D Grau - 3ª Edição
3ª Edição da revista dos alunos de Física e Engenharia Física da FCUL, produzida e editada pelo NFEF-FCUL.
3ª Edição da revista dos alunos de Física e Engenharia Física da FCUL, produzida e editada pelo NFEF-FCUL.
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3ª Edição | 2023
D Grau
Dº, ou "D Grau", é a revista anual do NFEF-FCUL dos alunos
para os alunos, que conta com a participação de todos aqueles que
queiram contribuir. Neste 7º mandato lançamos, com todo o orgulho,
a sua 3ª edição, dando então, pela terceira vez, continuidade
a esta nobre iniciativa que une alunos dos 3 ciclos de estudo, professores
e investigadores, perante um propósito: divulgar a física,
e aquilo que é estudá-la. Como coordenadora do Departamento de
Imagem e Divulgação do presente ano letivo, foi de braços abertos
que aceitei o desafio de coordenar esta nova edição, no entanto, isto
seria impossível não fosse a valiosa contribuição, em termos de comunicação,
procura e edição, do colaborador do Departamento de
Imagem e Divulgação e aluno do primeiro ano de licenciatura em
Engenharia Física, David Encarnação, a quem devo o meu primeiro
agradecimento, e à aluna do 1º ano de mestrado em Física, Eduarda
Pimentel, pelo seu contributo na revisão de texto.
Quero também agradecer a todos os alunos que deixaram a sua
marca, nesta 3ª edição da D Grau, redigindo artigos, testemunhos
e ilustrações. Quero ainda agradecer aos professores e investigadores
da casa que partilharam do seu conhecimento connosco, e
ofereceram do seu tempo e disponibilidade para a redação dos artigos
propostos. Quero, finalmente, agradecer à atual presidente
do NFEF-FCUL, Madalena Gamboa, e ao fundador do NFEF-FCUL
Nuno Gonçalves, pelas dedicatórias e voto de confiança.
A Coordenadora do Departamento de Imagem e Divulgação,
Carolina Machado
Caros colegas estudantes de física, caros professores e comunidade académica,
os alunos de física e engenharia física apresentam a terceira edição
da Revista Dº. Esperamos que a apreciem, que vos desperte curiosidade e
vos faça sonhar.
Nas páginas da revista que têm nas mãos encontra-se um cartoon e vários
artigos sobre temas relacionados com a Física. Poderão ler sobre o
prémio Nobel da Física em 2022, o "Very Large Telescope" ou a nova estrutura
da licenciatura em Física. Decidimos dar continuidade a este projeto
porque acreditamos que é um verdadeiro veículo de criatividade, liberdade
de expressão e amor à Física!
Em nome do núcleo, agradeço a toda a equipa do NFEF-FCUL pelo trabalho
desenvolvido durante este ano, principalmente aos colegas que concretizaram
a edição desta revista. Estamos muito gratos a todos os autores
dos artigos, desde os professores que aceitaram o convite, aos colegas que
se disponibilizaram para contribuir. Cada um de vós faz parte da história do
NFEF-FCUL e deste Degrau!
Está nas mãos de cada um de nós tornar este mundo melhor. Desde 19
de maio de 2016 que o núcleo existe para os estudantes e porque os estudantes
o fazem existir. Com esta nova edição da revista, esperamos que
aceitem o desafio de continuar a construir esta escada, degrau a degrau.
Peço que tenham sempre esperança em vocês, no NFEF-FCUL e na Física!
A Presidente
Madalena Gamboa
3
Esta edição foi publicada no dia 14 de abril de 2023 em celebração do World Quantum Day
Índice
Evolução da Inteligência Artificial: ChatGPT 7
Um olhar sobre o curso de Física em Ciências 10
Reboot 13
Sem Atrito 15
Desafio Matemático 16
A fundação do NFEF-FCUL 17
Será que a Relatividade Geral está totalmente certa e 19
completa ou ainda há muitas coisas escuras por aí?
Física Fora da Academia 27
Astroinformática – o céu não é o limite! 31
Estudos e Investigação VS Motivação 35
Cartoon 37
O Projeto ESPRESSO no Very Large Telescope do ESO 39
O significado da investigação em Mecânica Quântica 43
À descoberta do Universo profundo com o Satélite Euclid 46
Referências Bibliográficas 48
Resolução do Desafio Matemático 49
5
Placa de circuitos (Fonte: David Encarnação)
Evolução da Inteligência Artificial: ChatGPT
A
Inteligência Artificial (IA) é uma das áreas
mais promissoras da ciência e tecnologia,
e temos visto avanços incríveis nos últimos
anos. A IA é uma ferramenta poderosa que
pode ser usada para resolver muitos problemas,
desde a otimização de processos até à criação
de sistemas autónomos que podem agir sem intervenção
humana.
De entre os muitos exemplos de IA, o
ChatGPT é um dos mais interessantes e impressionantes.
É um modelo de linguagem criado
pela OpenAI, que é capaz de responder
a perguntas e gerar texto automaticamente. O
ChatGPT é treinado em uma enorme quantidade
de dados e usa a técnica de aprendizagem de
máquina chamada transformer para gerar respostas
precisas e informativas.
A história do ChatGPT começa em 20 15,
quando a OpenAI foi fundada por Elon Musk e
outros empreendedores de tecnologia para desenvolver
tecnologias avançadas de inteligência
artificial. Em 2018, a equipa da OpenAI lançou
o primeiro modelo GPT (Generative Pre-trained
Transformer), que estabeleceu um novo recorde
em várias tarefas de linguagem natural. Desde
então, a equipa tem trabalhado em versões maiores
e mais poderosas do modelo, culminando
no GPT-3, que é o modelo mais avançado atualmente
disponível.
Então, como pode o ChatGPT afetar a
vida diária de um estudante universitário? Bem, a
resposta é simples: ele pode ser usa-do para ajudar
a responder perguntas difíceis e oferecer sugestões
úteis. Por exemplo, se um estudante estiver
com dificuldades em entender um conceito
numa aula, pode perguntar ao ChatGPT para obter
uma explicação mais clara. Além disso, o
ChatGPT pode ser usado para ajudar a escrever
ensaios ou trabalhos de pesquisa, fornecendo informações
úteis e sugestões para melhorar a redação.
Robô Sophia, um robô humanóide famoso que usa
IA para simular diálogos realistas, simulando até
expressões faciais Fonte: Hanson Robotics
Além disso, o ChatGPT também pode ser
usado como uma ferramenta de estudo. Ele pode
ser treinado em materiais específicos, como notas
de aula ou livros, e pode ajudar os estudantes
a lembrar informações importantes ou a entender
conceitos complexos. Também pode ser usado
para criar resumos ou anotações, economizando
tempo e esforço para os estudantes.
Logótipo da OpenAI, empresa desenvolvedora do
ChatGPT Fonte: OpenAI
O ChatGPT é um exemplo incrível de
como a inteligência artificial está mudando a maneira
como interagimos com a tecnologia. Ele
mostra que, mesmo que a IA ainda esteja em desenvolvimento,
já é capaz de oferecer soluções
úteis e práticas para problemas reais.
7
No entanto, é importante lembrar que a
inteligência artificial não é uma solução para todos
os problemas. Ainda há muito trabalho a ser
feito para garantir que a IA seja usada de maneira
ética e responsável. As preocupações com a privacidade,
a segurança e o viés algorítmico são
apenas algumas das questões que precisam ser
abordadas à medida que a tecnologia avança.
Além disso, é importante reconhecer que
a IA não pode substituir completamente a interação
humana. Embora o ChatGPT possa ser
uma ferramenta útil para responder perguntas ou
ajudar a estudar, ainda é importante ter interações
pessoais e colaborar com outros estudantes
e professores.
Em resumo, o ChatGPT é um exemplo impressionante
dos avanços recentes da inteligência
artificial. Ele pode ser usado para ajudar os
estudantes universitários a responder perguntas,
escrever ensaios e estudar de forma mais eficiente.
No entanto, é importante lembrar que a IA
não pode substituir completamente a interação
humana e ainda há desafios a serem superados.
Por fim, é notável que o ChatGPT tenha
escrito este artigo sobre si mesmo (com ligeira
correção linguística). Isso demonstra como a IA
avançou nos últimos anos e como ela pode ser
uma ferramenta valiosa para a sociedade. No
entanto, é importante continuar a desenvolver e
usar a tecnologia de forma responsável para garantir
que ela beneficie a todos.
O ChatGPT faz uma introdução de si mesmo
Fonte: ChatGPT
ChatGPT
Modelo de linguagem
Placa de circuitos (Fonte: David Encarnação)
Laboratório no Museu das Ciências Naturais, local da antiga Faculdade de Ciências (Fonte: Eduarda Pimentel)
Um olhar sobre o curso de Física em Ciências
Na Faculdade de Ciências em 1964 o
curso de Física e Química deu origem às licenciaturas
em Física e em Química. Quando entrei
na faculdade, nos finais dos anos 70, a Faculdade
de Ciências era ainda a única na região de
Lisboa a oferecer uma licenciatura em Física.
Um ano antes, em 1978 tinha-se dado
o trágico incêndio que destruiu uma parte considerável
do edifício central da Faculdade na Rua
da Escola Politécnica. Embora a secção do edifício
onde funcionava o Departamento de Física
tenha sido poupada à destruição, as aulas gerais
da Física passaram também para as instalações
disponibilizadas pelo Ministério da Educação na
Avenida 24 de Julho. Era uma espécie de casarão,
onde se abriram salas de aula e onde não
faltava a indispensável cafetaria.
As aulas de laboratório continuaram a
ser dadas na Rua da Escola Politécnica, o que
nos fazia saltar de um lado para o outro, mas também
permitia que desfrutássemos do magnifico
jardim botânico. Os laboratórios na Politécnica
(como nós chamávamos à Escola) tinham um ar
de século XIX, que acrescentava charme ao espaço.
Recordo desse tempo o Sr. Arnaldo, funcionário
que entre outras tarefas, dava apoio aos
laboratórios. Sempre bem disposto e com muita
paciência para os alunos, deixava-nos ficar mais
tempo sempre que um trabalho não tinha corrido
bem, ou simplesmente queríamos ver (fora
do tempo de aulas) um equipamento a funcionar.
Em 1985 a Faculdade muda grande
parte das aulas para os novos edifícios C1 e C2
do Campo Grande, altura em que entrei como assistente
para o Departamento de Física. Foram
também tempos de mudança para a Física em
Portugal.
Rodeado de um pequeno número de físicos
de Lisboa e Coimbra, Mariano Gago consegue
em 1986 a adesão de Portugal ao CERN, a
primeira grande instituição científica em que entrámos.
Desde a primeira hora que a Faculdade
de Ciências participou, através dos seus docentes
e estudantes nessa aventura, tanto mais extraordinária
para os jovens, como eu na altura,
que nos permitia o acesso às grandes experiências,
com as quais de outra forma apenas poderíamos
sonhar.
Laboratório do Acelerador de Partículas do CERN
Fonte: CCM News
Museu de Ciências Naturais, local da antiga FCUL,
também representado na capa
Fonte: Eduarda Pimentel
O ambiente científico e cultural no CERN
era (e continua a ser) absolutamente fantástico.
Penso que seria indispensável que todos os estudantes
de Física, pelo menos visitem um destes
grandes laboratórios, ou melhor, consigam entrar
num dos programas de estudante de verão.
Com o passar dos anos Portugal aderiu
a outras grandes instituições no domínio da Física
(como a ESA, o ESO, etc.), sendo grande
a escolha dada em termos de oportunidades ao
10
novos estudantes. O curso na Faculdade tem sofrido
várias alterações ao longo dos anos.
Durante um período alargado de tempo
teve como ramos a Microfísica, Macrofísica e
Educacional, que depois deram origem a licenciaturas
independentes (ou que se extinguiram,
como foi o caso do ramo Educacional). Em particular
a extinção dos cursos dirigidos ao Ensino,
campo em que a Faculdade de Ciências era líder,
veio a revelar-se nefasta para o país, contribuindo
para carência que atualmente se sente
neste sector.
No ano lectivo de 2023/24 entra em funcionamento
uma reestruturação da Licenciatura
em Física, que procura corrigir pequenas falhas
na formação dos nossos alunos, aumentado a
formação experimental e a componente de Astronomia
e Astrofísica.
O curso de Física é desde há alguns
anos a licenciatura com maior nota mínima de
entrada na Faculdade de Ciências, sendo que a
grande maioria dos alunos que frequentam a licenciatura
escolheu o curso em primeira opção.
