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A outra - Mary Kubica

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Mas não posso continuar vivendo essa vida dupla. Não era um

bilhete tipo Querido John, e sim a nota de suicídio de Alice,

que Imogen pegou e enfiou no bolso de sua blusa naquele

dia. No início, Imogen tentou convencê-la a descer do

banquinho, a ficar e viver. Mas Alice estava decidida. Ela

simplesmente não conseguia dar o passo. Ajude-me, Imogen,

implorou.

Imogen olha diretamente para mim e diz:

— Eu puxei aquele maldito banco debaixo dos pés dela.

Não foi fácil, mas fechei os olhos e puxei. Saí correndo.

Nunca corri tão rápido na vida. Corri para meu quarto,

escondi a cabeça embaixo da porra do travesseiro e gritei

para não ter que a ouvir morrer.

Respiro fundo. Não foi exatamente suicídio, mas também

não foi nada tão malévolo quanto eu pensava. Foi morte

assistida, como aqueles médicos que dão uma dose letal de

remédio para dormir a um paciente terminal, para deixá-lo

morrer como deseja.

Eu nunca fui esse tipo de médica.

Meu dever é ajudar os pacientes a viver, não os ajudar a

morrer.

Olho para Imogen de boca aberta, pensando: Que tipo de

pessoa poderia fazer uma coisa dessas? Que tipo de pessoa poderia

pegar o banco e puxar, sabendo muito bem qual seria o resultado?

Seria preciso ser certo tipo de pessoa para fazer o que

Imogen fez. Agir por impulso e não pensar no que vem

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