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A outra - Mary Kubica

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minha família. Parece ser meu direito bisbilhotar. Will não

iria gostar. Eu mal entendo as vozes abafadas de Otto e dele

que vêm da cozinha. Eles não têm ideia de onde estou. Olho

primeiro dentro das gavetas da mesa. Há exatamente o que

se espera encontrar dentro da gaveta de uma escrivaninha.

Canetas, papéis, clipes. Subo na cadeira, passo as mãos

cegamente pela estante de livros que fica acima da mesa,

encontro um punhado de poeira. Volto para o chão.

Deixo meu vinho onde está. Vou para a mesa de cabeceira,

puxo a maçaneta da gaveta. Vasculho coisas aleatórias. Um

rosário de criança, lenços de papel, um marcador de páginas.

Um preservativo. Pego o preservativo, seguro-o na mão por

um instante, penso se devo contar a Will. Imogen tem

dezesseis anos. Hoje em dia, crianças de dezesseis anos

fazem sexo. Mas um preservativo pelo menos me diz que

Imogen faz escolhas inteligentes. Que está se protegendo.

Não posso culpá-la por isso. Se nossa relação fosse melhor,

eu conversaria com ela de mulher para mulher. Mas não é.

Independentemente disso, uma consulta com um

ginecologista não está fora de questão, já que ela está na

idade. Pode ser a melhor maneira de lidar com certas coisas.

Coloco o preservativo de volta. Então, encontro uma

fotografia.

É a fotografia de um homem, dá para ver pelo formato do

corpo e pelo que resta do cabelo, que não foi rabiscado com

visível raiva. Mas o rosto do homem foi destruído, como um

bilhete de loteria raspado com a borda de uma moeda. Fico

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