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A outra - Mary Kubica

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estava tímida antes, mas ficou. Ela mudou, e acho que tem

algo a ver com minha altura. Agora que estou em pé, não

tenho mais um metro de altura como ela. Sou diferente.

Ela corre para a mãe e abraça seus joelhos.

— Que graça de menina — digo à mãe.

Ela me agradece por brincar com a filha.

Ao meu redor, a sala de espera está cheia de pacientes.

Sigo Joyce pelas portas do saguão e pelo corredor. Mas,

quando chego, vou para o lado oposto à sala de exames, para

a cozinha, onde me sirvo de um pouco de água gelada, dando

um tempo para recuperar o fôlego. Estou cansada. Estou com

fome. Minha cabeça ainda dói.

Joyce me segue até a cozinha. Ela me olha como se fosse

muita coragem de minha parte beber água em um momento

como esse, quando temos um paciente esperando. Joyce não

gosta de mim; vejo isso em seus olhos toda vez que ela olha

para mim. Não sei por que Joyce não gosta de mim. Não faço

nada que a faça não gostar de mim. Digo a mim mesma que

não tem nada a ver com o que aconteceu em Chicago, que

não há como ela saber disso. Não, isso ficou lá, porque eu me

demiti. Foi a única maneira de uma acusação de negligência

não acabar com minha carreira. Mas não sei se eu voltaria a

praticar medicina de emergência. Foi uma mácula em minha

confiança, se não em meu currículo.

Digo a Joyce que estou indo, mas ela fica me observando

com sua roupa azul-esverdeada e seus calçados de

enfermagem, com as mãos nos quadris. Ela faz cara feia, e

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