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A outra - Mary Kubica

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ver um relógio. Mas não havia relógios na esquina onde eu

estava.

Não vi o semáforo ficar vermelho. Não vi o táxi vindo

depressa, correndo atrás de outro táxi para pegar um

passageiro no fim da rua. Entrei na rua com os dois pés.

Primeiro eu o senti. Senti sua mão apertar meu pulso

como uma chave-inglesa, e não pude me mexer.

Em um instante, eu me apaixonei por essa mão – quente,

capaz, decisiva. Protetora. Seus dedos eram grossos; as mãos

grandes, com unhas limpas e curtas. Tinha uma tatuagem

pequena, um glifo na pele entre os dedos. Algo pequeno e

pontudo, como um pico de montanha. Por um minuto, foi

tudo que vi. Aquele pico de montanha.

Seu aperto foi poderoso e rápido. Em um só golpe, ele me

deteve. Um segundo depois, o táxi passou correndo a menos

de quinze centímetros dos meus pés. Senti o calor tomar

meu rosto. O vento do carro me afastou e depois me sugou

de volta enquanto eu passava. Só vi um flash de cores. Senti

a brisa, mas não vi o táxi passar antes de seguir em

disparada pela rua. Só então eu soube como estive perto de

ser atropelada.

No alto, o metrô guinchou até parar sobre os trilhos.

Olhei para baixo. Lá estava a mão dele. Meus olhos

subiram por seu pulso, seu braço; foram até seus olhos. Seus

olhos estavam arregalados, suas sobrancelhas, franzidas de

preocupação. Ele estava preocupado comigo. Ninguém nunca

se preocupou comigo.

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