Apesar da elevada qualidade dos alunos, alguns
sentem dificuldade na adaptação à nova realidade
que encontram na faculdade, o que se reflete
num tempo superior aos três anos para a
conclusão da licenciatura. A melhoria do rendimento
escolar dos alunos é assim uma das prioridades.
Como é sabido, sobretudo nas áreas científicas
e tecnológicas, a licenciatura é apenas
o começo do percurso, uma vez que a formação
deve ser completada, pelo menos com o mestrado.
Contudo mesmo para quem apenas pretende
ficar pelo primeiro nível, a empregabilidade
é muito elevada. Os números oficiais indicam
que a 6 meses, após a conclusão do grau, a percentagem
de desempregados é apenas de 1%.
Em conclusão, continuamos pois confiantes
que a formação dada é de elevada qualidade,
o que é confirmado, por exemplo, pelos
elogios feitos por supervisores estrangeiros aos
nossos alunos.
Reitoria da Universidade de Lisboa no ano da sua inauguração, em 1961, 3 anos antes da criação da
Licenciatura em Física na Faculdade de Ciências
Fonte: Blog Restos de Colecção
Luís Peralta
Docente Dep. Física FCUL
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Logos Reboot e Sem Atrito (Fonte: Reboot e Sem Atrito)
Reboot
O desafio
Um dos melhores sentimentos do mundo
é o do momento de entendimento, é um levantar
da neblina. Nem sempre temos acesso a
esse tipo de momentos, o processo de adquirir
novo conhecimento com alguma complexidade
é lento, necessita de babysitting, utilizando ligações
de conceitos prévias, informação conhecida,
o nosso cérebro cria novas, muitas vezes
num processo semelhante à analogia.
À medida que o conhecimento se complexifica,
a dificuldade de o explicar a outros aumenta,
na tentativa de o “simplificar” perdem-se
cada vez mais detalhes e interessados. Para
reter interessados é necessário muito trabalho.
Este é o grande desafio da divulgação científica.
Têm de existir um bando de dedicados,
com a missão de atacar este desafio, em várias
áreas do mundo científico. Os dedicados normalmente
começam com uma ideia, o combustível
único da dedicação, quando a única recompensa
é o produto do processo, normalmente
denominam-se de voluntários. Quando se é jovem,
considero que esta é uma das melhores formas
de sair da zona de conforto e ter a liberdade
de explorar outras atividades e aprender.
O Reboot
A missão de encurtar a ponte entre sociedade
e a comunidade científica tem na sua génese
muitas parecenças com a do Reboot:
Empoderar as pessoas e organizações com
informação acessível, espaço de reflexão e
debate, a fim de provocar mudança na sociedade.
O trabalho de tornar informação, capaz
de empoderar, acessível é no sentido lato a missão
científica.
Os dedicados
O Começo
A nossa Associação iniciou-se em Outubro
de 2020, comigo e com a Sofia Grilo, Engenheira
Biomédica e Innovation Project Lead
na NOVA IMS, com intenção de chegar aos indiferentes,
aqueles para os quais consideramos
que a comunicação e eventos de sustentabilidade
não estão direccionados.
A equipa do Reboot
Fonte: Tomás Sousa
13
"Aos indiferentes"
Precisamos dos indiferentes, dos conformados e dos cépticos.
Precisamos dos que ligam demasiado ao carro.
E dos que não desligam a luz.
Precisamos dos que deixam a água a correr.
E dos que se demoram no banho.
Precisamos dos que atiram para o mar.
E dos que lançam para o ar.
Precisamos dos pessimistas e dos consumistas.
Dos que querem palhinha. E saquinho. E descartavelzinho.
Precisamos dos que reciclam desculpas e mais coisa nenhuma.
Dos que não querem e dos que não crêem.
Precisamos até dos que não fazem por mal.
Precisamos dos indiferentes.
Já não dá para salvar o mundo sem eles.
Este poema, manifesta da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, descreve da melhor forma o que
para nós é um dos maiores defeitos na comunidade que luta para a sustentabilidade, é que tem de
ser de todos mas está feito só para alguns que já se interessam.
As dificuldades
Esta análise não é muito distante dos “indiferentes”
científicos, que se deixam levar por
tudo, com falta de ceticismo e excesso de mediatismo.
Queixamos-nos do desinteresse que
existe na ciência mas o sistema que alimenta a
investigação científica de topo, através de revistas
pagas, é um sistema que é tudo menos inclusivo
e acessível, eis como funciona:
Pessoas pagam impostos Financiam
instituições académicas Pagam o trabalho dos
cientistas Pagam às editoras para publicar o
seu trabalhoCobram o acesso à informação
Isto faz com que a informação não chegue
às pessoas que pagam impostos, que afinal
de contas, são aquelas que financiam tudo. Obviamente
que nem todo o conhecimento científico
se baseia em publicações de revistas, mas ter
um artigo publicado numa revista de sucesso é
um fator de prestígio no mundo científico.
Na sustentabilidade durante muito tempo
mascaram-se os verdadeiros problemas com palhinhas
de metal e copos reutilizáveis, isso basta
para os indiferentes que estão bem ao fazer um
esforço mínimo para que algo aconteça. Para
estes basta existir a percepção que estão a fazer
algo para se sentirem a contribuir, mas quem
manipula essa percepção pública são os agentes
que mais beneficiam que ela assim fique.
Logo do Reboot
Fonte: Reboot
No Reboot queremos ser um reforço positivo,
tentando não fazer o jogo de apontar o
dedo, mas sim oferecer soluções e informação
acessível que possa ajudar a nossa comunidade
a poder tomar escolhas que garantam o poder
que desconhecem que têm.
Daí a nossa missão neste momento estar
alterada para promover este tipo de empoderamento
em áreas mais variadas que apenas
a sustentabilidade, que têm impacto direto
nas alterações climáticas, por exemplo, onde colocamos
o nosso dinheiro e como o gerimos
tem um impacto ambiental mensurável maior que
champô sólido.
Ser aluno e voluntário
Assim como tantos outros alunos de Ciências,
eu realizei 4 anos do meu percurso escolar
a realizar um segundo trabalho. No meu
caso, voluntariado, 2 deles a organizar eventos
TEDx na Aula Magna e outros 2 no Reboot.
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O tempo que temos na faculdade é importante
para aprender, sem dúvida, no entanto é
também onde cimentamos relações importantes
e temos o tempo para poder ser ativistas de causas
com que nos importamos. Não é muito positivo
no que toca à gestão de tempo, isso garanto,
mas assim como quem está na Tuna, na Praxe ou
trabalha, sabe que quando se tem pouco tempo
procastina-se menos. É também um motivo de
orgulho para mim, sem falar de todas as soft skills
que se ganha no processo de realizar um projeto
como este!
Aconselho-te a ti, que tiveste paciência
de ler isto até ao fim, para seres ative no teu
tempo na faculdade e procures algo que te dá
gosto e propósito fazer e que sigas isso.
Tomás Sousa
Co-Fundador Reboot
Sem Atrito
O meu nome é Ana Carolina Ribeiro, e
estou no 3º ano da licenciatura em Física. Sou
a fundadora e atual Presidente do Sem Atrito, e
venho contar-vos a nossa história.
O Sem Atrito é um projeto de comunicação
de ciência que pretende promover a área da
física e explorar a sua interdisciplinaridade - consiste
numa equipa de alunos universitários de várias
áreas de estudo e instituições a nível nacional.
Criamos atividades e conteúdos destinados
a qualquer um que tenha interesse em participar,
com especial foco em estudantes do ensino básico
e secundário. Este projeto surgiu do amor
pela física, e da vontade de partilhá-la com todos.
Como disse Carl Sagan, “Not explaining science
seems to me perverse. When you’re in love, you
want to tell the world.”.
A história da criação do Sem Atrito começa
em 2021. Estava a acabar o meu primeiro
ano na Licenciatura em Física, tendo então
participado em alguns projetos de associativismo,
como o NFEF-FCUL e o podcast Fisicamente
Falando. Encontrava-me a crescer num
meio especializado, e pensava cada vez mais no
que me tinha trazido aqui. Não tive uma educação
formal particularmente motivadora na área,
e no meu meio social a física era a área “difícil
e aborrecida, dos génios, inútil no dia a dia”; vim
no entanto a descobrir este grande amor num encontro
de mero acaso com a série Cosmos, relatada
pelo Neil deGrasse Tyson, e originalmente
de Carl Sagan. Esta constitui, infelizmente, um
dos poucos casos em que um projeto com o objetivo
de transmitir a ciência teve um alcance mediático
significativo fora do seu nicho. Aqueles
curtos relatos têm a capacidade de transmitir de
forma deslumbrante - e para qualquer um disposto
a ouvir - pequenas ideias fundamentais sobre
o mundo em que vivemos. Era para isto que
queria contribuir, e era nisto que achei que precisávamos
de apostar! Queria, mais do que navegar
no meio em que estava, contribuir para a
ligação desse meio com todos os outros.
Logótipo do Sem Atrito Fonte: Sem Atrito
Quando comunicamos ciência, é fulcral
definir o nosso público-alvo, tendo este vindo a
definir a identidade do Sem Atrito. Sabia que
queria comunicar a física, e comecei a espalhar
a palavra em como procurava pessoas interessadas
num projeto deste tipo - falava com quem
sabia que estava habitualmente envolvido neste
tipo de projetos, colegas de curso, etc. . . Durante
uns bons meses éramos 5, e tínhamos longas
sessões de discussão em que procurávamos
definir uma identidade. Quanto mais reunimos e
crescemos em membros, mais convergimos para
um ponto comum: era necessário construir algo
que proporcionasse às camadas mais jovens a
mesma ânsia de saber mais que nos trouxe aqui.
Queríamos construir algo para quem não sabe
bem o que é a física; para os que a vêem como
aborrecida; para quem tem interesse na área
mas não é motivado a explorá-la; para os que
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não sabem se têm interesse; mas acima de tudo,
para quem não a conhece.
Mais do que na maioria das áreas, existe
um imenso vale entre a ideia da física e a sociedade.
Sentimo-lo em todo o nosso percurso,
procuramos construir uma ponte sobre este em
que qualquer um possa caminhar. Com isto em
mente, tomámos a decisão difícil de criar um projeto
independente, do zero, e assim temos vindo
a construí-lo.
O nosso maior desafio sempre será o
mesmo - comunicar a física. Não temos formação
em comunicação de ciência, e sabemos que
esta é uma arte muito delicada. Estamos continuamente
preocupados em comunicar coisas corretas,
e em comunicá-las claramente, sem que
uma sacrifique a outra. Temos de pensar para
além do meio em que estamos completamente
envolvidos, e olhar para o nosso trabalho com
olhos diferentes, considerando todo o espectro
de contextos em que o público a que queremos
chegar se pode inserir. Os nossos objetivos são
ambiciosos, e como tal, ainda temos muito trabalho
pela frente; mas com uma entusiástica equipa
e todo o apoio externo que temos vindo a receber,
temos tudo para fazer a diferença.
Neste primeiro ano, publicámos mais de
80 textos de exposição científica, apostando nas
redes sociais como meio para chegar aos mais
jovens. Realizámos também alguns eventos, em
que unimos cientistas, jovens e famílias em sessões
interativas de partilha e exposição de conhecimento,
estando no processo de levar atividades
e feiras no âmbito experimental às escolas
de ensino básico e secundário.
Não poderia concluir uma apresentação
do Sem Atrito de outra forma senão agradecendo
profundamente a quem nos apoiou: ao Departamento
de Física da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, e em particular, ao Nuno
Araújo, Coordenador Científico do Centro de Física
Teórica e Computacional, e ao João Retrê,
Coordenador do Grupo de Comunicação Científica
do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço,
que tanto nos apoiaram e aconselharam
durante a criação do projeto. Agradecemos igualmente
a todos os investigadores e professores
que se disponibilizam para apoiar o projeto, contribuindo
para a revisão científica do nosso conteúdo.
Por fim, dirigimos o nosso maior agradecimento
a quem tem acompanhado o nosso conteúdo
e atividades, pois a essência do Sem Atrito
está em vocês. Esperamos continuar a crescer
no futuro, e a avançar cada vez mais na construção
da nossa ponte.
Carolina Ribeiro
Co-Fundadora Sem Atrito
Desafio Matemático
A função zeta de Riemann, ζ(s), com s = −1, é dada por:
ζ(−1) =
∞∑
n = 1 + 2 + 3 + 4 + ...
n=1
Intuitivamente, esta soma infinita deve divergir, certo? Errado!
