CANABIDIOL ASSOCIADAS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS
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DISTÚRBIOS DO SONO NO POLICIAL MILITAR
turno regular (RR= 14,27; intervalo de confiança de 95% [IC],
1,98-102,95, p <0,001) e o risco relativo de qualidade geral
do sono ruim para os que dormiram menos de 6 horas foi de
2,44 (IC 95%, 1,15 - 5,20, p = 0,27), (RAMEY, 2012). A ocorrência
de acidentes relacionados ao sono em policiais italianos
que trabalham em turno foi significativamente aumentada e
relacionada à presença de indicadores de distúrbios do sono
(GARBARINO, 2001).
Também é amplamente estabelecido que policiais com
curta duração ou má qualidade do sono relataram mais sintomas
de estresse, burnout e depressão (YOO; FRANKE, 2013).
Rajaratnam (2011) e colaboradores, ao realizar seguimento
mensal ao longo de dois anos em 4957 policiais militares,
encontraram, nos que apresentaram triagem positiva para distúrbios
do sono (em comparação aos com baixa probabilidade
para as patologias estudadas): maior chance de cometer erro
administrativo (17,9% x 12,7%), com razão de chances ajustada
[OR] 1,43 [IC 95% 1,23-1,67]); de adormecer ao volante
(14,4% x 9,2%) com OR ajustada 1,51 [IC 95%, 1,20-1,90]);
erro ou violação da segurança atribuídos à fadiga (23,7% x
15,5%), OR ajustada 1,63 [IC 95% 1,43-1,85]); maior incidência
de desfechos adversos (descontrole da raiva em suspeitos
(34,1% x 28,5%), OR ajustada 1,25 [IC 95% 1,09-1,43]) ;
absenteísmo (26,0% x 20,9%), OR ajustada 1,23 [IC 95%
1,08-1,40] e maior chance de adormecer nas reuniões (14,1%
x 7,0%), OR ajustada 1,95 [IC 95% 1,52-2,52]).
O trabalho em turno afeta múltiplas funções fisiológicas,
neuroendócrinas e hormonais. Dessa forma, altera as respostas
hormonais ao estresse, no qual o cortisol atua como um intermediário
biológico crítico. Portanto, a resposta de despertar
do cortisol é sugerida como índice primário da tolerância ao
trabalho por turnos. Ao estudar 25 jovens policiais no intervalo
entre cerca de 4 e 14 meses após a transição do trabalho do dia
normal para o trabalho rotativo rotativo, Lammers e Kerkhof
(2015) mostraram que os valores médios de cortisol começaram
a aumentar desde a linha de base até significativamente níveis
mais altos em cerca de 14 meses após o início do trabalho por
turnos. No entanto, um subgrupo de 10 sujeitos seguiu uma
tendência monotonamente ascendente, enquanto outros 14 sujeitos,
após um aumento inicial de cerca de 4-14 meses, reverteu
para uma menor resposta do cortisol no nível basal em cerca de
20 meses após o início do trabalho por turnos. Se o aumento
inicial na resposta ao cortisol marcar o desenvolvimento de uma
resposta crônica ao estresse, a reversão subsequente aos níveis
iniciais no subgrupo de 14 participantes pode ser indicativa de
um processo de recuperação, possivelmente o desenvolvimento
da tolerância ao trabalho por turnos.
Essa tolerância deve-se a complexas interações entre susceptibilidade
genética (cronotipos), hábitos de vida prévios e
da resposta adaptativa do indivíduo ao estresse. Wirth (2013)
mostrou que a secreção de cortisol foi modificada entre policiais
com diferentes variantes de genes do relógio PER3 VNTR,
sugerindo variações genéticas individuais que predispõem o
indivíduo a respostas diferentes diante do trabalho em turno.
Dessa maneira, têm sido estudadas estratégias para detectar
e até mesmo prever deficiências de sono em resposta ao
trabalho por turnos no início, o que poderia ser uma base para
o desenvolvimento de intervenções individualizadas para melhorar
a tolerância ao trabalho por turnos. A flexibilidade dos
hábitos de sono e a qualidade subjetiva do sono noturno antes
do trabalho por turnos revelaram-se preditores da qualidade
subjetiva do sono diurno (LAMMERS, 2016).
Entre as estratégias a serem adotadas para minimizar o dano
à saúde dos policiais trabalhadores em turno, destacam-se a
educação em saúde, a promoção da saúde, o diagnóstico e
tratamento multidisciplinar dos distúrbios do sono e comorbidades.
São formas de evitar o adoecimento, absenteísmo
e acidentes as intervenções psicossociais (PEÑALBA, 2008).
No estudo SHIELD (Safety & Health Improvement: Enhancing
Law Enforcement Departments), 408 policiais militares foram
submetidos a doze sessões de 30 minutos de intervenção
psicossocial ao longo de seis meses, resultando em melhora
da dieta, sono, níveis de estresse e qualidade de vida geral
(KUEHL,2016).
Além disso, a manutenção da aptidão física num estudo
com 460 policiais melhorou a percepção de um bom sono
e resposta ao estresse entre policiais. Gerber e colaboradores
(2014) sugerem que os programas multimodais, incluindo
controle do estresse, higiene do sono e treinamento físico
são componentes essenciais da promoção da saúde no local
de trabalho na força policial e funcionam como recursos de
resiliência.
Outras medidas importantes seriam o desenvolvimento
dehorários de trabalhos por cronotipos, fototerapia e pausas
programadas para o descanso.
A adaptação circadiana ao trabalho do turno da noite
através da fototerapia (exposição intermitente à luz brilhante
de amplo espectro durante a noite e a programação de sono
diurno em ambiente escuro) levou a um melhor desempenho,
níveis de alerta e humor, um sono diurno mais longo e menor
atividade do sistema nervoso simpático durante o sono diurno
(BOUDREAU, 2013; BOIVIN, 2012). Estudos longitudinais
são necessários para investigar as implicações clínicas em
longo prazo do desalinhamento circadiano para horários de
trabalho atípicos.
Apresentar um sono de qualidade antes do turno noturno
foi sugerido como contramedida efetiva ao alerta e à deterioração
do desempenho associada ao trabalho noturno. Esse com-
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