30.04.2023 Views

A outra - Mary Kubica

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— Sadie — diz ele —, eu sei que você não gosta dela. Sei

que ela não foi gentil com você. Mas você não pode culpá-la

por cada coisinha que acontece.

Estranho as palavras que ele usa. Cada coisinha.

Assassinato não é uma coisinha.

— Se não foi Imogen, alguém nesta casa a matou — digo.

— Isso é certeza. Senão, como você explica o colar dela no

chão de nossa casa, a toalha ensanguentada na lavanderia?

Se não foi ela, quem foi?

A princípio, a pergunta é retórica. A princípio, pergunto

só para fazê-lo ver que foi Imogen, porque ninguém mais

em casa é capaz de matar. Se ela fez isso uma vez – puxou o

banquinho debaixo dos pés de sua mãe –, poderia fazer de

novo.

Mas, então, no silêncio que se segue, meus olhos pousam

no desenho raivoso de Otto, na cabeça decapitada e as gotas

de sangue. Penso no fato de ele ter voltado a brincar com

bonecas. E penso que meu filho de catorze anos levou uma

faca para a escola.

Ofego, perguntando-me se Imogen seria a única nesta

casa capaz de matar. Não quero que esse pensamento escape

de minha cabeça. Mas escapa.

— Poderia ter sido Otto? — penso em voz alta.

Assim que as palavras saem, quero pegá-las de volta e

colocá-las de novo em minha cabeça, onde é o lugar delas.

— Você não pode estar falando sério! — diz Will.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!