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CANABIDIOL ASSOCIADAS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS

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DISTÚRBIOS DO SONO NO POLICIAL MILITAR

masculinos com pior qualidade de sono (CHARLES, 2011).

Também é descrita a associação entre a elevada prevalência

de bruxismo entre policiais militares (50,2%) e sua associação

com o estresse ocupacional (CARVALHO, 2008), sendo os

policiais quase duas vezes mais propensos a ter facetas de

desgaste dentário que os trabalhadores industriais (SERRA-

-NEGRA, 2016).

Diante dessa miscelânea de fatores predisponentes aos

distúrbios do sono, o que ocupa o papel central na fisiopatogênese

é o trabalho em turno do policial militar. É amplamente

sabido que trabalhadores em turno (principalmente rotativo e

noturno) apresentam maior adoecimento. O trabalho noturno

tem impacto negativo em amplas esferas: biológicas, trabalhistas,

sociais e médicas (KLAWE, 2005).

Assim o objetivo desse artigo é descrever o impacto

dos distúrbios do sono na saúde do policial militar, com

ênfase nas repercussões do trabalho em turno para essa

classe de trabalhadores.

METODOLOGIA

Foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases de dados

PubMed e Scielo entre os anos de 2000 e 2017, utilizando

os descritores “sleep disorders”, “police officers” e suas combinações,

além dos mesmos termos em português. Foram

selecionados 40 artigos (entre originais e de revisão) e foi

incluída a Classificação Internacional de Distúrbios do Sono

(3ª edição) para as definições. Foram excluídos artigos que

não possuíam resumo disponível ou em idiomas que não o

inglês ou português.

DISCUSSÃO

Os policiais militares são uma população de risco para

os distúrbios do sono. Num estudo com 4957 policiais dos

EUA e Canadá, 40% apresentaram pelos menos um distúrbio

do sono (RAJARATNAM, 2011). Gabarino e colaboradores

(2002) avaliaram 611 policiais trabalhadores em turno e 669

que cumpriam horário usual (controles). A frequência de distúrbios

do sono foi, respectivamente, de 35,7% e 26,3%. Os

trabalhadores em turno tinham 25,9% de queixa de insônia

comparados a 15,8% dos controles (p< 0,0001).

Concomitantemente, o estilo de vida citado está associado

à alta prevalência de síndrome metabólica e apneia obstrutiva

do sono, potencializando o surgimento de doenças cardiovasculares

e aumentando o risco de acidentes automobilísticos e

no trabalho. A prevalência de síndrome metabólica em policiais

militares masculinos varia entre 24% (CHANG, 2015) e 33%

(YOO; FRANKE, 2013). Foram encontradas entre os policiais

militares de Goiás: 58,9% de alterações na pressão arterial,

42,8% nos triglicerídeos, 30,3% no colesterol HDL 20,9%

na circunferência abdominal e 17,4% na glicemia em jejum,

totalizando 23,7% dos policiais com síndrome metabólica,

que é uma condição associada à maior morbimortalidade

por eventos cérebro e cardiovasculares (ALMEIDA, 2017).

Policiais taiwaneses com maior pontuação de distúrbios do

sono obtiveram maior prevalência de síndrome metabólica

(SM) e obesidade abdominal (p=0,029), sendo que os que

dormiram menos de 5 h apresentaram 88% mais chances de

sofrer de obesidade abdominal do que aqueles que dormiram

entre 7-7,9 horas (IC 95%: 1,01-3,5), independentemente de

outros fatores de risco (CHANG, 2015).

Além disso, a duração curta do sono e distúrbios respiratórios

do sono estão associadas a maior risco cardiovascular.

As mulheres com sono curto tiveram um número médio

significativamente maior de componentes da síndrome metabólica

(média = 1,43) do que aqueles com maior duração do

sono (média = 0,81, p = 0,0316). Os policiais que pararam

de respirar durante a noite tiveram mais componentes de SM

(média = 2.43) que os controles (p = 0.0206) (MCCANLIES,

2012). Violanti e colaboradores (2009) encontraram associações

significativas entre turnos noturnos e o número médio

de componentes da síndrome metabólica em 98 policiais com

redução das horas de sono (p = 0,013) e mais horas extras de

trabalho (p = 0,007).

Num estudo com 257 policiais, os que dormiram menos

de 5 ou 8 horas de sono medida objetivamente (por actigrafia)

tiveram valores máximos de espessura da média intimal da

artéria carótida significativamente maiores, independentemente

da idade. Tal indicador mostra um alto risco de doença cardiovascular

(DCV). A obtenção de duração suficiente do sono

pode ser considerada uma possível estratégia para a prevenção

da aterosclerose entre policiais (AMA, 2013).

O IMPACTO DO TRABALHO EM TURNO NO POLICIAL MILITAR

É amplamente estudado como o trabalho em turno afeta

o sono, sendo um fator de risco modificável ligado a doença

crônica (RAMEY, 2012). O indivíduo submetido a horários

de trabalho fora do diurno apresenta perturbações no ciclo

circadiano (relógio biológico) pela necessidade de inverter

o padrão fisiólogico do ciclo sono-vigília. A Classificação

Internacional de Distúrbios do Sono (CIDS 3) estima que os

distúrbios do sono afetem 2-5% da população geral, sendo que

em trabalhadores de turno rotativo e noturno essa prevalência

é de 10 a 38% (CIDS 3) .

Em um estudo com 1.280 policiais, houve evidência de

distúrbios do sono em 35,7% de policiais que trabalham

em turno e em 26,3% controles (GARBARINO,2002). Os

trabalhadores de turno não-diurnos apresentam mais risco de

dormir menos de 6 horas por dia em comparação com os de

48 I REVISTA BRASILEIRA MILITAR DE CIÊNCIAS • NOVEMBRO DE 2017

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