Cultura de Bancada, 16º Número
Cultura de Bancada, 16º número, lançado a 12 de abril de 2023 Cultura de Bancada, 16º número, lançado a 12 de abril de 2023
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novas propostas,
velhas medidas
uma luta sem
fim à vista
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a voz do adepto
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HISTÓRIA DO MOVIMENTO
ORGANIZADO DE ADEPTOS
na suécia
22
rivais dentro de portas
24
28
à conversa com
marco talina
perdidos em berlim
32
memórias da bancada
48
resumo da bancada
2
62
choque de gerações
66
club brugge x sl benfica
68
muito mais do que 90 minutos
70
fedayn, delije e
códigos de conduta
72
74
as roma x hellas verona
ss lazio x atalanta bc
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o dia em que os equipamentos
ganharam números
78
acf fiorentina x sc braga
80
a vida de um ultra emigrante
parte II
82
Portimonense sc x cs marítimo
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CULTURA DE ADEPTO
3
Edito
Voltámos!
É sempre reconfortante iniciar
a escrita de um editorial na certeza de que
um novo número se encaminaha para a
conclusão. Para que finalmente seja possível
dizer “voltamos”, entregando a cada dois
meses o nosso contributo àqueles que
povoam as bancadas portuguesas.
Não podia sentir de outra maneira
pois, afinal, só nós sabemos o quanto
custa manter vivo este projecto, para além
de que temos um enorme orgulho nesse
momento em que concluimos mais uma
parte deste jogo. Assim tem sido e queremos
que continue, com dedicação e rebeldia à
mistura. Essa rebeldia que nos faz duvidar,
querer mais, querer ser mais e que um
dia, mesmo que a realidade fique aquém
das expectativas, nos fará olhar para trás e
dizer que cumprimos o nosso papel. Este é
um ponto crucial para nós porque somos
porventura a geração que menos faz pelos
seus sonhos. Talvez também aquela que
menos sonhos tem e, pelo que temos visto,
aqueles que raramente se organizam para os
concretizar. As consequências são marcantes
e estão à vista. Com referiu José Saramago
“somos os carneiros que começarão por dar
a lã e acabarão por dar a carne”.
A realidade não fica nas entrelinhas
das palavras, está à frente dos nossos olhos.
Na condição de adepto vemos que somos
conduzidos para a transformação das
bancadas e do que é o futebol. O organizador
da competição, a Liga, fala-nos de fãs, de
produto e de industria de lazer. Os clubes
são invadidos por investidores movidos pelo
lucro. O Governo prepara a higienização
das bancadas com base na repressão,
perseguição e marginalização. Fala-se tanto
do regresso das famílias, mas a verdade está
nas palavras de Helena Pires, representante
da Liga, na recente audição parlamentar: “Os
adeptos são fundamentais para aquilo que é
o negócio da nossa indústria.”. Querem-nos
induzir nesta narrativa onde somos apenas
clientes que vão ao futebol esquecendo o
vínculo social que temos aos nossos clubes.
Neste periodo os adeptos foram
sentenciados pela aprovação de mais uma
Director
J. Lobo
Redacção
L. Cruz
G. Mata
J. Sousa
4
Convidados
Martha Gens
João Marques
Tiago Monteiro
Catarina Monteiro
Marco Talina
M. Ribeiro
A. Machado
D. Fontão
rial2
alteração à Lei nº 39/2009 por parte do PS.
Nesse dia ficou demais evidente a intenção
do Governo acerca do tema em questão,
na pessoa do Secretário de Estado para a
Juventude e Desporto João Paulo Correia, com
uma demonstração de ignorância profunda
nos momentos em que tomou a palavra.
No meio disto tudo, a Associação
Portuguesa de Defesa do Adepto continua a
ser a única entidade em defesa dos adeptos.
É de lamentar que os clubes, que deviam ser
a verdadeira representação dos adeptos, não
cumpram com o seu dever de defesa dos
seus associados. Os adeptos só têm de passar
pelos problemas securitários extremistas
porque vão apoiar os seus clube.
As boas notícias não ficam por aqui
e também nas últimas semanas saiu uma
notícia onde compararam o número médio
de adeptos dna Liga Sabseg com os da Non
League inglesa. Pois bem, digamos que o
resultado acaba por não nos surpreender, mas
merece ficar registado na nossa memória.
Não é normal que a média de adeptos da
segunda Liga portuguesa seja inferior à de
Design
S. Frias
M. Bondoso
uma competição 5ª Divisão para baixo. Que
ninguém tenha a ideia de comentar acerca
da diferença de população porque essa
explicação está longe de justificar a falta de
adeptos nos estádios em Portugal. Como se
não bastasse, também ficamos a saber que
as nossas duas principais ligas nacionais são
as mais indiscplinadas da europa e estão no
top 10 do mundo, comprovado através de
um estudo do Observatório do Futebol (CIES)
com base na média de cartões por jogo. Para
ainda ficar pior, o problema da corrupção
continua a assombrar-nos.
Esta é apenas uma pequena
amostra do cenário actual do futebol
português e temos a certeza que o adepto
será bode expiatório para todos os males.
