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A outra - Mary Kubica

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algo tipo Luke, Miles, Brad. Algo presunçoso, tenso, batido.

Mundano. Ele fez um aceno de cabeça e me deu um sorriso,

que dava a entender que as mulheres se apaixonavam

facilmente por seus encantos. Mas não eu.

Ignorei e continuei andando; não lhe dei a satisfação de

retribuir o sorriso.

Eu senti seus olhos me seguindo.

Espiei meu reflexo na vitrine de uma loja. Meu cabelo

comprido, liso, com franja. Cor de ferrugem, chegando ao

meio das costas, sobre os ombros de uma camiseta azulártico

que combinava com meus olhos.

Vi o que aquele americano típico estava olhando.

Passei a mão pelo cabelo. Eu não estava nada mal.

Em cima, o metrô trovejou. Foi alto, mas não o suficiente

para calar o pregador de rua. Adúlteros, prostitutas,

blasfemos, glutões… estávamos todos condenados.

O dia estava quente. Não era só verão; eram os piores dias

de verão. Uns trinta graus. Tudo cheirava a ranço, a esgoto.

O cheiro de lixo me sufocou quando passei por um beco. O ar

quente segurava o fedor, de modo que não havia como

escapar, assim como não havia como escapar do calor.

Eu estava olhando para cima, vendo o metrô e me

orientando. Estava imaginando que horas seriam. Eu

conhecia todos os relógios da cidade; Peacock, Father Time,

Marshall Field’s. Quatro relógios no Wrigley Building, para

que independentemente de sua procedência, você pudesse

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