 de agosto de 1993, recebeu
homenagem das integrantes rotarianas
da Casa da Amizade,
através de uma placa com o seguinte
dístico: “Paul Harris – O
pai eterno dos Rotarianos”. Na
referida placa, continha os seguintes
dizeres: “José Fonte Boa,
juventude não é ter pouca idade
e sim conservar o espírito sempre
jovem”.
José Fonte Bôa e a filha Zezé, debutante
Em 1955, passou a exercer o
cargo de Avaliador Judicial da
Comarca de Carmo do Cajuru,
durante muito tempo. Foi eleito
vereador da Câmara Municipal
de Carmo do Cajuru (1953-1956).
Foi rotariano fundador do Rotary Club local, ao início dos anos 1980
até 1996, ano de seu falecimento. Foi um membro exemplar que levava
muito a sério o compromisso de companheirismo e assiduidade
nas reuniões. Foi uma importante referência rotária, muito admirado
e respeitado por todos.
José gostava muito de futebol. Era torcedor do Atlético Mineiro, em
Minas, e, em Carmo do Cajuru, sua grande paixão era o Tupy Futebol
Clube, em cujas apresentações e jogos estava sempre presente.
Em 8 de agosto de 1996, aos 79 anos, veio a falecer, em meio à comoção
dos familiares e amigos. Dos dois matrimônios, hoje existem
sete netos do primeiro e oito do segundo.
Foi um grande esposo, pai avô e amigo de muitos. Pessoa honrada
e honesta. Deixou muitos e importantes legados para familiares e
amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 086, Nov. 2019
328
Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE 329
José Gontijo Maia
O trabalho dignifica o homem, o prazer aperfeiçoa a obra,
a paixão dá sentido e o amor eterniza.
Autoria Desconhecida
José Gontijo Maia, O “Zé da Júlia”,
como era carinhosamente
tratado por todos, nasceu no
município de Carmo do Cajuru,
em 25 de março de 1923. Filho
do casal Versol Domingues Maia
e dona Avantejour Nogueira
Gontijo. Primogênito, e teve
cinco irmãos: Valter, Edvar, Antônio,
Ceci e Claudimira.
José Gontijo Maia, o Zé da Julia
Foi uma pessoa que prezou muito
pelos valores familiares. Desde
criança, aprendeu a valorizar
e dedicar-se ao trabalho. Ainda
bem jovem, casou-se com Maria
Nogueira Maia, no dia 8 de
dezembro de 1945, e decidiram
morar na comunidade de Maribondo,
onde trabalhava em agricultura
na sua pequena fazenda.
Do casal, nasceram 13 filhos: Maria das Dôres(Dorinha), Antônio
Gontijo (Tunico), Maria das Graças, João Batista, Terezinha, Maria do
Carmo (Carminha), Getúlio, Sara, Maria Aparecida (Cida), Maria de
Lourdes (Lourdinha), José Domingos (Nonô), Maria da Conceição(-
Naná), José de Anchieta e Ana Maria (Aninha).
330
Célio Antônio Cordeiro
A casa da família dos Gontijo Maia
Ao início da década de 1950,
preocupado com a educação
dos filhos, mudou-se para a cidade,
o que facilitaria no anseio
de dar educação escolar formal
aos filhos. Prestou concurso no
Correio e foi aprovado. No Correio
trabalhou durante longos
anos até a sua aposentadoria.
Católico fervoroso, grande devoto
de Nossa Senhora do Carmo
e do Sagrado Coração de Jesus,
era uma pessoa muito próxima
do saudoso padre João, seu
José conduz a filha Aparecida ao altar
grande amigo. Sempre quando
aconteciam festas e celebrações da Igreja, Zé da Júlia sempre era
chamado para ocupar cargos nas diversas comissões formadas pelo
próprio padre. Seu nome aparece nos mais diversos programas de
festejos religiosos realizados na paróquia. Gostava muito de participar
da política, mas reprovava a politicagem. Amou muito sua terra
natal, sempre dizia que tinha uma grande paixão por Cajuru.
NOSSA GENTE 331
Com seu modo simples de viver e ajudar, tornou-se muito popular,
conseguindo assim, angariar um extenso número de bons amigos
durante a vida. Prestou um elogiável serviço social voluntário, em auxiliar
e esclarecer as pessoas, quando o procuravam para se aposentarem.
Colaborava com as conferencias vicentinas e por um grande
período fez parte da equipe de leitores na matriz de Nossa Senhora
do Carmo.
Foi pai muito zeloso para com os filhos e sua esposa. Mesmo depois
dos filhos crescidos, matriculou-se no antigo curso ginasial, do Colégio
José Demétrio Coelho e só não fez o segundo grau, porque na
época trabalhava em Divinópolis e não dava para conciliar horários.
Esse gesto de estudar depois de ser uma pessoa madura, serviu de
exemplo, não só para seus familiares como também à própria sociedade.
Nunca é tarde parea apreender, dizia.
Em 5 de janeiro de 1987, José Gontijo Maia nos deixou, partindo para
a Eternidade, deixando muita saudade aos familiares e amigos. Viveu
sempre na simplicidade, mas deixando como legado, os belos exemplos
de fé, de honestidade e de fazer bem ao próximo.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 055, Abr. 2017
332 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
333
José Inácio Salomé
Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.
Cora Coralina
Carmo do Cajuru, ao longo de
sua história, sempre se identificou
pela cultura e pela música.
Nesta crônica, coloca-se em
foco um dos maiores mitos da
música cajuruense: José Inácio
Salomé.
José Rabelo Vieira (Zé Mariano)
Zé Salomé nasceu no município
de Cláudio, hoje distrito denominado
Monsenhor João Alexandre,
no dia 1o de fevereiro de
1941. Pessoa de origem humilde
e de família numerosa, ainda
muito novo, foi desenvolvendo
um dom muito especial para a
música.
Com seu jeitinho calmo, fala baixa, espírito receptivo e cordial, sempre
punha à prova sua vasta inteligência e facilidade incrível em lidar
com a arte. É possível afirmar com muita convicção, que o Zé Salomé
foi um dos maiores músicos que passou por Carmo do Cajuru.
Para ser muito bom em apenas um instrumento, depende do dom
e da dedicação. José Salomé foi um dos poucos, que podemos chama-lo
de multi-instrumentista, com mais um importante detalhe, ele
também fabricava instrumentos musicais.
334 Célio Antônio Cordeiro
José Inácio Salomé, multi-instrumentista, acordeão (com amigos em seresta)
José Salomé, no órgão (em momento na Matriz)
Em sua marcante trajetória na
música, executava com muita
propriedade diversos tipos de
instrumentos musicais.
José Salomé, no bandolim (junto do Coral)
NOSSA GENTE
335
Outra destacada qualidade dele, além de sua bela voz, era a composição.
Compôs diversas músicas, dentre as quais estão: “Violão amigo”;
“Louco de amor por ti”; “Carnaval é coisa boa”; “Riquezas do
Sertão”; “Orgulho Cruel”; “ Jesus Verdade e Vida”; “Mãezinha Querida”;
“Jardim Reflorido”.
Compôs também uma linda canção em homenagem aos ministros
da Eucaristia, a pedido do saudoso padre Moacir Cândido, onde mostrou
sua genialidade.
Participou de vários programas de rádio e de TV, onde tinha oportunidade
de expor seu talento e suas habilidades instrumentais. Sempre
enaltecia o nome de Carmo do Cajuru, terra que ele adotou, como
sendo sua terra de coração.
Durante longos anos participou de forma notável do coral da Matriz,
como instrumentista e também como cantor. Por algum tempo foi
professor de música e funcionário da Prefeitura municipal de Carmo
do Cajuru.
Em vida, recebeu várias homenagens pelos relevantes serviços prestados
à nossa terra, destacando-se a Comenda Caa-Yuru, pela Câmara
Municipal, e uma homenagem especial durante a apresentação no
programa Minas ao Luar, no ano de 2012, quando se comemorava o
Centenário da Matriz de Nossa Senhora do Carmo.
José Salomé casou-se em 4 de fevereiro de 1978, com Maria das Graças
Oliveira Rabelo Salomé. O Casal teve quatro filhos: Paulo César,
Leonardo, Leandro e Alisson. Seu falecimento ocorreu em 26 de julho
de 2011, deixando muitas saudosas lembranças de sua presença
e de suas músicas, que marcaram uma época.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 038, Nov. 2015
336 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
337
José Jehovah Guimarães
A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.
Ralph Emerson
José Jehovah Guimarães nasceu
em 1885, na cidade de Pitangui.
Veio para Carmo do Cajuru
no início do século passado, influenciado
pela presença de seu
irmão Aquiles Guimarães que
aqui morava.
Em 1º de maio de 1909, casou-
-se com Maria Elísia, sendo o
casamento celebrado na Igreja
do Rosário, pois a Igreja Matriz
encontrava-se em construção.
De seu matrimonio com Maria
Elísia, nasceram sete filhos:
Lígia, Elísio, Maria Terezinha
Jehovah Guimarães
(Zinha do Tico), Geraldo Guimarães,
José Guimarães, Jehovah (Joca) e Maria Guimarães (Bilia). Foi
um grande chefe de família e um exemplo esposo.
Em Carmo do Cajuru, foi um dos maiores profissionais em Farmácia.
Participou ativamente de nossa vida cultural, social, religiosa e política.
Pessoa educada e de fino trato. Muito contribuiu para a sociedade
cajuruense. Foi ele quem doou o terreno para a construção do Grupo
Escolar Princesa Isabel.
Foi um confrade exemplar, que sempre dava muita atenção aos mais
necessitados. Foi o primeiro presidente do Conselho Particular, que
338 Célio Antônio Cordeiro
tanto ajudou a fundar em 1937. Participou ativamente da orquestra
paroquial, sendo um dos principais músicos. Gostava muito do teatro,
participava como ator e como escritor de peças. Foi presidente
do Clube “Lítero-Recreativo” fundado em 1939.
Além de intelectual sempre muito
bem informado, foi um político
muito dedicado, quando
o trabalho exercido era quase
tudo de forma voluntária. Vereador
Distrital por dois períodos,
representando a vila Cajuru na
Câmara Municipal de Itaúna, trabalhou
muito para a emancipação
de Carmo do Cajuru, sendo
um dos principais baluartes, na
comissão pró-emancipação municipal.
Compunha o grupo dos
primeiros vereadores da primeira
Câmara Municipal em 1949,
sendo seu primeiro presidente.
Foi prefeito de 1953 a 1955.
Sempre é lembrado com sadio
orgulho por sua luta pela
Jehovah, em sua leitura diária de jornal
emancipação e por seu discurso
na instalação do município em 1 o de janeiro de 1949, cravando uma
mensagem de esperança e sabedoria, que sempre nos parece nova e
atual, como ilustram estes excertos:
[...] Estamos construindo alegremente, porque estamos construindo
bem. A obra em que estamos trabalhando está bem começada,
abrindo-se ante nós amplas estradas que conduzirão
Carmo do Cajuru ao progresso, o solo já desbravado e o alicerce
sólido construído pelo trabalho ingente dos dignos membros da
Comissão Pró-Emancipação. O estacamento forte e resistente suportará
a riqueza futura (...)
NOSSA GENTE
339
Nenhuma honra poderia ser tão grata ao meu coração do
que ora me é concedida, de ser o primeiro orador desta
solenidade, para dirigir-vos a palavra neste mesmo instante
em que se instala oficialmente em todo o território
mineiro as suas novas comunas.
Quero vos falar sem adornos oratórios, sem armaduras
científicas, sem equipamentos filosóficos, sem cortejos
ou críticas, falar de modo simples, falar com sinceridade
na mente e alegria no coração, para vos dizer a palavra de
fé, nesta hora feliz, em que juntos, na mesma comunhão
de pensamento e de ideais, assistimos transformada em
confortadora realidade a maior aspiração de nosso povo:
dar a Carmo do Cajuru a sua carta de alforria (...)
[...] Estamos, portanto, colhendo o que semeamos; e o
resultado a que chegamos neste momento não se deve
a uma só pessoa e, sim, a todos os colaboradores nesta
obra comum (...)
E neste momento de tréguas, nesta hora em que se reúnem
os combatentes deste bom combate, em torno das
armas ensarilhadas, para uma troca de efusão e entusiasmo,
para um relancear de vistas sobre o terreno conquistado
e para alçar o olhar mais alto para as novas etapas
de lutas, que se sucederão num contínuo batalhar, é grato
sentir e proclamar o mérito do que foi feitio, sinceramente,
de coração aberto e fé lavada (...)
O nosso jovem município entra cheio de esperança na
vigência de sua nova fase histórica. Carmo do Cajuru, assim
o espero, e creio, há de ser uma cidade que vibrará,
que palpitará, tendo nos seus filhos o alicerce seguro e
firme de sua grandeza, de seu desenvolvimento, de seu
progresso. E, nessa marcha que espero seja acelerada,
Carmo do Cajuru caminha impavidamente para um futuro
grandioso, repleto de magníficas realizações.
340 Célio Antônio Cordeiro
Em 3 de agosto de 1962, com
idade bastante avançada e saúde
muito abalada, veio a falecer.
Seu corpo foi sepultado no Cemitério
do Bomfim.
Em reconhecimento aos grandes
feitos em prol dos cajuruenses,
hoje seu nome é lembrado,
levando o nome de uma de
nossas principais ruas. Recordar
José Jehovah Guimarães nos
leva a refletir sobre dedicação,
sabedoria e amor ao trabalho.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 041, Fev. 2016
NOSSA GENTE
341
José Lázaro de Souza *
Paciência e perseverança tem o efeito mágico
de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.
John Quincy Adams
O ser humano é eterno quando
seu trabalho permanece. É o
caso de José Lázaro de Souza, o
estimado Zezinho Pedreiro, que
eternizou sua existência através
das obras deixadas no município.
Era pedreiro, mestre de
obras e desenhista de plantas de
construção.
Embora nascido em Rio do Peixe
(hoje Piracema), em Carmo do
Cajuru tornou-se um cajuruense
de coração. Nasceu em 9 de
março de 1932, filho de José Severino
de Souza e dona Maria da
Zezinho Pedreiro
Glória de Souza. Em sua terra
natal, ele fez seus primeiros estudos
e aprendeu a profissão de pedreiro, ajudando o pai na construção
de casas para familiares.
Quando mais jovem, ingressou-se na banda de música da cidade e
participava de todos os eventos que acontecia na região, onde a banda
era convidada para abrilhantar a festa.
* O autor agradece a gentileza da filha Aparecida Elaine e do genro Matheus Vasconcelos
na composição desta memória, que registra a importância do Zezé Pedreiro para a construção
civil em Carmo do Cajuru.
