Momentos da Verdade
O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma... O mistério da história não é completamente escuro, pois é um véu que oculta apenas parcialmente a atividade criadora e as forças espirituais e a operação das leis espirituais. É comum dizer que o sangue dos mártires é a semente da Igreja, mas o que estamos afirmando é simplesmente que os atos individuais de decisão espiritual dão frutos sociais... Pois as grandes mudanças culturais e revoluções históricas que decidem o destino das nações ou o caráter de uma época são o resultado cumulativo de uma série de decisões espirituais... a fé e o discernimento, ou a recusa e cegueira, dos indivíduos. Ninguém pode pôr o dedo no último ato espiritual que inclina o equilíbrio e faz com que a ordem externa da sociedade assuma uma nova forma...
Momentos da Verdade Capitulo 8 - O Poder Triunfante da Verdade Um novo imperador, Carlos V, subira ao trono da Alemanha, e os emissários de Roma se apressaram a apresentar suas congratulações e induzir o monarca a empregar seu poder contra a Reforma. De um lado, o eleitor da Saxônia, a quem Carlos em grande parte devia a coroa, rogava-lhe não dar passo algum contra Lutero antes de lhe conceder oportunidade de se fazer ouvir. O imperador ficou assim colocado em posição de grande perplexidade e embaraço. Os adeptos do papa não ficariam satisfeitos com coisa alguma a não ser um edito imperial sentenciando Lutero à morte. O eleitor declarava firmemente que “nem sua majestade imperial, nem outra pessoa qualquer tinha demonstrado haverem sido refutados os escritos de Lutero”; portanto, pedia “que o Dr. Lutero fosse provido de salvoconduto, de maneira que pudesse comparecer perante um tribunal de juízes sábios, piedosos e imparciais.” -D’Aubigné. A atenção de todos os partidos dirigia-se agora para a assembléia dos Estados alemães que se reuniu em Worms logo depois da ascensão de Carlos ao poder imperial. Havia importantes questões e interesses políticos a serem considerados por esse concílio nacional. Pela primeira vez os príncipes da Alemanha deveriam encontrar-se com seu jovem monarca numa assembléia deliberativa. De todas as partes da pátria haviam chegado os dignitários da Igreja e do Estado. Fidalgos seculares, de elevada linhagem, poderosos e ciosos de seus direitos hereditários; eclesiásticos principescos, afetados de sua consciente superioridade em ordem social e poderio; cavalhei- ros da corte e seus partidários armados; e embaixadores de países estrangeiros e longínquos -todos se achavam reunidos em Worms. Contudo, naquela vasta assembléia, o assunto que despertava o mais profundo interesse era a causa do reformador saxônio. Carlos previamente encarregara o eleitor de levar consigo Lutero à Dieta, assegurando-lhe proteção e prometendo franco estudo das questões em contenda, com pessoas competentes. Lutero estava ansioso por comparecer perante o imperador. Sua saúde achava-se naquela ocasião muito alquebrada; não obstante escreveu ao eleitor: “Se eu não puder ir a Worms com boa saúde, serei levado para lá, doente como estou. Pois se o imperador me chama, não posso duvidar de que é o chamado do próprio Deus. Se desejarem usar de violência para comigo (e isto é muito provável, pois não é para a instrução deles que me ordenam comparecer), ponho o caso nas mãos do Senhor. Ainda vive e reina Aquele que preservou os três jovens na fornalha ardente. Se Ele me não salvar, minha vida é de pouca importância. Tão-somente evitemos que o evangelho seja exposto ao escárnio dos ímpios; e por ele derramemos nosso sangue, de preferência a deixar que eles triunfem. Não me compete decidir se minha vida ou minha morte contribuirá mais para a salvação de todos. ... Podeis esperar tudo de mim... exceto fuga e abjuração. Fugir não posso, e menos ainda me retratar.” -D’Aubigné.
Momentos da Verdade Quando em Worms circularam as notícias de que Lutero deveria comparecer perante a Dieta, houve geral excitação. Aleandro, o delegado papal a quem fora especialmente confiado o caso, estava alarmado e enraivecido. Via que o resultado seria desastroso para a causa papal. Instituir inquérito sobre um caso em que o papa já havia pronunciado sentença de morte, seria lançar o desdém sobre a autoridade do soberano pontífice. Além disso, tinha apreensões de que os eloqüentes e poderosos argumentos daquele homem pudessem desviar da causa do papa muitos dos príncipes. Com muita insistência, pois, advertiu Carlos contra o aparecimento de Lutero em Worms. Por este tempo foi publicada a bula que declarava a excomunhão de Lutero. Este fato, em acréscimo às representações do legado, induziu o imperador a ceder. Escreveu ao eleitor que, se Lutero não se retratasse, deveria permanecer em Wittenberg. Não contente com esta vitória, Aleandro trabalhou com toda a força e astúcia que possuía, para conseguir a condenação de Lutero. Com uma persistência digna de melhor causa, insistiu em que o caso chegasse à atenção dos príncipes, prelados e outros membros da assembléia, acusando o reformador de “sedição, rebelião e blasfêmia.” Mas a veemência e paixão manifestadas pelo legado revelaram demasiadamente claro o espírito que o impulsionava. “Ele é movido pelo ódio e vingança”, foi a observação geral, “muito mais do que pelo zelo e piedade.” -D’Aubigné. A maior parte da Dieta estava mais do que nunca inclinada a considerar favoravelmente a causa de Lutero. Com redobrado zelo insistia Aleandro com o imperador sobre o dever de executar os editos papais. Mas, pelas leis da Alemanha, não se poderia fazer isto sem o apoio dos príncipes; e vencido finalmente pela importunação do legado, Carlos ordenou-lhe apresentar seu caso à Dieta. “Foi um dia pomposo para o núncio. A assembléia era grandiosa; a causa ainda maior. Aleandro deveria pleitear em favor de Roma, ... mãe e senhora de todas as igrejas.” Deveria reivindicar a soberania de Pedro perante os principados da cristandade, reunidos em assembléia. “Possuía o dom da eloqüência e ergueu-se à altura da ocasião. Determinava a Providência que Roma aparecesse e pleiteasse pelo mais hábil de seus oradores, na presença do mais augusto tribunal, antes que fosse condenada.” -Wylie. Com alguns receios, os que favoreciam o reformador anteviam o efeito dos discursos de Aleandro. O eleitor da Saxônia não estava presente, mas por sua ordem alguns de seus conselheiros ali se achavam para tomar notas do discurso do núncio. Com todo o prestígio do saber e da eloqüência, Aleandro se pôs a derribar a verdade. Acusação sobre acusação lançou ele contra Lutero, como inimigo da Igreja e do Estado, dos vivos e dos mortos, do clero e dos leigos, dos concílios e dos cristãos em geral. “Nos erros de Lutero há o suficiente”, declarou ele, para assegurar a queima de “cem mil hereges.”