Resta-nos terminar com um
agradecimento às várias pessoas que nos
continuam a ajudar a construir a revista
Cultura de Bancada. O caminho faz-se
caminhando e, seja lá onde formos dar, já
está a valer a pena.
Revisão
A. Pereira
J. Sousa
Raúl Rodrigues
P. Alves
Manuel Oliveira
Convidados
Paulo Fernandes
Eupremio Scarpa
Marco Fernandes
D. Andrade
5
NOVAS PROPOSTAS, VELHAS MEDIDAS
6
Foi aprovada na generalidade a
Proposta de Lei 44/XV que, mais uma vez, visa
promover alterações à nossa já conhecida Lei
de Prevenção e Combate à Violência.
Depois da queda do Cartão do
Adepto, três meses após a sua implementação
efectiva, entendeu o reeleito e maioritário
Governo que, tal como estava, não estava
bem, e resolveu, numa velocidade relâmpago,
deitar mãos à obra para propor outra revisão
legislativa. Na gíria, diria: “baralha, parte e
volta a dar”.
Ao passo que, quando nos
confrontamos com a questão do Cartão
do Adepto tínhamos uma meta definida e
objectiva, nesta proposta de lei as alterações
são difusas, subtis e insidiosas.
Sempre acreditámos que seria
necessária uma reforma brutal desta lei,
mas que fosse profunda. Depois da vitória
da união e solidariedade dos adeptos, por
momentos, achámos, talvez ingenuamente,
que da próxima vez seria diferente. Mas não.
Foi para nós assustador assistir ao
debate na generalidade, que nos ilustrou de
forma muito gráfica a pouca consciência que
existe sobre a proposta que está em cima da
mesa e sobre o quanto nos falta caminhar para
uma mudança de mentalidade. A proposta foi
aprovada, tendo os votos contra do Chega,
Iniciativa Liberal e PCP, e abstenção do PSD -
algo que já era esperado, na medida em que
existe uma maioria absoluta por parte do
actual Governo. E assim baixa à especialidade
esta proposta, de forma a ser debatida
na Comissão de Cultura, Comunicação,
Juventude e Desporto, e a APDA foi ouvida no
passado dia 20/03/2023.
Sempre actuámos com o peso da
responsabilidade de representar aqueles que
confiam em nós aos ombros, e serão sempre
esses que, em primeiro instante, se devem
sentir representados pelo que fazemos e
dizemos. E por esse motivo, o nosso ponto de
vista sobre esta lei, é claro.
Cai-nos no colo uma lei, resultado
claro de uma actuação pautada por desespero
e medo da desordem bem como pela pressão
pública sobre líderes políticos, os mesmos
que todas as semanas são confrontados com
escândalos políticos. Em alguma área teriam
de demonstrar resultados e musculatura. É
esta, aparentemente.
Ao longo dos anos, os clubes,
fundamentalmente, têm sido passivos
e preferiram deixar andar - ao invés de
assumirem uma tutela e a responsabilidade
de trabalhar com os adeptos. Sem
subterfúgios, os adeptos são seus e cativar o
melhor neles é sua inteira responsabilidade.
Uma vez aqui chegados, é-lhes mais fácil
deixar nas mãos do Estado a reposição de
uma situação que deixaram definhar – e
assim, aparece o legislador, construindo um
enredo legislativo altamente securitário,
repressivo e que denota uma total falta de
conhecimento sobre os fenómenos sociais e
culturais da bancada.
Esta proposta de lei, submete o
exercício da liberdade de expressão a registos
e associativismo obrigatório e é o resultado
claro de uma falta de uma assunção de
culpa - dos Clubes, Ligas, Federações. Estes
entregam agora ao Estado a regulação que,
durante anos, foi a sua responsabilidade, e
continua a ser.
E a questão reside aqui -
confrontámo-nos hoje com uma opção
legislativa onde se entende que é mais
importante perseguir e limitar a liberdade
dos adeptos em Portugal e reforçar medidas
securitárias destinadas a uma clara minoria.
Mas os fins, claramente, não justificam os
meios - pois abrir mão das nossas liberdades
sem justificação cabal e objectiva é perigoso
para os regimes democráticos. E no fundo,
tudo o que pedimos, é aquilo que, na nossa
génese, é nosso por direito.
Seguimos em frente, de forma
intransigente, com a certeza de que um dia, se
os Estádios estiverem vazios, a culpa não será
certamente dos que mais foram prejudicados
e, ao mesmo tempo, saíram na linha da frente
em defesa da Liberdade na Bancada.
