Momentos da Verdade
O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma... O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma...
Momentos da Verdade Reforma, e intimidar a todos os que não se haviam abertamente declarado em seu favor. Os representantes das cidades livres foram finalmente convocados perante a Dieta, e exigiu-se-lhes declarar se acederiam aos termos da proposta. Pediram prazo, mas em vão. Quando levados à prova, quase a metade se declarou pela Reforma. Os que assim se recusaram a sacrificar a liberdade de consciência e do direito do juízo individual, bem sabiam que sua posição os assinalava para a crítica, a perseguição e condenação. Disse um dos delegados: “Devemos ou negar a Palavra de Deus, ou -ser queimados.” - D’Aubigné. O rei Fernando, representante do imperador na Dieta, viu que o decreto determinaria sérias divisões a menos que os príncipes pudessem ser induzidos a aceitá-lo e apoiá-lo. Experimentou, portanto, a arte da persuasão, bem sabendo que o emprego da força com tais homens unicamente os tornaria mais decididos. “Pediu aos príncipes que aceitassem o decreto, assegurando-lhes que o imperador grandemente se agradaria deles.” Mas aqueles homens leais reconheciam uma autoridade acima da dos governantes terrestres, e responderam calmamente: “Obedeceremos ao imperador em tudo que possa contribuir para manter a paz e a honra de Deus.” -D’Aubigné. Na presença da Dieta, o rei finalmente anunciou ao eleitor e a seus amigos que o edito “ia ser redigido na forma de um decreto imperial”, e que “a única maneira de agir que lhes restava, seria submeter-se à maioria.” Tendo assim falado, retirou-se da assembléia, não dando aos reformadores oportunidades para deliberar ou replicar. “Sem nenhum resultado enviaram uma delegação pedindo ao rei que voltasse.” À sua representação respondeu somente: “É questão decidida; a submissão é tudo o que resta.” -D’Aubigné. O partido imperial estava convicto de que os príncipes cristãos adeririam às Escrituras Sagradas como superiores às doutrinas e preceitos humanos; e sabia que, onde quer que fosse aceito este princípio, o papado seria afinal vencido. Mas, semelhantes a milhares que tem havido desde esse tempo, apenas olhavam “para as coisas que se vêem”, lisonjeando-se de que a causa do imperador e do papa era forte, e a dos reformadores fraca. Houvessem os reformadores confiado unicamente no auxilio humano, e teriam sido tão impotentes como os supunham os adeptos do papa. Mas, conquanto fracos em número e em desacordo com Roma, tinham a sua força. Apelaram “do relatório da Dieta para a Palavra de Deus, e do imperador Carlos para Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores.” -D’Aubigné. Como Fernando se recusasse a tomar em consideração suas convicções de consciência, os príncipes se decidiram a não tomar em conta a sua ausência, mas levar sem demora seu protesto perante o concílio nacional. Foi, portanto, redigida e apresentada à Dieta esta solene declaração: “Protestamos pelos que se acham presentes, perante Deus nosso único Criador, Mantenedor, Redentor e Salvador, e que um dia será
Momentos da Verdade nosso Juiz, bem como perante todos os homens e todas as criaturas, que nós, por nós e pelo nosso povo, não concordamos de maneira alguma com o decreto proposto, nem aderimos ao mesmo em tudo que seja contrário a Deus, à Sua santa Palavra, ao nosso direito de consciência, à salvação de nossa alma.” “Quê! Ratificarmos esse edito! Afirmaríamos que quando o Deus todo-poderoso chama um homem ao Seu conhecimento, esse homem, sem embargo, não possa receber o conhecimento de Deus?” “Não há doutrina correta além da que se conforma com a Palavra divina. ... O Senhor proíbe o ensino de qualquer outra doutrina. ... As Sagradas Escrituras devem ser explicadas por outros textos mais claros; ...este santo Livro é, em todas as coisas necessárias ao cristão, fácil de compreender e destinado a dissipar as trevas. Estamos resolvidos, com a graça de Deus, a manter a pregação pura e exclusiva de Sua santa Palavra, tal como se acha contida nos livros bíblicos do Antigo e Novo Testamentos, sem lhe acrescentar coisa alguma que lhe possa ser contrária. Esta Palavra é a única verdade; é a regra segura para toda doutrina e de toda a vida, e nunca pode falhar ou iludir-nos. Aquele que edifica sobre este fundamento resistirá a todos os poderes do inferno, ao passo que todas as vaidades humanas que se estabelecem contra ele cairão perante a face de Deus.” “Por esta razão rejeitamos o jugo que nos é imposto.” “Ao mesmo tempo estamos na expectativa de que Sua Majestade imperial procederá em relação a nós como príncipe cristão que ama a Deus sobre todas as coisas; e declaramo-nos prontos a tributar-lhe, bem como a vós, graciosos fidalgos, toda a afeição e obediência que sejam nosso dever justo e legítimo.” -D’Aubigné. Esta representação impressionou profundamente a Dieta. A maioria estava tomada de espanto e alarma ante a ousadia dos que protestavam. O futuro parecia-lhes tempestuoso e incerto. Dissensão, contenda, derramamento de sangue pareciam inevitáveis. Os reformadores, porém, certos da justiça de sua causa e confiando no braço da Onipotência, estavam “cheios de coragem e firmeza”. “Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autoridade arbitrária da igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder da consciência acima do magistrado, e a autoridade da Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos: ‘Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.’ Na presença da coroa de Carlos V, ele ergue a coroa de Jesus Cristo. Mas vai mais longe: firma o princípio de que todo o ensino humano deve subordinar-se aos oráculos de Deus.” -D’Aubigné. Os protestantes haviam, demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a verdade. Não haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira
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nosso Juiz, bem como perante todos os homens e to<strong>da</strong>s as criaturas, que nós, por nós e<br />
pelo nosso povo, não concor<strong>da</strong>mos de maneira alguma com o decreto proposto, nem<br />
aderimos ao mesmo em tudo que seja contrário a Deus, à Sua santa Palavra, ao nosso<br />
direito de consciência, à salvação de nossa alma.”<br />
“Quê! Ratificarmos esse edito! Afirmaríamos que quando o Deus todo-poderoso<br />
chama um homem ao Seu conhecimento, esse homem, sem embargo, não possa receber o<br />
conhecimento de Deus?” “Não há doutrina correta além <strong>da</strong> que se conforma com a<br />
Palavra divina. ... O Senhor proíbe o ensino de qualquer outra doutrina. ... As Sagra<strong>da</strong>s<br />
Escrituras devem ser explica<strong>da</strong>s por outros textos mais claros; ...este santo Livro é, em<br />
to<strong>da</strong>s as coisas necessárias ao cristão, fácil de compreender e destinado a dissipar as<br />
trevas. Estamos resolvidos, com a graça de Deus, a manter a pregação pura e exclusiva de<br />
Sua santa Palavra, tal como se acha conti<strong>da</strong> nos livros bíblicos do Antigo e Novo<br />
Testamentos, sem lhe acrescentar coisa alguma que lhe possa ser contrária. Esta Palavra é<br />
a única ver<strong>da</strong>de; é a regra segura para to<strong>da</strong> doutrina e de to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>, e nunca pode falhar<br />
ou iludir-nos. Aquele que edifica sobre este fun<strong>da</strong>mento resistirá a todos os poderes do<br />
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perante a face de Deus.”<br />
“Por esta razão rejeitamos o jugo que nos é imposto.” “Ao mesmo tempo estamos na<br />
expectativa de que Sua Majestade imperial procederá em relação a nós como príncipe<br />
cristão que ama a Deus sobre to<strong>da</strong>s as coisas; e declaramo-nos prontos a tributar-lhe, bem<br />
como a vós, graciosos fi<strong>da</strong>lgos, to<strong>da</strong> a afeição e obediência que sejam nosso dever justo e<br />
legítimo.” -D’Aubigné. Esta representação impressionou profun<strong>da</strong>mente a Dieta. A<br />
maioria estava toma<strong>da</strong> de espanto e alarma ante a ousadia dos que protestavam. O futuro<br />
parecia-lhes tempestuoso e incerto. Dissensão, conten<strong>da</strong>, derramamento de sangue<br />
pareciam inevitáveis. Os reformadores, porém, certos <strong>da</strong> justiça de sua causa e confiando<br />
no braço <strong>da</strong> Onipotência, estavam “cheios de coragem e firmeza”.<br />
“Os princípios contidos nesse célebre protesto... constituem a própria essência do<br />
protestantismo. Ora, este protesto se opõe a dois abusos do homem em matéria de fé: o<br />
primeiro é a intromissão do magistrado civil, e o segundo a autori<strong>da</strong>de arbitrária <strong>da</strong><br />
igreja. Em lugar desses abusos, coloca o protestantismo o poder <strong>da</strong> consciência acima do<br />
magistrado, e a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Palavra de Deus sobre a igreja visível. Em primeiro lugar<br />
rejeita o poder civil em assuntos divinos, e diz com os profetas e apóstolos: ‘Mais<br />
importa obedecer a Deus do que aos homens.’ Na presença <strong>da</strong> coroa de Carlos V, ele<br />
ergue a coroa de Jesus Cristo. Mas vai mais longe: firma o princípio de que todo o ensino<br />
humano deve subordinar-se aos oráculos de Deus.” -D’Aubigné. Os protestantes haviam,<br />
demais, afirmado seu direito de livremente proferir suas convicções sobre a ver<strong>da</strong>de. Não<br />
haveriam de crer e obedecer somente, mas também ensinar o que a Palavra de Deus<br />
apresenta, e negavam ao padre ou magistrado, o direito de intervir. O protesto de Espira