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A outra - Mary Kubica

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E, então, ela deixa cair a cabeça entre as mãos. Começa a

soluçar; seu corpo inteiro se agita como as ondas do oceano.

— Eu nunca tentaria tomar o lugar de sua mãe — digo

com voz sufocada.

O ar que nos cerca é amargo e sombrio. Passo os braços

em volta de mim quando passa uma rajada de vento. Vejo o

cabelo preto tingido de Imogen voar em torno dela, e sua

pele esfolada e vermelha, não branca pálida como sempre.

Tento estender a mão para ela, dar-lhe um tapinha no

braço para consolá-la.

Mas ela se afasta depressa de meu toque.

Ela abaixa os braços. Levanta os olhos. Então grita, e a

intempestividade de sua declaração e o vazio de seus olhos

me assustam. Recuo.

— Ela não conseguiu. Ela queria, mas simplesmente não

conseguiu. Ela travou. Olhou para mim, chorando. Ela

implorou: Ajude-me, Imogen.

Ela está descontrolada. Saliva sai de sua boca e se

acumula nos cantos de seus lábios. Ela a deixa ali. Sacudo a

cabeça, confusa. Do que ela está falando?

— Ela queria que você a ajudasse com a dor? — pergunto.

— Ela queria que você fizesse a dor desaparecer?

Ela sacode a cabeça; ri.

— Você é uma idiota — diz.

Então, ela se recompõe. Seca a saliva e se endireita. Olha

para mim desafiadoramente, mais como a Imogen que

conheço, não mais atormentada.

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