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A outra - Mary Kubica

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Vou para meu quarto. Vejo meu reflexo exausto no

espelho comprido, meus olhos cansados, a camisa de

popeline, a saia. Minha maquiagem quase desapareceu.

Minha pele está desbotada, mais cinza que qualquer outra

coisa; ou talvez seja só a iluminação. Pés de galinha se

esgueiram das bordas de meus olhos. Minhas rugas de

expressão se tornam mais proeminentes a cada dia. São as

alegrias da idade.

Fico feliz de ver meu cabelo voltar a crescer depois um

corte impulsivo, lamentável, que odiei. Eu sempre cortava só

as pontas, mas, um dia, minha cabeleireira cortou mais de

dez centímetros. Olhei para ela horrorizada quando

terminou, vendo as mechas de cabelo no chão de seu salão.

Que foi?, perguntou ela, de olhos arregalados como eu.

Você disse que queria assim, Sadie.

Eu disse que tudo bem. É cabelo. Cresce de novo.

Não queria que ela ficasse mal pelo que havia feito. E é só

cabelo. Cresce de novo.

Mas, se não houvéssemos nos mudado, eu estaria

procurando outra cabeleireira.

Tiro os sapatos de salto alto e fico olhando para as bolhas

em minha pele. Tiro a saia e a jogo no cesto de roupa suja.

Depois de enfiar meus pés em um par de meias quentes e as

pernas em uma calça de pijama confortável, desço a escada,

checando o termostato no caminho. Esta casa antiga é muito

fria ou muito quente, nunca meio-termo. A caldeira não

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