Momentos da Verdade
O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma... O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma...
Momentos da Verdade da graça de Cristo, livres para continuar no pecado. “Onde quer que haja fé em Deus, ali Deus está; e onde quer que Deus habite, ali se desperta um zelo que insta com os homens e os impele às boas obras.” -D’Aubigné. Tal era o interesse na pregação de Zwínglio que a catedral não comportava as multidões que o vinham ouvir. Pouco a pouco, à medida em que o podiam suportar, desvendava a verdade a seus ouvintes. Tinha o cuidado de não introduzir a princípio pontos que os assustariam, criando preconceitos. Seu trabalho era conquistarlhes o coração para os ensinos de Cristo, abrandá-lo por Seu amor, e diante deles conservar Seu exemplo; e recebendo eles os princípios do evangelho, suas crenças e práticas supersticiosas inevitavelmente desapareceriam. Passo a passo avançava a Reforma em Zurique. Alarmados, seus inimigos levantaram-se em ativa oposição. Um ano antes o monge de Wittenberg proferira o seu “Não” ao papa e ao imperador, em Worms, e agora tudo parecia indicar uma resistência semelhante às pretensões papais em Zurique. Reiterados ataques foram feitos contra Zwínglio. Nos cantões papais, de tempos em tempos, discípulos do evangelho eram levados à tortura, mas isto não bastava; o ensinador de heresias deveria ser reduzido ao silêncio. De acordo com isto, o bispo de Constança enviou três delegados ao conselho de Zurique, acusando Zwínglio de ensinar o povo a transgredir as leis da igreja, pondo assim em perigo a paz e a boa ordem da sociedade. Se a autoridade da igreja fosse posta de lado, insistia ele, resultaria anarquia universal. Zwínglio replicou que durante quatro anos estivera a ensinar o evangelho em Zurique, “que era mais silenciosa e pacífica que qualquer outra cidade da confederação.” “Não é, então”, disse ele, “o cristianismo a melhor salvaguarda da segurança geral?” -Wylie. Os delegados aconselharam os membros do conselho a permanecer na igreja, fora da qual, declararam, não havia salvação. Zwínglio respondeu: “Não vos mova esta acusação. O fundamento da igreja é a mesma Rocha, o mesmo Cristo, que deu a Pedro seu nome porque ele O confessou fielmente. Em todo país, quem quer que creia de todo o coração no Senhor Jesus, é aceito por Deus. Esta, verdadeiramente, é a igreja, fora da qual ninguém pode salvar-se.” -D’Aubigné. Como resultado da conferência, um dos delegados do bispo aceitou a fé reformada. O conselho recusou-se a agir contra Zwínglio, e Roma preparouse para novo ataque. O reformador, ao ser informado da trama de seus inimigos, exclamou: “Eles que venham; eu os temo como o rochedo se arreceia das vagas que trovejam a seus pés.” -Wylie. Os esforços eclesiásticos apenas favoreceram a causa que procuravam destruir. A verdade continuou a ser espalhada. Na Alemanha seus adeptos, abatidos com o desaparecimento de Lutero, tomaram novo ânimo, quando viram o progresso do evangelho na Suíça. Ficando a Reforma implantada em Zurique, seus frutos eram mais amplamente vistos na
Momentos da Verdade supressão do vício e promoção da ordem e harmonia. “A paz tem sua habitação em nossa cidade”, escreveu Zwínglio; “nenhuma rixa, nenhuma hipocrisia, nenhuma inveja, nenhuma contenda. Donde pode tal união vir senão do Senhor e de nossa doutrina, que nos enche dos frutos de paz e piedade?” -Wylie. As vitórias ganhas pela Reforma estimularam os romanistas a esforços ainda mais decididos, para a subversão daquela. Vendo quão pouco fora alcançado pela perseguição no sentido de suprimir a obra de Lutero na Alemanha, decidiram-se a enfrentar a Reforma com as próprias armas da mesma. Manteriam uma discussão com Zwínglio e, havendo eles de dispor o assunto, assegurar-se-iam a vitória, escolhendo eles mesmos, não somente o local do debate, mas os juízes que decidiriam entre os contendores. E, se pudessem manter Zwínglio em seu poder, teriam cuidado em que ele lhes não escapasse. Reduzido o chefe ao silêncio, poder-se-ia rapidamente sufocar o movimento. Este propósito, contudo, foi cuidadosamente oculto. Fora designado que o debate tivesse lugar em Bade; mas Zwínglio não estava presente. O Conselho de Zurique, suspeitando dos intuitos dos católicos, romanos, e advertido pelas fogueiras acesas nos cantões