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A outra - Mary Kubica

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Digo-lhe que não me lembro muito de minha infância;

quase nada, aliás, antes dos onze anos.

Ela olha para mim sem dizer nada, esperando que eu

some dois mais dois.

Você é propensa a períodos de apagões, dra. Foust?

Mas apagões são perdas temporárias da noção do tempo,

causadas por coisas como consumo de álcool, convulsões

epilépticas, baixo nível de açúcar no sangue.

Minha infância inteira não foi um período de apagão.

Simplesmente não lembro.

— Isso é típico em casos de TDI — diz ela depois de um

tempo. — A dissociação é uma maneira de se desconectar de

uma experiência traumática; é um mecanismo de

enfrentamento — repete, como se já não houvesse dito isso

pouco antes.

— Fale-me sobre essa mulher. — Estou tentando pegá-la

em uma mentira. Certamente, mais cedo ou mais tarde, ela

vai se contradizer. — Camille — digo.

Ela me diz que existem diferentes tipos de alter egos.

Perseguidores, protetores e outros. Ela ainda não sabe de

que tipo é essa jovem, porque, às vezes, ela me defende,

mas, com mais frequência, seus retratos de mim são cheios

de ódio. Ela é ressentida, irascível; tem raiva e é agressiva. É

uma relação de amor e ódio: ela me odeia, mas também quer

ser eu.

Já a garotinha não sabe que eu existo.

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