Prova que:
ζ(−1) =
∞∑
n = − 1 12 .
n=1
Encontra a resposta no fim da revista!
16
A fundação do NFEF-FCUL
O NFEF-FCUL surgiu da vontade de dinamizar
a comunidade de alunos de Física e Engenharia
Física do Departamento de Física da
FCUL. O curso de Física é dos mais antigos da
nossa casa e o de Engenharia Física, apesar das
diversas reestruturações, já conta com quase 40
anos.
Apesar da sua longa existência, esta comunidade
de alunos era dispersa e afastada da
vida do Departamento de Física. A distância entre
alunos causava uma grande dificuldade em
resolver qualquer problema resultante da interação
com o departamento. As comissões pedagógicas,
como eram na altura, tinham imensa dificuldade
em passar propostas em sede de conselho
pedagógico que resolvessem estes problemas.
A AEFCL era um órgão distante deste
“nicho” de estudantes e sem capacidade de se
aproximar e tomar ação.
Estava na hora dos estudantes de Física
e Engenharia Física terem uma voz!
e indica um crescimento positivo.
Todavia, há algo que tenho a alertar:
noto a nossa comunidade novamente dispersa,
cada vez mais distante das decisões da faculdade.
Olhando em geral para os núcleos e associações
de estudantes atuais, parece-me que
estão a tender cada vez mais para máquinas de
produção de eventos, afastando-se do papel de
órgãos de representação de estudantes. Pareceme
que os membros dos próprios órgãos já não
vestem a camisola do núcleo em questão, mas
utilizam-no como um primeiro degrau numa ascensão
na hierarquia do associativismo. Vejo que
a pandemia, entre outros fatores, afastaram a comunidade,
e que o meio corre o risco de ficar novamente
disperso e separado. Na minha visão,
fomentar a união do meio é o objetivo do NFEF-
FCUL. Acredito que é para isso que ele verdadeiramente
existe, e que esse deve ser o seu objetivo
mais importante.
O NFEF-FCUL surgiu assim no dia 19
de março de 2016, após várias tentativas anteriores
falhadas, mas não menos importantes na
sua criação. Tive a honra de pertencer à primeira
direção como Presidente, e de partilhar
esta incrível experiência com um grupo de alunos
altamente motivados e dispostos a lutar. Fundámos
o NFEF-FCUL com a vontade de mudar
o rumo da nossa comunidade. Começámos do
zero, apenas com uma folha de papel a que chamávamos
de estatutos, e força de vontade!
Foi tudo muito estranho no início. Ninguém
tinha experiência em associativismo. Ninguém
sabia escrever estatutos, organizar um
evento na FCUL, ou como chegar à comunidade.
. . Naquele primeiro ano almejámos criar
as bases para que o NFEF-FCUL florescesse em
anos futuros. Qualquer boa casa precisa de boas
fundações, e nós queríamos construir uma casa
que pudesse ser moldada e utilizada por toda a
gente.
Hoje em dia, passados quase 7 anos,
noto que a comunidade está diferente. O NFEF-
FCUL cresceu, os seus projetos tornaram-se
mais ambiciosos, e existe já um envolvimento
com associações ao nível nacional, o que é ótimo
Primeiros orgãos sociais do NFEF-FCUL
Fonte: Nuno Gonçalves
Faço votos de sucesso e um agradecimento
especial a todos que agora trabalham ou
já trabalharam no NFEF-FCUL, são vocês que
continuam na vanguarda da luta incansável que
é a defesa dos direitos dos alunos. Despeço-me
com o lema fundamental do associativismo estudantil
que resume a gênese do nosso NFEF-
FCUL... “De estudantes, para estudantes”.
Nuno Gonçalves
Fundador NFEF-FCUL
17
Albert Einstein a escrever num quadro (Fonte: Greenlight Rights)
Será que a Relatividade Geral está totalmente certa e
completa ou ainda há muitas coisas escuras por aí?
Em 1915 Einstein publicou o que muitos
consideram ser o maior contributo na física realizado
individualmente. Einstein publicou a teoria
da Relatividade Geral, uma extensão e generalização
à sua teoria anterior, a Relatividade Restrita.
A teoria da Relatividade Restrita começou
por dar a ideia de que o tempo não era absoluto,
mas sim relativo dependendo do observador,
introduzindo a ideia de espaço-tempo. Tal
afirmação foi uma afronta aos ideais de Sir Isaac
Newton, que na altura eram vistos como absolutos.
Com a Relatividade Geral, Einstein veio revolucionar
a forma como se compreendia a gravidade,
afirmando que esta é dada pela relação
entre matéria e a geometria do espaço tempo.
com o intuito de escrever as equações de forma
que estas sejam independentes entre referenciais
inerciais e também entre referenciais acelerados.
Tal procura acabou por levar a um enquadramento
da gravidade como uma teoria geométrica
onde esta é uma manifestação da curvatura
do espaço-tempo. A dinâmica é então dada pelas
equações de campo de Einstein.
Noções teóricas, postulados
Para compreender esta teoria é importante
perceber quais são os postulados por esta
definidos e qual são as suas implicações. De
uma forma bastante simples, a relatividade geral
tem três princípios:
Newton vs Einstein na descrição do espaço-tempo
Fonte: Gravity Probe B Experiment, NASA
É uma teoria que até a data passou todos
os testes experimentais e continua a ser a
melhor ferramenta para a compreensão da gravidade
a largas escalas, e a compreensão da dinâmica
do universo, da cosmologia. Atualmente
esta teoria enfrenta problemas que podem por
em causa se está completa (se não precisa de
uma extensão) e se esta totalmente correta.
Neste artigo irá-se fazer, de uma forma
simplificada, o caminho que Einstein percorreu
para chegar à teoria da Relatividade Geral e após
alcançar o panorama atual desta teoria serão
abordados os problemas atuais que a metem em
questão, quais as abordagens que podem solucionar
estes problemas e quais as consequências
que trazem para a teoria.
Noções teóricas e matemáticas
A Relatividade Geral consiste numa extensão
da teoria de gravitação de Newton e da
Relatividade Restrita, tendo sido desenvolvida
1. Princípio da equivalência
2. Princípio da covariância geral
3. Princípio da correspondência
O primeiro princípio afirma que uma partícula
teste que se encontre num campo gravitacional
terá um movimento que não depende da
sua massa ou composição. Este principio leva
então a duas consequências imediatas: (a) não
existem experiências em que se pode distinguir
uma queda livre sem rotação num campo gravitacional
de um movimento uniforme no espaço
na ausência de campo gravitacional, (b) um referencial
acelerado relativamente a um referencial
inercial em relatividade restrita é idêntico a
um referencial em repouso num campo gravitacional.
Já o segundo princípio estabelece que
as leis da física devem ser iguais para todos os
observadores, independente do referencial escolhido
para descrever um fenómeno físico. Este
princípio é uma extensão do princípio da relatividade
de Galileu, que afirma que as leis da física
são as mesmas para todos os observadores que
se movem com velocidade constante em relação
a um sistema de referência inercial. Por último,
o princípio da correspondência estabelece que a
relatividade geral deve concordar com a relatividade
restrita na ausência de gravitação e com a
gravitação Newtoniana no limite do campo fraco
e pequenas velocidades.
19
Noções matemáticas
No que se refere à matemática, a Relatividade
Geral foi em grande parte construída recorrendo
à geometria diferencial com ênfase na
geometria Riemanniana e na geometria Pseudo-
Riemanniana. É uma teoria que envolve bastante
cálculo tensorial devido à sua natureza geométrica
e envolve também equações diferenciais,
cálculo diferencial e integral.
Sendo algo fundamental na Relatividade
Geral, um tensor é, de uma forma muito simples
e geral, uma matriz organizada de objetos matemáticos,
como números ou funções. Um tensor é
uma entidade matemática que generaliza o conceito
de vetor. Enquanto um vetor é uma quantidade
que possui magnitude e direção, um tensor
é uma quantidade que possui múltiplas componentes,
cada uma das quais se comporta como
um vetor em um espaço multidimensional. Outro
ponto importante compreender é a ordem (rank)
de um tensor. Em termos genéricos a complexidade
de um tensor está associado à sua ordem,
que consiste no número total de índices contravariantes
(índice em cima) e covariantes (índice em
baixo) de um tensor. Os tensores de ordem 0 são
chamados de escalares, os tensores de ordem 1
são chamados de vetores, os tensores de ordem
2 podem ser chamados de matrizes ou tensores.
Tensores de ordens acima de 2 podem receber
diversos nomes, mas por norma são chamados
de tensores.
Tendo estas bases assentes pode-se
passar para a compreensão fundamental da geometria
usada em Relatividade Geral, começando
por perceber o que é um elemento de linha e a
da métrica associada a este. Um elemento de
linha é um objeto geométrico que é usado para
representar uma linha num espaço, por exemplo,
bidimensional, tridimensional, quadridimensional,
entre outros. Ele é definido por dois pontos,
também conhecidos como nós ou vértices,
que representam as extremidades da linha. É
descrito pela métrica, que é um tensor que descreve
como a distância entre dois pontos varia
ao longo de diferentes trajetórias no espaço em
questão. Um exemplo muito simples destes conceitos
é a noção de espaço euclidiano dado pelo
seguinte elemento de linha
onde se define dx i = (dx 1 , dx 2 , dx 3 ) =
(dx, dy, dz) e onde g ij é a métrica do elemento
linha que neste exemplo é dada por
⎡
1 0
⎤
0
g ij = ⎣0 1 0⎦ . (2)
0 0 1
A métrica é construída com base nos elementos
presentes no elemento de linha, isto é, cada
elemento dx i corresponde a uma entrada na matriz.
Por exemplo, o elemento dx 2 corresponde a
dx × dx que pode ser escrito como dx 1 × dx 1 que
corresponde à entrada na matriz g 11 . Seguindo
este pensamento é fácil de obter g ij olhando para
o elemento de linha. Uma métrica bastante importante
em Relatividade Geral é a métrica de
Minkowski dada, em unidades naturais (c=1), por
⎡
⎤
−1 0 0 0
η µν = ⎢ 0 1 0 0
⎥
⎣ 0 0 1 0⎦ , (3)
0 0 0 1
Em Relatividade Geral a métrica é a quantidade
fundamental da teoria, é o campo fundamental
da teoria. Esta quantidade permite definir por si
uma outra quantidade denominada de conexões
da métrica (Γ a bc ). As conexões da métrica são
uma quantidade bastante importante pois não só
possuem uma relação com a curvatura, como
será visto mais a frente, como também desempenham
um papel importante na equações da dinâmica
na Relatividade Geral. Na mecânica clássica,
a segunda lei de Newton é dada de uma
forma geral por
F = mẍ , (4)
e em Relatividade Geral esta lei tem um paralelo
dado por
ẍ µ + Γ µ ναẋ ν ẋ α = 0 , (5)
ao qual se dá o nome de equação da geodésica,
e descreve a trajetória que um objeto em movimento
livre (sem forças externas atuando sobre
ele) seguiria em um espaço-tempo curvo. Na
imagem a seguir estão representadas geodésicas
numa superfície de revolução.
ds 2 = dx 2 + dy 2 + dz 2 = g ij dx i dx j , (1)
20
tensor de Riemann pode-se escrever
∇ ν (R µν − 1 2 gµν R) = 0 , (8)
onde ∇ ν é a derivada covariante que, sem entrar
em muitos detalhes, pode ser vista como a derivada
de um tensor e tem uma forma especifica.
Definindo então o tensor de Eisntein, G µν , da seguinte
forma
concluindo-se então
G µν ≡ R µν − 1 2 gµν R , (9)
∇ ν G µν = 0 . (10)
Geodésicas numa superfície de revolução
Fonte: Curvas Geodésicas em Superfícies by J. P. FATELO
AND N. MARTINS-FERREIRA
Para além disto, as conexões da métrica
possuem uma relação com a curvatura e são
usadas no tensor de Riemann (R µ ναβ
), que é uma
quantidade que quantifica a curvatura do espaçotempo.
Ricci
Este tensor por sua vez leva ao tensor de
R µν ≡ R α µαν , (6)
E este tensor por sua vez pode ser contraído também
obtendo-se o escalar de Ricci
R ≡ g µν R µν , (7)
onde se usa uma propriedade da métrica em
que g µν R µν levanta um índice em R µν obtendose
g µν R µν = R ν ν = R. Tanto o tensor de Ricci
como o escalar de Ricci são quantidades fundamentais
que descrevem a curvatura do espaçotempo.
