Momentos da Verdade

O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma... O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma...

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21.04.2023 Views

Momentos da Verdade Congregavam-se multidões sob o estandarte papal, seguras de que afinal se poria termo aos hereges hussitas. Confiante na vitória, a numerosa força entrou na Boêmia. O povo arregimentou-se para repeli-la. Os dois exércitos se aproximaram um do outro, até que apenas um rio se lhes interpunha. “Os cruzados constituíam força grandemente superior, mas em vez de se arremessarem através da torrente e travar batalha com os hussitas a quem de longe haviam vindo a combater, ficaram a olhar em silêncio para aqueles guerreiros.” -Wylie. Então, subitamente, misterioso terror caiu sobre os soldados. Sem desferir um golpe, aquela poderosa força debandou e espalhou-se, como se fosse dispersa por um poder invisível. Muitos foram mortos pelo exército hussita, que perseguiu os fugitivos, e imenso despojo caiu nas mãos dos vitoriosos, de maneira que a guerra, em vez de empobrecer os boêmios, os enriqueceu. Poucos anos mais tarde, sob um novo papa, promoveu-se ainda outra cruzada. Como antes, homens e meios foram trazidos de todos os países papais da Europa. Grande foi o engodo apresentado aos que se deveriam empenhar nesta perigosa empresa. Asseguravase a cada cruzado perdão completo dos mais hediondos crimes. A todos os que morressem na guerra era prometida preciosa recompensa no Céu, e os que sobrevivessem haveriam de colher honras e riquezas no campo de batalha. De novo se reuniu um vasto exército e, atravessando a fronteira, entraram na Boêmia. As forças hussitas recuaram diante deles, arrastando assim os invasores cada vez mais longe para o interior do país, e levando-os a contar com a vitória já alcançada. Finalmente o exército de Procópio fez alto e, voltando-se para o inimigo, avançou para lhe dar batalha. Os cruzados, descobrindo então o seu erro, ficaram no acampamento esperando o assalto. Quando se ouviu o ruído da força que se aproximava, mesmo antes que os hussitas estivessem à vista, um pânico de novo caiu sobre os cruzados. Príncipes, generais e soldados rasos, arrojando as armaduras, fugiram em todas as direções. Em vão o núncio papal, que era o dirigente da invasão, se esforçou para reunir suas forças possuídas de terror e já desorganizadas. Apesar de seus enormes esforços, ele próprio foi levado na onda dos fugitivos. A derrota foi completa, e novamente um imenso despojo caiu nas mãos dos vitoriosos. Assim pela segunda vez, vasto exército, enviado pelas mais poderosas nações da Europa, uma hoste de homens bravos e aguerridos, treinados e equipados para a batalha, fugiu, sem dar um golpe, de diante dos defensores de uma nação pequena e, até ali, fraca. Havia nisso uma manifestação do poder divino. Os invasores foram tomados de pavor sobrenatural. Aquele que derrotou os exércitos de Faraó no Mar Vermelho, que pôs em fuga os exércitos de Midiã diante de Gideão e seus trezentos, que numa noite derribou as forças do orgulhoso assírio, de novo estendera a mão para debilitar o poder do opressor. “Eis que se acharam em grande temor, onde temor não havia, porque Deus espalhou os ossos daquele que te cercava; tu os confundiste, porque Deus os rejeitou.” Salmos 53:5.

Momentos da Verdade Os líderes papais, perdendo a esperança de vencer pela força, recorreram finalmente à diplomacia. Adotou-se um compromisso mútuo que, se bem que pretendesse conceder liberdade de consciência aos boêmios, realmente, traindo-os, entregava-os ao poder de Roma. Os boêmios tinham especificado quatro pontos como condições de paz com Roma: pregação livre da Bíblia; o direito da igreja toda, tanto ao pão como ao vinho na comunhão, e o uso da língua materna no culto divino; a exclusão do clero de todos os ofícios e autoridades seculares; e nos casos de crime, a jurisdição das cortes civis tanto para o clero como para os leigos. As autoridades papais finalmente “concordaram em que os quatro artigos dos hussitas deveriam ser aceitos, mas que o direito de os explicar, isto é, de determinar sua significação exata, deveria pertencer ao concílio ou, em outras palavras, ao papa e ao imperador.” -Wylie. Nesta base, fez-se um tratado, e Roma ganhou, pela dissimulação e fraude, o que não tinha conseguido pelo conflito; pois, dando sua própria interpretação aos artigos hussitas, como à Escritura Sagrada, ela poderia perverter-lhes o sentido de modo a convir a seus propósitos. Uma classe numerosa na Boêmia, vendo que isto traía sua liberdade, não se conformou com o tratado. Surgiram dissensões e divisões, que levaram à contenda e derramamento de sangue entre eles mesmos. Nesta luta o nobre Procópio sucumbiu, e pereceu a liberdade da Boêmia. Sigismundo, traidor de Huss e Jerônimo, tornou-se agora rei da Boêmia, e sem consideração para com o seu juramento de apoiar os direitos dos boêmios, prosseguiu com o estabelecimento do papado. Ele, porém, pouco ganhara com sua subserviência a Roma. Durante vinte anos sua vida estivera repleta de trabalhos e perigos. Seus exércitos tinham sido arruinados, e esgotados os seus tesouros por uma longa e infrutífera luta,e agora,depois de reinar um ano,morreu, deixando seu reino às bordas da guerra civil e legando à posteridade um nome estigmatizado com a infâmia. Seguiram-se tumultos, contendas e carnificina. Exércitos estrangeiros invadiram de novo a Boêmia, e dissensões internas continuaram a perturbar a nação. Aqueles que permaneceram fiéis ao evangelho, foram sujeitos a uma perseguição sanguinolenta. Como seus irmãos de outrora, entrando em pacto com Roma, houvessem aceito seus erros, os que permaneciam na antiga fé formaram-se em igreja distinta, tomando o nome de “Irmãos Unidos.” Este ato acarretou sobre eles as maldições de todas as classes. Contudo sua firmeza era inabalável. Obrigados a buscar refúgio nos bosques e cavernas, congregavam-se ainda para ler a Palavra de Deus, e unir-se em Seu culto. Por meio de mensageiros enviados secretamente a diversos países, souberam que aqui e acolá havia “os que isoladamente confessavam a verdade, alguns numa cidade, outros noutra, como eles próprios, objeto de perseguição; e que entre as montanhas dos Alpes havia uma antiga igreja, apoiada no fundamento das Escrituras e protestando contra as corrupções idolátricas de Roma.” -Wylie. Esta informação foi recebida com grande alegria, e iniciou-se correspondência com os cristãos valdenses.

