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A outra - Mary Kubica

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caixa postal que só descobri à noite. Mãe, disse ele, sou eu.

Preciso muito falar com você.

Mas, quando ouvi a mensagem, já era tarde. Otto levou a

faca para a escola. Graças a Deus ninguém se feriu.

Ouvindo Otto falar, percebo uma verdade devastadora. Ele

não acha que inventou essa história. Ele acredita nela. Em

sua cabeça, fui eu que guardei a faca em sua mochila; eu é

que menti.

Não posso evitar. Estendo a mão livre e acaricio seu

queixo. Seu corpo enrijece, mas ele não recua, deixa-me

tocá-lo. Há pelos em seu queixo, só uma mancha, que um

dia se tornará barba. Como aquele menino que uma vez

dilacerou seu polegar na navalha de Will cresceu e já tem

idade para fazer a barba? Seu cabelo cai sobre os olhos.

Afasto-o, e vejo que em seus olhos não há toda a hostilidade

que costuma haver. Estão se afogando em dor.

— Se eu o magoei de alguma maneira — sussurro —, me

desculpe. Eu nunca faria nada para magoá-lo

intencionalmente.

Só então ele se acalma. Solta meu pulso, e dou um passo

para trás depressa.

— Por que não vai se deitar em seu quarto? — sugiro. —

Eu lhe levo uma torrada.

— Não estou com fome — grunhe ele.

— Que tal um suco, então?

Ele me ignora.

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