O tensor de Ricci pode ser considerado,
de forma geral, como uma medida do grau em
que a geometria de uma dada métrica difere localmente
daquela do espaço euclidiano ordinário
ou do espaço pseudo-euclidiano (espaço de Minkowski
por exemplo). Já o escalar de Ricci pode
ser visto como uma grandeza escalar que mede
a curvatura média do espaço-tempo em uma determinada
região. Para cada ponto numa região
do espaço ele atribui um número real determinado
pela geometria da métrica próxima a esse
ponto.
Recorrendo a algumas propriedades do
O grande rasgo de genialidade de Einstein
foi perceber que havia uma relação entre a
matéria e a geometria do espaço-tempo, mais em
específico, uma relação entre matéria e a curvatura
do espaço-tempo. Em Relatividade Geral, a
quantidade responsável pela matéria é o tensor
energia momento, como o tensor de Riemann,
tensor de Ricci e escalar de Ricci são as quantidades
responsáveis pela geometria.
O tensor energia momento é uma quantidade
física tensorial que descreve a densidade e
o fluxo de energia e momento no espaço-tempo.
Possui uma relação com a matéria, radiação e
campos de força não gravitacionais. Na sua
forma mais geral o o tensor energia momento
pode ser escrito como
T µν = ρu µ u ν , (11)
onde u µ = (1, ⃗u). Este tensor respeita a equação
da continuidade e conserva-se, isto é,
∇ ν T µν = 0 . (12)
Até agora foi visto que ∇ µ T µν = ∇ ν G µν =
0, o que permite então conceber que estas
duas quantidades sejam proporcionais entre si,
podendo-se então procurar soluções do tipo
G µν = R µν − 1 2 gµν R = CT µν . (13)
Realizando alguns cálculos mais complexos
obtém-se que a constante C, para respeitar o
Principio da correspondência, é (com c=1) dada
por
C = 8πG . (14)
Aplicando então este resultado na Eq.(13)
21
obtém-se por fim as equações de Einstein
G µν = 8πGT µν . (15)
É possível adicionar uma constante a esta equação
e historicamente Albert Einstein fê-lo, levado
pela crença que o universo era estático ficandose
então com as equações de Einstein da seguinte
forma
G µν + Λg µν = 8πGT µν . (16)
G µν = 8πG(T µν −
Λ
8πG g µν) . (17)
Anos mais tarde, Edwin Hubble provou que o universo
encontrava-se em expansão e a constante
foi posta de lado, mas, em 1999, recorrendo a
supernovas do tipo Ia, foi provado que o universo
estava num estágio de expansão acelerada, voltando
a por esta constante denominada então de
constante cosmológica no "spotlight" da física.
Não há uma direção preferida para a disposição
dos espinhos logo é isotropica.
A homogeneidade afirma que o Universo
aparenta exatamente o mesmo em qualquer
ponto do espaço.
Um exemplo de algo homogéneo e isotropico
de caracter cosmológico é a radiação cosmica
de fundo (CMB: Cosmic Microwave Background)
que a larga escalas tem o seguinte aspeto
homogéneo e isotrópico
Cosmologia
A compreensão e o estudo da dinâmica
universo é em grande parte feita recorrendo à
Relatividade Geral pois esta teoria permite a
compreensão da dinâmica do universo em enumeras
escalas. O primeiro ponto a compreender
sobre cosmologia é o Principio Cosmológico.
Este principio afirma que para escalas suficientemente
grandes, escalas da ordem >100
Mega Parsec 1 , o Universo é homogéneo e isotrópico.
A isotropia afirma que não há direção
preferencial no Universo, o Universo aparenta ser
o mesmo independentemente da direção que observamos.
Um exemplo de algo isotrópico:
Ouriço do mar uma isotropia na natureza
Fonte: Oceanário de Lisboa
1 Um parsec (pc) é uma unidade de comprimento usada
para medir as grandes distâncias de objetos astronômicos
onde 1 pc = 3.0857 ×10 16 m
Radiação Cósmica de Fundo uma reliquea
homogénea e isotropica do passado
Fonte: phy.olemiss.edu
Partindo então deste principio é possível
construir uma métrica que respeita e acomoda
um Universo homogéneo e isotrópico. Esta métrica
é a Friedmann-Lemaître-Roberstson-Walker
metric sendo o seu elemento de linha dada por
ds 2 = −dt 2 +a(t) 2[ dr 2
]
1 − kr 2 +r2 (dθ 2 +sin 2 (θ)dϕ 2 ) ,
(18)
onde a(t) é o fator de escala do Universo, que é
um fator adimensional usado para caracterizar a
expansão do universo e k é a curvatura dada por
⎧
⎪⎨ 1/R 2 , geometria de curvatura positiva
k = 0, geometria plana
⎪⎩
−1/R 2 , geometria de curvatura negativa .
(19)
Evidências observacionais restringem k a 0. Assim,
a métrica deste espaço é dada por
⎡
⎤
−1 0 0 0
g µν = ⎢ 0 a 2 0 0
⎥
⎣ 0 0 a 2 r 2 0 ⎦ . (20)
0 0 0 a 2 r 2 sin 2 (θ)
22
As equações de Einstein, aliadas a esta métrica,
permitem obter as equações de Friedmann
e de Raychaudhuri (ou equação da aceleração),
que descrevem a evolução do Universo como um
todo e são dadas por
(ȧ
a )2 = 8πG
3 ρ (21a)
(ä
a ) = −4πG (ρ + 3p) . (21b)
3
A densidade e a pressão são quantidades
que dependem do tipo de matéria que se assume.
Se for considerada a Eq.(17) obtém-se
de igual modo as seguintes equações de Friedmann
e da aceleração
(ȧ
a )2 = 8πG
3 ρ + Λ 3
(22a)
(ä
a ) = −4πG 3 (ρ + 3p) + Λ 3 . (22b)
Outra equação bastante importante em
cosmologia é a equação da continuidade, que
para a métrica FLRW é dada por
˙ρ + 3ȧ (ρ + p) = 0 . (23)
a
Admitindo que existe uma relação entre
a pressão e a densidade, dada por uma parâmetro
adimensional w, denominado de equação de
estado, tem-se
˙ρ + 3ȧ (1 + w)ρ = 0 . (24)
a
Modelo ΛCDM e os parâmetros cosmológicos
A composição do Universo é uma condição
bastante importante para a compreensão da
sua dinâmica e para o próprio uso das equações
de Friedmann. No Universo existe radiação, poeira,
e ao nível teórico existe matéria escura e a
constante cosmológica. A matéria escura aparece
como resposta às observações das curvas
de rotação das galáxias. As curvas de rotação
de galáxias são gráficos que mostram como a
velocidade de rotação de uma galáxia varia em
relação à distância do centro da galáxia. A velocidade
está intimamente ligada à quantidade de
matéria presente dentro da órbita, permitindo inferir
a massa da galáxia a partir do movimento de
seus componentes. A matéria observada nas galáxias,
por exemplo na Via Láctea, não permite,
por si só, criar os gráficos obtidos para a curva de
rotação - o que pode implicar a presença de matéria
não visível, sendo esta a origem da matéria
escura. Não existe ainda uma descrição 100%
testada e aprovada que afirme o que é esta matéria
existindo vários tipos de partículas como os
WIMPS propostas para este problema. Evidências
vindas de simulações afirmam que se esta
matéria existir terá que ser fria para estar em
acordo com o universo que se observa.
Atualmente o modelo mais aceite e com
melhores resultados na descrição do universo é
o modelo Lambda Cold Dark Matter (ΛCDM),
também chamado de Modelo Standard, que considera
a matéria escura e a constante cosmológica.
Para este modelo as equações de Friedmann
são as seguintes
(ȧ
a )2 = 8πG
3 (ρ DM + ρ m + ρ r + ρ Λ ) , (25)
onde ρ m , ρ r , ρ DM , ρ Λ são as densidades da matéria,
da radiação, da Dark Matter e da constante
cosmológica, respetivamente.
A equação de Friedmann pode ser reescrita,
definindo a constante de Hubble como H =
da seguinte forma
ȧ
a
H 2 = 8πG
3 (ρ DM + ρ m + ρ r + ρ Λ ) . (26)
Dividindo por H 2 obtém-se
1 = ∑ i
8πG
3H 2 ρ i , (27)
23
onde o índice i representa as diferentes quantidades
do Universo. À quantidade 8πG ρ dá-se o
3H 2
nome de parâmetro de densidade ou abundância
cosmológica
Ω i ≡ 8πG
3H 2 ρ i . (28)
Com esta definição a equação anterior
pode ser reescrita da seguinte forma
mantendo uma concordância com TQC. Devido
a este problema, outras abordagens foram surgindo
procurando solucionar este problema da
expansão acelerada.
Uma dessas abordagens é semelhante
à própria abordagem feita e retratada na Eq.
(17), mas em vez de se considerar uma constante
considera-se um tensor energia momento
responsável pela energia que causa a expansão
acelerada do universo, denominada energia escura.
As equações de campo ficam então
Ω DM + Ω r + Ω m + Ω Λ = 1 , (29)
onde se conclui que a soma de todas as densidades
não pode ser maior que 1. Observacionalmente
e através de simulações pode-se obter
valores para estas densidades que permitem perceber
de que forma o Universo é composto.
G µν = 8πG N
c 4
× [T µν + T DE
µν ] . (30)
Ainda dentro desta abordagem pode-se
considerar que a energia escura é um fluido que
possui uma relação pressão/densidade estabelecida
por
Problemas
A expansão acelerada do universo e a
curva de rotação das galáxias são dois problemas
que a Relatividade Geral enfrenta e, até a
data, não foi encontrada uma solução definitiva
para ambos os casos e que seja bem aceite pela
comunidade cientifica tendo uma base teórica em
concordância com os dados observacionais.
Expansão acelerada
A presença da constante cosmológica é
um ponto bastante sensível e, apesar do modelo
standard a considerar, na comunidade científica,
ainda se debate sobre a existência desta e o
seu fundamento teórico. Apesar desta constante
conseguir explicar a expansão acelerada do universo,
a sua interpretação teórica como a energia
do vazio (interpretação presente na Eq.(17)) proveniente
da teoria quântica de campo (TQC) está
em discordância com as observações, existindo
uma diferença de 120 ordens de grandeza entre
o valor previsto teoricamente e o valor proveniente
das observações. Este é um dos principais
problemas que a Relatividade Geral enfrenta,
uma vez que não é capaz, na sua forma base,
de explicar a expansão acelerada do universo
p DE = w DE ρ DE . (31)
Ao contrário de Λ que possui w=-1, w DE
pode ter um outro valor ou ser mesmo uma função
do fator de escala (a(t)), o que por sua vez
trás um dinamismo mais rico para a caracterização
do Universo mas pode trazer mais instabilidades
e criar outros problemas.
Outra abordagem ao problema da expansão
acelerada é modificar as bases da relação
geometria-matéria modificando a descrição
que se faz da geometria ou mesmo da geometria
que se usa. Em Relatividade Geral o escalar de
Ricci é a quantidade base que origina a descrição
geométrica, mas pode-se admitir, por exemplo,
uma função desta quantidade, f(R), ou algo
mais complicado como uma função do escalar de
Ricci e do traço do tensor energia momento, T,
f(R,T).
Por exemplo, para uma função geral de
R, as equações de campo são dadas por
f ′ (R)R µν − 1 2 gµνf(R)+(gµν∇α ∇ α−∇ µ∇ ν)f ′ (R) = CT µν ,
(32)
o que em comparação com as equações da rela-
24
tividade geral são muito mais complicadas. Isto
por sua vez irá afetar as equações da cosmologia
como a equação de Friedmann. Pode-se também
adicionar campos escalares extras às equações
de campo mudando assim a forma como as
dinâmicas são descritas.
Estas teorias mudam a um nível mais
profundo as bases da Relatividade Geral e por
norma são bastante constrangidas, ou mesmo
colocadas de lado com base em dados observacionais.
Apesar deste fator, a solução para
o problema da expansão acelerada pode estar
por trás de uma extensão desde tipo à Relatividade
Geral. As teorias de gravidade modificada
são bastantes vastas e complexas e têm imensos
dinamismos e nuances próprias existindo várias
formas de as fazer. Na imagem seguinte está representado
de forma esquemática uma árvore de
famílias de teorias de gravidade modificada
dado por
f(R) = R k , (33)
onde k é um parâmetro arbitrário e se se for considerado
que k«1 pode-se fazer a seguinte expansão
f(R) ≈ R + (k − 1)Rlog(R) + O(k 2 ) . (34)
Este modelo, para certos limites, ajusta a curva
de rotação da galáxia sem qualquer matéria escura.
