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A outra - Mary Kubica

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depois. Com a mesma facilidade, ela poderia ter pedido ajuda

naquele momento; poderia facilmente ter soltado a mãe.

Diante de mim, ela chora convulsivamente. Não suporto

pensar no que ela passou, no que viu. Nenhuma garota de

dezesseis anos deveria ser colocada nessa posição.

É uma pena, penso, por Alice.

Mas também por Imogen.

— Você fez a única coisa que soube fazer — minto.

Digo isso só para consolá-la, porque acho que ela precisa

de consolo. Estendo os braços para ela, e, por uma fração de

segundo, ela me permite. Só um segundo. Mas, quando a

envolvo cuidadosamente em meus braços, assustada e mal a

tocando, sinto como se estivesse abraçando uma assassina –

mesmo que na cabeça dela as razões do que fez justifiquem o

ato. Mas ela está arrependida e triste agora. Pela primeira

vez, Imogen demonstra uma emoção diferente de raiva. Eu

nunca a vi assim antes.

Mas, então, como não poderia deixar de ser, como se ela

pudesse ler meus pensamentos, subitamente Imogen se

apruma. Seca as lágrimas com a manga. Seus olhos estão

vazios, seu rosto inexpressivo.

Ela empurra meus ombros repentinamente. Não há nada

de gentil nisso; é rude, hostil. Sinto a dor no local em que as

pontas de seus dedos pressionam violentamente meu

desfiladeiro torácico, aquele ponto sensível entre a clavícula

e as costelas. Dou um passo para trás, tropeçando em uma

pedra. Ela diz:

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