Por Martha Gens, Presidente da Associação
Portuguesa de Defesa do Adepto
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UMA LUTA SEM FIM À VISTA
8
Após o anúncio da vontade do
Governo em realizar a quinta alteração à Lei
39/2009, que estabelece o regime jurídico
da segurança e combate ao racismo, à
xenofobia e à intolerância nos espetáculos
desportivos, os grupos de adeptos, mais
uma vez, sentiram necessidade de reagir
em defesa própria. O cenário não é novo,
sobretudo pela experiência adquirida na luta
contra o vergonhoso cartão do adepto, pelo
que existiam expectativas quanto ao que
se podia fazer. Não se pode dizer que o que
se fez mau, mas julgo que a sensação com
que a maioria ficou é que não foi, de todo,
suficiente. Apesar de tudo, creio que um dia,
quando olharmos para trás e analisarmos
o caminho percorrido, vamos reconfirmar
as fragilidades que o movimento nacional
tem, mas quem sabe, também poderemos
ver os pequenos passos que foram dados
para atingir um patamar acima do nível em
que nos encontramos há demasiado tempo.
Porque, na verdade, nada é imediato, tudo
leva o seu tempo.
A história sobre a parte política
resume-se facilmente. Começou a 20 de
outubro quando o Conselho de Ministros
aprovou o pacote legislativo para reforçar
os mecanismos de combate à violência no
desporto, onde para além da alteração à lei
havia também a menção à criminalização da
pirotecnia. A 10 de novembro a proposta 44/
XV foi aprovada e no dia seguinte publicada. A
sua discussão no Parlamento, junto com mais
duas propostas do PCP e do Chega, aconteceu
a 23 de fevereiro e a 24 foram votadas,
baixando no mesmo dia à especialidade. Entre
22 e 30 de março foram ouvidas em audição
pela Comissão de Cultura, Comunicação,
Juventude e Desporto dez entidades, entre
as quais a Associação Portuguesa de Defesa
do Adepto. Até à data também foram
enviados sete contributos escritos de diversas
entidades. Tive oportunidade de as ler e, nem
tudo é mau, destaco três: a do Observatório
da Violência Associada ao Desporto a do
Sport Lisboa e Benfica e a da Associação dos
Directores de Segurança de Portugal.
Do lado dos adeptos, como seria
de esperar, a primeira entidade a manifestarse
contra a nova proposta de lei foi a APDA,
até pela consistência a que já habituaram os
adeptos portugueses. Na madrugada de 20
para 21 de Janeiro foram 15 os grupos de
adeptos que colocaram tarjas nas suas cidades
onde se podia ler “Tanta corrupção e pedofilia,
mas o problema é a pirotecnia?”. Por essa
altura também alguns grupos exibiram frases,
entre os quais os Desnorteados e sócios do
Leixões. A 3 de fevereiro, dezenas de grupos
de adeptos anunciaram um protesto, a nível
nacional, que consistia em permanecer em
silêncio durante os primeiros 12 minutos
dos jogos dessa jornada. Todos os estádios
viraram salas de cinema e a importância da
cultura de apoio foi amplamente sentida.
A 8 de fevereiro os grupos repetiram a
iniciativa. Destaque para um dos jogos, entre
o Sporting CP e o FC Porto. O impacto gerado
pela iniciativa, tanto para quem assistia
in loco como para quem estava a ver pela
televisão, foi amplamente sentido, mas, à
semelhança da jornada anterior, foi uma
iniciativa boicotada pela comunicação social
nacional. A par destas iniciativas os grupos
colaram cartazes nas imediações dos seus
estádios para dar conhecimento do protesto
e distribuíram flyers onde exprimiam a sua
posição. Passadas estas jornadas, alguns
grupos, embora poucos, continuaram a
protestar. Entre esses, há um que certamente
será recordado. O protesto ocorrido a 27 de
fevereiro na partida entre Vitória SC e SC Braga
onde aos 25 minutos todos os grupos pararam
o apoio às suas equipas durante 3 minutos.
Como era de esperar os restantes adeptos
participaram naquele momento organizado
pelos que criaram o conceito de 90 minutos
de apoio pelos seus clubes, aqueles que são
uma parte única no ambiente das bancadas.
Realço ainda que, durante estes minutos, no
sector onde estão situados os Insane Guys
e o Gruppo 1922 foram levantados plásticos
pretos que cobriram aquela zona por
completo, reforçando o impacto da iniciativa
e também a compreensão do momento para
os mais distraídos.
para apoiar” que foi aprovada por larga
maioria pelos sócios presentes. Esta moção
tinha como objectivo mostrar uma posição
contra a nova alteração de lei e levar a
direcção do clube a tomar uma posição
pública nesse sentido. Assim, a Fúria Azul
regressou ao seu sector no estádio.
Se os grupos podiam ter feito mais,
que dizer dos clubes? A verdade é que, tirando
o Espinho, desconheço que outro clube se
tivesse manifestado contra, à imagem do que
aconteceu com o cartão do adepto. Enquanto
isso a Liga aproveita e assume a posição dos
clubes sem os ter devidamente consultado,
como é prova o contributo escrito enviado
pelo Benfica para o parlamento. Assim, a
proposta foi aprovada, a Lei está a ser escrita e
a bancada continua a lutar pela sobrevivência
da cultura popular na qual muitos de nós se
reveem e da qual somos parte.
O pior que podia acontecer agora
era ver os adeptos calarem-se e acomodaremse
à realidade que outros pensaram para nós.