342 Célio Antônio Cordeiro
Uma das cidades que ele mais tocava era Crucilândia, onde ficou conhecendo
padre João. Entre os integrantes da banda havia um construtor
de obras que o convidou para vir morar em Cajuru. Na cidade,
a primeira obra em que ele trabalhou foi na construção do Cartório.
Morando na cidade, ele conheceu
Celestra Sinfrônio de Souza
com quem se casou, no dia 3 de
fevereiro de 1959, e teve 6 filhos:
Wagner Geraldo, Aparecida Elaine,
Rubens, Giovane, Ailton e
João Carlos.
O casal Zezinho e Celestra
Pelo seu modo de ser, conviver
e trabalhar, ficou popularmente
conhecido por Zezinho Pedreiro. Ele gostava tanto de seu trabalho
que sempre se empenhava para aperfeiçoá-lo, apesar das dificuldades
para estudar. Na época, matriculou-se na Escola Mundial de
Cultura Técnica, em São Paulo, no curso de Desenho de Plantas para
construção. Formou-se em no dia 22 maio de 1969.
Com esta ampla experiência, quando alguém queria fazer alguma
construção, o primeiro nome citado era o dele. O padre João quando
ia fazer alguma obra ou reforma na paróquia entregava aos cuidados
dele. Zezinho Pedreiro trabalhou na construção do salão paroquial;
na reforma da matriz; na construção da igreja São Geraldo do Cajuru
Velho; na igreja de São Benedito e em muitas outras obras.
Umas das grandes construções feitas por ele foi a construção da praça
Nossa Senhora Aparecida (Praça do Cruzeiro). Ali, ele trabalhou
com mais amor fé e dedicação, pois era a realização de um sonho de
seu grande amigo, o padre João.
Essa dedicação pode ser notada no excelente acabamento das pedras
que revestem as paredes das capelas, principalmente na capela
de Nossa Senhora de Lourdes, onde ele esculpiu em uma pedra um
coração e o colocou acima da cabeça da santa e outros a baixo do
vitral.
NOSSA GENTE
343
Enquanto ele moldava o coração dizia “Vou deixar aqui meu coração
para que se lembrem sempre de mim”. Zezinho trabalhou também
em muitas outras obras no município e também no estado de Minas
Gerais: barragens da Cemig, na Carpe, construindo escolas estaduais
e municipais, Caixa Econômica, cadeia, praças, casas comerciais e residências
no município.
José Lázaro participava também da vida social de Carmo do Cajuru:
foi presidente de Conferência Vicentina, membro do Conselho Paroquial,
carnavalesco. Foi também integrante da Associação Musical
Cajuruense, antiga banda Santa Cecília onde tocava souzafone (mais
conhecido como baixo), abrilhantando todos os eventos que a banda
participava. O que ele mais gostava de tocar, era nos motetos da
semana santa.
Faleceu em 25 de abril de 1990. Como ele gostava muito de tocar
na banda e era estimado por todos integrantes, durante seu sepultamento
a banda tocou marchas fúnebres e a música que ele mais gostava,
a Líra. Zezinho pedreiro morreu, mas deixou eternizado o seu
trabalho, os seus bons exemplos de uma pessoa digna e trabalhadora
no coração de seus filhos, familiares e amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 044, Maio 2016
344 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
345
José Luiz Passos
É prova de alta cultura dizer as coisas mais profundas, do modo mais simples.
Emerson
José Luiz Passos, nascido em
Carmo do Cajuru, em 12 de dezembro
de 1919, era filho de
Godofredo Passos e dona Conceição
Guimarães Passos. Ainda
bem jovem, casou-se com Maria
da Glória Nogueira Passos. O
casal teve 3 filhos: Consuelo, Lucindo
e Ângelo. Netos: Eduardo,
Adelino, Ana Paula, Bismarck,
Daniel, Valéria, Fernanda, Rodrigo
e Luciano.
“Zé Passos” foi uma figura humana
das mais queridas, sempre
soube construir muitas amizades.
Pessoa generosa, dedicada,
entregava-se com prazer aos
José Luiz Passos
trabalhos voluntários, sempre
visando o bem-estar espiritual e
vivendo uma vida,com a alegria de servir aos outros. José Passos foi
uma pessoa tão popular na sociedade, que conseguia conviver e ser
acolhido com muito carinho, por crianças, jovens e adultos.
Na vida profissional, sempre se destacou pela competência e seriedade
com que abraçava as funções que lhe eram atribuídas. Foi funcionário
da Rede Mineira Viação, Banco Mercantil, Banco Industrial,
além de trabalhar por vários anos, como Auditor Financeiro na Cia
Siderúrgica Pains, hoje GERDAU, onde se aposentou.
346 Célio Antônio Cordeiro
O aniversariante José Luiz Passos, em momento festivo
Em Carmo do Cajuru, deixou muitas marcas em se tratando de serviços
voluntários. Executava de forma notável, diversos instrumentos
musicais. Com isso, recebia sempre, convites para eventos religiosos,
cívicos, sociais e esportivos. Participou por vários anos do Coro da
Matriz, hoje Coral Nossa Senhora do Carmo. Foi por longos anos integrante
do Conselho Pastoral Paroquial da Paróquia Nossa Senhora
do Carmo e participou também de diversas comissões de festejos e
celebrações religiosas.
Foi uma figura de suma importância na criação do Centro Esportivo
Olímpico (CEO) e um dos maiores incentivadores da construção
do Ginásio Poliesportivo de Carmo do Cajuru. Conforme ele sempre
dizia, seria um equipamento muito importante para a formação de
crianças e jovens, não só como atletas, como também para um bom
convívio na sociedade. José Passos teve a iniciativa de organizar pela
primeira vez, o tão tradicional “Torneio do Trabalhador” que acontece
no dia 1 o de maio.
NOSSA GENTE
347
Zé Passos, no time do
Zé Passos, com as crianças do Coro da Matriz ou Coral N. S. do Carmo
348 Célio Antônio Cordeiro
Nunca foi simpatizante de política partidária, porém foi uma das
grandes personalidades que trabalharam muito em prol da emancipação
do distrito em 1948, sendo o segundo-secretário da comissão
pró-emancipação.
Foi agraciado por diversas vezes, com belas e merecidas homenagens,
com destaque para as seguintes:
Em 01/01/86, recebeu homenagem de reconhecimento pelos serviços
prestados quando da emancipação de Carmo do Cajuru, data da
passagem do 38o aniversário do Município.
Em 30/12/88, recebeu a comenda Caa-yuru, pela Câmara Municipal.
Em maio de 2007, in memoriam, foi homenageado com uma por ter
promovido o Torneio do Trabalhador. Recebeu várias homenagens
também, na vizinha cidade de Divinópolis.
Hoje os seus familiares e amigos que o conheceram, relembram com
muita saudade daquele homem que, sem a menor dúvida, foi muito
importante para a construção da nossa História. Seu falecimento
ocorreu no dia 23 de maio de 1993.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 028, Jan. 2015
NOSSA GENTE
349
José Marra da Silva *
A dignidade de um ser, é o reflexo do caráter da alma ao cruzar o prisma de suas virtudes.
Leonardo Enes
Jose Marra da Silva nasceu em
Carmo do Cajuru, em 13 de outubro
de 1898, filho de Tobias
Marra da Silva e de dona Maria
Nogueira da Silva. Ainda bem
jovem, casou-se com Eliza Nogueira
Gontijo, filha de Antônio
Nogueira Gontijo e Claudimira
Maria de Jesus. Do casamento,
nasceram 10 filhos: Wanda, José
Nogueira, Jacy Marra, Jadir Marra,
Violeta, Leila Gontijo, Maria
Aparecida, José Paulo, Jair Marra
e Vânia Lúcia.
José Marra da Silva e Elisa Nogueira Gontijo
Jose Marra, desde adolescente,
era dedicado ao trabalho e aos
estudos.
Concluído os estudos básicos,
em 20 de julho de 1932, formou-
-se no curso técnico de “Guarda-
-Livros” (hoje Contabilidade), no
Rio de Janeiro. Trabalhou como
contador durante mais de 20
anos em Divinópolis e em Carmo
do Cajuru.
350 Célio Antônio Cordeiro
Tinha um grande amor a sua terra natal. Foi um dos 10 baluartes do
movimento de emancipação e criação do município, do qual ele foi o
secretário executivo dos trabalhos preparatórios.
Foi o Vice-Prefeito, na gestão do primeiro prefeito, José Demétrio
Coelho, e exerceu por duas vezes o cargo de presidente da Câmara
Municipal, trabalho que era desenvolvido sem qualquer tipo de remuneração.
Em 1955, foi eleito Prefeito. Mesmo com falta de recurso por parte
da Prefeitura Municipal, naquela época, ainda conseguiu realizar importantes
obras. As primeiras ruas a receber calçamento com paralelepípedos
ocorreram no seu mandato, juntamente com os primeiros
serviços de rede de esgoto.
Tinha uma grande preocupação, mesmo com as condições precárias,
com as estradas das comunidades rurais. Foi um empresário muito
bem-sucedido. Em 1959, fundou a Siderurgia Cajuruense, que passou
a gerar muitos empregos. Além disso, era um dos pioneiros na batalha
pela criação da Comarca em 1953.
Em 1958, como um grande entusiasta da Contabilidade, participou
da criação da Escola Comercial “Dom Bosco”, compondo o quadro
docente, além de ceder por empréstimo o prédio onde funcionou a
escola.
Através do espírito fraternal de José Marra da Silva, que se conseguiu
uma grande área para construção da Vila Vicentina. Ele também
doou o terreno onde foi construído o campo do glorioso Tupy Futebol
Clube, cujo nome passou a ser; Estádio José Marra da Silva.
Outra doação importantíssima feita por ele, foi o terreno para construção
do Grupo Escolar Vigário José Alexandre. No seu governo, fez
melhoria no Grupo Escolar Princesa Isabel e criou a Escola Rural da
comunidade de Cajuru Velho.
Mesmo em sua época de governo, Carmo do Cajuru, sendo uma pequenina
cidade, não abria mão ter na cidade a presença de um médico
residente aqui.
NOSSA GENTE
351
Outra obra que foi de suma importância para a cidade, foi a construção
da Barraginha, para o abastecimento da água que, muito servia
a nossa população.
Seu nome ficará para sempre gravado no coração do povo cajuruense.
Além de uma das ruas mais bonitas de nossa cidade, o trecho de
rodovia entre Carmo do Cajuru-Divinópolis também leva seu nome
em homenagem a esse grande vulto da história local.
Em 12 de abril de 1975, com a saúde bastante frágil, partiu para o
plano de cima, deixando muita saudade aos familiares e amigos. José
Marra foi sempre uma pessoa digna e honrada. Sempre amou o trabalho
e muito fez em prol da comunidade e dos mais necessitados de
Carmo do Cajuru.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 064, Jan. 2018
352 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
353
José Mateus da Silva Sobrinho *
A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música.
Leonardo Enes
— Zé Salgado, mesmo num
leito de hospital, conseguia
transmitir alegria as pessoas
que o visitavam — dizia o padre
David Ramos, no Hospital São
João de Deus .
Até hoje quando encontro por
acaso, alguém que o conheceu,
depois de quase trinta anos de
sua partida serena, mencionam
Zé Salgado como uma pessoa
que ninguém gostaria que
tivesse ido embora.
Filho de dona Augusta Marra da
Silva e do senhor Antônio Mateus
da Silva, José Mateus da
José Salgado, a felicidade em pessoa
Silva Sobrinho, nasceu em São José dos Salgados, aos 29 de março
de 1935, daí seu apelido, “José Salgado”, Zezé para os familiares
mais íntimos. Sobre sua família dizia:
— Lá em casa, somos seis homens, seis mulheres e o Mateus,
meu tio Mateus, o caçula — E assim fazia todo mundo rir.
Não posso escrever sobre ele sem mencionar suas expressões espirituosas,que
foram sempre sua marca.
* O colunista agradece a gentileza da filha de José Salgado, Zuleica Alves, na elaboração
desta memória, que reproduz o seu belo testemunho.
354 Célio Antônio Cordeiro
Pelo que conheci de toda nossa família, tinha marcas próprias que o
destacava dos demais irmãos. Nunca se importava com o que vestia,
contrariando demais a minha mãe. Era o moleque da família e onde
ele estava sempre se ouvia uma risada. Porém conosco, suas cinco
filhas,sempre foi severo e exigente.
Tremíamos quando ele assoviava nos chamando. Fazia sempre questão
que fôssemos o exemplo, na escola e onde trabalhávamos. Nos
ensinou a fazer qualquer tipo de trabalho, o que o fosse necessário.
Fazia com que auxiliássemos nas reformas em casa carregando tijolos,
telhas, pregando prego em tacos, fazendo massa para reboco.
Algumas vezes nos levava pra pescar com ele. Como eu gostava! Era
imbatível na pescaria com varinhas de bambu, minhocas e iscas preparadas
por ele mesmo. Sempre vinha com a sacola cheia de peixes
pra janta.
Na cozinha gostava de se mostrar. Em época de Natal, costumava
preparar uma leitoa assada, que era disputadíssima. Era muito rigoroso
no preparo dos famosos pasteizinhos, que a gente vendia e que
por muito tempo ajudou na renda da família, dizia:
— O óleo não pode estar muito quente, nem frio. Mexe! Tem que ir
virando pro pastel ficar bonito! A massa não pode ficar mole! Tem
que ficar fina! O recheio tem que ser assim assado...
Tínhamos que seguir à risca todas as orientações. Até hoje, as pessoas
falam no “Pastel da Maria do Zé Salgado”, sobre os quais ele
comentava:
Ou então:
— O pastel da Maria é assim: a primeira mordida não tem nada,
nem na segunda, mas na terceira é batata.
— Pra saber qual é o sabor do pastel da Maria é só morder. Se não
tiver nada é de queijo, se tiver batata é de carne.
Trabalhou no matadouro municipal, foi açougueiro, depois sapateiro
e trabalhou algum tempo como porteiro e inspetor de aluno em
NOSSA GENTE
355
escolas de Cajuru e também em
portarias de festas. Só depois
entãofoi que se transformou no
“Zé Salgado do Posto de Saúde”.
Como ele amou aquilo!
Trabalhou muitos anos, aplicando
vacinas, auxiliando especialmente
o doutor Marcondes nas
suturas necessárias em casos de
acidentes e brigas. Mais tarde,
assumiu o laboratório do Posto,
executando os exames de fezes,
urina, escarro e sangue.
José Salgado com a esposa e as filhas
Em certa ocasião, nas horas vagas, resolveu assumir um trabalho no
Posto de Gasolina perto de nossa casa. Foi quando adquiriu uma artrite
reumatóide que o fez sofrer muito e desencadeou uma série de
outros problemas de saúde. Sofreu muito quando teve que se aposentar
por invalidez, deixando seu amado laboratório.
