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NOSSA GENTE

Este livro do memorialista Célio Cordeiro contém 100 crônicas publicadas na coluna 'Nossa Gente', do jornal Boca da Mata. Traz um perfil biográfico de personalidades que se destacaram na sociedade local, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico, religioso, esportivo, político e cultural de Carmo do Cajuru, MG.

Este livro do memorialista Célio Cordeiro contém 100 crônicas publicadas na coluna 'Nossa Gente', do jornal Boca da Mata. Traz um perfil biográfico de personalidades que se destacaram na sociedade local, contribuindo para o desenvolvimento social, econômico, religioso, esportivo, político e cultural de Carmo do Cajuru, MG.

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NOSSA GENTE



Célio Antônio Cordeiro

NOSSA GENTE

Crônicas

Carmo do Cajuru

2021


NOSSA GENTE

Crônicas

CÉLIO ANTÔNIO CORDEIRO

100 crônicas publicadas no jornal ‘boca da mata’

projeto gráfico, organização e editoração

Jornal Boca da Mata

fotografias

Coleção do Autor

+ Fotos gentilmente cedidas por familiares

capa

André Camargos e Lorena Faria (Coletivo RAW)

impressão e acabamento

Geec Publicações

tiragem

300 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cordeiro, Célio Antônio, 1950

Nossa gente: crônicas / Célio Antônio Cordeiro.

-- Carmo do Cajuru/MG : Jornal Boca da Mata,

2021.

ISBN 978-65-00-20542-8

1. Carmo do Cajuru (MG) - História 2. Crônicas

brasileiras 3. Personalidades - Carmo do Cajuru

(MG) - Biografia 4. Personalidades - Carmo do Cajuru

(MG) - Fotografias I. Título.

21-61744 CDD-B869.8

Índices para catálogo sistemático:

1. Crônicas : Literatura brasileira B869.8

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

PREFEITURA DE CARMO DO CAJURU

Programa “Luz e Esperança para o Mundo”

Ação realizada com recursos da Lei Federal n. 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc

ii


APRESENTAÇÃO

O jornal Boca da Mata tem a honra de apresentar esta obra do memorialista

e atento guardião da história de Carmo do Cajuru, Célio Antônio

Cordeiro, guardada nas suas famosas coleções de fotos antigas e nas

crônicas mensais da coluna NOSSA GENTE.

De início, o jornal Boca da Mata agradece a inestimável colaboração

voluntária do memorialista, na organização e editoração da coletânea,

e dos parentes e amigos dos nossos homenageados, que ajudaram a

enriquecer esta obra.

A proposta editorial da coluna NOSSA GENTE é registrar o perfil biográfico

das personalidades que se destacaram na melhoria da qualidade de

vida da sociedade cajuruense, seja do ponto de vista religioso, econômico,

esportivo, político ou cultural.

Ao lado da evocação de lembranças e saudades dos admiráveis casais

e, individualmente, de mulheres e homens, que deixaram marcas

indeléveis em Carmo do Cajuru, o BOCA DA MATA estende sinceras

homenagens aos familiares e descendentes. Também por fazerem parte

das 100 inspiradoras histórias humanas contadas nos últimos oito anos

pelo memorialista Célio Antônio Cordeiro, em nosso jornal mensal.

Ao promover esta publicação, temos consciência de estarmos irrigando

nossas raízes, convictos de que um povo que não conhece suas origens

acaba perdendo-se no meio da diversidade global. São nossas memórias

culturais, familiares, sociais, que nos dão a identidade de povo e nação

e nos distinguem dos demais.

Esta é uma publicação comemorativa dos 30 anos de fundação do jornal

Boca da Mata e dos 10 anos em que está sob nossos cuidados.

Gustavo Abib Bechelani Meireles



CÉLIO E A NOSSA GENTE

Nosso grande amigo Célio Cordeiro é um amante da história da nossa

terra. Grande colecionador de fotos, feitas por ele ou a ele doadas, Célio

tem um invejável registro fotográfico da nossa Carmo do Cajuru, desde

os seus primórdios.

Como escritor registra mensalmente, na sua coluna NOSSA GENTE,

no nosso Boca da Mata, as memórias fotográficas e textuais do povo

cajuruense.

São textos bem escritos por ele ou depoimentos de familiares das

pessoas que já se foram, enriquecidos de fotos que ele tem ou consegue

com as famílias das pessoas contempladas na sua coluna.

E a todo mês a memória histórica de nosso povo vem à baila, na coluna

NOSSA GENTE.

Sem elitismo, sem preferências, ele fala de pobres e ricos, famosos

ou não. O que norteia sua escolha é o fato de ter a pessoa feito

alguma coisa relevante para a nossa terra, mesmo que seja apenas o

cumprimento do dever de criar uma família legal, de ter sido um bom

pedreiro, carpinteiro, motorista, médico, dentista, professor, político, ou

ter simplesmente sido interessante na cidade.

Com a sua verve simples, sem metáforas ou alegorias, o Célio vem

registrando a memória antropológica de Carmo do Cajuru; tem mostrado

com elegância a NOSSA GENTE.

Eu espero um dia ser retratado na coluna do Célio. Daqui a pelo menos

vinte anos. Depois que eu morrer, pois ele só escreve as memórias –

claro – de quem já se foi. E eu quero demorar a ir embora.

Prof. Ernane Reis Gonçalves



À Romilda, minha esposa, aos meus filhos:

Renata, Lorena, Célio Henrique e Marcelo;

e ao meu netinho Théo.

À memória de Carmelita e Antônio Cordeiro Sobrinho,

meus pais.



O valor das coisas não está no tempo que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem

momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis

e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa



AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

O jornal Boca da Mata e o colunista Célio Cordeiro destacam

e agradecem as colaborações das seguintes pessoas,

na composição deste trabalho:

Alda Felizarda Duarte

Alessandro de Sá Guimarães

Aparecida Elaine de Souza

Aurélia Fonte Boa

Bia Duarte

Dênio Marra

Dora Estela Vasconcelos

Ernane Reis Gonçalves

Família Mano

France Vaz

Giovana Vasconcelos

Gustavo Abib Meireles

Isac Ferreira Soares

Ita Fonte Boa

José Raimundo Batista Bechelaine

Mara, Mary, Miriam e Mirna Rabelo Fonseca

Márcia Gomes

Marciano Guimarães Mansur

Maria Cleusa Nogueira Vilaça

Maria das Dores Ferreira

Marília Fonte Boa

Marina Fonseca

Matheus Vasconcelos

Rosana Vasconcelos

Sílvio Gonçalves de Almeida

Sol Nascente

Tamires Silva Barbosa

Zuleica Alves


Célio Antônio Cordeiro


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

ESPECIAL

Do Cruzeiro à praça N. Sra. Aparecida ................... 23

Museu e Arquivo Sacro-Histórico ................... 30

CASAIS EM DESTAQUE

Águida e Geraldo Boda ................... 36

Cezita e Sílvio José Rabelo ................... 40

Conceição Batista e Nhô Dito ................... 44

Conceição Maria e José Epifânio ................... 48

Conceição e Vicente Camargos ................... 52

Ermelinda Maria e Melquíades Batista ................... 56

Geni Mileib e Dico do Guilherme ................... 60

Lia e Dico Alexandre ................... 64

Maria José e Moussa Bcheleny ................... 68

Maria Terezinha e Walter da Fonseca ................... 72

Preta e Salomão ................... 76

Nair Miranda e João Arcanjo ................... 80

Teresa Maia e Abib Bechelane ................... 84

NOSSA GENTE


MULHERES INESQUECÍVEIS

Afonsina do Juca ................... 91

Ana Izabel de Jesus ................... 96

Balbina Gonçalves ................... 100

Conceição Maria de Jesus ................... 104

Conceição Vieira de Camargos ................... 108

Ester de Melo Malaquias ................... 112

Hortência Aparecida Ribeiro ................... 116

Ilda Rabelo de Carvalho ................... 120

Isabel Salomé de Castro ................... 124

Lalia Guimarães ................... 128

Laurita Lima Vieira ................... 132

Luci Guimarães Nogueira ................... 136

Lucia Guimarães ................... 140

Magali Gomes da Fonseca ................... 144

Maria de Lourdes Gonçalves ................... 150

Maria Nogueira Vasconcelos ................... 154

Marília Gomes Fonseca ................... 158

Paulina Guimarães ................... 164

Zulmira Felizarda Duarte ................... 170

Célio Antônio Cordeiro


HOMENS NOTÁVEIS

Agostinho Ferreira Tito ................... 177

Alípio Nogueira Avelar ................... 182

Pe. Altamiro de Faria ................... 186

Amim Mattar ................... 190

Anair Nogueira ................... 194

Antônio Cordeiro Sobrinho ................... 198

Antônio de Souza e Silva ................... 202

Braz Rabelo ................... 206

Cândido Pereira Guimarães ................... 210

Carlos Altivo ................... 214

Cezarino Ferreira de Araújo ................... 218

Cristino Mateus da Silva ................... 222

Domingo do Rosário ................... 226

Eli Benedito ................... 230

Francisco Eustáquio da Silva Maciel ................... 234

Genésio Fernandes Fialho ................... 238

Geraldo de Souza e Silva ................... 242

Geraldo Dias Barbosa ................... 246

Geraldo Guimarães ................... 250

Geraldo Mano da Silva ................... 254

Guido Alves de Oliveira ................... 258

NOSSA GENTE


Ilídio de Sá ................... 262

Izidoro Fonte Bôa ................... 266

Jamil Antônio Bechelaine ................... 270

Jésus Ferreira de Melo ................... 274

João Alves de Oliveira ................... 278

João Batista Nogueira Marra ................... 282

João da Mata Nogueira ................... 286

João da Silva .................. 290

João José Rabelo ................... 294

Pe. João Parreiras Villaça ................... 298

Joaquim Gonçalves de Melo ................... 302

Pe. José Alexandre de Mendonça ................... 306

José Alves Nogueira Filho ................... 310

José Demétrio Coelho ................... 314

José Dias Barbosa ................... 318

José Fernando Nogueira da Silva ................... 322

José Fonte Bôa ................... 326

José Gontijo Maia ................... 330

José Inácio Salomé ................... 334

José Jehovah Guimarães ................... 338

José Lázaro de Souza ................... 342

José Luiz Passos ................... 346

José Marra da Silva ................... 350

Célio Antônio Cordeiro


José Mateus da Silva Sobrinho ................... 354

José Mateus Filho ................... 358

José Nogueira Avelar ................... 362

José Rabelo Vieira ................... 366

José Vital Filho ................... 370

Márcio Humberto Vaz Fonseca ................... 374

Dr. Marcondes José da Silva ................... 378

Marinho Dias Barbosa ................... 382

Mário Domingos ................... 386

Maurício Meireles ................... 390

Messias Dias Barbosa Neto ................... 394

Nagib Mileib ................... 402

Nagm Bechelaine ................... 406

Oswaldo Cândido de Almeida ................... 410

Oswaldo Diomar ................... 414

Rafael Gomes Avelar ................... 418

Sebastião Ferreira Vilela ................... 422

Vicente Alves dos Santos ................... 426

Vicente Dias Barbosa ................... 430

Vicente José Pereira ................... 434

Waldemar Batista Marra ................... 54

Wanderley Domingos ................... 438

NOSSA GENTE


Célio Antônio Cordeiro


INTRODUÇÃO

Sejam estas primeiras palavras de saudação aos familiares e amigos

que colaboraram na elaboração das 100 crônicas que assinamos pela

coluna Nossa Gente do jornal Boca da Mata, entre 2012 e 2020.

Nesta publicação, os objetivos destacados pelo diretor Gustavo Meireles

na Apresentação estão intactos. Apenas o projeto gráfico e a

organização das crônicas foram alterados para se ajustar ao formato

de coletânea em livro, adotando-se a ordem alfabética na apresentação

dos nomes, diferente da ordem aleatória do jornal.

Assim é que, neste volume, reunimos as 100 crônicas, dispostas em

quatro categorias, contendo: (i) duas especiais sobre a Praça do Cruzeiro

e o Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia de N. S. do

Carmo; (II) treze sobre “casais em destaque”; (iii) dezenove sobre

“mulheres inesquecíveis”; e (iv) 66 sobre “homens notáveis”.

Contamos aqui um pouco das histórias humanas que permeiam a

identidade do povo cajuruense. São traços singelos do perfil de cada

focalizado, ilustrados por fotos raras nem sempre de boa resolução,

mas impregnadas de história e sentido.

Os relatos familiares, sobre os quais nos baseamos nestes escritos,

não falam de documentos oficiais, mas nos revelam os sentimentos

e os impactos que estas pessoas ilustres causaram na vida de nosso

município e do povo cajuruense.

Célio Antônio Cordeiro

NOSSA GENTE


Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

ESPECIAL


22 Célio Antônio Cordeiro


Do Cruzeiro à praça N. Sra. Aparecida *

Deus nos ensinou a não aceitar facilidades, mas a encontrar vida na dureza da cruz.

Dom Hélder Câmara

Carmo do Cajuru era uma pequenina cidade e lá em cima, no alto do

morro, no meio do cerrado roçado a machado e queimado, na Fazenda

Várzea dos Pereiras, nasceu a Praça N.S Aparecida.

Em 1957, a senhora D.Isaura Maria de Jesus (avó materna do querido

padre José Raimundo Batista Bechelaine) procurou ao senhor Geraldo

Mano da Silva (Dico Mano), proprietário do terreno, e pediu-lhe

um espaço para ali colocar um cruzeiro, pois havia feito uma promessa,

alcançado a graça e agora queria cumprir, colocando uma Cruz e

uma imagem de N. Sra. Aparecida e queria um lugar bem alto.

Vista aérea da praça Nossa Senhora Aparecida, suas capelas e o cruzeiro no centro

* O autor agradece a colaboração da Família Mano na elaboração desta memória.

NOSSA GENTE

23


Terraplanagem na reforma da praça,

ao início dos anos 1980

A família concordou e assim

aconteceu... Abriu-se um pequeno

espaço para o cruzeiro de

madeira, que foi levado de carro

de boi, com mujita dificuldade.

O acesso era por uma estrada

improvisada onde passavam

carroças e carros de bois que iam

até a praia buscar areia e à olaria

(fábrica de tijolos do Sr. Nilton

Mano) que ficava perto da praia.

Colocação do cruzeiro de ferro (anos 1960)

Instalado o cruzeiro, com um Oratório de N.S Aparecida, pouco a

pouco foi se transformando num espaço de demonstração de fé,

onde as pessoas iam orar, cumprir promessas, fazer novenas e até

levar água ao pé da cruz para chover.

A Capela dos Milagres

A princípio foi construída uma pequena capela que recebeu o nome

de Capela dos Milagres, porque lá as pessoas deixavam objetos (pernas,

braços, cabeças de cera, fotografias, muletas, bengalas e outros)

em agradecimento a graças recebidas. Ela não existe mais, em

seu lugar temos a capela de Nossa Senhora Aparecida, mas muitos

dos objetos de demonstrações de fé se encontram lá na praça numa

pequena sala debaixo do cruzeiro.

24 Célio Antônio Cordeiro


Nessa época, o nosso Pároco era o saudoso padre João, que gostava

muito do Cruzeiro e o povo dizia que era muito longe. Ele respondia

que Cristo também levava seus discípulos para lugares distantes.

Com o passar do tempo e com a melhoria do espaço, o povo foi se

acostumando com a distância e o movimento só foi crescendo.

1960 - Aprovação pelo bispo Dom Cristiano Portela da planta para

a construção do Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Mas esta

construção não aconteceu.

No lugar do Santuário, levantou-se o Calvário e junto à Capela dos

Milagres construiu-se a capela de N. Sra. Aparecida, obra concluída

em 1962.

O 1 o Jubileu de N. Sra. Aparecida aconteceu em 1963, muito bem preparado

e concorrido.

Vista parcial de Carmo do Cajuru, ao final dos anos 1940. Ainda não existia a Praça.

Terraplanagem na reforma da praça,

ao início dos anos 1980

Construção do túmulo monumental do padre

João Parreiras Villaça, ao início dos anos 1980

NOSSA GENTE

25


1961 - Houve na cidade a primeira festa de São Cristóvão, com carreata

pelas ruas, dirigindo-se para a Praça do Cruzeiro. Com a presença

do Rev.mo Bispo, houve a benção solene da imagem. Em pouco

tempo, com o movimento crescendo, as obras aumentando, a cada

festa ali realizada, havia um pedido do padre João e do Bispo para

aumentar o espaço. Pelo reconhecimento da importância que tinha

esta praça, o Sr. Geraldo Mano e sua esposa D. Adelaide sempre lhes

concediam o terreno.

1962 - Construída a capela de São Cristóvão, com a mesma planta da

capela de Nossa Senhora Aparecida, onde passou a realizar todos os

anos a sua festa.

Nesta mesma época, o centenário de N. Sra. de Lourdes, o Arcebispo

Metropolitano de Belo Horizonte pediu a todas as paróquias que colocassem

um marco com a imagem em homenagem a Nossa Senhora.

O lugar escolhido foi a praça de N. Sra. Aparecida, onde construiu

a gruta de N. Sra. de Lourdes, lá nem água havia. Mas o sonho do

padre João ia crescendo...

Aí foram marcadas também as 14 Via sacras, inicialmente 14 cruzes

de madeira com 2 metros de altura, circundando a praça e, no centro,

o cruzeiro de madeira. Depois vieram as capelinhas da Via Sacra, por

doação de famílias católicas da comunidade.

Foram construídas as 14 Capelas, cada uma com um quadro da Via

Sacra e cada uma com um doador e responsável. Foi construída também

a Gruta de São José, protetor do Clero e das vocações sacerdotais.

A praça ganhou eletricidade, iluminando assim o oratório de N.

Sra. Aparecida e todas as capelas.

Em seguida, no lugar do cruzeiro de madeira, foi construído um cruzeiro

de concreto e vidro, todo iluminado, com 20 metros de altura, e

um nicho com a imagem de N. Sra. Aparecida.

1966 - Inauguração da praça de N. Sra. Aparecida. Houve uma grande

festa, dia 19 de maio. Muita preparação para a festa com missa e

bênção solene, com a presença do bispo Dom Cristiano. Praça que se

tornou ponto religioso e turístico do município.

26 Célio Antônio Cordeiro


“Praça do Cruzeiro”, antes da reforma, ao final dos anos 1970

E o Calvário? Como surgiu?

Da visita do Irmão José, representante do Lar Católico, que ficou encantado

coma beleza da praça e do local. Sugeriu ao padre João, que

fizesse um calvário e se ofereceu para tentar conseguir com a Congregação

do Verbo Divino de Juiz de Fora a doação de umas belíssimas

imagens que lá estavam sem utilidade, estragando-se e algumas

até quebradas. E assim aconteceu.

A Paróquia ganhou a imagem de um crucificado, uma imagem de

São João, uma de N. Sra. das Dores e uma de Anjo da Anunciação,

todas de 2m de altura. São peças históricas, esculpidas e talhadas na

Alemanha, há mais de 80 anos, naquela época. Foram restauradas.

Foi construído o Calvário e lá colocadas, com exceção do Anjo, que

foi colocado no pé do cruzeiro e, posteriormente, na frente da praça,

onde estão até hoje. O Calvário é o local de realização dos quadros

vivos da Semana Santa e outras grandes festas religiosas.

1982 - Morre o seu idealizador e realizador, padre João Parreiras

Villaça. Amava de uma maneira especial esta praça que manifestara

seu desejo de ser sepultado nela. O povo quis cumprir o seu desejo ,

mesmo contrariando as ideias do Bispo Diocesano, que diante de tamanha

insistência, concedeu a licença para tal. Seu túmulo foi construído

bem no início da Praça; bem localizado para ser visto e visitado

pelos cajuruenses.

NOSSA GENTE

27


Familiares do “Dico” Mano com o padre João, em reunião festiva

Hoje não temos mais uma estradinha de terra para se chegar à Praça

e, sim, a rua Cônego João Parreiras Villaça, que assim passou a ser

chamada após sua morte. Asfaltada com toda infraestrutura e urbanizada,

destaca-se no alto não do morro, mas da cidade, tornando-se

um de seus mais lindos pontos turísticos.

O conjunto da Praça do Cruzeiro transformou-se em um verdadeiro

“santuário a céu aberto”, conforme palavras do padre José Raimundo

Batista Bechelaine.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 024, Set. 2014

28 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

29


Museu e Arquivo Sacro-Histórico

Eu vejo o futuro repetir o passado; // Eu vejo um museu de grandes novidades.

O tempo não para.

Cazuza

A ideia de criar o Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia Nossa

Senhora do Carmo, de Carmo do Cajuru, nasceu em 1997, conforme

relato do padre José Raimundo Batista Bechelaine, que lecionou no

curso de Filosofia, oferecido pela FUNEDI /UEMG, as disciplinas de

Ética, Seminário em Filosofia Moderna e Seminário em Filosofia Contemporânea.

— Naquela época, foi realizada, durante a festa da padroeira da cidade,

Nossa Senhora do Carmo, uma exposição de objetos que pertenciam

à paróquia. Desde então, eu comecei a perceber a necessidade

de se criar o museu — contou o padre José Raimundo.

Vista interna do Museu Sacro-Histórico de Carmo do Cajuru

30

Célio Antônio Cordeiro


O inesquecível padre José Alexandre, entre fotos

antigas de Carmo do Cajuru

Durante os 15 dias em que a exposição

esteve em cartaz, a professora

Marília Fonte Boa levou

seus alunos de Educação Artística,

do antigo 2º Grau da Escola

Estadual Padre João Parreiras,

para visitar a mostra e se propôs

juntamente com os estudantes,

em fazer um trabalho de classificação

e catalogação dos objetos

expostos.

O projeto de criação do Museu

contou ainda com o indispensável

apoio do Sindicato das Indústrias

do Mobiliário e Artefatos de

Madeira de Minas Gerais (SINDI-

MOV), por intermédio do Serviço

Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI).

Hilton Gontijo, como professor

dos serviços de aprendizagem

da escola, muito contribuiu com o início do Museu. Fez várias restaurações

de móveis, sendo um trabalho totalmente voluntário.

A criação do Museu

Em 1999, o projeto de criação do Museu foi apresentado ao Centro de

Pós-Graduação e Pesquisa da FUNEDI/ UEMG e passou a ser desenvolvido

pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião.

Com a orientação do professor padre José Raimundo, o projeto contou

com o trabalho de dois estagiários da instituição: Dênio Márcio

Marra, do 8º período de Filosofia, e Maria do Carmo Camargos Siqueira,

que se formou em Letras no ano de 2001.

NOSSA GENTE

31


Obras literárias raras, missais antigos, livros de práticas e manuais diversos, entre outros documentos,

enriquecem o acervo de objetos eclesiásticos do Museu e Arquivo Sacro-Históricos

Na época, o aluno de Letras da FUNEDI/ UEMG, Humberto de Alencar

Teixeira, trabalhou na confecção das etiquetas de identificação

dos objetos do museu. A 12ª Superintendência Regional de Ensino

(SER) cedeu para o museu a professora Admar Vilela Rabelo, que coordenou

o Museu com muito bom gosto, competência e muito esforço,

até o ano de 2005.

A partir de 2006, o Museu em parceria com a Prefeitura Municipal,

através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, passou a ser

coordenado pelo memorialista Célio Cordeiro. Posteriormente, o

Museu contou com os alunos estagiários Erivelta Diniz, Suely e Eduardo

Diniz, do Curso de História da FUNEDI, que muito auxiliaram,

principalmente na catalogação de objetos e na informatização.

Um acervo que se amplia

O museu sempre contou com o apoio da Paróquia Nossa Senhora

do Carmo, da boa vontade da Prefeitura Municipal e da Secretaria

de Educação e Cultura. Possui um grande acervo religioso e uma expressiva

contribuição da Comunidade, em importantes doações. São

mais de 1.200 objetos catalogados.

32 Célio Antônio Cordeiro


As escolas do nosso município têm sido também, de uma importância

inestimável, na valorização do Museu para a educação patrimonial.

Mais de 6.700 pessoas já passaram pelo local em e pesquisas,

conforme registros no livro de assinaturas de visitas.

O Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia Nossa Senhora do

Carmo, foi inaugurado em 30 de dezembro de 2000. O primeiro registro

de assinatura, foi da saudosa professora dona Lúcia Guimarães,

que teve um papel muito importante na valorização da cultura

de nossa querida terra.

Hoje, o museu é uma realidade!

O grande desejo de seu fundador, padre José Raimundo Batista, vai

realizando-se.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 001, Ago. 2012

NOSSA GENTE

33


34 Célio Antônio Cordeiro


CASAIS EM DESTAQUE

NOSSA GENTE

35


D. a Águida e Geraldo Boda

Amar é encontrar na simplicidade de um sorriso o desejo de ser feliz.

Gisa Matos

Nesta edição, falaremos de um casal de pessoas simples e corações

grandes, que com seus modos de vivência familiar e social, nos deixaram

grandes e preciosos legados.

Geraldo Gonçalves de Oliveira, conhecido como “Boda”, nascido em

Carmo do Cajuru, em 2 de fevereiro de 1908, era filho de Olímpio

Gonçalves e Adelídia Gonçalves. Casou-se com Águida Gonçalves em

21 de janeiro de 1950. Ela filha de João Paulo Gonçalves e Maria Agripina

de Jesus.

Era um casal unido, honrado e temente a Deus. Tiveram quatro filhos:

Adelídia, Maria da Fé, Geralda e Geraldo César.

Geraldo “Boda” e Águida Gonçalves

36 Célio Antônio Cordeiro


Desse belo casal, hoje são 11 netos: Flávio Milton, Leonardo Henrique,

Arthur Rodrigo, Érica, Aline, Leandro Heitor, Tiago José, Joyce

Gristina, Júnia Mara, Jéssica Rayane e Maria Eduarda. Bisnetos:

Vanessa, Rodrigo, Sthefany, Eduarda, Miguel Lunas, Lucas e Luca.

Adelídia, esposo: Heitor Milton (in merorian), Maria da Fé, esposo:

Guilherme, Geralda (in memorian), esposo: Valdivino e Geraldo César,

esposa: Olga.

Familiares de Boda e Águida, em momento de confraternização

Dona Águida era meiga, educada, cortês e amiga de todos. Mãe dedicada,

amorosa e exemplar. Vivia em prol de seu lar. Acompanhava

com zelo e educação a vida escolar de seus filhos. Dizia sempre que a

maior riqueza que os pais deixam a seus filhos é o estudo. Trabalhava

com afinco para ajudar no sustento do lar e nos estudos dos filhos.

Possuía fé inabalável em Jesus e era grande estudiosa da Bíblia. Gostava

de ler Salmos, conhecendo vários de cor.

Mãe presente, esposa amorosa, mulher guerreira, acolhedora fraterna

e boa conselheira. Cativava os adultos, jovens e crianças com sua

fala mansa e bons conselhos. Foi muito atuante na Paróquia de Nossa

Senhora do Carmo, Filha de Maria, quando solteira, posteriormente,

firme no Apostolado da Oração, Conferência de Nossa Senhora

Aparecida, Legião de Maria, equipe de coordenação das visitas e das

novenas da Santinha Visitadora, aos lares católicos.

NOSSA GENTE

37


Geraldo Gonçalves de Oliveira, conhecido carinhosamente por

“Boda” – homem tranquilo, risonho e humilde. Tinha uma paz imensa

no coração e achava solução para todos os problemas, colocando

os impossíveis nas mãos de Deus.

Fervoroso e leitor assíduo das Escrituras Sagradas. Amigo, sensato

e educado com todos que convivia. Trabalhou desde os 16 anos na

mesma firma, durante 40 anos: anteriormente, chamada de Fábrica

de Manteiga do Antônio Altivo, posteriormente, Cooperativa Agropecuária

de Carmo do Cajuru Ltda. Aposentou-se lá e deixou seu legado

de simplicidade, amizade, exemplo e honestidade.

Águida, meiga, educada e gentil; Boda, tranquilo, risonho e sábio - uma união feliz e duradoura

Dona Águida (ao centro) com os filhos: Maria da Fé, César, Adelídia e Maria Geralda

38 Célio Antônio Cordeiro


Era um exímio contador de histórias.

Mula-sem-cabeça, lobisomem

e caboclo d’água, eram

personagens sempre presentes

em suas histórias, que faziam

medo na criançada da rua, que

o rodeava, nas noites claras de

luar para ouvir as assustadoras

histórias.

Boda e Ainda (como era chamada

carinhosamente pelos íntimos)

foram casados durante 36

anos até que ele veio a falecer,

em 1986, deixando a querida

companheira solitária, triste e

saudosa dos bons tempos que

juntos conviveram. Em 2010, ela

também faleceu.

Além da saudade, Boda e Águida,

deixaram como exemplo,

para familiares e amigos, a certeza

de que a honra, a honestidade

e a dignidade devem seguir

juntas na vida.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 079, Abr. 2019

NOSSA GENTE

39


D. a Cezita e Sílvio José Rabelo

É a pureza da simplicidade que enriquece a alma.

Ezequias Souza

Sílvio José Rabelo, nascido em 21 de setembro de 1931, na Comunidade

de Ribeiros, município de Carmo do Cajuru, provindo de uma

família muito simples e sempre dedicada ao trabalho na zona rural.

Viveu sua infância e adolescência ao lado dos pais e dos irmãos.

Era filho do casal dona Maria Ana de Matozinhos e Augusto José Rabelo.

Seu pai, depois de viúvo, contraiu um segundo matrimônio.

Teve como irmãos: Maria Jacinta, José Augusto. Augusta, Vitor, Joaquim

e Jacinta, todos esses do primeiro casamento. Do segundo casamento

com dona Lourdes Nogueira, teve mais três irmãos: João,

Geraldo e Conceição.

D. a Cezita e Sílvio José Rabelo, celebram Bodas de Ouro

40 Célio Antônio Cordeiro


D. a Cezita e Sílvio José Rabelo, celebram Bodas de Ouro com filhos, netos e bisnetos

Ainda bem jovem, Sílvio casou-se com Cezita Fonseca, em 29 de setembro

de 1956. Do casamento, vieram nove filhos: Maria de Lourdes,

José Anselmo, Cristiano, Zélia, Maria Augusta, Rosânia, Aspásia,

Francisco e Sílvia Regina. Hoje dessa descendência são 20 netos e 2

bisnetos.

Sílvio sempre batalhou muito para o sustento e a boa educação da

família, através dos diversos trabalhos e atividades na zona rural. Ao

lado de sua dedicada esposa dona Cezita, que além dos afazeres diários

do lar, era uma exímia bordadeira, muito prendada, costurava

e tecia, tudo isso para auxiliar no sustento e no bem-estar de sua numerosa

família.

Foi um produtor rural muito dedicado. Plantava de tudo que era possível.

O cultivo do milho era uma de suas preferências. A criação do

gado também foi muito importante para ele, que sendo associado da

Cooperativa de Produção, fornecia o leite produzido em sua fazenda.

Foi uma pessoa extraordinária, um exemplar esposo, pai e avô, sempre

muito atencioso com todos. Encontrava tempo de expressar bem

sua fé nas atividades religiosas de Ribeiros. Católico praticante, participava

das celebrações na capela do Sagrado Coração de Jesus (o

padroeiro local) através do Apostolado da Oração e de celebrações.

NOSSA GENTE

41


Foi confrade da Sociedade São Vicente de Paulo por muitos anos.

Participou das comissões de festas. Gostava muito de arrecadar

prendas para os leiloes, principalmente por ocasião da festa em louvor

a São Sebastião. Sempre valorizava muito as rezas em família,

em especial, a recitação do Terço à noite. Foi um benfeitor de sua

comunidade e o responsável pela doação do terreno onde foi construído

o cemitério de Ribeiros.

Pessoa de um espírito alegre, brincalhão e colhedor. O futebol foi

também uma de suas paixões. Jogou bola durante um bom tempo.

Gostava muito de reuniões em família e com os amigos. Adorava jogar

o tradicional “Truco” onde ouvia uma boa música sertaneja, tomava

um bom vinho e saboreava uma carne bem temperada.

Sempre prezou muito pelos bons exemplos e pela boa educação dos

filhos, através dos conselhos que fazia questão de transmitir. Amava

muito sua esposa, filhos e netos. Gostava muito de viajar e conhecer

novos lugares, de preferência com seus familiares. Teve um grande

número de bons amigos, que soube cativar durante sua vida.

Em 2013 juntamente aos familiares, passou por uma grande provação;

a perda de seu filho José Anselmo, que sempre esteve presente

ao seu lado, principalmente na difícil labuta com as tarefas do meio

rural.

Com a idade um pouco avançada, começou a sentir problemas de

saúde, o que o obrigou a mudar para a cidade. Enfrentou a doença

com paciência e resignação. Mesmo adoentado, ainda gostava de ir

para a roça, ver as plantas e os animais o que servia de terapia, pois

sempre amou muito a vida na zona rural.

Em 29 de março de 2019, já com a saúde muito abalada, veio a falecer,

justamente em uma sexta-feira, dedicada ao Sagrado Coração de

Jesus, sua grande devoção, deixando uma lacuna de grande saudade

aos familiares e amigos. Ficando como legado aos familiares, os seus

belos exemplos, suas boas ações, a honradez e a honestidade.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 088, Jan. 2020

42 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Conceição Batista e Nhô Dito

Nenhum patrimônio excede àqueles que deixam pelos caminhos da vida,

quando se pratica o bem, a caridade e o amor.

José Dias Lara

A história de nossa querida Carmo do Cajuru, sempre foi repleta de

personalidades, que por aqui passaram e deixaram grandes legados

Nesta crônica, vamos descrever um pouco da vida do casal dona Conceição

Batista Antunes e Benedito Antunes dos Santos

O radialista Benedito Antunes

dos Santos, mais conhecido

como Nhô Dito, nasceu em 16 de

abril de 1915, em Santa Cruz do

Rio Pardo/ SP, filho de João Antunes

dos Santos e dona Benedita

Maria de Jesus.

Dona Conceição, o filho único Gláucio e Nhô Dito

Fez os seus primeiros estudos

em sua terra natal, no grupo escolar,

hoje, por ser um prédio antigo,

é tombado pelo Patrimônio

Cultural. Foi em Santa Cruz que

começou a desenvolver seus talentos

na comunicação.

Ainda bem jovem, mudou-se para Belo Horizonte, onde teve a oportunidade

de trabalhar como locutor de rádio. Trabalhou na Rádio Inconfidência

por um bom período, no programa “Bentinho no Sertão”.

No final dos anos 40, conheceu a bela jovem Conceição, com quem

namorou e se casou em 2 de fevereiro de 1950, em Carmo do Cajuru.

44 Célio Antônio Cordeiro


Dona Conceição e Nhô Dito, no Rio de Janeiro

Conceição Batista, nascida no

município de Carmo do Cajuru

em 1918, era filha de Agostinho

Batista de Souza Leite e dona

Isaura Maria de Jesus. Fez seus

primeiros estudos no Grupo Escolar

Princesa Isabel e, posteriormente,

foi para a cidade de

Itaúna onde estudou e se formou

na Escola Manoel Gonçalves.

Foi uma dedicada professora

e educadora, lecionou em São

José dos Salgados e em Carmo

do Cajuru, nos grupos escolares

Princesa Isabel e Vigário José

Alexandre, escola onde chegou

a ser vice-diretora.

Conforme mencionamos, casou-se em cerimônia celebrada em domicílio

pelo padre João Parreiras Villaça, na casa de seus pais. Ela

com 32 anos e Nhô Dito com 34. O casal teve um único filho, Gláucio

Batista Antunes dos Santos, que hoje reside no mesmo local onde

morou com seus pais.

Depois de casados, moraram por um curto período no Rio de Janeiro,

onde Nhô Dito teve a oportunidade de trabalhar na extinta Rádio

Mayrink Veiga. Voltando para Minas, trabalhou nas rádios Inconfidência

e Guarani de Belo Horizonte. Passou também por um período

na Rádio Aparecida, de Aparecida do Norte/ SP.

Posteriormente, morando em Carmo do Cajuru, trabalhou por um

longo período na Rádio Cultura de Divinópolis, produzindo e apreesentando

os famosos programas “Nhô Dito no Arraiá” e “Parada

Sertaneja”. Participava ativamente de festas de auditórios, quase

todos voltados para a música sertaneja. Auxiliava entidades, através

de campanhas, como a do agasalho, e no período natalino. Foi um

colaborador da Vila Vicentina.

NOSSA GENTE

45


Em Divinópolis, Nhô Dito foi homenageado por diversas vezes por

entidades filantrópicas; recebeu placas, medalhas e troféus, sendo

que várias delas se encontram no Museu Sacro-Histórico da Paróquia

Nossa Senhora do Carmo, doadas juntamente com outros objetos,

pelo filho Gláucio.

Foi ele quem compôs os hinos das Escolas: “Grupo Escolar Princesa

Isabel” e do extinto “Colégio José Demétrio Coelho”, cujas letras encontram-se

também no Museu. Escreveu muitos poemas, compôs

músicas e contos durante sua vida. Foi um grande artista do rádio

brasileiro. Compositor, radialista, produtor e defensor da música sertaneja,

desempenhava com muito amor e com muita competência

tudo aquilo que tanto gostava de fazer. Interagia muito com o povo,

principalmente através de sua habilidade na comunicação pelas ondas

do rádio.

Dona Conceição e Nhô Dito, formavam um elegante casal

46 Célio Antônio Cordeiro


Nhô Dito, Dona Conceição e Gláucio, uma família unida e feliz

Dona Conceição, além de uma grande professora, como acima mencionado,

foi uma ótima mãe e uma grande esposa. Na sua preocupação

com os menos favorecidos, participou de conferências vicentinas,

ajudando a fundar a Conferência “Nossa Senhora Auxiliadora”.

Foi uma das pessoas que fizeram parte da diretoria, que fundou o

glorioso Sport Clube Cajuru, em 1931. Participou, juntamente com o

esposo, das festividades do cinquentenário do clube, em 1981.

O casal teve um matrimônio duradouro, de quase 40 anos. Professavam

com muita convicção a fé católica, sempre demonstrada em

atitudes e frequência à Igreja. “Nhô Dito” faleceu em 26 de junho de

1989 e dona Conceição em 15 de abril de 1995.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 099, Dez. 2020

NOSSA GENTE

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D. a Conceição Maria e José Epifânio

A memória é o espelho em que vemos os ausentes.

Joseph Juberth

É com essas lindas palavras do filósofo em epígrafe, que vamos iniciar

esta singela crônica de um casal que constituiu uma bela família

e nos deixou como exemplos de vida a dedicação à família, a honestidade

e a honradez, sempre pautadas em bons exemplos e muita dignidade.

Foram pessoas íntegras, e que ao longo de suas vidas fizeram

numerosas amizades.

Dona Conceição e José Epifânio, uma família unida e feliz

José Epifânio Zeferino era filho de João Epifânio Zeferino e de dona

Maria Joaquina de Jesus. Nasceu no dia 27 de setembro de 1911, na

comunidade de Amoras, município de Carmo do Cajuru. Provindo de

48 Célio Antônio Cordeiro


uma numerosa família, bem cedo já enfrentara a dura vida do homem

do campo, principalmente na agricultura.

Por onde passava, sempre deixava lembranças de grandes amizades

e exemplos de dedicação ao trabalho que desempenhava. Foi funcionário

por muito tempo na Rede Ferroviária Federal S.A./ Rede Mineira

de Viação. Por longos anos, foi motorista do setor educacional,

onde é lembrando com muito carinho, pelas professoras e alunos que

ainda estão vivos.

José Epifânio ao lado de uma das filhas

Em 9 de outubro de 1929, na matriz Nossa Senhora do Carmo, casou-se

com dona Conceição Maria de Jesus Epifânio, filha de Camilo

Bernardes da Silva e dona Isabel Maria de Jesus. Do casal, nasceram

10 (dez) filhos: Isabel, Irani, Ivo, Maria José, José Carlos, Expedito,

Helena, Antônio Fernandes, Edina e Elaine.

Dona Conceição, foi uma exemplar esposa e mãe de família. Com

suas habilidades na culinária, era uma exímia cozinheira e quitandeira.

Muito atenciosa com seu esposo e filhos, sempre persistente e

incentivando-os, na frequência às aulas e na dedicação escolar.

Cuidava com muito carinho dos afazeres do lar e prestava auxilio as

pessoas que a procurava. Deixou muita saudade aos filhos, aos netos

e ao grande número de amigos.

NOSSA GENTE

49


Ao lado de sua querida esposa, José Epifânio era amante da boa leitura.

Além da distração, o conhecimento adquirido lhe tornara pessoa

bem informada e culta. Sempre quando podia, fazia uma coisa

que ele muito gostava – viajar. Principalmente para visitar seus parentes

e amigos.

Pessoa de uma fé bem firme, sempre cuidava da família com muito

zelo e dedicação e ainda praticava a caridade, com ajuda aos mais

carentes.

Divertia-se muito com o seu violão e sua preferência musical era um

“chorinho”. Gostava muito de dançar a Catira ou Cateretê – uma dança

que hoje, em vários municípios, é tratada e às vezes até registrada

como um bem cultural imaterial.

Outra grande paixão, além da família, era o futebol. O senhor José

Epifânio, era torcedor do Cruzeiro Esporte Clube. No futebol amador,

sua paixão era o Sport Club Cajuru, onde brilharam seus filhos José

Carlos, Expedito e Toninho. Infelizmente, não chegou a ver alguns

netos e bisnetos jogando bola: Wesley, Camilo, Cristian, Carlos Henrique,

Pedro e Blau.

A vida conjugal do senhor José Epifânio e dona Conceição, serve de

exemplo para todos. Estiveram casados durante 52 anos, chegando a

celebração das bodas de ouro. Deixaram além de 10 filhos, 41 netos,

62 bisnetos e 21 tataranetos.

Em 21 de maio de 1981, José Epifânio partiu para a eternidade, abrindo

uma lacuna de muita saudade aos familiares e amigos. Pouco antes

de completar cinco anos de seu falecimento, dona Conceição foi

também morar na pátria celestial e novamente houve momentos de

tristeza e de muita comoção.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 062, Nov. 2017

50 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Conceição e Vicente Camargos

Quando a vontade de vencer supera as dificuldades da vida,

a alegria de viver esplandece no olhar.

Leobino Filho

Nessa edição de Nossa Gente, falaremos de um casal muito conhecido

que teve uma longa e duradoura vida matrimonial de 67 anos com

muito trabalho, dificuldades e provações. Apesar disso, foram pessoas

simples, honestas e trabalhadoras. Criaram e educaram uma família

numerosa. Mesmo convivendo com as adversidades da vida, não

desistiram e viviam sempre com alegria estampada em seus rostos.

Dona Conceição Maria de Jesus, nasceu em 12 de fevereiro de 1928,

no município de Divinópolis. Era filha de Antônio Gonçalves dos Santos

e Agripina Maria de Jesus. Vicente Pereira de Camargos, também

nasceu no município de Divinópolis em 15 de dezembro de 1925. Era

filho de Isaac Pereira e Dionísia Francisca de Jesus.

Conceição Maria de Jesus e Vicente Camargos

52

Célio Antônio Cordeiro


Ambos, desde adolescentes, foram acostumados ao duro trabalho

de subsistência familiar.

Ainda bem jovens se conheceram e começaram a namorar. Depois

de um curto período de namoro, contraíram matrimônio no dia 10 de

novembro de 1945, no Santuário de Santo Antônio, na vizinha cidade

de Divinópolis.

Do casamento, nasceram 11 (onze) filhos: Jandira, Isaac Pereira (falecido),

Maria de Lourdes, Agripina, Libério, Marta, Isaac Neto, Antônio,

Dionísia, Luiz Sobrinho e Sebastião (falecido).

Dona Conceição, feliz com seus netos

Dona Conceição, foi uma grande mãe e educadora e, com tantos filhos,

a vida não foi nada fácil. Além de cuidar com muito carinho dos

afazeres domésticos, ajudava muito na criação dos filhos, sempre

com muita luta. Lavava roupas, fazia quitandas para vender e diversos

outros tipos atividades. Sempre muito alegre e prestativa, o que

a fazia uma pessoa carismática e muito popular.

Pessoa de uma fé muito firme, frequentou o Apostolado da Oração,

Conferências Vicentinas e Legião de Maria. Um detalhe que marcou

muito sua vida, foi a alegria e serenidade no semblante, mesmo em

momento de tristezas e dificuldades. Amava muito a natureza.

NOSSA GENTE

53


Dona Conceição, Vicente e familiares no Reinado de N. Sra. do Rosário

Vicente Pereira foi também uma

pessoa que muito lurou nos trabalhos

da vida. Foi pedreiro,

carvoeiro, lavrador e fez outros

diversos tipos de trabalho. Sempre

rodeado por vários amigos.

Foi um grande amante de uma

cultura muito bonita de nossa

terra: a Folia de Reis e o Reinado.

No Reinado, participava e gostava

de acompanhar. Fez parte

de um grupo de Folia de Reis por

muitos anos.

O casal na Festa de N. Sra. do Rosário

Gostava muito da música sertaneja e como sua esposa, amava também

a natureza e gostava muito de cultivar plantações.

Viveram casados de 10 de dezembro de 1945 até o dia 12 de setembro

de 2012, quando Dona Conceição partiu para a eternidade.

Vicente Pereira teve um curto período de viuvez. No ano seguinte,

em 2013, no dia 04 de novembro também foi morar na pátria celeste.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 061, Out. 2017

54

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

55


D. a Ermelinda Maria e Melquíades Batista

“Uma comunidade que esquece o seu passado, não tem futuro”.

Dom Joseph Mahfouz

Eu sempre quis dedicar nesta coluna, homenagens a personalidades

do nosso querido distrito de São José dos Salgados. Naquela terra

querida, nasceram e viveram pessoas que muito dignificaram o nosso

município, nossos costumes, valorizando muito a nossa história e

nossa identidade.

Apesar de que nesta parte do livro, a coluna destaca histórias de casais,

a crônica é dedicada na verdade a três pessoas, importantes figuras

do município: Melquíades Batista Gomes de Miranda e dona

Ermelinda Maria das Dores (avós) e Maria Batista Bechelaine (professora

Fia, uma neta).

O casal D. Ermelinda Maria e Melquíades Batista

56 Célio Antônio Cordeiro


Melquíades Batista, nascido em aos 10 de dezembro de 1866, faleceu

em 21 de junho de 1936, em São José dos Salgados, onde está

sepultado.

Melquíades Batista casou-se com dona Ermelinda e tiveram cinco filhos:

Acácio, Maria, Conceição, Izaura e Josias. Este inesquecível casal

permanece vivo na memória de seus netos, bisnetos, trinetos e

tetranetos, em várias localidades de Minas e do Brasil.

Melquíades e sua esposa tivera grande influência, não só em Salgados,

como também, nas regiões mais próximas. Seu nome aparece

na história da vizinha cidade de São Gonçalo do Pará. Em sua casa,

eram recebidos os mais diversos visitantes, viajantes e candidatos,

em busca de apoio político. Lá, também se hospedavam os padres

visitantes e missionários.

Residência de Melquíades e dona Ermelinda, ao final do sec. XIX

O que era produzido em suas terras ia para o comércio das cidades vizinhas;

Divinópolis, Pará de Minas e Itaúna. Foi uma figura muito respeitada.

Homem de muita fé, tinha seu lugar habitual na capela que

ficava defronte a sua residência, hoje casa dos filhos de Josias Batista

Gomes (Jusa). Em fevereiro de 1915, foi designado Inspetor Escolar

da Instrução Primária, pelo município de Itaúna. Hoje, a principal rua

do distrito e a Escola Estadual trazem o seu nome.

NOSSA GENTE

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Dentre descendentes, dona Maria Batista Bechelaine, neta de Melquíades

(filha do casal Agostinho Batista de Souza Leite e de dona

Izaura Batista de Jesus), foi também uma grande personalidade que

construiu uma bela história, não somente no distrito, como também

em Carmo do Cajuru e em Itaúna.

Nascida aos 11 de setembro de 1916, iniciou seus estudos primários

na escola rural de Salgados e, posteriormente, concluindo-os no tradicional

Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje Escola Municipal. Neste

educandário, foi professora e diretora. Seu curso de magistério foi

feito na Escola Normal de Itaúna, concluído em 1934.

Foi uma dedicada educadora, que amava muito a arte de ensinar. Em

Itaúna, trabalhou como educadora no Grupo Escolar Souza Moreira,

em Santanense. Ali, chegou a ocupar a diretoria. Seu grande prazer

era a sala de aula. Foi transferida para o Grupo Escolar Jose Gonçalves

de Melo, onde trabalhou até se aposentar.

A professora Maria Batista Bechelaine e suas colegas do G. E. Princesa Isabel

58 Célio Antônio Cordeiro


Em 1945, casou-se com Nagm Antônio Mendonça Bechelaine. Desse

casamento nasceram quatro filhos. Dentre eles, o nosso querido Pe

José Raimundo Batista Bechelaine.

Dona Maria Batista deixou um

pequeno livro: “Traços de Giz

em Quadro Negro” em que casa

suas memórias pessoais com a

história regional. Ela sempre foi

conhecida por sua fé, o patriotismo,

a família e o magistério.

Suas memórias escolares, como

estudante e depois como professora,

marcadas pela tocante

singeleza, ficaram inacabadas,

pois veio a falecer aos 21 de fevereiro

de 1993, no Hospital Madre

Tereza, em Belo Horizonte,

tendo recebido os últimos sacramentos

por dom Cristiano Pena.

A professora Maria Batista Bechelaine

Para relembrar as vidas destas grandes figuras, no dia 11 de setembro

de 2016, na capela de São José do Salgado foi celebrada uma

missa pelos 100 anos do nascimento de D. Maria Batista Bechelaine

e pelos 80 anos do falecimento de Melquíades Batista Gomes de Miranda.

Um evento religioso e histórico, que contou com as presenças

de muitos familiares e amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 049, Out. 2016

NOSSA GENTE

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D. a Geni Mileib e Dico do Guilherme

Abrace como quem quer acolher, acolha como quem deseja ser solidário,

ajude como quem se coloca no lugar do outro.

Rozilda Costa

Dia 4 de junho de 1914, nascia Geraldo Rabelo da Silva, mais conhecido

como “Dico do Guilherme”, na comunidade de Ribeirão do Cervo,

em Cláudio. Durante a juventude, Dico costumava domar e barganhar

cavalos pelas proximidades daquela cidade. Foi então que, na

comunidade de Ribeiros, em Carmo do Cajuru, ele conheceu uma linda

moça - Geni Mileib - que, coincidentemente, também nascera no

dia 4 de junho, mas de 1923.

Apaixonados, casaram-se no dia 4 de junho de 1952, em comemoração

à data de seus aniversários, e foram morar em Ribeirão do Cervo.

O terreno no qual moravam foi parcialmente inundado pela construção

da Barragem e, com isso, eles receberam uma indenização. Com

a venda do que sobrou das terras, compraramum bom pedaço de terra

em Carmo do Cajuru, onde escolheram viver e criar seus oito filhos.

Dico do Guilherme e Geni Mileib

60

Célio Antônio Cordeiro


Foi chamado de louco pelos familiares, por comprar uma terra sem

muito valor e onde só havia serrado, inviabilizando a criação de gado.

Mas, com a sua amada e alguns filhos, ele persistiu nas terras, desbravando-a

com um carroção de bois, recolhendo e vendendo lenha,

que era o combustível para aquecer todos os fogões do município.

Assim, com a renda da lenha e do leite produzido por algumas vacas,

ele conseguiu construir a Fazenda Gameleira, mais conhecida como

“Casa do Dico do Guilherme”.

Sede da Fazenda Gameleira, a casa do amigo Dico do Guilherme

Com a construção da Barraginha, que fornecia água canalizada até a

estação de trem, Dico do Guilherme cedeu também um espaço para

a construção de uma caixa de captação de água para abastecimento

de uma boa parte da cidade.

Com a construção das torres de transmissão em seu terreno, Dico recebeu

uma indenização que lhe permitiu adquirir uma televisão e um

telefone, o de número 82 dos cem que tinha na cidade. A aquisição da

televisão era um atrativo para os moradores da rua José Fubá, que se

aglomeravam para assistir as telenovelas da época, e o telefone era

praticamente público, diante da escassez de comunicação, que fazia

esse meio de comunicação ser muito usado pela vizinhança.

NOSSA GENT

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Geni Mileib

Lembrança do casamento de Dico do Guilherme

e Geni Mileib, amigos de Cajuru do Cajuru

O casal Dico e Geni, em sua fazenda, se destacava entre os moradores,

pois eles eram muito receptivos, prestativos e simples, permitindo

a pernoite de tropeiros da região, o estacionamento para

charretes e carros de bois de muitos (que vinham da roça para as festividades

religiosas).

Sempre estavam a saciar a fome de muitos que vinham procurando

por trabalho, abrigo e comida, além de lhes dar a oportunidade

do primeiro emprego, contribuindo com a formação do caráter dos

mesmos.

Devido a essa aproximação com os mais carentes, eles se tornaram

integrantes ativos de várias instituições como creche, clube das

mães, comunidade São Vicente de Paula. Juntamente com alguns

parceiros mais influentes, conseguiram legalizar a aposentadoria de

muitos moradores, causando admiração e fortalecendo amizades.

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Célio Antônio Cordeiro


Com a ajuda do saudoso primo Nagib Mileib e de Amnys Rachid, eles

transformaram o serrado sujo, às margens da estrada, fundando o

bairro Nossa Senhora do Carmo, e permitiram ainda, que os trabalhadores

de baixa renda adquirissem lotes para construção de suas

casas, efetuando o pagamento de forma parcelada.

Visando também o desenvolvimento com qualidade do bairro, Dico

do Guilherme doou, em 1980, duas quadras para a construção de

uma escola, atualmente nomeada Escola Estadual Vigário José Alexandre.

Além da escola, foi doado também toda a faixa entre a praça

do bairro, até a capela de São Francisco que hoje é ponto de referência

para população.

O casal Dico do Guilherme e dona Geni Mileib, que apesar de não terem

sido nenhuma autoridade no município, tiveram uma passagem

notória, devido ao respeito e simplicidade com que tratavam as pessoas

e pela visão futurista para desenvolvimento do bairro e de nossa

querida Carmo do Cajuru

JORNAL BOCA DA MATA, n. 009, Jun. 2013

NOSSA GENTE

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D. a Lia e Dico Alexandre *

O Amor nasce da Fé, vive da Esperança e morre de Caridade.

Gian Cario Menotti

Nesta edição de Nossa Gente, vamos falar de um casal exemplar,

nascido e criado no simpático distrito de São Jose dos Salgados!