Devemos, por isso, continuar a protestar
e a ser activos na exigência aos clubes, que
nos deviam representar enquanto seus
associados, para também eles representarem
a voz dos seus próprios adeptos. Já aconteceu
no passado, com mais vontade é possível
voltar a acontecer e, com isso, aumentar as
hipóteses de fazer recuar algumas investidas
repressivas, discriminatórias e promotoras da
marginalização dos adeptos.
Por J.Lobo
Outro caso que merece destaque é
o da Fúria Azul que a 8 de março comunicou
que iria deixar de comparecer aos jogos
de futebol sénior, continuando a apoiar
nas modalidades, até que a direção do
clube defendesse publicamente os seus
adeptos. A 30 de março, elementos do grupo
apresentaram uma moção na assembleia
geral do clube, denominada de “Liberdade
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A VOZ DO ADEPTO
10
03 de Abril de 2018
As Comissões de Assuntos
Constitucionais, Direitos, Liberdades e
Garantias e de Cultura, Comunicação,
Juventude e Desporto organizam
conjuntamente uma conferência na
Assembleia da República subordinada ao
tema “Violência no Desporto”, na qual
participam diversas entidades, entre as quais
diversos Grupos Organizados de Adeptos
(GOAs), existindo intervenções orais de
representantes de alguns destes, nas quais
tentaram transmitir a realidade do ponto
de vista dos adeptos. No entanto, o que foi
difundido nos meios de comunicação social
não foi esse ponto de vista nem os problemas
associados à violência no desporto, mas sim
a presença de Bruno de Carvalho e de Luis
Filipe Vieira nesta conferência, numa altura
de elevada crispação pública entre estes
dirigentes desportivos de clubes rivais.
04 de Outubro de 2018
O Governo – então sem maioria
absoluta parlamentar - apresenta na
Assembleia da República a Proposta de Lei
n.º 153/XIII que visa alterar a Lei n.º 39/2009,
de 30 de julho, a qual estabelecia o “regime
jurídico do combate à violência, ao racismo,
à xenofobia e à intolerância nos espetáculos
desportivos, de forma a possibilitar a
realização dos mesmos com segurança”,
procurando, em resposta a diversos pedidos
das forças de segurança junto do então
Secretário de Estado da Juventude e do
Desporto, entre outras alterações, criar o
mecanismo do “Cartão do Adepto” e as
“Zonas Especiais de Acesso e Permanência de
Adeptos, vulgo, ZCEAPs.
07 de Janeiro de 2019
A Comissão de Cultura,
Comunicação, Juventude e Desporto envia
ofícios aos GOAs devidamente registados
junto do IPDJ, I.P.., para que estes, querendo,
se pronunciassem por escrito sobre a aludida
Proposta de Lei, que se encontrava ainda
em fase de apreciação na generalidade,
enviando os seus pareceres e contributos
sobre a mesma. Neste âmbito, diversas
entidades, desde federações desportivas a
clubes desportivos, passando pelas forças de
segurança, apresentaram os seus pareceres
escritos sobre a referida Proposta de Lei.
Para além da Associação Portuguesa de
Defesa do Adepto (APDA), apenas um GOA
apresentou um parecer escrito, no qual,
para além de se opor fundamentadamente
à criação do Cartão do Adepto e das ZCEAPs,
apresentava propostas que visavam a defesa
dos direitos dos adeptos em geral: medidas
de regulamentação da actuação das forças
de segurança que realizam o policiamento de
espectáculos desportivos; regulamentação
da utilização de artigos de pirotecnia de
forma controlada e vigiada, exclusivamente
por parte dos GOAs reconhecidos e
registados, nas áreas a si destinadas nos
recintos desportivos, com designação de
um responsável de utilização de pirotecnia;
possibilidade de denúncias à Autoridade
para a Prevenção e o Combate à Violência
no Desporto (APCVD) de falta de condições
de recintos desportivos, por parte de GOAs;
obrigação do promotor do espectáculo
desportivo garantir a entrada atempada dos
GOAs nos recintos desportivos.
Independentemente do maior ou
menor mérito dessas propostas, a verdade
é que apenas um único GOA foi então, nessa
ocasião, a voz dos adeptos portugueses.
12 de Fevereiro de 2019
O Grupo de Trabalho do Desporto
da Comissão de Cultura, Comunicação,
Juventude e Desporto organiza, promove
e realiza na Assembleia da República uma
Audição Pública relativa às alterações
legislativas na área do desporto, com especial
enfoque na “violência no desporto”. Esta
iniciativa mereceu o envio de convites para
diversas entidades, entre as quais os GOAs
devidamente registados junto do IPDJ, I.P.. No
âmbito desta Audição Pública, em que uma vez
mais marcaram presença diversas entidades,
em especial diversos representantes das
forças de segurança, apenas um GOA marcou
presença e interveio na discussão através
de um seu representante, mostrando-se, na
senda do defendido no seu parecer escrito,
frontalmente contra a criação do Cartão
do Adepto e das ZCEAPs e pugnando, entre
outros, pela responsabilização das forças
de segurança por actos de violência sobre
os adeptos e pela legalização da utilização
segura da pirotecnia nos recintos desportivos.