Vi meu pai ser conciliador em várias situações de “brigas de família”,
de vizinhos,de desavenças diversas. As pessoas o procuravam para
se aconselhar. Numa manhã, indo para Divinópolis, me encontrei
com o Lelé, companheiro de conferência do meu pai. Ele fez questão
de me abordar e dizer:
— Menina, como eu amava o seu pai! Rezo pra ele todos os dias.
Meu pai sempre teve a preocupação de ser útil para quem não tinha
com quem contar. Foi confrade por muitos anos e trabalhou na comissão
que coordenava a Vila Vicentina. Ele costumava levar lá em
casa, os pobrezinhos, seus queridos. Pessoas que se tornaram especiais
pra nós também.
Nossa casa era sempre cheia de amigos e alegria. Numa ocasião,
meu pai criava dois porcos, um erado , do doutor Marcondes, o outro
nosso . Meu pai foi quem deu nome pra eles: PISe PASEP. Guardamos
muitas histórias desses dois bichinhos.
356 Célio Antônio Cordeiro
Também tivemos cabras. Ele sempre levava nossas visitas para vê-las
e aí sempre saía uma brincadeira:
— Essa aí dá sete litros de leite. E quando a pessoa se assustava,
ele admitia que isso só se dava em sete dias.
A primeira foi a Brinquinho. Ela teve duas crias: “Baby e Pepeu”, que
geraram a “Independência e Liberdade” - esta dupla ganhou estes
nomes porque nasceram no dia Sete de Setembro. Depois tivemos a
“Represa” e a “Leitosa” . Ganharam estes nomes, segundo ele, para
produzirem muito leite.
Não era de fazer visitas, nem de festas, nem de eventos, nem badalações.
Mas, pra quem cruzava com ele no seu caminho diário, sempre
tinha uma gracinha, palavra de conforto ou um simples “bate papo”.
Meu pai nos deixou de forma tranqüila, numa sexta-feira da Paixão,
um dia de muitas visitas, encontros e risadas. Adormeceu à tarde e
não acordou mais. Seu sepultamento, de todos os que já presenciei,
foi o mais poético. Subimos para o Cemitério, à pé, como era o costume.
A diferença é que todos cantávamos. E cantamos nos despedindo
de alguém que nunca mais saiu de nossas vidas.
Especialmente da vida de minha mãe, a quem ele muito amava. Ele
fazia questão do romantismo. Me lembro bem de presenciá-lo apanhando
uma rosa pra ela no jardim de casa, depois de fazerem as
pazes, após ficarem um tempo sem conversar por causa de um desentendimento.
Hoje o PSF do Centro de Cajuru leva o seu nome. Pena a placa não
constar “Zé Salgado”, como todos o conheciam. Sem falsa modéstia,
com todo o merecimento, porque ele amou o trabalho que realizou
e serviu a muitoscom alegria, simplesmente por servir e fazendo
o que amava fazer.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 025, Out. 2014
NOSSA GENTE
357
José Mateus Filho
Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida.
Bob Marley
José Mateus filho, nasceu em
Carmo do Cajuru, no dia 17 de
julho de 1912, dois meses antes
da benção inaugural da atual
matriz Nossa Senhora do Carmo,
onde foi batizado. Filho de
José Mateus da Silva e de dona
Márcia da Fonseca e Silva, era
o segundo filho de uma família
numerosa, composta por oito
irmãos.
Jose Mateus Filho, ou Zé Mateus,
como era conhecido de
todos, com seu modo de viver e
ser únicos, soube marcar de uma
José Mateus Filho
maneira ilustre sua vida terrena
com seu exemplo recomendável de cidadania, esposo, pai avô e
grande amigo.
Em 28 de fevereiro, casou-se com Margarida Gomes de Souza. Dessa
união, nasceram 6 filhos: Heitor, Maria José, Maria Eugênia, Maria
Dulce, José Heleno e Geraldo (Branco).
Durante toda a vida, exerceu a profissão de alfaiate, com muita dedicação
e apreço “pelo fazer bem feito”. Sua alfaiataria, era ponto de
referência de encontros, onde se cultivava grandes amizades.
358 Célio Antônio Cordeiro
Sempre disponível a prestar serviços em prol da comunidade e aos
familiares; pessoa de muita fé; foi durante muitos anos confrade da
SSVP e participava muito das diversas comissões de festejos religiosos,
como podemos observar em programas de festas religiosas do
passado. Também atuou como delegado de polícia, Juiz de Paz, presidente
do glorioso Tupy Futebol Clube – todos esses serviços prestados
de forma voluntária.
O prefeito José Mateus Filho, entre autoridades em palanque de Sete de Setembro
No ano de 1971, foi eleito prefeito municipal, cujo mandato foi cumprido
com muita honestidade e transparência. Mandato curto, de
apenas dois anos, mas com muita dedicação, conseguiu grandes
feitos para a nossa comunidade. Na zonal rural, construiu os Grupos
Escolares das comunidades de Maribondo, Olarias, Ribeiros e Córrego
Fundo. Deu uma atenção especial às estradas das comunidades,
abrindo novas e construindo pontes.
Como sabemos, amava muito o distrito de São Jose dos Salgados e
se sentia como um filho daquela terra. Lá, enquanto prefeito, teve a
oportunidade de realizar grandes obras, como o asfaltamento da rua
principal, ponte sobre o córrego São José e a instalação de água aos
moradores. Até hoje ele ainda é lembrado de maneira muito carinhosa
naquela localidade.
NOSSA GENTE
359
A primeira dama, dona Margarida e senhor José
José Mateus Filho, em sua última foto
Em 21 de fevereiro de 1995, já com a saúde muito debilitada, ele veio
a falecer. Sua morte deixou no coração dos familiares e amigos uma
profunda tristeza e um vazio ardente de saudade.
Deixou aos familiares um legado muito importante: bons exemplos
de honestidade, simplicidade e dedicação ao bem público.
Ao refletir sobre a vida de José Mateus, me vem na lembrança, por
conclusão, uma pequena fala do José Dias Lara, que reflete bem o
que foi essa importante personalidade cajuruense:
— Há pessoas desprendidas e sem vaidade a quem não seduzem
as honras e as posições sociais. Embora dotadas de valor, não
usam de seus méritos para a ascensão na vida, a que tantos aspiram
sem as mesmas credenciais.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 058, Jul. 2017
360 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
361
José Nogueira Avelar
Quase tudo é possível se tem dedicação, determinação e habilidade. Grandes feitos
são realizados não são pela força, mas pela perseverança e dedicação”
Diego Lima
Estra crônica conta um pouco
da personalidade que marcou
a histórias local. Pessoa simples,
carismática, determinada,
de grande caráter e que amava
muito o que fazia: o saudoso
José Nogueira Avelar.
José Nogueiras Avelar
O “Zé Gavião”, como era conhecido
de forma carinhosa pelos
contemporâneos, nasceu em
Carmo do Cajuru, no dia 7 de janeiro
de 1927, filho de Guilherme
Nunes de Avelar e de dona Petrina
Nogueira. Em 20 de maio de
1954, casou-se com Terezinha
Avelar, com quem teve 5 filhos:
Edésio, Edílson, Edna, Edmilson
(in memorian) e Edson (Tostão).
Fez os seus primeiros estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel, onde
se destacou pela facilidade no aprendizado e pela maneira cordial
de lidar com seus colegas e mestras. Formou-se em Contabilidade,
no extinto Colégio Comercial e Normal José Demétrio Coelho, onde
posteriormente lecionou por algum tempo. Era um professor carismático,
dono de uma boa didática, habilidoso e muito amigo de seus
alunos, fato que o fazia muito estimado por todos.
362 Célio Antônio Cordeiro
O professor José Nogueira, em solenidade de formatura
Pesquisando em alguns escritos do nosso primeiro prefeito José Demétrio
Coelho, me deparei com o nome de José Nogueira Avelar em
dois momentos muito importantes da história de Carmo do Cajuru. O
primeiro deles, foi na solenidade de composição da primeira diretoria
da Comissão de Emancipação do município, conforme Ata lavrada
em 14 de dezembro de 1947.
Posteriormente, seu nome também aparece em assinatura da Ata,
do dia 1o de janeiro de 1949, na solene Sessão de Instalação do Município,
ocorrida no tradicional Grupo Escolar Princesa Isabel, fato marcante
na história e muito significativo para Carmo do Cajuru.
Esse fato indica que José Nogueira, aos 22 anos, compunha uma juventude
idealista e que estava ao lado dos anseios do povo na criação
do município de Carmo do Cajuru.
Foi uma pessoa de fé, vicentino desde a infância, na Conferência São
Tarcísio. Por longos anos, prestou relevantes serviços como funcionário
da Prefeitura Municipal, onde foi contador e secretário dos prefeitos,
no período 1949-1972, na prefeitura de José Mateus Filho.
NOSSA GENTE
363
Formação do Tupy - De pé: Antônio Delegado, Alípio, Heitor, Heli Maia, Laércio, Ladicão.
Agachados: Mário de Souza, Cirilo, Zé Nogueira, Cici e Juarez
Prestou serviços também ao nosso futebol amador. Torcedor apaixonado
do glorioso Tupy Futebol Clube, onde foi atleta e depois presidente
do clube.
Em 19 de janeiro de 1972, com a saúde muito abalada por um câncer,
veio a falecer com apenas 45 anos. Sua morte causou muita tristeza
aos familiares e amigos. Ele foi sepultado no cemitério de Carmo do
Cajuru, depois de um comovente velório.
A saudosa figura de José Nogueira Avelar está sempre na lembrança
de quem o conheceu.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 036, Set. 2015
364 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
365
José Rabelo Vieira
Caridade ensinada melhora os ouvidos. Caridade praticada aprimora os corações.
Emmanuel
José Rabelo Vieira, nasceu em
14 de fevereiro de 1936. Filho
de. Francisco José Rabelo (Chico
Mariano) e de dona Maria
Francisca de Jesus. Foi o terceiro
filho de uma família bastante
numerosa. Seus irmãos: Ilda,
Mariana, Maria Rabelo, Aparecida,
Geraldo Mariano, Jacob, Maristela,
Maria de Lourdes e Braz
Rabelo (falecido).
Residiu por algum tempo na
comunidade de Ribeiros. Ainda
bem jovem, casou-se com Maria
de Lourdes Rabelo de Camargos,
da comunidade de Olarias,
José Rabelo Vieira (Zé Mariano)
para onde se mudaram e viveram
por mais de 50 anos. Do Casal, nasceram 13 filhos: Zenon, Maria
Aparecida, Teodora, Antônio, Francisco, Márcia, Márcio, Silvania, Elisabete
(Betinha), Sirlei, Leiziane, Ana Maria e Helena (Leninha).
Zé Mariano, como era tratado por todos, teve uma vida pautada por
muita simplicidade, mas muito voltada para o trabalho e educação
de sua numerosa família e sempre mostrando ao longo de sua vida
um trabalho voluntário bastante expressivo. Católico fervoroso desde
criança, bem cedo abraçou a tarefa de confrade vicentino. Fez
parte da conferencia do Sagrado Coração de Jesus, em Ribeiros.
366 Célio Antônio Cordeiro
Quando foi residir na Comunidade de Olarias, fundou a conferência
Nossa Senhora de Fátima, que existe até os dias de hoje. Quando das
mudanças ocorridas na Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, na década
de 60, aconteceu a esperada abertura para o trabalho de leigos.
Zé Mariano, na época, orientado por dom Cristiano Pena, tornou-se
um dos primeiros dirigentes de cultos dominicais em comunidades
rurais. Exerceu também com muita dedicação, o trabalho de missionário
nas celebrações da Semana Santa, na zona rural. Foi instrutor
de cursos de preparação para batismos e ministro da Eucaristia.
Como bom Vicentino que foi, assumiu a presidência do Conselho
Particular da Comunidade de Ribeiros, prestando inúmeros serviços
à Sociedade São Vicente de Paulo. Ainda como trabalho social, exerceu
com muita competência, o cargo de presidente da Associação de
Moradores das comunidades de Ribeiros, Estivas, Olarias e Barreiros.
Foi através desta associação, que conseguiram inúmeros benefícios
aos agricultores e produtores rurais como: máquinas agrícolas, sementes
e adubos. Fez um trabalho bastante significativo, de mostrar
aos moradores a importância do saneamento básico, com a implantação
de fossas em residências.
José Rabelo Vieira e dona Maria de Lourdes com os filhos
NOSSA GENTE
367
Foi um grande chefe de família,
esposo, pai, avô e tio que sempre
teve a admiração de todos.
Através de seus belos exemplos
e amor ao trabalho conseguia
conquistar muitos amigos.
Gostava muito de manter-se
bem informado através de noticiários
de jornais, pelo rádio e
pela televisão.
Era um grande amante das festas
que ocorriam nas comunidades
rurais: Folias de Reis, Ladainhas
do mês de maio, Festa da
Cruz e Rodas de Violas.
Zé Mariano, ministro da Eucaristia
Aos 25 de setembro de 2015, José Rabelo Vieira, Zé Mariano, partiu
para a eternidade, deixando uma lacuna social e muita saudade à sua
numerosa família e aos muitos amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 054, Mar. 2017
368 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
369
José Vital Filho
A arte da música é a que mais se aproxima das lágrimas e das recordações.
Oscar Wilde
A orquestra no céu ganhou mais
um grande músico: José Vital Filho,
que se despediu deste plano
material, ao final de 2016, mesmo
ano em que a queridíssima
e tradicional Associação Musical
Cajuruense completava 100
anos de história, no dia de Santa
Cecília.
José Vital Filho, o maestro Boró
Não poderia ser diferente! Maestro
Boró foi um dos maiores
musicistas de nossa cidade e
região. Autodidata, tocava diversos
instrumentos de sopro e
percussão. Devido à sua grande
paixão pela arte, em períodos
mais difíceis, sem recursos e
apoio, trabalhou voluntariamente,
durante muitos anos em prol
da cultura cajuruense.
José Vital Filho, o popular “Maestro Boró”, nasceu em 17/04/1927,
passou sua infância na zona rural de Carmo do Cajuru, na comunidade
de Jacarandá. Filho de dona Tiana e Zico Vital, teve quatro irmãos:
Dico, Nina, Joãozinho e Bené, como são assim conhecidos. Seus laços
musicais vieram de berço, pois seus pais e irmãos sempre tiveram
muita ligação com a música; bem como seus filhos, netos, bisnetos,
parentes e amigos também.
370 Célio Antônio Cordeiro
Os descendentes do maestro Boró são responsáveis pela persistência
e perpetuação da cultura carnavalesca na cidade. Escola de Samba
Pavão Dourado, Blocos Kayuru, da Latinha e CachaSamba são coletivos
em atividade, mantidas pela dedicação, esforço voluntário e
envolvimento de vários familiares e amigos.