Fé, esperança e caridade são as maiores virtudes de um cristão. Elas,

porém, se resumem no amor, sem o qual nada que fazemos tem valor

ou sentido diante de Deus. O casal sobre o qual de agora em diante

escrevemos personificou estas virtudes e em tudo viveu o amor.

Alexandre Lopes Filho, mais conhecido como ‘Dico Alexandre’ e Maria

Araújo Lopes, chamada carinhosamente de ‘Dona Lia’.

Dico Alexandre e Dona Lia, abraçados pelo bispo D. José Belvino Nascimento, nas bodas de ouro,

em São José do Salgado

* O autor agradece a colaboração de Isac Ferreira Soares na elaboração desta memória

do exemplar casal D. a Lia e Dico Alexandre.

64

Célio Antônio Cordeiro


Alexandre nasceu em São José

dos Salgados, no dia 22 junho de

1924, filho de Alexandre Lopes

Camargos e Maria Ana de Jesus.

Dona Lia nasceu em São José

dos Salgados no dia 11 de janeiro

1906. Filha de Antônio Araújo

Lopes e Maria Vicente de Jesus.

Eles nasceram e foram criados

em São José dos Salgados. Ambos

de famílias religiosas, cresceram

recebendo a fé através

dos pais. Deles também herdaram

o gosto pelas coisas de Deus

e a disponibilidade para servi-lo.

Se casaram em 21 de setembro

de 1942. Tiveram 11 filhos: Maria

dos Anjos, José Raimundo, Maria

José, Antônio Paulo, Alexandre,

Jair, Jadir, Maria Angelina,

Jurandir, Vandeir e Maria Aparecida.

Dos filhos receberam 20

netos e 11 bisnetos.

Dico Alexandre, em Aparecida do Norte

Dona Lia e Dico Alexandre na festa de casamento de um filho

NOSSA GENTE

65


Parentes de Dico Alexandre

Como receberam dos pais, também transmitiram aos filhos e netos

a fé e todos bons exemplos de uma família religiosa. Este casal era

conhecido por todos pela sua união, humildade e simpatia. Sempre

juntos em todos os momentos.

O senhor Dico Alexandre se destacava na comunidade pela sua dedicação;

servia o Altar do Senhor e seu povo. Foi Dirigente de Culto, Ministro

da Eucaristia, membro e animador do Congado e Folia de Reis.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, uma verdadeira filha de Maria,

Dona Lia acompanhava seu esposo nas missas do final de semana e

em todas as festas da comunidade. Ela como membro do Apostolado

da Oração, fazia valer a fita que carregava entre os ombros. Era uma

missionária do Coração de Jesus.

Dico Alexandre no Reinado de São José do Salgado

66

Célio Antônio Cordeiro


Dona Lia e Dico Alexandre, no batizado do neto

Este casal morou quase toda vida na conhecida Volta do Brejo e, por

isso, se deslocavam de uma distância considerável para estar presentes

na comunidade. A distância, a estrada de terra sem iluminação,

nada disso era desculpa ou justificativa para se ausentarem das suas

obrigações. Sempre juntos, nunca separados. O exemplo deles pode

nos ajudar e muito nos dias de hoje. Pois viveram quase 64 anos casados.

Dona Lia faleceu aos 80 anos, no dia 04 de setembro de 2006. O senhor

Dico, no mesmo ano, aos 19 de dezembro, com 82 anos. Foram

ao encontro do seu Criador, para lá também continuarem lado a lado

como aqui sempre estiveram.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 081, Jun. 2019

NOSSA GENTE

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D. a Maria José e Moussa Bcheleny *

Há seis requisitos necessários para um casamento ser feliz:

o primeiro chama-se Fé, e os outros cinco, Confiança.

Elbert Hubbard

Uma das causas de muitos problemas que as famílias e a sociedade

atualmente enfrentam está na ausência de valores, na dificuldade de

transmiti-los através da educação.

Um modo interessante de manter e repassar valores às gerações novas

é a lembrança e comemoração dos fatos e personagens familiares.

Para toda pessoa, é significativo saber que está inserida numa

tradição, que tem história, uma identidade e origem. É estimulante,

isto é, faz bem à nossa autoestima.

No último 30 de agosto, completou-se um século da celebração matrimonial

que consagrou a união dos avós paternos deste articulista.

Dona Maria José e Mussa

* O colunista agradece a gentileza do padre José Raimundo Batista Bechelaine em ceder

a crônica “Cardenetas de Mussa”,que homenageia o notável casal Maria José e Mussa

68 Célio Antônio Cordeiro


O casamento uniu um jovem

imigrante à tradicional família

dos Mendonças de Pará de Minas.

Alguns destes vieram para

o distrito de Sant’Ana (hoje Itaúna),

onde viveram até o fim de

suas vidas: Jose Tito de Oliveira

com a esposa Maria José Mendonça

e os filhos Vicente, João,

Alzira, Isabel e José.

Voltemos no tempo: começava

o ano de 1892. Em Salima, nas

encostas do monte Líbano, bem

perto de Broumana e de Beirute,

quase às margens do mar Mediterrâneo,

aos 20 de janeiro,

nasceu Mussa (Moisés). Os pais

eram Jamile Mitre e Tanios Nacif

Bcheleny. A Família era cristã

Maria José e Mussa, jovem casal

maronita, como lá se diz. Católica,

como se diz aqui. No Oriente Médio, a pertença religiosa tem

significado também jurídico e político. Aos 15 anos, com parentes e

conterrâneos, veio para o Brasil. Nunca mais o rapaz veria seus pais

e sua terra.

A viagem, longa e penosa, fazia-se de navio, passando pelo porto de

Marselha, no sul da França. O irmão Jorge estabeleceu-se em Cláudio,

onde se casaria com a bela Nagibe, ali deixando filhos e netos.

Poucos anos depois, chegaria sua irmã Nímun (Nêmona), para juntar-

-se ao marido Nacife Mitre e à filha Tesbina, que tinham vindo antes.

Mussa abriu loja em Pará de Minas, em sociedade com primo. Em

dia de amoroso encantamento, viu passar uma jovem. Chamava-se

Maria José, o mesmo nome da mãe. No segundo dia, trocaram palavras.

No terceiro dia, pediu-a em casamento. A moça se encantara

com os olhos azuis e sotaque do “turco”. Tinha já um namorado, mas

terminou o namoro.

NOSSA GENTE

69


Em poucos meses casaram-se aos 30 de agosto de 1913, na Matriz de

Nossa Senhora da Piedade. Cem anos são transcorridos.

No comércio, havia a prática das Cadernetas, onde se registravam os

débitos dos fregueses. Numa dessas ‘cardernetas’, no seu português

claudicante, Mussa passaria a registrar os caminhos da sua existência,

o crescimento da família.

Na primeira página escreveu: “a Data de meu casamento que foi no

dia 30 di agosto di 1913 Pará de Minas”. Meses depois: “a 56 orase 50

minutos do dia 19 di jonho di 1914 naseu Najmn o primeiro filho Cidade

do Pará de Minas”. Dois anos transcorreram: “as 9 horas di segonda

feira di dia 13 de nofembro de 1916 naseu segondo filho Armando Parade

Minas”. Um ano depois: “e dia 15 de 9bro de 1917 a 8 e meia oras

da noite falesceu o segondo filho Armando Para de Minas”. Na data

seguinte: “as 1 oras e meia da tardse da sábado de 8 de jonho de 1918

nasceu Jamili tercera Para de Minas”.

Dois anos após: “as 3 horas da noite de Domingo de 23 de maio de 1920

naseu Jamil 4º filho Claudio Minas Brasil”. Como se vê, a família se

havia mudado para Cláudio. Dois anos depois: “as 1 oras da noite de

Domingo 1 di otobro di 1922 naseu 5º filho Abib Claudio Minas Brazil”.

Transferem residência para Itaúna, como consta a seguir: “a 11 oras

no dia terça feira di 1 di abril di 1924 naceu o 6º filho Roza Itauna Minas

Brazil”. Dias depois, outro registo: “faleceu Roza”. O ano seguinte

traria outra filha: “a uma ora depois de maio dia di quarta feira de 18 di

março di 1925 naceu Ilena 7ª em Itauna Minas Brasil”. Mais um ano e a

família volta a crescer: “em 20 de jolho di 1916 no dia di terça-feira as

11 oras di noite em cidadi de Itauna de estado di Minas Brazil naceo o 8º

filha por nome di Edelia”. Dois anos mais tarde: “No dia 1º di dezembro

as 4 e meia oras da tarde de 1928 nasseu o 9º filho por nome de Nelson

na cidade de Itauna Minas Brazil”.

Os anos de 1929 e 1930 passariam em branco: “terça feira do dia 17

de Março de 1931 as 7 e meia da tardi naseu o 10º filho o que si chama

Raimondo Itauna”. No ano seguinte: “no dia 29 di maio de 1932 naseu

seu 11º vilho o que si chama Antonio voi na cidade de Itauna Minas”.

70 Célio Antônio Cordeiro


No mês seguinte, registrava-se: “Antonio faleseu no dia 24 di jonho di

mesmo ano”. Um ano se passa; “quarta-feira di dia 7 de jonho di 1933

naseu o 12º. Vilha as 2 oras da tarde di nome di rene Itauna Minas”.

A numerosa família transfere-se para o distrito de Cajuru de Itaúna,

onde nasceria o caçula: “No dia 6 di otubro di 1936 naseu o 13º vilho por

nomi di Antonio no Cajuru moncipio di Itauna”.

Assim se encerra as anotações. Tudo transcrito em letra trêmula. Em

esforçado português, para que os descendentes pudessem ler. A Cardeneta

de Mussa é sagrada, santas letras. É relato de êxodos, amor

e trabalho, e mortes, é bíblia familiar. É história sem fim, que se derrama

no tempo e nos espaços. Aqui e ali, continua a fazer-se e a ser

escrita (J. R. Batista Bechelaine).

JORNAL BOCA DA MATA, n. 013, Out. 2013

NOSSA GENTE

71


D. a Maria Terezinha e Walter da Fonseca

Faça todo o bem que puder. Por todos os meios que puder. De todas as maneiras que puder.

John Wesley

Nesta crônica se misturam alegrias e saudades.* Walter Rabelo da

Fonseca, popularmente conhecido por Sô Tico, entre os amigos

“mais chegados”, por Jacó ou Coronel, nasceu em Carmo do Cajuru,

no dia 8 de janeiro de 1927, filho de Joaquim Rabelo da Fonseca e

Ladomilia da Fonseca e Silva.

Trabalhou como alfaiate e foi funcionário público da Prefeitura Municipal

por décadas. Foi integrante assíduo e dedicado das comissões

das festas de São Sebastião e Nossa Senhora do Carmo. Não media

esforços para ir à zona rural buscar as doações para os festejos, sendo

fervoroso devoto.

* O autor agradece a colaboração de Mirna, Mara, Mary e Miriam, filhas do casal em

destaque, na elaboração desta memória. Texto que agregou um amor incondicional pelos

pais, em nome delas e em nome dos genros, netos e bisnetos:

“Somos frutos dessa árvore Sô Tico e Dona Zinha, que continua plantada e enraizada

em cada um de nós. Eles se foram, mas nos deixaram um legado de amor,

honestidade, união, fraternidade e honradez; valores esses, que jamais serão

esquecidos. A eles o nosso amor eterno e saudades infinitas”.

72 Célio Antônio Cordeiro


Esteve à frente do “Projeto Mobral”, levando a todas as comunidades

rurais do município, a oportunidade da alfabetização e letramento.

Atuou esporadicamente na Banda de Música Santa Cecília, onde tocava

o afoxé e o banjo.

Era um amante do futebol, tendo sido um dos fundadores e um exímio

jogador do Tupy Futebol Clube, seu time do coração. Era torcedor

apaixonado pelo Clube Atlético Mineiro. Participava ativamente

da ornamentação dos andores da Semana Santa.

Sô Tico e dona Zinha

A esposa do Sô Tico, dona Maria

Terezinha Guimarães Rabelo,

nasceu em Carmo do Cajuru, no

dia 6 de julho de 1935, filha caçula

de Jose Jeovah Guimarães

e Maria Elísia Guimarães. Dona

Zinha era conhecida pelo seu

rosto angelical, sua doçura e seu

sorriso encantador.

Foi costureira por muitos anos e gostava de confeccionar roupas para

crianças, onde mostrava suas prendas em bordados, rendas, tricô e

crochê. Casou-se aos 19 anos, com o Sô Tico, no dia 30 de setembro

de 1954.

Dona Zinha foi colaboradora da Paróquia Nossa Senhora do Carmo,

onde teve grande participação no Coral Nossa Senhora do Carmo,

ornamentação de altares da Matriz e dos andores de São Sebastião,

Nossa Senhora das Dores, Senhor dos Passos, Cristo Ressuscitado,

São Vicente e outros. Tarefas essas sempre auxiliadas pelo seu esposo.

Tomada de zelo, confeccionava e bordava as vestimentas, túnicas,

anjos, arranjos e flores para as imagens e andores, conferindo

sua originalidade em toda a ornamentação.

O casal teve quatro filhas: Mirna, Mara, Mary e Miriam. Seis netos:

Eduardo, Leonardo, Bernardo, Renato, Anna Elísia e Rafael. Hoje

tem dois bisnetos: Gabriel e Rafael, que, infelizmente, não vieram a

conhecer.

NOSSA GENTE

73


Sô Tico, ladeado por dona Zinha e filhas

Eles eram muito religiosos e testemunhavam essa espiritualidade,

recitando diariamente o Terço e sendo assíduos na missa dominical.

Foram membros da conferência Vicentina Nossa Senhora Auxiliadora.

Participaram por muitos anos dos grupos de Encomendações de

Almas, tradição antiga de nossa cidade.

Sô Tico, ladeado por dona Zinha, filhas, genros e netos

74 Célio Antônio Cordeiro


Sô Tico e Dona Zinha, viveram e seguiram os mandamentos de Deus

e sabiam que neles encontrariam proteção e valorização da vida. Viveram

juntos como a vida sendo um privilégio, em desafio, um sonho,

uma esperança e uma missão.

No dia 17 de setembro de 1997, Sô Tico partiu para a eternidade, deixando

um vazio muito grande. Dez anos depois, no dia 10 de maio de

2009, foi a vez de Dona Zinha ir para junto do Pai e ao encontro de

seu companheiro de caminhada.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 091, Abr. 2020

NOSSA GENTE

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D. a Preta e Salomão *

Amar é sentir na felicidade do outro a própria felicidade.

Leibnitz

Maria Vilela Fonte Boa (Dona Preta), nascida no dia 11 de julho de

1925, na comunidade de Cláudio. Filha de João Vilela da Fonseca e

Ambrozina Ferreira de Jesus. Casou-se com Salomão Fonte Boa, filho

de Jorge José Fonte Boa e Afonsina da Fonseca Fonte Boa. Nascido

em um distrito dessa cidade, no dia 27 de novembro de 1918.

Salomão e Dona Preta, casaram na Igreja da matriz de Nossa Senhora

do Carmo, no dia 27 de maio de 1944. Depois de casados foram

morar na fazenda de seu pai, chamada “Canta Galo”. Viveram nesta

fazenda, felizes, por 10 anos e tiveram 5 filhos: Dora Stela, Maria

Cleusa (Ita), Dinajara, José Fernando e Jane.

Dona Preta (Maria Vilela) e Salomão Fonte Boa

* O autor agradece a colaboração de Ita Fonte Boa na elaboração desta memória do

exemplar casal D. a Preta e Salomão.

76

Célio Antônio Cordeiro


Dona Preta tinha um jeitinho doce, uma beleza especial, mas seu coração

era de uma verdadeira guerreira, batalhadora, que acalmava

com sua ternura e vencia com sua paciência. Sabia enfrentar a dor

e a perda, aquela que nunca tombava pelas armadilhas da dor. Era

um diamante lapidado por Deus, um verdadeiro orgulho para quem

a conheceu.

Era muito religiosa. Fazia parte do Apostolado da Oração, “Sagrado

Coração de Jesus”. Frequentava a Conferência de São Tarcísio. Gostava

de fazer caridade; sempre ajudava os menos favorecidos.

Dona Preta e Salomão, em reunião de família com filhos e netos

Salomão sempre foi amante da leitura. Seu sonho de juventude era

fazer odontologia, mas faltou-lhe oportunidade. Ele sempre dizia:

“Estuda, o estudo é muito importante para a vida, é através dele que

teremos um futuro melhor”.

A única vez que um filho conseguia um abraço dele ou um parabém,

era quando apresentava um diploma. Por esse motivo deixou a fazenda

e veio para a cidade em busca do conhecimento para os filhos.

A cidade era outro mundo, teve que adaptar a uma nova vida.

NOSSA GENTE

77


Acostumado com a vida do campo, mudou a sua profissão. Comprou

então uma serraria, que veio a dar muito certo. Tudo do jeito que precisava.

Os filhos estudando e ele se dando bem na nova profissão.

Alguns anos depois, com o falecimento da sua mãe, vendeu a serraria

e voltou para a fazenda.

Salomão adorava ver filmes. Sua paixão era tão grande que comprou

o cinema da cidade. Quando surgiu a tevê a cores, o filme passou a

não dar mais retorno financeiro, então, foi obrigado a fechar.

Dona Preta e Salomão, em confraternização familiar

Grande homem de caráter, exemplo de pai, marido e cidadão. Um

exemplo que transmitiu aos seus filhos, as maiores heranças que um

pai poderia ensinar: ter fé, educação, respeito.

Uma das características em que ele se destacava era ser solidário. Estava

sempre disposto a ajudar. Fez parte das festas de São Sebastião,

era um dos coordenadores. Foi vicentino por muitos anos, ajudava a

cuidar dos socorridos. Naquela época, muitos sofriam com a tuberculose,

então, ele deixava seu trabalho para levar os doentes para

fazer tratamento em, Belo Horizonte.

78

Célio Antônio Cordeiro


Dona Preta e Salomão, um casal feliz

Ajudou e foi um dos fundadores da Vila Vicentina. Lembro com clareza

o dia tão abençoado da primeira pedra fundamental, onde foi

colocado uma caixa com documentos e nomes de pessoas, que deram

o primeiro passo na construção de tão grande obra, que até hoje

acolhe pessoas com muito carinho.

Dona Preta e Salomão viveram um grande amor, por mais de 50 anos.

O amor entre ele era tão grande, tão verdadeiro, que nada abalava

e que resistia a qualquer dificuldade. Sempre unidos nos momentos

bons e ruins – e foram muitos. Sempre um ao lado do outro.

Já no leito de morte, Salomão pediu que ela não se casasse de novo e

escreveu uma mensagem para Dona Preta com os dizeres: “Me ensinou

a te amar/ me ensina a te esquecer”.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 071, Ago. 2018

NOSSA GENTE

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D. a Nair Miranda e João Arcanjo

Em casa, entre pais e filhos, pode-se aprender a amar, ter respeito, fé,

solidariedade, companheirismo e outros sentimentos

John Wesley

É sempre muito gratificante para este cronista ter oportunidade de

relembrar de pessoas que aqui viveram, deram seus recados e deixaram

importantes legados, que nos servem de exemplos para sermos

bons cidadãos.

João Pedro Arcanjo, conhecido carinhosamente por João Tocha, apelido

dado por ter sido por algum tempo, portador da tocha que sempre

acompanhava a Banda de Música durante as procissões religiosas

realizadas à noite.

Dona Nair e João Tocha

Nascido em 11 de agosto de 1921, era filho de Pedro Arcanjo e de

dona Rufina. Desde muito jovem, era muito dedicado aos seus pais

e também ao trabalho. Nos anos 1940 conheceu a bonita jovem Nair

Santos Miranda e em 30 de outubro de 1943, contraíram matrimonio.

80 Célio Antônio Cordeiro


Dona Nair e João Tocha, com sua grande família

Dona Nair Santos Miranda, nasceu em 1o de novembro de 1924, filha

de dona Maria da Conceição de Jesus e de Alfredo Miranda. Do casal,

nasceram 12 filhos, quatro deles falecidos. Vivos estão: Geralda,

Geraldo, José Murilo, Antônio, João Batista (Zinho), Valter (Tinho),

Maria José e Marcelo.

O casal sempre batalhou muito para criar a família numerosa. Ambos,

pessoas do bem: ela professora, costureira e quando podia,

através de orações, benzia muitos que a procuravam. Sempre dizia,

quem cura é Deus através da fé. Esse ato benéfico a tanta gente era

feito sem custo, com o intuito de ajudar as pessoas. Foi uma grande

mãe que sempre prezava o bem-estar da família sem jamais deixar

as lidas diárias.

O senhor João Arcanjo, foi um dos operários da construção da barragem

da represa Cajuru, nos anos 1950. Foi funcionário público da

Prefeitura Municipal, onde veio a se aposentar. Exerceu diversos tipos

de trabalho durante sua vida. Trabalhou na padaria de Jamil Antônio

Bechelaine (Sô Nenem) e de Maria de Lourdes Menezes (Nina)

NOSSA GENTE

81


– a esse casal, senhor João e dona Nair, tinham uma imensa gratidão,

tendo-os como verdadeiros irmãos, pois sempre foram muito ajudados

por eles, inclusive na construção da casa onde moraram, como

presente de amigos.

Dona Nair faleceu em 7 de agosto de 1984. João Arcanjo veio a falecer

quase 20 anos depois, ou seja, em 1o de setembro de 2003.

Em belo texto escrito pelo filho Valter “Tinho” Arcanjo, são lembrados

com carinho “várias pessoas amigas de Carmo do Cajuru, filhos

desta terra, e nossos tios Geraldo, Sina e Maria (por parte de pai) e

Heli Benedito (Mãe Preta), Luiz (Dentinho), Doralice, Laurice e Aparecida

(por parte de mãe).

“Dizer o quanto estimamos nossos pais, tios e tias e irmãos, é chover

no molhado, pois sempre fomos e ainda somos muito unidos e

Carmo do Cajuru é a nossa casa, é aquela cidade onde recebemos a

todos por igual. Feliz por morar aqui, feliz pela família que temos,

feliz pelos amigos... de nossa terra, nossa gente”.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 084, Set. 2019

82 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Teresa Maia e Abib Bechelane

O casamento feliz é e continuará a ser a viagem de descoberta

mais importante que o homem jamais poderá empreender.

Soren Kierkegaard

Quando deparamos com história de casais que tiveram longa vida

matrimonial, podemos deduzir que ao longo trajeto de suas vidas

houve amor, compreensão, doação e cumplicidade. Então, vamos falar

sobre um casal que exemplifica bem esses requisitos: dona Tereza

Maia Bechelane e Abib Antônio Bechelane.

Abib Antônio Bechelane, mais conhecido como Rabib, nasceu na vizinha

cidade de Cláudio, no dia 1o de outubro de 1922, filho de Moisés

Antônio Bechelane, natural de Salima, no Líbano, e Maria José de

Oliveira, natural de Pará de Minas.

Dona Tereza Maia e Abib Bechelane

84 Célio Antônio Cordeiro


Era o terceiro filho de nove irmãos. Veio para Carmo do Cajuru por

volta de 1934, depois de ter residido em Cláudio, Pará de Minas e

Itaúna. Fixou residência em Carmo do Cajuru e, na década de 1940,

conheceu a senhoria Tereza Maia, com quem se casou em 28 de setembro

de 1946. Ele tinha 24 anos e ela, 18. Tiveram oito filhos: Múcio

(que faleceu ainda bebê), Sandra, Elizabeth, Geraldo, Ronaldo,

Samira, Ricardo e Antônio Carlos e mais 13 Netos e 9 bisnetos.

Teresa Maia Bechelane nasceu em 19 de julho de 1927, em Carmo do

Cajuru. Era filha de um segundo casamento de Augusto Domingues

Maia e dona Maria Augusta Maia (Licota)

Rabib exerceu diversas atividades

na cidade. Trabalhou como

seleiro e sapateiro, além de ser

proprietário de um curtume e de

um açougue. Em 1966, aos 44

anos, abriu a loja “Casa Abib”,

na rua Tiradentes, onde ficou

por um bom tempo. Depois, mudou-se

para uma sede própria,

na mesma rua, administrada por

ele e pela sua esposa Teresa por

vários anos.

Dona Tereza e Abib, comemoram Bodas de Ouro

Na loja, vendia presentes; utilidades

domésticas; tecidos para

cama/ mesa/ banho; roupas e

aviamentos. Nos últimos anos,

as vendas se concentraram em

tecidos e aviamentos.

No comércio, Rabib e dona Teresa tornaram-se pessoas muito populares,

construindo muitas amizades, tanto da cidade, como no meio

rural. Ele se identificou tanto com sua profissão de comerciante de

loja, a ponto de muitos clientes se referirem a ele como o “Rabib da

Loja”. Embora não tenha sido somente esse o seu ganha-pão, era sua

NOSSA GENTE

85


base econômica e que auxiliava muito em manter boa criação e educação

da família, conforme já mencionamos, antes de envolver-se

em labores diferentes.

Aposentou-se com 85 anos. Durante muito tempo, exerceu um belo

trabalho voluntário de ser Juiz de Paz em nossa cidade. Realizou um

grande número de casamentos no cartório de Carmo do Cajuru. Faleceu

em 25 de agosto de 2012, aos 89 anos.

Dona Tereza e Abib, celebram com os filhos

Dona Teresa, além de uma grande esposa e companheira, cuidava

muito bem de sua numerosa família. Trabalhou como servente no

Grupo Escolar Vigário José Alexandre, hoje E. E. Vigário Jose Alexandre

por mais de 10 anos.

Era exímia costureira, confeccionava camisas, calças, fronhas e lençóis.

Foi uma pessoa, tranquila, simples e serena. Gostava muito de

contar os ‘causos’ de sua mocidade e cantar as músicas de sua época.

Apreciava muito os almoços de domingo com os familiares. Faleceu

em 31 de dezembro de 2014, aos 87 anos.

86 Célio Antônio Cordeiro


Rabib e Teresa viveram casados por mais de 66 anos. Tiveram o privilégio

e a graça de comemorarem juntos aos familiares, várias bodas

de matrimônio.

Além da dedicação ao trabalho, tinham olhares e ações em prol de

uma boa criação da família. Sempre foram pessoas boas e acolhedoras

no meio social.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 097, Out. 2020

NOSSA GENTE

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88 Célio Antônio Cordeiro


MULHERES INESQUECÍVEIS

NOSSA GENTE

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90 Célio Antônio Cordeiro


D. a Afonsina do Juca

Na sua casa humilde e abençoada não faltava coragem, dedicação, carinho, fé e bondade.

C.A.C

Afonsina Silva Moreira, provinda de família humilde, nasceu em 8 de

janeiro de 1933. Desde sua infância e adolescência, já se mostrava

uma pessoa muito dedicada ao trabalho.

Ainda bem jovem, casou-se com José Moreira Filho, também uma

ótima pessoa e muito trabalhador, com quem conviveu por longos

anos, até a viuvez. Deste casamento, surgiram 13 filhos e com a família

tão numerosa, ainda tiveram o lindo gesto de adotar uma criança

desamparada.

Durante sua vida, foi uma verdadeira guerreira. Carregava consigo

uma imensurável alegria, marcada por suas canções. Esposa e mãe

muito comprometida, sem deixar de dar toda a atenção a vida caseira,

que não era nada fácil, ainda se dedicava muito às festas religiosas

da cidade.

Dona Afonsina, na ala das baianas da Escola de Samba Unidos do Pavão Dourado

NOSSA GENTE

91


Dona Afonsina Silva Moreira e José Moreira Filho

Sempre teve a admiração de vários padres, que por aqui passaram.

Ficavam impressionados com seu modo de viver. Com tanto trabalho

e provações, que são muito comuns às mães de famílias numerosas,

ainda deixava transparecer em seu semblante a alegria e o grande

amor pela vida.

Foi uma pessoa que se destacou muito nas festas do Reinado, uma

das principais manifestações culturais de Carmo do Cajuru.

Católica fervorosa, sempre marcava presença em celebrações religiosas,

como missas e procissões. Foi Rainha de Santa Isabel por

muitos anos. Tinha um enorme prazer em receber em sua casa as

guardas de congo.

Dona Afonsina do Juca, entre os netos Renata e Joel

92 Célio Antônio Cordeiro


Familiares de Dona Afonsina, em apresentação de Reinado

Dona Afonsina, presença marcante nas comemorações do Reinado

Dona Afonsina se destacou muito em outra festa tradicional de Carmo

do Cajuru, o Carnaval de Rua. Por várias vezes, apareceu na linha

de frente, na Escola de Samba Unidos do Pavão Dourado.

Sempre foi uma pessoa de muitas amizades e de uma incrível popularidade.

Com sua alegria sempre estampada no rosto, acolhia a

todos sempre com uma boa e animadora conversa.

NOSSA GENTE

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Com o passar dos tempos, a família aumentava cada vez mais, surgindo

um grande número de netos e bisnetos. Os filhos e netos a tinham

como a grande matriarca que dava e recebia o carinho de todos.

Em 21 de fevereiro de 2010, com a saúde bastante debilitada, veio a

falecer. Sua morte causou muita tristeza, não só nos familiares como

também ao grande número de amigos e admiradores.

Dona Afonsina nos deixou vários exemplos: honestidade, alegria de

viver, dedicação ao trabalho e principalmente a fé. Para quem a conheceu,

deixou também muita saudade.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 019, Abr. 2014

94 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Ana Izabel de Jesus

Educar-se é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano.

Paulo Freire

Ana Izabel de Jesus, filha de Antônio

Gomes Neto e Izabel Batista

de Miranda, nascida em 29 de

setembro de 1907 ,em Carmo do

Cajuru, foi a primeira normalista

e professora formada da cidade.

Iniciou seus estudos com professor

particular, na zona rural,

no distrito de São José dos Salgados,

com o professor Roberto

Mourão. Em Carmo do Cajuru,

teve aulas com a Dona Josefina,

também professora particular,

uma vez que não havia ainda o

Grupo Escolar.

Terminando o curso considerado

primário, hoje as quatro primeiras

séries do Ensino Fundamental,

foi continuar os estudos em

Itaúna, na Escola Normal Manoel

Gonçalves., onde foi aprovada

no exame de Admissão, em

1925.

Ana Izabel de Jesus, uma das primeiras

professoras do Grupo Escolar (hoje, Escola

Municipal) Princesa Isabel (1929)

96

Célio Antônio Cordeiro


Na época, o curso de formação

para professor correspondia ao

Ensino Médio com a duração de

três anos. Em 1928, formou-se

normalista e voltou para Carmo

do Cajuru, quando foi admitida

como professora no Grupo

Escolar (hoje Escola Municipal)

Princesa Isabel, em 1929. Esta

escola fora inaugurada no ano

anterior.

Na Escola Princesa Isabel, foi

Ana Izabel, formanda de Magistério (1928)

professora primária por muitos

anos e, por suas qualidades pessoais

e profissionais chegou à Diretoria da Escola, cargo que ocupou

por quatro anos. Mais tarde, foi Auxiliar da Diretoria, aposentando-

-se depois de completar 25 anos de carreira em 1954.

Foi casada com Joaquim Custódio da Silva e, após a aposentadoria,

passou a viver, até 1990, na fazenda Recanto da Felicidade, nome

dado por ela àquele lugar impregnado de amor e paz.

O casal Joaquim Custódio Silva e D. Ana Izabel de Jesus

NOSSA GENTE

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Professora Ana Izabel, e suas colegas do grupo Escolar Princesa Isabel, anos 1950

Teve sete filhos: Célio ( falecido ainda criança ), Maria Helena, Carlos,

Cloves, Custódio, Claudionor e Maria Inês.

Sempre muito romântica e apaixonada pela fazenda, deixou para os

filhos, a mesma paixão pelo lugar onde passou muitos anos da sua

vida. Pessoa curiosa pelo saber, alegre, educada e feliz viveu até os

94 anos. Faleceu em maio de 2001. Deixou saudades eternas e marcou

presença na vida de quem a conheceu .

Em vida, recebeu homenagens da Câmara Municipal (Comenda Caa-

-yuru), da Escola Municipal Princesa Isabel e também do Rotary Clube

de Carmo do Cajuru.

Aualmente, dá nome à Casa da Cultura de Carmo do Cajuru, instalada

na antiga Casa Paroquial.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 013, Nov. 2013

98

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Balbina Gonçalves *

A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma

e a eleva acima de sua condição

Aristóteles

É incabível falar de música e de

cultura em nossa querida Carmo

do Cajuru sem deixar de lembrar

e de falar em Balbina Gonçalves

ou simplesmente Dona Bininha,

como ficou carinhosamente conhecida

por todos.

Nascida em Carmo do Cajuru,

em 1º de novembro de 1917, dia

dedicado a todos os santos, filha

de Juscelino Gonçalves e de

Dona Maria Santos. Seus avós

maternos foram: Cristino Marra

da Silva e Dona Maria Cândida.

Pelo lado materno, era neta de

Dona Ana Maia e Francisco Caetano.

Iniciou seus estudos, no Grupo

Cantora cajuruense Balbina Gonçalves (Bininha) Escolar Princesa Isabel, sendo

sempre uma aluna de grande

destaque, tanto no aprendizado, quanto em participações artísticas

que se realizavam naquele educandário.

Mais tarde, tornando-se professora (leiga) no mesmo Grupo Escolar.

Era portadora também do dom de ensinar e educar bem as crianças.

* O autor destaca a contribuição do jornal “Sol Nascente”, na elaboração desta memória.

100

Célio Antônio Cordeiro


Bininha no coral N. Sra. do Carmo, nos anos 1970, em apresentação na Matriz

Bininha dedicou grande parte de sua vida à música. Dona de uma voz

muito afinada e marcante, começou a demonstrar esse talento desde

os tempos de criança, quando era aluna do Princesa Isabel e como

coroadeira no mês de maio na matriz Nossa Senhora do Carmo.

Ainda muito cedo, passou a integrar ao coral da Matriz, fato que durou

por mais de 60 anos.

Nas atividades pastorais da Paróquia, sempre se destacou pela boa

vontade e pelo amor ao trabalho, em prol da igreja e do povo. Fez

parte do Conselho Pastoral Paroquial, foi ministra da Eucaristia,

Apostolado da Oração e Pastoral Carcerária.

Quando chegava a Semana Santa, fazia um trabalho difícil de ser

exercido: além de cantar no coral, se responsabilizava em repartir

envelopes nas casas e no recolhimento de contribuições.

Sua morte aconteceu de forma inesperada, em plena atividade no

que ela amava tanto: cantar no Coral da Matriz (Coral Nossa Senhora

do Carmo). No sábado, dia 21 de janeiro, depois de assistir à missa

das 19 horas, sentiu uma forte dor de cabeça, sendo hospitalizada no

domingo de manhã e vindo a falecer seis dias depois.

NOSSA GENTE

101


Bininha no coral N. Sra. do Carmo, já regido pelo jovem Edson Vilela, ao início dos anos 1980

Na manhã do dia 27 de janeiro de 1994, tivemos a triste notícia de

seu falecimento, abrindo assim uma grande lacuna, principalmente

na música sacra e litúrgica de nossa cidade. Foi celebrada uma missa

de corpo presente, pelo padre Amarildo José de Melo, com a homilia

proferida pelo padre José Raimundo Becheleine e em seguida o sepultamento

no cemitério local.

Até hoje, recordamos com muita saudade, dos tempos em que ela

cantava os motetos na Semana Santa, as ladainhas no mês de maio,

no coral em celebrações religiosas e em tantos outros eventos, em

que ouvíamos a sua bela e inconfundível voz.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 034, Jul. 2015

102

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

103


D. a Conceição Maria de Jesus

“A beleza está na simplicidade... Está no olhar...

A beleza é uma brisa suave de um coração cheio de fé, esperança e amor”

Aristóteles

Esta crônica é dedicada a dona

Conceição Maria de Jesus, nascida

em 3 de agosto de 1922, na

comunidade de Boa Esperança,

no município de Divinópolis, e

posteriormente veio morar em

Carmo do Cajuru.

Provinda de família modesta,

ainda cedo, conheceu as durezas

das labutas da vida para ajudar

os pais e familiares. Era filha

de Antônio Bernardo de Oliveira

e de Dona Maria de Jesus.

Ainda jovem, casou-se com Joaquim

Manoel Caetano, com

Dona Conceição Maria de Jesus

quem construiu uma família numerosa

de 7 filhos: Geraldo Caetano (Deco), Libério, Jésus, Plínio,

João Caetano, Aparecida e Antônio Caetano. Dessa geração, surgiram

30 netos, 47 bisnetos e 11 tataranetos. Foi uma grande esposa e

mãe exemplar, sempre entregue aos cuidados de sua família. Cozinhava

e fazia quitandas com muita arte e perfeição.

Desde a infância, dona Conceição já tinha grande devoção a Nossa

Senhora e a diversos santos. Adolescente, já possuía o hábito de rezar

o Terço todos os dias e com o tempo, descobriu o dom de rezar

pelas pessoas.

104 Célio Antônio Cordeiro


Quando alguém reclamava de algum mal, ela fazia orações pela

pessoa que, depois voltava para agradecer-lhe, porque as orações tinham

feito muito bem para aquele mal ou incômodo.

Com as notícias, foi crescendo o número de pessoas que a procuravam

para solicitar suas orações. Ficou muito conhecida em Carmo

do Cajuru, em cidades vizinhas a até mesmo em outros estados. Sua

casa estava sempre cheia de pessoas que vinham de perto ou de longe

para serem atendidas em orações.

Dona Conceição e o senhor Manoel Caetano

Dona Conceição comemora seus 95 anos, com amigas admiradoras

NOSSA GENTE

105


Ela tinha muito carinho e gostava tanto de atender as pessoas, que

por diversas vezes deixava de se alimentar para conseguir tempo

para rezar por todos que a procuravam naquele dia.

Mesmo aos 95 anos, ainda cheia de vitalidade e saúde, fazia questão

e insistia em rezar pelas pessoas que iam até ela. Era uma pessoa

muito acolhedora, muito alegre. Dançar e andar de barco na barragem

fazia um bem muito grande para ela.

Dona Conceição em um de seus passeios pela represa, com a neta

Em 2013, recebeu o título de Mulher Cidadã, concedido pelo vereador

Anderson Duarte de Oliveira, em reconhecimento ao bem que

ela fazia para tantas pessoas.

Dona Conceição era uma pessoa desprendida de bens materiais e

sem vaidades pessoais. Levou uma vida de santidade, iluminada e

abençoada ao longo da vida, sempre praticando o bem.

Em suas orações, não cobrava de ninguém, sempre revertia ofertas

que lhes eram feitas para pessoas necessitadas. Praticou de maneira

intensa, uma das virtudes mais bonitas: a caridade.

Em 2017, teve a saúde muito debilitada em razão da idade avançada.

Somente assim parou de atender as pessoas em suas orações.

106 Célio Antônio Cordeiro


No dia 3 de maio de 2018, aos 95 anos, veio a falecer, deixando uma

grande saudade e grandes lembranças aos familiares e ao grande número

de pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-la. Seus grandes

legados ficarão eternamente gravados nos corações de muita

gente que a admirava e amava.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 101, Fev. 2021

NOSSA GENTE

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D. a Conceição Vieira de Camargos

Existem pessoas desprendidas e sem vaidades, que se satisfazem apenas em servir

à família e à coletividade, sempre com espírito de amor e de fraternidade

Autoria Desconhecida

Conceição Vieira de Camargos

- Conceição do Queiroz, como

era conhecida e chamada carinhosamente

por todos - nasceu

em Carmo do Cajuru, em 9

de setembro de 1926. Filha de

Joaquim Vieira de Camargos e

Donina Benvinda de Faria. Teve

como irmãos: Maria Benvinda,

João Vieira, Vicente Vieira, Valdemira

e Cleusa.

Em 31 de outubro de 1946, casou-se

com Joaquim Viana de

Camargos, cuja convivência foi

muito bonita. Haja a vista, que

em outubro de 1996, ao lado dos

familiares e amigos, comemorou

as bodas de ouro em uma

linda celebração.

Dona Conceição, benfeitora de Carmo do Cajuru

Joaquim Viana, além de uma ótima

pessoa, foi um esposo muito

presente na vida de Dona Conceição

e dos familiares.

Deste grande e exemplar casal, surgiram os seguintes filhos: Maria

da Conceição, Joaquim Viana (Quinzinho), Romélia, Rosélio, Rômulo,

Ramires e Rildo.

108

Célio Antônio Cordeiro


Dona Conceição faleceu em 9 de março de 2010, sendo sepultada no

dia seguinte após velório muito comovente, onde recebeu várias homenagens

de entidades religiosas e filantrópicas. Dona Conceição,

sempre será lembrada não só pelos familiares, mas também por todos

quem com ela tiveram oportunidade de conviverem.

Esteve presente em diversos movimentos religiosos, sociais e beneficentes,

sem deixar é claro, de cumprir com muito zelo, o seu exemplar

papel de grande esposa, de mãe e de avó tão querida. Participou

ativamente do movimento vicentino, que ajuda muitas pessoas carentes,

sendo uma das fundadoras das Consocias. Teve uma brilhante

atuação na criação da Creche Divino Espírito Santo, do Clube de

Mães e Associação de Artesanato.

Dona Conceição e seus filhos, numa festa de aniversário:

Rômulo, Ramires, Quinzinho, Rosélio, Conceição, Romélia e Rildo

Quando da autorização por parte da Diocese, do Ministério da Eucaristia

para as mulheres, ela juntamente com Dona Terezinha Avelar,

foram pioneiras de nossa paróquia – serviço que desempenhou com

muito amor e muito zêlo por várias vezes.

Foi pioneira também, das mulheres cursilhistas de nossa paróquia.

Viveu intensamente o movimento, participando não somente de

grupos, como também com muita freqüência das ultreias paroquiais

e diocesanas.

NOSSA GENTE

109


Dona Conceição, desfila com amigos da Unibiótica

Foi uma quitandeira de dar gosto. Por suas mãos eram feitos diversos

tipos de doces, salgados e bolos, entre outros confeitos. Podemos

mencionar dois, que se tornaram famosos: o delicioso bolinho de

feijão e a maravilhosa amêndoa, para compor os agrados aos “anjinhos”

por ocasião das coroações no mês de maio. Além das amêndoas,

outros trabalhos que ficaram muito marcados no mês de maio,

foram a confecção de asas, vestimentas e coroas para as meninas

que se vestiam de anjos.

Dona Conceição sempre se mostrou como pessoa que amava muito a

vida e o trabalh. Mesmo sendo muito comprometida com as tarefas

do lar, ainda encontrava tempo para desenvolver verdadeiras obras

de arte, tudo feito de maneira muito artística.

Foi uma pessoa dedicada e muito carinhosa para com os filhos, netos

e familiares. Pessoa sempre bem humorada, sorridente e de fino

trato. Seu sorriso de sempre, nos transmitia paz e alegrias. Soube

cultivar de maneira notável durante sua vida, grandes amizades, que

ficaram gravadas nos corações e na mente de centenas de pessoas.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 012, Set. 2013

110

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

111


D. a Ester de Melo Malaquias

Não obstante o árduo labor a que se entregava diariamente, como grande mãe e esposa,

sobrava-lhe tempo para se dedicar às coisas do espírito e do coração.

C.A.C

Assim foi a grande figura de D.

Ester de Melo Malaquias, nascida

em 1o de novembro, dia

dedicado a todos os Santos, no

ano de 1916, em Carmo do Cajuru.

Filha de D. Evergista Nogueira

de Melo e Silvino Moreira de

Melo. Seus avós maternos: D.

Marília de Souza e João Maria de

Melo – o primeiro professor estadual

de Carmo do Cajuru.

Dona Ester de Melo Malaquias

Fez parte dos primeiros alunos

diplomados no histórico Grupo

Escolar Princesa Isabel, o primeiro

de Carmo do Cajuru, recebendo

seu diploma com distinção,

em 1928.

Ainda bastante jovem, começou a trabalhar como substituta de D.

Etelvina Ferreira Santiago, mãe do grande professor Odilon Santiago,

de Divinópolis. Lecionou por algum tempo em São José do Salgado,

chegando a reger mais de 70 alunos.

Pessoa muito educada, de uma didática apurada e de fino trato, sempre

somado o espírito altruísta, por onde passava deixava boas lembranças

e muita saudade.

112

Célio Antônio Cordeiro


Em 28 de julho de 1937, casou-

-se com Cândido Campos Malaquias

(Candinho). O casal, teve 9

filhos: Eclair, Orlando, Rômulo,

Laerson, Eulila, Marcos, Dalton,

Evânia e Ester Lane. Trabalhou

por longos anos no Grupo Escolar

Princesa Isabel, escola onde

chegou a ser efetivada. Foi uma

grande mestra, que se destacou

pela forma de lecionar e com a

gentileza em lidar com seus alunos.

Sempre os tratava, como se

fossem seus filhos.

Dona Ester e seu esposo Cândido Malaquias

Com esse seu carisma, até hoje seus ex-alunos relembram com muita

saudade daqueles bons tempos. D. Ester sempre optou por uma

vida simples e dedicada, como esposa, mãe, avó, procurando sempre

até nas menores coisas e acontecimentos, sempre cumprir com seu

dever para com a sua família, para com todos que dela se aproximassem

e para o bem do próximo.

Magali Fonseca e a neta Esterlara, ao lado de Dona Ester

NOSSA GENTE

113


Pessoa muito fervorosa, trabalhou durante muitos anos, como regente

de ensaios e coroações do mês de maio. Amava muito aos seus

“anjinhos”, como dizem os seus filhos; fazia também suas grinaldas

com véus e coroas, tudo pautado em espírito alegre e fraternal.

Acho que nenhum patrimônio excede a uma pessoa que deixa pelos

caminhos da vida a prática do bem, da caridade e do amor. Foi assim

o grande legado deixado por ela, não somente aos familiares, como

também aos ex-alunos e aos amigos.

Cheguei a ouvir de uma pessoa, que foi muito estimada em nossa

cidade – o saudoso Pe João: – “A Ester do Candinho é um grande

exemplo de mãe e até de santidade”. Eu, que tive o grande prazer de

conhecê-la, concordei plenamente com as palavras ditas pelo Padre.

Tinha uma inspiração muito grande para expressar sua Fé, através de

inúmeras e belas mensagens. Lendo algumas, deixo registrado aqui

um poema feito por ela, que muito me encantou:

UM BRINQUEDO DIFERENTE

Jesus brinca comigo, comigo quer sempre brincar,

mas ele tudo faz, para depois eu não chorar.

É um brinquedo diferente, dos brinquedos de criança.

o brinquedo dele dói, mas cria amor e esperança.

Brincando ele tomou-me, dois bons e queridos filhos

mas nunca desviou-me, de seus benditos trilhos,

Eu peço bom Jesus, e desejo de verdade

ponha peso em minha cruz, mas me livre das maldades.

Meu desejo nesta vida, ó meu bom Jesus amado

é que chegando a minha ida, eu daqui saia sem pecado.

Também lhe peço boa sorte, para os outros filhos meus

e que logo após a morte, os conduza para Deus.

Ester de Melo Malaquias

JORNAL BOCA DA MATA, n. 017, Dez. 2014

114

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

115


D. a Hortência Aparecida Ribeiro

Passamos pela vida uma só vez. Importa, pois, saber tirar dela as rosas

que poderão perfumar e enfeitar a nossa existência.

Peixoto da Silva

Dona Hortência, benfeitora de Carmo do Cajuru

Nossa Gente conta um pouco

sobre uma personalidade que,

com seu grande espírito altruísta

e fraternal, fez um bem muito

grande às entidades filantrópicas

de Carmo do Cajuru: D. Hortência

Aparecida Ribeiro.

Nascida em 7 de dezembro de

1932, em Santo Antônio do Monte,

ainda jovem, casou-se com

Pedro José Ribeiro (Coletor), em

4 de fevereiro de 1955. Do casal,

nasceram sete filhos: Jane, Kátia,

Kleiton, Kleiber, Kleise, Kleison

e Kássia. Família numerosa,

mas muito bem educada, principalmente

pelos bons exemplos

que ela espelha dos pais.

Seu marido, Pedro Ribeiro, era funcionário público – um serviço em

que estava sujeito a transferências para diferentes cidades. No final

dos anos 1970, a família residia em Divinópolis e Pedro foi transferido

para trabalhar no SIAT de Carmo do Cajuru. Depois de alguns anos

foi novamente transferido para Santa Bárbara e Barão de Cocais respectivamente.

116

Célio Antônio Cordeiro


Dona Hortência e companheiras da creche Divino Espírito Santo, nos anos 1990

Na década de 90, finalmente, vieram em definitivo para Carmo do

Cajuru. Foi a partir desta data que D. Hortência começou a prestar

serviços voluntários a entidades filantrópicas. Tinha muita facilidade

para angariar grandes amizades e, juntamente com elas, desenvolver

excelentes trabalhos. Dentre diversas pessoas, podemos lembrar

aqui de D. Terezinha Avelar e D. Conceição Viana de Camargos.

Dona Hortência e dona Maria do Quinca, na creche Divino Espíito Santo

NOSSA GENTE

117


D. Hortência ajudou muito no Clube de Mães, Creche Divino Espírito

Santo, Vila Vicentina e se dedicou à criação da Casa do Menor. Em

reconhecimento aos grandes serviços prestados, o seu nome foi escolhido

para dar o nome a entidade que hoje é: Casa do Menor D.

Hortência Aparecida Ribeiro – uma justa homenagem pelo muito que

fez em prol da instituição.

Dona Hortência, em outro momento na creche Divino Espírito Santo

Além de ter sido uma grande mãe de família, foi também uma esposa

exemplar. Ela se sentia muito feliz, quando fazia os outros felizes.

Em 4 de agosto de 1998, com a saúde debilitada, veio a falecer no

Hospital São João de Deus, para a tristeza dos familiares e amigos,

após três anos da perda de seu esposo Pedro Ribeiro. Ambos foram

sepultados em Carmo do Cajuru.

D. Hortência é um nome que sempre será lembrado pelo povo cajuruense.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 035, Ago. 2015

118

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Ilda Rabelo de Carvalho

A verdadeira sabedoria é aquela que encontramos nas coisas simples da vida

Iara Schmagel

Dona Ilda Rabelo de Carvalho

Falando-se de simplicidade,

vamos contar um pouco sobre

a vida de D. Ilda. Filha do casal

Francisco Jose Rabelo (Chico

Mariano) e D. Maria Francisca de

Jesus, ela nasceu na comunidade

de Ribeiros, em 16 de outubro

de 1932, em meio modesto.

Viveu na simplicidade e deixou

para os familiares e amigos,

grandes e importantes legados.

Ainda muito jovem, já se acostumara

com os trabalhos da vida.

Sempre auxiliava seus pais e irmãos

nos afazeres em geral.

Aos 20 anos, casou-se com Joaquim Teles de Carvalho, em 21 de outubro

de 1952. Moraram por algum tempo na comunidade do Sapé.

Meses depois, mudaram-se para a fazenda do Calhau, que ficava

mais próxima dos pais de D. Ilda. Naquela localidade, residiram até

1974, ano em que vieram em Carmo do Cajuru.

D. Ilda foi uma exímia bordadeira e tecedeira. Tecia e bordava em

casa e com isso ajudava muito no sustento da família. Lecionou na

Escola Municipal de Ribeiros, em substituição a outra professora que

licenciara.

120

Célio Antônio Cordeiro


Joaquim Teles de Carvalho, esposo de dona Ilda

D. Ilda e Joaquim Teles tiveram nove filhos: José Rabelo, Maria Nazaré,

Orlando, Clóvis, Antônio Claret, João Batista, Marcelo, Paulo e

Adriano. Em 1986, passou por uma difícil provação com a perda de

seu filho mais velho, José Rabelo. Hoje da descendência do casal,

existem 20 netos e 20 bisnetos.

Conforme já mencionamos, D. Ilda sempre viveu modestamente,

uma vida de muito trabalho, mas pautada por muita fé e diversas

ações sociais e religiosas. Quando criança foi coroadeira no mês de

maio, dedicado a Maria. Foi integrante da Pia União da Filhas de Maria,

catequista e, por ter uma bela voz, gostava muito da música de

corais, chegando a ser integrante por algum tempo, do Coral Nossa

Senhora do Carmo.

Foi uma das primeiras consócias da Paróquia Nossa Senhora do Carmo.

Chegou a ser dirigente da Conferencia Nossa Senhora Auxiliadora.

Foi também, Ministra da Eucaristia por alguns anos. Viveu uma

vida de oração. Professava muito bem a sua fé, através da reza do

Terço. Foi a primeira catequista de seus filhos. Sempre rezava com

eles nos tempos de crianças.

NOSSA GENTE

121


Grande devota do Sagrado Coração de Jesus, fez parte enquanto

pôde, da Irmandade do Apostolado da Oração. Conforme aparece

em uma das fotos, participou da última Missa celebrada pelo saudoso

padre João Parreiras Villaça, na matriz de Nossa Senhora do Carmo,

no dia 18 de junho de 1982.

Dona Ilda com as colegas do Apostolado da Oração, na Igreja Matriz, junho de 1982

Seu falecimento se deu justamente no dia dedicado ao Sagrado Coração

de Jesus, no dia 30 de junho de 1991, deixando uma lacuna de

muita saudade aos familiares e amigos.

Durante o seu cortejo fúnebre, todos que acompanhavam, entoavam

hinos e cânticos em louvor a Nossa Senhora, pois sabiam da sua

devoção e do grande gosto que tinha pelos cânticos religiosos.

D. Ilda foi um grande exemplo de fé, simplicidade, caridade e do

amor aos familiares e ao próximo. Foi uma pessoa extraordinária,

uma grande esposa e uma mãe muito dedicada aos filhos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 087, Dez. 2019

122

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Isabel Salomé de Castro

A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.

Coelho Neto

Filha de Maria Agripina de Jesus

e João Salomé de Castro, nasceu

no município de Cláudio, na localidade

de Cachoeira de Santo

Antônio (Mon. João Alexandre),

em 28 de outubro de 1938.

Em Cajuru, onde veio morar ainda

menina, Isabel chamava a

atenção pelo belíssimo timbre

de voz.

Isabel Salomé, benfeitora de Carmo do Cajuru

Durante muitos anos, foi coroadeira

de Nossa Senhora, no mês

de maio. Adolescente ainda,

passou a integrar o Coral da Matriz

de Nossa Senhora do Carmo.

Por vários anos, representou com muito talento a figura de Verônica,

nas celebrações da “Semana Santa”.

Como era emocionante, sua voz cálida, ecoando sobre o silêncio contrito

da multidão, enquanto ela exibia a toalha com o rosto doloso do

Senhor! Quem presenciou isso, jamais esquecerá.