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<strong>Momentos</strong> <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de<br />
Capitulo 8 - O Poder Triunfante <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de<br />
Um novo imperador, Carlos V, subira ao trono <strong>da</strong> Alemanha, e os emissários de<br />
Roma se apressaram a apresentar suas congratulações e induzir o monarca a empregar<br />
seu poder contra a Reforma. De um lado, o eleitor <strong>da</strong> Saxônia, a quem Carlos em grande<br />
parte devia a coroa, rogava-lhe não <strong>da</strong>r passo algum contra Lutero antes de lhe conceder<br />
oportuni<strong>da</strong>de de se fazer ouvir. O imperador ficou assim colocado em posição de grande<br />
perplexi<strong>da</strong>de e embaraço. Os adeptos do papa não ficariam satisfeitos com coisa alguma a<br />
não ser um edito imperial sentenciando Lutero à morte. O eleitor declarava firmemente<br />
que “nem sua majestade imperial, nem outra pessoa qualquer tinha demonstrado haverem<br />
sido refutados os escritos de Lutero”; portanto, pedia “que o Dr. Lutero fosse provido de<br />
salvoconduto, de maneira que pudesse comparecer perante um tribunal de juízes sábios,<br />
piedosos e imparciais.” -D’Aubigné.<br />
A atenção de todos os partidos dirigia-se agora para a assembléia dos Estados alemães<br />
que se reuniu em Worms logo depois <strong>da</strong> ascensão de Carlos ao poder imperial. Havia<br />
importantes questões e interesses políticos a serem considerados por esse concílio<br />
nacional. Pela primeira vez os príncipes <strong>da</strong> Alemanha deveriam encontrar-se com seu<br />
jovem monarca numa assembléia deliberativa. De to<strong>da</strong>s as partes <strong>da</strong> pátria haviam<br />
chegado os dignitários <strong>da</strong> Igreja e do Estado. Fi<strong>da</strong>lgos seculares, de eleva<strong>da</strong> linhagem,<br />
poderosos e ciosos de seus direitos hereditários; eclesiásticos principescos, afetados de<br />
sua consciente superiori<strong>da</strong>de em ordem social e poderio; cavalhei- ros <strong>da</strong> corte e seus<br />
partidários armados; e embaixadores de países estrangeiros e longínquos -todos se<br />
achavam reunidos em Worms. Contudo, naquela vasta assembléia, o assunto que<br />
despertava o mais profundo interesse era a causa do reformador saxônio.<br />
Carlos previamente encarregara o eleitor de levar consigo Lutero à Dieta,<br />
assegurando-lhe proteção e prometendo franco estudo <strong>da</strong>s questões em conten<strong>da</strong>, com<br />
pessoas competentes. Lutero estava ansioso por comparecer perante o imperador. Sua<br />
saúde achava-se naquela ocasião muito alquebra<strong>da</strong>; não obstante escreveu ao eleitor: “Se<br />
eu não puder ir a Worms com boa saúde, serei levado para lá, doente como estou. Pois se<br />
o imperador me chama, não posso duvi<strong>da</strong>r de que é o chamado do próprio Deus. Se<br />
desejarem usar de violência para comigo (e isto é muito provável, pois não é para a<br />
instrução deles que me ordenam comparecer), ponho o caso nas mãos do Senhor. Ain<strong>da</strong><br />
vive e reina Aquele que preservou os três jovens na fornalha ardente. Se Ele me não<br />
salvar, minha vi<strong>da</strong> é de pouca importância. Tão-somente evitemos que o evangelho seja<br />
exposto ao escárnio dos ímpios; e por ele derramemos nosso sangue, de preferência a<br />
deixar que eles triunfem. Não me compete decidir se minha vi<strong>da</strong> ou minha morte<br />
contribuirá mais para a salvação de todos. ... Podeis esperar tudo de mim... exceto fuga e<br />
abjuração. Fugir não posso, e menos ain<strong>da</strong> me retratar.” -D’Aubigné.