José Vital Filho exerceu seu papel de cidadão consciente e participativo,
sendo vereador e presidente da Câmara, na época em que não
tinham remuneração. Ele foi o responsável pela fundação da Associação
Musical Cajuruense, para a qual ganhou vários prêmios de
destaque em toda região.
O jovem José Vital Filho (no centro) integra a banda Santa Cecília, tocando saxotrompa
A história registra que com o fim da Banda Santa Cecília, que pertencia
à nossa paróquia, desde o século 19, o músico Boró decidiu, no
final da década de 1960, procurar o padre João Parreiras Villaça, para
pedir a doação dos instrumentos antigos, parados há muitos anos,
com o objetivo de fundar uma nova Banda, independente.
NOSSA GENTE
371
Padre João, entusiasmado com a ideia da reativação da Banda, formou
uma comissão e foi até o Bispo Diocesano, em Divinópolis e
conseguiu a doação de todos os instrumentos da Banda Santa Cecília.
A partir de então, reativada, a Banda de Música tornou-se um manancial
de grandes músicos; ela que sempre foi e continuará sendo,
uma das mais tradicionais e melhores do interior mineiro.
O maestro Boró rege a AMC, em Encontro de Bandas de Carmo do Cajuru
Maestro Boró transmitiu seus ensinamentos para uma legião de músicos,
dentre os quais, vários alunos que se tornaram grandes profissionais
bacharéis em música: Marcelo Madureira, Juventino Dias,
Tiago Ramos, Aglailson França, Marcos Ferreira Rodrigues (Marquinho)
e Lucas Guimarães.
No dia 6/12/2016, Santa Cecília, padroeira dos músicos, veio buscar
definitivamente o “Maestro Boró” para junto de si, deixando vivas
recordações e saudades em seus familiares, amigos e admiradores.
Muita semeadura foi feita; muitos frutos já foram colhidos, e mais
serão, pois é como a sabedoria de Jesus, por João: “Se o grão do trigo
caído na terra (...) morrer (...) produz muito fruto” (Jo 12:24). Este é o
legado de José Vital Filho para as futruras gerações.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 053, Fev. 2017
372 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
373
Márcio Humberto Vaz Fonseca*
As memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam o nosso futuro.
O Doador de Memórias
Nascido em Uberaba, em 1972,
Márcio Humberto foi o primeiro
dos cinco filhos de Marinho Pio
da Fonseca e Maria José Vaz da
Fonseca, dois deles falecidos:
Meriele e Alessandro. Márcio
colaborava com as tarefas domésticas
e com a criação dos
outros dois irmãos, Luiz Carlos
e Frances, desde a mamadeira,
comida, banho e fraldas. Mesmo
com tantas responsabilidades,
nunca deixou de ser uma criança
alegre, feliz e cheia de energia.
Não foram poucos os casos contados
por sua mãe, pelas tias e
por quem conviveu com Márcio.
Em meados dos anos 1980, a família
veio estabelecer-se defini-
Márcio Humberto
tivamente em Carmo do Cajuru.
Márcio já contava com seus 12 anos de idade e entrava na adolescência.
Nos anos 1980, começou a experimentar a explosão do rock
nacional (Legião, Paralamas, Engenheiros, Titãs etc.), a performance
das bandas britânicas (Pink Floyd, The Cure, The Smiths), sem falar
na admiração pelo saudoso Elvis Presley.
* O colunista agradece a gentileza de Frances Vaz, irmão de Mário Henrique, na elaboração
desta memória, que reproduz o seu belo testemunho.
374 Célio Antônio Cordeiro
Letras e melodias dramáticas, críticas, sensíveis, performances
contestatórias e muita irreverência. Foi nesse contexto que cresceu
e se constituiu o jovem Márcio Humberto, com gostos e referências
que se consolidaram para o restante de sua breve vida.
Em Cajuru, Márcio fez suas primeiras e duradouras amizades
que compartilharam e viveram a cidade: a discoteca, o Varanda,
a Barragem e tantos outros espaços que se tornaram points de
encontro da juventude cajuruense.
No início dos anos 1990, surge a Gincana da Independência. Os amigos
se juntaram e formaram a equipe Anarquistas: o evento movimentou
a cidade, reuniu a juventude e se tornou uma referência de
competição saudável, de conhecimento, de trabalho de equipe e,
principalmente, foi palco da criação de fortes laços de amizades.
Desde cedo, Márcio trabalhou
para poder arcar com sua inesgotável
vontade de viver. Fez
de tudo: foi frentista, trabalhou
com ferragem, cursou Engenharia
Elétrica (não se formou),
trabalhou com computadores,
abriu uma loja de CDs, cursou
Publicidade.
A filha Ânalis, de Márcio e Natieline Maciel
Casou-se aos 23 anos e, meses
depois, veio a primeira filha, Ânnalis.
Com o passar dos anos, foi
fazendo novos laços de amizade
com jovens de diferentes épocas,
conectando diferentes tempos
e gerações.
No final dos anos 1990, Márcio entrou para a vida pública, passando
a integrar o Governo Municipal e, desde então, fez uma carreira promissora
na cidade e na região. Com competência reconhecida dentro
e fora do município, sua figura tornou-se importante para a cidade,
sendo reconhecidamente (mais uma vez) uma liderança.
NOSSA GENTE
375
Participou da fundação do Ruassa, um dos grandes blocos de batucada
da cidade, participou da organização do Carnaval de rua, dos
rodeios, de festas religiosas. Trabalhou pela cultura e pelo turismo
na cidade.
Márcio e a esposa Aline Verlane Alves de
Oliveira com o filho Lucas
Em 2011, Márcio conviveu com
dois acontecimentos diametralmente
opostos e que transformariam
sua vida profundamente:
nasceu seu segundo filho,
Lucas. Mas, apenas três dias depois,
morreu seu pai, Marinho,
em um acidente doméstico. A
ferida pela perda do pai nunca
se fechou e se tornou motivo de
saudade, de dor, de muitas lágrimas
e recordações recorrentes.
Foi nos versos e na melodia de
Rod Stewart (I don’t want to talk
about it) que encontrou conexão
com o pai, segundo testemunha
de sua vida. Foi no seu embalo
que derramou lágrimas, que sua
ferida de alma doía.
[...] Eu não quero conversar sobre isso / Como você partiu
meu coração / Se eu ficar aqui mais um pouco / Se eu ficar
aqui, você não ouvirá meu coração? / Oh, meu coração
A roça em que o pai passou tanto tempo trabalhando tornou-se seu
porto seguro. Foi no bojo dessa dolorosa perda que o carinhoso filho
assumiu com vigor a liderança familiar e viveu seus últimos anos de
vida apaixonado e dedicado aos filhos e à família. Márcio, sem saber,
conectou-se à família para viver seus últimos momentos. Em 2016,
ele partiu. “Rapidamente, deixou a todos um pouco órfãos, um pouco
sem irmão, um pouco sem lugar”, como escreveu o irmão France
Vaz, destacando seu legado:
376 Célio Antônio Cordeiro
Márcio Humberto, na ala dos tamborins do bloco Ruassa
Falar de você é falar de alegria, de risada, de vontade de viver,
de irreverência e de insubordinação. Talvez um dos traços mais
marcantes que você nos deixou tenha sido a sua irreverência
com a vida, com as regras, com as formalidades vazias. Esse foi
o exemplo de liderança que você nos trouxe: muita vontade de viver,
como se cada minuto fosse o último, como se cada momento
fosse único, como se cada festa fosse a derradeira.
Vimos em você uma pessoa com a beleza e a criatividade da
juventude, alguém que se encantou com as coisas simples do
mundo: uma boa comida, belas músicas, a conversa animada, a
cerveja “trincando”, a potência do encontro (...)
[...] é difícil lidar com a realidade de alguém tão querido e tão
amado e que se foi tão cedo. É difícil lidar com a profecia de
Love in the Afternoon da nossa querida e saudosa Legião: “é tão
estranho, os bons morrem jovens”. Não poderíamos imaginar
que esta seria uma profecia para sua própria vida e estamos
aqui, lidando com a outra face dela: continuamos aqui, “nosso
trabalho, nossos amigos, lembrar de você, de nossas tardes de
amizade. Você se foi, cedo demais…”
JORNAL BOCA DA MATA, n. 063, Dez. 2017
NOSSA GENTE
377
Dr. Marcondes José da Silva
Quando somos bons para os outros, somos ainda melhores para nós mesmos.
Benjamin Franklin
O jovem doutor Marcondes, em sua formatura
O Dr. Marcondes foi uma dessas
pessoas notáveis que vieram
a Carmo do Cajuru dar as suas
contribuições inestimáveis, neste
caso, à saúde pública local.
Nascido em Rio Paranaíba, no
dia 6 de agosto de 1914, filho de
Jerônimo José da Silva e dona
Rita Zeferina de Araújo. Em 7 de
setembro de 1943, casou-se com
Luzia Resende da Silva. Tiveram
5 filhos: César Marcondes, Maria
das Graças, Carlos Alberto,
Antônio Carlos e Mariluzia. Seus
primeiros estudos foram feitos
em sua terra natal.
Sua trajetória na Medicina iniciou quando se mudou para Belo Horizonte
e ingressou na UFMG. Formou-se em 1941, ano em que retornou
para Rio Paranaíba. Naquela cidade, exerceu Clínica Médica
Geral e tendo oportunidade também, de ser vereador e vice-prefeito.
Na época, o trabalho político tinha caráter voluntário.
Na década de 1950, se especializou em Medicina Sanitária e ingressou
no Serviço Público do Estado como chefe do Posto de Saúde.
No ano de 1964, foi convidado a se transferir para Carmo do Cajuru,
onde foi chefe do Posto de Saúde até 27 de maio de 1981.
378 Célio Antônio Cordeiro
Em Carmo do Cajuru, residia na
Praça da Matriz, esquina com
a rua Rui Barbosa. Sua casa era
bastante movimentada, estava
sempre cheia de seus familiares,
amigos e amigos de seus filhos.
Sempre se reuniam em volta da
mesa farta para se divertirem.
Lá comiam bebiam, jogavam
baralho, tudo com muita alegria
e descontração.
O casal dona Luzia e doutor Marcondes
Recebeu várias homenagens,
por grandes serviços prestados
à socierdade cajuruense. Na década
de 1980, recebeu uma belíssima
homenagem do Rotary
Clube Internacional.
Há pouco, foi homenageado pela municipalidade, in post-mortem,
dando o seu nome ao Centro de Expansão Psicossocial (CAPs 1).
Familiares e amigos do Doutor Marcondes, em momento de confraternização (Registro pessoal)
NOSSA GENTE
379
Homem justo, inteligente, de
um caráter e honestidade sem
limites. De uma bondade sem
tamanho. Era evoluído além de
seu tempo. Dedicou sua vida à
família, a coletividade, amigos
e sobre tudo em sua nobre missão
de exercer bem a Medicina.
Com semblante sempre alegre e
brincalhão, sabia como conquistar
a simpatia de muitos amigos,
o que o fazia uma pessoa muito
popular.
Doutor Marcondes José da Silva
Clinicou em seu consultório até o final dos seus dias. Foi um homem
de fé e sempre muito generoso com os menos favorecidos. Gostava
muito de fazer caminhadas, sempre com um trajeto que passava pela
Praça do Cruzeiro, local que ele gostava muito.
Foi em uma de suas caminhadas, que sofreu um infarto agudo vindo
a falecer, justamente na entrada da Praça do Cruzeiro. Era o dia 1 o de
abril de 1986, provocando muita comoção nos familiares e amigos.
Foi sepultado no mesmo dia, no cemitério do Bonfim.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 045, Jun. 2016
380 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
381
Marinho Dias Barbosa
Quando somos bons para os outros, somos ainda melhores para nós mesmos.
Benjamin Franklin
Marinho Dias Barbosa, tinha vários
apelidos: Marinho Barbeiro,
Marinho Retratista, Marinho do
Taxi e Sô Marinho.
Nasceu em 18 de junho de 1924
e falecido em 18 de fevereiro de
2006, natural de Carmo do Cajuru,
filho de Guilherme Dias Barbosa
e Aurora Maria de Jesus.
Veio de uma família simples com
seis irmãos: Osmário, Margarida,
Conceição (Heiquinha), Helena
e Esperança.
Casou-se com Rute Marra Barbosa
com quem teve 10 filhos:
Maria do Carmo, Maria da Glória,
José Francisco, Maria da
Conceição, Antônio Donizete,
O jovem Marinho Dias Barbosa
Maria Aparecida, Guilherme
Dias, Dimas Marinho Dias (falecido), Maria de Fátima e José Alexandre.
Em 2013, haviam 22 netos e oito bisnetos.
Sua primeira profissão foi ajudar seu pai como ferreiro. Na mesma
época foi também coroinha do padre Augusto Cerdeira. Seu grau de
estudo era apenas o segundo ano de primário, mas toda vida teve
uma boa interpretação.
382 Célio Antônio Cordeiro
Marinho, sua esposa Rute, familiares e amigos em um encontro festivo
Aos 18 anos alistou-se no Exército e foi convocado, por sorte ao
chegar em Belo Horizonte para o treinamento, terminou a Segunda
Guerra. E com isto foi dispensado.
Mais tarde pedreiro, carpinteiro, músico e regente da banda de música
Santa Cecília de Carmo do Cajuru, que teve como seus maiores
parceiros: Vicente Dias Barbosa (Dinho do Messias, Ladico (do bar),
Dedé, Galdino, Boró e Bené, entre tantos. Juntos, ajudaram a abrilhantar
festas, procissões e celebrações da Semana Santa, na companhia
do saudoso padre João, de quem era muito amigo.
No anonimato, colaborou muito com a paróquia Nossa Senhora do
Carmo. Durante várias décadas, foi responsável por dar corda e acertar
o relógio da Matriz e, em vésperas da Semana Santa, buscava
todas as tochas que seriam utilizadas nas procissões, para limpeza,
reparo e polimento, trabalho que dividia com a família inteira.
Foi delegado por pouco tempo, barbeiro por mais de 30 anos. O Foto
Marinho, que até hoje leva seu nome, foi responsável por registrar,
documentar e inspirar muitas recordações ao povo de Carmo do Cajuru
e regiões vizinhas. Nele, ainda se encontra o tradicional “banquinho
verde”. O mesmo banquinho. O seu laboratório fotográfico foi
doado por sua família ao Museu Histórico Municipal.
NOSSA GENTE
383
Taxista, não media hora, nem esforço para levar doentes em hospitais
a qualquer hora do dia ou até nas viradas de noites. Vale lembrar
que naquela época não tinha ambulâncias e nem encaminhamento
da Clínica, pois ela ainda não existia.
Levava os doentes e esperava pela internação e só depois de ver encaminhados
procedimentos é que retornava, ainda que demorasse
algumas horas.