papais para os que professavam o evangelho, proibiu a seu pastor expor-se àquele perigo. Em Zurique ele estava pronto a enfrentar todos os partidários que Roma pudesse enviar; mas ir a Bade, onde o sangue dos mártires da verdade acabara de ser derramado, seria ir para a morte certa. Oecolampadius e Haller foram escolhidos para representar os reformadores, enquanto o famoso Dr. Eck, apoiado por uma hoste de ilustres doutores e prelados, era o defensor de Roma. Posto que Zwínglio não comparecesse, sua influência foi sentida. Os secretários foram todos escolhidos pelos romanistas, e a outros foi vedado tomar notas, sob pena de morte. Apesar disto Zwínglio recebia diariamente um relatório fiel do que se dizia em Bade. Um estudante que assistia à discussão, fazia cada noite um relato dos argumentos naquele dia apresentados. Dois outros estudantes faziam a entrega desses papéis, juntamente com as cartas diárias de Oecolampadius, a Zwínlio, em Zurique. O reformador respondia, dando conselhos e sugestões. Suas cartas eram escritas à noite, e os estudantes voltavam com elas a Bade, de manhã. Para iludir a vigilância do guarda estacionado às portas da cidade, esses mensageiros levavam sobre a cabeça cestos com aves domésticas, e era-lhes permitido passar sem impedimento. Assim Zwínglio manteve a batalha com seus ardilosos antagonistas. Ele “trabalhou mais”, disse Myconius, “com suas meditações, noites de vigília e conselhos que transmitia a Bade, do que teria feito discutindo em pessoa no meio de seus inimigos.” -D’Aubigné. Os representantes de Roma, exultantes pelo triunfo antecipado, tinham ido a Bade ornamentados com as mais ricas vestes e resplendentes de jóias. Viviam luxuosamente e
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supressão do vício e promoção <strong>da</strong> ordem e harmonia. “A paz tem sua habitação em nossa<br />
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As vitórias ganhas pela Reforma estimularam os romanistas a esforços ain<strong>da</strong> mais<br />
decididos, para a subversão <strong>da</strong>quela. Vendo quão pouco fora alcançado pela perseguição<br />
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havendo eles de dispor o assunto, assegurar-se-iam a vitória, escolhendo eles mesmos,<br />
não somente o local do debate, mas os juízes que decidiriam entre os contendores. E, se<br />
pudessem manter Zwínglio em seu poder, teriam cui<strong>da</strong>do em que ele lhes não escapasse.<br />
Reduzido o chefe ao silêncio, poder-se-ia rapi<strong>da</strong>mente sufocar o movimento. Este<br />
propósito, contudo, foi cui<strong>da</strong>dosamente oculto.<br />
Fora designado que o debate tivesse lugar em Bade; mas Zwínglio não estava<br />
presente. O Conselho de Zurique, suspeitando dos intuitos dos católicos, romanos, e<br />
advertido pelas fogueiras acesas nos cantões papais para os que professavam o<br />
evangelho, proibiu a seu pastor expor-se àquele perigo. Em Zurique ele estava pronto a<br />
enfrentar todos os partidários que Roma pudesse enviar; mas ir a Bade, onde o sangue<br />
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Oecolampadius e Haller foram escolhidos para representar os reformadores, enquanto o<br />
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Roma.<br />
Posto que Zwínglio não comparecesse, sua influência foi senti<strong>da</strong>. Os secretários<br />
foram todos escolhidos pelos romanistas, e a outros foi ve<strong>da</strong>do tomar notas, sob pena de<br />
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Bade. Um estu<strong>da</strong>nte que assistia à discussão, fazia ca<strong>da</strong> noite um relato dos argumentos<br />
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juntamente com as cartas diárias de Oecolampadius, a Zwínlio, em Zurique. O<br />
reformador respondia, <strong>da</strong>ndo conselhos e sugestões. Suas cartas eram escritas à noite, e<br />
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suas meditações, noites de vigília e conselhos que transmitia a Bade, do que teria feito<br />
discutindo em pessoa no meio de seus inimigos.” -D’Aubigné.<br />
Os representantes de Roma, exultantes pelo triunfo antecipado, tinham ido a Bade<br />
ornamentados com as mais ricas vestes e resplendentes de jóias. Viviam luxuosamente e