A este GOA, uma vez mais, juntou-se a APDA,
cuja representante interveio, mostrandose
também ela contra aquelas medidas
legislativas e pugnando pela defesa dos
direitos dos adeptos em geral. Uma vez
mais, apenas um único GOA foi então, nessa
ocasião, a voz dos adeptos.
11 de Setembro de 2019
É publicada em Diário da República
a Lei n.º 113/2019, de 11 de setembro, a
qual corporiza a Proposta de Lei apresentada
pelo Governo e cria o mecanismo do Cartão
do Adepto e as ZCEAPs. De tudo quanto
foi criticado e sugerido pelos adeptos nas
múltiplas intervenções e contributos públicos,
os grupos parlamentares aproveitaram
apenas uma única ideia, corporizada
ela própria num único parágrafo: a
obrigatoriedade legal das forças de segurança
envolvidas no policiamento das deslocações
de GOAs delinearem, em colaboração com
estes, um plano de deslocação que assegure
o cumprimento de antecedências mínimas de
entrada no recinto desportivo, permitindo a
sua acomodação antes do início do espetáculo
desportivo.
Pouco tempo depois da publicação
da referida alteração legislativa veio a
pandemia do vírus Covid-19 e, com ela,
o esquecimento quase completo desta
temática e das sérias implicações práticas
da aplicação das alterações legislativas aos
adeptos de desporto em Portugal.
Com o regresso progressivo dos
adeptos aos recintos desportivos, a temática
ressurgiu porque as ZCEAPs foram criadas e
porque começaram as primeiras pressões
para que os GOAs aderissem ao Cartão do
Adepto e passassem a posicionar-se dentro
daquelas zonas.
A onda de indignação e de
protesto que se gerou e o boicote quase
unânime a essas medidas, permitiram, de
forma inédita, agregar cores, rivalidades e
mentalidades díspares numa única frente
comum nacional, a qual teve eco na esfera
política, nomeadamente, junto de alguns
partidos da oposição a um Governo que,
então, não gozava das prerrogativas de uma
maioria absoluta parlamentar. Em tempo
recorde, especialmente quando comparado
com a experiência de outros países europeus
onde também se combateram iniciativas
legislativas similares, foi possível obter o
necessário apoio e respaldo político, assim
como o apoio generalizado da opinião pública,
o que permitiu o surgimento de uma iniciativa
legislativa que, através da publicação da Lei
n.º 92/2021, de 17 de Dezembro, revogou o
mecanismo do Cartão do Adepto.
Mas nos recintos desportivos as
ZCEAPs continuaram, vazias.
O tempo passou e, em Portugal,
foram realizadas novas eleições legislativas,
nas quais o Partido Socialista obteve uma
inesperada maioria absoluta parlamentar.
E com ela regressou a vontade de legislar
contra os adeptos e contra os seus direitos,
culminando essa vontade na Proposta de Lei
11
n.º 44/XV, que foi discutida (e aprovada) na
generalidade pelos grupos parlamentares
com assento na Assembleia da República,
no passado dia 23 de Fevereiro de 2023.
Uma aprovação que apenas foi possível
com os votos a favor dos deputados do
Partido Socialista, ao abrigo da sua maioria
absoluta parlamentar. Uma aprovação que
mereceu votos contra e abstenções dos
restantes grupos parlamentares, os quais,
diga-se, vocalizaram em sede de Plenário
a sua oposição a esta alteração legislativa.
Porém, a grande maioria evidenciou uma
maior preocupação em proteger apenas o
direito à liberdade de expressão política dos
adeptos, esquecendo quase por completo
todos os seus outros problemas, limitações
e restrições de liberdade a que são sujeitos,
semana sim, semana sim, nos diversos
recintos desportivos espalhados pelo nosso
país, em qualquer modalidade ou escalão
competitivo.
Mas, desta vez, o que sucedeu
foi muito diferente do sucedido em 2018 e
2019. Não existiram conferências prévias,
não existiram convites endereçados aos
GOAs para se pronunciarem sobre a iniciativa
legislativa e não existiram audições públicas
para discutir este tema. Desta vez, foi
decidido não dar voz aos adeptos. E apesar
de entender que esses mesmos adeptos
não aproveitaram na sua plenitude as
oportunidades que lhes foram concedidas
em 2018 e 2019, reconheço que desde então
muito mudou, para melhor, na percepção,
interesse e vontade de intervenção dos
adeptos nesta temática.
E, porventura, é disso mesmo que
existe receio. Que os adeptos despertem
para a realidade, se revoltem, protestem,
intervenham e se manifestem, não só contra
estas medidas legislativas, mas também
contra o Governo. E, pior, que obtenham
a simpatia, a solidariedade e o apoio da
generalidade dos restantes cidadãos nesta
sua demanda.
