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A outra - Mary Kubica

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fria, eu sei. Glacial. Já me disseram isso. Às vezes penso que

fui eu que empurrei Will para os braços de outra mulher. Se

eu houvesse sido mais afetuosa, mais sensível, mais

vulnerável. Mais feliz. Mas, em minha vida, só o que conheci

foi uma tristeza inerente.

Quando eu tinha doze anos, meu pai reclamava que eu era

mal-humorada. Radiante um dia, triste no dia seguinte. Ele

atribuía isso a minha iminente adolescência. Fiz

experiências com minhas roupas, como crianças dessa idade

costumam fazer. Eu estava desesperada para descobrir quem

era. Ele dizia que havia dias em que eu gritava para ele parar

de me chamar de Sadie, porque eu odiava esse nome. Eu

queria trocar meu nome, ser outra pessoa, qualquer pessoa

menos eu. Em alguns momentos eu era irritadiça, em outros

era gentil. Às vezes era extrovertida, às vezes tímida. Eu

podia facilmente tanto fazer quanto sofrer bullying.

Talvez tenha sido só uma rebeldia adolescente, uma

necessidade de autodescoberta, os hormônios. Mas minha

então terapeuta não achava isso. Ela me diagnosticou com

transtorno bipolar. Eu tomei estabilizadores de humor,

antidepressivos, antipsicóticos. Nada ajudou. O ponto crítico

veio mais tarde, depois que conheci e me casei com Will,

depois que formei minha família e comecei minha carreira.

Tate chama da sala:

— Venha me encontrar, papai!

Will me beija lentamente antes de ir. Eu não me afasto,

deixo-o dessa vez. Ele pousa as mãos em meu rosto. Quando

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