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A outra - Mary Kubica

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O carro passou devagar, soltando nuvens de fumaça. Piuípiuí.

Vi Will se ajoelhar na sala, dentro de sua casa. Ele estava

de suéter aquela noite, cinza, desses com meio zíper. Jeans e

sapatos. Estava brincando com seu filho, o pequeno, de

joelhos no meio da sala. O garoto imbecil estava sorrindo.

Estava feliz como um maldito molusco.

Ele pegou a mão do garoto. Juntos, eles se levantaram e

foram para a janela. Ficaram olhando a noite. Eu podia vêlos,

mas eles não podiam me ver. Eu conseguia ver tudo ali

dentro por causa da escuridão de fora. O fogo na lareira, o

vaso no console, o quadro na parede.

Eles estavam esperando Sadie voltar para casa.

Eu disse a mim mesma que ele não estava tentando se

livrar de mim quando veio para esta ilha. Ele não teve

escolha. Assim como uma larva não tem escolha senão se

transformar em pulga.

Nesse momento, outro carro passou, mas, dessa vez, não

me mexi.

Tentei não ser um estorvo, mas, alguns dias, não podia

evitar. Deixei mensagens na janela do carro de Sadie. Senteime

no capô de seu carro, fumei um maço de cigarros antes

que uma velha bruxa me dissesse que eu não podia fumar lá,

que tinha que ir fumar em outro lugar. Não gosto que me

digam o que fazer. Eu disse: Este é um país livre, posso fumar

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