As recentes notícias, comunicados,
intervenções políticas e estatísticas sobre
interdições de acesso a recintos desportivos
- que teimam em associar a “violência no
desporto”, quando a larga maioria dos
processos contraordenacionais não estão
minimamente relacionados com actos
violentos e quando a larga maioria dos
actos violentos são praticados fora dos
recintos desportivos ou entre familiares
de jovens praticantes nos escalões de
formação – demostram a vontade que existe
em diabolizar os adeptos, em especial os
GOAs, junto da opinião pública, de forma
a criar a narrativa perfeita para o aumento
generalizado da repressão que se encontra
subjacente às mais recentes medidas
legislativas. E a verdade é que os adeptos, no
passado tantas vezes culpados, ou acusados
publicamente de o serem, são um alvo
muito fácil dessa diabolização mediática. E
quem defende os adeptos e os seus direitos?
Quem advoga publicamente uma legislação
justa, proporcional e equitativa que preveja
obrigações, mas também reconheça direitos
aos adeptos enquanto cidadãos? Os clubes e
as sociedades desportivas dos quais aqueles
são fervorosos apoiantes e contribuintes
financeiros – que são quem mais deveria
estar ao lado dos adeptos - remetem-se quase
unanimemente ao silêncio, à semelhança
do que fazem quando aprovam à porta
fechada elevadas multas, que eles próprios
12
pagam, por toda e qualquer palavra que seja
proferida ou acto que seja praticado pelos
seus próprios adeptos.
Creio ser a altura de os adeptos
perceberem que mais ninguém, excepto eles
próprios, se vai insurgir contra o que tem
vindo a suceder. Contra a criação de zonas
de segregação nos recintos desportivos.
Contra as restrições de utilização de simples
adereços de apoio às suas equipas e
clubes desportivos, como sejam bandeiras,
estandartes e cachecóis. Contra a restrição
inadmissível da liberdade de expressão dos
adeptos, através de tarjas com frases de cariz
não racista, xenófobo, intolerante ou ofensivo.
Contra a violência gratuita, desproporcional e
indiscriminada protagonizada pelas forças de
segurança contra adeptos, pelo simples facto
de se encontrarem em contexto desportivo.
Contra a tentativa de criminalizar a simples
posse, transporte ou utilização de pirotecnia
– livremente utilizada noutros contextos
– que não coloque em risco a integridade
física de nenhum cidadão ou a propriedade
de um terceiro, equiparando-a em termos
de moldura penal a crimes gravíssimos
como sejam o homicídio privilegiado ou
por negligência grosseira, o infanticídio,
a pornografia de menores, a extorsão, a
tortura, a violência doméstica, os maus
tratos, a coacção sexual, o lenocínio, a
corrupção activa, a associação criminosa
e o furto, dano ou burla qualificados,
apenas para enumerar alguns. A génese
do desporto popular encontra-se, mais do
que nunca, em risco. Um desporto que se
quer, parafraseando Abraham Lincoln, “do
povo, pelo povo e para o povo”. Os estádios
e pavilhões nacionais estão cada vez mais
vazios. Existe cada vez menos militância
associativa. Os jovens preferem cada vez mais
a garantia de diversão de uma simulação de
desporto electrónica do que a experiência
real de assistir ao vivo à prática desportiva.
O elevado preço dos bilhetes, os dias de
semana e os horários tardios escolhidos, a
gritante falta de condições da maioria dos
recintos desportivos, as constantes suspeitas
de viciação de resultados, apenas para
enumerar alguns factores, têm afastado
progressivamente os adeptos do desporto
real praticado em Portugal. Os poucos que
ainda resistem e que - muitas vezes à chuva e
ao frio, enfrentando longas viagens, perdendo
dias de férias ou de trabalho, privando as suas
famílias da sua companhia e abdicando dos
seus hobbies - ainda vão sendo a voz audível
e o rosto visível daquela que deveria ser a
festa do povo, em vez de serem apoiados,
encontram-se a ser progressivamente
estereotipados, discriminados e reprimidos.
E, historicamente, nunca nada de bom
adveio de situações em que as pessoas
se sentem injustiçadas, perseguidas e,
consequentemente, revoltadas. A propalada
violência que tanto querem combater onde
praticamente não existe, arrisca-se a tornar
uma quase inevitável realidade que ninguém
deveria querer nem desejar. Perante este
cenário, creio que o silêncio, a indiferença,
a conformação e a inacção trarão consigo
apenas um resultado. Pelo contrário, a acção
concertada na defesa dos seus direitos,
ainda que de difícil sucesso face à força e
interesses políticos em causa, afigura-se
a única - e porventura última - esperança
dos adeptos portugueses. Adeptos esses
que, independentemente da sua filiação
clubística, devem encontrar formas pacíficas
e democraticamente aceites de, com
contundência e assertividade, e esquecendo
as rivalidades que apenas têm lugar em dia de
jogo, se unirem e lutarem juntos por aquilo
que é comum a todos eles: os seus direitos,
enquanto cidadãos, dentro e fora dos recintos
desportivos.
Para que a voz dos adeptos (ainda) se
continue a ouvir.
Por João Marques
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Procuram um destino no qual possam assistir a belíssimas demonstrações, sejam elas
proporcionadas pela natureza ou pelo homem? A Suécia é o destino ideal. Entre montanhas
majestosas, vales e lagos, é possível assistir ao fenómeno natural Aurora Boreal. Nos estádios,
entre adeptos ou intervenientes do jogo, é possível assistir a espetáculos criados pelos ultras,
como coreografias fenomenais.