Era muito dedicada à Vila Vicentina, e de modo especial, tinha grande

cuidado com o santíssimo Sacramento Eucarístico, na Capela da

Vila. Funcionária da Prefeitura Municipal, trabalhava na Creche Divino

Espírito Santo.

124

Célio Antônio Cordeiro


Gostava muito de crianças e as

acolhia em sua casa. Tinha grande

número de afilhados, aos

quais gostava de dar pequenos

presentes.

Preocupava-se com os filhos das

mães solteiras, muito dos quais

lhe eram dados como afilhados,

que ela aceitava com grande carinho.

Tinha grande afeto também

pelos sobrinhos.

Isabel Salomé, vestida de “Verônica”, na tradicional

encenação da Semana Santa (anos 1960)

Dona Isabel, entre participantes da Catequese da Paróquia de N. Sra. do Carmo

Carmo do Cajuru sempre mostrou grandes talentos na música e Isabel

Salomé, como toda sua família, foi uma fonte de talentos na música

e ela se destacou muito dentre os membros da família.

Isabel detestava política, assunto que evitava. Tinha o sonho de se

aposentar, mas, inesperadamente, faleceu.

NOSSA GENTE

125


Dona Isabel Salomé, integra coral de Nossa Senhora do Carmo, nos anos 1970

Tinha ido a Belo Horizonte, a fim de se tratar da coluna, passou mal

na casa de sua irmã, no dia 28 de agosto de 1998 e veio a morrer antes

de dar entrada no hospital.

Com a morte dessa talentosa cantora, abriu-se uma lacuna no Coral

Nossa Senhora do Carmo, onde tantas vezes proporcionou uma inestimável

e inesquecível contribuição.

Quem teve o privilégio de conviver ou presenciar Isabel em suas

apresentações na música, hoje sente uma imensa saudade. Isabel

Salomé, com sua maneira simples e meiga de lidar com as pessoas,

deixou marcado para sempre o seu nome em nossa história, em nossa

cultura e no coração do povo cajuruense.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 005, Jan. 2013

126

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

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D. a Lalia Guimarães

A esperança é uma ave que pousa na alma, canta melodias sem palavras e nunca cessa.

Emily Dickinson

Maria Rosalina Guimarães, conhecida

carinhosamente como

D. Lalia, nasceu em Carmo do

Cajuru, aos 22 de outubro de

1907. Filha de Aurora Rosalina

Guimarães e Aquiles Guimarães.

Concluiu seus estudos em Carmo

do Cajuru.

A jovem Maria Rosalina Guimarães (Lalia)

Desde os seis anos de idade, começou

a se interessar muito pela

música e já fazia parte da equipe

das crianças que cantavam

lindas canções marianas nas

coroações do mês de maio. Por

influência de familiares, passou

a ter muito gosto pela música e,

na adolescência, já se destacava

na arte instrumental e no canto.

Foi na escola e na família que desenvolveu um grande talento em

recitais e no teatro, que antigamente em Carmo do Cajuru, além de

evento cultural, era momento de interação e muita diversão para o

povo. Todo esse trabalho era feito de maneira totalmente voluntária

e amadora. D. Lalia dedicou mais de 60 anos de sua vida às causas

sociais e religiosas. Executava de maneira brilhante o violino e o harmônio.

Ensinou e ajudou a compor um grande número de músicas

marianas, que ao longo dos tempos eram cantadas e entoadas nas

coroações de Nossa Senhora durante o mês de maio.

128

Célio Antônio Cordeiro


A música Lalia toca harmônio na Orquestra de Instrumentistas de Carmo do Cajuru

Além de ensaiar as crianças que vestiam de anjos, também foi a pessoa

responsável pela execução do harmônio do Coro da Matriz de

Nossa Senhora do Carmo. Participava ativamente do Coro da Igreja

em todas as festas religiosas, que eram celebradas na paróquia.

Nos programas das festas religiosas, o seu nome sempre aparece

como responsável pelo coro e orquestra, trabalho exercido de forma

voluntária, com muito amor e muita dedicação. Com o seu jeito carismático

de lidar com as crianças que participavam de coroações, as

crianças a tinham como se fosse uma mãe.

Dona Lalia, marcante presença com seu harmônio nas celebrações da matriz de N. Sra. do Carmo

NOSSA GENTE

129


Centenas de crianças da época, hoje adultas, incluindo mães e avós,

lembram com muita saudade dos anos que a aquela pessoa tão amável,

inteligente e talentosa fez de bom em suas vidas.

Na celebração da Semana Santa, D. Lalia deixou muitas lembranças,

cantando quando mais jovem ou executando com uma competência

formidável o seu violino ou o lindo som do harmônio da Igreja.

Auxiliava as equipes de figurantes da Semana Santa e das festas da

padroeira, na preparação de ambientes para celebrações. Para faltar

de uma missa cantada em latim, só se fosse por um motivo muito

justificável.

Dona Lalia e seu harmônio

Antes da conclusão do Concílio Vaticano II era muito comum as celebrações

de missas cantadas em latim e as Ladainhas de Nossa Senhora,

que permaneceram por mais tempo, nas celebrações do mês

de maio.

No Apostolado da Oração, fez parte da equipe administrativa e zeladora

por mais de 50 anos. Estas páginas seriam escassas, se fossemos

enumerar tudo que D. Lalia fez de bom para Carmo do Cajuru, terra

que ela sempre amou intensamente; para a Igreja; para a sociedade,

enfim, para o povo cajurense.

130

Célio Antônio Cordeiro


Lalia, na adolescência

Hoje D. Lalia é lembrada como

grande exemplo de bondade,

dedicação e desprendimento.

Faleceu aos 86 anos, no dia 8 de

junho de 1993, mês que a Igreja

Católica consagrou ao Sagrado

Coração de Jesus, que tão bem

ela o seguiu através do Apostolado

da Oração.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 004, Dez. 2012

NOSSA GENTE

131


D. a Laurita Lima Vieira

A Solidariedade e a Caridade, são práticas do Amor real” .

Mônica Christi

Dona Laurita, na sua juventude

Na história da querida Carmo do

Cajuru, sempre se depara com

importantes figuras que não são

cajuruenses, mas para esta cidade

vieram residir e se destacar

em grandes e importantes serviços

prestados em prol da sociedade.

Dentre essas pessoas, vamos

lembrar aqui da inesquecível

pessoa que foi Dona Laurita.

Nascida em Dores do Indaiá, aos

25 de setembro de 1928, ainda

criança, mudou-se para a pequena

cidade de Tapiraí, em Minas

Gerais, onde morou até 1958,

quando veio para Cajuru, juntamente

com os familiares.

Em 16 de janeiro de 1950, casou-se com Joaquim Vieira de Camargos.

Desta união, tiveram 3 filhos: Ronaldo, Maria José e Antônio Eurípedes.

Da descendência do casal, foram 8 netos, um já falecido e dez

bisnetos.

Dedicada esposa, carinhosa mãe e cuidadosa avó sempre atenciosa

para com todos, Dona Laurita, professou a fé católica, com muito

devoção a N. Sra. Aparecida, Sagrado Coração de Jesus e São Vicente

de Paulo. Por longos anos, foi zeladora do Apostolado da Oração.

132 Célio Antônio Cordeiro


Pessoa sorridente, sempre com

o semblante alegre e acolhedor.

Tinha um belo espírito de liderança.

Nos tempos das festas

religiosas, principalmente nos

tempos do saudoso padre João,

seu nome sempre integrava em

comissões organizadoras das

festas e celebrações, o que comprova

em muitos programas

previamente elaborados para

aquelas ocasiões.

No início da construção da Praça

do Cruzeiro, sempre colaborava

com novenas e realizações

Dona Laurita, em seu sorriso compassivo de leilões para angariar fundos,

que muito ajudaram no projeto

da referida construção. Por muitos anos foi a zeladora da capela de

Nossa Senhora Aparecida.

Dona Laurita, em comemoração com o esposo, filhos e netos

NOSSA GENTE

133


Seu trabalho social, foi de grande relevância. Em 21 de agosto de

1969, foi eleita por unanimidade para assumir a presidência da Conferencia

Feminina Nossa Senhora Auxiliadora e sendo reeleita por

diversas vezes nesse cargo.

Juntamente com as consórcias, prestou inúmeros serviços voluntários

em campanhas e ações sociais: Campanha do Agasalho, Natal,

compra de filtros e arrecadações financeiras para os mais carentes

e necessitados. Foi integrante do Conselho Particular da Sociedade

São Vicente de Paulo. Fez parte da Diretoria da Vila Vicentina, onde

também trabalhou com muito zelo, honradez e dedicação durante

7 anos. Em reconhecimento aos grandes serviços prestado a sociedade

cajuruense, em 1º de janeiro de 1990, foi agraciada com a medalha

Caa-yuru, pelos relevantes serviços prestados, em bonita festa

organizada pela Câmara Municipal.

Como já mencionado, Dona Laurita conseguia transmitir paz e força

em suas cativantes falas. Mesmo acometida de complicações de

saúde, por ser diabética, não perdeu a alegria de viver e viver bem,

sempre com fé e resignação, mesmo após perder sua visão. Ela continua

a enxergar, mas com seu coração.

Em 22 de abril de 2011, com a saúde bastante abalada, veio a falecer,

em plena Sexta- Feira da Paixão. Seu falecimento deixou uma marca

de grande saudade aos familiares e amigos.

Em 2 de abril de 2014, foi lembrada por nossas autoridades, como patrona

do CRAS, conforme Lei Municipal 2.423/ 2014, do prefeito José

Clarete Pimenta, em reconhecimento aos inúmeros serviços prestados

de forma voluntária em prol da sociedade cajuruense.

Para finalizar, registramos aqui, uma parte da bela oração de São

Francisco de Assis, oração que sempre a acompanhou em vida: “Senhor,

fazei-me instrumento de Vossa Paz, onde houver o ódio, que eu

leve o Amor”.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 090, Mar. 2020

134 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

135


D. a Luci Guimarães Nogueira*

A bondade em palavras cria Confiança; a bondade em pensamento cria Profundidade;

a bondade em dádiva cria Amor .

Lao Tsé

Dona Luci, na sua juventude

Dona Luci, como era conhecida,

nasceu em Carmo do Cajuru em

04/07/1926, filha de dona Clarinda

Guimarães de Sá e de Otávio

Djalma de Sá. Foi casada com

Sebastião Alves Nogueira e mãe

de três filhos: Geraldo, Conceição

e Cacilda.

A fé e a resiliência eram as suas

marcas registradas: a fé no futuro

melhor, a força interior para

suportar as provações que a vida

insistia em trazer. Aquela resistência

vinha da fé, do silêncio

em porto seguro, lugar de reflexão,

introspecção, onde encontrava

a paz necessária para lidar

com as provas do dia a dia.

Essa é Luci Guimaraes, que teve um amor incondicional pelos filhos

e pelos netos e pela bisneta. E também àqueles que ela sempre procurou

ajudar, anonimamente, mesmo com os poucos recursos materiais,

nos estudos, nas cerimônias de formatura e principalmente

com a oração, seu ponto forte.

* O autor agradece a colaboração do Dr. Alessandro de Sá Guimarães, na elaboração desta

memória, que tão bem retrata a querida e admirável dona Luci.

136 Célio Antônio Cordeiro


No início, Sebastião Alves Nogueira, era um homem de posses, mas

logo os tempos mudaram e as dificuldades começaram e ela soube

permanecer firme diante dos obstáculos e procurou apoiar os filhos

e a família, sempre discreta, dona de casa, pacificadora, teve na simplicidade

e na discrição suas marcas.

Com o passar do tempo, o diabetes trouxe graves problemas de saúde

para o marido e finalmente a separação física; mas, ela permaneceu

forte, esteio da família. Então veio a grande provação, o câncer

no intestino retirado por cirurgia que, anos depois, retornou em metástases,

convidando-a para nova morada, em 28 de maio de 1999.

Dona Luci, foi uma boa representante

de uma classe de milhões

de mulheres, que lutam

uma vida toda, que fazem a vida

acontecer e quase sempre não

aparecem; anônimas, preferem

não ocupar lugar de destaque,

mas estão sempre lá, apoiando

a família, buscando diálogo e o

bem de todos, pessoas sustentadas

pela fé inabalável.

São essas mães que fazem a diferença,

que tornam esse mundo

melhor e, principalmente,

que deixam saudades nos corações

do que ficaram, uma saudade

leve, boa de sentir, que

Dona Luci, uma mãe admirável

traz um sorriso no rosto de quem se lembra dela, por saber, que apesar

de todas as dificuldades, ela soube suportar sem blasfemar. Foi

uma ótima aluna, aprovada em cada prova realizada e passou de ano

da escola da vida, fez do sofrimento o combustível para evolução e

aprendizado.

NOSSA GENTE

137


Dona Luci com o esposo, Sebastião Alves Nogueira, em confraternização com familiares

Com certeza, ela continua trabalhando e auxiliando um número ainda

maior de pessoas do outro lado da vida, do lado de cá, ela ainda

vive em nossos corações, mesmo após décadas da sua partida. Ela

estará sempre conosco, basta buscarmos na memória e a veremos,

discreta e serena, sempre mãe.

DONA LUCI *

Mulher...

Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis

Que divide sua alma em duas

Para carregar tamanha sensibilidade e força

Que ganha o mundo com sua coragem

Que traz paixão no olhar

Que luta pelos seus ideais

Que dá a vida pela sua família

Que ama incondicionalmente

Que se arruma, se perfuma

Que vence o cansaço

Que chora e que ri

Mulher que sonha...

* Poema escrito por Alessandro de Sá Guimarães

JORNAL BOCA DA MATA, n. 070, Jul. 2018

138 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

139


D. a Lucia Guimarães*

A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.

Daniel Duarte

Dona Lucia, na sua juventude

O mundo respirava os horrores

causados da Primeira Grande

Guerra, quando surgiu um vírus

letal que dizimou grande parte

da população mundial, a tão

falada Gripe Espanhola. Era novembro

de 1918. Neste mesmo

ano e neste mesmo mês, no dia

2, na casa da dona Aurora e do

Sô Aquiles Guimarães, nascia a

sexta filha do casal e foi chamada

de Lúcia, que significa, luz.

Em meio à escuridão que pairava

sobre a terra, uma criança foi

iluminada desde o nome. Assim

podemos começar a contar um

pouco da história de Dona Lúcia,

uma pessoa iluminada.

Era uma criança doce, meiga e delicada e assim cresceu entre seus

irmãos e primos que sempre enchiam as casas com sua alegria. Era

um tempo de famílias numerosas que tinham o hábito de frequentar

as casas para uma visita ou uma simples prosa, sentadas às calçadas

ou jardins.

* O autor agradece a colaboração de Marciano Guimarães Mansur, na elaboração desta

memória, que tão bem retrata a inesquecível dona Lucia Guimarães.

140 Célio Antônio Cordeiro


Professora Lucia Guimarães, é imortalizada na denominação do Auditório Municipal

Cajuru era ainda um povoado, onde a fé, a moral e o respeito estavam

presentes em todos os lares. Assim cresceu e desabrochou

aquela menina chamada de luz. Seus traços físicos pareciam os de

uma princesa e sua doçura encantava a todos. Era inteligente e habilidosa,

com um talento especial para bordados, costura, desenhos

e pintura.

Estava já virando uma mocinha, cheia de sonhos, como toda criança,

quando vem a Grande Depressão, a queda da bolsa de Nova Iorque.

O mundo se viu novamente numa grande crise econômica. Era o começo

dos anos 1930. A menina Lúcia, agora com seus 15 anos, e sua

irmã, Olímpia, a fim de continuarem os estudos, ingressaram na Escola

Normal de Itaúna, que era a referência no ensino para meninas

moças. O magistério era uma das poucas profissões exercidas por

mulheres.

Foram 3 anos difíceis, marcados pela distância e por perdas dolorosas

como o falecimento de seu pai, Aquiles, e do padre José Alexandre,

amigo da família. Terminados os estudos e já no esplendor dos

seus 18 anos, a bela moça retornou para Cajuru e começou sua longa

caminhada de meio século, dedicada ao ensino... E eis que alghumas

NOSSA GENTE

141


nações ingressam em novo momento sombrio para toda a Humanidade.

Tem início a Segunda Grande Guerra que durou até 1945. Mais

um período difícil de 7 anos transcorridos.

Entre as alegrias e tristezas que permeiam a vida humana, assim foi

com a menina luz, que agora já era uma moça feita, sem nunca perder

a doçura e a gentileza, que sempre foram características da sua

personalidade.

Foi professora e diretora no Grupo

Escolar Princesa Isabel, passando

pelo Colégio Dom Bosco,

Colégio Demétrio Coelho, Ginásio

Estadual e Escola Estadual

Padre João, sempre com

a mesma elegância e didática,

que a tornaram uma professora

inesquecível. Foi professora de

história, disciplina que amava e

conhecia profundamente.

Participou intensivamente da

vida social e religiosa da cidade

e tinha paixão pelo cinema. Ir ao

cinema era um evento imperdível.

Acompanhou todas as mudanças

em nossa cidade, desde que era um povoado até sua emancipação.

Dona Lúcia teve uma vida longa, vencendo o século XX e

chegando até a primeira década do novo século.

Aos 92 anos, no dia 2 de janeiro de 2010, a menina luz deixava a vida

terrena para se tornar um espírito de luz. Todos que tiveram o prazer

de conhece-la, guarda na memória a simpatia, a voz doce e mansa,

sempre pronta a ensinar e ajudar com paciência e educação. Uma

mulher compreensiva, elegante e moderna que sempre dizia que:

“ser feliz é muito fácil, basta querer” e que “na vida, não precisamos ser

perfeitos, basta ter paciência”.

142 Célio Antônio Cordeiro


Não posso fechar esta crônica sem dar meu próprio testemunho sobre

dona Lúcia Guimarães, que tem uma importância inestimável,

seja na minha trajetória escolar – quando fiz o curso primário no Grupo

Escolar Princesa Isabel, ela foi a diretora, durante os quatro anos

– seja no curso ginasial, quando também tive o privilégio de ser seu

aluno, durante mais outros quatro anos. Uma pessoa extremamente

educada, de fino trato e dona de uma didática impressionante.

Quando pensei em mostrar a história de Carmo do Cajuru através de

fotografias, ela e seu irmão Dr. Geraldo Guimarães, além de grande

incentivo e estímulo, colocaram à minha disposição, um rico e vasto

acervo fotográfico, para que eu pudesse copiar as fotos; fato, pelo

qual sou eternamente grato. Foi uma valiosa contribuição para consolidação

da maior coleção de fotos significativas de Carmo do Cajuru,

com milhares de reminiscências e experiências passadas.

Para concluir esta breve crônica, trazemos as palavras do professor e

escritor Ernane Reis Gonçalves, sobre a educadora dona Lúcia:

“Quando a vida escolar começou a me roubar a infância, Dona Lúcia foi

minha primeira diretora na Escola Princesa Isabel. Mais tarde, fomos

colegas de profissão, pois virei professor e cheguei até a ser diretor

dela, quando ela lecionava na Escola Padre João.

“Muitas lembranças – até de um aniversário dela. Fizemos uma festa,

cantei, dublei rock’n’roll.

“A História que ela nos ajudou a entender – e a gostar – e a fineza e a

educação dela, ajudaram-nos a sermos pessoas melhores”

JORNAL BOCA DA MATA, n. 094, Jul. 2020

NOSSA GENTE

143


Magali Gomes da Fonseca *

A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.

Daniel Duarte

Falar de Magali, a bonequinha de

olhos azuis, é falar de anjos, de

maio (mês de Maria). É falar da

dor e da alegria de viver, do canto

e da dança, de luta e de garra,

da saúde e da doença da vida e

da morte.

A jovem Magali,

Magali nasceu em 25 de julho

de 1975, filha de Marília Lúcia

Gomes Fonseca e Benedito Vital

da Fonseca e teve 6 irmãos. Com

quase dois anos de idade, vestiu-se

de anjo pela primeira vez

e cantou para Nossa Senhora

o “Ave Maria Sublime”. Daí em

diante não parou mais de cantar.

Coroou até os 13 anos de idade.

Estudou no Grupo Escolar Princesa Isabel e na Escola Estadual Pe.

João Parreiras Villaça, onde fez grandes e eternas amizades, entre

colegas de turma, professores e funcionários. Magali gostava de

aventuras, viagens, passeios pelo campo, de conhecer novas pessoas.

Era muito alegre e comunicativa, gostava de teatro, de recitar poesias

mas cantar e dançar eram suas atividades preferidas.

* O autor agradece, sensibilizado, a colaboração de Marina Fonseca e Márcia Gomes,

irmãs e testemunhas da vida de Magali, na elaboração desta emocionante memória.

144 Célio Antônio Cordeiro


Desde pequena, participava dos

vários eventos escolares, religiosos

e culturais da cidade. Na

escola, gostava de recitar, cantar

e, principalmente, dançar o

carimbó.

Na Semana Santa, participou

das encenações em vários papéis,

de figurante à bailarina.

Participou de corais, da Banda

de Música, mas, como ela dizia,

foi no flamenco que ela se encontrou,

onde cantava, representava

e dançava pela Palco Cia

de Artes. Cantava com um grupo,

em casamentos, festas, serenatas,

barzinhos e falava que

iam gravar um CD. A Gincana da

Independência teve um papel

importante em sua vida. Participou

das 10 realizações, liderando

e fazendo várias apresentações.

Outra paixão que tinha era

o Carnaval. Foi participante assídua

do Bloco da Latinha.

A menina Magali, uma verdadeira artista; fez o

máximo em tão pouco tempo de vida heróica

NOSSA GENTE

145


Como todos os seus irmãos, Magali começou a trabalhar desde pequena,

entregando jornais da Banca de Revistas e depois no Restaurante

de seu pai. Com 16 anos teve seu primeiro emprego formal em

Divinópolis e, entre outros empregos, trabalhou por último na 12ª

Superintendência Regional de Ensino. Por todos os lugares por onde

passou fez grandes amizades.

Em todas as reuniões e festas da família, Magali alegrava muito o

ambiente. Gostava de brincar, de cantar e dançar com os sobrinhos,

contar histórias, principalmente com fantoches.

A jovem Magali, antes e depois, com seu filhinho Matheus

Em 1997, então com 21 anos de idade, veio a doença e o início do

calvário em sua vida. Foi diagnosticada com um câncer no osso da

perna e fez sua primeira de nove cirurgias, na longa maratona por

hospitais em BH e Divinópolis.

Em 1999 uma grande alegria em sua vida: nasce seu filho Matheus,

fruto do relacionamento com José Adenilson Peixoto, com quem foi

casada. Magali carregava com coragem sua cruz. Após várias cirurgias

e quimioterapias teve sua perna amputada em 2002.

Apesar de todas as limitações, mantinha-se alegre e participante da

vida da comunidade. Engajou-se na ACCOM, ajudando a promover

eventos para angariar recursos financeiros para manutenção da Casa

146 Célio Antônio Cordeiro


de Apoio dos pacientes com

câncer.

Em 2003 veio a metástase no

pulmão e seu estado de saúde

foi agravando-se. Magali começa

a escrever um livro e sonha

em publicá-lo e doar o que for

arrecadado para o Hospital do

Câncer.

Surgem outras metástases e

aquele ser alegre e sorridente,

em meio à dor, ao sofrimento,

se transforma em um ser sereno.

Em seu olhar notava-se a

pergunta silenciosa: “Meu Deus,

meu Deus por que me abandonastes”?

Em seus últimos dias de vida, no

hospital, sem chance de cura,

com todas as funções vitais já

comprometidas, mas lúcida,

luta pela dignidade do doente.

Doente este que tem um corpo

fragilizado, mas um espírito forte,

que é um ser humano que até

seu último suspiro faz a sua história e merece ser bem tratado.

E sua mãe, que sempre estivera ao seu lado, a acompanha em seus

últimos momentos, rezando, pingando gotas de água em sua boca,

nesse corpo que já não consegue sugá-las, mas tem sede.

E como no céu deve existir muita música e alegria, Magali entrega a

Deus seu espírito e é convidada a coroar, agora, junto com os anjos,

cantando como tanto gostava:

NOSSA GENTE

147


— “Muito lindo é o Céu, todo cheio de alegria;

lá não há noite nem sombras, tudo é um claro dia,

muito lindo é o Céu, onde os anjos estão cantando;

não podemos escutá-los, sem primeiro viver chorando...

Após seu falecimento, sua mãe tomou a iniciativa de realizar seu sonho

e com a ajuda de amigos e parentes editou o livro “A Bonequinha

de Olhos Azuis”, que se encontra a venda em benefício do Hospital

do Câncer.

No encerrar desta emocionate crônica, ouve-se o cantar um trecho

desta música de Sérgio Britto (2001), tocada pelo grupo Titãs, Epitáfio,

música que adotara como filosofia de vida:

Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter

arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer... //

Devia ter aceitado as pessoas, como elas são. Cada um sabe a alegria e

a dor que trás no coração (...) Devia ter complicado menos, trabalhado

menos, ter visto o sol se pôr. Devia ter preocupado menos com problemas

pequenos, ter morrido de amor... // Devia ter aceitado a vida como

ela é. A cada um cabe a alegria e a tristeza que vier...

JORNAL BOCA DA MATA, n. 068, Maio 2018

148 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

149


D. a Maria de Lourdes Gonçalves *

A gentileza é o jeito mais bonito de ser sol no dia nublado de alguém.

Daniel Duarte

Mamãe nasceu no dia 11 de fevereiro

de 1922, dia de Nossa

Senhora de Lourdes. Por isso

Maria de Lourdes. Dois irmãos:

Dico, com quem convivemos

muito e Elza, que não chegamos

a conhecer. A mãe, d. Arcanja,

morou em nossa casa desde que

nos soubemos gente. Sempre

reclamei que nunca fui à casa da

vovó, pois só conheci a Dindinha

(Arcanja) que não tinha casa

aonde eu ir.

Meu pai, o senhor Vicente Inácio

Gonçalves, o popular Dem, trabalhava

no correio e minha mãe,

visionária, acabou assumindo os

trabalhos, vindo a aposentarem-

-se, os dois, como funcionários

Dona Maria de Lourdes

dos Correios.

Um grande coração, nossa mãe criou os nove filhos, Dilermando,

Dalmo, Dinajara, Elza, Ernane, Dágma, Geraldo, Dóris e Dora, e acolheu

os sobrinhos Terezinha, em definitivo, Lelé, esporadicamente,

Lelena e Selma, temporariamente, além dos amigos dos seus filhos:

* O autor agradece a gentil colaboração de Ernane Reis Gonçalves, filho de dona Maria de

Lourdes, na elaboração desta memória que revela o ser elevado que ela foi.

150 Célio Antônio Cordeiro


Fernando Novais, Eustáquio do Brechó, Guinho, Rosalvo, que invadiam

a casa nos fins de semana e desfrutavam de todo o conforto

humilde que os filhos tinham.

Nossa mãe cantava, chegou a cantar no Coral Nossa Senhora do

Carmo, do qual tenho a honra de participar hoje, com minha mulher

Fátima e meu irmão, o Preto. Tenho no prelo um CD, “Máquina de

Costura”, com as canções que ela cantava e cuja capa terá a seguinte

explicação:

“A velha mãe, sentada, costurando na máquina de pé, cantando

a vida, a solidão, a paz, a gritaria da meninada – nove filhos,

mais uns sobrinhos que cria – a felicidade e todas as angústias da

mulher mãe do lar, aguardando o marido e guardando os filhos e

a vida.

A mãe que, antes de ser mãe e ser gente é mulher. E antes de

ser mulher, é lavadeira, cozinheira, arrumadeira, passadeira, às

vezes conselheira, companheira, esposa, e sempre fêmea e quase

sempre costureira que canta, encanta, quebra os quebrantos e as

agonias do homem, da vida e do mundo.

Dindinha, a avó única que eu conheci era assim.

Minha irmã, Naná é assim.

Minha mulher é assim.

A minha mãe foi assim.

Trabalhando no correio onde se aposentou como agente postal,

e em casa, cosendo com s (e com z também), cantando, minha

mãe deixou-nos crescer, a mim e aos meus irmãos, a uma família

que somos nós. Sentada à máquina de costura, uma velha Singer

de pé, depois uma Phillips, posteriormente uma Vigorelli, mamãe

alinhavava camisas e sonhos, chuleava calças e medos, cerzia

anáguas e lembranças, pespontava vestidos e alegrias, caseava

paletós e esperanças, embainhava camisolas e fé, remendava

meias e preocupações, franzia babados e ternuras, acolchetava

corpetes e venturas, bordava fronhas e amor, costurava lençóis

e vida, e, enquanto costurava, minha mãe cantava e deu-nos o

gosto de cantar. Suas canções são o que agora canto”.

E aí virão dezoito canções, algumas sem nome, de autoria desconhecida

ou ignorada.

Mamãe morreu no dia 26 de setembro de 2003, aos 81 anos de idade.

NOSSA GENTE

151


Dona Maria de Lourdes, com os filhos

Deixou-nos a alegria de viver,

uma fé extremada no Sagrado

Coração de Jesus, de cujo Apostolado

da Oração foi presidente

por muitos anos e esta vontade

de cantar.

E todas as vezes que no coral

Nossa Senhora do Carmo cantamos

o “Eu Quisera”, a emoção

me sufoca, lembrando-me da

minha querida Maria do Dem.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 046, Jul. 2016

152 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

153


D. a Maria de Vasconcelos Ribeiro do Ó *

A justiça é o vínculo das sociedades humanas;

as leis emanadas da justiça são a alma de um povo..

Juan Luis Vives

Mariazinha para a família e amigos

mais chegados ou, popularmente,

dona Maria, dona Mariazinha,

dra. Mariazinha ou dra.

Maria do Ó, fez história por onde

passou.

Sua irmã Dora Estela destaca

que Maria se tornou um ícone e

descreve alguns traços marcantes

de sua biografia.

“Primogênita de uma

prole de catorze filhos,

Mariazinha nasceu Maria

Nogueira Vasconcelos

[em 02/06/1927].

Teve suas primeiras lições

com um professor

particular que passava

pelas fazendas levando

instrução às crianças da zona rural. Mais tarde, matriculada na

Escola Pública da cidade, foi logo promovida à série subsequente

por apresentar boas condições de aprendizagem. Continuou os

estudos em Itaúna, onde se formou. Foi das primeiras professoras

normalistas de Carmo do Cajuru.

Dona Mariazinha

* O autor agradece a gentil colaboração das filhas Rosana e Giovana Vasconcelos e da irmã

Dora Estela Vasconcelos, na elaboração desta memória tão significativa para a história da

Educação e do Direito de Carmo do Cajuru.

154 Célio Antônio Cordeiro


“Iniciou sua carreira como professora. Era ambidestra. Escrevia

naturalmente, com ambas as mãos e só quem conheceu sua letra

pode apreciar a beleza e a arte que tinha.

Dona Mariazinha (no alto), feliz com os membros da fanfarra do Colégio Estadual

Mariazinha casou-se aos 26 anos com Nilson Ribeiro do Ó, a quem

chamava de Sô Nilson, e passou a se chamar Maria de Vasconcelos

Ribeiro do Ó, “nome do qual se orgulhava pela assinatura inusitada.

Teve nove filhos. Por motivos pessoais, revela a irmã, separou-se do

marido com alguns filhos ainda pequenos e assumiu a criação e a

educação deles.

“Sua carreira profissional foi profícua: de professora passou a inspetora

escolar, diretora de colégio, vereadora e atuava ultimamente

como advogada. Foi graduada em Letras e bacharel em Direito.

Fundou o Colégio Estadual de Carmo do Cajuru e foi diretora dele

por muitos anos (...) Isso também foi motivo de orgulho para ela.

NOSSA GENTE

155


“Como advogada, atendia, prontamente, a quem a procurasse,

não pelo valor monetário do trabalho, mas pelo prazer de ajudar.

Foi incansável guerreira. Primava pelo gosto do saber. Certa vez,

disse a alguém que entre um prato de comida e um jornal, na

hora do almoço, sua opção seria o jornal. A leitura, sabida como

alimento para o espírito, parecia alimentar-lhe também o corpo.

Não usava óculos de grau, dizia nunca ter tido dor de cabeça, nem

gripe, nem dor de garganta, doenças tão comuns!”

Dona Mariazinha em família, e sua alegria contagiante e luminosa

Sua filha, Rosana Joyce, descreve bem a trajetória da mãe na Educação

e no Direito:

“Baixinha, salto alto prá dar certa imponência, ela carregou uma

bagagem de feitos – extraordinários ou não – por toda a estrada

que trilhou, desde que se formou professora, passando pela inspetoria

de ensino, diretora – onde ganhou notoriedade pelo belo

trabalho que executou pela educação e cultura de milhares de

alunos do famoso Colégio Estadual, que ela amava, e era amada

e respeitada por todos!

“Baixinha, porém gigante na força de vontade e na luta por seus

ideais – que não eram poucos – se formou em Direito já na sua

melhor idade, e aí sim, ela realizou seu sonho de levar justiça por

cada canto que passasse.

156 Célio Antônio Cordeiro


“A vida não lhe sorriu muito não! Mas, mesmo assim ela sorria...

estendia sua mão a todos que batiam na sua porta... e colocava

muito amor em tudo o que fazia!”

Ao final de seu texto, Rosana, lamenta que, em pleno século XXI,

“nada, nem ninguém conseguiu barrar o inimigo que a consumiu

durante anos e anos presa à uma cama” e acabou levando-a em

27/04/2017. ”Ela amava viver, apesar de tantos percalços. E se pudesse

voltar, certamente entraria na fila novamente — afirma.

A filha Giovana Vasconcelos

também escreveu sobre a mãe,

agradecida pelos primeiros momentos

de calor e carinho recebido

dela e o grande legado que

deixou para toda a família: dinamismo,

garra, coerência e acima

de tudo, seriedade nas suas convicções.

“Foi uma pessoa com

qualidades excepcionais:

bondade, generosidade,

sinceridade,

lealdade, amizade espontânea

e autêntica pelos que sempre mereceram ser seus amigos.

Foi uma pessoa pública elogiada por muitos, muitas vezes

invejada por outros, e ainda havia aqueles que gostariam de seguir

seus exemplos. Portanto seu nome vai permanecer como uma

bela herança, principalmente pelo enorme bem que fez àqueles a

quem verdadeiramente amou, e que, as inquietudes de seu coração

de sonhadora puderam oferecer!”

Os grandes feitos em prol de Carmo do Cajuru ficarão eternamente

gravados na memória do povo local. Um grande vulto que jamais

será esquecido. É um privilegio de ter sido aluno e amigo dessa inesquecível

senhora.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 056, Maio 2017

NOSSA GENTE

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D. a Marília Gomes Fonseca*

Todas as boas ações que eu possa praticar e todas as gentilezas que eu possa dispensar

a qualquer ser humano, devo aproveitar este momento para fazê-lo. Não devo adiá-las

nem esquecer-me delas, pois não voltarei a passar por este caminho.

Sabedoria Oriental - Lema de Marília Gomes

Nascida no dia 08 de setembro

de 1938, Marília Lúcia Gomes

Fonseca, filha do senhor Geraldo

Gomes Maia e dona Maria Pio da

Silva, seguiu sua vida a exemplo

de seus pais, com humildade, serenidade,

amor para com o próximo,

à família e a Deus. Sempre

dedicada e carinhosa com seus

treze irmãos. Uma dedicação e

zelo indescritíveis que foram experimentados

pelos filhos, enteados,

netos e sobrinhos.

Pessoa íntegra e batalhadora!

Iniciou sua carreira como professora,

na Escola Municipal Antônio

Pio da Silva (Ferrador), em

Dona Marília

agosto de 1957, com 19 anos de

idade. Lecionava para as crianças da comunidade bem como para alguns

de seus irmãos.

Em fevereiro de 1978, iniciou também seus trabalhos educacionais

como professora, seguida de bibliotecária na Escola Municipal Princesa

Isabel, onde encerrou suas atividades profissionais.

* O autor agradece a gentil colaboração da filha Márcia Gomes, na elaboração desta memória

tão significativa para Carmo do Cajuru.

158 Célio Antônio Cordeiro


Na escola do Ferrador aposentou-se no dia 02 de agosto de 1982. Tinha

gosto pela leitura e amava contar histórias. Todos que a ouviam

prendiam a atenção em suas fábulas e ensinamentos.

Era a leitora “Malussa”, a quem

seu avô Antônio Pio da Silva

apelidava e confiava para ler escrituras

e documentos da época.

Pelos seus pais era carinhosamente

chamada de “Bilussa” e

por seus familiares e comunidade

do Ferrador de “Lôra” ou tia

“Lôra”.

Como dedicação e zelo às coisas

de Deus, sempre ajudou nas

atividades religiosas. Gostava

muito de cantar! Com uma voz

entonada, ainda quando criança

louvava Nossa Senhora, coroando-a,

vestida de anjo, com muito

júbilo e devoção.

Dona Marília, ministra da Eucaristia

Dona Marília, com o esposo “Bené” e os filhos

NOSSA GENTE

159


Antes de se casar foi secretária da Pia União das filhas de Maria, nomeada

pelo saudoso cônego João Parreiras Villaça. Em 16 de dezembro

de 1970, casou-se com Benedito Vital da Fonseca, assumindo a

condição de mãe de quatro filhos maravilhosos: Marilda, Maísa, Marina

e Marcélio. E desta união, mais três filhos: Márcia, Magali (sempre

presente) e Maiher. Doze netos que a admirava.

Foi uma mãe exemplo! Incondicionalmente amou seus sete filhos

educando-os nas virtudes do amor, da fraternidade, da caridade, da

honestidade e sobre tudo da oração.

Deixou uma herança rica em sabedoria e dignidade. Sempre ativa

nos movimentos religiosos, consagrou-se ao Apostolado da Oração

com o título de zeladora em 1º de abril de 1960, propagando a devoção

ao Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria.

Em 15 de dezembro de 1985, foi nomeada Ministra da Eucaristia pelo

bispo dom José Costa Campos, sob a recomendação do padre Altamiro

de Faria.

Participou ativamente do Coral

Nossa Senhora do Carmo e sempre

ressaltava que suas habilidades

musicais foram construídas

sob a regência da querida e saudosa

Dona Lalia.

Na Semana Santa participava do

Quadro vivo na representação

de Maria Madalena. Estava sempre

presente e disposta a servir

à Igreja, à Deus! Coordenou por

vários anos as Coroações à Nossa

Senhora no mês de maio, ensaiando

e conduzindo as crianças

ao altar com zelo e devoção.

A jovem Marília, na Semana Santa

As ofertas de Flores à Santo Antônio,

realizada pelos meninos.

160 Célio Antônio Cordeiro


Marília os ensaiava, confeccionava os lírios de papel para as crianças

ofertarem e também oferecia aos mais carentes, as vestes para que

pudessem participar socializando-os aos demais.

Durante um período, realizou as coroações ao Sagrado Coração de

Jesus, feita pelos coroinhas da paróquia.

Foi peça fundamental na criação do grupo de homens e de mulheres

que até nos dias de hoje prestam essa maravilhosa homenagem ao

Sagrado Coração de Jesus. Sempre ativa, Marília, ajudava na ornamentação

da Igreja. Atuou como catequista desde 1965, com zelo

e carinho diferenciados; catequizava as crianças da comunidade do

Ferrador e posteriormente da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Dizia

que “quem cantava, rezava duas vezes”.

Dentre suas diversas atividades musicais participava também do

grupo de serestas, onde aprendia e ensinava canções diversas que

aqueciam os corações de quem as apreciavam. Marília foi uma mulher

simples e humilde.

Dona Marília, canta com o Grupo de Serestas de Carmo do Cajuru

Deixou um majestoso registro de sabedoria humana, que perdura

ainda no coração de todos que tiveram a honra de conviver ao seu

lado, espelhando em seus exemplos.

NOSSA GENTE

161


Sua fé inabalável nos mostrou que mesmo diante dos sofrimentos,

a presença de Deus em nossa vida é a alegria, a vitória que alcançamos

no nosso dia a dia. Como resposta à sua devoção a “Maria” numa

prática diária na Oração do Santo Terço, Marília faleceu no dia 7 de

outubro de 2010, dia dedicado à N. Sra do Rosário.

Inspirava-se nos ensinamentos do Papa João Paulo II que manifestava

também sua devoção ao Santo Rosário:

“O Santo Rosário é uma oração simples e fácil para todos, se

rezado com fé, esperança e amor, nos oferece vitória final, força

nas angústias e sofrimentos, e proteção especial reservada a todos

que em Deus depositam sua confiança”.

E nos deixando essa imensa saudade, com imensuráveis lembranças,

Marília terminou sua caminhada terrena nos braços da Virgem Maria.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 020, Maio 2014

162 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

163


D. a Paulina Guimarães*

Cultura é o sistema de ideias vivas que cada época possui.

Melhor: o sistema de ideias das quais o tempo vive.

José Ortega y Gasset

As gerações vêm, realizam feitos,

deixam feitos e partem.

Esta é a lei natural da vida. Não

sabemos por quanto tempo estaremos

entre nossos familiares

e amigos por mais simples que

tenha sido a vida, haverá sempre

uma lembrança marcada de

saudade, batendo em algum coração.

Assim é a vida, assim é a

morte…

Dona Paulina é a caçula de 11

irmãos. É filha de Aquiles Guimarães

e dona Aurora do Cintico.

Sua irmã mais velha, a dona

Lalia, que tocava harmônio nas

missas da Matriz e executava

Dona Paulina

muito bem o violino junto, o Jacintinho,

além da dona Mariinha,

Sô Ladico, o Dinho do Messias, Zé Passos e o Quilinho. Muitos outro

ainda se lembram das vozes e do violão do Zé Salomé, da aguda voz

da dona Bininha e do cheiro dos cartuchos, das coroações do mês de

maio, com a presença iluminada do nosso saudoso padre João.

* O autor agradece a gentil colaboração do filho Marciano Guimarães Mansur, na elaboração

desta memória tão significativa para a sociedade cajuruense.

164 Célio Antônio Cordeiro


A adolescente Paulina, com os irmãos e a mãe, dona Aurora do Cintico

Existia nos anos 40 e 50, uma grande disputa entre as congregações

religiosas, para definir qual fazia o altar mais bonito. Sempre ganhava

a Congregação dos Moços e das Moças, da qual ela fazia parte, ao

lado de seus outros dois irmãos, o Dr. Geraldo e dona Lúcia Guimarães,

inesquecíveis na memória daqueles que trazem em sua história,

os ensinamentos destes dois verdadeiros mestres da educação.

Naquela época, a cidade vivia um efervescente momento cultural.

Além dos grandes bailes de gala, onde a jovem Paulina encantava a

todos com a elegância de seu estilo de seu salto 15, nas passadas de

um tango ou nos giros de uma valsa, tinha também a companhia de

teatro. Esta companhia foi iniciada pelo seu pai, Aquiles, e seu tio,

Jehovah Guimarães, o farmacêutico, e tinha o apoio do Godofredo

Passos, cunhado dos dois, engenheiro da estrada de ferro, homem

importante do Rio de Janeiro. Isso lá no início dos anos 20.

NOSSA GENTE

165


As pessoas iam ao teatro, havia

uma programação constante

de recitais de música, pequenos

saraus, jogos de víspora e das

grandes peças teatrais. Dramas

e comédias faziam a alegria e

socialização de Cajuru até os

anos 1950, com o cinema, que

sobreviveu duas décadas mais.

Paulina sempre era escolhida

para desempenhar os principais

papéis dramáticos, emocionando

os expectadores que lotavam

o cine-teatro.

O terceiro irmão era o Zé, que

vinha depois do Geraldo. Ainda

bem jovens ele e o outro irmão,

o Luís, que era acima da Paulina,

mudam se para a capital, Belo

A graciosa Paulina, na infância

Horizonte, onde se estabelecem,

se casaram, construíram

famílias e fazem história. A outra irmã, a Olímpia, que é acima do Luís

e abaixo da Lúcia, casada com Elísio da dona Zezé, irmão da Esperancinha,

e o outro irmão, o Jacinto, o quarto, um “virtuose”, casado

com Alice Mourão, irmã da Virica do Carlito, filhas da dona Antonina,

escolheram viver na vizinha Divinópolis, onde foram bem-sucedidos.

Júlia a mais bonita das moças do Sô Aquiles, era entre o Jacinto e a

Lúcia. Ainda menina, manifestou epilepsia e faleceu aos trinta e poucos

anos. Os dois irmãos que faltam na lista são a Zizi, a primeira, e o

José, que era entre a Lalia e o Geraldo. Estes morreram ainda muito

pequenos e, apenas oito da irmandade dos onze, cruzaram o séc. XX.

Dona Paulina tinha uma grande habilidade manual, fazia belíssimas

flores para enfeitar as casas, pois nessa época ainda não existia o

“1,99” e as flores “made in China”. Os vestidos das moças ganhavam

166 Célio Antônio Cordeiro


belas rosas, camélias, orquídeas e violetas feitas de seda, de cetim,

veludo ou algodão. Na lapela do paletó dos rapazes tinha sempre um

belo cravo vermelho, mas que podia também ser branco. Quantos

andores e altares foram decorados com suas famosas flores, palmas,

angélicas e lírios.

A carinhosa mãe Paulina, com os filhos

Casou-se em 1956 com Belo Mansur, filho de dona Salma e do Sô Felix,

“os turcos”, com quem teve sete filhos: Marcelo (Turco), Marquinho,

Márcio, Marília, falecida ainda bebê, Marciano, Magda, e Munir.

A alegre avó Paulina, com os netos e a irmã

NOSSA GENTE

167


Sete netos: Gabriela e Pedro, filhos do Turco; Bruno, já falecido, e

Thales, filhos do Marquinho e Lídia; Lauro e Lucas, os da Magda.

Dona Paulina tinha muitas habilidades, mas nenhuma maior que sua

capacidade de resignação e aceitação dos desígnios da vida e da vontade

de Deus. Foi sempre devota e agradecida a Deus por todas as

alegrias que teve e jamais proferiu blasfêmia contra Ele pelas coisas

que lhe entristeceram o coração.

Nos seus 88 anos de vida, construiu, passo a passo, cada degrau da

escada que a levaria ao céu, onde com certeza, está agora, junto de

Deus, de seus amigos e familiares e do grande amor da sua vida, o

Belo; comungando da paz do Senhor! Ficam para nós, muitas sabedorias,

mas especialmente uma que ela dizia sempre: “Na vida tudo

passa, só Deus não muda. Quem tem paciência e fé, tudo alcança”.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 06, Mar. 2013

168 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

169


D. a Zulmira Felizarda Duarte*

“Quase tudo é possível quando se tem dedicação e habilidade.

Grandes trabalhos são realizados não pela força, mas pela perseverança.”

Diego Lima

Nascida em 3 de dezembro de

1913, no meio rural, município

de Carmo do Cajuru, em um

lugar chamado “Sapé”, antes

pertencente ao município de Itaguara,

localizado entre Estivas

e Aroeiras, nasceu Zulmira Felizarda

Duarte, filha de Nicolau

Felipe e Felizarda Rosa.

Dona Zulmira, um mãe inesquecível

Casou-se aos 22 anos com José

Gonçalves Duarte com quem

teve uma única filha: Alda Felizarda

Duarte. Naquela época,

quando a filha se casava, ainda

permanecia morando na casa

dos pais por um determinado

tempo. Foi abandonada pelo esposo

com a filha ainda pequena.

Naquela tempo, o padre Geraldo Rodrigues Costa era o pároco de

Itaguara e regularmente visitava as comunidades rurais de Boa Vista,

Pará dos Vilela, Aroeira e Estiva para realizar celebrações. Zulmira

era responsável pela cozinha. Ficava uma semana trabalhando na

casa em que o padre ficava hospedado, fazendo os preparativos para

recebê-lo. Dessa forma, criou e educou sua filha.

* O autor agradece as gentis colaborações de dona Alda e Bia Duarte, filha e neta da inesquecível

dona Zulmira, na elaboração desta crônica.

170 Célio Antônio Cordeiro


Dona Zulmira, cozinheira e cuidadora

Zulmira seguiu sua vida trabalhando

como doméstica nas casas

de famílias Rabelo, como a

do Zé do Deco e dona Noêmia

Teixeira; Coca do Lôla e dona

Lia; e de Leopoldino e dona

Fausta (pais do proprietário do

Ateliê do Pão), entre outras.

Em 1951, o Sr. Francisco Rabelo

Filho, conhecido por “Quim Balduíno”,

pai do Zé do Quim, chamou

Zulmira para Carmo do Cajuru,

para tomar conta de seus

filhos que estudavam na cidade.

Pouco tempo depois, a mãe de

dona Zulmira faleceu, deixando

viúvo seu pai Nicolau que

também se mudou para Cajuru

para trabalhar na construção

da barragem, trazendo a outra

filha, Maria Felizarda, e suas sobrinhas

“Altair” (com onze anos)

e “Natail” (com sete anos), que

ainda estavam com ele na roça.

Sr. Nicolau (pai de Zulmira) arrumou uma casa ao lado da casa do

senhor Quim Balduíno, onde Zulmira cuidava dos filhos dele, do seu

pai e também da sua irmã que já estava muito doente, inclusive vindo

a falecer meses depois, deixando órfãs as duas sobrinhas. Então, Zulmira

precisou deixar de cuidar dos filhos do Sr. Quim, para se dedicar

ao pai, à filha Alda e ajudar na criação das sobrinhas.

Em 1952, padre Geraldo esteve em Cajuru para fazer uma visita para

a Zulmira e seu pai Nicolau, que também serviu como sacristão nas

comunidades rurais, no tempo em que as missas eram celebradas em

latim.

NOSSA GENTE

171


Conforme costume, quando um padre chegava na cidade, era preciso

se apresentar ao pároco local. Assim, padre Geraldo conheceu padre

João Parreiras Villaça que o convidou para se hospedar na casa paroquial;

mas, foi surpreendido com a resposta “não”, justificando que já

tinha sido acolhido na casa da sua cozinheira e do seu sacristão. Ao se

despedir, padre João acompanhou padre Geraldo até a residência de

Nicolau que, na atualidade, é o mesmo endereço onde reside Alda,

filha única de Zulmira.

Lá chegando, padre João convidou Zulmira para trabalhar com ele,

mas, ela tinha dificuldades, uma vez que precisava cuidar do pai, da

filha e das sobrinhas que ela considerava como filhas também. Com

a insistência do padre João, Zulmira começou a adiantar o serviço de

casa e a deixar orientações para as tarefas que as meninas ainda não

sabiam fazer, e logo depois, seguia para a casa paroquial. Sempre

voltava em casa para ver se as meninas tinham cumprido as tarefas

e ido para a escola.

Mesmo trabalhando para o padre João, Zulmira era sempre convidada

para trabalhar nas festas de casamentos. Sua culinária era famosa.

Entre tantos outros, a boa lembrança de trabalhar na casa dos

pais de Célio Cordeiro, a dona Carmelita e o senhor Antônio Cordeiro.

Assim, foi a trajetória de Zulmira até o dia em que o padre João deu

baixa em sua carteira de trabalho. Padre João faleceu no dia 24 de junho

de 1982 e Zulmira, no mês seguinte, em 8 de julho, 15 dias após,

também faleceu. O senhor José Mateus Filho (Zé Mateuzinho, como

era conhecido) disse: “É... o Pe. João não quis ficar lá sem a sua cozinheira”.

Dedicação, bondade, habilidade e perseverança, sempre marcaram

a vida de dona Zulmira. Foi uma pessoa sempre comprometida com

o papel que desempenhava. Muito alegre e carismática, deixou muita

saudade a centenas de amigos que com ela conviveram.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 67, Abr. 2018

172 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

173


174 Célio Antônio Cordeiro


HOMENS NOTÁVEIS

NOSSA GENTE

175


176 Célio Antônio Cordeiro


Agostinho Ferreira Tito*

Evitar conflitos não é fugir dos problemas, mas resolvê-los da forma mais nobre possível.

Itrio Netuno

Uma cidade se faz de homens e

mulheres, isto é, gente. Gente

essa que vai fazendo a história e

a história fazendo gente. Muitos

são aqueles que se destacam por

lutas heroicas, outros por grandes

obras e aqueles que se tornam

eternos pelo exemplo.

E foi pelo exemplo que Agostinho

Ferreira Tito (Sô Tito) ficou

na memória da cidade de Carmo

do Cajuru.

Agostinho Ferreira Tito (Sô Tito)

Nascido em 3 de janeiro de 1903,

filho de Osório Ferreira Pimenta

e Ana Batista Miranda, residentes

na Mangonga, onde criou

seus nove filhos e teve vários de

seus netos e netas.

De lavrador a pequeno comerciante, foi buscando sempre aqui e em

outras terras ganhar a vida. Numa dessas tentativas, conheceu em

Retiro dos Farias, dona Dica, a mulher com quem, tardiamente (para

a época), casou-se e tiveram doze filhos.

* O autor agradece a gentil colaboração de Maria das Dores Ferreira (Dorinha do Sô Tito)

na elaboração desta memória.

NOSSA GENTE

177


Sô Tito, com os irmãos e cunhada, confraternização familiar

Grande homem. Soube ser marido e pai. Soube ensinar dando exemplo

de honestidade, caridade e equilíbrio. Católico fervoroso, sempre

presente nas celebrações e obras da Igreja.

Ajudou a fundar as conferências de São Vicente de Paula e continuou

confrade assíduo até à morte. Foi membro do Conselho Paroquial,

quando o pároco era o padre João, até no tempo do padre Altamiro.

Também foi dos primeiros ministros da Eucaristia, na paróquia de

Nossa Senhora do Carmo, quando esse ministério era ainda um tabu.

Exerceu, com carinho e respeito,

essa missão de 1973 a 1984. Ao

aceitar essa tarefa, mostrou que

apesar da idade, era um homem

além do seu tempo.

Essa qualidade de acompanhar

as mudanças do mundo fez dele

Dona Dica, a neta e Sô Tito

um homem que sabia ouvir, por

isso era sempre procurado para aconselhar, resolver, como ele sempre

dizia, “pendengas de estradas e água” na zona rural. Outras vezes

eram as brigas dos casais o motivo para receber em casa tantas

pessoas.

178 Célio Antônio Cordeiro


Um baralhinho com os amigos, a prosa fácil, as ponderações nas desavenças,

um amigo para os momentos difíceis, um ouvinte atento,

fizeram com que o Sô Tito fosse conhecido e admirado por muitos.

Política sempre foi uma paixão, não essas paixões cegas que tratam o

adversário como inimigo como era costume na sua época. Mas como

forma de inserir na comunidade e acompanhar o desenvolvimento

do município.