Esta causalidade mete em questão se
existe a possibilidade de a Relatividade Geral ser
capaz de descrever as dinâmicas destas escalas
e se não se encontra limitada e em necessidade
de uma extensão.
Conclusão
Árvore das teorias de gravidade modificada
Fonte: Researchgate: General Relativity and Gravitation
Curvas de Rotação e matéria escura
Como já foi referido, as curvas de rotação
das galáxias previstas não batem certo com
as obtidas através de observações, e uma possível
solução para este problema é a matéria escura.
Porém, o problema pode estar na modelação
que se faz para estas curvas, isto é, a teoria
da Relatividade Geral pode ser incapaz de prever
com precisão estas curvas. Um ponto a favor
disto é a existência de modelos em teorias f(R)
que conseguem reproduzir as curvas de rotação
das galáxias sem necessitar de adicionar matéria
escura. Um exemplo disto é o modelo de f(R)
A Relatividade Geral é uma teoria com
um sucesso extremamente sólido e que tem
vindo a passar todos os testes a que é submetida.
Porém, pode não ser a teoria final na
nossa compreensão da dinâmica do Universo e
pode precisar de extensões, de novas abordagens
ou de uma ponte mais sólida com o mundo
quântico. Independentemente disto, a Relatividade,
até a data, é a nossa melhor ferramenta
para a descrição das dinâmicas gravíticas do Universo
nas escalas apropriadas à sua utilização.
Dois dos grandes problemas que esta teoria enfrenta
foram abordados neste artigo mas não são
os únicos problemas que atualmente se tem em
cosmologia e que podem estar ligados à teoria
da Relatividade Geral. Para os mais curiosos,
para além destes dos problemas já mencionados,
têm-se o problema da tensão da constante
de Hubble, H 0 , e σ 8 que metem o modelo standard
em questão mais uma vez. Esta teoria, por
si só, é um mundo completo e repleto de subtilezas
que permitem uma compreensão mais profunda
do nosso Universo. Porém, talvez não seja
a última teoria de gravitação e não se precise
de tantas coisas escuras para descrever o nosso
Universo.
David Pereira
Aluno 1º Ano Mestrado Física
25
Registo fotográfico da sexta edição da Física Fora da Academia (Fonte: NFEF-FCUL)
Física Fora da Academia
Oradores
"A Física Fora da Academia é o maior
evento do NFEF-FCUL", é isto o que diz a presidente,
na reunião de preparação de mandato.
O peso da responsabilidade é logo sentido, nas
mãos de menos de uma dezena de alunos está
toda a organização de um evento que dá a conhecer
aos estudantes dos nossos cursos todas
as oportunidades depois do mesmo!
Bem oleado e bem planeado teria de ser
tudo para que fosse a melhor FFA de sempre.
A mim, a responsabilidade caiu sobre uma peça
fulcral do evento, que são os oradores!
O que ao início parecia fácil logo se revelou
complicado... Encontrar, contactar, agendar
e confirmar oradores é um processo que exige
muita paciência, algo que durante a faculdade é
difícil tendo em conta a miríade de outras preocupações!
No meio de muita agitação, de não receber
resposta e de indisponibilidades, conseguimos
juntar um plantel que se demonstrou capaz
de reter a atenção do público alvo e de lhes suscitar
interesse pelas suas áreas!
Em suma, foi e é um orgulho ver todo o
trabalho dar os seus frutos e demonstrar a quem
nos suceder que vale a pena oferecer este evento
aos nossos estudantes.
Tomás Almeida
Aluno 3º Ano Licenciatura Eng. Física
Esquerda: Parceiros da FFA. Direita: Alunos de Física e Engenharia Física da FCUL a conversarem com o
centro de investigação LIP durante o coffee break da FFA.
Fonte: NFEF-FCUL
Logística
O departamento de logística foi responsável
pela organização de todos os aspetos relacionados
com a dinâmica do evento. Nomeadamente,
planeamento e montagem do coffee
break, marcação do restaurante para o almoço
dos oradores e empresas, organização do espaço,
fornecer lanyards identificadores aos participantes,
reservar lugares para estacionamento
do carro, entre outras tarefas de organização interna.
Madalena Oliveira
Aluna 3º Ano Licenciatura Eng. Física
27
Imagem
Como Coordenadora do Departamento
de Imagem e Divulgação do NFEF-FCUL do presente
ano letivo, coube-me também a coordenação
da equipa de Imagem da sexta edição da Física
Fora da Academia.
Esta responsabilidade passa não só por
procurar a melhor maneira de divulgar o evento,
para alcançar e despertar o interesse do maior
número de alunos dos cursos representados pelo
NFEF-FCUL, ou de qualquer curso, mas principalmente
por zelar pela melhor conservação da
imagem prestigiada do nosso maior evento e fazer
justiça às entidades nele presentes - entre
estas, professores, investigadores, membros da
direção da FCUL, centros de investigação, empresas
e patrocinadores, nesta sexta edição.
Dividimo-nos entre a construção de conteúdo,
através das nossas redes sociais e outras
plataformas de comunicação, e o registo fotográfico
durante o próprio evento.
A preparação de um evento deste tamanho,
para a minha equipa, levou vários meses e
muitas horas de trabalho, mas é de extrema gratificação
presenciar o próprio, e verificar que tudo
valeu a pena.
Carolina Machado
Aluna 2º Ano Licenciatura Física
Transmissão
Gravar e transmitir o FFA envolve coordenar
esforços com a FCUL e arranjar soluções
para todos os imprevistos que vão surgindo.
Além de uma boa preparação e organização, é
preciso identificar e resolver problemas o mais
rapidamente possível. Nem sempre é fácil, mas
é essencial para garantir o sucesso da transmissão.
Pedro Carreiras
Aluno 3º Ano Licenciatura Eng. Física
Parceiros
Para esta edição da FFA, a equipa de
patrocínios decidiu convidar empresas de várias
áreas profissionais acessíveis com os nossos
cursos. Optou-se por dar o palco às empresas,
sendo esta uma das vertentes principais do
evento. As áreas e entidades que marcaram presença
foram: o INESC MN, nas nanotecnologias;
a EDP, na área das energias e a Closer, no ramo
da consultoria. Algumas destas também participaram
no coffee break, com um discurso mais
informal e direto com todos os alunos presentes.
Durante o coffee break também estiveram
presentes centros de investigação associados ao
Departamento de Física, nomeadamente o LIP, o
IASTRO, o CENTRA, o BIOISI e o CFTC, assim
como o LOLS. A presença de todos enriqueceu
bastante a qualidade científica do evento. Foi
ainda convidada a Júnior Iniciativa de Ciências,
JUST, uma das ligações mais diretas dos alunos
da nossa faculdade ao mundo empresarial.
Esta equipa de patrocínios também organizou
as sessões de abertura e de encerramento.
Foram convidadas várias entidades representativas
da Física a nível nacional e local,
contando com a presença de figuras de extrema
importância. Na sessão de abertura, depois de
umas breves palavras da presidente do NFEF-
FCUL, tivemos o prazer de acolher o Prof. José
Rebordão, presidente do nosso departamento
de Física, ao qual agradecemos especialmente,
dado o seu incrível apoio ao núcleo nas suas atividades.
Em representação do TecLabs, podemos
contar com a enriquecedora presença do
Prof. Jorge Maia Alves, que enquadrou o centro
de inovação responsável pela ponte entre a
nossa faculdade e o mundo empresarial. No final
da sessão de abertura, contámos com a presença
da presidente da Physis - Associação Portuguesa
de Estudantes de Física, Cristiana Carvalho,
que também deu a conhecer um pouco
melhor do trabalho da associação. Nomeada-
28
mente nas saídas profissionais, como por exemplo
o programa Physis Opportunities, acessível
através do website da Physis.
Durante o evento contámos com atividades
proporcionadas pelas outras equipas da organização.
Ouvimos uma palestra muito motivadora
de Comunicação da Física, por João Retrê.
Logo depois do almoço, recomeçámos o evento
com uma palestra de Perícia Forense, por João
Fonseca, promovendo a curiosidade da Física
Forense a todos os presentes. No seguimento do
programa, decorreu o Talking Heads, uma conversa
mais informal entre dois investigadores e
CEO’s, o Prof. João Pires da Cruz, CEO da Closer,
e Ivo Yves Vieira, CEO da LusoSpace, com
o tema "Mundos: Academia vs. Empresas", com
moderação de Bárbara Pereira. Para o debate
“Vários Caminhos da Física”, que se seguiu, tivemos
a presença do Prof. Nuno Araújo, do Dr.
Bruno Barros e de Daniel Vilhena, moderado por
Madalena Gamboa. As gravações do evento estão
disponíveis no YouTube do NFEF-FCUL.
A sessão de encerramento foi aberta
pelo Dr. Frederico Francisco, atual Secretário de
Estado das Infraestruturas. Foi uma honra poder
contar com a presença do Secretário de Estado
que nos falou do seu percurso profissional,
incluindo o seu doutoramento em Física, e de
algumas das suas paixões, como os comboios.
Seguidamente, o Prof. Pedro Almeida, em nome
da Direção da faculdade, fez também uma breve
nota sobre o seu percurso e sobre os desejos da
direção de um futuro fantástico a todos os alunos.
De seguida, o palco foi tomado pelo Prof.
Pedro Abreu, vice-presidente da Sociedade Portuguesa
de Física, que demarcou o papel da SPF
no futuro dos físicos, mesmo fora da academia.
Por fim, tivemos novamente representatividade
do Departamento de Física, desta vez na pessoa
do Prof. Nuno Araújo, vice-presidente do departamento,
que se dirigiu principalmente aos alunos
e à organização, congratulando ambos pela iniciativa.
Depois dos agradecimentos e das palavras
de encerramento da presidente do NFEF-FCUL,
comemorou-se a 6ª edição da FFA com um bolo
oferecido a todos os presentes.
Globalmente, para além da divulgação
das diversas áreas profissionais representadas,
as principais conclusões do evento foram muito
esperançosas e motivadoras para os alunos. As
decisões que se vão tomando nos vários pontos
da carreira são importantes, mas não precisam
de ser definitivas. Quando se entra numa área
profissional não significa que lá se fique o resto
da vida, todos os momentos devem ser vistos
como uma oportunidade para aprender e evoluir.
No final, cada decisão que nos leve a ser mais
feliz, ajuda a alcançar a melhor versão de nós
mesmos.
Madalena Gamboa
Aluna 3º Ano Licenciatura Física
Alguns elementos da equipa organizadora do FFA
Fonte: NFEF-FCUL
29
Primeira imagem do buraco negro M87* (Fonte: ESO)
Astroinformática – o céu não é o limite!
O universo ao nosso redor está povoado
por todo o tipo de objetos e fenómenos fascinantes
e curiosos. Estrelas, planetas, galáxias, nuvens
de poeira, buracos negros, entre tantos outros.
Como sabemos que eles estão de facto lá?
Como separamos uns dos outros? E como sabemos
se nossas previsões e explicações sobre
eles estão corretas?
É da união entre modelos teóricos com
dados observacionais que vem a resposta. Os
dados nos permitem não só testar os nossos modelos,
como também aperfeiçoá-los, e demonstrar
que ainda temos lacunas a serem explicadas.
Na Astronomia, o avanço da tecnologia expandiu
os horizontes do conhecimento de maneira vertiginosa.
Os novos telescópios têm a capacidade
de medir com precisão múltiplas variáveis para
uma quantidade enorme de objetos, gerando assim
uma quantidade de dados que nunca foi antes
vista.
Enquanto por um lado tudo isto é empolgante,
resta a pergunta: como é possível um
ser humano extrair qualquer tipo de informação
de datasets tão gigantes e complexos? Como
é que visualizamos e “planificamos” dados que
foram obtidos para a esfera celeste, sem perder
rigor científico? Como estes dados são armazenados,
distribuídos e compartilhados pelas inúmeras
instituições científicas? Como organizar
dados vindos de diferentes fontes e catálogos?
Isto sem falar na complexidade das simulações.
Virtual Observatory (VO): unificando o
conhecimento
A ideia de um Virtual Observatory, como
o próprio nome diz, é de recriar um observatório
com muitos telescópios, em ambiente digital.
Podemos fazer uma analogia com o Google: enquanto
nós, no nosso dia a dia, vamos ao Google
pesquisar por diferentes informações, um astrónomo
pode ir a um VO e pesquisar um conjunto
de dados que precise para sua pesquisa. Em termos
mais práticos, podemos dizer que um VO é
uma união de diversos catálogos astronómicos e
softwares que, aliados à internet, permitem que
astrónomos façam sua pesquisa em um ambiente
user-friendly.