O território da Suécia, localizado na península escandinava, começou a ser habitado
seis mil anos antes do aparecimento de Cristo. Por volta do ano 800 foi ali formado um principado
Viking. Cinco séculos mais tarde, numa altura em que a Suécia já existia, o país foi alienado à
Noruega e à Dinamarca. Ao longo dos séculos seguintes começou a assumir-se na região do
Báltico como potência.
Em 1700 uma coligação entre russos, dinamarqueses, noruegueses e polacos atacou
o Império Sueco. Foi o início do conflito denominado A Grande Guerra do Norte, que levou à
morte do rei sueco Carlos XII e que durou cerca de 21 anos, tendo o poder sueco diminuído de tal
forma que o seu império desapareceu. O fim desse século (XVI) ficou marcado pelas mudanças
políticas entre absolutismo e um regime mais liberal com governos parlamentares. Já em meados
do século XVII foram geradas reformas liberais que ofereceram melhor educação ao povo, mais
poder ao parlamento e um mercado comercial mais aberto. Talvez fruto do liberalismo, o Futebol
chegou ao país de Alfred Nobel no último quarto do século XIX, juntamente com o Râguebi e o
Hóquei.
Em 1885, foi disputada a primeira competição futebolística entre clubes suecos, sob
regras de jogo definidas por clubes de Estocolmo, Gotemburgo e Visby. Apesar disso, só em
Dezembro de 1904 foi fundada a federação nacional, a Svenska Fotbollförbundet e, mesmo
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assim, ainda foi a tempo de ser uma das fundadoras da FIFA nesse mesmo ano.
A relação dos suecos com o Futebol internacional aprofundou-se com a criação da
selecção, que se estreou em 1908, na cidade de Gotemburgo, contra a congénere norueguesa.
O primeiro grande sucesso de Sverige deu-se nos Jogos Olímpicos de Paris em 1924, com a
conquista da medalha de bronze.
Nos anos 30, aquele povo escandinavo viveu tempos de crise, nos quais o partido
social-democrata teve uma grande ascensão, nunca abdicando da neutralidade nas duas Grandes
Guerras Mundiais. Enquanto isso, em 1937, o Estádio Rasunda, uma espécie de estádio nacional,
foi remodelado, passando a lotação das suas bancadas de 2 000 para 36 000 lugares, sintomático
da transformação que o Futebol operou na sociedade.
O dia 15 de Março de 1947 viu a formação oficial da Djurgarden’s Supporter Club, a
primeira associação de adeptos formada no país. Desde cedo que essa associação trabalhou em
prol do clube, organizando eventos desportivos, doando fundos ao clube, organizando viagens
até aos terrenos adversários. Foi um modelo associativo de adeptos que foi florescendo em
alguns clubes, sendo prova disso a Hammarby Supporterklubb, fundada em 1953.
A selecção voltou a brilhar nos Jogos Olímpicos, daquela feita na edição de 1948
realizada em Londres. A comitiva sueca regressou a Estocolmo com a medalha de ouro, a sua
maior conquista de sempre, o que não serviu para uma maior projecção internacional, uma vez
que os medalhados não viajaram para o Brasil, aquando da realização do Mundial 1950. A Suécia
foi representada por jogadores amadores, deixando os seus maiores craques de lado.
A década de 50 foi fortuita em mais momentos marcantes da história futebolística
daquele país. Inicialmente com a conquista de mais uma medalha olímpica (1952) e com a
organização do Mundial 1958, a oportunidade de o país dar a conhecer melhor os seus vastos
recursos naturais, desde florestas, montanhas e outras áreas selvagens a lagos e fiordes, não
esquecendo os depósitos de minério. A par da madeira, o ferro e a energia hidráulica são os
principais recursos que a Suécia explora e exporta, o que sustenta uma indústria bastante
desenvolvida, sobretudo na área da celulose e do papel, como também na produção de
automóveis. Importa referir que o país é dotado de um óptima rede ferroviária e de boas estradas,
destacando-se ainda o excelente sistema de comunicações. Acreditamos que isso contribuiu para
que o Mundial disputado em solo sueca fosse o primeiro a ser transmitido em directo via rádio e
TV.
Em campo, os caseiros voltaram a surpreender o mundo com a sua caminhada até à
final do torneio. Aí, enfrentaram o Brasil, onde figuravam jogadores como Pelé e Mané Garrincha,
estreantes em competições daquele nível. Perante os 50 000 adeptos que sobrelotaram o Estádio
Rasunda, os forasteiros acabaram por vencer categoricamente. O que se seguiu ao final do jogo
é prova da índole sueca: os adversários foram aplaudidos enquanto davam a volta olímpica. Logo
depois, foi vez do rei Gustav Adolf VI entregar a Taça Jules Rimet ao capitão brasileiro Bellini. Até
aí, nunca tinha sido entregue alguma taça aos vencedores da competição.