Dona Dica e Sô Tito, no casamento

Encerramento de um retiro vicentino em 1953

Por isso que, em 1949, época em que o vereador não recebia salário,

foi vereador da primeira legislatura de Carmo do Cajuru. Foi também

membro do Conselho Administrativo da Cooperativa dos Produtores

de Carmo do Cajuru por vários anos, serviço esse também voluntário.

A política continuou sendo um dos assuntos prediletos. Militou no

Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que abrigava algumas

lideranças contrárias ao Regime Militar. Muitas foram as vezes

em que sua casa era reduto de longas conversas para definir candidaturas,

determinar estratégias de campanha e busca de apoio.

Já com idade avançada e sem o que fazer para manter a obrigação de

provedor da família, vendia bilhetes das Loterias (Federal e Mineira).

Quase sempre brancos, que após serem conferidos, o comprador recebia

um pequeno sorriso e o comentário “não foi dessa vez”.

NOSSA GENTE

179


Para complementar a renda, buscava em São Gonçalo do Pará doce

de leite, manteiga e requeijão para revender a granel. São muitos

aqueles que ainda se lembram do gostinho doce que a guloseima

deixava na boca em tempos de comércio ainda fraco na cidade.

Sô Tito, para uma grande maioria, ‘Tito Cambista’ para os menos íntimos,

Tito do Osório para muitos dos parentes e Pimenta para os

padres João e Amarildo.

E foi assim que, em 4 de janeiro de 1992, Sô Tito, o homem de cabelos

branquinhos, deixou saudosos aqueles que o conheceram e um

pouquinho de saber na história do povo cajuruense.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 015, Dez. 2013

180 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

181


Alípio Nogueira Avelar

Pessoas existem, desprendidas e sem vaidade, a quem apenas satisfaz o desejo de ser úteis

à coletividade e a grande atenção aos familiares.

José Dias Lara

É com as belas palavras da epígrafe,

que vamos, descrever um

pouquinho sobre o muito que foi

esse grande vulto de nossa querida

Carmo do Cajuru - o saudoso

Alípio Nogueira Avelar.

Nascido em Carmo do Cajuru em

9 de fevereiro de 1933. Em 18 de

julho de 1959, casou-se com Maria

Silvério Nogueira de Avelar

(“Dona Fia”), constituindo uma

bela família com seis filhos: Fátima,

Tovar, Heleno, Angélica,

Andréa e Nei.

Formou-se em contabilidade em

1969, Em agosto de 1970, com

resultado da força e dos próprios

méritos, Alípio Nogueira

Alípio Nogueira Avelar

de Avelar, constituía seu sonho, nasceu a Organização Contábil Avelar

- Contabilidade Avelar. Uma empresa familiar, que foi iniciada em

um pequeno cômodo residencial e posteriormente transferida para a

sede oficial na praça Vigário José Alexandre, 95 - no centro em Carmo

do Cajuru - MG. Ainda exercendo profissão de contador, paralelamente

trabalhou como Escrivão do Crime na comarca de Carmo do

Cajuru e mais tarde foi transferido para comarca de Divinópolis onde

se aposentou em 14 de agosto de 1985.

182

Célio Antônio Cordeiro


Alípio foi um dos fundadores do

Tupy Futebol Clube, onde atuou

como atleta e diretor durante

toda sua vida. No Tupy, deixou

sua marca pela dedicação e

amor ao clube.

Foi também um dos fundadores

do Rotary Club de Carmo do Cajuru,

em 25 de janeiro de 1982,

juntamente com outros companheiros,

quando se destacou por

sua liderança e companheirismo

rotário.

Alípio Avelar, festeja conquista com a torcida do

Tupy Futebol Club.

Abaixo, o time titular do Tupy; Alípio é o quarto

na linha de frente (da esq. p/ dir.)

Foi presidente por dois mandatos,

além de exercer todos os

cargos da diretoria, deixando

um legado de atitude e de competência

em 36 anos de vida.

NOSSA GENTE

183


Alípio com a família

Alípio, em homenagem da Câmara Municipal de

Carmo do Cajuru

Foi um dos fundadores da Vila

Vicentina e do Centro Esportivo

Olímpico. Sempre foi participativo

e colaborador com sua

inteligência, sabedoria ímpar e

acima de tudo, um coração gigantesco,

onde abraçou e acolheu

todo aquele que necessitou

de sua ajuda.

Alípio foi uma pessoa que se dedicou intensamente ao trabalho.

Soube com dignidade e atenção, criar e educar, ao lado de “Da Fia”,

a sua bela família.

Grande exemplo de pai, de esposo e de cidadão. Sempre acorria com

muito zelo aos serviços voluntários, quando solicitado.

Durante sua vida, recebeu várias homenagens por relevantes serviços

em prol de muitos. Entre as homenagens estão: a comenda “Caa-yuru”,

em dezembro de 2004; e da Justiça Eleitoral, em dezembro

de 2008, pelos serviços prestados durante longos anos, como mesário

em dezenas de eleições realizadas em Carmo do Cajuru.

184

Célio Antônio Cordeiro


Alípio, elevado espírito de cidadania

Depois de uma longa enfermidade,

com a saúde muito frágil,

por causa do Alzheimer, em 27

de setembro de 2015 veio a falecer.

Seu corpo foi velado na sede

do Rotary Club com o comparecimento

de centenas de amigos

e companheiros, que foram levar

aos familiares o conforto e

a solidariedade durante aquele

momento de comoção.

Deixou muita saudade por ser

um exemplo de homem e de um

grande profissional.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 069, Jun. 2018

NOSSA GENTE

185


Pe. Altamiro de Faria

O que há de melhor no homem somente desabrocha quando se envolve em uma comunidade.

Albert Einstein

Padre Altamiro

Padre Altamiro nasceu em 25 de

junho de 1920, em uma fazenda

próxima a São José dos Rosas, no

município de Santo Antônio do

Monte. Filho de Joaquim Faria

Nascimento e de Alice de Faria

e Silva, desde criança se mostrava

muito dedicado e inteligente.

Bem cedo, sentiu-se chamado a

abraçar o sacerdócio.

Ainda adolescente, foi matriculado

no seminário do Coração

Eucarístico de Belo Horizonte.

Foi nesse Seminário que realizou

seus estudos até a ordenação,

em 31 de outubro de 1943, na

Igreja N. Sra. das Dores, do bairro

Floresta, em Belo Horizonte.

Foi ordenado pelo bispo dom Antônio dos Santos Cabral, numa bonita

manhã de domingo, por ocasião da festa de Cristo Rei.

Antes de vir para Carmo do Cajuru, passou por diversas paróquias.

Deixando sempre, além de um rastro de saudades, os frutos de seu

belo trabalho, em cada paróquia por onde passou.

Como sempre, a paróquia de Nossa Senhora do Carmo e o povo cajuruense,

pelos desígnios divinos, sempre foi agraciada por grandes

párocos. Com o padre Altamiro não foi diferente.

186

Célio Antônio Cordeiro


Sua chegada, acompanhada por

dom José Costa Campos, ocorreu

de uma forma brilhante, em

uma tarde de domingo, no dia 5

de fevereiro, na praça Presidente

Vargas, repleta de fiéis, indo,

em seguida, para a Matriz, onde

ocorreu a posse, em bela concelebração.

A partir desse dia, a paróquia

Nossa Senhora do Carmo ficaria

marcada para sempre, com os

grandes serviços prestados por

esse verdadeiro altruísta.

Cito aqui um trecho escrito por

Maria das Dores Ferreira (Dorinha

do Sô Tito), no Jornal Sol

Nascente, de outubro de 2003.

O padre Altamiro em celebração de casamento

Ela descreve de uma maneira muito cristalina o que foi a presença de

padre Altamiro na paróquia:

“Em 1984 chega a nossa cidade Padre Altamiro. Figura simples,

frágil, mas que escondia uma disposição invejada. Iniciaram-se

os trabalhos. Uma reunião aqui, outra acolá. Uma pastoral

a mais, assembleias, diagnósticos, conversas, sondagem,

trabalhos em grupos, formação de conselhos, cursos para os

catequistas, eleições ... E nós que nunca tínhamos participado

de uma Igreja de base, fomos aprendendo que havia um outro

jeito de ser católico, cristão, enfim de sermos Igreja.

Corais, grupos de reflexão, pastoral familiar, operária, da catequese,

da juventude. Nossa paróquia começou a mostrar a

cara na Diocese. Povo animado não faltava. Era só cutucar e

isso nosso pastor sabia fazer e de uma forma que deveria ser

exemplo para tantos que iniciam a vida sacerdotal”.

NOSSA GENTE

187


Padre Altamiro recebe cumprimentos do prefeito Edson Vilela e vereadores pelo titulo de Cidadão

Honorário de Carmo do Cajuru (CEO)

Foi assim, respeitando diferenças,

animando os paroquianos

nos momentos difíceis, orientando

aqueles confusos, evangelizando,

fazendo descer até

nós o Deus Emanuel que Padre

Altamiro deixou sua marca na

nossa história do povo e na vida

individual.”

Em 9 de dezembro de 1988, deixou

nossa cidade, para ser pároco

de São Sebastião do Oeste.

Mas para a felicidade, principalmente,

dos moradores do distrito

de São José dos Salgados,

retornara a trabalhar em nosso

meio, como vigário paroquial.

Lembrança de padre Altamiro

188

Célio Antônio Cordeiro


Em São José dos Salgados, exerceu de forma notável o seu sacerdócio.

Chegou naquela comunidade em 11 de dezembro de 1998, ali

permanecendo até 2008. No ano seguinte, com quase 90 anos e com

a saúde muito frágil, veio a falecer, no Hospital São João de Deus, em

12 de janeiro de 2009.

Pelos relevantes serviços prestados, não só à paróquia como também

para a comunidade cajuruense, recebeu várias homenagens em vida.

Em Carmo do Cajuru foi agraciado pela comenda “Cayuru” e também

com o título de Cidadão Honorário, no dia 27 de dezembro de 2003.

Por diversas vezes, foi distinguido também pela Igreja Católica.

Hoje, os paroquianos de Nossa Senhora do Carmo e os moradores

de São José dos Salgados relembram com muita saudade daquele

homem simples e de aparência franzina, que tanto contribuiu para o

bem-estar de todos que o conheceram.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 018, Mar. 2014

NOSSA GENTE

189


Amim Mattar

Ele se fez figura benemérita de Carmo do Cajuru, em gesto de gratidão, próprio de pessoas

generosas, para retribuir a hospitalidade que recebeu quando aqui chegou.

C. A. C.

Os imigrantes sírio-libaneses

foram sempre benquistos na

região Oeste de Minas. Foi assim

com Amim Mattar, com seu

espírito aberto e realizador, disposto

sempre às boas iniciativas

e incansável na busca de seus

ideais.

Natural do Líbano, nascido em

1898. Era filho de Ali Mattar e de

Hala Massaud Souki. Ainda bem

jovem veio para o Brasil e fixou

residência em Vendinha, no município

de Formiga, MG.

Amim Mattar, no dia instalação do município

em 1 o /01/1949

Em 17 de maio de 1919, casou-se

com Maria Conceição de Jesus,

filha de João Ramos e de dona

Minelvina Rosa de Campos, todos

naturais de Formiga.

Chegou a Carmo do Cajuru pouco depois de seu casamento. Teve

duas filhas: Maria dos Anjos, casada com Ilídio Pereira da Silva e Maria

Leonídia (Lilia), casada com Sebastião Pereira.

Pelos relatos da história cajuruense, ele foi uma das principais figuras

na luta pelo ideal da emancipação de nosso distrito. Foi digno de

louvores por tudo que fez para que a emancipação se concretizasse.

190 Célio Antônio Cordeiro


Na época, foi um dos principais

comerciantes, sendo também

um empresário e fazendeiro de

destaque. Foi um cajuruense por

adoção e de coração.

A esposa Maria Conceição de Jesus e Amim

Mattar, em sua produtiva fazenda

Para dar força ao ideal da emancipação,

construiu prédios e incentivou

muito o crescimento

de nossa economia. Construiu

um prédio de três pavimentos

em uma das principais ruas de

Carmo do Cajuru, para influenciar

ainda mais a conclusão dos

trabalhos pró-emancipação. Ele

próprio afirmava que um de seus

grandes desejos era ver Carmo

do Cajuru, tornar-se uma grande

cidade.

O prédio de três andares, local de reuniões em vários momentos do processo de emancipação e do

município recém-instalado

NOSSA GENTE

191


Foi sempre uma pessoa de um

coração aberto a grandes iniciativas

filantrópicas, homem simples,

de trato acolhedor e muito

amor ao trabalho, qualidades

que o tornaram uma figura ilustre

e um personagem muito importante

entre os idealistas da

comissão pró-emancipação.

Foi homenageado com muita

justiça, como presidente honorário

da referida comissão, por

seu elevado espírito público. Ele

é parte integrante da nossa história;

mais cajuruense que muitos

cajuruenses natos.

Amim Mattar, caminhando com sua feliz esposa

pela cidade que tanto amavam

Seu falecimento ocorreu no dia 31 de julho de 1964, em Divinópolis,

depois de ter sido vítima de lamentável acidente de trem, em Carmo

do Cajuru.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 023, Ago. 2014

192 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

193


Anair Nogueira*

A medida do amor é amar sem medida.

Santo Agostinho

Foi em Amoras, zona rural de

Carmo do Cajuru, que nasceu,

em 14 de setembro de 1923,

Anair Nogueira. Seus pais, Roquechil

Nogueira Penido e Custódia

Alexandrina de Jesus tiveram

mais seis filhos: Conceição,

Lourdes, Antônio, Maria Júlia

(Lulú), Zilda e Alice.

Estudou na Escola Princesa Isabel,

mas não chegou à quarta

série. Vinha e voltava a pé e dizia

que fazia muitas estripulias por

estes caminhos.

Quando jovem foi para Belo Horizonte

servir ao Exército e só

Anair Nogueira

não foi para os campos de batalhas

da II Guerra como foram

seus colegas Sr. Carlito e Sr. Dico, porque na véspera do embarque

veio a notícia de que a guerra havia acabado.

Em setembro de 1949 casou-se com Maria José, conhecida por todos

como Dona Zezé, filha de Sebastião Faleiro e Francisca Rosa de Jesus,

que também moravam em Amoras.

* O autor agradece a gentil colaboração de Maria Cleusa Nogueira Vilaça, filha do Senhor

Anair na elaboração desta crônica.

194 Célio Antônio Cordeiro


Depois de casados, seguiram

morando na zona rural. Ele picava

lenha e ela fazia farinha, que

ele levava e vendia no comércio

de Carmo do Cajuru.

Com o dinheiro que conseguiu

economizar, abriu um pequeno

cômodo de comércio na cidade,

situado à rua Tiradentes. Ia e

voltava a pé todos os dias, quase

7 Km, até que conseguiu se mudar

de vez para a cidade.

Sô Anair Nogueira e dona Zezé, amor sem fim

Morou de favor até comprar sua

casa, na rua José Demétrio Coelho,

onde viveu quase a vida

toda e onde também construiu

seu cômodo de comércio.

Quando aposentou se tornou cafeicultor. De sua lavoura saíram muitos

caminhões de café e muitos empregos temporários. Na cidade

não havia quem não conhecesse o Sô Anair.

Sô Anair Nogueira e sua esposa Dona Zezé, entre familiares

NOSSA GENTE

195


Vereador Anair Nogueira, no palanque de autoridades, em desfile de Sete de Setembro (1970)

Foi bom e caridoso vicentino e

também o primeiro Cursilhista

de Cajuru. Era assíduo e cuidadoso

nas reuniões e Ultréias.

Foi um Cristão autêntico; filho

amoroso; pai responsável, bondoso

e exigente; um amigo fiel e

alegre; marido apaixonado, que

sempre presenteava sua esposa

com uma rosa no dia dos namorados.*

Era apaixonado por política. Foi

vereador nos mandatos dos prefeitos

José Mateus Filho, João da

Mata Nogueira e Cícero Rabelo.

Foi presidente da Câmara.

Vereador Anair Nogueira, em flagrante social

Não posso deixar de acrescentar a esta biografia que Sô Anair, na década de 1960,

foi também tesoureiro e importante colaborador nas construções da Praça do Cruzeiro

e da Vila Vicentina. Ele fez parte do grupo de vicentinos que muito trabalhou para

que o projeto humanitário fosse realizado (CAC).

196

Célio Antônio Cordeiro


Adorava uma pescaria. Seus amigos não gostavam de ir sem ele, pois

diziam que era um cozinheiro de mão cheia, alegre e contador de

“causos”.

Sô Anair e Dona Zezé tiveram doze filhos e vinte e seis netos. Já na

velhice, uma doença degenerativa da visão o deixou praticamente

cego, mas não o impediu de viver como sempre gostou: alegre, contador

de “causos”, bom conselheiro e excelente companhia.

“Minha esposa é a princesa da minha vida e meus filhos, meu maior tesouro”

foram as palavras mais repetidas por ele mesmo, às vésperas

de nos deixar, em dezembro de 2010.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 042, Mar. 2016

NOSSA GENTE

197


Antônio Cordeiro Sobrinho*

Todo trabalho honesto sustenta, honra e dignifica o ser humano.

Sérgio Pinheiro

Antônio Cordeiro Sobrinho, ou

simplesmente Cordeiro, como

era tratado por muitos, nasceu

em 18 de agosto de 1918, no município

de Cláudio. Filho de José

Fabião Cordeiro e de Maria Jose

do Carmo de Jesus.

Provindo de família numerosa

da zona rural, ainda bem novo,

já se dedicava ao trabalho, na

difícil labuta da lavoura de subsistência

e da economia familiar.

No final dos anos 1930, conheceu

a bela jovem Carmelita, em

Carmo do Cajuru, e apaixonou-

-se por ela. Depois de um curto

Antônio Cordeiro Sobrinho

período de namoro, em 21 de

dezembro de 1940, casaram-se em cerimônia realizada na matriz de

Nossa Senhora do Carmo, por padre Augusto Cerdeira. Do casamento,

nasceram 10 filhos: Maria Irene Cordeiro, José Antônio Cordeiro,

Maria Lúcia Cordeiro, Carlos Antônio Cordeiro, Antônio Cordeiro Filho,

João Antônio Cordeiro, Célio Antônio Cordeiro, Geraldo Antônio

Cordeiro, Maria Paulina Cordeiro e Maria da Glória Cordeiro.

* Esta é uma singela homenagem que jornal Boca da Mata prestou à saudosa figura de

meu saudoso pai, Antônio Cordeiro Sobrinho, extensiva aos familiares e principalmente

sua inesquecível esposa dona Carmelita Cordeiro, nossa tão querida e saudosa mamãe!!

198

Célio Antônio Cordeiro


Os 10 filhos de dona Carmelita e Antônio Cordeiro

No início do casamento, residiram por algum tempo na região urbana

de Carmo do Cajuru. Posteriormente, mudaram-se para uma

pequena propriedade rural no municio de Divinópolis, onde o casal

batalhava muito para o sustento dos filhos.

No final dos anos 1940, alcançaram uma grande realização, vindo residir

na fazenda da Pólvora, onde conseguiram com muito esforço

comprar parte da fazenda. Por ter uma boa localização, muito próxima

da cidade, realizaram um grande sonho: a educação escolar dos

filhos, no antigo Grupo Escolar Princesa Isabel. Com muito esforço e

trabalho, o casal prosseguia rompendo os grandes desafios na criação

e educação de uma família numerosa.

Dona Carmelita, além de grande mãe de família e esposa exemplar, o

auxiliava muito através da sua máquina de costura, da grande habilidade

como cozinheira e afazeres em geral como dona de casa, além

de ser uma grande educadora.

O Cordeiro mostrou ser um administrador de grande habilidade, com

a experiência adquirida ao longo de sua vida. Foi conselheiro fiscal e

administrativo na antiga Cooperativa dos Produtores Rurais, ao início

dos anos 1970.

NOSSA GENTE 199


Antes, Carmo do Cajuru possuía duas cooperativas, mas, por sugestão

da Itambé, em 1975, houve fusão das duas. Já no início, Cordeiro

assumiu o cargo de conselheiro administrativo e, posteriormente, o

cargo de Diretor Comercial por três gestões seguidas.

Suas gestões foram sempre aprovadas por um índice expressivo de

associados. Alguns até hoje relembram com saudades de seu tempo

na Cooperativa. O mesmo acontecia com o quadro de funcionários,

que em sua grande maioria, o estimava muito.

Prestou serviços de forma voluntária ao Sindicato Rural, como membro

da diretoria, quando da gestão de João Cordeiro de Melo na presidência.

Como cumpridor de seus deveres de cidadão, fez parte do

Corpo de Jurados de nossa cidade, por vários anos, chegando a participar

de vários Júris.

As várias gerações da família Cordeiro e dona Carmelita - Confraternização pelas Bodas de Esmeralda

Homem de fé cristã, foi membro assíduo da Liga Católica; colaborou

com a Vila Vicentina, Creche e em obras na construção da Praça do

Cruzeiro. Além de ajuda financeira, doou toda pedra gasta na construção

do calvário, construído pelo prefeito Wilson Mano da Silva.

200

Célio Antônio Cordeiro


Ajudava e apoiava, quando era

solicitado, em diversas campanhas

promovidas pela Igreja,

como os leilões, como mostram

os programas de festejos religiosos

da época. Foi um grande

exemplo de pai, avô, amigo e

principalmente de esposo. Casamento

duradouro, que chegou a

Dona Carmelita e Cordeiro, quase 60 anos juntos

celebrar as bodas de ouro e que

pelos desígnios de Deus, faltou pouco para celebrar também os 60

anos de uma bem-sucedida vida conjugal.

Em 20 de setembro de 1998, numa manhã de domingo, vítima de um

aneurisma cerebral, ao lado de sua amada esposa e de alguns familiares,

partiu para a vida eterna, deixando uma grande lacuna e momentos

de tristeza aos familiares e amigos.

O casal que focalizo nesta são os meus queridos e saudosos pais.

Grandes legados nos deixaram, como a dedicação ao trabalho, a fé

e, principalmente, a honestidade.

Hoje, o nome de meu pai é muito lembrado, principalmente pelos

produtores rurais mais velhos. No Parque de Exposições, ele dá nome

ao “Tatersal Municipal Antônio Cordeiro Sobrinho”. In memorian, foi

homenageado também pela Câmara Municipal de Carmo do Cajuru,

com a comenda “Caa-yuru”, pelos relevantes serviços prestados ao

município.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 060, Set. 2017

NOSSA GENTE 201


Antônio de Souza e Silva

A alegria e o sofrimento são inseparáveis, como compassos diferentes da mesma música.

Hermann Hesse

Antônio Cotó: reinadeiro, carnavalesco, atleta

Estas lembranças mostram bem

quem foi o saudoso cajuruense

“Antônio Cotó”. Antônio de

Souza e Silva, filho de dona Carmelita

de Souza e Silva e de José

Cassimiro da Silva, nasceu em

Carmo do Cajuru, no dia 15 de

setembro de 1952, dia dedicado

a Nossa Senhora das Dores. Em

22 de dezembro de 1973, casou-

-se com Maria de Fátima, união

da qual nasceram seus três filhos:

Marlúcia, Gláucio e Eduardo.

Que deram ao casal três netos:

Mairon, Maycon e Melyssa.

Cotó é sempre lembrado quando

o assunto é esporte. Ele deixou

sua marca, vestindo com

muito brilho as camisas dos nossos

gloriosos times Tupy Futebol

Clube e Sport Club Cajuru. Além

de atleta, trabalhou nas equipes

de base, ajudando muito na formação

de novos atletas e bons

cidadãos.

Casamento, na Matriz de N. S. do Carmo

202

Célio Antônio Cordeiro


Já no carnaval, também desempenhou

um papel de destaque.

Ele era um apaixonado pela festa,

deixando para Carmo do Cajuru

um feito importantíssimo:

a fundação da Escola de Samba,

“Unidos do Pavão Dourado” em

10 de março de 1988, da qual foi

o presidente por vários anos.

Muito devoto de Nossa Senhora

do Rosário, Antônio passou boa

parte de sua vida colaborando

com o Reinado através do trabalho

voluntário, desenvolvido

com amor e afeto.

O notável Antônio Cassemiro Cotó

Foi Capitão de um terno de Catupé,

que muito alegrava a Irmandade

de Nossa Senhora do

Rosário e também das demais

irmandades aqui existentes.

Quando podia, se deslocava

com sua guarda para outras cidades,

inclusive a Aparecida do

Norte. Sempre tinha como grandes

parceiros, além de sua esposa,

o seu irmão Geraldo de Souza,

“Lado”, demais familiares e

amigos de batalha.

O casal dona Maria de Fatima e Antônio Cotó

Assim foi o Antônio de Souza

e Silva, pessoa que soube conquistar

muitos amigos e admiradores

com seu espírito altruísta

e muito voltado para as coisas

alegres da vida.

NOSSA GENTE 203


Antônio Cotó, em dois tempos no futebol

A tradicional Escola de Samba “Unidos do Pavão Dourado”

204

Célio Antônio Cordeiro


Quando a enfermidade surgiu em sua vida, procurava com superação

vencer os obstáculos pelos dolorosos tratamentos a que fora submetido.

Mesmo com o apoio da família, sofreu com resignação os desígnios

traçados por Deus.

Em 25 de fevereiro de 2015, com a saúde já frágil, veio a falecer,

abrindo lacunas em nossas festas e manifestações populares.

Antônio Cotó é considerado um sinônimo de futebol amador, carnaval

e reinado em Carmo do Cajuru. Lembrar e não reverenciar com

muita saudade a grande figura que foi o “Antônio Cotó” é impossível.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 031, Abr. 2015

NOSSA GENTE 205


Braz Rabelo

Boa vontade e cooperação podem ser vistas em mentes educadas

Helgir Giroto

Em se falando de boa vontade e

cooperação, nesta crônica, vamos

tratar de uma personalidade

cajuruense ímpar.

Foi um dos mais expressivos

cooperativista conhecidos, que

muito trabalhou em prol dos

trabalhadores rurais – o saudoso

Braz Rabelo.

Provindo de família simples e

numerosa e muito dedicada ao

trabalho, sempre valorizavam

muito a honestidade e a honradez,

legados que herdaram de

seus pais, senhor Olinto Gonçalves

Rabelo e dona Concessa Maria

da Fonseca. Teve 7 irmãos:

José Rabelo, Gil Rabelo Neto e

Rute Rabelo (falecidos). Ainda

vivos: Brígida, Nair, Guadalupe

e Olíria.

Nascido em Carmo do Cajuru,

em 23 de julho de 1936, desde

muito jovem com seus pais e irmãos

já se acostumara com as

batalhas da vida, em duras tarefas

do cotidiano.

Maria Augusta e Braz, recém casados

206 Célio Antônio Cordeiro


No início dos anos 60, conheceu a bela jovem Maria Augusta, de

quem se apaixonou e, em 11 de fevereiro de 1961, casaram-se. Do

casal nasceram nove filhos: Geraldo Evangelista, Maria Lindaurea,

Dalmira, Áurea (falecida), Jaime, Carmindo, Gilberto, Gilmar e Jordelho.

De sua descendência são 12 netos: Aureliano, Karina, Carolina,

Arilson, Tatiane, Bruna, Maria Aurélia, Paula, Brenda, Miguel Augusto,

Daniele e Fábio.

Maria Augusta e Braz, entre os filhos

Braz Rabelo sempre foi ligado ao meio rural. Em 1954, tornou-se associado

da cooperativa de produção, onde por longos anos fornecia

a sua produção leiteira. Com muito compromisso e fidelidade á cooperativa,

por quase 60 anos esteve filiado, sempre como fornecedor.

Em 2008, foi agraciado com uma bela homenagem por ter sido o associado

com maior tempo de cooperativa e com belos exemplos de

cooperativismo. Além de produtor, teve a oportunidade de exercer

dentro da organização, os cargos de Conselheiro Fiscal e Administrativo,

durante vários anos.

Fez parte dos primeiros associados que fundaram a Cooperativa de

Crédito Sicoob Carmocredi, hoje Sicoob Centro União, onde fez parte

do primeiro Conselho de Administração, período onde o trabalho

era exercido sem remuneração.

NOSSA GENTE

207


Na vida social exerceu o cargo

de inspetor no extinto Colégio

José Demétrio Coelho. Durante

18 anos, trabalhou na também

extinta Danceteria Aquárius.

Sempre foi uma pessoa calma

e muito prudente para resolver

algum problema nos cargos em

que exerceu.

Em 15 de agosto de 2015, com a

saúde muito abalada veio a falecer,

deixando uma grande lacuna

social e saudade aos familiares

e amigos.

Netos de dona Maria Augusta e senhor Braz

Braz Rabelo, conforme acima mencionado, esteve sempre ao lado

do homem do campo. Foi um exemplar pai de família ao lado de sua

dedicada esposa Maria Augusta.

208 Célio Antônio Cordeiro


Foi um grande voluntário para com a Igreja. Seu nome é mencionado

em comissões de festas religiosas pelos programas de vários anos

que se encontram arquivados no Museu Sacro Histórico de Carmo do

Cajuru. Trabalho feito de maneira voluntária, assim como diversos

outros que prestou.

Deixou legados importantes aos familiares e à sociedade: amor ao

trabalho, boa educação, honradez e honestidade.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 095, Ago. 2020

NOSSA GENTE

209


Cândido Pereira Guimarães

Disciplina é a ponte entre metas e realizações.

Jim Rol

Aqui está um pouco da vida de

um grande cajuruense, que foi

de uma importância inestimável

para o lazer e para a cultura de

nossa cidade, além de ter sido

um exemplar profissional, com

muita dignidade e habilidades.

Cândido Pereira Guimarães,

Candico, foi um homem de fibra.

Muito dedicado à família e muito

bem relacionado socialmente,

fez bons amigos, deixando

para todos nós seu exemplo de

força, coragem e disciplina.

Cândido Pereira Guimarães, Candico, presença Nasceu em 30 de agosto de

marcante e feliz

1921, em Carmo do Cajuru, então

distrito de Itaúna. Filho de Jacinto Pereira Guimarães, ferroviário,

e Ana Maia Guimarães, do lar. Foi o terceiro dos cinco filhos do casal,

que sempre foram muito unidos e criados com disciplina. Tinham tarefas

em casa, para ajudar a mãe na lida doméstica.

O pai, preocupado com a saúde debilitada da esposa, estava sempre

procurando tratamento médico para ela, motivo que levou a família

a se mudar de cidades com frequência. Por isso, Candico morou também

em São João Del Rei e concluiu o curso primário em Lavras.

A família retornou a Cajuru, em meados de 1936. Ele e o pai foram

mordidos pelo cachorro de estimação “Petit”, que apresentava sinto-

210

Célio Antônio Cordeiro


mas da doença da raiva. Assim, tiveram que se deslocar para Juiz de

Fora, buscando tratamento no Instituto Pasteur.

Uma das diversões na pequena Cajuru era juntar a meninada à noite,

no adro da Igreja, apostando quem tinha coragem de ir até o cemitério,

acender um cigarro e fumar diante das sepulturas.

Seu primeiro trabalho foi na Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Trabalhou

na Estação do Tigre, na Serra da Saudade, terras do rio Indaiá.

Em 1943, foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, sendo enviado

ao exército, em São João Del Rei. O governo não sustentava

seus convocados, por isso seu irmão mais novo, José, ia todos os

meses a São João, levando Cr$ 50 (cruzeiros), que deviam cobrir os

gastos.

Enviados ao Rio, os convocados aguardaram meses ali a chegada do

navio estadunidense, que os levaria para a Itália. Foram comandados

pelo general José Nobre da Costa.

Cândido Pereira Guimarães, Candico, ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB)

Na Europa, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) – foi incorporada

ao 5º Exército Estadunidense, no front italiano. Foram enviados cerca

de 25 mil homens, entre soldados e oficiais.

Ao final da Guerra, em 1945, retornou ao Brasil, junto com seus companheiros,

sendo recebidos com glórias, banda de música e muitos

foguetes, fatos assim contados por seu pai, Jacinto Guimarães:

NOSSA GENTE 211


— Meu filho Candico foi incorporado à Força Expedicionária em

1943, seguindo para o Rio de Janeiro, em 1944 e, dali para a Europa,

servindo na Grande Guerra como radiotelegrafista. Visitei-

-o no Rio, por ocasião do seu embarque para a guerra e assisti

sua chegada vitoriosa no Rio (...) Sua chegada aqui, em 1945,

foi motivo de grandes festas. Foi um período de grandes preocupações

e sofrimento para mim, mas também de inexplicável

alegria no seu regresso.

Como foi um moço muito vistoso

e bem-humorado, teve muitas

namoradas, mas escolheu a

Elza para ser sua companheira.

Casaram-se na primavera de

1948 e tiveram seis filhos: Wagner,

Ricardo, Kátia, Jussara, Walter

e Susana.

Cândido e Elza, rostos sorridentes sempre

Elza com os filhos, em festa natalina

Trabalhou na Prefeitura de Cajuru e foi determinado para fazer curso

de finanças em Belo Horizonte, para atuar na organização da emancipação

política de Cajuru, em dezembro de 1948. De 1956 a 1969

gerenciou a Cooperativa Agropecuária de Carmo do Cajuru.

212

Célio Antônio Cordeiro


O time do Tupy Futebol Clube, fundado por Candico, no qual também foi atleta

Gostava muito de futebol e junto com os companheiros da cidade,

fundou o Tupy Futebol Clube, que ainda atua em Cajuru. Amante da

arte cinematográfica, comprou um projetor de 16 mm e construiu o

Cine Carmo, que logo se tornou a diversão da cidade.

No início de 1969, após sua aposentadoria, mudou-se para Divinópolis,

para educar os filhos. Seu lazer preferido era a casa na Barragem

de Cajuru, batizada “Xodó do Vô”, onde gostava de pescar, jogar truco

com amigos e tomar uma cachacinha, atividades nunca abandonadas.

Filiou-se ao Clube da Melhor Idade Vida Nova logo após sua

criação, que funcionava no Salão Paroquial de Santo Antônio. Teve

participação ativa nas festas promovidas pelo clube, nas viagens,

bailes e gostava muito dos jogos de Bingo.

Marido muito presente e companheiro inseparável, para os filhos, foi

exemplo de fortaleza, honestidade, perseverança e honradez. Com a

chegada dos netos, mostrou-se avô dedicado, brincalhão e amoroso.

Em fevereiro de 2007, foi chamado de volta ao Pai, mas seu exemplo

e seus ensinamentos continuam presentes em nossa memória, norteando-nos

na caminhada.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 080, Maio 2019

NOSSA GENTE 213


Carlos Altivo

Um povo sem conhecimento, saliência de seu passado histórico,

origem e cultura é como uma árvore sem raízes.

Bob Marley

Verificando a história de Carmo

do Cajuru, sempre iremos nos

deparar com presenças de várias

pessoas que vieram de outras

cidades e aqui construíram

muitas histórias, pautadas em

bons serviços prestados em prol

da comunidade local.

Carlos Altivo

Assim como fomos privilegiados

pelos feitos dessas grandes

figuras, e de muitas outras que

vieram de fora, a vizinha e progressista

cidade de Divinópolis,

tem registrado na sua bonita

história, a presença de uma das

figuras mais ilustres, que nasceu

em Carmo do Cajuru. Trata-se do

grande cidadão Dr. Carlos Altivo.

Carlos Altivo nasceu em 8 de junho de 1921, em Carmo do Cajuru,

filho de Antônio Altivo e Maria Alves Altivo. Sua trajetória estudantil,

iniciou-se no tradicional Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje Escola

Municipal Princesa Isabel. Conforme dizia a saudosa professora Lúcia

Guimarães, no Grupo, ele era um aluno diferenciado.

Aqui em Carmo do Cajuru, tivemos muitas marcas positivas desse

grande homem. Quando nossa terra aspirava à sua emancipação, ao

início dos anos 1940, o jovem advogado empenhava-se muito, dan-

214

Célio Antônio Cordeiro


Carlos Altivo, com um grupo de empresários de Divinópolis e Carmo do Cajuru, ao final de reunião na

Associação Comercial e Industrial de Divinópolis (ACID)

do o seu apoio ao primeiro movimento pró-emancipação, conforme

registram os relatos feitos por Jose Demétrio Coelho.

Na década de 1950, colaborou bastante na criação da Cooperativa

dos Produtores Rurais, juntamente do seu pai, Antônio Altivo, e de

outros grandes fazendeiros e associados daquela época. Foi o orador

oficial, em solenidade muito marcante para os cajuruenses e divinopolitanos:

a inauguração da Barragem Cajuru, que teve a presença

ilustre de Juscelino Kubtischek de Oliveira.

A cidade teve seu apoio também, quando da criação da Cia Telefônica,

ao início dos anos 1960. Foi um dos grandes amigos desde a

infância, do senhor João da Mata Nogueira, fundador do Grupo Líder

e um dos políticos e empresários mais influentes de nossa terra. Nunca

se esquecia de seu torrão natal. Esteve por aqui por centenas de

vezes, em eventos importantes, como aparece nas fotos ilustrativas

do texto. Vinha muito com sua família para rever amigos.

Segundo relato de seu filho Antônio Carlos, pelo menos uma vez por

mês era sagrado virem à Carmo do Cajuru, sentarem em uma mesa

do famoso bar do Sô Ladico para se deliciarem dos picolés e dos sor-

NOSSA GENTE 215


vetes feitos por ele. Nos tempos

de jabuticabas maduras, uma

agradável visita era feita à casa

da saudosa Maria Marra, onde

um pé bem carregado da fruta já

estava reservado, os familiares

de Carlos Altivo.

Teve grande importância para

Divinópolis, devido ao seu profícuo

trabalho e suas importantes

contribuições, principalmente,

para a cultura, a política e a educação.

Foi industrial, advogado,

professor, diretor do Colégio Estadual

Santo Tomás de Aquino

e das Faculdades Integradas do

Oeste de Minas (FADOM) e, ainda,

um dos fundadores da Faculdade

de Filosofia, Ciências e Letras

de Divinópolis (FAFID), hoje

UEMG (Campus Divinópolis) e

Colégio Leão XIII.

Carlos Altivo

Também foi grande orador, cronista e declamador. Escreveu por mais

de 15 anos nos jornais de Divinópolis. Está entre os fundadores da

Academia Divinopolitana de Letras, cuja reunião para criação ocorreu

em sua residência, no dia do seu aniversário, em 1961. Apesar

de nunca haver publicado em livro as suas crônicas, disponibilizou-as

em quase todas as publicações da ADL, onde ocupou a cadeira de

número quatro.

Homem de coragem que sempre acreditou na cidade e sua população,

engrandecendo-a, Dr. Carlos Altivo foi um pioneiro e participou

do início de quase tudo que pode ser considerado importante em Divinópolis.

Dedicou a vida a lutar por valores como a Cultura e a Educação

e a preservação do rio Itapecerica, valendo-se de suas crônicas

216

Célio Antônio Cordeiro


para bater na tecla de que é preciso cuidar de suas águas, evitar a

poluição e o acúmulo do lixo.

Além do seu caráter empreendedor, ambientalista e visionário, Carlos

Altivo também era conhecido como “o Patativa do Oeste” devido

a sua brilhante oratória. Seu talento político pode ser explicado pelo

amor à cidade, onde foi vereador durante um bom período, na década

de 1950 – época em que o cargo era ocupado por voluntários. Ficou

conhecido por desafiar as irregularidades e dizer a verdade sobre

a política. Em 1996, recebeu o título de Cidadão Honorário e em 2001

o de Amigo de Divinópolis.

Maria José e Carlos Altivo, no casamento

Eu particularmente, tive uma

grande admiração por essa formidável

pessoa. Era muito comum,

sua presença na praça

Geraldo Corrêa (rua São Paulo)

junto de diversos amigos. Por várias

vezes, eu o encontrei naquele

local. Quando me via, sempre

perguntava: — “E aí Cajuru, como

está a nossa terrinha boa?” Como

adotou Divinópolis como sua segunda

terra, sentia-se orgulhoso

em dizer: “Tenho duas cidades de

coração”.

Em 1950, casou-se com Maria José Pardini, com quem chegou a celebrar

as bodas de ouro. Do casamento, nasceram quatro filhos: Antônio

Carlos, Ana Maria, Gina Mara e Ângelo Geovane. De sua descendência,

em 2018, existiam mais 13 netos e 10 bisnetos.

Em 13 de outubro, com a saúde frágil, no Hospital São João de Deus,

veio a falecer, deixando muita saudade aos familiares e a milhares de

amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 075, Dez. 2018

NOSSA GENTE 217


Cezarino Ferreira de Araújo

Não existe grandeza, onde não há simplicidade, bondade e dedicação.

Liev Tolstói

Cezário, como era mais conhecido

era uma pessoa simples, que

vivia de forma simples, com muita

dedicação em tudo que fazia e

um coração cheio de bondade.

Cezarino Ferreira de Araújo, o

“Cezário”, nasceu na comunidade

de Olarias, município de Carmo

do Cajuru, em 1o de julho de

1944. Filho de Norvina Cândida

de Jesus e Joaquim Teles Fialho,

foi o quinto filho de uma família

numerosa, com dez irmãos.

Cezarino Ferreira de Araújo

Amante do futebol, gostava

muito de praticá-lo nos bons

tempos de juventude. Bom de

bola, participava sempre dos

torneios realizados nas diversas

comunidades rurais.

Na vida profissional, foi funcionário da Siderurgia Cajuruense. Trabalhou

também na Nardelli S/A, na conservação dos trilhos, que

traziam desenvolvimento para o município. Trabalhou em algumas

fábricas de móveis. Por um bom tempo, trabalhou na Prefeitura Municipal,

onde permaneceu até a sua aposentadoria.

218

Célio Antônio Cordeiro


Os jovens Cezarino e Maria Vicência, no casamento

Em 1973, casou-se com Maria Vicência Pires da Rocha, de cujo matrimonio

nasceram quatro filhos: Maria Luzia, Flaviana, Júlio César

e Karla.

Sempre foi uma pessoa de muita fé cristã. Dedicou parte do seu tempo

à Sociedade São Vicente de Paulo, através da Conferencia Nossa

Senhora do Rosário de Fátima.

Filhas, filho e neta de Cezarino e dona Maria Vicência

NOSSA GENTE 219


Cezáreo e sua sanfona representa tradição, melodia e ritmo na folia de Reis

Como se sabe, Carmo do Cajuru

tem, entre suas muitas manifestações

culturais e religiosas

marcantes, o Reinado e a Folia

de Reis, como manifestações

folclóricas.

Foram duas das grandes paixões

culturais do Cezário. Com

sua sanfona de 8 baixos sempre

trazia ânimo e alegria com seus

solos e acordes. Isso ocorria nos

festejos da cidade, na zona rural

e, às vezes, em outras cidades

também.

Cezário, foi um exemplar pai de

família, de esposo, de avô e de

ser humano, que viveu de maneira

simples, mas sempre rodeado

de muitos amigos.

Cezáreo e sua sanfona de oito baixos

220

Célio Antônio Cordeiro


Em 19 de agosto de 2012, foi vítima de um infarto agudo que o levou

a morte, causando uma grande tristeza aos familiares e amigos. Deixava

para todos, além da saudade, um legado de cidadania ativa, de

valorização das tradições, da alegria de sua presença.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 057, Jun. 2017

NOSSA GENTE 221


Cristino Mateus da Silva

A vontade de humor – a tentativa de enxergar as coisas numa perspectiva engraçada

– constitui um truque útil para a arte de viver.

Viktor Frankl

Ele se identificou tanto com a

profissão, a ponto de os amigos

e o povo em geral se referirem a

ele como o “Cristino da Venda”.

Mas não foi só esse o seu ganha-pão.

Antes de assumir esse

ofício, envolveu-se em diversos

labores.

Cristino Mateus da Silva

Nascido em Carmo do Cajuru,

em 28 de julho de 1916, filho de

Antônio Mateus da Silva e de

dona Augusta Marra da Silva,

provindo de uma família modesta

e bastante numerosa. Perdendo

de forma prematura o irmão

mais velho, passou a ajudar muito

com seu trabalho no sustento

da família. Ainda muito jovem,

ajudava seu pai no árduo serviço

da roça.

Depois de morar algum tempo em São José dos Salgados, acompanhado

de seus pais, veio para Cajuru. Casou-se com Aurestina Gomes

da Silva e foi morar na fazenda do senhor Augusto Nogueira Maia,

onde praticava agricultura de sobrevivência. Como não sentia progresso

nesta profissão, voltou novamente para a cidade e adquiriu

uma padaria no bairro Bonfim, depois vendida ao seu funcionário

Rossine Sabino de Souza, jovem experienter em panificação.

222

Célio Antônio Cordeiro


Cristino e dona Tina, lembrança do casamento

Depois de passar pela experiência

como padeiro, Cristino resolveu

trabalhar como pedreiro.

Nesta profissão, deixou como

marca a obra de alvenaria anexada

ao cemitério, que ainda

se encontra resistindo à ação

do tempo até os dias atuais. Na

época, o local era destinado ao

sepultamento de pagãos.

Cristino, ao lado dos filhos; lembrança da família

Finalmente depois de passar por várias e diferentes profissões, estabeleceu-se

no comércio, adquirindo um imóvel de Rafael Gomes

Marra (o senhor Lete) localizado na rua Tiradentes, onde abriu a sua

loja. A partir daí, surgiu a “Venda do Cristino”, onde trabalhou por

longos anos, até se aposentar. No comércio, tornou-se pessoa muito

popular, por seu excelente atendimento, e pela facilidade de manter

grandes e boas amizades.

NOSSA GENTE 223


Dona Tina e Cristino, em meio a familiares, na festa de Bodas de Ouro de seus pais

Homem simples, muito bem-

-humorado e de fino trato. Gostava

muito de brincadeiras e de

dar boas gargalhadas, quando a

ocasião o permitia.

Ao longo de sua vida, por sua

bondade e popularidade, foi

contemplado com mais de 100

afilhados, fato do qual o fazia

sentir-se muito feliz e orgulhoso.

Cristino nos deu um grande

exemplo de dedicação, sobretudo

aos filhos.

Com tanto trabalho e família numerosa,

ainda tinha o costume

de praticar a nobre virtude da

caridade para com os mais necessitados

que o procuravam.

Cristino, neto e moto, em momento descontraído

224

Célio Antônio Cordeiro


Pelos desígnios de Deus, com apenas 47 anos, perdeu sua bondosa

esposa e abdicou-se de um segundo matrimônio para viver em prol

do bem-estar dos filhos, que quando perderam a mãe alguns deles,

ainda eram bem pequenos. Com muita fé e coragem enfrentou a situação,

sem perder a alegria e a vontade de criá-los bem.

De sua união com dona Tina, nasceram doze filhos. Desses, criaram-

-se nove: Dirceu, Maria Augusta (in-memorian), Paulina, Lúcia, Elisabete,

Angélica, Pida, Jordane e Júlio (in-memorian) sendo que em

vários, antecedem os nomes: de José ou de Maria, devido à devoção

com a Sagrada Família.

Em 23 de abril de 1989, já com a saúde debilitada, porém ainda muito

lúcido, veio a falecer. Para seus filhos, além da grande saudade, deixou

o grande exemplo de pai dedicado, amoroso e trabalhador. Para

os amigos, ficaram as lembranças daquele senhor risonho, íntegro,

honesto e sincero, que deixou muita saudade.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 017, Fev. 2014

NOSSA GENTE 225


Domingo do Rosário

Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos.

Albert Einstein

Domingo de Oliveira (do Rosário), raiz produnda

do Reinado de Carmo do Cajuru

Domingo de Oliveira (do Rosário)

nasceu em Carmo do Cajuru,

no dia 4 de outubro de 1897, filho

de Benedito Antônio de Oliveira

e de Maria Antônia. Casou-

-se duas vezes. *

A primeira vez, no dia 11 de fevereiro

de 1919 (religioso) com

Maria Rosa, filha de Antônio

Moreira e de Rosa de Jesus. Com

ela tiveram sete filhos: Geraldo,

Mário, Domingos, Wanderley

(Belém), Maria da Conceição,

Wanda e Geórgia.

Na segunda vez, em 26 de julho

de 1969, com Maria Geralda da

Silva, filha de Geraldo Adão e Silva e de Rita Maria de Jesus. Com ela

não teve filhos.

* Seu pai, Benedito Antônio de Oliveira, ex-escravo (de Antônio José de Oliveira, de quem

herdou o sobrenome) casou-se duas vezes também. Na primeira, com Ana Maria de

Jesus. Depois, em 23 de agosto de 1891, com Maria Antônia, ex-escrava de Joaquim Luís

de Melo.

São filhos de Benedito, além de Domingo, dona Conceição, mãe de dona Eli (Mãe Preta)

e do senhor Luís Gonzaga (“Dentinho”), estimado pandeirista e tintureiro de Carmo do

Cajuru, na década de 1950).

226

Célio Antônio Cordeiro


Domingo do Rosário foi um grande personagem da história de Carmo

do Cajuru, presidente da irmandade da Nossa Senhora do Rosário

durante muitos anos. Um grande líder. Estava predestinado a ser

grande devoto de Nossa Senhora do Rosário. Nasceu num Domingo,

durante as comemorações da irmandade. Seu pai era também devoto

da Santa e um grande líder, mesmo antes da igreja do Rosário,

construída em 1883.

Serviu o Exército em 1922, em

São João Del Rei, quando já estava

casado, onde aprendeu a

ler e escrever, tornando-se uma

pessoa muito desenvolvida.

Domingo do Rosário, Capitão do Reinado

Foi primeiro motorista habilitado

de Carmo do Cajuru. Trabalhou

na fábrica de manteiga de

Antônio Altivo, em 1950. Trabalhou

também, na Usina e Barragem

de Carmo do Cajuru, em

1958/1959, sendo um de seus

primeiros funcionários. Trabalhou

também na Siderurgia Cajuruense,

na década de 1960.

Participou ativamente das atividades sociais e culturais de sua terra,

como líder das Encomendações de Almas durante a quaresma e da

Folia de Reis, cantando com sua voz grave e bonita. Foi também confrade

vicentino.

Em 1962, quando o Pe. Parreiras Villaça idealizava a construção da

Praça de Nossa Senhora Aparecida, foi ele uma pessoa que colaborou

muito com o seu trabalho, para que as obras fossem realizadas.

Sendo um trabalho totalmente voluntário.

NOSSA GENTE 227


Neta ostenta estandarte da Irmandade N. S. do Rosário

No tempo de Domingo do Rosário, o reinado de Carmo do Cajuru era

muito bonito, uma grande festa. Um gigantesco mastro era erguido

em frente da igreja e centenas de bandeirolas tremulavam por todo

lado. Peregrinos de longe e das comunidades rurais vinham a pé para

pagarem promessas, locomovendo-se de joelhos em torno da igreja.

Para completar seu papel como agente da história de sua terra, foi jogador

do Cajuru Futebol Clube, o primeiro time de Carmo do Cajuru.

228

Célio Antônio Cordeiro


Domingo do Rosário com seu

amor e dedicação com a Irmandade

do Rosário, deixou um

legado muito importante para

a nossa religiosidade e cultura

através do Reinado.

Capela do Rosário (concluída em 1883)

Hoje, Carmo do Cajuru, pode orgulhar-se

de ter uma das festas

mais tradicionais e de rara beleza

de nossa querida terra.

Quantos grandes líderes dessa festa seguiram seu belo exemplo, no

trabalho e no amor por nossa cultura, tradição e fé.

Domingo do Rosário jamais será esquecido. Está em destaque entre

as pessoas especiais que se dedicaram de corpo e de alma para,

preservar, nutrir e fazer crescer, cada vez mais, essa linda tradição

afrobrasileira da comunidade cajuruense.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 010, Jul. 2013

NOSSA GENTE 229


Eli Benedito

Habita uma paz imensa nas trilhas benditas da minha terra natal

e tudo à minha volta se traduz em poesia na paisagem do meu ser.

Miriam da Costa

Aqui está um pouco da vida de

um grande vulto de Carmo do

Cajuru. Ele foi uma estrela que

brilhou muito na vida profissional,

na cultura e nas tradições:

Eli Benedito.

Nascido em Carmo do Cajuru,

em 30 de novembro de 1931, Eli

Benedito foi pai de nove filhos,

que são frutos de dois casamentos,

além de um filho adotado.

Casou-se pela primeira vez em

30 de setembro de 1954 e teve

seis filhos. No segundo casamento,

teve mais três filhos, somando

quatro filhos e seis filhas.

Durante toda sua vida se mostrou

um grande pai, dedicado ao

Eli Benedito, benfeitor do Reinado cajuruense

bem-estar de sua família.

Eli começou a trabalhar desde jovem. Em Carmo do Cajuru, trabalhou

como servente de pedreiro até 1949. No mesmo ano partiu para

fora: 1949 a 1952. Depois de seu alistamento militar, passou pela Escola

de Sargentos do Exército (ESA), na cidade de Três Corações. Em

1952, retornou a sua terra natal, trabalhando como alfaiate até 1958.

Eli Benedito foi jogador do Tupy Futebol Clube e participou da Banda

de Música.

230

Célio Antônio Cordeiro


Sobrinhos de Eli Benedito, presença nas festas do Rosário (praça do Cruzeiro)

Ainda em 1958, mudou-se definitivamente para Goiás, onde estava

sendo erguida a nova capital brasileira (Brasília), levado pelo engenheiro

Dr. Mário Meireles, indo trabalhar na Companhia Urbanizadora

da nova capital. Sendo também secretário particular do referido

engenheiro.

Eli Benedito, em solenidade, ao final da temporada do Reinado de N . S do Rosário

NOSSA GENTE 231


O jovem Eli Benedito, admirado pelos músicos da Banda Santa Cecília

Mais tarde, após a inauguração de Brasília, recebeu o cartão da Associação

dos Candangos Pioneiros de Brasília. Prestou serviços diversos

na Presidência da República.

Em 1961, na chefia do Gabinete Civil, permaneceu até fevereiro de

1968. No ano de 1988, recebeu uma promoção a Assistente do Departamento

de Administração do Palácio do Planalto, onde ficou até

março de 1990. Foram várias suas atividades na Capital do País.

Foi muito dedicado aos estudos. Fez o curso primário, no Grupo Escolar

Princesa Isabel, em Carmo do Cajuru. Curso Ginasial nos Colégios

Caseb – Plano Piloto 1o e 2o; no Setor Leste- Plano Piloto, 3o e

4o ano. Curso Colegial: Centro de Ensino Médio Elefante Branco, 1o

ao 3o ano. Fez também diversos cursos técnicos, todos em Brasília.

