30.04.2023 Views

A outra - Mary Kubica

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Minha cabeça está em outro lugar, não na roupa. Mal

presto atenção na roupa, só as enfio de maneira rápida e

contundente na máquina e bato a porta. Pego o sabão em

uma prateleira. Só então noto umas peças que escaparam

furtivamente da máquina de lavar, caídas no chão da

lavanderia.

Abaixo-me para pegá-las, pronta para abrir a porta e

jogá-las para dentro. E assim, curvada, pegando as peças na

mão, é que eu vejo. A princípio, acho que é por causa da

pouca iluminação da lavanderia. Sangue em uma toalha de

rosto. Muito sangue, embora eu tente me convencer de que

não é sangue.

A mancha não é vermelha; é mais marrom, pois o sangue

muda de cor quando seca. Mas, mesmo assim, é sangue.

Inegavelmente sangue.

Seria muito fácil dizer que Will se cortou, ou que Tate

esfolou o joelho, ou, na pior das hipóteses, que Otto ou

Imogen adquiriram o hábito de se cortar; mas pela

quantidade de sangue na toalha, não. Não é só um salpico ou

uma manchinha. A toalha foi encharcada de sangue que

agora está seco.

Viro-a nas mãos. O sangue vazou para os dois lados.

Deixo a toalha cair de meus dedos.

Estou com o coração na boca. Não consigo respirar. Estou

sem ar.

Ao me levantar depressa, a gravidade força meu sangue

todo a descer para meu tronco. Ele fica lá, incapaz de voltar

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!