30.04.2023 Views

A outra - Mary Kubica

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tempo e as circunstâncias nos afastaram. Fico imaginando,

tentando não levar para o lado pessoal, quantos adolescentes

são próximos de sua mãe. Poucos, se é que há algum. Mas

Otto é um garoto sensível, diferente do resto.

Ele sai do carro apenas com um tchau rápido. Fico

olhando enquanto ele atravessa a ponte de grade de metal e

embarca na balsa com os outros passageiros da manhã. Sua

mochila pesada está pendurada nas costas. Não vejo Imogen

em lugar algum.

São sete e vinte da manhã. Está chovendo. Uma multidão

de guarda-chuvas multicoloridos desce a rua que leva à

balsa. Dois garotos da idade de Otto caminham atrás dele,

passam-no na entrada, rindo. Devem estar rindo de alguma

piada, digo a mim mesma, não dele, mas meu estômago se

agita mesmo assim, e penso como deve ser solitário o

mundo de Otto, um pária, sem amigos. Há muitos lugares

dentro da balsa, onde é quente e seco, mas Otto sobe até o

convés superior e fica em pé na chuva, sem guarda-chuva.

Observo enquanto os ajudantes de convés erguem a prancha

e desamarram a barca antes que se aventure no mar

enevoado, roubando Otto de mim.

Só então vejo o policial Berg me encarando.

Ele está do outro lado da rua, fora de seu Crown Victoria,

encostado na porta do passageiro. Tem nas mãos um café e

um rolinho de canela – a um passo de distância das

estereotipadas rosquinhas que os policiais são famosos por

comer, só que mais refinado. Quando ele acena para mim,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!