Durante todo o tempo que esteve fora, nunca deixou de estar presente

e prestar relevantes serviços a uma de suas grandes paixões:

o Reinado, especialmente, preservado pela Irmandade de Nossa Senhora

do Rosário. Dedicou-se de corpo e alma ao resgate e a preservação

desta centenária manifestação religiosa e cultural de Carmo

do Cajuru. Por longos anos, foi o Capitão General e zelador de Nossa

Senhora do Rosário, sendo um dos principais responsáveis pelas festas

e celebrações do Congado.

232

Célio Antônio Cordeiro


A Irmandade é uma das grandes referências Reinado tradição. Sempre

teve um importante papel social, cultural e religioso no nosso

município, agregando e estimulando a solidariedade entre as pessoas

da Comunidade.

Mesmo depois de ser acometido de um AVC, o senhor Eli encontrava

forças para deslocar de Brasília para acompanhar os festejos do Reinado.

Essa ilustre figura foi, sem dúvidas, um dos principais líderes

desta bela manifestação de fé e de cultura do povo cajuruense.

Em 23 de março, depois de passar

por um período bem adoentado,

veio a falecer, trazendo

muita tristeza, não só aos familiares,

mas também ao grande

número de amigos.

Para finalizar, registro aqui uma

bela oração escrita por ele e que

consta da lembrança da missa

de 7 o dia:

“Que a Senhora do Rosário

me embale no Manto Sagrado...

No Rosário eu nasci,

no Rosário eu me criei,

agora o Rosário me guarda

na vida eterna. Amém”.

Mestre Eli Benedito, o amor pela terra natal

JORNAL BOCA DA MATA, n. 039, Dez. 2015

NOSSA GENTE 233


Francisco Eustáquio da Silva Maciel

A Caridade ensinada melhora os ouvidos, a Caridade praticada aprimora os corações.

Emmanuel

Hoje escrevo sobre a popular figura

do ‘Teacher’, como era carinhosamente

tratado por todos.

Provindo de uma família simples,

gente muito boa e muito

dedicada ao trabalho. Nasceu

em Carmo do Cajuru, em 5 de

setembro de 1951, filho de Pedro

Maciel da Silva e Dona Maria

Jose da Silva. Filho caçula, teve

mais quatro irmãos: Maria Teresinha,

José (Didi), Pedro Paulo e

Benjamim.

Seu brilhante currículo escolar

iniciou-se em 1959, depois de

Francisco Eustáquio, o “Teacher”.

ser matriculado no curso Primário

do Grupo Escolar Princesa

Isabel. Na época, mostrou-se um aluno dedicado ao estudo e de notável

inteligência.

Depois de cursar o antigo Primário, fez da primeira a 4ª Série, no extinto

Colégio Dom Bosco, em Carmo do Cajuru. Já formado, prestou

exames de seleção no Colégio Estadual de Divinópolis, hoje Escola

Santo Tomás de Aquino. Cursou o Clássico, durante mais três anos.

Paralelamente, fez também o curso de Magistério, no Colégio José

Demétrio Coelho. Finalmente, depois de ser aprovado no vestibular

da UFMG, fez o curso de letras, nas matérias de Português e Inglês.

234

Célio Antônio Cordeiro


Na vida profissional, teve também

uma carreira de destaque

até se aposentar. Lecionou em

colégios polivalentes nas cidades

de Araxá, Itaúna e Divinópolis.

Sempre deixava marcas

de saudades, por onde passava,

pelo seu dinamismo, sua amizade

e por sua excelente didática.

Francisco Eustáquio, aluno dedicado

Em Carmo do Cajuru, foi o local

onde mais trabalhou. Foi professor

no Colégio José Demétrio

Coelho e por longos anos na Escola

Estadual Padre João Parreiras

Villaça, onde chegou a ser

também Diretor.

Nos tempos de estudante do Colégio José Demétrio Coelho, gostava

muito de participar de programações musicais. Era presença ativa

nos desfiles cívicos de 7 de setembro junto dos irmãos Benjamim e

Pedro Paulo e outros colegas, que organizavam belas fanfarras, dando

um brilho todo especial aos grandiosos desfiles realizados naquela

época.

Francisco Eustáquio, em solenidade de formatura do Colégio José Demétrio Coelho (anos 1970)

NOSSA GENTE 235


Em 10 de julho de 1976, casou-se com Dona Hilda Costa de Oliveira

Maciel, com quem teve três filhos: Francis Oliveira Macie (casado

com Adriana de Souza Maciel), Cléo Oliveira Maciel e Tiago Oliveira

Maciel.

Para falar sobre sua vida de serviços voluntários prestados em prol do

povo e da sociedade, vamos resumir um pouco, pois foram muitos.

Desde criança tinha os olhares voltados para a Caridade. Foi confrade

da Conferência São Luiz Gonzaga. Tinha um carinho enorme para

fazer visitas aos socorridos da Vila Vicentina. Foi também doador de

córneas.

A fanfarra do Colégio José Demétrio Coelho, ensaiada pelo Teacher (1970)

Católico praticante, foi missionário nas celebrações da Semana Santa

na zona rural, por diversas vezes. Foi catequista, ministro da palavra,

celebrando por vários anos, os cultos fúnebres de exéquias. Foi

participante e um grande colaborador do grupo da Renovação Carismática

Católica.

Durante um bom tempo, participou do Movimento de Cursilho de

Cristandade, chegando a fazer palestras e a trabalhar em diversas

equipes de ações durante a realização do Cursilho.

236

Célio Antônio Cordeiro


Eustáquio Maciel, lembrança da formatura

A música foi um de seus maiores

hobbies. Por longo período, foi

músico da Associação Musical

Cajuruense, atividade que desempenhava

com muito amor e

com muita disposição.

No dia 27 de fevereiro de 2015,

veio a falecer encerrando assim

sua temporada na vida terrena

e indo morar no plano de cima

junto ao nosso Criador.

Hoje sua saudosa figura ainda é

muito lembrada, não somente

pelos familiares, como também

por um grande número de amigos,

que com ele conviveram.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 085, Out. 2019

NOSSA GENTE 237


Genésio Fernandes Fialho

A verdadeira caridade é impalpável como a luz e invisível como o perfume:

dá o calor, dá o aroma, mas não se deixa tocar nem ver.

Coelho Neto

Genésio, treinador técnico, festeja com o Tupy

Eis aqui um pouco sobre a vida

de Genésio Fernandes Fialho;

pessoa que se destacou muito

pela vida compromissada com

trabalho voluntário em prol de

outras pessoas, por sua fé e por

sua dedicação ao Tupy F. C.

Genésio fazia parte de uma família

numerosa e composta por

mais oito irmãos, sendo ele, o

quinto filho de José Fernandes

Prudêncio e dona Maria Augusta

de Jesus. Nasceu no dia 14 de

junho de 1940, na comunidade

(fazenda) dos Fialho, no município

de Carmo do Cajuru. Aos

doze veio para a cidade.

Desde jovem, gostava muito de

futebol, tornando-se uma das mais expressivas figuras na história do

glorioso Tupy Futebol Clube. Trabalhou muito na formação de atletas,

nas categorias de base do clube, e chegou por diversas vezes, ser

o técnico da equipe principal do Tupy.

Quando no comando do time, foi campeão por diversas vezes, em

várias categorias. Inúmeras são as pessoas que se lembram, com saudade,

dos bons tempos do Tupy sob o comando dele.

238

Célio Antônio Cordeiro


Genésio foi o representante do time alvinegro cajuruense, junto a

LMDD, por vários anos. Teve uma breve passagem como treinador

do Sport Club Cajuru.

Foi um treinador muito carismático, que não se preocupava apenas

com as habilidades físicas do jogador, mas também com a formação

moral e a autoestima de seus comandados. É considerado uma

pessoa vencedora por seu meritório trabalho em prol do futebol cajuruense.

Em 28 de agosto de 1973, casou-se com Arlete Luiza de Almeida Fernandes,

filha de dona Isabel Luiza de Almeida e de José Viana de Almeida.

Do casal, vieram três filhos: Daniel, Isabel Augusta e Pablo

Ricardo. Genésio, foi um dedicado esposo e exemplar pai de família.

Na vida profissional cumpria

com muita dignidade e dedicação

os trabalhos que exercia. Foi

proprietário de lavanderia e trabalhou

no setor de Assistencia

Social da Prefeitura Municipal.

Católico fervoroso, Genésio

exerceu durante alguns anos os

cargos de ministro da Eucaristia

e ministro da Palavra e ajudou

muito nos trabalhos da construção

da capela de São Francisco

de Assis.

Genésio e Arlete, na cerimônia de casamento

Ele foi o primeiro presidente da

Associação de Moradores do

Bairro Nossa Senhora do Carmo.

Foi um confrade assíduo e

também o primeiro presidente

da Conferência São Francisco de

Assis.

NOSSA GENTE 239


Genésio, ao lado da equipe infantil do Tupy, em 1967 - Técnico de Futebol Infantil

Genésio, ao lado da equipe vitoriosa do Tupy, nos anos 1970 - Técnico de Futebol Amador

Com tanto trabalho voluntário, recebeu ainda em vida, uma homenagem

da Câmara Municipal local, configurada na comenda Caa-yuru

e na denominação de um logradouro urbano com seu nome: rua

Genésio Fernandes Fialho. Vítima de um infarto agudo, infelizmente,

Genésio faleceu ainda bem jovem e deixou muitas saudades. Partiu

com apenas 60 anos de idade, no dia 23 de abril de 2001, porém, seu

legado permanece, sendo um exemplo de profissional, desportista,

esposo e filho.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 026, Nov. 2014

240

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 241


Geraldo de Souza e Silva

Para o homem honrado, a satisfação de bem servir é o melhor prêmio.

Gaspar Melchior

Geraldo de Souza e Silva (Lado), Capitão da

Guarda de Reinado

Como se observa, ao longo da

história de Carmo do Cajuru, há

muita identidade com as tradições

religiosas e culturais. Duas

delas são muito marcantes: o

Reinado e o Carnaval. Para falar

dessas manifestações, é muito

difícil não se lembrar de grandes

nomes de destaque no meio.

E o caso do senhor Geraldo de

Souza e Silva, o “Lado”, como

era conhecido e chamado carinhosamente

por todos.

Provindo de uma família numerosa,

era filho de.

Nasceu em Carmo do Cajuru, em

29 de setembro de 1954. Foi o 4º

filho da numerosa prole do casal

José Cassemiro da Silva e de dona Carmelita de Souza e Silva. Seus

irmãos: José Cassemiro (Zezinho), Maria Jose (Tita), Antônio (Cotó),

João (Pelé), Jorge e Maria do Carmo (Neca).

Foi uma família criada com dificuldades, mas sempre com belos

exemplos de perseverança, amizade e dignidade. Foi sempre uma família

muito querida e honrada.

242

Célio Antônio Cordeiro


O jovem jogador do Sport, Lado (o primeiro à esquerda), na fileira de baixo

O “Lado” iniciou seus estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel, hoje

Escola Municipal; depois, com a fundação da nova Escola, foi transferido

para o Grupo Escolar Vigário Jose Alexandre que, na época,

funcionava onde hoje está parte do prédio da Clínica Municipal.

Desde criança, teve uma grande habilidade com a bola. Jogou durante

longos anos, defendo a camisa do Sport Club Cajuru, sempre sendo

um dos destaques do time em seu tempo. Desde cedo, também

despertou o seu amor e a sua dedicação pelo Reinado.

Teve uma ativa e importante participação na Irmandade de Nossa

Senhora do Rosário, tornou-se o primeiro Capitão da Guarda Conga,

até alcançar um dos maiores postos da referida irmandade, que foi a

de Capitão Regente.

Sempre gostou de um batuque. Animou e regeu por vários anos, a

bateria da Escola de Samba “Unidos do Pavão Dourado”

Casou-se com Maria Eunice, com quem constituiu uma bela família.

Tiveram os filhos: Janice Aparecida, Renato Cassemiro e Aline Eunice,

hoje todos casados.

NOSSA GENTE 243


Geraldo “Lado” e a esposa Maria Eunice

Foi uma pessoa que professava

bem a sua fé, através de gestos

concretos. Frequentou Grupos

de Casais e de Noivos, onde ministrava

palestras preparatórias.

Trabalhou por muitos anos na

Fundição Cajuru, como moldador

e forneiro, mesmo após aposentar-se

por tempo de serviço.

Geraldo de Souza e Silva sempre

executava suas tarefas com

grande responsabilidade e cumprindo

com dedicação os seus

deveres.

Mesmo depois de mais velho, resolveu a voltar novamente à Escola

(EJA) para a conclusão do segundo grau.

Em 22 de junho de 2006, veio a falecer, provocando uma grande comoção

e tristeza aos familiares e amigos.

A Família que aqui deixou, deu continuidade aos seus anseios para

que, além da memória viva, prevalecessem também, as muitas e

boas lembranças deixadas em sua trajetória e principalmente as alegrias

que ele proporcionou aos familiares e a muitos amigos.

Geraldo de Souza e Silva, deixou a todos legados de honestidade,

honradez e alegria de bem viver.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 076, Jan. 2019

244

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 245


Geraldo Dias Barbosa

Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.

Aldous Huxley

O músico e comerciante Geraldo

Dias Barbosa, “Sô Ladico”, como

era conhecido carinhosamente

por todos, nasceu em Carmo do

Cajuru, em 18 de março de 1918.

Fez seus primeiros estudos no

Grupo Escolar Princesa Isabel,

como era o nome de antigamente.

Casou-se por duas vezes.

O primeiro, com Ana Augusta

Maia, com quem teve duas filhas:

Lêla e Ana Maria. Em 12

de agosto de 1949, ficou viúvo

e, em 22 de setembro de 1951,

casou pela segunda vez com Catarina

Batista Rabelo.

O ex-prefeito Geraldo “Ladico”

Do segundo casamento, nasceram

mais sete filhos: Natálio,

Antônio, Josias, Natália, Selma, Geraldo e Amélia. Pelo seu modo de

ser, viver e lidar com tanta gente, tornou-se pessoa muito popular.

Foi um comerciante tradicional de Carmo do Cajuru e dotado de uma

grande sabedoria e de dons refinados na música. Possuía uma excelente

memória e uma conversa que conquistava a todos. Sob uma

grande modéstia e simplicidade, escondia-se um homem sábio, honesto,

dedicado pai de família e um dos músicos cajuruenses mais

expressivos.

246

Célio Antônio Cordeiro


Foi um grande amante da boa leitura, o que fez com que se tornasse

um grande conhecedor da história e de assuntos gerais. Gostava

muito de Política, e repudiava muito os políticos corruptos, que depreciavam

a política.

Na história política de Carmo do Cajuru, marcou presença como vice-

-prefeito ao lado do prefeito Geraldo Gonçalves de Souza (“Dico da

Mata”), assumindo temporariamente a prefeitura, quando Dico teve

breve afastamento.

O músico Geraldo “Ladico” é diplomado como vice-prefeito

Ajudou muito na criação do Sport Club Cajuru, tanto na construção

do campo, como também na admistração, onde foi presidente por

vários anos.

Gostava muito de tocar violino, o instrumento predileto. Fez parte

da orquestra paroquial, banda de música na Semana Santa, no mês

de maio e em diversos eventos para os quais era sempre convidado.

Além de ser exímio tocador, chegou a compor músicas carnavalescas

e algumas valsas.

”Sô Ladico” recebeu homenagens no Fórum e também na Câmara

Municipal, pelos relevantes serviços prestados à sociedade local.

NOSSA GENTE 247


O violinista “Sô Ladico”

Faleceu no dia 20 de novembro de 2000, deixando muita saudade

não somente aos familiares e a muitos amigos cajuruenses. Um grande

número de frequentadores encontravam em seu bar, os inesquecíveis

picolés e sorvetes e o espaço de encontro de amigos, onde havia

a boa prosa do homem sábio e muito comunicativo, que sempre

brindava os frequeses com belas músicas ao violino.

Sô Ladico foi uma das personalidades cajuruenses que, pelo seu próprio

brilho, destacou-se na trajetória musical e cativou o respeito e

admiração de todos, que com ele tiveram o privilégio de conviver.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 011, Ago. 2013

248

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 249


Geraldo Guimarães

Não basta adquirir sabedoria; é preciso também usá-la.

Cícero

Vamos relembrar e homenagear

uma figura muito querida e admirada

pelos cajuruenses: Geraldo

Guimarães, nascido em 30

de janeiro de 1911, filho de dona

Aurora Rosalina Epifânio Guimarães

e de Aquiles Guimarães.

É lembrado como uma pessoa

muito culta e de uma grande

sabedoria. Sua memória evoca

saudade e carinho dos familiares

e das muitas pessoas que tiveram

o privilégio de conhecê-lo.

Fez os seus primeiros estudos

em Carmo do Cajuru e parte de

sua preparação para a faculdade,

foi em Belo Horizonte. Ainda

O jovem Geraldo Guimarães

jovem, seguiu para a cidade de

Ribeirão Preto (SP), onde se formou em Odontologia, pela Faculdade

de Farmácia e Odontologia.

Formado, voltou para sua terra natal, em outubro de 1945. Chegando

aqui, exerceu com muita dignidade e competência a sua profissão,

durante muitos anos, no gabinete localizado em sua residência. Foi o

primeiro dentista do Posto Municipal de Saúde, de 1965 a 1982.

250

Célio Antônio Cordeiro


Em 15 de março de 1948, casou-se com Maria de Freitas Gontijo, com

quem teve oito filhos; José Nilson, José Eugênio, Maria Célia, Maria

Marta, Lúcio, Maria Cristina, Mário e Maria Angélica. Foi um grande

esposo e um pai muito dedicado, que sempre prezava por uma boa

educação de seus filhos.

Paralelamente a sua profissão de dentista, a partir do final dos anos

1950 até os anos 1970, lecionou Ciência e História nos extintos colégios

Dom Bosco e José Demétrio Coelho, ao quais ajudou na fundação.

Na década de 60, ajudou também a fundar o Ginásio Estadual,

hoje Escola Estadual Padre João Parreiras Villaça, onde se destacou

como um dos melhores professores.

Tinha uma didática muito apurada e era muito respeitado e admirado

por todos os alunos e colegas professores. Uma profissão, que

segundo ele próprio, amava demais.

Dr. Geraldo e familiares (da esq. p/ dir.):

NOSSA GENTE 251


Foram muitas as marcas positivas deixadas, por onde esteve presente.

Foi um dos fundadores do glorioso Sport Clube Cajuru e secretário

da primeira Diretoria do Clube. No início dos anos 60, contribuiu muito

para a fundação da Cia. Telefônica, onde foi o diretor-presidente.

Seguindo os passos de seu pai, Aquiles Guimarães, como um grande

fotógrafo, contribuiu muito para os importantes registros fotográficos

que compõem o acervo de fotos antigas de Carmo do Cajuru. Vale

lembrar, que Dr. Geraldo foi um dos incentivadores e colaboradores

na histórica filmagem da Semana Santa de 1951.

Colaborou também em duas importantes construções de nossa cidade:

a Vila Vicentina e a Praça Nossa Senhora Aparecida (do Cruzeiro).

Foi confrade durante muitos anos e colaborava mensalmente com

doações em favor dos mais necessitados.

Participava ativamente da vida

social, cultural e religiosa, ligadas

as nossas tradições. Ao lado

de suas habilidosas irmãs Lúcia,

Paulina e Lalia Guimarães, ele

sempre ajudava a preparar bem

os ambientes festivos das celebrações,

andores, altares do

mês de maio e de outras festas

religiosas como a Semana Santa

e a Festa da Padroeira.

Geraldo conduz sua filha ao altar

Dr. Geraldo Guimarães foi um

grande músico de nossa cidade.

Ajudou a fundar e participou da

Banda da Associação Municipal

e da Orquestra Paroquial.

Na Câmara Municipal, foi vereador no período de 1963 a 1966, embora

ele mesmo chegasse a falar que não levava jeito em trabalhar

na política, achava muito difícil tomar um lado, devido suas inúmeras

amizades com todos. Seu lado era sempre o do bem-estar do povo e

do progresso de Carmo do Cajuru.

252

Célio Antônio Cordeiro


Pelos grandes e relevantes serviços

à comunidade, recebeu

várias homenagens, dentre elas,

a comenda Caa-yuru e uma honrosa

homenagem feita pelo Rotary

Clube nos anos 1970. Recebeu

um certificado de “Honra ao

Mérito”, do Ministério da Educação

e Cultura, em 1973. Foi também

o Patrono do Grêmio Estudantil

da Escola Estadual Padre

João Parreiras Villaça.

Dr. Geraldo foi grande colaborador

e incentivador do trabalho

historiográfico do professor

Oswaldo Diomar, em suas importantes

obras sobre a história

Dr. Geraldo em momento social

de Carmo do Cajuru, reconhecido pelo historiador em artigo no Jornal

Sol Nascente de agosto de 1994.

No dia 3 de junho de 1994, depois de uma longa enfermidade, veio a

falecer, deixando uma lacuna de muita saudade aos familiares, alunos

e amigos.

Deixou para nós, legados muito importantes: dedicação ao trabalho,

honestidade, sabedoria e simplicidade. *

JORNAL BOCA DA MATA, n. 082, Jul. 2019

* Eu o admirava muito. Além do dr. Geraldo ter sido um grande mestre que tive no Ginásio

Estadual, foi também um grande conselheiro. Através dele e de suas Irmãs dona Lúcia

e dona Lalia, tomei gosto pela fotografia e pela história de nossa querida terra. Grande

parte do meu acervo mais antigo, saiu da casa daquela tradicional família, que sempre

valorizou a nossa cultura.

NOSSA GENTE 253


Geraldo Mano da Silva

A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.

Ralph Emerson

Em capítulos da história de Carmo

do Cajuru, sempre encontramos

grandes e importantes

figuras, que através do seu trabalho,

sua dedicação e doação,

muito contribuíram para o bem

comum e com o desenvolvimento

do município.

Aqui está um breve relato sobre

a vida do senhor Geraldo Mano

da Silva, popularmente conhecido

como “Dico Mano”.

O senhor Dico Mano

Geraldo Mano da Silva nasceu

na cidade de Carmo da Mata, em

2 de novembro de 1910, filho do

casal Adelino Mano e Cândida

Carolina de Jesus. Seu pai era de

nacionalidade portuguesa e sua

mãe nascida em Carmo da Mata.

Dico Mano ainda bem jovem, conheceu as durezas da vida através do

trabalho na agricultura que, na época, era muito exigido pelos pais.

Dedicou-se ao trabalho de agricultor e produtor rural. Com o carro de

bois, exerceu também o custoso trabalho de transportar lenha e madeira

até as imediações da estação ferroviária onde eram exportadas

para a capital mineira e outras cidades.

254

Célio Antônio Cordeiro


Com apenas 22 anos, casou-se com Adelaide Nogueira de Souza, na

época com apenas 21 anos. Adelaide nasceu em Carmo do Cajuru, filha

de Custódio Nogueira Gontijo e dona Josina Maria de Souza (dona

Josa) que era prima em 1º grau do saudoso Pe. João Parreiras Villaça.

O casamento ocorreu em 2 de outubro de 1933, em celebração feita

pelo Padre José Alexandre de Mendonça, na matriz de Nossa Senhora

do Carmo. Do matrimonio nasceram quinze filhos: Maria de Lourdes,

Adelino, Antônio, Nilton, Neusa, Wilson, Elena, Cleusa, Leila,

Sônia Stela, Custódio, José Mano, Zilda, Fátima e Ilda.

O senhor Dico Mano (sentado, último à direita), na inauguração da Cooperativa de Produção (1951)

Fruto de muita dedicação ao trabalho, Dico Mano tornou-se um dos

grandes produtores rurais de Carmo do Cajuru. Preocupava-se muito

com a situação dos produtores de leite e principalmente dos que formavam

um grande grupo de pequenos produtores. Foi quando junto

aos amigos fazendeiros, iniciaram uma batalha, para que Carmo do

Cajuru, tivesse uma Cooperativa de produção de maior porte do que

as que naquela época existiam.

Em 9 de maio de 1950, fundaram a Cooperativa Agropecuária, inaugurada

solenemente em 1o de janeiro de 1951, na praça Presidente

Vargas, em frente da Estação Ferroviária.

NOSSA GENTE 255


Em 25 de abril de 1957, através de seus esforços e de outros fazendeiros

e produtores, fundou-se mais uma importante Cooperativa

– a Cooperativa do Produtores Rurais de Carmo do Cajuru, que funcionou

durante vários anos até dezembro de 1974. Geraldo Mano da

Silva teve um papel muito importante no bom funcionamento dessa

Cooperativa, estando sempre à frente, demonstrando sempre sua

habilidade de um grande administrador.

Foi um grande colaborador da Vila Vicentina e também nas diversas

atividades da igreja, amigo que era muito próximo do padre João,

como se observa nos muitos programas de festejos religiosos da paróquia,

onde seu nome sempre aparece mencionado em comissões

festeiras.

O senhor Dico Mano, em reunião festiva na família

Foi através de seu desprendimento e de sua boa vontade que Carmo

do Cajuru possui hoje um dos mais belos cartões postais – a maravilhosa

praça Nossa Senhora Aparecida, popularizada como “Praça do

Cruzeiro”. Foi ele quem fez a doação do terreno em que se encontra

a praça, além de colaborar financeiramente com várias obras ali realizadas.

Fez também uma importante doação do terreno onde se

encontra a Escola Estadual Pe. João Parreiras Villaça.

256

Célio Antônio Cordeiro


Dicogostava muito da política. Chegou a ser vice-prefeito de José Batista

de Menezes (Jose Teles). Por coincidência, teve um filho e um

neto que ocuparam o cargo de prefeito municipal de nossa cidade.

Dico Mano e dona Adelaide tiveram uma longa vida conjugal, celebrando

as Bodas de Diamante. Foram 63 anos juntos, tristemente

interrompidos com o falecimento de seu esposo, em 21 de julho de

1985, depois de sofrer dois infartos seguidos. Momentos de muita

comoção e tristeza marcaram o passamento de Dico Mano, velado

por centenas de parentes e amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 065, Fev. 2018

NOSSA GENTE 257


Guido Alves de Oliveira

Aquele que tem caridade no coração, tem sempre qualquer coisa para dar.

Santo Agostinho

Nesta crônica está um pouco do

homem simples, dedicado ao

trabalho e à ação social e à família,

que foi o senhor Guido Alves

de Oliveira, nascido na comunidade

de Ribeiros, em 24 de março

de 1934, filho do casal Francisco

Alves Ribeiro e Romualda

Maria de Jesus. Teve 7 irmãos:

Tito, Ivo, Célio, Celita, Alzira,

Etelvina e Expedito.

Guido Alves de Oliveira

De família numerosa, desde

adolescente, foi acostumado

com as batalhas da vida. Viveu

sua infância e adolescência na

comunidade natal.

Trabalhou num pequeno armazém que ficava próximo da praça da

Igreja de Ribeiros. Gostava muito de ajudar nos trabalhos da igreja,

seja como coroinha e sacristão do padre Raul Silva, pároco de Carmo

do Cajuru, além de ajudar no altar, acompanhava o padre em visitas

aos doentes.

Nos anos 50, conheceu a jovem Noêmia Adelaide de Vasconcelos,

com quem se casou em 20 de abril de 1957, trazendo ao mundo os

filhos Anair, Zélia, Daura, João Bosco e Eunice.

258

Célio Antônio Cordeiro


Guido em momento de descontração com a família

Veio para a região urbana de Carmo do Cajuru em 1959. Aqui, trabalhou

como sapateiro em um pequeno espaço com Ramiro Antônio

Dias. Posteriormente, passou a trabalhar no comércio de armarinhos,

na rua Tiradentes.

Sua esposa Noêmia, também muito dedicada ao trabalho, o auxiliava

no comércio, sem se descuidar dos deveres do lar. Sendo uma

requisitada costureira, ajudava também nas despesas cdomésticas.

Na época, Carmo do Cajuru ainda cidade pequenina, havia poucas

lojas, e com muito esforço Guido conseguiu ampliar o seu comércio

de cama, mesa e banho, proporcionando melhor rendimento familiar.

Amava muito essa profissão; trabalhou como comerciante até

se aposentar e, mesmo depois, deu continuidade à vida empresarial.

Foi uma pessoa de amplo convívio social, o que o tornava pessoa

muito conhecida. Por seu modo de viver, fazia muitas amizades, especialmente

no meio rural.

Nas horas de folga, gostava muito de jogar baralho com seus amigos

e vizinhos. Foi uma pessoa sempre com uma alegria estampada no

rosto. Praticou muito a virtude da caridade, sendo membro ativo da

Sociedade São Vicente de Paulo, durante longos anos.

NOSSA GENTE 259


Fez parte de várias comissões

encarregadas de organização

de festas religiosas, conforme

registros em programas de festejos

realizados em nossa Paróquia,

onde serviu como conselheiro

paroquial. Foi congregado

mariano, por um longo período,

nos anos 1960. Participava ativamente

do grupo de ministros

da Eucaristia.

Fazia parte de um grupo de amigos

das caminhadas matutinas,

dentre eles: José Dias Barbosa

(Pipoca), Romeu Mateus, Paulo

Lourenço, Rafael Avelar, Walter

Rabelo (Tico da Zinha) e João

Mota.

Durante uma dessas caminhadas,

sentiu fortes dores no peito

e foi encaminhado ao hospital,

onde teve de se submeter a uma

cirurgia para colocação de pontes

de safena.

Guido, adolescente, em Ribeiros

Após 30 dias, ainda no CTI, não resistiu e veio a falecer, trazendo momentos

de grande comoção e tristeza aos familiares e amigos. Seu

falecimento se deu no dia 30 de maio de 2003.

Guido deixou legados importantes para os familiares: exemplo de

um afetuoso pai de família, honestidade no trabalho e principalmente

a prática da bela virtude da caridade e do amor.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 078, Mar. 2019

260

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 261


Ilídio de Sá

A grandeza de um coração, a retidão de um caráter, o espírito de doação,

só os pequenos fatos, os gestos singelos os sabem exprimir.

Geraldo Moreira

O bondoso senhor Ilídio de Sá

Ilídio de Sá, nasceu em 5 de abril

de 1915, em Carmo do Cajuru,

filho de Osório Carlindo de Sá e

Maria Angelina de Sá.

Estudou até o Primário. Na juventude,

foi produtor de leite e

sócio da Cooperativa dos Produtores

Rurais de Carmo do Cajuru,

bom negociante de gado,

tinha o dom da compra e venda

de animais. Essa habilidade fez

dele um homem conhecido na

região, de boas e numerosas relações,

principalmente, porque

era rigoroso com os compromissos

assumidos e bom no trato

com as pessoas.

Casou-se com Maria Nogueira Maia, em junho 1942, com quem teve

seis filhos, sendo quatro homens: Osvaldo, Ronaldo, Arnaldo e Aroldo;

e duas mulheres: Maria da Consolação e Sônia. Durante toda a

vida, auxiliou a irmã Geni de Sá e não deixou nada faltar, principalmente

nos momentos mais difíceis da doença. Ele também mostrou

sua generosidade ao abrigar e cuidar de Olívia de Sá, outra irmã, que

viveu por muitos anos com ele, além de Custódia, a cunhada acometida

por transtorno mental, não deixando faltar dignidade e auxilio

material a todas.

262

Célio Antônio Cordeiro


O casal Maria Nogueira Maia e Ilídio de Sá

O equilíbrio na medida certa,

sem exageros, sem excessos,

discreto nas atitudes e palavras,

que eram ditas após profunda

ponderação, mas que tinham

muito conteúdo, principalmente

para aqueles que conseguiam e

tinham o privilégio de ouvi-las.

A paciência também era uma característica

marcante do senhor de Ilídio de Sá, assim também seu

silêncio e resiliência diante dos desafios da vida, da doença e dos problemas

familiares – suas principais virtudes.

Homem da terra, baseava sua filosofia de vida no trabalho. Mesmo

na terceira idade, com o corpo já debilitado, gostava de ir para fazenda,

cuidar da criação, curar o gado, colocar o sal no cocho e consertar

cercas.

Na cidade, gostava de cuidar das galinhas e dos porcos, como forma

de ocupar o tempo em casa; ficar parado, jamais. Ao final do dia, não

dispensava a latinha de cerveja, apenas uma e pronto.

O casal Maria Nogueira Maia e Ilídio de Sá com os filhos

NOSSA GENTE 263


O senhor Ilídio foi sempre um homem de fé. Colaborou muito com os

menos favorecidos, fazendo doações à Vila Vicentina e a muitas pessoas

que lhe solicitavam algum tipo de ajuda, sempre com o espírito

alegre e coração aberto.

O senso de humor refinado, mantido até nos anos em que esteve

acamado, apresentando bom ânimo, boa conversa e uma boa taça

de vinho ao final do dia, um dos poucos prazeres que os médicos permitiram.

Faleceu aos 94 anos, depois de longo período de 4 anos acamado,

certamente marcado pela perda da esposa, que faleceu acometida

pelo Mal de Alzheimer. Coincidência ou não, ele deixou de caminhar

exatamente no dia em que ela faleceu.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 048, Set.. 2016

264

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 265


Izidoro Fonte Bôa *

Paciência e perseverança tem o efeito mágico

de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.

John Quincy Adams

Izidoro José Fonte Bôa nasceu

na fazenda Itaipava no dia 6 de

fevereiro de 1931, filho de Fidelis

José Fonte Bôa e Maria Carmelita

Vasconcelos, sendo o segundo

dos 10 filhos.

Ele tinha um braço “especial”,

consequência da provável criança

extremamente curiosa, aventureira,

criativa, habilidosa e

inteligente que era, pois eram

adjetivos que o identificavam e o

diferenciava em toda a sua vida.

Lembro-me dele contar que,

aos 6 anos de idade, sofreu um

acidente no ralo de mandioca

(moinho de pedra). Seu braço

Izidoro Fonte Bôa

esquerdo foi “engolido” naquelas

engenhocas e ficou todo dilacerado...

Contava que após o acidente, teve o braço envolto por

taquaras de bambú e pano e foi levado em carro de boi para Itaúna,

para receber socorros médicos.

* O autor agradece a gentileza de Marília e Aurélia, filhas do senhor Isidoro na elaboração

desta crônica. Era uma pessoa simples e de coração muito aberto! Sempre disposto ao

trabalho voluntário. Seu legado é sua vida exemplar e sua perseverança.

266

Célio Antônio Cordeiro


Desde então passou por grandes sofrimentos, muita febre e nos seis

meses seguintes ficou muito fraco, a ponto de temerem-lhe a sorte...

tempos idos e sofridos! As sequelas desse acidente foi um braço mais

curto e retorcido, com uma mão limitada, mas que nunca o inibiram

de exercer qualquer atividade, inclusive tocar instrumento de sopro

na Banda de Música Santa Cecília.

As cicatrizes produziram imagens

lindas em seu braço, como

paisagens, penas e outras várias

figuras que nos deixavam maravilhados!

Após se aventurar pela

capital, em busca de dias melhores,

montou uma das primeiras

oficinas de marcenaria de Carmo

do Cajuru e casou-se com

Ceci Maia (Fonte Boa), em 15 de

setembro de 1955. Juntos constituíram

uma barulhenta família

de 7 filhos (Carmelita, Marilia,

Elder, Eugênio, Leda, Aurélia e

Karla), que está na 4 a geração.

Os móveis da casa ainda são os

Ceci Maia e Izidoro Fonte Bôa

mesmos que ele próprio fez: o

jogo de quarto, o jogo de copa com mesa que se estende (coisa muito

moderna na época), cadeiras com acento em couro trabalhado,

cristaleira com vidros bisotados, tudo em verniz ‘asa-de-barata’. Os

móveis da cozinha são pintados e já mudaram de cor várias vezes ao

gosto da matriarca. Esses móveis têm 60 anos e parecem novos, por

serem de boa qualidade e bem cuidado.

Izidoro era também um grande sonhador, idealizador e experimentalista.

Dono de uma inteligência privilegiada, não tinha medo de tentar...

Dizia que nasceu no tempo errado, que deveria ter nascido num

tempo mais “moderno”. Nosso melhor passatempo era desafiá-lo a

fazer conta de multiplicar de 3 números “de cabeça”. Ele dava o resultado

antes que armássemos as continhas.

NOSSA GENTE 267


Sempre lamentamos sua morte tão prematura.

Um dia resolveu aprender a dirigir. Procurou o memorável Dr. Geraldo

Guimarães que o explicou em uma longa prosa como funcionava

um carro. Aí, do nada, já chegou lá em casa com um Jeep. Alguns

anos depois abriu uma oficina mecânica. Estava sempre estudando

e pesquisando, apesar de ter concluído apenas a quarta série. Trabalhou

intensivamente e em grande variedade.

Izidoro, Ceci e a jovem família

Dona Ceci e os filhos

Que eu me lembre foi tratorista, leiteiro, mecânico, sitiante, motorista,

corretor imobiliário... trabalhou também em grandes empreiteiras

fora daqui como mestre de obras: na construção da Usina de

Furnas, na mineração em Itabira, Usina de Nova Era, construção de

Brasília... mas, a lembrança mais forte que temos é de seus inúmeros

trabalhos, que é também a que mais prezamos e nos orgulhamos.

Era admirável a sua alegria, dedicação espontânea e gratuita às coisas

da igreja de Deus e do povo. Era um vicentino nato e convicto;

grande discípulo missionário de Jesus Cristo.

Braço forte na edificação da Vila Vicentina, da praça Nossa Senhora

Aparecida, (do Cruzeiro), Salão Paroquial e Casa Paroquial.

268

Célio Antônio Cordeiro


Era também realizador e executor das invenções modernosas do

amado e amigo padre João, que sempre queria fazer inovações na

igreja para as celebrações.

Faleceu pouco antes de completar 53 anos, no dia 14 de janeiro de

1984. Deu-nos um grande susto e deixou-nos uma grande saudade,

mas sobretudo a satisfação e o orgulho de tê-lo tido como pai.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 036, Out. 2015

NOSSA GENTE 269


Jamil Antônio Bechelaine

Não há satisfação maior do que aquela que sentimos

quando proporcionamos alegria aos outros.

Masaharu Taniguchi

A vida dos grandes homens é

sempre aferida pelas suas grandes

obras. Muitas vezes, no entanto,

a grandeza de um coração,

a disposição em trabalhar

em prol da comunidade e a retidão

de caráter, exprimem também

a grandeza de uma pessoa.

Quando se observa a história de

Carmo do Cajuru, nota-se que

passaram por aqui pessoas que

muito fizeram pelo lugar e sua

gente, mesmo vindas de outras

cidades. Nesta edição, mostraremos

um pouco do “Sô Nenem

da Nina” – homem que viveu na

simplicidade, mas conseguiu

Jamil “Nenem da Nina” Bechelaine

inscrever seu nome na sociedade

cajuruense, com seu trabalho voluntário e de sua marcante animação

nas festas populares.

Jamil, “Sô Nenem” ou ainda “Nenem da Nina”, nasceu na vizinha

cidade de Cláudio, em 23 de maio de 1920. Filho do libanês Moisés

Antônio Bechelaine e de Maria José Mendonça de Oliveira. Teve nove

irmãos: Jamili, Nagm, Helena, Abib, Nelson, Raimundo, Adélia, Renée

e Antônio.

270

Célio Antônio Cordeiro


Ainda bem jovem, casou-se

com Maria de Lourdes Menezes

(Nina) e tiveram um filho, Geraldo,

e os netos Samyr e Sâmara.

Em Cajuru, desempenhou diversas

profissões. Na política,

foi vereador durante o período

de 1960 a 1963 e vice-prefeito

no período de 1963 a 1967. No

poder legislativo, os serviços

prestados não eram remunerados

como hoje. O trabalho era

voluntário, mesmo sendo eleito

pelo povo.

Maria de Lourdes Menezes e Jamil

Tinha uma grande paixão pelas

festas populares. Onde acontecia

uma, lá estava o Sô Nenem,

participando, dançando e marcando,

espalhando alegrias a

todos. Outra grande paixão dele

era o Carnaval; coordenava e fazia

questão de marcar sua presença

nos desfiles de rua e também

nas festividades fechadas.

No final da Semana Santa, era

uma tradição a ‘malhação do Judas’,

um acontecimento que não

fazia parte da celebração religiosa,

pois se tratava de um evento

profano, mas trazia muita alegria

ao povo e principalmente a

criançada. Por longos anos, Sô

Nenem esteve à frente destes

momentos de alegria.

Jamil, em desfile de Carnaval

NOSSA GENTE 271


Jamil, em confraternização com amigos na fazenda Mangonga

Juntamente com sua a esposa Nina, construiu um clube no centro da

cidade, onde promoviam bailes e jogos, o que trazia ao povo, alegrias

e entretenimento.

Foi também funcionário público indicado por Alfredo Mattar, em Divinópolis,

para onde se mudou. Trabalhou na Escola Estadual Polivalente

como Inspetor de alunos e, posteriormente, no Colégio Estadual,

hoje Escola Estadual São Tomaz de Aquino, onde se aposentou.

Mesmo morando em Divinópolis, sempre estava presente nas festas

locais.

Depois de viver uma vida que muito contribuiu com a nossas tradições

e nossa cultura, já com a saúde fragilizada, Jamil veio a falecer

no dia 8 de julho de 2003, em Divinópolis. Foi velado em Carmo do

Cajuru e sepultado no Cemitério do Bonfim.

Um legado muito importante ele nos deixou como herança: alegria e

trabalho... saudades!

JORNAL BOCA DA MATA, n. 029, Fev. 2015

272

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 273


Jésus Ferreira de Melo

A bondade do homem pode ser escondida, mas nunca extinta.

Nelson Mandela

Um pouco sobre a vida de Jésus

Ferreira de Melo, pessoa do

bem, carismático, simples, que

foi muito dedicado ao trabalho

e prezava sempre pela honestidade.

Com seu modo de viver e

de ser e até de sua resignação ao

sofrimento, marcou de maneira

notável a sua vida terrena.

Nascido em 6 de agosto de

1928, na fazenda dos Paivas,

município de Claudio, filho de

Alexandre Gonçalves de Melo e

Maria Luiza de Jesus (dona Mariquinha),

vindo de uma família

numerosa.

Aos 23 anos, casou-se com Anízia

Nogueira Gonçalves de Melo.

Jésus Ferreira Melo

Do casal, nasceram 14 filhos: Maria Dalva, Maria Dinalva, José Celso,

José César, José Alexandre, Petrino José, Dilma, Delma, Denise, Edson,

Elmo, Daniela, Elso e Maria Luiza.

Mesmo sendo patriarca, ainda encontrou tempo e disponibilidade de

prestar grandes serviços em prol da comunidade. Fez parte de conselhos

da Cooperativa de produção e de Sindicato Rurais, onde prestou

relevantes serviços ao trabalhador rural.

274

Célio Antônio Cordeiro


Em 1976, foi eleito vereador da

Câmara Municipal de Carmo do

Cajuru, cujo trabalho era executado

na época, sem qualquer

tipo de remuneração.

Foi membro muito ativo no movimento

de Cursilho e Sociedade

São Vicente de Paulo. Em festividades

religiosas, fez parte de

dezenas de comissões, como se

nota em vários programas, que

estão nos arquivos do Museu e

Arquivo Sacro-Histórico, desde

Ex-vereador Jésus e dona Anízia

o início da década de 50 até a

década de 80. Teve uma vida muito marcada por grandes provações,

mas sua grande fé e resignação não o deixava entregar os pontos.

Em 30 de novembro de 2015, depois de uma longa enfermidade, veio

a falecer. Centenas de pessoas marcaram presença no seu velório.

Deixando muita saudade aos familiares e amigos.

A grande família do senhor Jésus e dona Anízia

NOSSA GENTE 275


O jovem casal Anízia e Jésus

Familiares manifestaram admiração pelo senhor Jesus Ferreira de

Melo, como se pode perceber pelo texto a seguir, que consta na lembrancinha

distribuída após a missa do 7 o dia:

“Ele foi exemplo de esposo, pai e avô... Sempre teve a família

como a inspiração para tudo! A todo tempo dedicado, presente,

amoroso, procurando fazer o melhor! Viveu o amor

no sentido mais pleno e bonito que existe.

No rosto, sempre tinha um sorriso acolhedor. Carinhoso,

nunca negava colo e nem uma boa prosa. Ao próximo,

sempre teve a mão estendida e o coração aberto.

Deixou a todos nós momentos inesquecíveis, alegres,

assim como soube suportar e tirar lições das provações da vida.

Sempre com muita fé, forças e coragem.

Deixa, naturalmente, uma grande saudade,

mas sabemos que está muito bem ao lado do Pai.”

JORNAL BOCA DA MATA, n. 043, Abr. 2016

276

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 277


João Alves de Oliveira

Amor Vincit Omnia (O amor vence todas as coisas).

Caravaggio

João Alves de Oliveira – Dico Dionísio,

como ficou mais conhecido

– nasceu em 28 de dezembro

de 1920, em Ribeiros. Filho de

Dionísio Antônio de Oliveira e

Norvina Maria do Amor Divino,

teve uma infância feliz ao lado

dos pais e irmãos José, Jacinto,

Maria Luzia, Ester, Valdemar,

Djanaria e Cloves. Ajudou os

pais, desde cedo, no trabalho

com a terra.

João Alves de Oliveira, o Dico Dionísio

Diante das dificuldades com a

educação dos filhos, Dionísio

contratou uma professora para

alfabetizar os filhos e posteriormente

estender o ensino a toda

comunidade. Nico cursou até o

quarto ano do grupo.

Ainda criança, foi coroinha nas celebrações das missas na comunidade,

na época, celebradas pelo padre Augusto Cerdeira. Cresceu no

seio familiar com orientação para a religiosidade, o respeito e o amor

ao próximo.

Na juventude, conheceu sua primeira namorada Alzira de Sousa,

também da comunidade de Ribeiros, que anos mais tarde, com ela

viria se casar.

278

Célio Antônio Cordeiro


Em fevereiro de 1943 foi convocado

para servir ao Exército

Brasileiro. Convocação esta que

se deu com o objetivo de servir

ao Brasil e aliados na Segunda

Guerra Mundial.

Deixou então sua namorada, família,

amigos, parentes e aquela

vida serena de cidadezinha do

interior. Muitos de seus sonhos

foram interrompidos, viu-se

sendo arrancado do seu mundo

para um mundo desconhecido,

juntando-se à outros brasileiros

também convocados.

O Brasil foi então à Segunda

Guerra Mundial com a Força

Expedicionária Brasileira (FEB),

instituída em 9 de agosto de

1943, para lutar na Itália, ao lado

dos exércitos aliados contra o

nazi-fascismo.

Convocado no Sexto Regimento

O canhoneiro Dico, antes do embarque para Itália

de Infantaria Paulista – Caçapava/SP,

viajou em junho de 1944, no navio “General MANN”, rumo à

Itália, sob o comando do general Zenóbio da Costa. Desembarcou no

porto de Nápoles. em 16 de julho de 1944.

Na função de atirador de morteiro (canhão), Nico Dionísio participou

da tomada de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945, depois de

várias tentativas fracassadas sob rígido inverno e neve, jamais vistos.

A tomada de Montese, que se iniciou em 14 de abril de 1945, foi a

mais sangrenta batalha da FEB, sob o comando do General Mascarenhas

de Morais.

NOSSA GENTE 279


No início da tarde de 17 de abril,

três dias depois de iniciada a

ofensica aliada para tomada de

Montese, Nico foi gravemente

ferido por uma granada. Socorrido

pela Cruz Vermelha, foi levado

ao hospital de campanha,

onde passou por várias cirurgias.

João sempre contava que, naquele

momento lá estendido no

chão e ferido, rogou bênçãos de

“Nossa Senhora Maria Santíssima”

que o cobrisse com seu

manto e o salvasse. E foi atendido.

Ainda hospitalizado recebeu

a notícia do fim da guerra.

A campanha dos pracinhas brasileiros

na Itália foi concluída em

Cartas de Dico Dionísio à família e namorada

2 de maio de 1945, quando foi declarado o cessar-fogo no front italiano,

com rendição das forças nazistas.

Nico retornou ao Brasil em julho de 1945. Recebeu do Ministério da

Guerra diplomas e medalhas de honra, como o de Sangue do Brasil

(por ferimento em ação), Certificado de Operações da Itália; em anos

posteriores foi congratulado com outros diplomas.

Chegou à sua terra natal, em 8 de agosto de 1945. Na estação teve

uma recepção fervorosa e emocionante. Com muita alegria contava

da emoção de chegar na casa dos pais e abraça-los, rever os irmãos e

também depois, de reencontrar a namorada que o esperava. Houve

ali na casa momentos de oração em família e depois muita festa com

muitos fogos de artifícios comprados pelo pai. O filho herói voltara à

comunidade!

Continuou vivendo ali mesmo na zona rural como agricultor e pecuarista,

vindo a se casar com Alzira de Souza em 7 de fevereiro de 1947,

tendo três filhos: Ângela; Dionísio e Marisa.

280

Célio Antônio Cordeiro


Mudou-se da comunidade de Ribeiros para a cidade, em 1963, ano

também em que ingressou no Departamento de Correios e Telégrafos

(DCT), trabalhando por 11 anos. Durante suas atribuições como

carteiro, inúmeras vezes atendia em sua casa pedidos de pessoas,

que não sabiam ler e escrever, para ler as cartas e redigir as respostas

conforme eram ditadas.

Retornou ao Exército e obteve a Reforma (aposentou-se), passando a

dedicar-se mais e com muita satisfação aos convites de professores,

alunos, e outras instituições para narrar os fatos ocorridos no front e

a importância do amor à pátria. Sempre participou com entusiasmo

dos desfiles de 7 de setembro em Carmo do Cajuru e em outras.

Em 7 de setembro de 1998, na gestão do prefeito Roberto Fonseca

inaugurou-se a Praça em homenagem aos ex-combatentes, posteriormente

repaginada pelo então prefeito Edson Vilela.

Nico Dionísio foi por muito tempo confrade da Conferência de São

Vicente de Paulo. Sempre em todos os seus atos concretizava-se a

fé, a paz e a união.

Como lazer e descanso, sempre retornava a sua Ribeiros, no convívio

dos amigos, parentes e, como sempre dizia – “para ouvir a Natureza”.

Sempre foi de muita simplicidade e muito amor à família, pela esposa

Alzira, filhos (Ângela, Dionísio e Marisa), genros Célio e Ricardo; a

Valdir Nogueira e Sávio Augusto, pessoas que fizeram parte de sua

vida como se fossem filhos e a todos seus afilhados.

O senhor João Alves de Oliveira, o Dico Dionísio, faleceu em 7 de fevereiro

de 2013, deixando exemplo de fé, patriotismo e sempre muita

gratidão à Deus pelo dom da vida, oportunidade que lhe foi dada e

que honrosamente a cumpriu.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 077, Fev. 2019

NOSSA GENTE 281


João Batista Nogueira Marra

A alegria e o amor são as duas grandes asas para os grandes feitos.

Goethe

João Batista Nogueira Marra, o João Coalhada

João Batista Nogueira Marra

(João Coalhada) nasceu em Carmo

do Cajuru, em 9 de janeiro

de 1935, filho de Deiró Marra de

Oliveira e Aldivina Alves Nogueira.

Seu nome originou-se de promessa

feita por sua mãe, por ter

sido atendida em um pedido de

cura logo quando ele nasceu.

A partir de junho de 1935, e durante

todas usa vida, convidava

os parentes, amigos e vizinhos

para rezarem no dia de São João,

agradecendo a vida do filho.

Após as orações, enchia a peneira

de biscoitos, que ela mesma assava no forno de varrer, e servia ao

redor da fogueira, com grande satisfação.

Apesar de a promessa ser da mãe, João continuou com a devoção até

junho de 2000. Após seu falecimento, os familiares continuaram as

rezas por ocasião do dia de 24 de junho.

Seu primeiro emprego foi na fazenda de Jorge Fonte Boa, onde ele

gostava de trabalhar por ter muita fartura. Depois de tirar o leite, arreava

o cavalo; tomava um café reforçado com quitandas para saciar

a fome e seguia até a Cooperativa de Carmo do Cajuru, para entregar

o produto da ordenha.

282

Célio Antônio Cordeiro


Naquele estabelecimento, João Batista fez amizades sinceras. Era

prestativo e bem-disposto; sempre transportava encomendas para

a fazenda. Muitas vezes, o leite azedava e virava coalhada, em consequência

do calor e do longo trajeto ao sol, entre a fazenda e a Cooperativa.

Nessas condições, ele retornava com o leite azedo para

fazer um delicioso requeijão. Aliás, coalhada fresca era o derivado

de leite que ele mais apreciava, o que lhe deu o apelido carinhoso de

João Coalhada.

Na adolescência, João Batista começou a como candeeiro, carregando

lenha em carro de boi com João da Mata Nogueira, vindo posteriormente

a se tornarem amigos inseparáveis. Um sempre aconselhando

com o outro, trocando ideias, traçando objetivos e apoiando

os sonhos um do outro.

João Batista, ao lado de familiares

João Batista também trabalhou na construção da barragem de Carmo

do Cajuru, ficado lá até terminar toda obra. A empreiteira percebeu

sua eficiência e o convidou para continuar trabalhando com

a empresa em uma nova obra: construção da barragem de Itutinga,

perto de Lavras. Ele, todo satisfeito, trabalhou nesta obra também

até sua conclusão. Terminada a barragem resolveu regressar a sua

terra natal e passou a trabalhar prestando serviços à Fundição do Dr.

Gaspar por muitos anos.

NOSSA GENTE 283


Foi confrade da Sociedade São Vicente de Paulo, seresteiro e formava

uma dupla sertaneja com a irmã Zezé, que andava na garupa da

bicicleta a cantar nos arredores de Aroeiras, Ribeiros e outros povoados.

Ele tocando violão e cantando e sua irmã fazendo a segunda

voz. Eles encantavam por onde passavam.

João Batista, em declamação ao som do violão

Depois, João Batista passou a participar de rodas de violas e cada dia

mais violeiros o convidavam para declamar e cantar. Foi numa dessas

apresentações, que conheceu sua “princesa dos olhos” – Terezinha.

Seguia em sua bicicleta bem equipada, violão às costas, para a casa

de Gualter Nogueira Penido e Rita Maria de Jesus – que se tornaram

sogros. E toda família ficava ao redor de João e seu violão, numa festa

familiar com doces, quitandas e café até alta madrugada com músicas

e cantos. Namoro saudável, que tornou a “princeza Terezinha”

em rainha do lar. Em 15 de abril de 1961, casou-se com ela, sua companheira

de todos os momentos, que o incentivou a trabalhar por

conta própria.

