30.04.2023 Views

A outra - Mary Kubica

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

celular para enxergar. Descubro um recuo no plástico que

cobre uma cadeira da sala, como se alguém houvesse se

sentado ali. O banquinho do piano foi puxado, há partituras

no suporte. Há migalhas na mesa de centro.

É uma casa térrea. Sigo pelo corredor escuro e estreito na

ponta dos pés, para não fazer barulho. Prendo a respiração;

faço respirações curtas e superficiais só quando preciso,

apenas quando a queima do dióxido de carbono em meus

pulmões é mais intensa do que posso aguentar.

Chego ao primeiro quarto e olho dentro, iluminando as

quatro paredes com minha lanterna. É pequeno, um quarto

que foi convertido em sala de costura. Uma costureira mora

aqui.

O quarto ao lado é pequeno, cheio de móveis antigos

ornamentados enterrados embaixo de plástico. O carpete é

grosso, macio. Meus pés afundam e me sinto culpada por

estar de sapatos, como se essa fosse minha pior infração.

Mas há também arrombamento e invasão.

Saio desse quarto e entro no maior dos três, o principal.

Em comparação, é um quarto espaçoso. Mas não é por isso

que meus olhos olham duas vezes quando entro.

O sol já se pôs. Apenas um leve tom azulado entra pelas

janelas. A hora azul; assim é chamado o momento em que a

luz solar residual ganha um tom azulado e tinge o mundo de

azul. Passo a lanterna pelo quarto. Vejo o ventilador de teto,

cujas pás têm forma de folhas de palmeira. O teto tem sanca.

E eu já o vi antes.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!