Vários países já têm seus próprios Virtual
Observatories. A International Virtual Observatory
Aliance é uma organização internacional
que busca estabelecer padrões técnicos para a
operação dos VO – ou seja, para que os diferentes
observatórios funcionem da mesma maneira
na perspetiva do utilizador, e para que eles se comuniquem
entre si. Assim, qualquer astrónomo,
de qualquer parte do mundo consegue usá-los.
Estes são alguns dos desafios da Astroinformática,
uma nova área de conhecimento
que busca desenvolver respostas para os desafios
de uma Astronomia em constante expansão,
ficando na interseção entre esta e a Data Science.
As respostas não são simples, e como
costuma acontecer na Ciência, requerem inovações,
criatividade e multidisciplinariedade. Não é
à toa que muitas universidades pelo mundo todo
já têm grupos de pesquisa dedicados somente à
Astroinformática.
Vamos falar um pouco sobre algumas
das capacidades desta área nas próximas secções.
Buraco negro Sgr A*, no centro da nossa galáxia.
Imagem também processada pelo EHT, em 2022.
Fonte: ESO
31
Tu podes experimentar um ambiente de
Virtual Observatory no teu computador! Basta fazer
download do software Aladin Sky Atlas, ou
utilizar o Aladin Lite no site do Centre de Données
astronomiques de Strasbourg (CDS) e explorar
os diferentes catálogos e bandas eletromagnéticas
oferecidas para observar objetos astronómicos!
Processamento de dados, visualização e
algoritmos: muito mais que imagens
bonitas
Em 2019, o mundo da Astronomia conquistou
algo fenomenal: a primeira imagem de
um buraco negro, para o buraco negro M87*. Em
2022, isto se repetiu, e dessa vez para um buraco
negro muito mais próximo: o Sgr A*, no centro da
nossa galáxia.
Mas como estas imagens foram feitas?
As ondas eletromagnéticas que recebemos
destes buracos negros nem sequer são na
zona da luz visível – na realidade, são ondas de
rádio. Ou seja, nós não vería-mos os buracos negros
daquela forma com os nossos olhos. Mas as
ondas de rádio, detetadas com radiotelescópios
espalhados pelo planeta, formando um único telescópio
gigante, geraram dados que foram compilados
e permitiram a formação destas imagens
tão divulgadas. Isto gerou 5 petabytes de dados
(ou seja, 5000000 gigabytes!).
Para processar esta quantidade absurda
de dados, foi preciso um método novo – e daí
surgiu o algoritmo CHIRP, criado pela engenheira
Katie Bouman em conjunto com outros cientistas.
O Sgr A* apresentou ainda mais dificuldades.
O material ao redor do nosso buraco negro
se move muito mais rapidamente do que a
imagem do M87*. É como tentar fotografar um
cão a correr atrás do seu próprio rabo. Para obter
uma imagem, então, foi preciso fazer uma “média”
das diferentes imagens obtidas. Mais de 300
cientistas, de 80 institutos ao redor do mundo, colaboraram
para este objetivo!
Outra imagem que só pode ser obtida
depois de muito processamento é o famoso
mapa da missão espacial Gaia, produzido pela
equipa do professor André Moitinho, da FCUL,
coordenador da participação portuguesa nesta
iniciativa. Esta imagem, que até parece uma fotografia
à primeira vista, é o resultado de um longo
processamento dos dados das vária data release
do Gaia, armazenados em centenas de terabytes.
O telescópio Gaia está mapeando e obtendo
medições sobre mais de dois mil milhões
de objetos astronómicos. Com isso, esta missão
almeja produzir o maior e mais completo mapa
da nossa galáxia. Esta imagem, que mostra um
mapa da densidade de estrelas, em cada porção
do céu observada pelo Gaia.
Katie Bouman, fotografada no momento em que a
imagem do buraco negro foi processada
Fonte: Katie Bouman
Estas não são apenas imagens bonitas,
para agradar os nossos olhos. Elas tra-zem com
elas imensa informação, que nos permite aprender
mais sobre o cosmos.
Artificial Intelligence e Machine Learning:
expandindo os horizontes do
conhecimento
Cientistas gostam muito de classificar
coisas, porque torna o estudo dos objetos em
questão muito mais fácil. Entretanto, na Astrofísica
estamos lidando com objetos muito distantes,
e frequentemente as suas características
32
não são fáceis de serem identificadas “manualmente”.
É aí que os computadores se tornam
nossos melhores amigos.
Machine Learning é uma subárea da Inteligência
Artificial (Artificial Intelligence – AI) que
permite que algoritmos “aprendam” com os dados,
reconhecendo padrões neles, e utilizando
isto para melhor classificar ou selecionar dados
futuros. Usar machine learning na astronomia
permite, por exemplo a criação de métodos mais
eficientes para determinar que tipo de objeto estamos
observando. É exatamente isto que os investigadores
Pedro Cunha e Andrew Humphrey,
do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
(IA), fizeram com o algoritmo SHEEP, cujo objetivo
é classificar objetos astronómicos entre galáxias,
quasares, supernovas ou nebulosas.
No Brasil, a cientista Roberta Duarte,
aluna de doutoramento na Universidade de São
Paulo, liderou a simulação de um buraco negro
com base em inteligência artificial. Este trabalho
foi pioneiro, já que realizou os cálculos em
um tempo sete mil vezes menor do que antes
era necessário! O método de machine learning
foi usado para que o computador “aprendesse”
a simular a dinâmica ao redor de um buraco negro,
com base em dados de simulações prévias.
Ou seja – o computador “aprendeu” a física com
base apenas nestes dados.
Katie Bouman com os discos rígidos que armazenam
as imagens do buraco negro M87*
Fonte: Katie Bouman
Em suma, o avanço da tecnologia sempre
foi uma maravilha para a ciência, e hoje isto
está cada vez mais evidente. Estamos dia após
dia a expandir nossos horizontes de conhecimento.
Mas esse conhecimento não está a saltar
à nossa frente, e precisa ser trabalhado. É
praticamente impossível fazer física hoje em dia,
sem fazer também informática. A Astroinformática,
então, é uma união poderosa destas duas
áreas, sendo bastante multifacetada, e acima de
tudo, em constante inovação.
Mapa do céu feito com os dados do EDR3 da missão Gaia
Fonte: André Moitinho, Márcia Barros (imagem retirada do site da ESA)
Eduarda Pimentel
Aluna 1º Ano Mestrado Física
33
Estudos e Investigação VS Motivação
Estou no 3º ano da Licenciatura em Física e
posso dizer que estes últimos anos me deram
muito conhecimento útil, onde aprendi a ser autodidata.
Ao longo do meu percurso académico
tive a oportunidade de fazer estágios e participar
em projetos que me enriqueceram e alimentaram
a minha curiosidade. Foram também anos de reflexão
sobre o futuro enquanto futura física, da
incerteza do que irá acontecer a seguir, de dúvidas
em relação a emprego, e no limbo entre a
investigação e o mercado de trabalho.
Durante almoços, pausas, aulas, conversei
com colegas sobre o que cada um iria fazer nos
próximos 2, 5, 10 anos. A incerteza não era só
minha. De modo a desbravar esse caminho que
existe no percurso de alguém de física, decidi
pesquisar sobre os vários caminhos que diferentes
pessoas tinham feito, sobre centros de investigação
e empresas que tinham lugar para a Física.
Após o 1º ano, fiz um estágio de verão no Instituto
de Astrofísica e Ciências do Espaço. Daqui
retirei uma lição: estas experiências também nos
podem mostrar aquilo que não queremos fazer
no nosso dia-a-dia. Porém, esta pequena amostra
de investigação incentivou-me a continuar a
procurar mais professores e centros para estagiar.
Então, no verão seguinte fiz o estágio no
Centro de Física Teórica e Computacional num
projeto que tinha como objetivo estudar a dinâmica
de pontes líquidas ao passarem entre duas
placas padronizadas. A liberdade de errar e testar,
por mim mesma, código, simulações, sistemas
diferentes, suscitou-me ainda mais a curiosidade
sobre o tema, o que fez com que estas
semanas de verão parecessem 2 dias.
De momento continuo neste projeto, agora
como bolseira, onde estudo pontes líquidas, que,
basicamente, são colunas de líquido que unem
duas superfícies sólidas, como películas de sabão
entre as bolhas de uma espuma. O que me
motivou a continuar este projeto foi a existência
de diversas utilizações, por exemplo processos
como a recuperação de petróleo presente em rochas
ou o alívio dos sintomas da asma. O facto
de sentir que não estava a tirar dados e resultados
“para nada” fez-me ver significado no que
estava a fazer, que havia um propósito por trás
de todos os 0’s e 1’s.
Pulmão no seu estado normal (esquerda) e pulmão
afligido por asma (direita)
Fonte: Asthma Canada
Em paralelo com o projeto de investigação,
existem as aulas, que, em comparação, podem
parecer ser mais monótonas e não desafiantes.
Porém, acredito que em qualquer unidade curricular,
seminário ou laboratório, é necessário ver
o que existe para além das equações e dos teoremas,
dos enunciados e dos problemas, o útil
no quotidiano. Ter-me apercebido que em cada
matéria havia uma razão para estar a aprendê-la
fez-me continuar motivada e conseguir conciliar
a investigação com o estudo.
Este texto tem como principal objetivo e intenção
motivar e mostrar aos estudantes que é
possível haver conciliação entre os estudos e as
atividades extracurriculares, com a investigação.
Desmistificar a ideia de que só os alunos de mestrado
ou doutoramento estão inseridos em projetos
de investigação e mostrar que também os de
licenciatura têm essa possibilidade.
Extração de petróleo contido em rochas
Fonte: Nadja A. Henke, Petra Peters-Wendisch and Volker
F. Wendisch. Potential of Low-Salinity Waterflooding
Technology to Improve Oil Recovery
Nem tudo são flores, enfrentei algumas dificuldades,
principalmente a falta de tempo. Em
deadlines, tanto do projeto como de testes ou trabalhos,
ficava muitas vezes indecisa em relação
35
a qual era a minha prioridade, não sei se escolhi
sempre o certo. Para além da falta de tempo
para estudar, abdiquei de horas noutras atividades
que gosto de fazer devido à pressão e stress
que metia em mim mesma para fazer tudo da melhor
forma possível e sem erros.
É difícil conciliar estudos, atividades extracurriculares
e um projeto de investigação? Sim, sem
dúvida, mas vale a pena quando se gosta do que
se faz. Enfrentar estes obstáculos faz parte do
caminho. Aprendi a saber lidar com o stress através
de me “obrigar” a fazer atividades de lazer,
por exemplo ver um filme quando estou numa
época mais sobrecarregada. Fazer pausas é essencial.
Adicionalmente, refiro a importância de
um calendário organizado com o que pretendes
estudar de cada unidade curricular e com o nível
de urgência, por exemplo, um teste daqui a 2
dias é prioritário em relação a um trabalho para
entregar daqui a 2 semanas.
De seguida, pensa qual é o tempo máximo
que queres dar a cada atividade, não percas demasiado
tempo com atividades que podes fazer
em pouco minutos, assim o teu cérebro vai entender
que tem de acabar aquela atividade no tempo
que estipulaste, quanto mais tempo te permitires
estar numa atividade, mais tempo vais estar. Por
fim: pede ajuda. Não fiques demasiado tempo a
olhar para um exercício ou para um mesmo parágrafo
de um livro. Pede ajuda a alguém, há
sempre alguém que ajuda, seja um colega ou um
professor. Permanecer no problema faz com que
a cabeça esteja sempre a mil e, consequentemente,
o trabalho não seja tão produtivo.
Assim, de forma a contornar este obstáculo
desenvolvi capacidades de distração, uma que
resultou comigo foi desenhar. Para levar esta atividade
a sério, comprei um caderno e lápis próprios,
para indicar ao meu cérebro que era uma
atividade a ser levada a sério tal como outra qualquer.
Ajudou bastante! E acredito que cada pessoa
devia dedicar-se a um hobbie que permita
espairecer a cabeça e desfocar do trabalho.
Muitos centros e professores estão abertos a
receber estudantes e a sua proatividade, por isso
não te acanhes e procura algo que gostes de fazer.
Uma das vantagens em participar nestas atividades
e projetos é a rede de contactos que se
pode criar, a troca mútua de experiências amplia
diversos conhecimentos e abre portas para novas
oportunidades! No verão, muitos centros de
investigação abrem estágios de duração variável
e com horários flexíveis. E claro, existe sempre
a possibilidade de estar atento a bolsas que podem
existir e são do nosso interesse. Pesquisar
na internet sobre estágios e bolsas nunca fez mal
a ninguém. Que acima dos estudos e dos projetos,
haja motivação e descanso.