Marinho, sua esposa Rute e os filhos, celebrando os 54 anos de casados
Foi vereador na mesma época que Wilson Mano da Silva foi prefeito
(1973- 1977). Como comerciante, teve um bar e mantinha um espaço
para colocar estampas de santos em molduras. Naquela época, toda
casa católica tinha, pelo menos, um quadro de santo. Tempos depois,
teve também uma loja com o nome de Bazar Vitória, que administrou
por quase 20 anos.
Sô Marinho, homem público, exemplo para seus filhos, que além de
honesto, muito batalhador, era também muito carismático. Alguns
de seus filhos herdaram sua profissão como Donizete (barbeiro), Guilherme
(fotógrafo). Ambos em Carmo do Cajuru. Sua filha Aparecida
e seu neto Mateus, são fotógrafos residentes em Divinópolis.
384 Célio Antônio Cordeiro
Perdeu sua esposa dois anos
antes de falecer, em 18 de março
2004, vítima de infarto, em
sua própria residência. Tinha 81
anos, estava lúcido, ainda com
muita vontade de viver, mas, ao
mesmo tempo, na esperança de
reencontrar sua companheira,
“minha Rute”, como se referia à
esposa com a qual viveu 54 anos.
Unidos, trabalharam e criaram
seus filhos, que sempre tiveram
muito orgulho dos pais. Muitos
que passavam pela rua Tiradentes
(hoje, prédio da Casa Gontijo),
lembram-se dos dois juntos,
debruçados no murinho do
alpendre, observando o movimento
e cumprimentando aqueles
que ali passavam.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 007, Abr. 2013
NOSSA GENTE
385
Mário Domingos
Milhares de pessoas cultivam a música; poucas, porém, têm a revelação dessa grande arte.
Beethoven
Maestro Mário Domingos, carinhosamente
chamado de Tio
Mário, foi uma Ilustre figura das
cidades de Carmo do Cajuru e de
Bom Despacho. Nascido em 05
de março de 1934, cajuruense,
ele viveu sua infância com familiares,
sempre cercado por muitos
amigos. Era uma pessoa simples,
que tinha como principal
objetivo levar o conhecimento
da música e da cultura a todos,
com muito carinho e dedicação.
Caçula dos sete filhos de Domingos
do Rosário e dona Maria
Rosa Moreira, Mário foi casado
durante 59 anos com Josefina
dos Santos Domingos (Dona
O maestro Mário Domingos
Nonoca, falecida em 5 de dezembro
de 2013). Juntos, tiveram
seis filhos, sete netos e um bisneto. Foi um brilhante jogador de
futebol nas principais equipes da cidade: o Tupy Futebol Clube e o
Sport Club Cajuru.
A musicalidade já nasceu com Mário. Ainda criança, deu os seus primeiros
passos musicais ao ser presenteado com um pandeiro.
386 Célio Antônio Cordeiro
Desde então não parou mais: foram diversos reinados, horas dançantes,
bailes, onde quer que tivesse música... Mário sempre estava
presente. Pandeiro, violão, trombone... Não havia instrumento que
o intimidasse.
Sua história com as partituras iniciou quando foi incorporar-se na
Banda de Música do 7º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais,
em 1965, com apoio e incentivo de seu conterrâneo Dr. Genésio Rabelo,
na época, médico do 7º Batalhão.
Na Polícia Militar, seguiu carreira como músico, completando assim
o seu sonho: ser um músico completo e fazer vários amigos. Mário
ainda se reformou como 2º Sargento, porém não se aposentou.
Com a ajuda de alguns amigos
- amantes da música - e apoio
da prefeitura, de vereadores, do
comércio local e da comunidade
de Bom Despacho, deu o chute
inicial para a criação da “Corporação
Musical N. Sra. do Bom
Despacho”, em 24/04/de 1991.
Tio Mário Domingos, capitão-mor INSR
NOSSA GENTE
387
Em Cajuru, foi um dos maiores
batalhadores em prol do Reinado
da Irmandade de Nossa Senhora
do Rosário. Na referida
irmandade, desempenhava com
muito amor e galhardia o cargo
de Capitão-Mor. No seu comovente
velório, repleto de parentes
amigos e autoridades, foram
executadas por Bandas de Músicas,
várias músicas que sempre
marcaram sua vida. Tio Mário,
foi um grande exemplo de bondade,
simplicidade e de amor ao
que gostava de fazer.
Até 2014, o maestro Mário Domingos lecionava e ajudava crianças,
jovens e adultos a descobrirem esse dom de Deus, o dom da música,
para compartilhar com as pessoas. Por ele, passaram vários alunos
e com ajuda de seus ensinamentos, hoje, já se tornaram admiráveis
músicos e incontestáveis maestros.
O maestro Mário Domingos
No dia 24 de maio de 2014, depois de estar com a saúde debilitada,
Mário veio a falecer. Sua morte abriu uma grande lacuna no meio cultural
da região.
Seu trabalho voluntário, sua vontade de ajudar em tudo foram marcas
muito presentes na vida desta notável figura. Assim, a gratificação
e a realização maior do Maestro, que era de difundir e compartilhar
esse dom que Deus lhe deu, foram cumpridas.
Após a missa de sétimo dia, Marisa, sua filha, passou aos familiares
e amigos da Congada, o seguinte recado deixado pelo “Tio Mário”:
“Sejam todos firmes na fé. Permaneçam unidos no amor e um
sempre querendo o bem do outro. Sejam honestos no que fazem
e corajosos para fazerem o certo, o bem. Permaneçam na
proteção de Nossa Senhora do Rosário e na graça e bênçãos de
Deus”.
388 Célio Antônio Cordeiro
Também se registra aqui, a bela
oração escrita por Tio Mário:
— Senhor Jesus, quero
a felicidade que me
ofereceis e aceitar Vossa
oferta. Tomai conta
de mim, transformai
minha vida para que eu
me entregue totalmente
à vontade do Pai.
Livrai-me do egoísmo
e de ilusões. Dai-me o
olhar novo da fé para
que possa perceber
essa verdade. Derramai
em meu coração a caridade,
essa capacidade
divina de amar que me
arraste para Vós e para
meus irmãos de caminhada.
Amém.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 021, Jun. 2014
NOSSA GENTE
389
Maurício Meireles *
Nada sou e nada tenho, mas é pela simplicidade do meu nada que te ofereço tudo.
Autoria Desconhecida
Maurício Meireles
Mauricio Meireles nasceu em
22 de setembro de 1945, em
Paracatu, filho de Gustavo Cândido
Meireles e dona Otília Guimarães
Meireles. Era o quinto
dos sete irmãos: Cecy, Ivone,
Wolney, Elba, Mauricio, Aluísio,
Aparecida e José Eustáquio.
Passou boa parte de sua infância
no Largo do Santana, bairro humilde
da cidade natal. Sempre
trabalhou desde cedo, vendendo
frutas na feira e engraxando
sapatos na rodoviária do município,
além de trabalho braçal
na Prefeitura de Paracatu, o que
lhe deu condição, aos 19 anos,
de concluir o primeiro grau na
Escola Agrícola de Brasília (Planaltina),
em 1964.
Mudou-se para Belo Horizonte com o intuito de terminar seus estudos
e melhorar de vida. Enquanto estudava, trabalhou como recepcionista
na pousada em que morava e assim pagava sua estadia.
* O colunista agradece a gentileza do testemunho de Gustavo Abib Meireles, filho de Mauricio
Meireles, na elaboração desta crônica.
390 Célio Antônio Cordeiro
Em 18 de dezembro de 1964, ingressou na Assembleia Legislativa do
Estado de Minas Gerais, no cargo de Telefonista Noturno, onde seguiu
carreira e trabalhou até sua aposentadoria. Na capital mineira,
concluiu o segundo grau como Técnico em Contabilidade, pela Escola
Técnica de Comércio Inconfidência, no ano de 1969 .
Apreciador da boa culinária e ótimo cozinheiro, gostava de se gabar
de suas habilidades. Boêmio declarado e “seresteiro”, desde a adolescência,
começou a tocar clarinete e violão. Organizou serestas de
Paracatu a Carmo do Cajuru.
Maurício e sua futrura esposa, na cerimônia de casamento realizada pelo padre João Vilaça
Seus principais ensinamentos foram o que ele aprendeu com o pai,
Gustavo, que lhe escreveu numa carta: “Quando a situação apertar,
tenha confiança em si mesmo. Um homem deve sempre assumir suas
responsabilidades e compromissos”.
Sempre falava uma frase de autoria desconhecida que leu e gostou:
— “Nada sou e nada tenho, mas é pela simplicidade do meu nada que
te ofereço tudo”. Essa frase descreve bem o que foi vida dele.
Maurício Meireles foi um dos grandes colaboradores do futebol amador,
especialmente do Sport Club Cajuru, onde fez parte da diretoria.
Com grande sabedoria e habilidade, conseguiu proporcionar alegrias
e principalmente divulgar positivamente Carmo do Cajuru.
NOSSA GENTE
391
Conseguiu trazer aqui jogadores consagrados em nível estadual, nacional
e até ex-jogador campeão do mundo: o famoso Wilson Piazza,
Laci, Buglê, Eberval, Vanderlei, Amauri, Mussula, entre outros. Sabia
organizar, com muita dedicação, as festas e comemorações esportivas
em nossa cidade. Teve participação brilhante na organização da
festa de comemoração aos 50 anos do Sport. Tinha uma facilidade
incrível na parte de locução e dono de uma oratória atraente.
Maurício e esposa ao lado de familiares, em confraternização
Deixou um mistério para a família, segundo seu filho Gustavo Abib
Bechelaine. Era devoto de Santo Expedito e todo ano mandava pintar
a capela e, quando estragava, mandava reformar. Sempre fazia
isso por causa de uma promessa, que ele nunca revelou a ninguém.
“E lembro exatamente sua última frase comigo no telefone. Estava
a caminho de Belo Horizonte para o aniversário de uma
grande amiga, liguei para ele preocupado com o almoço do seu
neto João e do meu cunhado Pedro, ele disse: — Vai tranquilo
meu filho, estou no bar do Neri tomando minha pinguinha e já
vou para casa. Vai tranquilo que eu cuido de tudo — E cuidou,
cuidou de mim e de toda família até seu último dia. Viveu da maneira
que quis, deitou e morreu, do jeito que desejava, dormindo
igual um passarinho — revelou Gustavo.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 050, Nov. 2016
392 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
393
Messias Dias Barbosa Neto
Dilatai a fraternidade cristã, e chegareis das afeições individuais
às solidariedades coletivas, da família à nação, da nação à humanidade..
Ruy Barbosa
Messias Dias Barbosa Neto
Messias Dias Barbosa Neto
nasceu em 27/07/1956, filho de
Vicente Dias Barbosa e Haidée
Dias Duarte. Casou-se com uma
pessoa de coração generoso, a
senhora Evane da Silva Barbosa
Mano, aos 20 de novembro de
1987. Um casal que teve uma
bela convivência. Tiveram três
filhos criando-os com muita rigidez
e educação. Por tal razão,
hoje são pessoas estimáveis; Tamires,
atualmente exerce a advocacia,
João Paulo, educador
físico sócio da Academia Supremo
e Miguel, um adolescente
muito ativo e inteligente.
Nasceu em Carmo do Cajuru e começou a trabalhar muito cedo. Ajudava
seu pai no Cartório de Notas, desde os 12 anos; era excelente
datilógrafo. Aos 16 anos, mudou-se para São Paulo para dedicar-se
aos estudos. Lá cursou a faculdade de Direito e passou em vários
concursos do estado de São Paulo, tendo optado por entrar na Polícia
Civil, onde se aposentou como Delegado de Polícia.
* O colunista agradece a gentileza do testemunho da doutora Tamires, filha de Messias, na
elaboração desta crônica.
394 Célio Antônio Cordeiro
Messias com o caçula e a mãe Haidée Dias Duarte
Ao voltar para Carmo do Cajuru, trabalhou também no setor moveleiro,
fundando a Dinho´s Móveis. Também exerceu cargos políticos
municipais como vice-prefeito e vereador.
A esposa Evane e Messias
Tinha uma voz grossa imponente
e o dom da oratória. Conversava
muito bem e com todo tipo
de pessoa. Era dono de conselhos
admiráveis e tinha ideias
emblemáticas. Era uma pessoa
bastante inteligente. Gostava de
uma camisa gola polo e de um
sapato social engraxado.
Não se importava com ouro ou grife, preferia que a esposa costurasse
a seu modo. Andava com seus óculos pendurados por um barbante
preto para não perdê-los. Gostava de ir p’ro rancho, na barragem,
descansar e pescar até altas horas. Das pescarias às histórias contadas,
sentava num barco de alumínio olhando aquela imensidão de
água ou da varanda apreciando o fim de tarde.
NOSSA GENTE
395
Em memória e homenagem ao pai, assim escreveu Tamires:
“Tiveste uma existência luminosa
e breve como um sopro,
falecendo no dia 1 o de dezembro
de 2012, aos 56 anos de
idade. A doçura que expandia
dos seus lábios o fez estimado
por todos que o conheceram.
Jamais será esquecido, pois
tinha um coração nobre e caridoso.
Fez parte do Terço dos
Homens e difundia a palavra
de Deus por onde passava.
Deixou no coração da família
e amigos uma lembrança viva
que jamais se extinguirá. Seu
nome permanece como uma
bela herança”.
De fato, Messias, desde seus tempos de criança, sempre se mostrara
uma pessoa ponderada e solidária. Tinha uma facilidade incrível para
escrever e para falar em público. Dotado de excelente voz, tanto para
a parte da oratória quanto para cantar.
Recorda-se bem de vê-lo cantando a Ave Maria, em dois casamentos:
no de sua irmã e no seu próprio. Foram momentos que encantaram
muito as pessoas que ali estavam. Gostava muito de cantar também
em roda de conversas com amigos. Messias foi uma pessoa do bem e
sempre batalhou com muita dignidade por seus ideais.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 072, Set. 2018
396 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
397
Nagib Mileib
No mundo não tem boa sorte, senão quem teve por boa a que tem.
Luís de Camões
Esta crônica é dedicada a uma figura
ilustre de Carmo do Cajuru,
que muito contribuiu para seu
crescimento e desenvolvimento
através de seus inúmeros trabalhos:
Nagib Mileib.
Homem de rara inteligência e de
muita vocação ao trabalho. Nasceu
em Carmo do Cajuru, em 26
de junho de 1909, na comunidade
de Maribondo, filho único do
libanês Salim Mileib e de dona
Maria Alves Moreira e apadrinhado
na igreja Matriz de Nossa
Senhora do Carmo por Antônio
Gontijo e esposa.