Seu amigo e compadre Jadir Marra lhe emprestou a primeira máquina

de solda para trabalhar, em troca de toda assistência técnica necessária

a Siderúrgica Cajuruense. Posteriormente, veio a constituir

sua microempresa hoje denominada Marra & Cia.

284

Célio Antônio Cordeiro


João Batista e dona Terezinha tiveram onze filhos: Maria Aparecida

(†) Romilda, Geraldo, Laura (†), João, Enilda, Vanilda, Gilson, Gilberto,

Luziane e Evanilson. Trouxeram ao mundo uma grande família

bem-educada, dispostos ao trabalho aos fazeres escolares. Foi um

grande esposo e um exemplar pai de família.

João Batista foi uma pessoa de muita fé, católico praticante, ajudou

a fundar a primeira festa de São Cristóvão, assim como também a de

São José Operário, nas quais ajudava a preparar o veículo para transportar

as imagens nas procissões.

Foi associado da Cooperativa de produção, onde fornecia sua produção

de leite, e um dos sócios fundadores do Sicoob/Carmocredi,

além de generoso colaborador da Vila Vicentina, por ocasião das festas

de São Sebastião.

Em vida, foi homenageado pela Câmara Municipal com a comenda

“Caa-yuru”, em reconhecimento a relevantes serviços prestados em

prol da sociedade. Deixou para seus familiares legados de grandes

valores: boas amizades, amor ao trabalho e honestidade. Sempre

teve um semblante sorridente, que o caracterizava como o símbolo

de alegria.

Em 25 de julho de 2000, por coincidência, no dia de São Cristóvão,

santo de sua devoção, foi chamado para o plano de cima, deixando

uma lacuna de saudade, não somente para os familiares como também

para centenas de amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 083, Ago. 2019

NOSSA GENTE 285


João da Mata Nogueira

Trabalho é a engrenagem que movimenta os sonhos para que se tornem realidade.

Wesley Nabuco

João da Mata

É falando de trabalho e dignidade,

que nesta crônica, contaremos

um pouco do muito que o

saudoso João da Mata Nogueira

fez para nossa querida Carmo do

Cajuru e tantas outras.

João nasceu em Carmo do Cajuru,

no dia 3 de março de 1927,

na fazenda Água Sumida, filho

de dona Augusta Alves Nogueira

e do senhor Modestino Pinto

Brandão. Foi o caçula de uma

família composta por mais 4 irmãos:

Maria, Miguel, Vicentina

e Geraldo. Uma família simples,

que sempre prezou pelo amor

ao trabalho e pela honestidade.

Desde a infância gostava muito de trabalhar com madeira. Fazia com

extrema facilidade arapucas e gaiolas, que, segundo palavras dele,

chegou a ganhar algum dinheiro. Um fato triste em sua vida foi perder

os seus pais quando tinha apenas 13 anos de idade. Fez o curso

primário no Grupo Escolar Princesa Isabel.

Quando Adolescente, trabalhou como lustrador de móveis em uma

marcenaria em Carmo do Cajuru. Em 12 de fevereiro de 1953, casou-

-se com Luziária Alves Batista, com quem teve cinco filhos: Augusta,

Célia, Célio, Aurélio e Cláudio.

286 Célio Antônio Cordeiro


Posteriormente ao trabalho de

lustrador de móveis, com muita

vontade de vencer e com muita

determinação, resolveu abrir o

seu próprio negócio fundando a

sua primeira fábrica de móveis

no início dos anos 50. Situada

na rua Joaquim Rabelo, denominada

Mobiliadora Líder. Foi

quando demonstrou sua grande

capacidade administrativa

no setor moveleiro. Conseguiu

enxergar um futuro promissor

e continuou a correr atrás dos

seus sonhos.

João da Mata, em sua marcenaria

João e dona Luziária com os filhos e netos

Alguns anos depois, adquiriu um terreno no alto do bairro Bonfim,

onde foi construída a grande fábrica de móveis do Grupo Líder. Algum

tempo depois a construção de outra fábrica em Mateus Leme.

NOSSA GENTE

287


Ao longo dos anos, empregou muitos funcionários, incentivou os interessados

a montarem suas fábricas, através da fundação do bairro

das Indústrias.

O Grupo Líder, sob a direção de João da Mata Nogueira e contando

com seus filhos, que seguiram os seus passos no ramo moveleiro, se

expandiu tanto que, além das diversas fábricas, ainda passou a ter

dezenas lojas não somente em várias cidades de Minas Gerais, como

também em outros estados e representantes até em outros países.

Se hoje Carmo do Cajuru tem uma grande projeção nacional e internacional

no setor moveleiro, foi graças ao grande espírito empreendedor

de João da Mata Nogueira. Junto com sua grande esposa Dona

Luziária, construiu uma bela família. A maioria dos filhos tornou-se

grandes empresários que trilharam os caminhos do grande patriarca.

Hoje, Carmo do Cajuru vem sendo um dos principais pólos moveleiros

do País. João da Mata fez com que a nossa querida terra, passasse

a intitular-se como a “Cidade dos Móveis”.

João da Mata Nogueira foi um dos mais influentes políticos de nossa

terra. Foi vereador em três gestões e na década de 1950 foi também

vice-prefeito. Foi prefeito em dois mandados e com brilhantes atuações

para o desenvolvimento municipal. No seu primeiro mandato,

fez grandes reformas nas praças da Matriz e 1º de Janeiro. Foi um dos

responsáveis por várias outras obras publicas. A criação da Cia. Telefônica,

criação da Escola Estadual, antigo Ginásio Estadual.

Com o Dr. Hermon de Vasconcelos Barros criou o primeiro Colégio

de Carmo do Cajuru - o Colégio Dom Bosco, posteriormente adquirido

por João da Mata, passando a se chamar Colégio Comercial José

Demétrio Coelho. Foi uma escola de um grande conceito, onde se

formaram centenas de alunos, que brilharam como profissionais não

só em nosso meio, como também pelo Brasil a fora.

Foi uma pessoa de uma importância inestimável no setor da Educação.

Tinha um grande espírito de solidariedade, colaborava muito

com a Igreja em obras sociais.

288 Célio Antônio Cordeiro


Ajudou na criação e construção

da nossa Vila Vicentina. Sempre

participava de eventos sociais

esportivos e religiosos. Foi muito

atento também com a saúde

do povo. Vários dos médicos que

trabalharam em Carmo do Cajuru,

vieram para aqui graças aos

esforços e ao espírito caridoso

de João. Como Prefeito, sempre

foi muito envolvido com as nossas

comunidades rurais, principalmente

na conservação das

estradas e das escolas.

Conforme acima mencionado, provindo de uma família simples,

nunca deixou de sonhar e de fazer com que seus sonhos tornassem

realidade, através do trabalho e da determinação. Sonhava com um

mundo além do tempo em que vivia. Soube criar bem e dando bons

exemplos a sua bela família. Hoje, em sua maioria são grandes empresários,

mas continuam pessoas simples como o pai e muito estimados

pelos colaboradores e pela sociedade.

Em 8 de março de 2019, Sô João, como era tratado carinhosamente

por todos, partiu para vida eterna. Com certeza, com o sentimento

de dever cumprido aqui na terra.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 096, Set. 2020

NOSSA GENTE

289


João da Silva

A simplicidade é o tempero de todas as virtudes.

Joanna Coelho

É falando de simplicidade, que

nesta crônica mostra-se um

pouco da vida de um casal de

gente simples, que apesar dos

muitos trabalhos e provações da

vida, nos deram belos exemplos

de amor, doação e resignação

marcaram suas vidas.

Muito curioso falar em João da

Silva, pois todos o conheciam

por Mário de Souza. Segundo informações

da família, o apelido

originou-se devido a uma grande

semelhança com um ex-jogador

do Atlético Mineiro.

Apesar de sua estatura física, ele

O jovem João da Silva, o popular Mário de Souza foi um dos grandes jogadores do

futebol amador do Cajuru. Jogador

de muita raça e de uma incrível velocidade, atuou com destaque

nos gloriosos Tupy e Sport, dos anos 1950-60.

Nascido em 10 de maio de 1939, na zona rural, filho de Cândido Romão

da Silva e dona Maria Rosa da Silva. Desde criança já enfrentava

a dura vida na agricultura, auxiliando na renda familiar dos pais.

Ainda jovem, conheceu Zilda Batista Duarte (Dorinha), também, nascida

na zona rural, filha de Elísio Absalão Batista e dona Geralda Leonel

Duarte. Em 19 de outubro de 1963, casou-se com ela e constituiu

290 Célio Antônio Cordeiro


uma bela família. Dessa união,

nasceram seis filhos: Hamilton,

Antônio Carlos, José Geraldo,

Valdir Magela, Maria Divina e

João da Silva Filho. Em 2018, a

descendência do casal, além dos

filhos (noras e genro), está com

sete netos e seis bisnetos.

João da Silva, ilustre agente cultural do Reinado

João da Silva, além de ter sido

um grande jogador de futebol,

amou muito e exerceu atividades

em diversas tradições culturais.

O mesmo aconteceu com

sua esposa que sempre o acompanhava,

em diversos eventos.

Ele foi comandante da guarda

de Congo e do terno de Moçambique,

nas apresentações do

Reinado de N. S. do Rosário.

Gostava muito e participava também, da tradicional Folia de Reis,

hoje registrada como um bem imaterial de Carmo do Cajuru. Foi pandeirista

de samba e tinha um apego especial ao pagode e a música

sertaneja, principalmente o forró.

Hoje todas essas preferências culturais que tanto gostava, ficaram

como legado para os familiares.

Na vida profissional, foi funcionário da Cia Siderúrgica Pains (Divinópolis).

Posteriormente, veio trabalhar na Fundição “Irmãos Nogueira”

de propriedade de José Alves Nogueira Filho. Foi um ótimo e dedicado

funcionário da fundição, onde trabalhou até aposentar-se.

Mesmo com os proventos, seu orçamento familiar carecia de algo

mais, o que o levou a trabalhar com Ilídio de Sá, onde, pelo seu modo

de ser, gozava de muita simpatia com a família.

NOSSA GENTE

291


João da Silva, talento do Tupy Futebol Clube

João da Silva, talento do Sport Club Cajuru

292 Célio Antônio Cordeiro


Muitas provações difíceis ocorreram

na vida do casal. Ainda

muito nova, dona Zilda passou a

conviver com doença renal, cujo

tratamento era feito em Belo

Horizonte.

Foram muitas e muitas viagens

para se submeter à dolorosa hemodiálise.

Daí por diante, contava

sempre com a ajuda dos

filhos mais velhos.

Depois de 10 anos de tratamento,

com apenas 45 anos, dona

Zilda veio a falecer, deixando

alguns filhos ainda bem novos,

causando muita tristeza aos familiares.

O falecimento ocorreu

no dia 30 de novembro de 1991.

A partir daí, João da Silva passou

a exercer o papel de pai e de

mãe do lar.

Em 2011, João da Silva submeteu-se

a uma cirurgia no coração

e houve a necessidade do uso de

um marcapasso. Pouco tempo

depois, foi vítima de um AVC,

vindo a falecer em 1o de agosto

de 2011, causando assim, outro

momento de dor e comoção aos

familiares.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 066, Mar. 2018

NOSSA GENTE

293


João José Rabelo

Uma das missões mais nobres de um indivíduo é fazer

com que os outros saibam prosseguir sem sua presença.

Baudelaire

João José Rabelo era o mais

novo dos oito irmãos: Alvina,

Elisa, Maria, (Sinhá), Daniel,

Francisco e José. Nasceu em 2

de fevereiro de 1898, na fazenda

Contendas. Seus pais, Joaquim

Rabelo e dona Maria Gonçalves,

eram proprietários dela. Foi lá

que João José firmou raízes e

criou família.

João José Rabelo, ainda bem jovem

Como seus irmãos partiram para

outros lugares, ele ficou cuidando

da mãe que estava doente.

Teve a sede da fazenda por herança

e lá permaneceu até quando

pode trabalhar.

Como não havia Grupo Escolar na região, as crianças eram alfabetizadas

por um professor particular que atendia na cidade. Era o professor

Joanica. As crianças vinham das fazendas para receberem os

primeiros ensinamentos: ler, escrever e contar. Assim que elas aprendiam

as lições básicas, encerravam os estudos; sem diplomação.

Aqueles alunos mais curiosos e que gostavam do saber, continuavam

aprendendo por si mesmos. Era o caso dele. Sempre privilegiou o

conhecimento. Escrevia e lia com desembaraço, embora não tivesse

uma formação escolar formalizada.

294

Célio Antônio Cordeiro


Sede da saudosa fazenda de João José

Casou-se aos 26 anos com Augusta Nogueira de Souza, 10 anos mais

nova que ele. Era muito carinhoso com ela e lhe chamava de “Chica”,

nome que nunca se soube o porquê.

Assumindo o matrimônio, construiu uma casa nas redondezas a que

deu o nome de Casinha. Ali nasceram os primeiros filhos. O lugar foi

por muitos anos um reduto de saudosas lembranças. Para não perder

o vínculo, lá mantinha uma criação de porcos, como uma desculpa

para estar sempre ali. Conservou a singela morada por muitos anos.

Anos mais tarde, com a necessidade de cuidar da mãe, transferiu-se

com a família, para a sede da fazenda e ali permaneceu por toda a

vida. Teve 14 filhos, sendo sete homens e sete mulheres: Maria, Helena,

Cícero, Ceny, César, Sadi, Carlos Alberto, José, Maria José, Dora,

Geraldo, Maria Tereza, Helder e Liliane. Sua descendência conta com

mais de cem pessoas entre filhos, netos, bisnetos e trinetos.

Como era comum nas fazendas, a lida começava com o dia ainda escuro

e o descanso só vinha ao entardecer. Trabalhava-se de sol a sol,

de segunda a segunda, de janeiro a janeiro. Não havia férias naquele

tipo de trabalho.

NOSSA GENTE 295


Fazendeiros costumavam colocar

os filhos na lida da fazenda.

Seriam braços a mais na produção

agropecuária. Ele, porém,

não seguiu essa cartilha. Proporcionou

oportunidade para cada

um seguir o que lhe fosse querer.

E assim a maioria partiu para outras

atividades profissionais tendo

ficado na fazenda apenas um

de seus filhos, que conviveu com

ele por mais tempo desfrutando

melhor da sua companhia. Seja

louvado!

João José e Augusta, amor eterno

Era um homem político como somos todos nós; tinha suas preferências

partidárias, sem ser politiqueiro. Torcia em silêncio. Respeitava o

oponente, embora tivesse o partido de simpatia. Nunca pleiteou um

cargo público. Assistia aos acontecimentos políticos com moderação.

João José e Augusta, em celebração de Bodas de Ouro, na Matriz de N. Sra. do Carmo

296

Célio Antônio Cordeiro


Não era muito afeito a práticas religiosas, mas respeitava quem fosse.

Não discutia credo e estava sempre pronto a colaborar com eventos

da Igreja como leilão, barraquinhas, jubileu e construções, em

consonância com a esposa que era muito religiosidade.

No final da vida, converteu-se e rezava com frequência. Não conviveu

bem com o envelhecimento também. Desejava uma máquina

que pudesse voltar no tempo. Deve ter sido atendido em suas orações

porque morreu em paz. Tranquilo, sem dor, em silêncio, discreto

como ele sempre fora.

Faleceu em 26 de fevereiro de 1991. Não concretizou um de seus

maiores sonhos que era completar 100 anos.

Foi exemplo de dignidade e honradez. Entrou para a história de Carmo

do Cajuru como cidadão honesto, trabalhador; e deixou nos corações

de seus filhos e descendentes uma saudade imensa.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 047, Ago. 2016

NOSSA GENTE 297


Pe. João Parreiras Villaça

Toda vocação sacerdotal é um mistério, um dom que supera infinitamente o homem.

São João Paulo II

Um pouco da vida do cônego

João Parreiras Villaça, o estimado

“Padre João”.

João Parreiras Villaça

Em 21 de março de 1906, na pequena

Crucilândia, nascia uma

criança, batizada com o nome

de João, filho de um casal simples:

Jacinto de Souza Parreiras

e dona Dorcelina Vilacinha Parreiras.

Somente Deus, poderia

prever que naquela data vinha

ao mundo um menino que, futuramente,

se transformaria em

uma das mais carismáticas figuras

de Carmo do Cajuru.

Fez os seus primeiros estudos em sua terra natal. Foi uma criança e

adolescente que se sobressaia bem na escola, era um bom filho, mas

sempre rotulado como uma criança custosa.

Para a surpresa dos pais e familiares, seu irmão Graciano desistiu na

última hora de ir para o seminário, entendendo que sua vocação não

era ser padre. Foi aí que o jovem João Parreiras afirmou estar decidido

ir em lugar do irmão. De início, Jacinto e Dorcelina não acreditaram

nas palavras do filho, por se tratar de um jovem que não parecia

ter vocação. Mas, foi nesse momento, que o chamado divino ao sacerdócio

se fez forte em João, que afirmara com muita convicção, a

imensa vontade de ir para o seminário.

298

Célio Antônio Cordeiro


Assim, em 2 de fevereiro de 1925, João ingressou no Seminário Coração

Eucarístico de Belo Horizonte. Em 22 de setembro de 1934, foi

ordenado padre por dom Antônio dos Santos Cabral, na Catedral da

Boa Viagem, em BH, selando de maneira solene o seu “sim” na mais

sublime vocação de evangelizar.

Celebrou a primeira missa em sua terra natal. Passou por várias paróquias,

entre elas, Lagoinha em Belo Horizonte, Ribeirão Vermelho,

Desterro de Entre Rios e São Gonçalo do Pará. Nesta paróquia, permaneceu

durante seis anos, até que, muito adoentado por um problema

renal, teve de retornar a Crucilândia para concluir o tratamento.

Em sua terra, permaneceu entre janeiro de 1943 a dezembro de

1948, como pároco.

João Parreiras Villaça, celebrando na Matriz de N . S. dfo Carmo

Veio para Carmo do Cajuru, em 6 de janeiro de 1949, ano em que foi

criado o município de Carmo do Cajuru. A paróquia passava por um

período difícil, desde a morte do padre José Alexandre. Nenhum padre

conseguia se firmar aqui para preencher a lacuna deixada por ele.

Em sua primeira fala, padre João afirmou que estava vindo para ficar

e que, esforço, dedicação e boa vontade não lhe faltariam. Começou

a impressionar seus paroquianos, a partir das celebrações da Semana

Santa daquele ano.

NOSSA GENTE 299


Com belas celebrações litúrgicas,

procissões e principalmente,

da instituição dos quadros vivos

na Praça da Matriz, onde era

erguido o palco (calvário) com

muita beleza e muita evangelização.

No ano de 1950, celebrou o primeiro

Jubileu do Bom Jesus, na

Comunidade de Angicos, que,

assim como a Semana Santa,

atraía fiéis locais e vindos de cidades

vizinhas. Reorganizou as

irmandades existentes e fundou

várias outras. A festa da padroeira

também passou a ser realizada

de forma notável. O mês

Pe. João, na procissão de N. Sra. do Carmo (1981) de maio transformou-se em

inspiradoras celebrações com

maior participação da comunidade. Assim todas as celebrações do

calendário religioso ganharam muita ênfase, através da dedicação e

do entusiasmo do pároco.

Já existiam aqui, alguns pontos que agradavam muito ao padre João:

a Banda de Música, o Coral da Matriz e a boa vontade dos paroquianos,

em reconhecimento ao bem que ele fazia para a população.

Gostava muito de construir. Com seu grande esforço e a ajuda do

povo, lebou adiante o projeto da belíssima Praça do Cruzeiro. O local

é onde repousam seus restos mortais, em atendimento ao pedido

feito por ele, em conversas com vários amigos.

Teve grande participação na criação do Ginásio Estadual, que hoje

leva o seu nome, cedendo as dependências da antiga Casa Paroquial

– hoje Casa de Cultura Ana Isabel de Jesus – para que o sonho da criação

da escola fosse concretizado.

300

Célio Antônio Cordeiro


Nos anos 50, ergueu uma nova sede paroquial, depois transformada

em Centro de Pastoral. Na década de 60, apoiou de forma notável a

construção da Vila Vicentina. Ele também edificou várias capelas nas

comunidades rurais e urbanas, e também foi um dos grandes incentivadores

na criação da nossa primeira comarca em 1953, infelizmente

extinta em 1975.

Em reconhecimento aos seus grandes feitos em prol de Carmo do

Cajuru, recebeu o título de Cidadão Honorário, em 26 de dezembro

de 1981, com a Matriz repleta de gente.

Em 1982, já com a saúde fragilizada, foi vítima de uma úlcera gástrica

que o levou a ficar um período em convalescência. Passou a celebrar

missas na sala da Casa Paroquial, antes de ser liberado para as celebrações

de maio.

Sua última celebração com procissão foi na festa de Corpus Christi.

Na Matriz, celebrou a festa do Sagrado Coração de Jesus, quando

foi fotografado pela última vez, juntamente com os integrantes do

Apostolado da Oração. Sua última missa na Matriz foi na manhã do

dia 19 de junho, antes de ir ao povoado de Estivas celebrar missa.

Depois de almoçar, quando se despedia do povo, sofreu uma queda,

que lhe causou grave fratura no colo do fêmur.

Internado no Hospital São João de Deus, cinco dias depois, na tarde

de 24 de junho de 1982, dia de São João Batista, veio a falecer.

Seu corpo foi velado, em meio a muita comoção, com o tocar dos

sinos durante toda e noite, missa de corpo presente, presidida pelo

monsenhor Antônio Ordones e concelebrada por vários sacerdotes,

a matriz repleta.

Após a celebração, o féretro seguiu até a praça do Cruzeiro, onde

aconteceu o sepultamento. Todo o trajeto da Matriz até o Cruzeiro

foi enfeitado com belos tapetes e muitas flores: uma forma de homenagem

por parte de seus paroquianos que tanto o amaram.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 040, Jan. 2016

NOSSA GENTE 301


Joaquim Gonçalves de Melo

No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude.

Stendhal

A presente crônica destaca uma

pessoa, que através do amor ao

trabalho, dos belos exemplos e

principalmente por sua simplicidade,

soube viver bem, ajudar

outros e conquistar um grande

número de amigos.

Joaquim Gonçalves de Melo

Joaquim Gonçalves de Melo,

também conhecido por Joaquim

Misael, nasceu em 20 de janeiro

de 1905, no município de Itaguara.

Por coincidência ou por influência

da data de nascimento, dia

de São Sebastião, este se tornou

uo santo de sua devoção, juntamente

com Santa Luzia.

Era o filho caçula de uma numerosa família composta por oito irmãos.

Seus pais, Misael Gonçalves de Melo e dona Maria Francisca

de Jesus, eram pessoas de vida modesta, mas muito dedicadas aos

filhos e ao trabalho.

Residiu por alguns anos na comunidade de Aroeiras, no município de

Itaguara. Em 1974, veio com a família morar em Carmo do Cajuru.

Foi casado com dona Orondina Caetano de Melo, com quem teve

sete filhos: Maria, Milton Eustáquio, Maria de Lourdes, Nelson Custódio,

Maria Isabel, Jadir e Maria Helena.

302

Célio Antônio Cordeiro


Joaquim Misael e seu acordeón, acompanhado de violão e flauta por seus netos

Joaquim Misael, em solo de acordeon

Adotaram também Marta Aparecida,

que ficou aos cuidados

da família, com apenas um ano

de idade. Criada com muito carinho,

zelo e atenção, sendo reconhecida

como filha por todos

os familiares. Dessa numerosa

família, surgiram: 19 netos e 20

bisnetos.

Joaquim Misael, pessoa de grande

fé, foi confrade vicentino,

durante 30 anos na conferencia

São José de Cupertino, demonstrando

aí o seu espírito de caridade

e solidariedade.

Trabalhava com muita arte, objetos feitos de bambus e taquara: balaios,

esteiras de carro de bois, cestos e forros de casas.

NOSSA GENTE 303


Sô Joaquim, sua filha Lourdes, com o neto, em festa familiar

Na música, demonstrava muitas qualidades em executar vários instrumentos

musicais como: violão, cavaquinho, sanfona, pandeiro e

acordeom. Marcava muito sua presença em Folias de Reis, festas juninas,

festa de Santa Cruz, Encomendações de Almas e outras mais,

sempre quando solicitado. Nunca gostou de fazer uso de remédios;

apenas quando era necessário. Preferia recorrer aos chás e as plantas

medicinais e gostava muito de fazer caminhadas.

Em 21 de janeiro de 1994, perdeu sua esposa Dona Orondina, depois

um longo período de vida matrimonial. Mesmo convivendo com

muitas provações, principalmente a perda de entes queridos, levava

a vida com batalha e muita resignação. Aos 99 anos, no dia 26 de

maio de 2014, já com a saúde fragilizada, veio a falecer. Deixando aos

familiares e amigos uma imensa saudade.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 052, Jan. 2017

304

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 305


Pe. José Alexandre de Mendonça

A vocação é um fruto que amadurece no terreno bem cultivado

do amor de um para com os outros.

Papa Francisco

Para falar da história religiosa e

cultural cajuruense e até da política,

impossível não lembrar

primeiro da ilustre figura desse

grande sacerdote que passou

por Carmo do Cajuru.

Filho de Hipólito Furtado de

Mendonça e de dona Francisca

Lara de Mendonça, nasceu em

23 de março de 1866, em São

Tiago, então distrito de Bom Sucesso.

Iniciou seus estudos preparatórios

em 1879 no Colégio

Apostólico do Caraça.

Em 1886, foi para o Seminário

de Mariana, ordenando-se no

Padre José Alexandre

dia 25 de julho de 1889, em Diamantina,

por dom Antônio dos Santos. Carmo do Cajuru foi a sua única

Paróquia, tendo início em 1889, dia 15 de dezembro, conforme

registro no Livro de Tombo.

Foi um pároco tão importante para a nossa Paróquia, que a sua história

se mistura com a de Carmo do Cajuru. Ele não foi apenas um

grande guia espiritual; mas um verdadeiro “pai do povo” da época,

o conselheiro, o benfeitor, que cuidava dos bens materiais e do progresso

da vila Cajuru.

306 Célio Antônio Cordeiro


Padre José Alexandre

Para lembrar de seus inúmeros feitos em prol do povo, basta lembrar

da construção de nosso principal cartão postal, ou seja de uma das

mais belas e suntuosas igrejas do Estado de Minas Gerais. Padre José

Alexandre idealizou o estilo da matriz de Nossa Senhora do Carmo,

inspirado na igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, do Colégio

do Caraça, local onde iniciou os seus estudos. Para quem conhece a

Igreja do Caraça, seja até mesmo por fotografia, nota a grande semelhança.

Padre José Alexandre, na demolição da vetusta capela de N. S. do Carmo

NOSSA GENTE

307


Construiu também,a antiga sede

Paroquial, hoje Casa de Cultura

“Professora Ana Izabel de Jesus”.

O padre José Alexandre é

o padre que mais tempo esteve

à frente da Paróquia (47 anos).

Construiu a Matriz em apenas 6

anos, entre 1906 e 1912, quando

foi benzida em 15 de setembro.

Faleceu em 8 de março de 1936, pouco antes de completar 70 anos.

Conforme relato na ‘Cajuru Revista’, de 1948, com o seu falecimento,

nunca havia sido visto antes, momentos de tanta dor e tristeza pela

grande perda de um vulto tão querido do povo.

Os funerais do padre José Alexandre foram uma consagração comovente

de prestígio social e de gratidão pública. O seu corpo foi dado

à sepultura, para ficar perpetuada, no interior do majestoso templo

que ele, com auxílio do povo construiu.

Conforme relata o professor Osvaldo Diomar, em seu livro da “História

de Carmo do Cajuru” (p. 67), o padre José Alexandre será sempre

lembrado como um dos mais importantes protagonistas da história

local, mesmo que desapareçam todos aqueles que o conheceram.

Seu nome está gravado na Placa do Grupo Escolar ”Vigário José Alexandre”;

a Praça da Matriz tem o seu nome e um busto foi colocado

no local, para que sempre seja.

308 Célio Antônio Cordeiro


É impossível esquecer desse verdadeiro benfeitor, que viveu para o

povo e expressou várias vezes sua felicidade de ser um cajuruense

por adoção e de coração.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 093, Jun. 2020

NOSSA GENTE

309


José Alves Nogueira Filho

Honeste vivere, neminem laedere, suum cuique tribuere (Viver honestamente, não prejudicar

ninguém, atribuir a cada um o que lhe pertence).

Direito Romano

Nascido em Carmo do Cajuru,

em 29 de outubro de 1923, filho

de José Alves Nogueira e Conceição

Batista de Menezes. Faleceu

em Carmo do Cajuru em novembro

de 2001.

Desde criança, foi muito dedicado

ao trabalho com os pais e

com seus estudos. Fez o antigo

curso primário no Grupo Escolar

Princesa Isabel. O curso Ginasial

foi feito no Ginásio São Geraldo,

em Divinópolis.

Concluído o curso ginasial foi

José Alves Nogueira Filho, o Dr. Gaspar

morar em Belo Horizonte, onde

concluiu o curso clássico e posteriormente

ingressou na Universidade Católica, cursando Direito e

se tornando, historicamente, o primeiro advogado do município de

Carmo do Cajuru.

Em 23 de janeiro de 1947, casou-se com Carmina D’Alessandro e tiveram

oito filhos: Jairon, Jaida, Jane, José Carlos, Maria Aparecida,

Juliane, Jackson (†) e James.

Advogado, empresário e também fazendeiro, era carinhosamente

chamado por todos de “Dr. Gaspar”. Além de ser um esposo exemplar,

foi um virtuoso pai de família.

310

Célio Antônio Cordeiro


Na vida política municipal, teve uma brilhante atuação; foi vereador

em dois mandatos, chegando a ser presidente da Câmara Municipal,

sendo que na época o trabalho do vereador era voluntário, era eleito

para trabalhar pelo povo. Foi o que ele sempre o fez de maneira

notável.

Como estudante, era ativista em prol da emancipação de Carmo do

Cajuru. Trabalhou pela criação da Comarca e, mais tarde, quando fechada,

batalhou bravamente para restabelecê-la.

José Alves Nogueira Filho, discursa em evento cívico comemorativo da Independência do Brasil

Quando foi criado o primeiro

colégio na cidade, Colégio Dom

Bosco, a influência do Dr. Gaspar

foi notória, por sua colaboração

com Hermon de Barros, na instituição

do educandário que tão

bem fez aos jovens cajuruenses.

No Dom Bosco, foi professor de

História do Brasil, um trabalho

que exerceu de uma forma quase

que voluntária.

Dona Carmina e Dr. Gaspar, em recorte social

NOSSA GENTE 311


Ajudou também na criação da

Vila Vicentina e se tornou confrade

da Sociedade São Vicente

de Paula. Foi um grande incentivador

e ajudante nas obras

da praça do Cruzeiro. Durante

muitos anos, dona Carmina, sua

esposa, cuidou da capela de São

José. Devoto de São Cristóvão,

em 1961, com apoio do padre

João Parreiras Villaça, idealizou

a festa dos motoristas com

cortejo de veículos pelas ruas

da cidade. Hoje, esta festa faz

parte do calendário religioso local,

sendo realizada anualmente

José Alves Nogueira Filho, o Dr. Gaspar

com a mesma fé e grande adesão da sociedade. wFoi também um

dos idealizadores da Irmandade da Liga Católica, da qual foi secretário

durante vários anos. Por relevantes serviços prestados a sociedade

cajuruense, em 1983, foi homenageado pelo Rotary Clube de

Carmo do Cajuru, em uma linda solenidade, recebendo uma placa de

prata em reconhecimento ao seu trabalho.

Entre as várias homenagens por ele recebidas, destacam-se o Diploma

do Cinquentenário da OAB, por ser integrante notável da turma

de bacharéis de 1950, homenagem recebida na capital mineira, no

dia 11 de agosto de 2000. Dr. Gaspar foi homenageado In Memoriam

com a Medalha Desembargador Hélio Costa, encaminhada pelo juiz

diretor da Comarca de Carmo do Cajuru, Dr. Jacinto Copatto Costa, à

sua esposa dona Carmina D’Alessandro Nogueira.

Dr. Gaspar foi sempre um exímio orador que encantava seus ouvintes

com sua erudição e conhecimentos. Em solenidades importantes lá

estava ele, fazendo eloquentes discursos. Pela sua bondade, simplicidade,

honestidade e grande espírito fraternal, sempre será lembrado

por todos que tiveram o privilégio de ter convivido com ele.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 003, Nov. 2012

312

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 313


José Demétrio Coelho

Estamos construindo alegremente, porque estamos construindo bem.

O estacamento forte e resistente suportará a riqueza futura.

José Jehovah Guimarães (1949)

Nas páginas da história de Carmo

do Cajuru, nota-se a presença

de grandes vultos vindos de

outras localidades, que se dedicaram

de corpo e alma ao progresso

do povo cajuruense e ao

desenvolvimento municipal. Integração

absoluta como se fosse

a terra natal, tão grande o sentimento

de amor por este lugar.

O jovem José Demétrio Coelho, guarda-livros

No livro do historiador Oswaldo

Diomar (História de Carmo do

Cajuru: 1747-2000), depara-se

com inúmeras pessoas assim

comprometidas.

O ferroviário José Demétrio Coelho, primeiro prefeito eleito de Carmo

do Cajuru (1949) e principal líder da criação do município, no ano

anterior, nasceu na cidade de Oliveira, em 2 de julho de 1889, filho de

Horácio da Silva Coelho e de Maria Cândida da Silva.

Veio para Carmo do Cajuru como agente ferrociário da Estação de

Carmo do Cajuru. Casou-se aqui, com Maria da Silva Coelho. Tiveram

apenas um filho, Osvaldo Coelho que se tornou médico renomado

em Belo Horizonte.

314

Célio Antônio Cordeiro


Depois de alguns anos em Carmo do Cajuru, José Demétrio Coelho

voltou para sua terra natal, para ocupar um cargo de guarda-livros

(contador) em uma fábrica de tecidos e, posteriormente, tornar-se

comerciante.

Mas Cajuru não lhe saiu do coração e, em 1940, mudou-se novamente

para a vila, para realizar o trabalho mais importante de sua vida:

estimular e orientar o processo de emancipação do distrito, criar o

município (27 de dezembro de 1948). e transformar a vila crescente

em promissora cidade.

O prefeito José Demétrio Coelho e seu vice José Marra da Silva, com os companheiros do movimento

de criação do município, instalado solenemente em 1 o de janeiro de 1949

Em pouco mais de dez anos, fez um notável trabalho social e cultural,

participando de vários movimentos da nossa sociedade, inclusive da

imprensa. Pessoa íntegra, honesta e de fino trato, foi presidente da

Sociedade São Vicente de Paula, de associações esportivas e de movimentos

religiosos e políticos.

Escritor nato e estudioso, escreveu várias obras, sendo que algumas

delas encontram-se no Museu e Arquivo Sacro-Histórico da Paróquia

Nossa Senhora do Carmo. Escrevia para vários jornais aqui do Oeste,

principalmente de Carmo do Cajuru e de Divinópolis. Foi o primeiro

gerente do Banco da Lavoura S.A., cargo que exerceu com grande

dedicação e competência.

NOSSA GENTE 315


O casal José Demétrio e dona Maria da Silva

Em 1949, foi eleito prefeito municipal.

Apesar de muito precária

a renda do novo município,

conseguiu dentro do possível,

desenvolver uma profícua administração,

com foco na Educação

e Cultura, essencial para

a qualidade de via e desenvoilvimento

do povo.

Nos dias atuais, a pessoa de

José Demétrio Coelho é lembrada

com saudade e gratidão por

sua atuação incansável em prol

de Carmo do Cajuru. Seu nome

nunca será esquecido pelos cajuruenses.

Na praça Primeiro de Janeiro, há um singelo monumento em sua homenagem,

para destacar o seu pioneirismo. Uma das principais vias

urbanas leva o seu nome.

No passado recente, houve uma conceituada escola com o seu nome,

o Colégio José Demétrio Coelho, por onde passaram vários alunos

brilhantes e que continuam a brilhar, não somente por aqui, como

também em diversos pontos do País.

Foi um líder exemplar, acima das divergências políticas que sabia

como niguém superar, e que não mediu esforços em trabalhar pelo

povo.

Faleceu em 22 de julho de 1955 em Belo Horizonte, depois de escrever

um relato sobre os acontecimentos e pessoas envolvidos na campanha

de emancipação.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 008, Maio 2013

316

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 317


José Dias Barbosa

A matemática do tempo é simples. Você tem menos do que pensa e precisa mais do que acha.

Kevin Ashton

— Dona Dina, o Pipoca está em

casa?

— Nada, o Pipoca não para’qui,

deve estar aí pela rua! — informava

dona Dina.

Difícil não era encontrá-lo. Bastava

dar uma volta pelas redondezas

da igreja matriz e lá estava

o “Sô Pipoca”, normalmente, em

uma boa prosa com os amigos,

auxiliando alguém em alguma

tarefa ou divertindo as crianças.

José Dias Barbosa, “Sô Pipoca”

Elas ficavam maravilhadas e

querendo aprender como ele

conseguia fazer aqueles sons de

pássaros, apenas soprando por

entre as duas mãos entrelaçadas

como uma espécie de flauta.

José Dias Barbosa, “Sô Pipoca”, “Pipoca” ou apenas “Poca”, para os

mais íntimos, nasceu em 5 de agosto de 1927, mas registradono dia

26 – por isso, brincava dizendo que fazia dois aniversários por ano.

Era o sexto filho de oito do comerciante Messias Dias Barbosa e da

dona Amélia Augusta da Conceição.

318

Célio Antônio Cordeiro


Desde criança, era apaixonado por passarinhos e pescarias. O engraçado

apelido fora adquirido ainda na infância, quando pequenino era

fácil vê-lo sentado no alpendre de casa, sempre com uma cuia cheia

de pipocas no colo.

Aluno exemplar, iniciou seus estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel

e, aos 13 anos, era o Diretor do jornal “Sol Nascente” que estava

em seu quarto ano de publicação.

Posteriormente ingressou no internato do Colégio São Geraldo, em

Divinópolis, onde concluiu o Ginasial, em 1945 sempre com notas altas,

principalmente nas matérias exatas.

Terminado o curso, sem condições financeiras e não podendo realizar

seu sonho de continuar na vida acadêmica, retornou para Cajuru,

onde passou a trabalhar com o pai no armazém, além de ministrar

aulas de matemática no Colégio Dom Bosco.

No ano de 1951, ingressou por

concurso público no Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatísticas

(IBGE), ocupando o cargo

de Coordenador de Atividades

Estatísticas, quando dirigiu e coordenou

inúmeros levantamentos

e censos demográficos de

Carmo do Cajuru e região, assim

como diversas pesquisas que

ainda hoje servem à história do

município.

José Dias Barbosa, dançando com a filha Musa

Casou-se em 1954 com Edna

Dias da Fonseca (dona Dina),

com quem teve quatro filhas:

Mônica, Apolônia, Ladomina

(falecida ainda bebê) e Musa.

NOSSA GENTE 319


“Sô Pipoca” e dona Dina

Católico muito fervoroso, sempre teve atuação marcante na vida paroquial.

Por sua facilidade em lidar com números e contas, foi tesoureiro

da Paróquia Nossa Senhora do Carmo durante todos os anos de

ministério do saudoso padre João Parreiras Villaça, de quem era muito

amigo e grande auxiliar nos assuntos administrativos da paróquia.

Foi também, por vários anos, Ministro da Palavra, Ministro das Exéquias,

Cursilhista, presidente da Conferência Vicentina e organizador

da Festa de São Sebastião, na qual era leiloeiro e tesoureiro.

Por sua facilidade com os números, era muito procurado pelas pessoas

para fazer a Declaração de Imposto de Renda. As pessoas lhe

pediam ajuda no preenchimento dos formulários do Fisco. Essa atividade

tornou-se tão intensa que, em vários anos, nos meses de abril,

o Fórum cedia uma sala para esse serviço voluntário.

Atuou ainda na função de Comissário de Menores e por um tempo

como Juiz de Paz da Comarca.

A vocação para o auxílio ao próximo, a sua generosidade, sua alegria

e sua preocupação com as pessoas eram uma constante em sua vida.

320

Célio Antônio Cordeiro


Vivendo em plenitude tais virtudes, com outros ilustres cajuruenses,

foi um dos fundadores do Centro de Reintegração Social do Projeto

Novo Horizonte, na comunidade de Ribeiros. Sempre acreditou na

possibilidade de reabilitação das pessoas, sobretudo pela fé.

Em 2 de fevereiro de 2002, ele partiu da vida terrena para a Glória

Eterna, depois de cumprir bem sua missões terrenas e espirituais

conforme os desígnios divinos.

José Dias Barbosa, além de ter sido um grande exemplo de pai e

esposo, era de uma popularidade sem par. Durante sua vida, soube

conquistar muitos amigos, por isso, é sempre lembrado com muita

saudade, por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 030, Mar. 2015

NOSSA GENTE 321


José Fernando Nogueira da Silva

A vida é mais simples do que a gente pensa; basta aceitar o impossível,

dispensar o indispensável e suportar o intolerável.

Autoria Desconhecida

Nascido em Carmo do Cajuru,

em 22 de janeiro de 1946, filho

de Martinho Silva e dona Cristina

Nogueira. Provindo de uma

família composta de pessoas

simples, porém muito honradas

e trabalhadoras. Teve mais três

irmãos.

José Fernando “Alemão”

Desde bem novo, já acostumara

com as difíceis labutas da vida.

Quando criança fazia parte de

uma Conferencia Vicentina, junto

aos amigos de infância e adolescência.

Nos anos 1950, foi matriculado no Grupo Escolar Princesa Isabel,

onde concluiu o curso Primário. Muito cedo, aprendeu a profissão de

pedreiro, trabalho que executava com muita maestria. Foi considerado

por muitos como um dos profissionais de primeira linha de Carmo

do Cajuru.

Trabalhou em importantes obras em nossa terra, como as da Vila

Vicentina, Centro Esportivo Olímpico, Praça do Cruzeiro e Igreja do

Bom Jesus de Angicos, dentre outros. Trabalhou na construção do

aeroporto de Cumbica (Guarulhos, SP) e também em obras em Santa

Catarina, onde conheceu Hermann Schmacher (O alemão da Barragem),

um dos engenheiros responsáveis pela construção da barragem

de Carmo do Cajuru.

322

Célio Antônio Cordeiro


Ele amava muito a sua profissão. Gostava muito de um churrasquinho

com os amigos e familiares, nos finais de semana. Foi sempre

uma pessoa bem-humorada e brincalhona.

José Fernando “Alemão”, posa em foto histórica do Tupy F. C.

Outra grande paixão do “Alemão do Tupy” era o futebol. Aliás o apelido

que ganhou foi por ser um bom jogador no time cajuruense, desde

bem jovem e por muitos anos.

Foi jogando bola que construiu grandes e boas amizades e admiradores.

Naquela época, o futebol amador viveu uma fase de ouro. Era

praticado com muita arte e com muita raça.

Em 27 de maio de 1972, aos 20 anos, casou-se com Maria do Carmo

Barbosa Nogueira, com quem constituiu uma bela família. O casal

teve cinco filhos: Mirian, Alexandro, Patrícia, Cristina e Fernanda.

Hoje, de sua descendência, existem cinco netos: Daniela, Mylena,

Mariah, Camila e Matheus.

NOSSA GENTE 323


José Fernando “Alemão” e familiares

Batalhou arduamente com sua esposa, com muita dificuldade financeira,

para a criação dos filhos. Muito exigente quanto ao comportamento

e rendimento escolar, ele tinha uma forte preocupação com o

futuro dos filhos. Como dizia, era através dos estudos que poderia ter

certeza de uma vida melhor.

José Fernando, foi um ótimo esposo, um pai exemplar e um grande

cidadão. Pelo seu modo de ser, vivia sempre cercado por dezenas

e mais dezenas de amigos. Conforme citado pelos familiares, teve

amizade muito próxima com pessoas como Taquinho (seu parceiro

no time do Tupy), Cabritinho, Roberto Fonseca, Afonso, Celinho da

Líder, César da dona Elvira e muitos outros.

Em 21 de novembro de 1996, após enfrentar os efeitos nocivos de

um melanoma, veio a falecer, deixando um grande rastro de saudade

entre os familiares e os seus muitos amigos. Ficaram como legados a

lealdade, a qualidade de seu ofício e a simplicidade do viver.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 074, Nov. 2018

324

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 325


José Fonte Bôa

O trabalho dignifica o homem, o prazer aperfeiçoa a obra,

a paixão dá sentido e o amor eterniza.

Autoria Desconhecida

Nesta crônica, focaliza-se a vida

de um grande cajuruense, que

viveu entre nós de maneira simples

e sempre pautada no amor

ao trabalho, dignificado pela honestidade

e honradez.

José Fonte Boa nasceu em 26

de março de 1917, filho de dona

Afonsina da Fonseca e Jorge

Fonte Boa. Desde criança, se

acostumara com a labuta do trabalho

familiar. Cursou o Primário

no Grupo Princesa Isabel.

Em 1942, esteve em Juiz de

Fora, no Exército, período em

que aprendeu muito e adquiriu

bastante experiência para a

vida. Em 9 de maio de 1947, depois

de um curto período de na-

José Fonte Bôa

moro, casou-se com Ana Maria de Melo. Do casal, nasceram três filhas:

Afonsina, Maria Nilce e Maria Geralda. Com apenas cinco anos

de convivência, ficou viúvo com o falecimento de dona Ana.

Após cinco anos de viuvez, veio a namorar e se casar com Sirene

Maia Fonte Boa. No segundo matrimônio, tiveram seis filhos: Geraldo

Maia, Márcio, Jaime, Maria Jose, Maria da Conceição e Jose. Com

dona Sirene, viveu durante 30 anos – um casamento muito sólido.

326

Célio Antônio Cordeiro


José Fonte Bôa, a caminho da cidade com sua primeira esposa, senhora Ana Maria, e os pequeninos

Ao longo de sua vida, José Fonte Boa se destacou por muitos serviços

prestados em prol da comunidade, sem deixar de falar do zelo e

dedicação que tinha pelos familiares. Foi um fazendeiro trabalhador

e bem-sucedido. Fornecedor de leite, associado da Cooperativa de

Produção por muitos anos, lá exerceu o cargo de Conselheiro Fiscal,

sendo também, quase na mesma época, membro Conselho do Sindicato

Rural.

Em outubro de 1981, participou com distinção do Concurso Regional

de Produtividade de Milho. Em setembro de 1982, recebeu do Ministério

da Agricultura, o título de “Produtor Modelo” pelo seu bom desempenho

no Setor Agropecuário. Em abril de 1985, recebeu homenagem

como Personalidade Destaque/ 1984, em Produção Agrícola.

NOSSA GENTE 327


Em 5 de agosto de 1993, recebeu

homenagem das integrantes rotarianas

da Casa da Amizade,

através de uma placa com o seguinte

dístico: “Paul Harris – O

pai eterno dos Rotarianos”. Na

referida placa, continha os seguintes

dizeres: “José Fonte Boa,

juventude não é ter pouca idade

e sim conservar o espírito sempre

jovem”.

José Fonte Bôa e a filha Zezé, debutante

Em 1955, passou a exercer o

cargo de Avaliador Judicial da

Comarca de Carmo do Cajuru,

durante muito tempo. Foi eleito

vereador da Câmara Municipal

de Carmo do Cajuru (1953-1956).

Foi rotariano fundador do Rotary Club local, ao início dos anos 1980

até 1996, ano de seu falecimento. Foi um membro exemplar que levava

muito a sério o compromisso de companheirismo e assiduidade

nas reuniões. Foi uma importante referência rotária, muito admirado

e respeitado por todos.

José gostava muito de futebol. Era torcedor do Atlético Mineiro, em

Minas, e, em Carmo do Cajuru, sua grande paixão era o Tupy Futebol

Clube, em cujas apresentações e jogos estava sempre presente.

Em 8 de agosto de 1996, aos 79 anos, veio a falecer, em meio à comoção

dos familiares e amigos. Dos dois matrimônios, hoje existem

sete netos do primeiro e oito do segundo.

Foi um grande esposo, pai avô e amigo de muitos. Pessoa honrada

e honesta. Deixou muitos e importantes legados para familiares e

amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 086, Nov. 2019

328

Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE 329


José Gontijo Maia

O trabalho dignifica o homem, o prazer aperfeiçoa a obra,

a paixão dá sentido e o amor eterniza.

Autoria Desconhecida

José Gontijo Maia, O “Zé da Júlia”,

como era carinhosamente

tratado por todos, nasceu no

município de Carmo do Cajuru,

em 25 de março de 1923. Filho

do casal Versol Domingues Maia

e dona Avantejour Nogueira

Gontijo. Primogênito, e teve

cinco irmãos: Valter, Edvar, Antônio,

Ceci e Claudimira.

José Gontijo Maia, o Zé da Julia

Foi uma pessoa que prezou muito

pelos valores familiares. Desde

criança, aprendeu a valorizar

e dedicar-se ao trabalho. Ainda

bem jovem, casou-se com Maria

Nogueira Maia, no dia 8 de

dezembro de 1945, e decidiram

morar na comunidade de Maribondo,

onde trabalhava em agricultura

na sua pequena fazenda.

Do casal, nasceram 13 filhos: Maria das Dôres(Dorinha), Antônio

Gontijo (Tunico), Maria das Graças, João Batista, Terezinha, Maria do

Carmo (Carminha), Getúlio, Sara, Maria Aparecida (Cida), Maria de

Lourdes (Lourdinha), José Domingos (Nonô), Maria da Conceição(-

Naná), José de Anchieta e Ana Maria (Aninha).

330

Célio Antônio Cordeiro


A casa da família dos Gontijo Maia

Ao início da década de 1950,

preocupado com a educação

dos filhos, mudou-se para a cidade,

o que facilitaria no anseio

de dar educação escolar formal

aos filhos. Prestou concurso no

Correio e foi aprovado. No Correio

trabalhou durante longos

anos até a sua aposentadoria.

Católico fervoroso, grande devoto

de Nossa Senhora do Carmo

e do Sagrado Coração de Jesus,

era uma pessoa muito próxima

do saudoso padre João, seu

José conduz a filha Aparecida ao altar

grande amigo. Sempre quando

aconteciam festas e celebrações da Igreja, Zé da Júlia sempre era

chamado para ocupar cargos nas diversas comissões formadas pelo

próprio padre. Seu nome aparece nos mais diversos programas de

festejos religiosos realizados na paróquia. Gostava muito de participar

da política, mas reprovava a politicagem. Amou muito sua terra

natal, sempre dizia que tinha uma grande paixão por Cajuru.

NOSSA GENTE 331


Com seu modo simples de viver e ajudar, tornou-se muito popular,

conseguindo assim, angariar um extenso número de bons amigos

durante a vida. Prestou um elogiável serviço social voluntário, em auxiliar

e esclarecer as pessoas, quando o procuravam para se aposentarem.

Colaborava com as conferencias vicentinas e por um grande

período fez parte da equipe de leitores na matriz de Nossa Senhora

do Carmo.

Foi pai muito zeloso para com os filhos e sua esposa. Mesmo depois

dos filhos crescidos, matriculou-se no antigo curso ginasial, do Colégio

José Demétrio Coelho e só não fez o segundo grau, porque na

época trabalhava em Divinópolis e não dava para conciliar horários.

Esse gesto de estudar depois de ser uma pessoa madura, serviu de

exemplo, não só para seus familiares como também à própria sociedade.

Nunca é tarde parea apreender, dizia.

Em 5 de janeiro de 1987, José Gontijo Maia nos deixou, partindo para

a Eternidade, deixando muita saudade aos familiares e amigos. Viveu

sempre na simplicidade, mas deixando como legado, os belos exemplos

de fé, de honestidade e de fazer bem ao próximo.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 055, Abr. 2017

332 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

333


José Inácio Salomé

Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.

Cora Coralina

Carmo do Cajuru, ao longo de

sua história, sempre se identificou

pela cultura e pela música.

Nesta crônica, coloca-se em

foco um dos maiores mitos da

música cajuruense: José Inácio

Salomé.

José Rabelo Vieira (Zé Mariano)

Zé Salomé nasceu no município

de Cláudio, hoje distrito denominado

Monsenhor João Alexandre,

no dia 1o de fevereiro de

1941. Pessoa de origem humilde

e de família numerosa, ainda

muito novo, foi desenvolvendo

um dom muito especial para a

música.

Com seu jeitinho calmo, fala baixa, espírito receptivo e cordial, sempre

punha à prova sua vasta inteligência e facilidade incrível em lidar

com a arte. É possível afirmar com muita convicção, que o Zé Salomé

foi um dos maiores músicos que passou por Carmo do Cajuru.

Para ser muito bom em apenas um instrumento, depende do dom

e da dedicação. José Salomé foi um dos poucos, que podemos chama-lo

de multi-instrumentista, com mais um importante detalhe, ele

também fabricava instrumentos musicais.

334 Célio Antônio Cordeiro


José Inácio Salomé, multi-instrumentista, acordeão (com amigos em seresta)

José Salomé, no órgão (em momento na Matriz)

Em sua marcante trajetória na

música, executava com muita

propriedade diversos tipos de

instrumentos musicais.

José Salomé, no bandolim (junto do Coral)

NOSSA GENTE

335


Outra destacada qualidade dele, além de sua bela voz, era a composição.

Compôs diversas músicas, dentre as quais estão: “Violão amigo”;

“Louco de amor por ti”; “Carnaval é coisa boa”; “Riquezas do

Sertão”; “Orgulho Cruel”; “ Jesus Verdade e Vida”; “Mãezinha Querida”;

“Jardim Reflorido”.

Compôs também uma linda canção em homenagem aos ministros

da Eucaristia, a pedido do saudoso padre Moacir Cândido, onde mostrou

sua genialidade.

Participou de vários programas de rádio e de TV, onde tinha oportunidade

de expor seu talento e suas habilidades instrumentais. Sempre

enaltecia o nome de Carmo do Cajuru, terra que ele adotou, como

sendo sua terra de coração.

Durante longos anos participou de forma notável do coral da Matriz,

como instrumentista e também como cantor. Por algum tempo foi

professor de música e funcionário da Prefeitura municipal de Carmo

do Cajuru.

Em vida, recebeu várias homenagens pelos relevantes serviços prestados

à nossa terra, destacando-se a Comenda Caa-Yuru, pela Câmara

Municipal, e uma homenagem especial durante a apresentação no

programa Minas ao Luar, no ano de 2012, quando se comemorava o

Centenário da Matriz de Nossa Senhora do Carmo.

