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A outra - Mary Kubica

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CAMILLE

Eu estava viciada. Nunca era o bastante para mim. Eu o

observava, eu o espelhava; seguia sua rotina. Eu sabia que

escola os meninos dele frequentavam, a quais cafés ele ia, o

que comia no almoço. Eu ia ao mesmo lugar, pedia a mesma

coisa. Sentava-me à mesma mesa depois que ele saía.

Simulava conversas com ele em minha cabeça. Fingia que

estávamos juntos quando não estávamos.

Eu pensava nele o dia todo; pensava nele a noite toda. Se

fosse por mim, ele estaria comigo o tempo todo. Mas eu não

podia ser essa mulher obcecada e paranoica. Eu tinha que

manter a calma. Esforçava-me para garantir que nossos

encontros parecessem mais casuais do que eram. Por

exemplo, aquela vez que nos cruzamos em Old Town. Eu saí

de um prédio e o encontrei do outro lado, cercado de

pedestres – outra engrenagem da máquina.

Chamei-o. Ele olhou, sorriu. Aproximou-se.

O que está fazendo aqui? Que lugar é esse?, perguntou,

referindo-se ao prédio atrás de mim. Deu-me um abraço

rápido. Rápido demais.

Olhei para o prédio, li a placa.

Meditação budista, eu disse.

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