Nagib foi alfabetizado pelo professor
Roberto Ferreira Mourão,
Nagib Mileib
carinhosamente chamado de
Mestre Roberto, estudando com ele até completar o antigo curso
primário. Passou então estudar no renomado Colégio Arnaldo, em
Belo Horizonte, em regime de internato, onde cursou os equivalente
aos 1o e 2o graus de hoje. Não chegou a cursar uma faculdade, pois
voltou para Carmo do Cajuru a fim de ajudar a família nos negócios.
Em 1927, retornou a Belo Horizonte para servir ao Exército. Jovem
alegre, extrovertido, gostava muito de festas.
398 Célio Antônio Cordeiro
Como não havia clubes sociais na cidade, ele mesmo organizava os
bailes de Carnaval, em área anexa à sua casa, sempre com o apoio
dos pais.
Nagib Mileib, aos 22 anos, foi um dos pioneiros a levantar a bandeira
da emancipação e criação do município de Carmo do Cajuru, em
1933. Em 1948, também estava atuante no movimento.
O vereador eleito Nagib Mileib (PRP), com vereadores e prefeito, na instalação do município (1949)
Em 11 de outubro de 1939, casou-se com a professora Margarida de
Oliveira, de cuja união nasceram os filhos Neile, Nagib Jr, Salim, Maria
Ângela e Ricardo.
Foi eleito vereador da primeira Câmara Municipal pelo PRP, em 1949
e, posteriormente, reeleito por mais dois mandatos. Exerceu a vereança
de maneira brilhante e de forma voluntária, sem remuneração,
como era naquele tempo.
NOSSA GENTE
399
Ele foi um dos maiores empresários da época na cidade, gerando
muitos empregos. Fazendeiro bem-sucedido, sempre se preocupava
muito com os moradores da zona rural, sempre procurando encaminhar
as demandas. Foi proprietário da fábrica de manteiga “São
Luiz”, que produzia as marcas “Neile” e “Realeza”. Tinha também
uma fábrica de banha, além da bonita loja de tecidos e armarinhos,
na rua Tiradentes, com o nome de “Casa Síria”.
Na década de 1960, ajudou na criação da Cooperativa dos Produtores
Rurais, onde foi presidente, diretor e secretário, também atuando
de forma voluntária.
Nagib era um grande amante de literatura brasileira e portuguesa.
Declamava versos de “Os Lusíadas”, de Camões, entre os amigos e
em família, sempre com o sotaque português.
Amava muito as atividades esportivas. Ajudou a fundar e jogou durante
algum tempo no Sporte Clube Cajuru e fez parte da sua primeira
diretoria, sendo o orador oficial. Era sócio de carteirinha do clube. No
cinquentenário do Sport, realizado no Estádio Batista Leite, esteve
presente durante a celebração da Missa e recebeu uma homenagem
antes do jogo, em 27 de setembro de 1971, como um dos grandes
beneméritos do Sport.
Nagib e dona Margarida, com familiares e amigos em momento social
400 Célio Antônio Cordeiro
Nagib Mileib sempre valorizou
o patriotismo e espírito cívico.
Não abria mão do direito de votar
e, em 1989, mesmo com a
saúde frágil, em consequência
de AVC, foi às urnas. Residia em
Divinópolis com a família, mas
mantinha o título de eleitor do
distrito de São José de Salgados.
Ao entardecer de 16 de outubro
de 1990, na sua residência, com
saúde bem debilitada, veio a falecer,
serenamente, ao lado de
sua esposa, filhas, genros, nora
e netos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 032, Maio 2015
NOSSA GENTE
401
Nagm Bechelaine *
No mundo não tem boa sorte, senão quem teve por boa a que tem.
Luís de Camões
Este cronista e seus irmãos celebram
uma data familiar. Aos
19 de junho de 1914, nascia em
Pará de Minas aquele que seria
nosso pai. Era o primeiro filho
de Maria José Mendonça de
Oliveira e do imigrante libanês
Moussa Tanius Bcheleny. O recém-nascido
recebeu o nome
de Nagm (pronuncia-se Nêjme)
que significa “estrela” ou “luz”,
na língua árabe.
O menino viveu poucos anos na
terra natal, pois a família mudou-se
para Itaúna. Lá freqüentou
o curso primário, no Grupo
Escolar que ficava onde hoje é o
prédio da Prefeitura Municipal,
O integralista Nagm Bechelaine
atrás da Matriz de Sant’Ana. Mas
cursou apenas três anos, pois
começou a trabalhar para ajudar em casa. Os tempos eram difíceis.
Iniciou como jornaleiro. Talvez daí se tenha despertado seu gosto
pela leitura, pela política e pelo cinema, onde vendia jornais, à noite.
Aprendeu também, com o tio Porfírio Mendonça, o ofício de padeiro.
Começou como empregado.
* O colunista agradece a gentileza do padre José Raimundo Batista Bechelaine em ceder
a crônica “Centenário em Família”, que homenageia Nagm Bechelaine.
402 Célio Antônio Cordeiro
Depois estabeleceu-se por conta própria, abriu a Padaria São José, que
o acompanhou, quando residiu em Divinópolis, em Carmo do Cajuru,
em Itaúna.
Um dos seus deliciosos pães, uma especialidade sua, inspirou um poema
de Maria Lúcia Mendes, escritora itaunense. Altivo Fernandes e
Cia., tradicional firma de Divinópolis, eram os fornecedores de matéria
prima. Naquela época, era-se simplesmente padeiro, comerciante,
fazendeiro, alfaiate, seleiro, sapateiro. Não se usava a palavra mágica:
empresário. São José era o santo da sua devoção.
Moussa (Moisés) Bechelaine mudou-se, com a família, para o então
distrito de Cajuru de Itaúna. Aqui e em Divinópolis, Nagm passaria a
juventude. Os Mileib constituíam uma numerosa família. Nagib Mileib
era um bem sucedido fazendeiro, comerciante e industrial, que fazia
também militância política. Era fervoroso adepto do integralismo,
doutrina política criada pelo escritor Plínio Salgado. As duas famílias
se aproximaram.
A jovem Jamile Bechelaine passou a trabalhar na loja do Nagib Mileib
Através dele, Nagm e a irmã Jamile ingressaram nas fileiras integralistas.
Vestiam a famosa camisa verde com o sigma simbólico, desfilavam
e discursavam, cantavam os hinos do movimento. Nunca esqueceu
os acontecimentos da Segunda Guerra e da ditadura de Getúlio
Vargas, que a sua geração vivenciou intensamente.
A professora Maria Batista de Sousa Leite e Nagm Bechelaine, ao lado filho José Raimundo
NOSSA GENTE
403
Em 8 de dezembro de 1945, ainda em Cajuru, Nagm Antônio casou-
-se com a professora Maria Batista de Sousa Leite. Em 47, nasceu o
primogênito. Dois anos depois, José Luís, o segundo filho.
Em dezembro de 1950, retornou a Itaúna, agora casado. Foram residir
num antigo casarão, na Rua Direita, hoje Avenida Getúlio Vargas.
Ali nasceriam os dois filhos mais novos, José Dimas e Maria José.
Prosperava na padaria e no comércio.
Aos domingos, costumava levar os meninos à missa das 9 horas e
depois à matinê, no Cine Rex. Gostava de filmes do gênero faroeste.
Visitava sempre os tios Mendonça: Vicente, João, Alzira, José e Isabel,
irmãos de sua mãe, que lá continuavam residindo. Em política,
continuava acreditando em Plínio Salgado.
Em 1956, um acidente quase lhe
tirou a vida e afetou-lhe parcialmente
o raciocínio e a memória.
Contra a sua vontade, pois
era um homem do trabalho,
teve que encerrar os negócios
e aposentar-se, alguns anos depois.
Todavia ainda viveria muito
tempo. Era bom leitor de livros,
revistas e jornais. Manteve-se
fiel assinante e leitor de “A Marcha”,
órgão da Ação Integralista
Brasileira. Não ouvia rádio nem
se interessou pela televisão.
Faleceu em Itaúna, em 2006, com 92 anos de idade. Foi sepultado
em Salgados, no túmulo da esposa. Seus filhos não o esquecem e comemoram
os cem anos do seu nascimento (José Raimundo Batista
Bechelaine).
JORNAL BOCA DA MATA, n. 022, Jul. 2014
404 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
405
Oswaldo Cândido de Almeida
A vida é uma verdadeira inspiração para aqueles que sabem
aproveitar as coisas simples de cada dia.
Sêneca
Oswaldo Cândido de Almeida,
muitas vezes lembrado como
Sô Oswaldo da Estação, filho de
José Cândido de Almeida e dona
Olentina Maria de Almeida, nasceu
a 22 de dezembro de 1925
em Azurita, distrito de Mateus
Leme.
Casado por 46 anos com dona
Maria Gonçalves de Almeida,
tiveram 9 filhos: Sebastião, Selma,
Sérgio, Osvaldo, Maria Silvânia,
Sílvio, Sirley Aparecida,
Sirlene Geralda e Antônio José.
Foi funcionário da Rede Ferroviária
Federal (RFFSA) por 39
anos. Como Agente de Estação,
Sô Oswaldo da Estação
trabalhou em diversas localidades
da região: Itaúna, Angicos, Folha Larga (município de Oliveira)
e Divinópolis. Em 1958, foi transferido para Carmo do Cajuru, onde
trabalhou até sua aposentadoria em 1987. Tratado carinhosamente
pelo apelido de Dico, por sua esposa, era conhecido em Carmo Cajuru
pela alcunha de “Oswaldo Conferente” ou “Oswaldo da Estação”.
Por onde passava fazia amigos.
* O colunista agradece a gentileza de Sílvio Gonçalves de Almeida na elaboração desta
crônica sobre seu pai, senhor Oswaldo Cândido de Almeida.
406 Célio Antônio Cordeiro
Destaca-se sua amizade com os senhores Joaquim “Querosene”, Tito
“Bananeira”, Anair, Abílio, r Carlos Guimarães e outros companheiros
de pescaria, sua diversão favorita. Sempre, em suas folgas, pegava
suas tralhas de pescador e ia para o rio Pará, ou para a Barragem,
“buscar” seus peixes.
Sô Oswaldo e os amigos de pescarias
Como pai de família, procurou educar seus filhos de forma carinhosa.
Ensinava a todos os filhos o respeito aos pais e às outras pessoas.
Tinha nos valores éticos, morais e religiosos, os fundamentos em sua
vida familiar e em sociedade.
Como profissional, atuou com responsabilidade e companheirismo
na rede ferroviária, sendo considerado por amigos e colegas de trabalho
um profissional responsável e referência para os colegas mais
novos. Sempre que procurado, tinha palavras de apoio e conforto aos
colegas.
Na vida religiosa, sempre atuou com dedicação à missão evangelizadora.
Nutria grande afeto pelo saudoso padre João Parreiras, e
dedicava-se a ajuda-lo em suas necessidades pastorais. Atuou como
ministro da Eucaristia, ministro da palavra e ministro das exéquias.
NOSSA GENTE
407
Trecho de uma oração católica popular, transcrita pelo senhor Oswaldo, como um lema de vida
Contudo, o que Sô Oswaldo mais gostava era do trabalho de missionário
da Semana Santa. Todos os anos saia em missão para “pregar”
a Semana Maior em comunidades rurais, coisa que fazia com carinho
e dedicação.
Senhor Oswaldo faleceu em 26 de agosto de 1997 deixando a seus
filhos e amigos*, um legado de dedicação à família, à comunidade e,
principalmente a Deus.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 059, Ago. 2017
* Sô Oswaldo, foi sempre exemplo de uma pessoa de fé e de muito desapego das coisas
materiais. Eu me considero um privilegiado por ter sido um grande amigo dele e de sua
querida família.
Lembro-me muito dos tempos de jovem, quando a televisão em Cajuru existia em
número muito reduzido. Eu ia até a casa dele assistir jogos de futebol e ficava encantado
com o acolhimento dele e de seus familiares à tanta gente. Às vezes, quando chegava em
sua casa, notava que a sala já se encontrava cheia; mas, antes de falar qualquer coisa, ele
dizia: — “A sala não é grande, mas há sempre lugar pra mais um” — E seu semblante era
alegre e acolhedor...
408 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
409
Oswaldo Diomar
A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado,
exemplo do presente, advertência do futuro.
Miguel de Cervantes
Nesta breve crônica, apresenta-
-se um pouco da bela trajetória
desse grande cajuruense, reverenciado
pelo muito que fez para
Carmo do Cajuru e o aprimoramento
da sociedade cajuruense.
Oswaldo Diomar, sem a menor
dúvida, é o maior historiador da
região, dedicando, voluntariamente,
boa parte de sua vida a
pesquisas e estudos sobre Carmo
do Cajuru, dos quais resultaram
extraordinárias obras de
história.
No início de um de seus livros, o
pesquisador Guaraci de Castro,
afirma: “Owaldo Diomar é um
O jovem Oswaldo Diomar
dos filhos mais ilustres de Carmo
do Cajuru. Merece estar na galeria dos grandes benfeitores e beneméritos
de sua Comunidade”.
Oswaldo Diomar nasceu na fazenda Tuviva, no município, em 15 de
março de 1935. Filho de Diomar Francisco e Geralda Nogueira da
Conceição, sendo neto paterno de Francisco Vicente da Cunha e Ana
Maria de Jesus. Do lado materno, Miguel Nogueira Filho e Ascendina
Maria da Conceição.
410 Célio Antônio Cordeiro
O historiador Oswaldo Diomar divulga seu livro sobre a história de Carmo do Cajuru
Casou-se no dia 16 de julho de 1970, na matriz Nossa Senhora do
Carmo, com Dalva Maria da Silva, com quem teve seis filhos: Helder,
Emerson (Gu), Wander, Marlon, Raquel e Henrique.
Era formado em Letras (Portugues – Inglês) pela UFMG e fez curso
de Francês na Aliança Francesa de Belo Horizonte, onde estudou até
o 5º ano. Estudou Latim no antigo Ginásio e Espanhol no curso Clássico.
Começou sua carreira profissional no magistério, lecionando
em várias escolas de Belo Horizonte em 1966, depois de ter exercido
diversas outras profissões.
Em 1973, voltou para sua terra natal, onde lecionou Português, Inglês
e Francês, na Escola Estadual Pe. João Parreiras Villaça, da qual foi vice-diretor
e diretor por algum tempo. O professor Oswaldo lecionou
também na antiga Escola Polivalente de Oliveira, Itaúna e Divinópolis.
Aposentou-se em dois cargos de 2º Grau pelo Estado.
Na política municipal, foi vereador de 2001 a 2004. Apesar de ter
exercido o Magistério por vocação, sua maior paixão foi pesquisar e
escrever, atividade que foi despertada desde seus tempos de infância.
Fez centenas de pesquisas sobre a história de Carmo do Cajuru
e região, em várias cidades, com muito empenho e muito sacrifício
para chegar a escrever suas grandes obras com recursos próprios.