José Salomé casou-se em 4 de fevereiro de 1978, com Maria das Graças

Oliveira Rabelo Salomé. O Casal teve quatro filhos: Paulo César,

Leonardo, Leandro e Alisson. Seu falecimento ocorreu em 26 de julho

de 2011, deixando muitas saudosas lembranças de sua presença

e de suas músicas, que marcaram uma época.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 038, Nov. 2015

336 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

337


José Jehovah Guimarães

A sabedoria consiste em compreender que o tempo dedicado ao trabalho nunca é perdido.

Ralph Emerson

José Jehovah Guimarães nasceu

em 1885, na cidade de Pitangui.

Veio para Carmo do Cajuru

no início do século passado, influenciado

pela presença de seu

irmão Aquiles Guimarães que

aqui morava.

Em 1º de maio de 1909, casou-

-se com Maria Elísia, sendo o

casamento celebrado na Igreja

do Rosário, pois a Igreja Matriz

encontrava-se em construção.

De seu matrimonio com Maria

Elísia, nasceram sete filhos:

Lígia, Elísio, Maria Terezinha

Jehovah Guimarães

(Zinha do Tico), Geraldo Guimarães,

José Guimarães, Jehovah (Joca) e Maria Guimarães (Bilia). Foi

um grande chefe de família e um exemplo esposo.

Em Carmo do Cajuru, foi um dos maiores profissionais em Farmácia.

Participou ativamente de nossa vida cultural, social, religiosa e política.

Pessoa educada e de fino trato. Muito contribuiu para a sociedade

cajuruense. Foi ele quem doou o terreno para a construção do Grupo

Escolar Princesa Isabel.

Foi um confrade exemplar, que sempre dava muita atenção aos mais

necessitados. Foi o primeiro presidente do Conselho Particular, que

338 Célio Antônio Cordeiro


tanto ajudou a fundar em 1937. Participou ativamente da orquestra

paroquial, sendo um dos principais músicos. Gostava muito do teatro,

participava como ator e como escritor de peças. Foi presidente

do Clube “Lítero-Recreativo” fundado em 1939.

Além de intelectual sempre muito

bem informado, foi um político

muito dedicado, quando

o trabalho exercido era quase

tudo de forma voluntária. Vereador

Distrital por dois períodos,

representando a vila Cajuru na

Câmara Municipal de Itaúna, trabalhou

muito para a emancipação

de Carmo do Cajuru, sendo

um dos principais baluartes, na

comissão pró-emancipação municipal.

Compunha o grupo dos

primeiros vereadores da primeira

Câmara Municipal em 1949,

sendo seu primeiro presidente.

Foi prefeito de 1953 a 1955.

Sempre é lembrado com sadio

orgulho por sua luta pela

Jehovah, em sua leitura diária de jornal

emancipação e por seu discurso

na instalação do município em 1 o de janeiro de 1949, cravando uma

mensagem de esperança e sabedoria, que sempre nos parece nova e

atual, como ilustram estes excertos:

[...] Estamos construindo alegremente, porque estamos construindo

bem. A obra em que estamos trabalhando está bem começada,

abrindo-se ante nós amplas estradas que conduzirão

Carmo do Cajuru ao progresso, o solo já desbravado e o alicerce

sólido construído pelo trabalho ingente dos dignos membros da

Comissão Pró-Emancipação. O estacamento forte e resistente suportará

a riqueza futura (...)

NOSSA GENTE

339


Nenhuma honra poderia ser tão grata ao meu coração do

que ora me é concedida, de ser o primeiro orador desta

solenidade, para dirigir-vos a palavra neste mesmo instante

em que se instala oficialmente em todo o território

mineiro as suas novas comunas.

Quero vos falar sem adornos oratórios, sem armaduras

científicas, sem equipamentos filosóficos, sem cortejos

ou críticas, falar de modo simples, falar com sinceridade

na mente e alegria no coração, para vos dizer a palavra de

fé, nesta hora feliz, em que juntos, na mesma comunhão

de pensamento e de ideais, assistimos transformada em

confortadora realidade a maior aspiração de nosso povo:

dar a Carmo do Cajuru a sua carta de alforria (...)

[...] Estamos, portanto, colhendo o que semeamos; e o

resultado a que chegamos neste momento não se deve

a uma só pessoa e, sim, a todos os colaboradores nesta

obra comum (...)

E neste momento de tréguas, nesta hora em que se reúnem

os combatentes deste bom combate, em torno das

armas ensarilhadas, para uma troca de efusão e entusiasmo,

para um relancear de vistas sobre o terreno conquistado

e para alçar o olhar mais alto para as novas etapas

de lutas, que se sucederão num contínuo batalhar, é grato

sentir e proclamar o mérito do que foi feitio, sinceramente,

de coração aberto e fé lavada (...)

O nosso jovem município entra cheio de esperança na

vigência de sua nova fase histórica. Carmo do Cajuru, assim

o espero, e creio, há de ser uma cidade que vibrará,

que palpitará, tendo nos seus filhos o alicerce seguro e

firme de sua grandeza, de seu desenvolvimento, de seu

progresso. E, nessa marcha que espero seja acelerada,

Carmo do Cajuru caminha impavidamente para um futuro

grandioso, repleto de magníficas realizações.

340 Célio Antônio Cordeiro


Em 3 de agosto de 1962, com

idade bastante avançada e saúde

muito abalada, veio a falecer.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério

do Bomfim.

Em reconhecimento aos grandes

feitos em prol dos cajuruenses,

hoje seu nome é lembrado,

levando o nome de uma de

nossas principais ruas. Recordar

José Jehovah Guimarães nos

leva a refletir sobre dedicação,

sabedoria e amor ao trabalho.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 041, Fev. 2016

NOSSA GENTE

341


José Lázaro de Souza *

Paciência e perseverança tem o efeito mágico

de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem.

John Quincy Adams

O ser humano é eterno quando

seu trabalho permanece. É o

caso de José Lázaro de Souza, o

estimado Zezinho Pedreiro, que

eternizou sua existência através

das obras deixadas no município.

Era pedreiro, mestre de

obras e desenhista de plantas de

construção.

Embora nascido em Rio do Peixe

(hoje Piracema), em Carmo do

Cajuru tornou-se um cajuruense

de coração. Nasceu em 9 de

março de 1932, filho de José Severino

de Souza e dona Maria da

Zezinho Pedreiro

Glória de Souza. Em sua terra

natal, ele fez seus primeiros estudos

e aprendeu a profissão de pedreiro, ajudando o pai na construção

de casas para familiares.

Quando mais jovem, ingressou-se na banda de música da cidade e

participava de todos os eventos que acontecia na região, onde a banda

era convidada para abrilhantar a festa.

* O autor agradece a gentileza da filha Aparecida Elaine e do genro Matheus Vasconcelos

na composição desta memória, que registra a importância do Zezé Pedreiro para a construção

civil em Carmo do Cajuru.

342 Célio Antônio Cordeiro


Uma das cidades que ele mais tocava era Crucilândia, onde ficou conhecendo

padre João. Entre os integrantes da banda havia um construtor

de obras que o convidou para vir morar em Cajuru. Na cidade,

a primeira obra em que ele trabalhou foi na construção do Cartório.

Morando na cidade, ele conheceu

Celestra Sinfrônio de Souza

com quem se casou, no dia 3 de

fevereiro de 1959, e teve 6 filhos:

Wagner Geraldo, Aparecida Elaine,

Rubens, Giovane, Ailton e

João Carlos.

O casal Zezinho e Celestra

Pelo seu modo de ser, conviver

e trabalhar, ficou popularmente

conhecido por Zezinho Pedreiro. Ele gostava tanto de seu trabalho

que sempre se empenhava para aperfeiçoá-lo, apesar das dificuldades

para estudar. Na época, matriculou-se na Escola Mundial de

Cultura Técnica, em São Paulo, no curso de Desenho de Plantas para

construção. Formou-se em no dia 22 maio de 1969.

Com esta ampla experiência, quando alguém queria fazer alguma

construção, o primeiro nome citado era o dele. O padre João quando

ia fazer alguma obra ou reforma na paróquia entregava aos cuidados

dele. Zezinho Pedreiro trabalhou na construção do salão paroquial;

na reforma da matriz; na construção da igreja São Geraldo do Cajuru

Velho; na igreja de São Benedito e em muitas outras obras.

Umas das grandes construções feitas por ele foi a construção da praça

Nossa Senhora Aparecida (Praça do Cruzeiro). Ali, ele trabalhou

com mais amor fé e dedicação, pois era a realização de um sonho de

seu grande amigo, o padre João.

Essa dedicação pode ser notada no excelente acabamento das pedras

que revestem as paredes das capelas, principalmente na capela

de Nossa Senhora de Lourdes, onde ele esculpiu em uma pedra um

coração e o colocou acima da cabeça da santa e outros a baixo do

vitral.

NOSSA GENTE

343


Enquanto ele moldava o coração dizia “Vou deixar aqui meu coração

para que se lembrem sempre de mim”. Zezinho trabalhou também

em muitas outras obras no município e também no estado de Minas

Gerais: barragens da Cemig, na Carpe, construindo escolas estaduais

e municipais, Caixa Econômica, cadeia, praças, casas comerciais e residências

no município.

José Lázaro participava também da vida social de Carmo do Cajuru:

foi presidente de Conferência Vicentina, membro do Conselho Paroquial,

carnavalesco. Foi também integrante da Associação Musical

Cajuruense, antiga banda Santa Cecília onde tocava souzafone (mais

conhecido como baixo), abrilhantando todos os eventos que a banda

participava. O que ele mais gostava de tocar, era nos motetos da

semana santa.

Faleceu em 25 de abril de 1990. Como ele gostava muito de tocar

na banda e era estimado por todos integrantes, durante seu sepultamento

a banda tocou marchas fúnebres e a música que ele mais gostava,

a Líra. Zezinho pedreiro morreu, mas deixou eternizado o seu

trabalho, os seus bons exemplos de uma pessoa digna e trabalhadora

no coração de seus filhos, familiares e amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 044, Maio 2016

344 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

345


José Luiz Passos

É prova de alta cultura dizer as coisas mais profundas, do modo mais simples.

Emerson

José Luiz Passos, nascido em

Carmo do Cajuru, em 12 de dezembro

de 1919, era filho de

Godofredo Passos e dona Conceição

Guimarães Passos. Ainda

bem jovem, casou-se com Maria

da Glória Nogueira Passos. O

casal teve 3 filhos: Consuelo, Lucindo

e Ângelo. Netos: Eduardo,

Adelino, Ana Paula, Bismarck,

Daniel, Valéria, Fernanda, Rodrigo

e Luciano.

“Zé Passos” foi uma figura humana

das mais queridas, sempre

soube construir muitas amizades.

Pessoa generosa, dedicada,

entregava-se com prazer aos

José Luiz Passos

trabalhos voluntários, sempre

visando o bem-estar espiritual e

vivendo uma vida,com a alegria de servir aos outros. José Passos foi

uma pessoa tão popular na sociedade, que conseguia conviver e ser

acolhido com muito carinho, por crianças, jovens e adultos.

Na vida profissional, sempre se destacou pela competência e seriedade

com que abraçava as funções que lhe eram atribuídas. Foi funcionário

da Rede Mineira Viação, Banco Mercantil, Banco Industrial,

além de trabalhar por vários anos, como Auditor Financeiro na Cia

Siderúrgica Pains, hoje GERDAU, onde se aposentou.

346 Célio Antônio Cordeiro


O aniversariante José Luiz Passos, em momento festivo

Em Carmo do Cajuru, deixou muitas marcas em se tratando de serviços

voluntários. Executava de forma notável, diversos instrumentos

musicais. Com isso, recebia sempre, convites para eventos religiosos,

cívicos, sociais e esportivos. Participou por vários anos do Coro da

Matriz, hoje Coral Nossa Senhora do Carmo. Foi por longos anos integrante

do Conselho Pastoral Paroquial da Paróquia Nossa Senhora

do Carmo e participou também de diversas comissões de festejos e

celebrações religiosas.

Foi uma figura de suma importância na criação do Centro Esportivo

Olímpico (CEO) e um dos maiores incentivadores da construção

do Ginásio Poliesportivo de Carmo do Cajuru. Conforme ele sempre

dizia, seria um equipamento muito importante para a formação de

crianças e jovens, não só como atletas, como também para um bom

convívio na sociedade. José Passos teve a iniciativa de organizar pela

primeira vez, o tão tradicional “Torneio do Trabalhador” que acontece

no dia 1 o de maio.

NOSSA GENTE

347


Zé Passos, no time do

Zé Passos, com as crianças do Coro da Matriz ou Coral N. S. do Carmo

348 Célio Antônio Cordeiro


Nunca foi simpatizante de política partidária, porém foi uma das

grandes personalidades que trabalharam muito em prol da emancipação

do distrito em 1948, sendo o segundo-secretário da comissão

pró-emancipação.

Foi agraciado por diversas vezes, com belas e merecidas homenagens,

com destaque para as seguintes:

Em 01/01/86, recebeu homenagem de reconhecimento pelos serviços

prestados quando da emancipação de Carmo do Cajuru, data da

passagem do 38o aniversário do Município.

Em 30/12/88, recebeu a comenda Caa-yuru, pela Câmara Municipal.

Em maio de 2007, in memoriam, foi homenageado com uma por ter

promovido o Torneio do Trabalhador. Recebeu várias homenagens

também, na vizinha cidade de Divinópolis.

Hoje os seus familiares e amigos que o conheceram, relembram com

muita saudade daquele homem que, sem a menor dúvida, foi muito

importante para a construção da nossa História. Seu falecimento

ocorreu no dia 23 de maio de 1993.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 028, Jan. 2015

NOSSA GENTE

349


José Marra da Silva *

A dignidade de um ser, é o reflexo do caráter da alma ao cruzar o prisma de suas virtudes.

Leonardo Enes

Jose Marra da Silva nasceu em

Carmo do Cajuru, em 13 de outubro

de 1898, filho de Tobias

Marra da Silva e de dona Maria

Nogueira da Silva. Ainda bem

jovem, casou-se com Eliza Nogueira

Gontijo, filha de Antônio

Nogueira Gontijo e Claudimira

Maria de Jesus. Do casamento,

nasceram 10 filhos: Wanda, José

Nogueira, Jacy Marra, Jadir Marra,

Violeta, Leila Gontijo, Maria

Aparecida, José Paulo, Jair Marra

e Vânia Lúcia.

José Marra da Silva e Elisa Nogueira Gontijo

Jose Marra, desde adolescente,

era dedicado ao trabalho e aos

estudos.

Concluído os estudos básicos,

em 20 de julho de 1932, formou-

-se no curso técnico de “Guarda-

-Livros” (hoje Contabilidade), no

Rio de Janeiro. Trabalhou como

contador durante mais de 20

anos em Divinópolis e em Carmo

do Cajuru.

350 Célio Antônio Cordeiro


Tinha um grande amor a sua terra natal. Foi um dos 10 baluartes do

movimento de emancipação e criação do município, do qual ele foi o

secretário executivo dos trabalhos preparatórios.

Foi o Vice-Prefeito, na gestão do primeiro prefeito, José Demétrio

Coelho, e exerceu por duas vezes o cargo de presidente da Câmara

Municipal, trabalho que era desenvolvido sem qualquer tipo de remuneração.

Em 1955, foi eleito Prefeito. Mesmo com falta de recurso por parte

da Prefeitura Municipal, naquela época, ainda conseguiu realizar importantes

obras. As primeiras ruas a receber calçamento com paralelepípedos

ocorreram no seu mandato, juntamente com os primeiros

serviços de rede de esgoto.

Tinha uma grande preocupação, mesmo com as condições precárias,

com as estradas das comunidades rurais. Foi um empresário muito

bem-sucedido. Em 1959, fundou a Siderurgia Cajuruense, que passou

a gerar muitos empregos. Além disso, era um dos pioneiros na batalha

pela criação da Comarca em 1953.

Em 1958, como um grande entusiasta da Contabilidade, participou

da criação da Escola Comercial “Dom Bosco”, compondo o quadro

docente, além de ceder por empréstimo o prédio onde funcionou a

escola.

Através do espírito fraternal de José Marra da Silva, que se conseguiu

uma grande área para construção da Vila Vicentina. Ele também

doou o terreno onde foi construído o campo do glorioso Tupy Futebol

Clube, cujo nome passou a ser; Estádio José Marra da Silva.

Outra doação importantíssima feita por ele, foi o terreno para construção

do Grupo Escolar Vigário José Alexandre. No seu governo, fez

melhoria no Grupo Escolar Princesa Isabel e criou a Escola Rural da

comunidade de Cajuru Velho.

Mesmo em sua época de governo, Carmo do Cajuru, sendo uma pequenina

cidade, não abria mão ter na cidade a presença de um médico

residente aqui.

NOSSA GENTE

351


Outra obra que foi de suma importância para a cidade, foi a construção

da Barraginha, para o abastecimento da água que, muito servia

a nossa população.

Seu nome ficará para sempre gravado no coração do povo cajuruense.

Além de uma das ruas mais bonitas de nossa cidade, o trecho de

rodovia entre Carmo do Cajuru-Divinópolis também leva seu nome

em homenagem a esse grande vulto da história local.

Em 12 de abril de 1975, com a saúde bastante frágil, partiu para o

plano de cima, deixando muita saudade aos familiares e amigos. José

Marra foi sempre uma pessoa digna e honrada. Sempre amou o trabalho

e muito fez em prol da comunidade e dos mais necessitados de

Carmo do Cajuru.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 064, Jan. 2018

352 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

353


José Mateus da Silva Sobrinho *

A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música.

Leonardo Enes

— Zé Salgado, mesmo num

leito de hospital, conseguia

transmitir alegria as pessoas

que o visitavam — dizia o padre

David Ramos, no Hospital São

João de Deus .

Até hoje quando encontro por

acaso, alguém que o conheceu,

depois de quase trinta anos de

sua partida serena, mencionam

Zé Salgado como uma pessoa

que ninguém gostaria que

tivesse ido embora.

Filho de dona Augusta Marra da

Silva e do senhor Antônio Mateus

da Silva, José Mateus da

José Salgado, a felicidade em pessoa

Silva Sobrinho, nasceu em São José dos Salgados, aos 29 de março

de 1935, daí seu apelido, “José Salgado”, Zezé para os familiares

mais íntimos. Sobre sua família dizia:

— Lá em casa, somos seis homens, seis mulheres e o Mateus,

meu tio Mateus, o caçula — E assim fazia todo mundo rir.

Não posso escrever sobre ele sem mencionar suas expressões espirituosas,que

foram sempre sua marca.

* O colunista agradece a gentileza da filha de José Salgado, Zuleica Alves, na elaboração

desta memória, que reproduz o seu belo testemunho.

354 Célio Antônio Cordeiro


Pelo que conheci de toda nossa família, tinha marcas próprias que o

destacava dos demais irmãos. Nunca se importava com o que vestia,

contrariando demais a minha mãe. Era o moleque da família e onde

ele estava sempre se ouvia uma risada. Porém conosco, suas cinco

filhas,sempre foi severo e exigente.

Tremíamos quando ele assoviava nos chamando. Fazia sempre questão

que fôssemos o exemplo, na escola e onde trabalhávamos. Nos

ensinou a fazer qualquer tipo de trabalho, o que o fosse necessário.

Fazia com que auxiliássemos nas reformas em casa carregando tijolos,

telhas, pregando prego em tacos, fazendo massa para reboco.

Algumas vezes nos levava pra pescar com ele. Como eu gostava! Era

imbatível na pescaria com varinhas de bambu, minhocas e iscas preparadas

por ele mesmo. Sempre vinha com a sacola cheia de peixes

pra janta.

Na cozinha gostava de se mostrar. Em época de Natal, costumava

preparar uma leitoa assada, que era disputadíssima. Era muito rigoroso

no preparo dos famosos pasteizinhos, que a gente vendia e que

por muito tempo ajudou na renda da família, dizia:

— O óleo não pode estar muito quente, nem frio. Mexe! Tem que ir

virando pro pastel ficar bonito! A massa não pode ficar mole! Tem

que ficar fina! O recheio tem que ser assim assado...

Tínhamos que seguir à risca todas as orientações. Até hoje, as pessoas

falam no “Pastel da Maria do Zé Salgado”, sobre os quais ele

comentava:

Ou então:

— O pastel da Maria é assim: a primeira mordida não tem nada,

nem na segunda, mas na terceira é batata.

— Pra saber qual é o sabor do pastel da Maria é só morder. Se não

tiver nada é de queijo, se tiver batata é de carne.

Trabalhou no matadouro municipal, foi açougueiro, depois sapateiro

e trabalhou algum tempo como porteiro e inspetor de aluno em

NOSSA GENTE

355


escolas de Cajuru e também em

portarias de festas. Só depois

entãofoi que se transformou no

“Zé Salgado do Posto de Saúde”.

Como ele amou aquilo!

Trabalhou muitos anos, aplicando

vacinas, auxiliando especialmente

o doutor Marcondes nas

suturas necessárias em casos de

acidentes e brigas. Mais tarde,

assumiu o laboratório do Posto,

executando os exames de fezes,

urina, escarro e sangue.

José Salgado com a esposa e as filhas

Em certa ocasião, nas horas vagas, resolveu assumir um trabalho no

Posto de Gasolina perto de nossa casa. Foi quando adquiriu uma artrite

reumatóide que o fez sofrer muito e desencadeou uma série de

outros problemas de saúde. Sofreu muito quando teve que se aposentar

por invalidez, deixando seu amado laboratório.

Vi meu pai ser conciliador em várias situações de “brigas de família”,

de vizinhos,de desavenças diversas. As pessoas o procuravam para

se aconselhar. Numa manhã, indo para Divinópolis, me encontrei

com o Lelé, companheiro de conferência do meu pai. Ele fez questão

de me abordar e dizer:

— Menina, como eu amava o seu pai! Rezo pra ele todos os dias.

Meu pai sempre teve a preocupação de ser útil para quem não tinha

com quem contar. Foi confrade por muitos anos e trabalhou na comissão

que coordenava a Vila Vicentina. Ele costumava levar lá em

casa, os pobrezinhos, seus queridos. Pessoas que se tornaram especiais

pra nós também.

Nossa casa era sempre cheia de amigos e alegria. Numa ocasião,

meu pai criava dois porcos, um erado , do doutor Marcondes, o outro

nosso . Meu pai foi quem deu nome pra eles: PISe PASEP. Guardamos

muitas histórias desses dois bichinhos.

356 Célio Antônio Cordeiro


Também tivemos cabras. Ele sempre levava nossas visitas para vê-las

e aí sempre saía uma brincadeira:

— Essa aí dá sete litros de leite. E quando a pessoa se assustava,

ele admitia que isso só se dava em sete dias.

A primeira foi a Brinquinho. Ela teve duas crias: “Baby e Pepeu”, que

geraram a “Independência e Liberdade” - esta dupla ganhou estes

nomes porque nasceram no dia Sete de Setembro. Depois tivemos a

“Represa” e a “Leitosa” . Ganharam estes nomes, segundo ele, para

produzirem muito leite.

Não era de fazer visitas, nem de festas, nem de eventos, nem badalações.

Mas, pra quem cruzava com ele no seu caminho diário, sempre

tinha uma gracinha, palavra de conforto ou um simples “bate papo”.

Meu pai nos deixou de forma tranqüila, numa sexta-feira da Paixão,

um dia de muitas visitas, encontros e risadas. Adormeceu à tarde e

não acordou mais. Seu sepultamento, de todos os que já presenciei,

foi o mais poético. Subimos para o Cemitério, à pé, como era o costume.

A diferença é que todos cantávamos. E cantamos nos despedindo

de alguém que nunca mais saiu de nossas vidas.

Especialmente da vida de minha mãe, a quem ele muito amava. Ele

fazia questão do romantismo. Me lembro bem de presenciá-lo apanhando

uma rosa pra ela no jardim de casa, depois de fazerem as

pazes, após ficarem um tempo sem conversar por causa de um desentendimento.

Hoje o PSF do Centro de Cajuru leva o seu nome. Pena a placa não

constar “Zé Salgado”, como todos o conheciam. Sem falsa modéstia,

com todo o merecimento, porque ele amou o trabalho que realizou

e serviu a muitoscom alegria, simplesmente por servir e fazendo

o que amava fazer.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 025, Out. 2014

NOSSA GENTE

357


José Mateus Filho

Não viva para que a sua presença seja notada, mas para que a sua falta seja sentida.

Bob Marley

José Mateus filho, nasceu em

Carmo do Cajuru, no dia 17 de

julho de 1912, dois meses antes

da benção inaugural da atual

matriz Nossa Senhora do Carmo,

onde foi batizado. Filho de

José Mateus da Silva e de dona

Márcia da Fonseca e Silva, era

o segundo filho de uma família

numerosa, composta por oito

irmãos.

Jose Mateus Filho, ou Zé Mateus,

como era conhecido de

todos, com seu modo de viver e

ser únicos, soube marcar de uma

José Mateus Filho

maneira ilustre sua vida terrena

com seu exemplo recomendável de cidadania, esposo, pai avô e

grande amigo.

Em 28 de fevereiro, casou-se com Margarida Gomes de Souza. Dessa

união, nasceram 6 filhos: Heitor, Maria José, Maria Eugênia, Maria

Dulce, José Heleno e Geraldo (Branco).

Durante toda a vida, exerceu a profissão de alfaiate, com muita dedicação

e apreço “pelo fazer bem feito”. Sua alfaiataria, era ponto de

referência de encontros, onde se cultivava grandes amizades.

358 Célio Antônio Cordeiro


Sempre disponível a prestar serviços em prol da comunidade e aos

familiares; pessoa de muita fé; foi durante muitos anos confrade da

SSVP e participava muito das diversas comissões de festejos religiosos,

como podemos observar em programas de festas religiosas do

passado. Também atuou como delegado de polícia, Juiz de Paz, presidente

do glorioso Tupy Futebol Clube – todos esses serviços prestados

de forma voluntária.

O prefeito José Mateus Filho, entre autoridades em palanque de Sete de Setembro

No ano de 1971, foi eleito prefeito municipal, cujo mandato foi cumprido

com muita honestidade e transparência. Mandato curto, de

apenas dois anos, mas com muita dedicação, conseguiu grandes

feitos para a nossa comunidade. Na zonal rural, construiu os Grupos

Escolares das comunidades de Maribondo, Olarias, Ribeiros e Córrego

Fundo. Deu uma atenção especial às estradas das comunidades,

abrindo novas e construindo pontes.

Como sabemos, amava muito o distrito de São Jose dos Salgados e

se sentia como um filho daquela terra. Lá, enquanto prefeito, teve a

oportunidade de realizar grandes obras, como o asfaltamento da rua

principal, ponte sobre o córrego São José e a instalação de água aos

moradores. Até hoje ele ainda é lembrado de maneira muito carinhosa

naquela localidade.

NOSSA GENTE

359


A primeira dama, dona Margarida e senhor José

José Mateus Filho, em sua última foto

Em 21 de fevereiro de 1995, já com a saúde muito debilitada, ele veio

a falecer. Sua morte deixou no coração dos familiares e amigos uma

profunda tristeza e um vazio ardente de saudade.

Deixou aos familiares um legado muito importante: bons exemplos

de honestidade, simplicidade e dedicação ao bem público.

Ao refletir sobre a vida de José Mateus, me vem na lembrança, por

conclusão, uma pequena fala do José Dias Lara, que reflete bem o

que foi essa importante personalidade cajuruense:

— Há pessoas desprendidas e sem vaidade a quem não seduzem

as honras e as posições sociais. Embora dotadas de valor, não

usam de seus méritos para a ascensão na vida, a que tantos aspiram

sem as mesmas credenciais.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 058, Jul. 2017

360 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

361


José Nogueira Avelar

Quase tudo é possível se tem dedicação, determinação e habilidade. Grandes feitos

são realizados não são pela força, mas pela perseverança e dedicação”

Diego Lima

Estra crônica conta um pouco

da personalidade que marcou

a histórias local. Pessoa simples,

carismática, determinada,

de grande caráter e que amava

muito o que fazia: o saudoso

José Nogueira Avelar.

José Nogueiras Avelar

O “Zé Gavião”, como era conhecido

de forma carinhosa pelos

contemporâneos, nasceu em

Carmo do Cajuru, no dia 7 de janeiro

de 1927, filho de Guilherme

Nunes de Avelar e de dona Petrina

Nogueira. Em 20 de maio de

1954, casou-se com Terezinha

Avelar, com quem teve 5 filhos:

Edésio, Edílson, Edna, Edmilson

(in memorian) e Edson (Tostão).

Fez os seus primeiros estudos no Grupo Escolar Princesa Isabel, onde

se destacou pela facilidade no aprendizado e pela maneira cordial

de lidar com seus colegas e mestras. Formou-se em Contabilidade,

no extinto Colégio Comercial e Normal José Demétrio Coelho, onde

posteriormente lecionou por algum tempo. Era um professor carismático,

dono de uma boa didática, habilidoso e muito amigo de seus

alunos, fato que o fazia muito estimado por todos.

362 Célio Antônio Cordeiro


O professor José Nogueira, em solenidade de formatura

Pesquisando em alguns escritos do nosso primeiro prefeito José Demétrio

Coelho, me deparei com o nome de José Nogueira Avelar em

dois momentos muito importantes da história de Carmo do Cajuru. O

primeiro deles, foi na solenidade de composição da primeira diretoria

da Comissão de Emancipação do município, conforme Ata lavrada

em 14 de dezembro de 1947.

Posteriormente, seu nome também aparece em assinatura da Ata,

do dia 1o de janeiro de 1949, na solene Sessão de Instalação do Município,

ocorrida no tradicional Grupo Escolar Princesa Isabel, fato marcante

na história e muito significativo para Carmo do Cajuru.

Esse fato indica que José Nogueira, aos 22 anos, compunha uma juventude

idealista e que estava ao lado dos anseios do povo na criação

do município de Carmo do Cajuru.

Foi uma pessoa de fé, vicentino desde a infância, na Conferência São

Tarcísio. Por longos anos, prestou relevantes serviços como funcionário

da Prefeitura Municipal, onde foi contador e secretário dos prefeitos,

no período 1949-1972, na prefeitura de José Mateus Filho.

NOSSA GENTE

363


Formação do Tupy - De pé: Antônio Delegado, Alípio, Heitor, Heli Maia, Laércio, Ladicão.

Agachados: Mário de Souza, Cirilo, Zé Nogueira, Cici e Juarez

Prestou serviços também ao nosso futebol amador. Torcedor apaixonado

do glorioso Tupy Futebol Clube, onde foi atleta e depois presidente

do clube.

Em 19 de janeiro de 1972, com a saúde muito abalada por um câncer,

veio a falecer com apenas 45 anos. Sua morte causou muita tristeza

aos familiares e amigos. Ele foi sepultado no cemitério de Carmo do

Cajuru, depois de um comovente velório.

A saudosa figura de José Nogueira Avelar está sempre na lembrança

de quem o conheceu.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 036, Set. 2015

364 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

365


José Rabelo Vieira

Caridade ensinada melhora os ouvidos. Caridade praticada aprimora os corações.

Emmanuel

José Rabelo Vieira, nasceu em

14 de fevereiro de 1936. Filho

de. Francisco José Rabelo (Chico

Mariano) e de dona Maria

Francisca de Jesus. Foi o terceiro

filho de uma família bastante

numerosa. Seus irmãos: Ilda,

Mariana, Maria Rabelo, Aparecida,

Geraldo Mariano, Jacob, Maristela,

Maria de Lourdes e Braz

Rabelo (falecido).

Residiu por algum tempo na

comunidade de Ribeiros. Ainda

bem jovem, casou-se com Maria

de Lourdes Rabelo de Camargos,

da comunidade de Olarias,

José Rabelo Vieira (Zé Mariano)

para onde se mudaram e viveram

por mais de 50 anos. Do Casal, nasceram 13 filhos: Zenon, Maria

Aparecida, Teodora, Antônio, Francisco, Márcia, Márcio, Silvania, Elisabete

(Betinha), Sirlei, Leiziane, Ana Maria e Helena (Leninha).

Zé Mariano, como era tratado por todos, teve uma vida pautada por

muita simplicidade, mas muito voltada para o trabalho e educação

de sua numerosa família e sempre mostrando ao longo de sua vida

um trabalho voluntário bastante expressivo. Católico fervoroso desde

criança, bem cedo abraçou a tarefa de confrade vicentino. Fez

parte da conferencia do Sagrado Coração de Jesus, em Ribeiros.

366 Célio Antônio Cordeiro


Quando foi residir na Comunidade de Olarias, fundou a conferência

Nossa Senhora de Fátima, que existe até os dias de hoje. Quando das

mudanças ocorridas na Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, na década

de 60, aconteceu a esperada abertura para o trabalho de leigos.

Zé Mariano, na época, orientado por dom Cristiano Pena, tornou-se

um dos primeiros dirigentes de cultos dominicais em comunidades

rurais. Exerceu também com muita dedicação, o trabalho de missionário

nas celebrações da Semana Santa, na zona rural. Foi instrutor

de cursos de preparação para batismos e ministro da Eucaristia.

Como bom Vicentino que foi, assumiu a presidência do Conselho

Particular da Comunidade de Ribeiros, prestando inúmeros serviços

à Sociedade São Vicente de Paulo. Ainda como trabalho social, exerceu

com muita competência, o cargo de presidente da Associação de

Moradores das comunidades de Ribeiros, Estivas, Olarias e Barreiros.

Foi através desta associação, que conseguiram inúmeros benefícios

aos agricultores e produtores rurais como: máquinas agrícolas, sementes

e adubos. Fez um trabalho bastante significativo, de mostrar

aos moradores a importância do saneamento básico, com a implantação

de fossas em residências.

José Rabelo Vieira e dona Maria de Lourdes com os filhos

NOSSA GENTE

367


Foi um grande chefe de família,

esposo, pai, avô e tio que sempre

teve a admiração de todos.

Através de seus belos exemplos

e amor ao trabalho conseguia

conquistar muitos amigos.

Gostava muito de manter-se

bem informado através de noticiários

de jornais, pelo rádio e

pela televisão.

Era um grande amante das festas

que ocorriam nas comunidades

rurais: Folias de Reis, Ladainhas

do mês de maio, Festa da

Cruz e Rodas de Violas.

Zé Mariano, ministro da Eucaristia

Aos 25 de setembro de 2015, José Rabelo Vieira, Zé Mariano, partiu

para a eternidade, deixando uma lacuna social e muita saudade à sua

numerosa família e aos muitos amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 054, Mar. 2017

368 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

369


José Vital Filho

A arte da música é a que mais se aproxima das lágrimas e das recordações.

Oscar Wilde

A orquestra no céu ganhou mais

um grande músico: José Vital Filho,

que se despediu deste plano

material, ao final de 2016, mesmo

ano em que a queridíssima

e tradicional Associação Musical

Cajuruense completava 100

anos de história, no dia de Santa

Cecília.

José Vital Filho, o maestro Boró

Não poderia ser diferente! Maestro

Boró foi um dos maiores

musicistas de nossa cidade e

região. Autodidata, tocava diversos

instrumentos de sopro e

percussão. Devido à sua grande

paixão pela arte, em períodos

mais difíceis, sem recursos e

apoio, trabalhou voluntariamente,

durante muitos anos em prol

da cultura cajuruense.

José Vital Filho, o popular “Maestro Boró”, nasceu em 17/04/1927,

passou sua infância na zona rural de Carmo do Cajuru, na comunidade

de Jacarandá. Filho de dona Tiana e Zico Vital, teve quatro irmãos:

Dico, Nina, Joãozinho e Bené, como são assim conhecidos. Seus laços

musicais vieram de berço, pois seus pais e irmãos sempre tiveram

muita ligação com a música; bem como seus filhos, netos, bisnetos,

parentes e amigos também.

370 Célio Antônio Cordeiro


Os descendentes do maestro Boró são responsáveis pela persistência

e perpetuação da cultura carnavalesca na cidade. Escola de Samba

Pavão Dourado, Blocos Kayuru, da Latinha e CachaSamba são coletivos

em atividade, mantidas pela dedicação, esforço voluntário e

envolvimento de vários familiares e amigos.

José Vital Filho exerceu seu papel de cidadão consciente e participativo,

sendo vereador e presidente da Câmara, na época em que não

tinham remuneração. Ele foi o responsável pela fundação da Associação

Musical Cajuruense, para a qual ganhou vários prêmios de

destaque em toda região.

O jovem José Vital Filho (no centro) integra a banda Santa Cecília, tocando saxotrompa

A história registra que com o fim da Banda Santa Cecília, que pertencia

à nossa paróquia, desde o século 19, o músico Boró decidiu, no

final da década de 1960, procurar o padre João Parreiras Villaça, para

pedir a doação dos instrumentos antigos, parados há muitos anos,

com o objetivo de fundar uma nova Banda, independente.

NOSSA GENTE

371


Padre João, entusiasmado com a ideia da reativação da Banda, formou

uma comissão e foi até o Bispo Diocesano, em Divinópolis e

conseguiu a doação de todos os instrumentos da Banda Santa Cecília.

A partir de então, reativada, a Banda de Música tornou-se um manancial

de grandes músicos; ela que sempre foi e continuará sendo,

uma das mais tradicionais e melhores do interior mineiro.

O maestro Boró rege a AMC, em Encontro de Bandas de Carmo do Cajuru

Maestro Boró transmitiu seus ensinamentos para uma legião de músicos,

dentre os quais, vários alunos que se tornaram grandes profissionais

bacharéis em música: Marcelo Madureira, Juventino Dias,

Tiago Ramos, Aglailson França, Marcos Ferreira Rodrigues (Marquinho)

e Lucas Guimarães.

No dia 6/12/2016, Santa Cecília, padroeira dos músicos, veio buscar

definitivamente o “Maestro Boró” para junto de si, deixando vivas

recordações e saudades em seus familiares, amigos e admiradores.

Muita semeadura foi feita; muitos frutos já foram colhidos, e mais

serão, pois é como a sabedoria de Jesus, por João: “Se o grão do trigo

caído na terra (...) morrer (...) produz muito fruto” (Jo 12:24). Este é o

legado de José Vital Filho para as futruras gerações.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 053, Fev. 2017

372 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

373


Márcio Humberto Vaz Fonseca*

As memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam o nosso futuro.

O Doador de Memórias

Nascido em Uberaba, em 1972,

Márcio Humberto foi o primeiro

dos cinco filhos de Marinho Pio

da Fonseca e Maria José Vaz da

Fonseca, dois deles falecidos:

Meriele e Alessandro. Márcio

colaborava com as tarefas domésticas

e com a criação dos

outros dois irmãos, Luiz Carlos

e Frances, desde a mamadeira,

comida, banho e fraldas. Mesmo

com tantas responsabilidades,

nunca deixou de ser uma criança

alegre, feliz e cheia de energia.

Não foram poucos os casos contados

por sua mãe, pelas tias e

por quem conviveu com Márcio.

Em meados dos anos 1980, a família

veio estabelecer-se defini-

Márcio Humberto

tivamente em Carmo do Cajuru.

Márcio já contava com seus 12 anos de idade e entrava na adolescência.

Nos anos 1980, começou a experimentar a explosão do rock

nacional (Legião, Paralamas, Engenheiros, Titãs etc.), a performance

das bandas britânicas (Pink Floyd, The Cure, The Smiths), sem falar

na admiração pelo saudoso Elvis Presley.

* O colunista agradece a gentileza de Frances Vaz, irmão de Mário Henrique, na elaboração

desta memória, que reproduz o seu belo testemunho.

374 Célio Antônio Cordeiro


Letras e melodias dramáticas, críticas, sensíveis, performances

contestatórias e muita irreverência. Foi nesse contexto que cresceu

e se constituiu o jovem Márcio Humberto, com gostos e referências

que se consolidaram para o restante de sua breve vida.

Em Cajuru, Márcio fez suas primeiras e duradouras amizades

que compartilharam e viveram a cidade: a discoteca, o Varanda,

a Barragem e tantos outros espaços que se tornaram points de

encontro da juventude cajuruense.

No início dos anos 1990, surge a Gincana da Independência. Os amigos

se juntaram e formaram a equipe Anarquistas: o evento movimentou

a cidade, reuniu a juventude e se tornou uma referência de

competição saudável, de conhecimento, de trabalho de equipe e,

principalmente, foi palco da criação de fortes laços de amizades.

Desde cedo, Márcio trabalhou

para poder arcar com sua inesgotável

vontade de viver. Fez

de tudo: foi frentista, trabalhou

com ferragem, cursou Engenharia

Elétrica (não se formou),

trabalhou com computadores,

abriu uma loja de CDs, cursou

Publicidade.

A filha Ânalis, de Márcio e Natieline Maciel

Casou-se aos 23 anos e, meses

depois, veio a primeira filha, Ânnalis.

Com o passar dos anos, foi

fazendo novos laços de amizade

com jovens de diferentes épocas,

conectando diferentes tempos

e gerações.

No final dos anos 1990, Márcio entrou para a vida pública, passando

a integrar o Governo Municipal e, desde então, fez uma carreira promissora

na cidade e na região. Com competência reconhecida dentro

e fora do município, sua figura tornou-se importante para a cidade,

sendo reconhecidamente (mais uma vez) uma liderança.

NOSSA GENTE

375


Participou da fundação do Ruassa, um dos grandes blocos de batucada

da cidade, participou da organização do Carnaval de rua, dos

rodeios, de festas religiosas. Trabalhou pela cultura e pelo turismo

na cidade.

Márcio e a esposa Aline Verlane Alves de

Oliveira com o filho Lucas

Em 2011, Márcio conviveu com

dois acontecimentos diametralmente

opostos e que transformariam

sua vida profundamente:

nasceu seu segundo filho,

Lucas. Mas, apenas três dias depois,

morreu seu pai, Marinho,

em um acidente doméstico. A

ferida pela perda do pai nunca

se fechou e se tornou motivo de

saudade, de dor, de muitas lágrimas

e recordações recorrentes.

Foi nos versos e na melodia de

Rod Stewart (I don’t want to talk

about it) que encontrou conexão

com o pai, segundo testemunha

de sua vida. Foi no seu embalo

que derramou lágrimas, que sua

ferida de alma doía.

[...] Eu não quero conversar sobre isso / Como você partiu

meu coração / Se eu ficar aqui mais um pouco / Se eu ficar

aqui, você não ouvirá meu coração? / Oh, meu coração

A roça em que o pai passou tanto tempo trabalhando tornou-se seu

porto seguro. Foi no bojo dessa dolorosa perda que o carinhoso filho

assumiu com vigor a liderança familiar e viveu seus últimos anos de

vida apaixonado e dedicado aos filhos e à família. Márcio, sem saber,

conectou-se à família para viver seus últimos momentos. Em 2016,

ele partiu. “Rapidamente, deixou a todos um pouco órfãos, um pouco

sem irmão, um pouco sem lugar”, como escreveu o irmão France

Vaz, destacando seu legado:

376 Célio Antônio Cordeiro


Márcio Humberto, na ala dos tamborins do bloco Ruassa

Falar de você é falar de alegria, de risada, de vontade de viver,

de irreverência e de insubordinação. Talvez um dos traços mais

marcantes que você nos deixou tenha sido a sua irreverência

com a vida, com as regras, com as formalidades vazias. Esse foi

o exemplo de liderança que você nos trouxe: muita vontade de viver,

como se cada minuto fosse o último, como se cada momento

fosse único, como se cada festa fosse a derradeira.

Vimos em você uma pessoa com a beleza e a criatividade da

juventude, alguém que se encantou com as coisas simples do

mundo: uma boa comida, belas músicas, a conversa animada, a

cerveja “trincando”, a potência do encontro (...)

[...] é difícil lidar com a realidade de alguém tão querido e tão

amado e que se foi tão cedo. É difícil lidar com a profecia de

Love in the Afternoon da nossa querida e saudosa Legião: “é tão

estranho, os bons morrem jovens”. Não poderíamos imaginar

que esta seria uma profecia para sua própria vida e estamos

aqui, lidando com a outra face dela: continuamos aqui, “nosso

trabalho, nossos amigos, lembrar de você, de nossas tardes de

amizade. Você se foi, cedo demais…”

JORNAL BOCA DA MATA, n. 063, Dez. 2017

NOSSA GENTE

377


Dr. Marcondes José da Silva

Quando somos bons para os outros, somos ainda melhores para nós mesmos.

Benjamin Franklin

O jovem doutor Marcondes, em sua formatura

O Dr. Marcondes foi uma dessas

pessoas notáveis que vieram

a Carmo do Cajuru dar as suas

contribuições inestimáveis, neste

caso, à saúde pública local.

Nascido em Rio Paranaíba, no

dia 6 de agosto de 1914, filho de

Jerônimo José da Silva e dona

Rita Zeferina de Araújo. Em 7 de

setembro de 1943, casou-se com

Luzia Resende da Silva. Tiveram

5 filhos: César Marcondes, Maria

das Graças, Carlos Alberto,

Antônio Carlos e Mariluzia. Seus

primeiros estudos foram feitos

em sua terra natal.

Sua trajetória na Medicina iniciou quando se mudou para Belo Horizonte

e ingressou na UFMG. Formou-se em 1941, ano em que retornou

para Rio Paranaíba. Naquela cidade, exerceu Clínica Médica

Geral e tendo oportunidade também, de ser vereador e vice-prefeito.

Na época, o trabalho político tinha caráter voluntário.

Na década de 1950, se especializou em Medicina Sanitária e ingressou

no Serviço Público do Estado como chefe do Posto de Saúde.

No ano de 1964, foi convidado a se transferir para Carmo do Cajuru,

onde foi chefe do Posto de Saúde até 27 de maio de 1981.

378 Célio Antônio Cordeiro


Em Carmo do Cajuru, residia na

Praça da Matriz, esquina com

a rua Rui Barbosa. Sua casa era

bastante movimentada, estava

sempre cheia de seus familiares,

amigos e amigos de seus filhos.

Sempre se reuniam em volta da

mesa farta para se divertirem.

Lá comiam bebiam, jogavam

baralho, tudo com muita alegria

e descontração.

O casal dona Luzia e doutor Marcondes

Recebeu várias homenagens,

por grandes serviços prestados

à socierdade cajuruense. Na década

de 1980, recebeu uma belíssima

homenagem do Rotary

Clube Internacional.

Há pouco, foi homenageado pela municipalidade, in post-mortem,

dando o seu nome ao Centro de Expansão Psicossocial (CAPs 1).

Familiares e amigos do Doutor Marcondes, em momento de confraternização (Registro pessoal)

NOSSA GENTE

379


Homem justo, inteligente, de

um caráter e honestidade sem

limites. De uma bondade sem

tamanho. Era evoluído além de

seu tempo. Dedicou sua vida à

família, a coletividade, amigos

e sobre tudo em sua nobre missão

de exercer bem a Medicina.

Com semblante sempre alegre e

brincalhão, sabia como conquistar

a simpatia de muitos amigos,

o que o fazia uma pessoa muito

popular.

Doutor Marcondes José da Silva

Clinicou em seu consultório até o final dos seus dias. Foi um homem

de fé e sempre muito generoso com os menos favorecidos. Gostava

muito de fazer caminhadas, sempre com um trajeto que passava pela

Praça do Cruzeiro, local que ele gostava muito.

Foi em uma de suas caminhadas, que sofreu um infarto agudo vindo

a falecer, justamente na entrada da Praça do Cruzeiro. Era o dia 1 o de

abril de 1986, provocando muita comoção nos familiares e amigos.

Foi sepultado no mesmo dia, no cemitério do Bonfim.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 045, Jun. 2016

380 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

381


Marinho Dias Barbosa

Quando somos bons para os outros, somos ainda melhores para nós mesmos.

Benjamin Franklin

Marinho Dias Barbosa, tinha vários

apelidos: Marinho Barbeiro,

Marinho Retratista, Marinho do

Taxi e Sô Marinho.

Nasceu em 18 de junho de 1924

e falecido em 18 de fevereiro de

2006, natural de Carmo do Cajuru,

filho de Guilherme Dias Barbosa

e Aurora Maria de Jesus.

Veio de uma família simples com

seis irmãos: Osmário, Margarida,

Conceição (Heiquinha), Helena

e Esperança.

Casou-se com Rute Marra Barbosa

com quem teve 10 filhos:

Maria do Carmo, Maria da Glória,

José Francisco, Maria da

Conceição, Antônio Donizete,

O jovem Marinho Dias Barbosa

Maria Aparecida, Guilherme

Dias, Dimas Marinho Dias (falecido), Maria de Fátima e José Alexandre.

Em 2013, haviam 22 netos e oito bisnetos.

Sua primeira profissão foi ajudar seu pai como ferreiro. Na mesma

época foi também coroinha do padre Augusto Cerdeira. Seu grau de

estudo era apenas o segundo ano de primário, mas toda vida teve

uma boa interpretação.

382 Célio Antônio Cordeiro


Marinho, sua esposa Rute, familiares e amigos em um encontro festivo

Aos 18 anos alistou-se no Exército e foi convocado, por sorte ao

chegar em Belo Horizonte para o treinamento, terminou a Segunda

Guerra. E com isto foi dispensado.

Mais tarde pedreiro, carpinteiro, músico e regente da banda de música

Santa Cecília de Carmo do Cajuru, que teve como seus maiores

parceiros: Vicente Dias Barbosa (Dinho do Messias, Ladico (do bar),

Dedé, Galdino, Boró e Bené, entre tantos. Juntos, ajudaram a abrilhantar

festas, procissões e celebrações da Semana Santa, na companhia

do saudoso padre João, de quem era muito amigo.

No anonimato, colaborou muito com a paróquia Nossa Senhora do

Carmo. Durante várias décadas, foi responsável por dar corda e acertar

o relógio da Matriz e, em vésperas da Semana Santa, buscava

todas as tochas que seriam utilizadas nas procissões, para limpeza,

reparo e polimento, trabalho que dividia com a família inteira.

Foi delegado por pouco tempo, barbeiro por mais de 30 anos. O Foto

Marinho, que até hoje leva seu nome, foi responsável por registrar,

documentar e inspirar muitas recordações ao povo de Carmo do Cajuru

e regiões vizinhas. Nele, ainda se encontra o tradicional “banquinho

verde”. O mesmo banquinho. O seu laboratório fotográfico foi

doado por sua família ao Museu Histórico Municipal.

NOSSA GENTE

383


Taxista, não media hora, nem esforço para levar doentes em hospitais

a qualquer hora do dia ou até nas viradas de noites. Vale lembrar

que naquela época não tinha ambulâncias e nem encaminhamento

da Clínica, pois ela ainda não existia.

Levava os doentes e esperava pela internação e só depois de ver encaminhados

procedimentos é que retornava, ainda que demorasse

algumas horas.

Marinho, sua esposa Rute e os filhos, celebrando os 54 anos de casados

Foi vereador na mesma época que Wilson Mano da Silva foi prefeito

(1973- 1977). Como comerciante, teve um bar e mantinha um espaço

para colocar estampas de santos em molduras. Naquela época, toda

casa católica tinha, pelo menos, um quadro de santo. Tempos depois,

teve também uma loja com o nome de Bazar Vitória, que administrou

por quase 20 anos.

Sô Marinho, homem público, exemplo para seus filhos, que além de

honesto, muito batalhador, era também muito carismático. Alguns

de seus filhos herdaram sua profissão como Donizete (barbeiro), Guilherme

(fotógrafo). Ambos em Carmo do Cajuru. Sua filha Aparecida

e seu neto Mateus, são fotógrafos residentes em Divinópolis.

384 Célio Antônio Cordeiro


Perdeu sua esposa dois anos

antes de falecer, em 18 de março

2004, vítima de infarto, em

sua própria residência. Tinha 81

anos, estava lúcido, ainda com

muita vontade de viver, mas, ao

mesmo tempo, na esperança de

reencontrar sua companheira,

“minha Rute”, como se referia à

esposa com a qual viveu 54 anos.

Unidos, trabalharam e criaram

seus filhos, que sempre tiveram

muito orgulho dos pais. Muitos

que passavam pela rua Tiradentes

(hoje, prédio da Casa Gontijo),

lembram-se dos dois juntos,

debruçados no murinho do

alpendre, observando o movimento

e cumprimentando aqueles

que ali passavam.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 007, Abr. 2013

NOSSA GENTE

385


Mário Domingos

Milhares de pessoas cultivam a música; poucas, porém, têm a revelação dessa grande arte.

Beethoven

Maestro Mário Domingos, carinhosamente

chamado de Tio

Mário, foi uma Ilustre figura das

cidades de Carmo do Cajuru e de

Bom Despacho. Nascido em 05

de março de 1934, cajuruense,

ele viveu sua infância com familiares,

sempre cercado por muitos

amigos. Era uma pessoa simples,

que tinha como principal

objetivo levar o conhecimento

da música e da cultura a todos,

com muito carinho e dedicação.

Caçula dos sete filhos de Domingos

do Rosário e dona Maria

Rosa Moreira, Mário foi casado

durante 59 anos com Josefina

dos Santos Domingos (Dona

O maestro Mário Domingos

Nonoca, falecida em 5 de dezembro

de 2013). Juntos, tiveram

seis filhos, sete netos e um bisneto. Foi um brilhante jogador de

futebol nas principais equipes da cidade: o Tupy Futebol Clube e o

Sport Club Cajuru.

A musicalidade já nasceu com Mário. Ainda criança, deu os seus primeiros

passos musicais ao ser presenteado com um pandeiro.

386 Célio Antônio Cordeiro


Desde então não parou mais: foram diversos reinados, horas dançantes,

bailes, onde quer que tivesse música... Mário sempre estava

presente. Pandeiro, violão, trombone... Não havia instrumento que

o intimidasse.

Sua história com as partituras iniciou quando foi incorporar-se na

Banda de Música do 7º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais,

em 1965, com apoio e incentivo de seu conterrâneo Dr. Genésio Rabelo,

na época, médico do 7º Batalhão.

Na Polícia Militar, seguiu carreira como músico, completando assim

o seu sonho: ser um músico completo e fazer vários amigos. Mário

ainda se reformou como 2º Sargento, porém não se aposentou.

Com a ajuda de alguns amigos

- amantes da música - e apoio

da prefeitura, de vereadores, do

comércio local e da comunidade

de Bom Despacho, deu o chute

inicial para a criação da “Corporação

Musical N. Sra. do Bom

Despacho”, em 24/04/de 1991.

