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A outra - Mary Kubica

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O vento me cortava como uma faca. Fiquei com minha

passagem na mão, escondida atrás da bilheteria, esperando

Will chegar. Eu o vi quando ele desceu a rua em direção ao

cais.

Seu sorriso era eletrizante. Meu coração bateu forte.

Mas ele não estava sorrindo para mim.

Ele estava sorrindo para a plebe, conversando com a ralé.

Esperei atrás da bilheteria, vi-o ocupar seu lugar no fim

da fila. Esperei e, então, entrei na fila atrás dele, deixando

algumas pessoas entre nós.

Coloquei o capuz na cabeça. Com óculos escuros, escondi

meus olhos. A balsa foi a última a chegar. Atravessamos a

ponte como prisioneiros marchando para a morte. Havia

buracos na ponte, desses que deixam ver diretamente a água

agitada embaixo. Eu vi algas; senti cheiro de peixe.

Will subiu as escadas para o convés superior. Eu me

sentei onde podia observá-lo sem ser vista. Não conseguia

tirar os olhos dele. Fiquei olhando enquanto ele estava na

popa do navio; segurando-se no parapeito; olhando para a

costa que ia se perdendo de vista.

A água era salgada e marrom. Patos circundavam o barco.

Fiquei olhando o tempo todo. Will estava ali, como figura

de proa de um navio, Poseidon, deus do mar, vigiando o

oceano. Meus olhos orbitavam seu corpo, traçavam a forma

de sua silhueta. Rodeavam seus cabelos agitados pelo vento,

seus ombros largos, deslizavam por um braço, contavam

cada dedo. Seguiam a costura do jeans, das coxas aos pés.

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