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A outra - Mary Kubica

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Mas Imogen é um livro fechado para mim. Ela mal fala,

não mais que uma frase, na melhor das hipóteses, e nem

sempre. Não sei nada sobre ela, com quem faz sexo (faz sexo

aqui, neste quarto, quando Will e eu saímos, ou sai pela

janela do quarto à noite?), sobre aquelas garotas com quem

fuma, sobre o que ela faz nessas horas perdidas em que não

está conosco. Will e eu temos que cuidar melhor dessas

coisas. Não devemos ficar tão desinformados. É uma

irresponsabilidade, mas, toda vez que abordo o assunto com

Will – quem é Imogen de verdade? –, ele me interrompe

dizendo que não podemos forçar demais. Que ela se abrirá

para nós quando estiver pronta.

Não posso mais esperar que isso aconteça.

Vasculho o armário. Encontro uma carta no bolso de uma

blusa de moletom cinza-escuro. Na verdade, não foi difícil

de encontrar. Verifico primeiro as caixas de sapatos, os

cantos de trás do armário onde só a poeira reside. E depois

as roupas. É na quarta ou quinta tentativa que minha mão se

molda em torno de algo, que eu puxo do bolso para ver. É

um papel dobrado muitas e muitas vezes para ficar pequeno,

de não mais que dois centímetros e meio por dois

centímetros e meio.

Puxo-o para fora do armário. Delicadamente o desdobro.

Por favor, não fique brava, está rabiscado no papel. A tinta é

pálida, talvez como se o moletom houvesse passado pela

máquina de lavar com o papel dentro. Mas está lá, visível,

em letras maiúsculas, muito mais masculina que minha

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