Momentos da Verdade
O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma... O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma...
Momentos da Verdade sua mesa era servida com as mais custosas iguarias e seletos vinhos. O peso de seus deveres eclesiásticos era aliviado através de divertimentos e festejos. Em assinalado contraste apareciam os reformadores, que eram vistos pelo povo como sendo pouco melhores do que um grupo de pedintes, e cuja alimentação frugal os conservava apenas pouco tempo à mesa. O hospedeiro de Oecolampadius, procurando ocasião de observá-lo em seu quarto, encontrava-o sempre empenhado no estudo ou em oração e, maravilhando-se grandemente, referiu que o herege era, ao menos, “muito religioso”. Na conferência, “Eck altivamente subiu a um púlpito esplendidamente ornamentado, enquanto o humilde Oecolampadius, mediocremente vestido, foi obrigado a tomar assento defronte de seu oponente, em um banco tosco.” -D’Aubigné. A voz tonitruante e ilimitada confiança de Eck nunca lhe faltaram. Seu zelo era estimulado pela esperança do ouro bem como de renome; pois o defensor da fé deveria ser recompensado com paga liberal. Quando melhores argumentos falhavam, recorria a insultos e mesmo a blasfêmias. Oecolampadius, modesto e não confiante em si próprio, arreceara-se do combate, e para ele entrara com esta solene confissão: “Não reconheço outra norma para julgar a não ser a Palavra de Deus.” -D’Aubigné. Posto que gentil e cortês nas maneiras, mostrou-se capaz e persistente. Enquanto os católicos, romanos, segundo seu hábito, apelavam para os costumes da igreja como autoridade, o reformador apegava-se firmemente às Escrituras Sagradas. “O costume”, dizia ele, “não tem força alguma em nossa Suíça, a menos que esteja de acordo com a constituição; ora, em assunto de fé, a Bíblia é a nossa constituição.” -D’Aubigné. O contraste entre os dois contendores não era destituído de efeito. O raciocínio calmo, claro, do reformador, tão gentil e modestamente apresentado, falava aos espíritos que se desviavam desgostosos das afirmações jactanciosas e violentas de Eck. A discussão continuou por dezoito dias. Em seu termo, os representantes do papa, com grande confiança, pretenderam a vitória. A maior parte dos delegados ficaram ao lado de Roma, e a Dieta declarou vencidos os reformadores, e notificou que eles, juntamente com Zwínglio, seu chefe, estavam separados da igreja. Mas os frutos da conferência revelaram de que lado estava a vantagem. A contenda resultou em forte impulso para a causa protestante, e não muito tempo depois, as importantes cidades de Berna e Basiléia se declararam pela Reforma.
Momentos da Verdade Capitulo 10 - A Europa Desperta O desaparecimento misterioso de Lutero excitara consternação em toda a Alemanha. Ouviam-se por toda parte indagações a respeito dele. Circulavam os mais disparatados rumores, e muitos criam que ele tivesse sido assassinado. Houve grande lamentação, não somente por seus amigos declarados, mas por milhares que não haviam abertamente assumido atitude pela Reforma. Muitos se comprometiam, sob juramento solene, a vingar-lhe a morte. Os chefes romanistas viram com terror até que ponto haviam atingido os sentimentos contra eles. Conquanto a princípio jubilosos com a suposta morte de Lutero, logo desejaram ocultar-se à ira do povo. Seus inimigos não haviam sido tão perturbados com seus arrojadíssimos atos enquanto se achava entre eles,como o foram com o seu afastamento. Aqueles que em sua cólera haviam procurado destruir o ousado reformador, estavam cheios de temor agora que ele se tornara um cativo indefeso. “O único meio que resta de nos salvarmos”, disse um, “consiste em acendermos tochas e sairmos à procura de Lutero pelo mundo inteiro, a fim de reintegrá-lo à nação que por ele está chamando.” -D’Aubigné. O edito do imperador parecia tornar-se impotente. Os legados papais estavam cheios de indignação, ao ver que o edito se impunha muito menos à atenção do que a sorte de Lutero. As notícias de que ele estava em segurança, embora prisioneiro, acalmavam os temores do povo, ao passo que ainda mais suscitavam o entusiasmo a seu favor. Seus escritos eram lidos com maior avidez do que nunca dantes. Um número crescente de pessoas aderia à causa do heróico homem que, em tão terrível