Cima: Campo de velocidades de ponte líquida (colunas de líquido que unem duas superfícies sólidas) entre
duas placas. Baixo: Simulação com densidades da ponte líquida. Fonte: Margarida Rodrigues
Margarida Rodrigues
Aluna 3º Ano Licenciatura Física
36
Instalações do VLT (Fonte: ESO)
O Projeto ESPRESSO no Very Large Telescope do ESO
O ESPRESSO (SPectrograph for Rocky Exoplanets
and Stable Spectroscopic Observations)
é um espectrógrafo de alta resolução ultraestável,
construído para medir velocidades radiais
com elevada precisão num longo período de
tempo, com o principal objetivo científico de detetar
e caracterizar gémeos da terra na zona habitável
em estrelas do tipo solar. O ESPRESSO
está instalado no Very Large Telescope do Observatório
Europeu do Sul (ESO/VLT) e foi construído
pelo Observatoire de Genève e Universidade
de Berna (Suíça), pelo Instituto de Astrofísica
e Ciências do Espaço (IA) da Universidade
de Lisboa e Universidade do Porto (Portugal),
pelo Istituto Nazionale di Astrofisica em Trieste e
Brera (Itália), pelo Instituto de Astrofísica de Canarias
(Espanha) e pelo Observatório Europeu
do Sul.
Em 1995, foi detetado por Michel Mayor e Didier
Queloz um planeta gigante (denominado de
51 Peg b), semelhante a Júpiter, a orbitar uma
estrela que se encontra a 50 anos-luz do nosso
Sistema Solar. Esta descoberta valeu aos seus
autores o prémio Nobel da Física em 2019. A deteção
deste planeta foi feita com base na técnica
das "velocidades radiais". Esta técnica baseiase
no facto de que, quando uma estrela tem um
planeta na sua companhia, a ação gravitacional
deste faz a estrela percorrer uma órbita no espaço.
Na verdade, ambos os corpos (planeta e
estrela) dançam em torno um do outro. Visto por
nós, na direção radial (direção que liga o observador
ao objeto observado), a estrela vai parecer
afastar-se e aproximar-se à medida que rodopia
em torno do seu companheiro. Ora, quando um
objeto se afasta de nós, pelo efeito de Doppler,
o seu espectro de luz sofre um desvio para o
vermelho (e para o azul quando se aproxima).
Medindo as variações de "cor"é possível determinar
a velocidade radial do objeto. Neste caso
em concreto, medindo a velocidade radial da estrela,
noite após noite, poderemos ver uma variação
periódica, à medida que esta orbita o seu
planeta companheiro. A partir de toda a informação
obtida, é possível inferir os parâmetros
orbitais do planeta e a sua massa. No entanto,
para conseguir medir as pequeníssimas variações
de "cor"causadas pelo planeta é imperativo
ter acesso a um espectrógrafo de elevada resolução
e estabilidade.
Em 1995, o espectrógrafo utilizado na deteção
de 51 Peg b tinha uma precisão de aproximadamente
10 m/s. Este planeta tem uma massa
cerca de 300x superior à Terra e produz na estrela
uma variação na velocidade radial desta
com uma amplitude de aproximadamente 55 m/s.
Já um planeta como a nossa Terra produz no
nosso Sol uma amplitude de apenas 0,1 m/s (ou
10 cm/s). Para podermos sonhar com a deteção
de planetas idênticos ao nosso é, por isso,
necessário desenvolver novos instrumentos capazes
de atingir uma precisão desta ordem de
grandeza.
Em 2009, o ESO desafiou a comunidade internacional
a construir um instrumento capaz de
atingir esse nível de precisão. Essa resposta foi
data pelo consórcio ESPRESSO, um grupo de
instituições portuguesas, suíças, espanholas e
italianas. Além da construção do espectrógrafo
mais preciso do mundo, o ESO queria também
um instrumento que fosse capaz de combinar a
luz dos 4 grandes telescópios que constituem o
VLT, cada um com um espelho de 8 metros de
diâmetro, transformando o VLT num telescópio
“virtual” com um espelho de 16 metros de diâmetro!
O telescópio com a maior abertura óptica
do mundo. Essa parte do desafio ficou sob responsabilidade
da equipa portuguesa.
Vista aérea do observatório do Paranal ao pôr-do-sol,
onde são visíveis os edifícios dos 4 telescópios de 8
metros do VLT.
Fonte: G.Hüdepohl, ESO
39
A equipa portuguesa foi constituída por elementos
do Centro de Astrofísica da Universidade
do Porto (CAUP) e da Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa (FCUL), sendo que
a construção do instrumento foi financiada pela
Fundação para a Ciências e a Tecnologia (FCT)
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
A construção do instrumento durou praticamente
uma década durante a qual a equipa nacional
teve de desenhar, construir, montar e testar
a melhor solução tecnológica para combinar
a luz dos 4 telescópios. Tratou-se de construir o
chamado Coudé Train, um sistema óptico constituído
por um conjunto de prismas (P4 a P7 e
ADC12), lentes (L10 e L11) e espelhos (R8 e
R9), com as respetivas montagens mecânicas e
componentes eletrónicos, capazes de conduzir a
luz por mais de 70 metros de tubos e túneis, até
ao espectrógrafo em si. Na verdade, era preciso
construir um para cada telescópio do VLT. A dificuldade
tecnológica é incrementada pelo facto de
ser necessário construir o instrumento num ambiente
extremo, o deserto de Atacama nos Andes
Chilenos, onde os tremores de Terra são muito
frequentes. Ou seja, o sistema tinha de ser fiável
para que nada mudasse mesmo depois de um
grande sismo. Para além destes requisitos que
aumentaram a complexidade do desenho do sistema,
era também necessário transportar a luz
da forma mais eficiente, garantindo que a imagem
da estrela que era introduzida na fibra que
fazia a ligação ao espectrógrafo mantinha todas
as qualidades ópticas. Resumindo, um desafio
de dimensões consideráveis.
O Very Large Telescope do ESO,
e os seus 4 grandes telescópios.
Para cada telescópio existe um
Codé Train constituído por:
- prismas P4 a P6 acoplados À estrutura
do telescópio;
- prisma P7 e espelhos R8 e R9
instalados na Sala de Coudé por
debaixo do telescópio;
- lentes L10 e L11 nas extremidades
do túnel que liga a Sala de
Coudé ao Laboratório de Coudé
Combinado;
- conjunto de prismas ADC12, no
Laboratório de Coudé Combinado,
onde o Coudé Train cria uma imagem
da estrela numa fibra que conduz
a luz ao espectrógrafo.
Fonte: A.Cabral, IA
Na equipa portuguesa que construiu o
Coudé Train, são vários os elementos de Ciências,
nomeadamente Manuel Abreu, João Pinto
Coelho, David Alves e Alexandre Cabral que acabam
por transportar muitas das experiências vividas
neste projeto para as aulas de Engenharia
Física. No total, a experiência contou com 268
dias distribuídos por 17 missões ao Observatório
do Paranal a 2670 metros de altitude, no Deserto
de Atacama, norte do Chile.
Em Novembro de 2017, o ESPRESSO
obteve o primeiro espectro de uma estrela e em
Fevereiro de 2018 pela primeira vez a luz dos
quatro telescópios foi observada em simultâneo.
Em troca pelo trabalho e investimento realizado,
40
o ESO concedeu ao Consórcio a possibilidade
de utilizar o instrumento durante 273 noites (com
um valor estimado em mais de 13 milhões de euros).
Esta oportunidade está a ser utilizada pelos
astrofísicos Portugueses, em particular os do IA,
em conjunto com os seus parceiros do consórcio,
para procurar e caracterizar planetas rochosos
em torno de outras estrelas, estudando a composição
química das suas atmosferas, para estudar
a variabilidade das constantes fundamentais
da física, o estudo da física das estrelas e a dinâmica
dos ventos de planetas do nosso próprio
Sistema Solar.
A exploração científica do ESPRESSO,
começada em finais de 2018 e comandada por
Nuno Santos, da Universidade do Porto, permitiu
já divulgar vários resultados surpreendentes,
incluindo a deteção de um planeta a orbitar uma
estrela distante com apenas metade da massa
de Vénus!
No seguimento do sucesso do ES-
PRESSO, e depois da participação noutros instrumentos
também para o VLT, a equipa do IA
tem agora em vista a construção de um “super-
ESPRESSO” chamado de “ANDES” para o que
será, daqui a menos de 10 anos, o maior telescópio
do mundo: o Extremely Large Telescope
(ELT), com um espelho principal de 39 metros de
diâmetro, que o ESO está a construir. O ANDES
vai permitir dar um passo de gigante, permitindo
também estudar a atmosfera de exoplanetas parecidos
com a Terra e medir a sua composição
química. Essa análise pode conter a informação
necessária para dizer se um outro mundo, a orbitar
uma estrela distante, pode ter condições para
existência de vida.
Todas as novas descobertas nessa área
tão apaixonante que é a astrofísica seriam impossíveis
de alcançar sem o contributo da ciência
mais aplicada da área da engenheira física,
para a qual muito se contribui em Ciências!
Parte da equipa do ESPRESSO junto a um dos telescópios numa das muitas missões do Coudé Train ao
Paranal. Pedro Santos (FCUL), Gerardo Ávila (ESO), Bernard Delabre (ESO), Denis Mégevand (OBSGE),
Alexandre Cabral (IA/FCUL), Manuel Abreu (IA/FCUL), David Alves (IA/FCUL) e António Oliveira (FCUL).
Fonte: A.Cabral, IA
Prof. Alexandre Cabral
Investigador Dep. Física FCUL
41
Vencedores do Prémio Nobel da Física 2022 (Fonte: NobelPrize.org)
O significado da investigação em Mecânica Quântica
O prémio Nobel da Física de 2022 foi
atribuído conjuntamente a Alain Aspect da École
normale supérieure Paris-Saclay, CNRS, a Jhon
Clauser da Universidade da Califórnia em Berkeley,
Laboratório Nacional Lawrence Livermore
e a Anton Zeilinger da Universidade Técnica de
Viena, do MIT, da Universidade Técnica de Munique,
da Universidade de Innsbruck. Esta escolha
foi justificada pelo estabelecimento da violação
das desigualdades de Bell que acalçaram através
de experiências com fotões emparelhados e
por terem sido pioneiros na ciência da informação
quântica.
Dito isto, falemos agora da ciência. A
Mecânica Quântica estabeleceu um formalismo
matemático extremamente elegante para, com
exatidão, descrever todos os fenómenos mensuráveis
a escalas que não envolvem a gravitação
generalizada. O modelo standard da matéria e
suas interações, baseado na teoria quântica dos
campos, utiliza as cargas e as massas das partículas
“fundamentais” para descrever com sucesso
os fenómenos que conseguimos medir nos
nossos laboratórios, exceto os que resultam dos
sinais que vêm do espaço.
A exatidão do modelo padrão contrasta
com o “delírio” cosmológico da maior parte do
universo ser constituído por “massa escura” e
expandir-se de forma apenas enquadrável pela
presença de “energia escura” que constituem números
arbitrários utilizados apenas para descrever
observações que não batem certo.
Todo o formalismo da Mecânica Quântica
tem um problema consistente: não faz sentido
nenhum. Referindo uma frase do livro de
Mecânica Quântica (Quantum Mechanics for Engineers,
Leon van Dommelen, Cap. 8) que sigo
nas minhas aulas: ”Nobody would ever formulate
a theory like quantum mechanics in jest, because
none would believe it. Physics ended up with
quantum mechanics not because it seemed the
most logical explanation, but because countless
observations made it unavoidable.”
Prémio Nobel da Física
Fonte: Wikipédia
Mencionei as instituições, onde trabalham
estes laureados, para ilustrar o facto de
que todas as instituições mencionadas têm uma
longa tradição de investigação, ou são laboratórios
de investigação ou estão a eles associadas,
têm equipas de suporte dedicadas e permanentes
e, embora sejam muito ativas e competitivas
na obtenção de financiamento de projetos, têm
uma longa estratégia de financiamento interno
consistente que não deriva com a espuma da
moda. Além disso, o investimento continuado em
estruturas experimentais, incluindo aceleradores,
telescópios e satélites, imprime uma coerência
“natural” nos estudos científicos a que vão dando
ênfase. Em resumo, não são “start-ups” científicas
à procura de financiamentos oportunos.