<strong>Momentos</strong> <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de<br />

Congregavam-se multidões sob o estan<strong>da</strong>rte papal, seguras de que afinal se poria termo<br />

aos hereges hussitas. Confiante na vitória, a numerosa força entrou na Boêmia. O povo<br />

arregimentou-se para repeli-la. Os dois exércitos se aproximaram um do outro, até que<br />

apenas um rio se lhes interpunha. “Os cruzados constituíam força grandemente superior,<br />

mas em vez de se arremessarem através <strong>da</strong> torrente e travar batalha com os hussitas a<br />

quem de longe haviam vindo a combater, ficaram a olhar em silêncio para aqueles<br />

guerreiros.” -Wylie. Então, subitamente, misterioso terror caiu sobre os sol<strong>da</strong>dos. Sem<br />

desferir um golpe, aquela poderosa força debandou e espalhou-se, como se fosse dispersa<br />

por um poder invisível. Muitos foram mortos pelo exército hussita, que perseguiu os<br />

fugitivos, e imenso despojo caiu nas mãos dos vitoriosos, de maneira que a guerra, em<br />

vez de empobrecer os boêmios, os enriqueceu.<br />

Poucos anos mais tarde, sob um novo papa, promoveu-se ain<strong>da</strong> outra cruza<strong>da</strong>. Como<br />

antes, homens e meios foram trazidos de todos os países papais <strong>da</strong> Europa. Grande foi o<br />

engodo apresentado aos que se deveriam empenhar nesta perigosa empresa. Asseguravase<br />

a ca<strong>da</strong> cruzado perdão completo dos mais hediondos crimes. A todos os que<br />

morressem na guerra era prometi<strong>da</strong> preciosa recompensa no Céu, e os que sobrevivessem<br />

haveriam de colher honras e riquezas no campo de batalha. De novo se reuniu um vasto<br />

exército e, atravessando a fronteira, entraram na Boêmia. As forças hussitas recuaram<br />

diante deles, arrastando assim os invasores ca<strong>da</strong> vez mais longe para o interior do país, e<br />

levando-os a contar com a vitória já alcança<strong>da</strong>. Finalmente o exército de Procópio fez<br />

alto e, voltando-se para o inimigo, avançou para lhe <strong>da</strong>r batalha. Os cruzados,<br />

descobrindo então o seu erro, ficaram no acampamento esperando o assalto. Quando se<br />

ouviu o ruído <strong>da</strong> força que se aproximava, mesmo antes que os hussitas estivessem à<br />

vista, um pânico de novo caiu sobre os cruzados. Príncipes, generais e sol<strong>da</strong>dos rasos,<br />

arrojando as armaduras, fugiram em to<strong>da</strong>s as direções. Em vão o núncio papal, que era o<br />

dirigente <strong>da</strong> invasão, se esforçou para reunir suas forças possuí<strong>da</strong>s de terror e já<br />

desorganiza<strong>da</strong>s. Apesar de seus enormes esforços, ele próprio foi levado na on<strong>da</strong> dos<br />

fugitivos. A derrota foi completa, e novamente um imenso despojo caiu nas mãos dos<br />

vitoriosos.<br />

Assim pela segun<strong>da</strong> vez, vasto exército, enviado pelas mais poderosas nações <strong>da</strong><br />

Europa, uma hoste de homens bravos e aguerridos, treinados e equipados para a batalha,<br />

fugiu, sem <strong>da</strong>r um golpe, de diante dos defensores de uma nação pequena e, até ali, fraca.<br />

Havia nisso uma manifestação do poder divino. Os invasores foram tomados de pavor<br />

sobrenatural. Aquele que derrotou os exércitos de Faraó no Mar Vermelho, que pôs em<br />

fuga os exércitos de Midiã diante de Gideão e seus trezentos, que numa noite derribou as<br />

forças do orgulhoso assírio, de novo estendera a mão para debilitar o poder do opressor.<br />

“Eis que se acharam em grande temor, onde temor não havia, porque Deus espalhou os<br />

ossos <strong>da</strong>quele que te cercava; tu os confundiste, porque Deus os rejeitou.” Salmos 53:5.

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