contenda, defendera a Palavra de Deus. A Reforma estava constantemente ganhando forças. Germinara por toda parte a semente que Lutero lançara. Sua ausência cumpriu uma obra que sua presença não teria conseguido realizar. Outros obreiros sentiram nova responsabilidade, agora que seu grande chefe fora removido. Com nova fé e fervor, avançaram para fazer tudo que estivesse em seu poder, a fim de que não fosse impedida a obra tão nobremente iniciada. Mas Satanás não estava ocioso. Passou a tentar o que havia experimentado em todos os outros movimentos de reforma -enganar e destruir o povo apresentando-lhe uma contrafação em lugar da verdadeira obra. Assim como houve falsos cristos no primeiro século da igreja cristã, surgiram também falsos profetas no século XVI. Alguns homens, profundamente impressionados com a agitação que ia pelo mundo religioso, imaginavam haver recebido revelações especiais do Céu, e pretendiam ter sido divinamente incumbidos de levar avante, até à finalização, a Reforma que, declaravam, apenas fora iniciada debilmente por Lutero. Na verdade,estavam desfazendo o mesmo trabalho que ele realizara. Rejeitavam o grande princípio que era o próprio fundamento da Reforma - que a Palavra de Deus é a todo-suficiente regra de fé e prática; e substituíram aquele guia infalível pela norma mutável, incerta, de seus próprios sentimentos e impressões. Por este
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sua mesa era servi<strong>da</strong> com as mais custosas iguarias e seletos vinhos. O peso de seus<br />
deveres eclesiásticos era aliviado através de divertimentos e festejos. Em assinalado<br />
contraste apareciam os reformadores, que eram vistos pelo povo como sendo pouco<br />
melhores do que um grupo de pedintes, e cuja alimentação frugal os conservava apenas<br />
pouco tempo à mesa. O hospedeiro de Oecolampadius, procurando ocasião de observá-lo<br />
em seu quarto, encontrava-o sempre empenhado no estudo ou em oração e,<br />
maravilhando-se grandemente, referiu que o herege era, ao menos, “muito religioso”.<br />
Na conferência, “Eck altivamente subiu a um púlpito esplendi<strong>da</strong>mente ornamentado,<br />
enquanto o humilde Oecolampadius, mediocremente vestido, foi obrigado a tomar<br />
assento defronte de seu oponente, em um banco tosco.” -D’Aubigné. A voz tonitruante e<br />
ilimita<strong>da</strong> confiança de Eck nunca lhe faltaram. Seu zelo era estimulado pela esperança do<br />
ouro bem como de renome; pois o defensor <strong>da</strong> fé deveria ser recompensado com paga<br />
liberal. Quando melhores argumentos falhavam, recorria a insultos e mesmo a blasfêmias.<br />
Oecolampadius, modesto e não confiante em si próprio, arreceara-se do combate, e para<br />
ele entrara com esta solene confissão:<br />
“Não reconheço outra norma para julgar a não ser a Palavra de Deus.” -D’Aubigné.<br />
Posto que gentil e cortês nas maneiras, mostrou-se capaz e persistente. Enquanto os<br />
católicos, romanos, segundo seu hábito, apelavam para os costumes <strong>da</strong> igreja como<br />
autori<strong>da</strong>de, o reformador apegava-se firmemente às Escrituras Sagra<strong>da</strong>s. “O costume”,<br />
dizia ele, “não tem força alguma em nossa Suíça, a menos que esteja de acordo com a<br />
constituição; ora, em assunto de fé, a Bíblia é a nossa constituição.” -D’Aubigné. O<br />
contraste entre os dois contendores não era destituído de efeito. O raciocínio calmo, claro,<br />
do reformador, tão gentil e modestamente apresentado, falava aos espíritos que se<br />
desviavam desgostosos <strong>da</strong>s afirmações jactanciosas e violentas de Eck.<br />
A discussão continuou por dezoito dias. Em seu termo, os representantes do papa,<br />
com grande confiança, pretenderam a vitória. A maior parte dos delegados ficaram ao<br />
lado de Roma, e a Dieta declarou vencidos os reformadores, e notificou que eles,<br />
juntamente com Zwínglio, seu chefe, estavam separados <strong>da</strong> igreja. Mas os frutos <strong>da</strong><br />
conferência revelaram de que lado estava a vantagem. A conten<strong>da</strong> resultou em forte<br />
impulso para a causa protestante, e não muito tempo depois, as importantes ci<strong>da</strong>des de<br />
Berna e Basiléia se declararam pela Reforma.