NOSSA GENTE
411
A máquina de escrever utilizada por Oswaldo Diomar para redigir os originais das suas obras
Dentre essas obras, destacamos “História de Carmo do Cajuru”, edições
1 e 2. Publicou também uma obra de grande relevância: “Genealogia
de Carmo do Cajuru”. Escreveu dezenas de artigos publicados
em jornais locais, sobre a História Municipal. Posteriormente ainda
foram publicadas mais algumas importantes obras, como: “A Escravidão
Negra em Carmo do Cajuru”, “Panela sem Tampa” e “Poemas
Inacabados”.
O casal Dalva Maria e Oswaldo Diomar
Foi uma pessoa que se preocupava
muito com os menos favorecidos,
por isso era vicentino
de longa data e foi rotário por
algum tempo. Foi membro e fez
parte de diretorias de dezenas
de entidades filantrópicas em
Carmo do Cajuru e em outras cidades
da região.
412 Célio Antônio Cordeiro
Membro da Academia Divinopolitana
de Letras (ADL) de 2009
até a sua morte. Ao longo dos
anos de vida, recebeu inúmeras
homenagens em reconhecimento
pelos grandes feitos educacionais
e culturais dedicados ao
município e ao povo local.
Em 19 de julho de 2015, vítima
de um infarto agudo, Oswaldo
Diomar partiu para a vida eterna,
deixando muitas saudades
aos familiares e amigos, e um
legado importante para “nossa
gente” que, em suas obras pode
observar as suas raízes e valorizar
os vultos do passado.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 098, Nov. 2020
NOSSA GENTE
413
Rafael Gomes Avelar
A felicidade não está em viver, mas em saber viver.
Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive.
Mahatma Gandhi
Rafael Gomes Avelar nasceu em
Carmo do Cajuru, em 14 de março
de 1934. No dia 2 de março
de 1957, em uma celebração realizada
na Igreja Matriz de Nossa
Senhora do Carmo casou-se
com Maria Lúcia de Sá. O casal
teve três filhos: Geraldo Lúcio,
Isa Lúcia e Rafael.
Na vida escolar, Rafael do Lete,
assim conhecido popularmente,
fez os seus primeiros estudos no
Grupo Escolar Princesa Isabel e,
posteriormente, no conceituado
Colégio São Geraldo de Divinópolis.
Já na vida profissional, foi
alfaiate, oficial de justiça, Comissário
do Menor, trabalhou na
Rafael do Lete
Escola Pe. João Parreiras Villaça
e exerceu também a função de mestre de obras, dirigindo com muita
competência a obra da construção do memorial do Pe João Parreiras
Villaça, na Praça do Cruzeiro.
Ainda muito jovem, começou a se destacar como um grande atleta e
brilhou como um dos maiores goleiros de nossa região. Defendeu a
camisa do glorioso Tupy Futebol Clube durante vários anos.
414 Célio Antônio Cordeiro
O famoso goleito do Tupy, Rafael do Lete
Rafael tinha também o seu lado artístico. Atuou no teatro amador e
era amante da boa música, fazendo parte do grupo de seresta. Gostava
muito do Carnaval, no qual foi o Rei Momo por diversas vezes.
Rafael e dona Maria Lúcia, em noite festiva
NOSSA GENTE
415
Rafael com esposa Maria Lúcia, filhos e netos
Cristão fervoroso e atuante, juntamente com o grande amigo José
Dias Barbosa, se tornaram os primeiros cursilhistas da cidade. Durante
vários anos, trabalhou muito em prol da igreja em diversos setores.
Foi ministro da Palavra, membro do Conselho Pastoral paroquial,
vicentino e, por muitos anos, um dos grandes líderes de comissões
de festas religiosas celebradas pela Paróquia Nossa Senhora do Carmo.
No Museu, existem dezenas de programas de festas religiosas e
o nome dele sempre aparece em diversas comissões.
Foi um confrade que se dedicava de corpo e alma a serviço dos mais
necessitados na SSVP. Participou ativamente na construção da maior
obra de assistência social de nossa cidade - a Vila Vicentina. Sempre
ao lado de Amintas Rosa e vários outros amigos que abraçaram também
a construção desta grande obra. Foi presidente da Vila Vicentina,
desenvolvendo um grande trabalho em sua gestão.
Uma das últimas causas que ele abraçou com muito entusiasmo e
dedicação, foi à Casa de Recuperação Novo Horizonte, localizada na
comunidade de Ribeiros. O projeto desta obra benemérita, que sempre
abre novos caminhos para jovens e adultos recebeu dele desde o
início apoio e presença constante.
416 Célio Antônio Cordeiro
No dia 4 de janeiro de 2004, Carmo
do Cajuru recebeu com muita
surpresa e tristeza a notícia
de seu falecimento.Foi sepultado
no Cemitério do Bonfim, depois
de comovente velório.
Figura humana das mais estimadas,
Rafael soube fazer muitos
amigos. Pessoa generosa e de
grande espírito altruísta, entregava-se
com muito prazer aos
trabalhos de assistência social e
religiosa.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 033, Jun. 2015
NOSSA GENTE
417
Sebastião Ferreira Vilela
Existe um tempo para ousadia e um tempo para cautela,
e o homem sábio sabe o momento de cada um deles.
Sociedade dos Poetas Mortos
Nesta crônica, destacamos para
homenagear uma pessoa muito
importante para grandeza da
querida Carmo do Cajuru: Sebastião
Ferreira Vilela, mais conhecido
como Tiãozinho Vilela.
Sebastião Ferreira Vilela
Nascido em 22 de maio de 1938,
na comunidade de Ribeirão do
Servo, município de Cláudio, filho
de João Vilela da Fonseca
e Ambrosina Ferreira de Jesus.
Era uma família numerosa com
mais nove irmãos: Maria Vilela
(Preta), João Vilela, Vitalina Vilela,
Ana Vilela, Maria Jose (Doca),
Otávio Vilela, Luiz Vilela, Silvino
Vilela e Jose Vilela (falecido aos
13 anos).
Agricultor nos tempos de criança, mudou-se para Carmo do Cajuru,
juntamente com sua família. Quando jovem, serviu ao Exército
Brasileiro na cidade de Itajubá no ano de 1960. Quando retornou em
1961, abriu uma marcenaria na praça Presidente Vargas (da Estação).
Naquela época, chegou a fabricar caixões para pessoas carentes. Mudou
de profissão e tornou-se um dos primeiros serralheiros de nossa
cidade, profissão que exerceu até os anos 1990. Nessa profissão,
conseguiu formar vários serralheiros, hoje muito atuantes na cidade.
418 Célio Antônio Cordeiro
Ainda nos tempos de juventude, fez parte da Congregação Mariana,
confrade vicentino da Conferência São Luiz Gonzaga e fez parte do
Movimento de Cursilho de Cristandade da Diocese. Conforme registro
em programas de festejos religiosos, sempre era convidado pelo
padre João a integrar nas comissões de festas, como: festa de São
Cristóvão, barraquinhas das festas da padroeira e Semana Santa.
Em 7 de julho de 1962, casou-se com Alzira Nogueira de Souza (Neca).
O casamento seria em maio, mas teve que ser adiado por causa do
falecimento do senhor João Vilela, seu pai. Desse casamento foram
gerados os filhos: Edson, Edber e Elaine Cristina.
Em 1995, tornou-se empresário da indústria de fabricação de mangueiras
para a construção civil e irrigação. Foi associado da Cooperativa
de Produção. Foi o primeiro produtor rural a acreditar e praticar
a cultura da plantação do arroz em terra seca, o que em tempos passados,
somente ocorria em várzeas.
O agricultor Tiãozinho Vilela
Além de amar muito todos os
trabalhos que desempenhava,
gostava e tinha talento para a
política. No período de 1974 a
1977, foi vereador da Câmara
Municipal, época em que o trabalho
exercido não era remunerado
como nos tempos atuais.
Por duas vezes, foi eleito
vice-prefeito: em 1971, de José
Mateus Filho; em 1978, de João
da Mata Nogueira. Com o afastamento
do prefeito por alguns
meses, assumiu interinamente o
cargo de prefeito. Apesar de ter
sido um curto período, realizou
algumas obras importantes para
a comunidade.
NOSSA GENTE
419
Com a grande enchente em 1979, que derrubou a ponte sobre o ribeirão
do Empanturrado, próximo onde hoje está o Posto Pontilhão,
coube-lhe a construção de uma ponte grande e muito segura, para
suportar o grande volume de água que por ali passa nas cheias.
Construiu também a capela de São Miguel, no centro do Cemitério
Municipal do Bonfim. Em se mandato, teve também um grande zelo
na conservação das estradas rurais, o que facilitou a vida dos produtores
e moradores rurais.
Foi muito próximo de políticos estaduais influentes como Aureliano
Chaves, Levindo Ozanan Coelho e Oscar Dias Correia. Quando
jovem, era uma pessoa muito comunicativa e de fino trato, o que o
fazia cercar-se de grande número de amigos. Gostava muito de jogar
futebol e como amante da música, sabia tocar cavaquinho.
Integrou com os amigos Izidoro Fonte Boa, Dirceu Maia, Antônio
Valeriano e seu irmão Otávio Vilela a comissão que fazia o palco de
madeira, em frente a Igreja Matriz, nos anos 1950 e 1960. O local, que
ficou muito na memória dos mais veteranos, foi onde se iniciou os
quadros vivos da Semana Santa, introduzidos sob a direção da Igreja.
Tiãozinho e Dona Alzira, com o filhos Edber, Elaine Cristina e Edson
420 Célio Antônio Cordeiro
Dona Alzira e Tiãozinho
Na vida social, contribuiu muito com o lazer urbano, depois que construiu
o prédio na praça Presidente Vargas, onde funcionaram o Clube
dos Vinte, do qual foi um dos fundadores, as discotecas e danceterias.
No mesmo prédio, em 25 de janeiro de 1982, foi instalado o Rotary Clube
de Carmo do Cajuru como sede das reuniões mensais e festivas. Ele
foi um dos rotários da época da fundação, entidade muito importante
para Carmo do Cajuru, que desenvolve muitos serviços sociais em prol
do povo.
Em 4 de fevereiro de 2009, em decorrência de uma enfermidade, partiu
para o plano de cima, abrindo uma lacuna de muita saudade nos familiares
e amigos, deixando legados importantes como a honestidade
e a honradez.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 100, Jan. 2021
354 Célio Antônio Cordeiro
Vicente Alves dos Santos
Tudo aquilo que se faz com amor e dedicação, terá com certeza um belíssimo resultado,
porque ali, Você depositou um pedacinho de si mesmo.
Célia Cristina Prado
Provindo de uma família numerosa,
Vicente Alves dos Santos ou Vicente
Carreiro levou sempre uma vida
na simplicidade, na dedicação e no
amor ao trabalho. Era assim que
conseguia sucesso e bons resultados
em tudo que era que se propunha
a desempenhar.
Nasceu em 20 de dezembro de
1942, na fazenda Campo do Meio,
região de Ribeiros, filho de dona
Maria do Carmo dos Santos e José
Carreiro dos Santos. Foi o segundo
filho do casal e teve como irmãos:
Maria Madalena, Glória Maria, Galdino,
João, José Gabriel, Teresinha,
Angelina e Geraldo Donizete.
Viveu no meio rural até aos 12
Vicente Carreiro
anos de idade (1955), quando
veio com os familiares, morar
em Carmo do Cajuru, na antiga casa de Cecília Teodoro, na rua Rui
Barbosa. Na época, passou a conciliar os seus estudos no Grupo Escolar
Princesa Isabel, com os serviços no comércio de seu pai, na rua
José Demétrio Coelho. Ainda na juventude, matriculou-se no Colégio
Dom Bosco, primeira escola com o curso ginasial na cidade.
Na juventude, chegou a trabalhar na Olaria, que pertencia a Pedro
Emídio Faleiro. Posteriormente, passou a trabalhar por conta própria,
em um botequim, ao lado da casa de Rafael Gomes (Lete).
422 Célio Antônio Cordeiro
Vicente Carreiro, o pai e irmãos, no quintal com aves silvestres soltas
Foi nesta época, que conseguiu uma economia e começou a construir
sua casa no bairro Bonfim, com um ponto para comércio. A partir daí,
começou o seu sucesso no ramo. Com muita habilidade e dedicação,
conseguiu angariar um grande número de clientes e amigos e seu comércio
se expandia cada vez mais.
Depois de conhecer a jovem Maria das Graças Barbosa, namoraram
por alguns anos, vindo a se casar em 10 de maio de 1969, na igreja
matriz Nossa Senhora do Carmo, em cerimônia celebrada pelo padre
João Vilaça
Por ter sido celebrado em um horário incomum (6h30), segundo informações
de seus filhos, gostava muito de contar para os amigos
esse fato. Deste relacionamento, tiveram três filhos: Gerson, José
Maria e João Paulo.
Em 22 de fevereiro de 1980, mudou-se para a praça Vigário José Alexandre
e passou para uma nova etapa de sua vida de comerciante,
abrindo uma distribuidora de gás.
NOSSA GENTE
423
Nos anos 1980, possuía também
uma propriedade rural, onde
tinha sua produção de leite. Filiou-se
ao Sindicato Rural e se
tornou associado da Cooperativa
Regional dos Produtores Rurais,
para onde mandava o leite
produzido na roça. Foi um período
de muita batalha, que compensou
muito pelos frutos desse
período.
Começou a investir em compra
de imóveis, telefonia e crédito,
o que o transformou em uma
pessoa bem-sucedida financeiramente.
Sempre amou muito o
trabalho e a vida.
Tinha uma paixão pela criação de pássaros, tanto em sua residência,
quanto na propriedade rural. Gostava muito de colecionar álbuns de
figurinhas. Divertia-se muito com o cinema, vendo os famosos filmes
de faroeste italiano no Cine Carmo, de Candico Guimarães.
Desde bem jovem, começou a frequentar o campo do Tupy Futebol
Clube, onde foi um grande atleta titular por muitos anos, conquistando
títulos pelo alvinegro cajuruense. Teve também uma passagem
pelo Sport Club Cajuru.
Grande homem, que soube ser um bom esposo e um pai exemplar.
Dando bons exemplos de honestidade e dedicação ao trabalho. Uma
pessoa muito carismática, alegre e brincalhona. Sempre bem-humorado
e disposto a ajudar a quem o procurasse.
Em decorrência de uma enfermidade, veio a falecer em 19 de agosto
de 1998, ainda jovem. Deixou muita saudade aos familiares e amigos.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 089, Fev. 2020
424 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
425
Vicente Dias Barbosa
Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.
Aldous Huxley
Carmo do Cajuru, sempre foi uma
terra privilegiada, por ter tido aqui
grandes vultos, que com seus feitos
e belos exemplos deixaram seus
nomes gravados nos anais de nossa
história.
