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A outra - Mary Kubica

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experiente, chorei. Eu não sou de chorar, mas, daquela vez,

não consegui me controlar.

Os gatilhos de um colapso nervoso estavam lá: um

período de estresse que não havia sido tratado, sensação de

desorientação, de inutilidade, incapacidade de dormir.

No dia seguinte, o chefe do departamento me colocou de

licença médica forçada. Sugeriu sutilmente uma avaliação

psicológica. Eu disse não, obrigada. Em vez disso, preferi me

demitir. Eu não podia voltar lá de novo.

Quando chegamos ao Maine, Will e eu encontramos a

casa no estado em que fora deixada. O banquinho ainda

estava no sótão, junto com um metro de corda, cortado na

ponta, enquanto o restante permanecia preso a uma viga

exposta que atravessava o teto. Tudo que estava ao alcance

do corpo de Alice, que se debatia, havia sido derrubado, o

que implica que a morte não foi tranquila.

Vou até a porta do sótão e a abro. De cima, uma luz

brilha. Subo dois degraus de cada vez enquanto, sob meus

pés, eles rangem. O sótão é um espaço inacabado, cheio de

vigas de madeira, piso de placas de cortiça, pedaços de um

isolamento rosa e macio espalhados aqui e ali como nuvens.

A luz provém de uma única lâmpada pendente no teto, que

alguém, seja quem for que esteve aqui, esqueceu de apagar.

Há uma cordinha pendurada nela. Uma chaminé, envolta em

tijolos à vista, atravessa o centro da sala e dá para fora. Há

uma janela voltada para a rua. Está muito escuro lá fora esta

noite, não há nada para ver.

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