Tio Mário Domingos, capitão-mor INSR

NOSSA GENTE

387

Em Cajuru, foi um dos maiores

batalhadores em prol do Reinado

da Irmandade de Nossa Senhora

do Rosário. Na referida

irmandade, desempenhava com

muito amor e galhardia o cargo

de Capitão-Mor. No seu comovente

velório, repleto de parentes

amigos e autoridades, foram

executadas por Bandas de Músicas,

várias músicas que sempre

marcaram sua vida. Tio Mário,

foi um grande exemplo de bondade,

simplicidade e de amor ao

que gostava de fazer.


Até 2014, o maestro Mário Domingos lecionava e ajudava crianças,

jovens e adultos a descobrirem esse dom de Deus, o dom da música,

para compartilhar com as pessoas. Por ele, passaram vários alunos

e com ajuda de seus ensinamentos, hoje, já se tornaram admiráveis

músicos e incontestáveis maestros.

O maestro Mário Domingos

No dia 24 de maio de 2014, depois de estar com a saúde debilitada,

Mário veio a falecer. Sua morte abriu uma grande lacuna no meio cultural

da região.

Seu trabalho voluntário, sua vontade de ajudar em tudo foram marcas

muito presentes na vida desta notável figura. Assim, a gratificação

e a realização maior do Maestro, que era de difundir e compartilhar

esse dom que Deus lhe deu, foram cumpridas.

Após a missa de sétimo dia, Marisa, sua filha, passou aos familiares

e amigos da Congada, o seguinte recado deixado pelo “Tio Mário”:

“Sejam todos firmes na fé. Permaneçam unidos no amor e um

sempre querendo o bem do outro. Sejam honestos no que fazem

e corajosos para fazerem o certo, o bem. Permaneçam na

proteção de Nossa Senhora do Rosário e na graça e bênçãos de

Deus”.

388 Célio Antônio Cordeiro


Também se registra aqui, a bela

oração escrita por Tio Mário:

— Senhor Jesus, quero

a felicidade que me

ofereceis e aceitar Vossa

oferta. Tomai conta

de mim, transformai

minha vida para que eu

me entregue totalmente

à vontade do Pai.

Livrai-me do egoísmo

e de ilusões. Dai-me o

olhar novo da fé para

que possa perceber

essa verdade. Derramai

em meu coração a caridade,

essa capacidade

divina de amar que me

arraste para Vós e para

meus irmãos de caminhada.

Amém.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 021, Jun. 2014

NOSSA GENTE

389


Maurício Meireles *

Nada sou e nada tenho, mas é pela simplicidade do meu nada que te ofereço tudo.

Autoria Desconhecida

Maurício Meireles

Mauricio Meireles nasceu em

22 de setembro de 1945, em

Paracatu, filho de Gustavo Cândido

Meireles e dona Otília Guimarães

Meireles. Era o quinto

dos sete irmãos: Cecy, Ivone,

Wolney, Elba, Mauricio, Aluísio,

Aparecida e José Eustáquio.

Passou boa parte de sua infância

no Largo do Santana, bairro humilde

da cidade natal. Sempre

trabalhou desde cedo, vendendo

frutas na feira e engraxando

sapatos na rodoviária do município,

além de trabalho braçal

na Prefeitura de Paracatu, o que

lhe deu condição, aos 19 anos,

de concluir o primeiro grau na

Escola Agrícola de Brasília (Planaltina),

em 1964.

Mudou-se para Belo Horizonte com o intuito de terminar seus estudos

e melhorar de vida. Enquanto estudava, trabalhou como recepcionista

na pousada em que morava e assim pagava sua estadia.

* O colunista agradece a gentileza do testemunho de Gustavo Abib Meireles, filho de Mauricio

Meireles, na elaboração desta crônica.

390 Célio Antônio Cordeiro


Em 18 de dezembro de 1964, ingressou na Assembleia Legislativa do

Estado de Minas Gerais, no cargo de Telefonista Noturno, onde seguiu

carreira e trabalhou até sua aposentadoria. Na capital mineira,

concluiu o segundo grau como Técnico em Contabilidade, pela Escola

Técnica de Comércio Inconfidência, no ano de 1969 .

Apreciador da boa culinária e ótimo cozinheiro, gostava de se gabar

de suas habilidades. Boêmio declarado e “seresteiro”, desde a adolescência,

começou a tocar clarinete e violão. Organizou serestas de

Paracatu a Carmo do Cajuru.

Maurício e sua futrura esposa, na cerimônia de casamento realizada pelo padre João Vilaça

Seus principais ensinamentos foram o que ele aprendeu com o pai,

Gustavo, que lhe escreveu numa carta: “Quando a situação apertar,

tenha confiança em si mesmo. Um homem deve sempre assumir suas

responsabilidades e compromissos”.

Sempre falava uma frase de autoria desconhecida que leu e gostou:

— “Nada sou e nada tenho, mas é pela simplicidade do meu nada que

te ofereço tudo”. Essa frase descreve bem o que foi vida dele.

Maurício Meireles foi um dos grandes colaboradores do futebol amador,

especialmente do Sport Club Cajuru, onde fez parte da diretoria.

Com grande sabedoria e habilidade, conseguiu proporcionar alegrias

e principalmente divulgar positivamente Carmo do Cajuru.

NOSSA GENTE

391


Conseguiu trazer aqui jogadores consagrados em nível estadual, nacional

e até ex-jogador campeão do mundo: o famoso Wilson Piazza,

Laci, Buglê, Eberval, Vanderlei, Amauri, Mussula, entre outros. Sabia

organizar, com muita dedicação, as festas e comemorações esportivas

em nossa cidade. Teve participação brilhante na organização da

festa de comemoração aos 50 anos do Sport. Tinha uma facilidade

incrível na parte de locução e dono de uma oratória atraente.

Maurício e esposa ao lado de familiares, em confraternização

Deixou um mistério para a família, segundo seu filho Gustavo Abib

Bechelaine. Era devoto de Santo Expedito e todo ano mandava pintar

a capela e, quando estragava, mandava reformar. Sempre fazia

isso por causa de uma promessa, que ele nunca revelou a ninguém.

“E lembro exatamente sua última frase comigo no telefone. Estava

a caminho de Belo Horizonte para o aniversário de uma

grande amiga, liguei para ele preocupado com o almoço do seu

neto João e do meu cunhado Pedro, ele disse: — Vai tranquilo

meu filho, estou no bar do Neri tomando minha pinguinha e já

vou para casa. Vai tranquilo que eu cuido de tudo — E cuidou,

cuidou de mim e de toda família até seu último dia. Viveu da maneira

que quis, deitou e morreu, do jeito que desejava, dormindo

igual um passarinho — revelou Gustavo.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 050, Nov. 2016

392 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

393


Messias Dias Barbosa Neto

Dilatai a fraternidade cristã, e chegareis das afeições individuais

às solidariedades coletivas, da família à nação, da nação à humanidade..

Ruy Barbosa

Messias Dias Barbosa Neto

Messias Dias Barbosa Neto

nasceu em 27/07/1956, filho de

Vicente Dias Barbosa e Haidée

Dias Duarte. Casou-se com uma

pessoa de coração generoso, a

senhora Evane da Silva Barbosa

Mano, aos 20 de novembro de

1987. Um casal que teve uma

bela convivência. Tiveram três

filhos criando-os com muita rigidez

e educação. Por tal razão,

hoje são pessoas estimáveis; Tamires,

atualmente exerce a advocacia,

João Paulo, educador

físico sócio da Academia Supremo

e Miguel, um adolescente

muito ativo e inteligente.

Nasceu em Carmo do Cajuru e começou a trabalhar muito cedo. Ajudava

seu pai no Cartório de Notas, desde os 12 anos; era excelente

datilógrafo. Aos 16 anos, mudou-se para São Paulo para dedicar-se

aos estudos. Lá cursou a faculdade de Direito e passou em vários

concursos do estado de São Paulo, tendo optado por entrar na Polícia

Civil, onde se aposentou como Delegado de Polícia.

* O colunista agradece a gentileza do testemunho da doutora Tamires, filha de Messias, na

elaboração desta crônica.

394 Célio Antônio Cordeiro


Messias com o caçula e a mãe Haidée Dias Duarte

Ao voltar para Carmo do Cajuru, trabalhou também no setor moveleiro,

fundando a Dinho´s Móveis. Também exerceu cargos políticos

municipais como vice-prefeito e vereador.

A esposa Evane e Messias

Tinha uma voz grossa imponente

e o dom da oratória. Conversava

muito bem e com todo tipo

de pessoa. Era dono de conselhos

admiráveis e tinha ideias

emblemáticas. Era uma pessoa

bastante inteligente. Gostava de

uma camisa gola polo e de um

sapato social engraxado.

Não se importava com ouro ou grife, preferia que a esposa costurasse

a seu modo. Andava com seus óculos pendurados por um barbante

preto para não perdê-los. Gostava de ir p’ro rancho, na barragem,

descansar e pescar até altas horas. Das pescarias às histórias contadas,

sentava num barco de alumínio olhando aquela imensidão de

água ou da varanda apreciando o fim de tarde.

NOSSA GENTE

395


Em memória e homenagem ao pai, assim escreveu Tamires:

“Tiveste uma existência luminosa

e breve como um sopro,

falecendo no dia 1 o de dezembro

de 2012, aos 56 anos de

idade. A doçura que expandia

dos seus lábios o fez estimado

por todos que o conheceram.

Jamais será esquecido, pois

tinha um coração nobre e caridoso.

Fez parte do Terço dos

Homens e difundia a palavra

de Deus por onde passava.

Deixou no coração da família

e amigos uma lembrança viva

que jamais se extinguirá. Seu

nome permanece como uma

bela herança”.

De fato, Messias, desde seus tempos de criança, sempre se mostrara

uma pessoa ponderada e solidária. Tinha uma facilidade incrível para

escrever e para falar em público. Dotado de excelente voz, tanto para

a parte da oratória quanto para cantar.

Recorda-se bem de vê-lo cantando a Ave Maria, em dois casamentos:

no de sua irmã e no seu próprio. Foram momentos que encantaram

muito as pessoas que ali estavam. Gostava muito de cantar também

em roda de conversas com amigos. Messias foi uma pessoa do bem e

sempre batalhou com muita dignidade por seus ideais.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 072, Set. 2018

396 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

397


Nagib Mileib

No mundo não tem boa sorte, senão quem teve por boa a que tem.

Luís de Camões

Esta crônica é dedicada a uma figura

ilustre de Carmo do Cajuru,

que muito contribuiu para seu

crescimento e desenvolvimento

através de seus inúmeros trabalhos:

Nagib Mileib.

Homem de rara inteligência e de

muita vocação ao trabalho. Nasceu

em Carmo do Cajuru, em 26

de junho de 1909, na comunidade

de Maribondo, filho único do

libanês Salim Mileib e de dona

Maria Alves Moreira e apadrinhado

na igreja Matriz de Nossa

Senhora do Carmo por Antônio

Gontijo e esposa.

Nagib foi alfabetizado pelo professor

Roberto Ferreira Mourão,

Nagib Mileib

carinhosamente chamado de

Mestre Roberto, estudando com ele até completar o antigo curso

primário. Passou então estudar no renomado Colégio Arnaldo, em

Belo Horizonte, em regime de internato, onde cursou os equivalente

aos 1o e 2o graus de hoje. Não chegou a cursar uma faculdade, pois

voltou para Carmo do Cajuru a fim de ajudar a família nos negócios.

Em 1927, retornou a Belo Horizonte para servir ao Exército. Jovem

alegre, extrovertido, gostava muito de festas.

398 Célio Antônio Cordeiro


Como não havia clubes sociais na cidade, ele mesmo organizava os

bailes de Carnaval, em área anexa à sua casa, sempre com o apoio

dos pais.

Nagib Mileib, aos 22 anos, foi um dos pioneiros a levantar a bandeira

da emancipação e criação do município de Carmo do Cajuru, em

1933. Em 1948, também estava atuante no movimento.

O vereador eleito Nagib Mileib (PRP), com vereadores e prefeito, na instalação do município (1949)

Em 11 de outubro de 1939, casou-se com a professora Margarida de

Oliveira, de cuja união nasceram os filhos Neile, Nagib Jr, Salim, Maria

Ângela e Ricardo.

Foi eleito vereador da primeira Câmara Municipal pelo PRP, em 1949

e, posteriormente, reeleito por mais dois mandatos. Exerceu a vereança

de maneira brilhante e de forma voluntária, sem remuneração,

como era naquele tempo.

NOSSA GENTE

399


Ele foi um dos maiores empresários da época na cidade, gerando

muitos empregos. Fazendeiro bem-sucedido, sempre se preocupava

muito com os moradores da zona rural, sempre procurando encaminhar

as demandas. Foi proprietário da fábrica de manteiga “São

Luiz”, que produzia as marcas “Neile” e “Realeza”. Tinha também

uma fábrica de banha, além da bonita loja de tecidos e armarinhos,

na rua Tiradentes, com o nome de “Casa Síria”.

Na década de 1960, ajudou na criação da Cooperativa dos Produtores

Rurais, onde foi presidente, diretor e secretário, também atuando

de forma voluntária.

Nagib era um grande amante de literatura brasileira e portuguesa.

Declamava versos de “Os Lusíadas”, de Camões, entre os amigos e

em família, sempre com o sotaque português.

Amava muito as atividades esportivas. Ajudou a fundar e jogou durante

algum tempo no Sporte Clube Cajuru e fez parte da sua primeira

diretoria, sendo o orador oficial. Era sócio de carteirinha do clube. No

cinquentenário do Sport, realizado no Estádio Batista Leite, esteve

presente durante a celebração da Missa e recebeu uma homenagem

antes do jogo, em 27 de setembro de 1971, como um dos grandes

beneméritos do Sport.

Nagib e dona Margarida, com familiares e amigos em momento social

400 Célio Antônio Cordeiro


Nagib Mileib sempre valorizou

o patriotismo e espírito cívico.

Não abria mão do direito de votar

e, em 1989, mesmo com a

saúde frágil, em consequência

de AVC, foi às urnas. Residia em

Divinópolis com a família, mas

mantinha o título de eleitor do

distrito de São José de Salgados.

Ao entardecer de 16 de outubro

de 1990, na sua residência, com

saúde bem debilitada, veio a falecer,

serenamente, ao lado de

sua esposa, filhas, genros, nora

e netos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 032, Maio 2015

NOSSA GENTE

401


Nagm Bechelaine *

No mundo não tem boa sorte, senão quem teve por boa a que tem.

Luís de Camões

Este cronista e seus irmãos celebram

uma data familiar. Aos

19 de junho de 1914, nascia em

Pará de Minas aquele que seria

nosso pai. Era o primeiro filho

de Maria José Mendonça de

Oliveira e do imigrante libanês

Moussa Tanius Bcheleny. O recém-nascido

recebeu o nome

de Nagm (pronuncia-se Nêjme)

que significa “estrela” ou “luz”,

na língua árabe.

O menino viveu poucos anos na

terra natal, pois a família mudou-se

para Itaúna. Lá freqüentou

o curso primário, no Grupo

Escolar que ficava onde hoje é o

prédio da Prefeitura Municipal,

O integralista Nagm Bechelaine

atrás da Matriz de Sant’Ana. Mas

cursou apenas três anos, pois

começou a trabalhar para ajudar em casa. Os tempos eram difíceis.

Iniciou como jornaleiro. Talvez daí se tenha despertado seu gosto

pela leitura, pela política e pelo cinema, onde vendia jornais, à noite.

Aprendeu também, com o tio Porfírio Mendonça, o ofício de padeiro.

Começou como empregado.

* O colunista agradece a gentileza do padre José Raimundo Batista Bechelaine em ceder

a crônica “Centenário em Família”, que homenageia Nagm Bechelaine.

402 Célio Antônio Cordeiro


Depois estabeleceu-se por conta própria, abriu a Padaria São José, que

o acompanhou, quando residiu em Divinópolis, em Carmo do Cajuru,

em Itaúna.

Um dos seus deliciosos pães, uma especialidade sua, inspirou um poema

de Maria Lúcia Mendes, escritora itaunense. Altivo Fernandes e

Cia., tradicional firma de Divinópolis, eram os fornecedores de matéria

prima. Naquela época, era-se simplesmente padeiro, comerciante,

fazendeiro, alfaiate, seleiro, sapateiro. Não se usava a palavra mágica:

empresário. São José era o santo da sua devoção.

Moussa (Moisés) Bechelaine mudou-se, com a família, para o então

distrito de Cajuru de Itaúna. Aqui e em Divinópolis, Nagm passaria a

juventude. Os Mileib constituíam uma numerosa família. Nagib Mileib

era um bem sucedido fazendeiro, comerciante e industrial, que fazia

também militância política. Era fervoroso adepto do integralismo,

doutrina política criada pelo escritor Plínio Salgado. As duas famílias

se aproximaram.

A jovem Jamile Bechelaine passou a trabalhar na loja do Nagib Mileib

Através dele, Nagm e a irmã Jamile ingressaram nas fileiras integralistas.

Vestiam a famosa camisa verde com o sigma simbólico, desfilavam

e discursavam, cantavam os hinos do movimento. Nunca esqueceu

os acontecimentos da Segunda Guerra e da ditadura de Getúlio

Vargas, que a sua geração vivenciou intensamente.

A professora Maria Batista de Sousa Leite e Nagm Bechelaine, ao lado filho José Raimundo

NOSSA GENTE

403


Em 8 de dezembro de 1945, ainda em Cajuru, Nagm Antônio casou-

-se com a professora Maria Batista de Sousa Leite. Em 47, nasceu o

primogênito. Dois anos depois, José Luís, o segundo filho.

Em dezembro de 1950, retornou a Itaúna, agora casado. Foram residir

num antigo casarão, na Rua Direita, hoje Avenida Getúlio Vargas.

Ali nasceriam os dois filhos mais novos, José Dimas e Maria José.

Prosperava na padaria e no comércio.

Aos domingos, costumava levar os meninos à missa das 9 horas e

depois à matinê, no Cine Rex. Gostava de filmes do gênero faroeste.

Visitava sempre os tios Mendonça: Vicente, João, Alzira, José e Isabel,

irmãos de sua mãe, que lá continuavam residindo. Em política,

continuava acreditando em Plínio Salgado.

Em 1956, um acidente quase lhe

tirou a vida e afetou-lhe parcialmente

o raciocínio e a memória.

Contra a sua vontade, pois

era um homem do trabalho,

teve que encerrar os negócios

e aposentar-se, alguns anos depois.

Todavia ainda viveria muito

tempo. Era bom leitor de livros,

revistas e jornais. Manteve-se

fiel assinante e leitor de “A Marcha”,

órgão da Ação Integralista

Brasileira. Não ouvia rádio nem

se interessou pela televisão.

Faleceu em Itaúna, em 2006, com 92 anos de idade. Foi sepultado

em Salgados, no túmulo da esposa. Seus filhos não o esquecem e comemoram

os cem anos do seu nascimento (José Raimundo Batista

Bechelaine).

JORNAL BOCA DA MATA, n. 022, Jul. 2014

404 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

405


Oswaldo Cândido de Almeida

A vida é uma verdadeira inspiração para aqueles que sabem

aproveitar as coisas simples de cada dia.

Sêneca

Oswaldo Cândido de Almeida,

muitas vezes lembrado como

Sô Oswaldo da Estação, filho de

José Cândido de Almeida e dona

Olentina Maria de Almeida, nasceu

a 22 de dezembro de 1925

em Azurita, distrito de Mateus

Leme.

Casado por 46 anos com dona

Maria Gonçalves de Almeida,

tiveram 9 filhos: Sebastião, Selma,

Sérgio, Osvaldo, Maria Silvânia,

Sílvio, Sirley Aparecida,

Sirlene Geralda e Antônio José.

Foi funcionário da Rede Ferroviária

Federal (RFFSA) por 39

anos. Como Agente de Estação,

Sô Oswaldo da Estação

trabalhou em diversas localidades

da região: Itaúna, Angicos, Folha Larga (município de Oliveira)

e Divinópolis. Em 1958, foi transferido para Carmo do Cajuru, onde

trabalhou até sua aposentadoria em 1987. Tratado carinhosamente

pelo apelido de Dico, por sua esposa, era conhecido em Carmo Cajuru

pela alcunha de “Oswaldo Conferente” ou “Oswaldo da Estação”.

Por onde passava fazia amigos.

* O colunista agradece a gentileza de Sílvio Gonçalves de Almeida na elaboração desta

crônica sobre seu pai, senhor Oswaldo Cândido de Almeida.

406 Célio Antônio Cordeiro


Destaca-se sua amizade com os senhores Joaquim “Querosene”, Tito

“Bananeira”, Anair, Abílio, r Carlos Guimarães e outros companheiros

de pescaria, sua diversão favorita. Sempre, em suas folgas, pegava

suas tralhas de pescador e ia para o rio Pará, ou para a Barragem,

“buscar” seus peixes.

Sô Oswaldo e os amigos de pescarias

Como pai de família, procurou educar seus filhos de forma carinhosa.

Ensinava a todos os filhos o respeito aos pais e às outras pessoas.

Tinha nos valores éticos, morais e religiosos, os fundamentos em sua

vida familiar e em sociedade.

Como profissional, atuou com responsabilidade e companheirismo

na rede ferroviária, sendo considerado por amigos e colegas de trabalho

um profissional responsável e referência para os colegas mais

novos. Sempre que procurado, tinha palavras de apoio e conforto aos

colegas.

Na vida religiosa, sempre atuou com dedicação à missão evangelizadora.

Nutria grande afeto pelo saudoso padre João Parreiras, e

dedicava-se a ajuda-lo em suas necessidades pastorais. Atuou como

ministro da Eucaristia, ministro da palavra e ministro das exéquias.

NOSSA GENTE

407


Trecho de uma oração católica popular, transcrita pelo senhor Oswaldo, como um lema de vida

Contudo, o que Sô Oswaldo mais gostava era do trabalho de missionário

da Semana Santa. Todos os anos saia em missão para “pregar”

a Semana Maior em comunidades rurais, coisa que fazia com carinho

e dedicação.

Senhor Oswaldo faleceu em 26 de agosto de 1997 deixando a seus

filhos e amigos*, um legado de dedicação à família, à comunidade e,

principalmente a Deus.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 059, Ago. 2017

* Sô Oswaldo, foi sempre exemplo de uma pessoa de fé e de muito desapego das coisas

materiais. Eu me considero um privilegiado por ter sido um grande amigo dele e de sua

querida família.

Lembro-me muito dos tempos de jovem, quando a televisão em Cajuru existia em

número muito reduzido. Eu ia até a casa dele assistir jogos de futebol e ficava encantado

com o acolhimento dele e de seus familiares à tanta gente. Às vezes, quando chegava em

sua casa, notava que a sala já se encontrava cheia; mas, antes de falar qualquer coisa, ele

dizia: — “A sala não é grande, mas há sempre lugar pra mais um” — E seu semblante era

alegre e acolhedor...

408 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

409


Oswaldo Diomar

A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado,

exemplo do presente, advertência do futuro.

Miguel de Cervantes

Nesta breve crônica, apresenta-

-se um pouco da bela trajetória

desse grande cajuruense, reverenciado

pelo muito que fez para

Carmo do Cajuru e o aprimoramento

da sociedade cajuruense.

Oswaldo Diomar, sem a menor

dúvida, é o maior historiador da

região, dedicando, voluntariamente,

boa parte de sua vida a

pesquisas e estudos sobre Carmo

do Cajuru, dos quais resultaram

extraordinárias obras de

história.

No início de um de seus livros, o

pesquisador Guaraci de Castro,

afirma: “Owaldo Diomar é um

O jovem Oswaldo Diomar

dos filhos mais ilustres de Carmo

do Cajuru. Merece estar na galeria dos grandes benfeitores e beneméritos

de sua Comunidade”.

Oswaldo Diomar nasceu na fazenda Tuviva, no município, em 15 de

março de 1935. Filho de Diomar Francisco e Geralda Nogueira da

Conceição, sendo neto paterno de Francisco Vicente da Cunha e Ana

Maria de Jesus. Do lado materno, Miguel Nogueira Filho e Ascendina

Maria da Conceição.

410 Célio Antônio Cordeiro


O historiador Oswaldo Diomar divulga seu livro sobre a história de Carmo do Cajuru

Casou-se no dia 16 de julho de 1970, na matriz Nossa Senhora do

Carmo, com Dalva Maria da Silva, com quem teve seis filhos: Helder,

Emerson (Gu), Wander, Marlon, Raquel e Henrique.

Era formado em Letras (Portugues – Inglês) pela UFMG e fez curso

de Francês na Aliança Francesa de Belo Horizonte, onde estudou até

o 5º ano. Estudou Latim no antigo Ginásio e Espanhol no curso Clássico.

Começou sua carreira profissional no magistério, lecionando

em várias escolas de Belo Horizonte em 1966, depois de ter exercido

diversas outras profissões.

Em 1973, voltou para sua terra natal, onde lecionou Português, Inglês

e Francês, na Escola Estadual Pe. João Parreiras Villaça, da qual foi vice-diretor

e diretor por algum tempo. O professor Oswaldo lecionou

também na antiga Escola Polivalente de Oliveira, Itaúna e Divinópolis.

Aposentou-se em dois cargos de 2º Grau pelo Estado.

Na política municipal, foi vereador de 2001 a 2004. Apesar de ter

exercido o Magistério por vocação, sua maior paixão foi pesquisar e

escrever, atividade que foi despertada desde seus tempos de infância.

Fez centenas de pesquisas sobre a história de Carmo do Cajuru

e região, em várias cidades, com muito empenho e muito sacrifício

para chegar a escrever suas grandes obras com recursos próprios.

NOSSA GENTE

411


A máquina de escrever utilizada por Oswaldo Diomar para redigir os originais das suas obras

Dentre essas obras, destacamos “História de Carmo do Cajuru”, edições

1 e 2. Publicou também uma obra de grande relevância: “Genealogia

de Carmo do Cajuru”. Escreveu dezenas de artigos publicados

em jornais locais, sobre a História Municipal. Posteriormente ainda

foram publicadas mais algumas importantes obras, como: “A Escravidão

Negra em Carmo do Cajuru”, “Panela sem Tampa” e “Poemas

Inacabados”.

O casal Dalva Maria e Oswaldo Diomar

Foi uma pessoa que se preocupava

muito com os menos favorecidos,

por isso era vicentino

de longa data e foi rotário por

algum tempo. Foi membro e fez

parte de diretorias de dezenas

de entidades filantrópicas em

Carmo do Cajuru e em outras cidades

da região.

412 Célio Antônio Cordeiro


Membro da Academia Divinopolitana

de Letras (ADL) de 2009

até a sua morte. Ao longo dos

anos de vida, recebeu inúmeras

homenagens em reconhecimento

pelos grandes feitos educacionais

e culturais dedicados ao

município e ao povo local.

Em 19 de julho de 2015, vítima

de um infarto agudo, Oswaldo

Diomar partiu para a vida eterna,

deixando muitas saudades

aos familiares e amigos, e um

legado importante para “nossa

gente” que, em suas obras pode

observar as suas raízes e valorizar

os vultos do passado.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 098, Nov. 2020

NOSSA GENTE

413


Rafael Gomes Avelar

A felicidade não está em viver, mas em saber viver.

Não vive mais o que mais vive, mas o que melhor vive.

Mahatma Gandhi

Rafael Gomes Avelar nasceu em

Carmo do Cajuru, em 14 de março

de 1934. No dia 2 de março

de 1957, em uma celebração realizada

na Igreja Matriz de Nossa

Senhora do Carmo casou-se

com Maria Lúcia de Sá. O casal

teve três filhos: Geraldo Lúcio,

Isa Lúcia e Rafael.

Na vida escolar, Rafael do Lete,

assim conhecido popularmente,

fez os seus primeiros estudos no

Grupo Escolar Princesa Isabel e,

posteriormente, no conceituado

Colégio São Geraldo de Divinópolis.

Já na vida profissional, foi

alfaiate, oficial de justiça, Comissário

do Menor, trabalhou na

Rafael do Lete

Escola Pe. João Parreiras Villaça

e exerceu também a função de mestre de obras, dirigindo com muita

competência a obra da construção do memorial do Pe João Parreiras

Villaça, na Praça do Cruzeiro.

Ainda muito jovem, começou a se destacar como um grande atleta e

brilhou como um dos maiores goleiros de nossa região. Defendeu a

camisa do glorioso Tupy Futebol Clube durante vários anos.

414 Célio Antônio Cordeiro


O famoso goleito do Tupy, Rafael do Lete

Rafael tinha também o seu lado artístico. Atuou no teatro amador e

era amante da boa música, fazendo parte do grupo de seresta. Gostava

muito do Carnaval, no qual foi o Rei Momo por diversas vezes.

Rafael e dona Maria Lúcia, em noite festiva

NOSSA GENTE

415


Rafael com esposa Maria Lúcia, filhos e netos

Cristão fervoroso e atuante, juntamente com o grande amigo José

Dias Barbosa, se tornaram os primeiros cursilhistas da cidade. Durante

vários anos, trabalhou muito em prol da igreja em diversos setores.

Foi ministro da Palavra, membro do Conselho Pastoral paroquial,

vicentino e, por muitos anos, um dos grandes líderes de comissões

de festas religiosas celebradas pela Paróquia Nossa Senhora do Carmo.

No Museu, existem dezenas de programas de festas religiosas e

o nome dele sempre aparece em diversas comissões.

Foi um confrade que se dedicava de corpo e alma a serviço dos mais

necessitados na SSVP. Participou ativamente na construção da maior

obra de assistência social de nossa cidade - a Vila Vicentina. Sempre

ao lado de Amintas Rosa e vários outros amigos que abraçaram também

a construção desta grande obra. Foi presidente da Vila Vicentina,

desenvolvendo um grande trabalho em sua gestão.

Uma das últimas causas que ele abraçou com muito entusiasmo e

dedicação, foi à Casa de Recuperação Novo Horizonte, localizada na

comunidade de Ribeiros. O projeto desta obra benemérita, que sempre

abre novos caminhos para jovens e adultos recebeu dele desde o

início apoio e presença constante.

416 Célio Antônio Cordeiro


No dia 4 de janeiro de 2004, Carmo

do Cajuru recebeu com muita

surpresa e tristeza a notícia

de seu falecimento.Foi sepultado

no Cemitério do Bonfim, depois

de comovente velório.

Figura humana das mais estimadas,

Rafael soube fazer muitos

amigos. Pessoa generosa e de

grande espírito altruísta, entregava-se

com muito prazer aos

trabalhos de assistência social e

religiosa.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 033, Jun. 2015

NOSSA GENTE

417


Sebastião Ferreira Vilela

Existe um tempo para ousadia e um tempo para cautela,

e o homem sábio sabe o momento de cada um deles.

Sociedade dos Poetas Mortos

Nesta crônica, destacamos para

homenagear uma pessoa muito

importante para grandeza da

querida Carmo do Cajuru: Sebastião

Ferreira Vilela, mais conhecido

como Tiãozinho Vilela.

Sebastião Ferreira Vilela

Nascido em 22 de maio de 1938,

na comunidade de Ribeirão do

Servo, município de Cláudio, filho

de João Vilela da Fonseca

e Ambrosina Ferreira de Jesus.

Era uma família numerosa com

mais nove irmãos: Maria Vilela

(Preta), João Vilela, Vitalina Vilela,

Ana Vilela, Maria Jose (Doca),

Otávio Vilela, Luiz Vilela, Silvino

Vilela e Jose Vilela (falecido aos

13 anos).

Agricultor nos tempos de criança, mudou-se para Carmo do Cajuru,

juntamente com sua família. Quando jovem, serviu ao Exército

Brasileiro na cidade de Itajubá no ano de 1960. Quando retornou em

1961, abriu uma marcenaria na praça Presidente Vargas (da Estação).

Naquela época, chegou a fabricar caixões para pessoas carentes. Mudou

de profissão e tornou-se um dos primeiros serralheiros de nossa

cidade, profissão que exerceu até os anos 1990. Nessa profissão,

conseguiu formar vários serralheiros, hoje muito atuantes na cidade.

418 Célio Antônio Cordeiro


Ainda nos tempos de juventude, fez parte da Congregação Mariana,

confrade vicentino da Conferência São Luiz Gonzaga e fez parte do

Movimento de Cursilho de Cristandade da Diocese. Conforme registro

em programas de festejos religiosos, sempre era convidado pelo

padre João a integrar nas comissões de festas, como: festa de São

Cristóvão, barraquinhas das festas da padroeira e Semana Santa.

Em 7 de julho de 1962, casou-se com Alzira Nogueira de Souza (Neca).

O casamento seria em maio, mas teve que ser adiado por causa do

falecimento do senhor João Vilela, seu pai. Desse casamento foram

gerados os filhos: Edson, Edber e Elaine Cristina.

Em 1995, tornou-se empresário da indústria de fabricação de mangueiras

para a construção civil e irrigação. Foi associado da Cooperativa

de Produção. Foi o primeiro produtor rural a acreditar e praticar

a cultura da plantação do arroz em terra seca, o que em tempos passados,

somente ocorria em várzeas.

O agricultor Tiãozinho Vilela

Além de amar muito todos os

trabalhos que desempenhava,

gostava e tinha talento para a

política. No período de 1974 a

1977, foi vereador da Câmara

Municipal, época em que o trabalho

exercido não era remunerado

como nos tempos atuais.

Por duas vezes, foi eleito

vice-prefeito: em 1971, de José

Mateus Filho; em 1978, de João

da Mata Nogueira. Com o afastamento

do prefeito por alguns

meses, assumiu interinamente o

cargo de prefeito. Apesar de ter

sido um curto período, realizou

algumas obras importantes para

a comunidade.

NOSSA GENTE

419


Com a grande enchente em 1979, que derrubou a ponte sobre o ribeirão

do Empanturrado, próximo onde hoje está o Posto Pontilhão,

coube-lhe a construção de uma ponte grande e muito segura, para

suportar o grande volume de água que por ali passa nas cheias.

Construiu também a capela de São Miguel, no centro do Cemitério

Municipal do Bonfim. Em se mandato, teve também um grande zelo

na conservação das estradas rurais, o que facilitou a vida dos produtores

e moradores rurais.

Foi muito próximo de políticos estaduais influentes como Aureliano

Chaves, Levindo Ozanan Coelho e Oscar Dias Correia. Quando

jovem, era uma pessoa muito comunicativa e de fino trato, o que o

fazia cercar-se de grande número de amigos. Gostava muito de jogar

futebol e como amante da música, sabia tocar cavaquinho.

Integrou com os amigos Izidoro Fonte Boa, Dirceu Maia, Antônio

Valeriano e seu irmão Otávio Vilela a comissão que fazia o palco de

madeira, em frente a Igreja Matriz, nos anos 1950 e 1960. O local, que

ficou muito na memória dos mais veteranos, foi onde se iniciou os

quadros vivos da Semana Santa, introduzidos sob a direção da Igreja.

Tiãozinho e Dona Alzira, com o filhos Edber, Elaine Cristina e Edson

420 Célio Antônio Cordeiro


Dona Alzira e Tiãozinho

Na vida social, contribuiu muito com o lazer urbano, depois que construiu

o prédio na praça Presidente Vargas, onde funcionaram o Clube

dos Vinte, do qual foi um dos fundadores, as discotecas e danceterias.

No mesmo prédio, em 25 de janeiro de 1982, foi instalado o Rotary Clube

de Carmo do Cajuru como sede das reuniões mensais e festivas. Ele

foi um dos rotários da época da fundação, entidade muito importante

para Carmo do Cajuru, que desenvolve muitos serviços sociais em prol

do povo.

Em 4 de fevereiro de 2009, em decorrência de uma enfermidade, partiu

para o plano de cima, abrindo uma lacuna de muita saudade nos familiares

e amigos, deixando legados importantes como a honestidade

e a honradez.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 100, Jan. 2021

354 Célio Antônio Cordeiro


Vicente Alves dos Santos

Tudo aquilo que se faz com amor e dedicação, terá com certeza um belíssimo resultado,

porque ali, Você depositou um pedacinho de si mesmo.

Célia Cristina Prado

Provindo de uma família numerosa,

Vicente Alves dos Santos ou Vicente

Carreiro levou sempre uma vida

na simplicidade, na dedicação e no

amor ao trabalho. Era assim que

conseguia sucesso e bons resultados

em tudo que era que se propunha

a desempenhar.

Nasceu em 20 de dezembro de

1942, na fazenda Campo do Meio,

região de Ribeiros, filho de dona

Maria do Carmo dos Santos e José

Carreiro dos Santos. Foi o segundo

filho do casal e teve como irmãos:

Maria Madalena, Glória Maria, Galdino,

João, José Gabriel, Teresinha,

Angelina e Geraldo Donizete.

Viveu no meio rural até aos 12

Vicente Carreiro

anos de idade (1955), quando

veio com os familiares, morar

em Carmo do Cajuru, na antiga casa de Cecília Teodoro, na rua Rui

Barbosa. Na época, passou a conciliar os seus estudos no Grupo Escolar

Princesa Isabel, com os serviços no comércio de seu pai, na rua

José Demétrio Coelho. Ainda na juventude, matriculou-se no Colégio

Dom Bosco, primeira escola com o curso ginasial na cidade.

Na juventude, chegou a trabalhar na Olaria, que pertencia a Pedro

Emídio Faleiro. Posteriormente, passou a trabalhar por conta própria,

em um botequim, ao lado da casa de Rafael Gomes (Lete).

422 Célio Antônio Cordeiro


Vicente Carreiro, o pai e irmãos, no quintal com aves silvestres soltas

Foi nesta época, que conseguiu uma economia e começou a construir

sua casa no bairro Bonfim, com um ponto para comércio. A partir daí,

começou o seu sucesso no ramo. Com muita habilidade e dedicação,

conseguiu angariar um grande número de clientes e amigos e seu comércio

se expandia cada vez mais.

Depois de conhecer a jovem Maria das Graças Barbosa, namoraram

por alguns anos, vindo a se casar em 10 de maio de 1969, na igreja

matriz Nossa Senhora do Carmo, em cerimônia celebrada pelo padre

João Vilaça

Por ter sido celebrado em um horário incomum (6h30), segundo informações

de seus filhos, gostava muito de contar para os amigos

esse fato. Deste relacionamento, tiveram três filhos: Gerson, José

Maria e João Paulo.

Em 22 de fevereiro de 1980, mudou-se para a praça Vigário José Alexandre

e passou para uma nova etapa de sua vida de comerciante,

abrindo uma distribuidora de gás.

NOSSA GENTE

423


Nos anos 1980, possuía também

uma propriedade rural, onde

tinha sua produção de leite. Filiou-se

ao Sindicato Rural e se

tornou associado da Cooperativa

Regional dos Produtores Rurais,

para onde mandava o leite

produzido na roça. Foi um período

de muita batalha, que compensou

muito pelos frutos desse

período.

Começou a investir em compra

de imóveis, telefonia e crédito,

o que o transformou em uma

pessoa bem-sucedida financeiramente.

Sempre amou muito o

trabalho e a vida.

Tinha uma paixão pela criação de pássaros, tanto em sua residência,

quanto na propriedade rural. Gostava muito de colecionar álbuns de

figurinhas. Divertia-se muito com o cinema, vendo os famosos filmes

de faroeste italiano no Cine Carmo, de Candico Guimarães.

Desde bem jovem, começou a frequentar o campo do Tupy Futebol

Clube, onde foi um grande atleta titular por muitos anos, conquistando

títulos pelo alvinegro cajuruense. Teve também uma passagem

pelo Sport Club Cajuru.

Grande homem, que soube ser um bom esposo e um pai exemplar.

Dando bons exemplos de honestidade e dedicação ao trabalho. Uma

pessoa muito carismática, alegre e brincalhona. Sempre bem-humorado

e disposto a ajudar a quem o procurasse.

Em decorrência de uma enfermidade, veio a falecer em 19 de agosto

de 1998, ainda jovem. Deixou muita saudade aos familiares e amigos.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 089, Fev. 2020

424 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

425


Vicente Dias Barbosa

Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.

Aldous Huxley

Carmo do Cajuru, sempre foi uma

terra privilegiada, por ter tido aqui

grandes vultos, que com seus feitos

e belos exemplos deixaram seus

nomes gravados nos anais de nossa

história.

Vicente Dias Barbosa, carinhosamente

chamado por todos, como

“Dinho do Messias”, é um notável

exemplo, que com muito amor e

muita dedicação muito fez em prol

de nossa gente.

Vicente Dias Barbosa

Dinho do Messias, nasceu em Carmo

do Cajuru, em 25 de fevereiro

de 1933, filho do casal Messias Dias

Barbosa e Amélia Augusta Conceição.

Fez os seus primeiros estudos,

no tradicional Grupo Escolar Princesa

Isabel, sempre demonstrado

ser aluno dedicado e inteligente.

Prosseguindo seus estudos, matriculou-se no Colégio São Geraldo de Divinópolis

e posteriormente no Colégio Santana de Itaúna. Na vida profissional,

trabalhou como Agente Estatístico na cidade de Carmópolis de Minas.

Voltando a sua terra natal, trabalhou por um bom tempo como Escrivão

Judicial e Tabelião do Cartório de Notas.

Dinho se destacou muito pelo seu desprendimento e por sua grande vontade

de ajudar aos outros, sempre com trabalhos importantes e voluntários.

426 Célio Antônio Cordeiro


Em 21 de junho de 1955, casou-se com Haidée Dias Duarte, sendo que deste

casal, surgiram três filhos: Messias Neto, Aparecida Áurea e Jordânia.

Como descendentes, seis netos: Fernanda, Humberto, Tamires, João Paulo,

Miguel e Crispim Junior. Tendo também um bisneto, ou seja, o Gabriel.

Foi vereador por duas legislaturas consecutivas, de 1960 a 1963 e de 1964

a 1967, sendo que o trabalho prestado na época era totalmente voluntário.

Foi vicentino e sempre presente em eventos civis, religiosos e esportivos

e outros eventos em que foi por várias vezes, atendendo convites que lhe

eram feitos. Está entre os principais músicos de Carmo do Cajuru. Sabia

executar de forma notável, os instrumentos de sopro, cordas e teclado. Era

possuidor de excelente voz que encantava muito quem a ouvia. Foi amante

também de uma boa seresta.

Dinho do Messias, integrando a histórica Banda Santa Cecília

Teve uma brilhante atuação na Banda Santa Cecília, hoje Associação Musical

Cajuruense, chegando a ser, além de um dos melhores músicos da banda,

sendo também o regente da mesma. Foi um membro atuante e regente

do Coro e Orquestra da Matriz nos principais eventos religiosos.

NOSSA GENTE

427


Quem teve a oportunidade de conviver

com esse notável ser humano,

sempre lembra de seus grandes

serviços, de sua arte e de sua maneira

simples de lidar com o povo,

sem esquecer jamais o seu lado de

grande esposo e de um ótimo pai

de família.

Pelos desígnios de Deus, Dinho se

foi ainda muito jovem, com apenas

37 anos, falecendo em 12 de janeiro,

de 1970.

Seu nome ficará para sempre, na

lembrança não somente de seus

familiares, como também dos amigos

e dos cajuruenses.

Em Carmo do Cajuru, seu nome

está eternizado, na denominação

O casal Haidée e Vicente

do Fórum e de uma das principais

ruas. Foi lembrando também entre

outras homenagens, com a Comenda Caa-yuru (post-mortem), pela Câmara

Municipal de Carmo do Cajuru.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 016, Jan. 2014

428 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

429


Vicente José Pereira

A vida começa com um simples amanhecer, cresce com alegrias

e tristezas e termina com as reflexões sobre a vida.

Celino Rojas

Nascido em Carmo do Cajuru em 22

de novembro de 1949, Vicente José

Pereira, mais conhecido por Vicente

Vieira, foi o quinto filho de José

Pedro Jacinto e Maria Benvinda de

Faria, uma família numerosa composta

de 11 irmãos. Ele tinha uma

vida modesta, mas sempre com

muita dedicação ao trabalho.

Vicente José Pereira

Desde jovem, desenvolveu sua

grande vocação de trabalhar como

açougueiro e gostava muito do trabalho

rural. Foi por muitos anos,

associado da Cooperativa de Produção,

oferecendo frutos do seu

trabalho.

Em 4 de setembro de 1971, casou-se com Terezinha Alves de Souza Pereira.

Dessa união nasceram seus seis filhos: Heráclio, Estácio, Evaristo, Éder,

Efraim e Suzana. Influenciados pela profissão do pai, vários deles seguem

ativos no mesmo ramo. Assim como sua esposa, ele amava muito sua vida,

mesmo quando a vida colocava as dificuldades do dia a dia como prova.

Nas férias, gostava muito de viajar com seus amigos próximos e familiares,

principalmente para as praias do Espírito Santo, suas favoritas.

Vicente foi figura marcante e muito importante em vários setores ligados

ao meio rural e social. Deu importante colaboração ao seu amigo Leonardo

Fonseca Rabelo, na fundação do famoso “Cajuru Rodeio Show”. Nessa

mesma época, em um incansável trabalho de organização e apoio de amigos,

promoveu a primeira cavalgada da cidade, na década de 1980.

430 Célio Antônio Cordeiro


Vicente em confraternização familiar com os pais, a esposa Terezinha e filhos (1994)

Vicente Vieira em roda de amigos, na praia de Piúma/ ES

NOSSA GENTE

431


Vicente Vieira em sua montaria

Foi um grande colaborador nas realizações dos torneios leiteiros e leilões

de gado e membro ativo do Sindicato Rural de Carmo do Cajuru por alguns

anos. Desde os tempos do saudoso padre João, sempre era indicado para

comissões de leilões de gado da Festa de São Sebastião, onde desempenhava

seu papel com enorme dedicação. Além disso, por alguns anos,

atuou como figurante nas apresentações da Semana Santa, mostrando e

colocando em prática seu lado religioso.

Depois de ficar viúvo, passou a conviver com duras provações de doenças.

Em 16 de agosto de 2012, já com a saúde muito fragilizada veio a falecer.

Vicente teve uma vida cheia de desafios, vencidos com dedicação ao trabalho,

simplicidade e resignação.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 051, Dez. 2016

432 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

433


Waldemar Batista Marra *

ANenhum homem tem o dever de ser rico, grande ou sábio;

mas todos têm o dever de serem honrados.

Rudyard

O Mário alfaiate ou Mário Marra,

como era conhecido, na verdade

chamava-se Waldemar Batista

Marra. Era filho de João Marra da

Silva e de dona Clementina Elvira

da Silva (Tinica). Nasceu no Ribeirão,

município de Cláudio. Era irmão

de Maria (Maria do Tavico), de

Teresinha (Teresa do Heli Maia), de

Elvira e de Sebastião (Tão).

Waldemar Marra, ou Mário Alfaiate

O senhor João Marra, seu pai, mudou-se

com a família para Carmo

do Cajuru, na década de 1930. Moravam

em uma casa localizada mais

ou menos onde hoje está a Marfe,

esquina da rua Cônego João Parreiras

com a José Demétrio Coelho.

Em 1939, mudaram-se para São José do Salgado, porque João Marra, que

era carapina, havia sido contratado para colocar o forro na igreja de lá. A

família morava em uma casa cedida pelo senhor. Jusa, fora do povoado.

O Mário já trabalhava, conduzindo bois para fazendeiros, capinando, buscando

lenha no cerrado. Seu pai sofreu um derrame que deixou parte do

seu corpo paralisado, impedindo-o de trabalhar, a partir daí a família viu-se

numa situação severa, já que não havia assistência social governamental,

pelo menos para eles não houve. Seu pai sofreu novo derrame que lhe ceifou

a vida em 1946.

* O colunista agradece a gentileza de Denio Marra na elaboração desta crônica sobre seu

pai, senhor Waldemar Batista Marra, o Mário Alfaiate.

434 Célio Antônio Cordeiro


Em dificuldades, já que sua mãe sofria constantes e agudas crises asmáticas,

a família transferiu-se para Carmo do Cajuru, morando em uma casinha,

que ele dizia ser “casa de S. Vicente”. Referia-se a algumas casinhas

destinadas a famílias carentes que ficavam na atual rua Vicente Dias Barbosa,

para os lados do bairro São Luiz.

Em Cajuru, pelas ruas, Waldemar vendia pães fabricados pelo senhor Antenor,

e também doces e biscoitos feitos por dona Licota. Quase não tinha

tempo para estudar, como ele contava, “fazia o dever de casa pouco antes

do início das aulas”, na Escola Princesa Isabel. Dizia que havia muitos alunos

bagunceiros e por isso a turma ficava de castigo depois das aulas, mas a

professora o liberava por saber que ele tinha que vender pães para comprar

a injeção que sua mãe precisava para aliviar as crises de asma, injeções que

eram vendidas e aplicadas pelo sr. Jehovah Guimarães ou pelo senhor Firmino,

farmacêuticos da época.

Mário Alfaiate, ou Waldemar Marraem sua máquina de costura

Paralelamente, aprendia o ofício de alfaiate com o senhor José Mateus Filho.

Em pouco tempo, novo golpe: sua mãe, que não tinha 40 anos ainda,

após constantes e graves crises de asma, veio a falecer. Aos 17 anos, Mário

havia perdido pai e mãe. Naqueles momentos, ficou patente a ausência do

Estado em assistir famílias e pessoas em dificuldades, mas valeu-lhes a caridade

das pessoas e o apoio da Sociedade São Vicente de Paulo.

NOSSA GENTE

435


Ele trabalhou na loja de Acácio Ferreira;

na construção da barragem;

e morou em Itaúna, onde conheceu

sua esposa Maria Aparecida e se

casaram em 1959. De Itaúna, o jovem

casal mudou-se para Caconde,

no interior de São Paulo. Ali nasceu

o primeiro filho, Telmo, e onde está

sepultado.

De Caconde mudaram-se para Carmo

do Cajuru, onde ele continuava

costurando e fabricando pães. Mas

'Mário' Alfaiate e dona Maria Aparecida

os tempos eram difíceis. Então,

mudaram-se para São José do Salgado onde sua esposa lecionava e ele

continuava costurando, fazendo carvão e tirando leite, em propriedade do

senhor Concesso. O casal já contava 3 filhos, Décio, Dilene, Dênio quando

nasceu o caçula, Demétrio, que está sepultado em São José do Salgado.

Daí a família mudou-se para Paraibuna, interior de São Paulo, onde Waldemar

montou um bar. Esse bar, ele vendeu para o senhor Antenor, que se

transferiu com sua família para Paraibuna.

De Paraibuna, o Mário mudou-se com sua família para Carmo do Cajuru,

onde continuou como alfaiate, comerciante e “mexendo” na roça. Gostava

de ficar por dentro da política e de futebol; dizia que a renúncia do Jânio

Quadros “bagunçou” o Brasil, e apesar da pouca instrução falava que era

um absurdo uma pessoa ser perseguida por causa de política. De todas as

vezes que morou fora de Cajuru sempre era seu intento voltar. Dizia sempre

que Cajuru é a terra boa.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas na infância e juventude, foi

uma pessoa alegre, de vida simples e que gostava da terra onde viveu a

maior parte de sua vida. Faleceu em 28 de junho de 2016, deixando saudades

aos familiares e amigo,que nunca se esquecem dele. Foi um grande

“guerreiro”, que não desanimou diante dos sacrifícios e seguiu em frente

em busca de seus sonhos. Marcou sua passagem e deixou um legado de

perseverança e honestidade exemplares.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 073, Out. 2018

436 Célio Antônio Cordeiro


NOSSA GENTE

437


Wanderley Domingos

A grandeza de um homem não está na quantidade de riqueza que ele adquire,

mas em sua integridade e habilidade de afetar positivamente as pessoas ao redor.

Bob Marley

Wanderley Domingos Belém

Wanderley Domingos, filho de Domingo

do Rosário e Maria Rosa Moreira,

nasceu em São João Del Rei.

Ainda na infância, veio para Carmo

do Cajuru, onde no seio da família,

foi educado a amar a cidade que

conhecera. Não fez boa caminhada

na escola, mas seu carisma conquistou

muitas pessoas e fez belas

amizades.

Na chegada do pároco padre João

Parreiras Villaça para Carmo do Cajuru,

enquanto esperava por passageiros

do trem para carregar malas,

foi surpreendido pelo padre que o

chamou para ajudar a carregar a

sua bagagem até a casa paroquial.

Isso foi em 6 de janeiro de 1949,

fato esse marcante que o alegrou

muito.

Era aventureiro, gostava muito de nadar no ribeirão do Empanturrado, barragem

e rio Pará, locais que o conheceram muito bem. Salvou muitas vidas

em afogamentos; mas, teve muitas tristezas, ao retirar corpos inertes das

águas.

Gostava muito de música. Tocou na Banda Santa Cecília local, promovia

bailes, carnavais e não largava seu banjo de quatro cordas, que gostava de

dedilhar com arte.

438 Célio Antônio Cordeiro


Wanderley Domingos Belém, o atleta

Wanderley Domingos Belém, o músico

NOSSA GENTE

439


Era o primeiro Capitão Regente da

Guarda de Congo e com muita responsabilidade

e zelo a conduzia na

Irmandade N. Sra. do Rosário.

Foi um jogador de futebol que se

destacou muito. Jogou no Tupy

Futebol Clube por muitos anos.

Chegou a ser profissional no Siderúrgica

de Sabará, que disputava

o campeonato mineiro. Não conseguindo

encarar as chamadas

concentrações, voltou para Carmo

do Cajuru, jogando novamente no

Tupy e depois jogando também no

Sport Club Cajuru.

Casou-se com Alice Raimunda Domingos

e foram pais de nove filhos

dos quais cinco sobreviveram. São

Wanderley Belém, na banda Santa Cecília

eles: Maria Domingos, Maria Eunice,

José Domingos, Vanderley Aparecido e Geraldo Wanderley. Estes receberam

uma zelosa educação para a vida e hoje se sentem orgulhosos com

todo aprendizado. Viveu casado com Alice, por vinte e seis anos, ela vindo

a falecer com problemas cardíacos. Mais tarde, casou-se com Rita Maria e

com ela viveu por onze anos sem adquirir família.

Quando recebeu de seu irmão Geraldo Domingos o comando geral da Irmandade

Nossa Senhora do Rosário, já se encontrava com problemas sérios

de saúde e conseguiu muito pouco ver a movimentação da festa do

Reinado e vindo a falecer pouco tempo depois, em 10 de abril de 1991.

Belém como era conhecido, deixou para os filhos uma bagagem cultural e

um legado de bons exemplos muito grandes.

JORNAL BOCA DA MATA, n. 092, Maio 2020

440 Célio Antônio Cordeiro




NOSSA GENTE


Nossa Gente: Crônicas,

de Célio Antônio Cordeiro,

foi impresso em papel Polen Soft 80,

fonte Corbel, em Belo Horizonte,

para Geec Publicações.

Abr. 2021

F



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