30.04.2023 Views

A outra - Mary Kubica

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

as crianças na escola o chamavam de coisas horríveis, que o

prendiam dentro de armários, que enfiavam sua cabeça em

vasos sanitários sujos?

— Otto — digo baixinho, morrendo de vergonha por não

ter ajudado meu filho quando ele mais precisava de mim —,

se eu não ouvi, se não prestei atenção, me desculpe.

E começo a dizer que estava completamente atolada de

trabalho naqueles dias, cansada e sobrecarregada. Mas isso

não é consolo para um garoto de catorze anos que precisava

de sua mãe. Não tento justificar meu comportamento, não

seria certo.

Antes que eu possa continuar, Otto conta pela primeira

vez detalhes que eu nunca ouvi antes. Diz que estávamos do

lado de fora quando ele me contou sobre o bullying. Que era

tarde da noite. Que ele não conseguia dormir e foi me

procurar. Diz que me encontrou na escada de incêndio de

nosso prédio, em frente à janela da cozinha, vestida de preto

e fumando.

Esses detalhes são absurdos.

— Eu não fumo, Otto — digo a ele. — Você sabe disso. E

altura…

Sacudo a cabeça, estremecendo. Não preciso dizer mais

nada; ele sabe o que quero dizer. Eu sou acrofóbica. Sempre

fui.

Morávamos no sexto andar no condomínio de Chicago, o

último andar de um prédio em Printers Row. Eu nunca usei o

elevador, só a escada. Nunca pus os pés na varanda onde

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!