John Stewart Bell, criador do Teorema de Bell
Fonte: CERN
Os laureados do prémio Nobel de 2022
realizaram experiências na esperança de demonstrar
o falhanço das chamadas “Desigualda-
43
des de Bell” que são consequências muito básicas
da Mecânica Quântica. Chegaram, contudo,
ao resultado de que, mais uma vez, a Mecânica
Quântica “sem sentido” fornecia a resposta correta.
Estas desigualdades são o culminar do trabalho
de um conjunto de cientistas que ilustra a
frase da canção do Zeca Afonso, “A formiga no
carreiro vinha em sentido diferente” mas, ao contrário
da canção, não mudaram de rumo. Esta
linha vem das propostas originais de De Broglie,
formalizadas nos trabalhos de David Bohm
e John Bell. A FCUL também tem, desde há muitos
anos, desses cientistas no departamento de
História e Filosofia das Ciências.
Algumas perguntas que se podem fazer
sobre o sentido da Mecânica Quântica são: Dado
que se aplica a escalas não humanas, deve fazer
sentido para nós? Será que o sentido é importante
como critério de investigação? Será que
ao escolhermos sucessivamente o caminho com
cálculos mais simples, nos fomos afastando de
alternativas com mais sentido? Será a boa descrição
matemática o único critério? Se descrição
matemática é o nosso objetivo único, mesmo que
não faça sentido, um universo descrito por uma
imensa rede neuronal seria satisfatório?
De um modo geral, enquanto o mundo
clássico vive com probabilidades de mistura de
estados, o mundo quântico vive com combinações
lineares de estados “puros”. As probabilidades
resultam das amplitudes quadradas e envolvem
termos de interferência.
De entre os problemas mais emblemáticos
da Mecânica Quântica que ilustram o seu
“sentido”, ou a falta dele, estão: A evolução no
tempo de combinações de estados conduzirem a
fenómenos de propagação instantânea e efeitos
a longa distância; As medições que filtram diferentes
combinações de estados darem resultados
diferentes das probabilidades clássicas (desigualdades
de Bell); Os critérios de simetrização
ou anti-simetrização de partículas idênticas introduzirem
uma correlação entre todas as partículas
do universo, etc.
Erwin Schrödinger, criador do problema do gato de
Schrödinger, um exemplo do "sentido"abstrato da
mecânica quântica
Fonte: BrasilEscola.uol.com.br
Os estudantes não nos podem acusar de
termos deixado um mundo com todas as perguntas
respondidas. Deixamos, contudo, umas “modas”
que se centram nas poucas que já respondemos
mas não nos podemos deixar levar pela
moda.
Vencedores do Prémio Nobel da Física 2022, Alain
Aspect, Jhon Clauser e Anton Zeilinger,
respetivamente, também ilustrados na capa
Fonte: PhysicsWorld.com
Prof. António Amorim
Investigador Dep. Física FCUL
44
Satélite Euclid (Fonte: ESA)
À descoberta do Universo profundo com o Satélite Euclid
Como se distribuem as galáxias? Porque
se expande aceleradamente o Universo? Qual o
papel da gravidade e da energia escura nessa
expansão? Quais os constituintes fundamentais
da matéria escura e como se relacionam com a
física do Universo Primordial?
A missão espacial Euclid foi concebida
para procurar respostas a estas perguntas. Tem
como objetivos principais determinar os parâmetros
de energia escura; medir o fator de crescimento
das estruturas cosmológicas, medir a
massa dos neutrinos com uma precisão superior
a 0.03eV; e determinar o grau de Gaussianidade
das condições iniciais do universo pós Big-
Bang. O primeiro objetivo determina a evolução
da energia escura, o segundo permite distinguir
observacionalmente entre relatividade geral e teorias
alternativas da gravidade, o terceiro testa o
paradigma da formação hierárquica de estrutura,
e o quarto sonda modelos inflacionários, que determinam
as propriedades estatísticas da distribuição
inicial de perturbações.
O grande número de galáxias e espectros
obtidos vai constituir um legado, incluindo
populações estelares de galáxias próximas, morfologias,
massas, taxas de formação estelar, entre
muito outros parâmetros. Estes catálogos vão
permitir produzir ciência em vários domínios da
Astrofísica, tornando Euclid uma missão capaz
de congregar os interesses das comunidades de
Cosmologia, Astrofísica e Física Fundamental.
O satélite Euclid vai ser lançado em Julho
deste ano, por um foguetão Falcon 9 contratado
pela ESA e a NASA à empresa Space-X. É
a primeira vez que uma missão do programa científico
da ESA recorre a este tipo de lançador.
Para atingir estes objetivos, a missão Euclid
vai medir a forma de mais de um milhar de
milhões de galáxias e os redshifts de dezenas de
milhões de galáxias, que serão usados em estudos
de lentes gravitacionais e aglomeração de
galáxias. Estas serão as duas principais grandezas
usadas para investigar a natureza da energia
escura, matéria escura e gravitação.
Foguetão Falcon-9 noutro lançamento, igual ao que
será utilizado para lançar o satélite Euclid
Fonte: SpaceX
Plataforma de lançamento
Fonte: RussianSpaceWeb.com
Portugal participa, desde 2011, no consórcio
Euclid, que é a estrutura responsável pela
conceção dos instrumentos de observação (payload)
e das estruturas de processamento dos da-
46
dos científicos da missão. A contribuição nacional
para o consórcio é garantida por uma equipa
de investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências
do Espaço (IA) da Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa (FCUL), que tem
como principal função implementar e otimizar a
sequência de observações do satélite, durante 6
anos de rastreio nominal da missão. Para além
desta equipa, mais cerca de 35 investigadores
e alunos do IA-FCUL e de outras unidades de
investigação nacionais tem vindo a trabalhar na
preparação científica da missão, podendo desse
modo participar ativamente na sua ciência desde
o seu início até ao fim do período proprietário da
missão.
Durante os 6 anos de voo da missão,
o telescópio Euclid faz cerca de 45000 campos
de observação. Para otimizar esta sequência
de campos, a equipa do IA-FCUL desenvolveuse
um código de rastreio do céu, denominado
ECTile, capaz de gerar soluções que cubram a
maior área possível com a máxima qualidade de
imagens. A figura acima mostra a consola de
rastreiro Euclid gerada pelo ECtile. Os campos
observados em cada ano têm diferentes tons de
azul. Uma vez validada, a sequência completa
de observações é enviada ao centro de operações
da ESA, onde após nova verificação e aprovação,
é convertida numa sequência de comandos
que vão orientar a atitude do telescópio em
orbita. Esta é a primeira vez que uma equipa nacional
tem este tipo de responsabilidade operacional
(equipa SOST) no rastreio duma missão do
programa científico da ESA, o que demonstra a
qualidade e reconhecimento internacional que os
investigadores e instituições nacionais tem vindo
a adquirir nesta área do setor espacial português.
Mosaico representando as diferentes regiões do céu observadas pelo Euclid ao longo dos seus 6 anos de
vida útil esperada, com os anos coloridos a diferentes tons de azul
Fonte: Euclid Consortium
Prof. António da Silva
Docente Dep. Física FCUL
47
Referências Bibliográficas
Evolução da Inteligência Artificial:
ChatGPT
• ChatGPT - https://openai.com/blog/chatgpt
Será que a Relatividade Geral está
totalmente certa e completa ou ainda há
muitas coisas escuras por aí?
• S. Capozziello and M. De Laurentis. The
dark matter problem from f(r) gravity viewpoint.
Annalen der Physik, 524(9-
10):545–578, 2012
• Teoria da Relatividade Geral - Uma introdução
(2ª Edição), Alfredo Barbosa Henriques,
2009
• Lectures on General Relativity and Cosmology,
Pedro G. Ferreira, 2014
• Introducing Einstein’s Relativity, Ray
d’Inverno, 1992
Astroinformática – o céu não é o limite!
• https://phys.org/news/2022-05-artificialintelligence-identification-astronomical.html
• https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao
/2021/10/23/brasileira-faz-1-simulacaode-um-buraco-negro-por-inteligenciaartificial.html
• https://jornal.usp.br/ciencias/astrofisicabrasileira-lidera-primeira-simulacao-deum-buraco-negro-com-uso-de-inteligenciaartificial/
• http://astroinformatics.info/astroinfo
• https://ivoa.net/
• http://www.sbfisica.org.br/v1/portalpion/
index.php/noticias/89-katie-bouman-e-oalgaritmo-que-decifrou-o-buraco-negro
• https://eventhorizontelescope.org/blog/
astronomers-reveal-first-image-black-holeheart-our-galaxy
Estudos e Investigação VS Motivação
• Margarida Silva Rodrigues, Licenciatura em
Física na Universidade de Lisboa (finalista)
www.linkedin.com/in/-margarida-rodrigues
À descoberta do Universo profundo com
o Satélite Euclid
• António da Silva, ajosilva@ciencias.ulisboa.pt
representante nacional na Direção do Consorcio
Euclid (ECB) e ponto de contacto
nacional da missão na PT-Space;
António da Silva é Professor Auxiliar do
Departamento de Física da FCUL, membro
fundador do IA. Doutorou-se na Universidade
de Sussex no Reino Unido. Os
seus interesses de investigação estão relacionados
com a cosmologia e a evolução
acelerada do Universo. É o representante
nacional da missão Euclid.
• Ismael Tereno, iatereno@ciencias.ulisboa.pt
coordenador da equipa operacional SOST
(Survey Operations Support Team) e membro
do Grupo de Coordenação do Consórcio
Euclid (ECCG)
• https://asaip.psu.edu/astroinformatics-in-anutshell/
• https://ivoa.net/
• https://en.wikipedia.org/wiki/Virtual_observatory
• https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-
3-319-00542-3_4
O significado da investigação em
Mecânica Quântica
• Quantum Mechanics for Engineers,
Leon van Dommelen, Cap. 8,
https://web1.eng.famu.fsu.edu/ dommelen/quantum/
48
Resolução do Desafio Matemático
Este é sem dúvida um dos resultados matemáticos mais estranhos e contra-intuitivos que conheço.
A função de zeta de Riemann define-se como:
∞∑ 1
ζ(s) =
n s = 1 1 s + 1 2 s + 1 3 s + 1 + ... (1)
4s No caso particular de s = −1, temos:
Considere os seguintes resultados:
n=1
ζ(−1) =
1. S 1 = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1... = 1 2
Dem:
∞∑
n = 1 + 2 + 3 + 4 + ... (2)
n=1
1 − S 1 = 1 − (1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1...)
= 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1...
= S 1 (3)
Donde vem:
1 − S 1 = S 1 ⇒ S 1 = 1 2 . (4)
2. S 2 = 1 − 2 + 3 − 4 + 5 − 6 + ... = 1 4
Dem:
S 1 − S 2 = (1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1...) − (1 − 2 + 3 − 4 + 5 − 6 + ...)
= (1 − 1) + (−1 + 2) + (1 − 3) + (−1 + 4) + ...
= 0 + 1 − 2 + 3 − 4 + 5...
Donde vem, utilizando o resultado (4):
Define-se agora: S = 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ....
Logo, temos:
= S 2 (5)
S 1 − S 2 = S 2 ⇒ S 2 = S 1
2 = 1 4 . (6)
S 2 − S = (1 − 2 + 3 − 4 + 5 − 6 + ...) − (1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + ...)
= (1 − 1) + (−2 − 2) + (3 − 3) + (−4 − 4) + (5 − 5) + (−6 − 6)...
= −4 − 8 − 12...
= −4(1 + 2 + 3...) = −4S. (7)
Donde vem:
Finalmente:
S = − S 2
3
S = ζ(−1) =
⇒ S = − 1 12 . (8)
∞∑
n = − 1 12 . (9)
n=1
Este resultado é altamente controverso na comunidade
científica, embora seja utilizado em vários ramos da Física.
No entanto, é apresentado aqui com fins pedagógicos e
eventualmente para suscitar reflexão e discussão.
Prof. Francisco Lobo
Investigador Dep. Física FCUL
Se gostaste de ler a Dº, não percas também a
a neon, da Physis, nem a PULSAR, do NFIST!
Lê aqui a neon, ou no link abaixo
https://issuu.com/physispt/docs/1120201_neon_physis
Lê aqui a PULSAR, ou no link abaixo
https://www.nfist.pt/pulsar
Um agradecimento especial a todos os que contribuiram para esta
revista, e ao leitor por ser o motivo desta existir e que justifica todo o
trabalho e empenho que resultou nesta edição.
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