Vicente Dias Barbosa, carinhosamente
chamado por todos, como
“Dinho do Messias”, é um notável
exemplo, que com muito amor e
muita dedicação muito fez em prol
de nossa gente.
Vicente Dias Barbosa
Dinho do Messias, nasceu em Carmo
do Cajuru, em 25 de fevereiro
de 1933, filho do casal Messias Dias
Barbosa e Amélia Augusta Conceição.
Fez os seus primeiros estudos,
no tradicional Grupo Escolar Princesa
Isabel, sempre demonstrado
ser aluno dedicado e inteligente.
Prosseguindo seus estudos, matriculou-se no Colégio São Geraldo de Divinópolis
e posteriormente no Colégio Santana de Itaúna. Na vida profissional,
trabalhou como Agente Estatístico na cidade de Carmópolis de Minas.
Voltando a sua terra natal, trabalhou por um bom tempo como Escrivão
Judicial e Tabelião do Cartório de Notas.
Dinho se destacou muito pelo seu desprendimento e por sua grande vontade
de ajudar aos outros, sempre com trabalhos importantes e voluntários.
426 Célio Antônio Cordeiro
Em 21 de junho de 1955, casou-se com Haidée Dias Duarte, sendo que deste
casal, surgiram três filhos: Messias Neto, Aparecida Áurea e Jordânia.
Como descendentes, seis netos: Fernanda, Humberto, Tamires, João Paulo,
Miguel e Crispim Junior. Tendo também um bisneto, ou seja, o Gabriel.
Foi vereador por duas legislaturas consecutivas, de 1960 a 1963 e de 1964
a 1967, sendo que o trabalho prestado na época era totalmente voluntário.
Foi vicentino e sempre presente em eventos civis, religiosos e esportivos
e outros eventos em que foi por várias vezes, atendendo convites que lhe
eram feitos. Está entre os principais músicos de Carmo do Cajuru. Sabia
executar de forma notável, os instrumentos de sopro, cordas e teclado. Era
possuidor de excelente voz que encantava muito quem a ouvia. Foi amante
também de uma boa seresta.
Dinho do Messias, integrando a histórica Banda Santa Cecília
Teve uma brilhante atuação na Banda Santa Cecília, hoje Associação Musical
Cajuruense, chegando a ser, além de um dos melhores músicos da banda,
sendo também o regente da mesma. Foi um membro atuante e regente
do Coro e Orquestra da Matriz nos principais eventos religiosos.
NOSSA GENTE
427
Quem teve a oportunidade de conviver
com esse notável ser humano,
sempre lembra de seus grandes
serviços, de sua arte e de sua maneira
simples de lidar com o povo,
sem esquecer jamais o seu lado de
grande esposo e de um ótimo pai
de família.
Pelos desígnios de Deus, Dinho se
foi ainda muito jovem, com apenas
37 anos, falecendo em 12 de janeiro,
de 1970.
Seu nome ficará para sempre, na
lembrança não somente de seus
familiares, como também dos amigos
e dos cajuruenses.
Em Carmo do Cajuru, seu nome
está eternizado, na denominação
O casal Haidée e Vicente
do Fórum e de uma das principais
ruas. Foi lembrando também entre
outras homenagens, com a Comenda Caa-yuru (post-mortem), pela Câmara
Municipal de Carmo do Cajuru.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 016, Jan. 2014
428 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
429
Vicente José Pereira
A vida começa com um simples amanhecer, cresce com alegrias
e tristezas e termina com as reflexões sobre a vida.
Celino Rojas
Nascido em Carmo do Cajuru em 22
de novembro de 1949, Vicente José
Pereira, mais conhecido por Vicente
Vieira, foi o quinto filho de José
Pedro Jacinto e Maria Benvinda de
Faria, uma família numerosa composta
de 11 irmãos. Ele tinha uma
vida modesta, mas sempre com
muita dedicação ao trabalho.
Vicente José Pereira
Desde jovem, desenvolveu sua
grande vocação de trabalhar como
açougueiro e gostava muito do trabalho
rural. Foi por muitos anos,
associado da Cooperativa de Produção,
oferecendo frutos do seu
trabalho.
Em 4 de setembro de 1971, casou-se com Terezinha Alves de Souza Pereira.
Dessa união nasceram seus seis filhos: Heráclio, Estácio, Evaristo, Éder,
Efraim e Suzana. Influenciados pela profissão do pai, vários deles seguem
ativos no mesmo ramo. Assim como sua esposa, ele amava muito sua vida,
mesmo quando a vida colocava as dificuldades do dia a dia como prova.
Nas férias, gostava muito de viajar com seus amigos próximos e familiares,
principalmente para as praias do Espírito Santo, suas favoritas.
Vicente foi figura marcante e muito importante em vários setores ligados
ao meio rural e social. Deu importante colaboração ao seu amigo Leonardo
Fonseca Rabelo, na fundação do famoso “Cajuru Rodeio Show”. Nessa
mesma época, em um incansável trabalho de organização e apoio de amigos,
promoveu a primeira cavalgada da cidade, na década de 1980.
430 Célio Antônio Cordeiro
Vicente em confraternização familiar com os pais, a esposa Terezinha e filhos (1994)
Vicente Vieira em roda de amigos, na praia de Piúma/ ES
NOSSA GENTE
431
Vicente Vieira em sua montaria
Foi um grande colaborador nas realizações dos torneios leiteiros e leilões
de gado e membro ativo do Sindicato Rural de Carmo do Cajuru por alguns
anos. Desde os tempos do saudoso padre João, sempre era indicado para
comissões de leilões de gado da Festa de São Sebastião, onde desempenhava
seu papel com enorme dedicação. Além disso, por alguns anos,
atuou como figurante nas apresentações da Semana Santa, mostrando e
colocando em prática seu lado religioso.
Depois de ficar viúvo, passou a conviver com duras provações de doenças.
Em 16 de agosto de 2012, já com a saúde muito fragilizada veio a falecer.
Vicente teve uma vida cheia de desafios, vencidos com dedicação ao trabalho,
simplicidade e resignação.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 051, Dez. 2016
432 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
433
Waldemar Batista Marra *
ANenhum homem tem o dever de ser rico, grande ou sábio;
mas todos têm o dever de serem honrados.
Rudyard
O Mário alfaiate ou Mário Marra,
como era conhecido, na verdade
chamava-se Waldemar Batista
Marra. Era filho de João Marra da
Silva e de dona Clementina Elvira
da Silva (Tinica). Nasceu no Ribeirão,
município de Cláudio. Era irmão
de Maria (Maria do Tavico), de
Teresinha (Teresa do Heli Maia), de
Elvira e de Sebastião (Tão).
Waldemar Marra, ou Mário Alfaiate
O senhor João Marra, seu pai, mudou-se
com a família para Carmo
do Cajuru, na década de 1930. Moravam
em uma casa localizada mais
ou menos onde hoje está a Marfe,
esquina da rua Cônego João Parreiras
com a José Demétrio Coelho.
Em 1939, mudaram-se para São José do Salgado, porque João Marra, que
era carapina, havia sido contratado para colocar o forro na igreja de lá. A
família morava em uma casa cedida pelo senhor. Jusa, fora do povoado.
O Mário já trabalhava, conduzindo bois para fazendeiros, capinando, buscando
lenha no cerrado. Seu pai sofreu um derrame que deixou parte do
seu corpo paralisado, impedindo-o de trabalhar, a partir daí a família viu-se
numa situação severa, já que não havia assistência social governamental,
pelo menos para eles não houve. Seu pai sofreu novo derrame que lhe ceifou
a vida em 1946.
* O colunista agradece a gentileza de Denio Marra na elaboração desta crônica sobre seu
pai, senhor Waldemar Batista Marra, o Mário Alfaiate.
434 Célio Antônio Cordeiro
Em dificuldades, já que sua mãe sofria constantes e agudas crises asmáticas,
a família transferiu-se para Carmo do Cajuru, morando em uma casinha,
que ele dizia ser “casa de S. Vicente”. Referia-se a algumas casinhas
destinadas a famílias carentes que ficavam na atual rua Vicente Dias Barbosa,
para os lados do bairro São Luiz.
Em Cajuru, pelas ruas, Waldemar vendia pães fabricados pelo senhor Antenor,
e também doces e biscoitos feitos por dona Licota. Quase não tinha
tempo para estudar, como ele contava, “fazia o dever de casa pouco antes
do início das aulas”, na Escola Princesa Isabel. Dizia que havia muitos alunos
bagunceiros e por isso a turma ficava de castigo depois das aulas, mas a
professora o liberava por saber que ele tinha que vender pães para comprar
a injeção que sua mãe precisava para aliviar as crises de asma, injeções que
eram vendidas e aplicadas pelo sr. Jehovah Guimarães ou pelo senhor Firmino,
farmacêuticos da época.
Mário Alfaiate, ou Waldemar Marraem sua máquina de costura
Paralelamente, aprendia o ofício de alfaiate com o senhor José Mateus Filho.
Em pouco tempo, novo golpe: sua mãe, que não tinha 40 anos ainda,
após constantes e graves crises de asma, veio a falecer. Aos 17 anos, Mário
havia perdido pai e mãe. Naqueles momentos, ficou patente a ausência do
Estado em assistir famílias e pessoas em dificuldades, mas valeu-lhes a caridade
das pessoas e o apoio da Sociedade São Vicente de Paulo.
NOSSA GENTE
435
Ele trabalhou na loja de Acácio Ferreira;
na construção da barragem;
e morou em Itaúna, onde conheceu
sua esposa Maria Aparecida e se
casaram em 1959. De Itaúna, o jovem
casal mudou-se para Caconde,
no interior de São Paulo. Ali nasceu
o primeiro filho, Telmo, e onde está
sepultado.
De Caconde mudaram-se para Carmo
do Cajuru, onde ele continuava
costurando e fabricando pães. Mas
'Mário' Alfaiate e dona Maria Aparecida
os tempos eram difíceis. Então,
mudaram-se para São José do Salgado onde sua esposa lecionava e ele
continuava costurando, fazendo carvão e tirando leite, em propriedade do
senhor Concesso. O casal já contava 3 filhos, Décio, Dilene, Dênio quando
nasceu o caçula, Demétrio, que está sepultado em São José do Salgado.
Daí a família mudou-se para Paraibuna, interior de São Paulo, onde Waldemar
montou um bar. Esse bar, ele vendeu para o senhor Antenor, que se
transferiu com sua família para Paraibuna.
De Paraibuna, o Mário mudou-se com sua família para Carmo do Cajuru,
onde continuou como alfaiate, comerciante e “mexendo” na roça. Gostava
de ficar por dentro da política e de futebol; dizia que a renúncia do Jânio
Quadros “bagunçou” o Brasil, e apesar da pouca instrução falava que era
um absurdo uma pessoa ser perseguida por causa de política. De todas as
vezes que morou fora de Cajuru sempre era seu intento voltar. Dizia sempre
que Cajuru é a terra boa.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas na infância e juventude, foi
uma pessoa alegre, de vida simples e que gostava da terra onde viveu a
maior parte de sua vida. Faleceu em 28 de junho de 2016, deixando saudades
aos familiares e amigo,que nunca se esquecem dele. Foi um grande
“guerreiro”, que não desanimou diante dos sacrifícios e seguiu em frente
em busca de seus sonhos. Marcou sua passagem e deixou um legado de
perseverança e honestidade exemplares.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 073, Out. 2018
436 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
437
Wanderley Domingos
A grandeza de um homem não está na quantidade de riqueza que ele adquire,
mas em sua integridade e habilidade de afetar positivamente as pessoas ao redor.
Bob Marley
Wanderley Domingos Belém
Wanderley Domingos, filho de Domingo
do Rosário e Maria Rosa Moreira,
nasceu em São João Del Rei.
Ainda na infância, veio para Carmo
do Cajuru, onde no seio da família,
foi educado a amar a cidade que
conhecera. Não fez boa caminhada
na escola, mas seu carisma conquistou
muitas pessoas e fez belas
amizades.
Na chegada do pároco padre João
Parreiras Villaça para Carmo do Cajuru,
enquanto esperava por passageiros
do trem para carregar malas,
foi surpreendido pelo padre que o
chamou para ajudar a carregar a
sua bagagem até a casa paroquial.
Isso foi em 6 de janeiro de 1949,
fato esse marcante que o alegrou
muito.
Era aventureiro, gostava muito de nadar no ribeirão do Empanturrado, barragem
e rio Pará, locais que o conheceram muito bem. Salvou muitas vidas
em afogamentos; mas, teve muitas tristezas, ao retirar corpos inertes das
águas.
Gostava muito de música. Tocou na Banda Santa Cecília local, promovia
bailes, carnavais e não largava seu banjo de quatro cordas, que gostava de
dedilhar com arte.
438 Célio Antônio Cordeiro
Wanderley Domingos Belém, o atleta
Wanderley Domingos Belém, o músico
NOSSA GENTE
439
Era o primeiro Capitão Regente da
Guarda de Congo e com muita responsabilidade
e zelo a conduzia na
Irmandade N. Sra. do Rosário.
Foi um jogador de futebol que se
destacou muito. Jogou no Tupy
Futebol Clube por muitos anos.
Chegou a ser profissional no Siderúrgica
de Sabará, que disputava
o campeonato mineiro. Não conseguindo
encarar as chamadas
concentrações, voltou para Carmo
do Cajuru, jogando novamente no
Tupy e depois jogando também no
Sport Club Cajuru.
Casou-se com Alice Raimunda Domingos
e foram pais de nove filhos
dos quais cinco sobreviveram. São
Wanderley Belém, na banda Santa Cecília
eles: Maria Domingos, Maria Eunice,
José Domingos, Vanderley Aparecido e Geraldo Wanderley. Estes receberam
uma zelosa educação para a vida e hoje se sentem orgulhosos com
todo aprendizado. Viveu casado com Alice, por vinte e seis anos, ela vindo
a falecer com problemas cardíacos. Mais tarde, casou-se com Rita Maria e
com ela viveu por onze anos sem adquirir família.
Quando recebeu de seu irmão Geraldo Domingos o comando geral da Irmandade
Nossa Senhora do Rosário, já se encontrava com problemas sérios
de saúde e conseguiu muito pouco ver a movimentação da festa do
Reinado e vindo a falecer pouco tempo depois, em 10 de abril de 1991.
Belém como era conhecido, deixou para os filhos uma bagagem cultural e
um legado de bons exemplos muito grandes.
JORNAL BOCA DA MATA, n. 092, Maio 2020
440 Célio Antônio Cordeiro
NOSSA GENTE
Nossa Gente: Crônicas,
de Célio Antônio Cordeiro,
foi impresso em papel Polen Soft 80,
fonte Corbel, em Belo Horizonte,
para Geec Publicações.
Abr. 2021
F