As décadas seguintes foram de renovação no Futebol daquele país do norte, destoando
pela positiva o aparecimento do apoio vocal nos anos 70. Tudo surgiu durante o Mundial de 1970,
no qual os cânticos dos adeptos ingleses cativaram a atenção de adeptos do Hammarby, um dos
três grandes clubes da capital. Nos jogos seguintes do seu clube aplicaram alguns cânticos que
tinham elaborado numa “taberna”, onde assistiam ao Mundial. A nova forma de estar causou
estranheza nos demais, contudo isso foi ultrapassado nas semanas seguintes.
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Do outro lado da cidade, adeptos do AIK, que mais tarde estiveram na origem do Black
Army, organizaram em 1977 a primeira viagem para apoiar o seu clube. Deslocaram-se até Gavle
para apoiar a sua equipa de Hóquei no Gelo, começando aí o seu historial de incidentes por toda
a Suécia.
A influência britânica continuou a fazer-se sentir nas bancadas, como demonstra o
caso dos adeptos do Djurgardens nos anos 70. Vários jovens adeptos também tinham gosto pela
subcultura Punk, principalmente malta da classe trabalhadora. A ligação dos punk’s à música
contribuiu para o surgimento de diversas músicas de apoio ao Djurgardens e o grupo de amigos foi
crescendo, apoiando a sua equipa em casa e fora, nesta altura já se denominando Blue Saints. Tal
como os mais jovens entusiastas do Hammarby, viajavam com as já referidas associações da velha
guarda, que acabaram por se distanciar dos jovens devido aos diversos episódios de violência
nos quais eram protagonistas. Daí surgiu a necessidade dos grupos começarem a organizar as
suas deslocações, formalizando as suas associações em 1981. Os três principais grupos, todos no
mesmo ano: Bajen Fans (1981), Black Army (AIK) e Blue Saints (Djurgardens).
No caso do Black Army, os fundadores solicitaram ajuda aos dirigentes do AIK para
fundar a associação, tendo lhes sido respondido que o clube já contava com uma associação de
adeptos, a AIK Supporterklubb. Acontece que foi pedida e recusada a entrada na associação,
uma vez que somente aceitavam homens entre os 50 e os 80 anos. Então, em 7 de Março de
1981, cerca de 100 jovens apoiaram em uníssono o AIK sob o nome de Black Army, inspirados
no Red Army do Manchester United. Isto motivou os vizinhos a fazerem o mesmo e quando
digo “vizinhos” é no sentido literal, pois o primeiro presidente do Black Army tinha vizinhos que
faziam parte dos grupos informais do Hammarby e do Djugardens, os quais recebeu em sua casa
e explicou como se tinha desenvolvido o processo de constituição da associação e as vantagens
associadas ao desenvolvimento da actividade de um grupo de apoio. De seguida, os grupos do
AIK e do Djurgardens, que partilhavam o estádio, reivindicaram para si sectores sem cadeiras,
pedido que foi acedido.
Na reunião de fundação dos Blue Saints, na qual compareceram alguns jogadores de
Futebol e Hóquei no Gelo do clube, estiveram presentes 179 adeptos, algo notável porque, até aí,
o grupo que se juntava na bancada era diminuto. Desde logo fez-se entender que a participação
de todos era fundamental, também em termos de representação e voz na vida activa do clube.
Os anos seguintes foram de proliferação do estilo inglês nas bancadas suecas, com grupos
hooligan a tornarem-se famosos pelo piores motivos nos anos 80 e 90. Os principais exemplos
disso são Djurgårdens Fina Grabbar (1989, Djurgardens), Firman Boys (1991, AIK) e Wisemen
(Goteborg, 1996). O grupo Firman Boys foi formado por dissidentes do Black Army e destacaramse
pela sua organização, inovando no uso de pirotecnia e na realização de coreografias sendo,
até hoje, os mais poderosos da curva do AIK, apesar de serem um grupo restrito. Os Wisemen de
Gotemburgo, a segunda maior cidade da nação, surgiram como contra-resposta aos sucessivos
ataques dos adeptos dos três clubes da capital às suas gentes e à sua cidade. O Goteborg sempre
deu luta em campo, formando uma grande rivalidade com o clube mais popular do país, o AIK.
Os suecos continuaram a inovar e aos poucos importaram o estilo ultras durante os
anos 90. Surgiram então Hammarby Ultras (1993), Soder Broder (1998, Hammarby), AIK Tifo
(1997, AIK), Ultra Boys (1999, Hammarby) grupo que actualmente guia a curva verde e branca.
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No novo milénio, o movimento ultras continuou a agregar mais grupos e adeptos, ainda
que, sem ter a mesma popularidade que o hooliganismo. Em agosto de 2002, o AIK recebia o
Gotenborg em mais um clássico. O grupo Wisemen deslocou-se até Estocolmo e, em inferioridade
numérica, avançou sobre os Firman Boys. Tony Deogan, elemento Wisemen, chegou a atingir
adversários até que não conseguiu resistir e sucumbiu. Os Wisemen acabaram por recuar e deixar
Deogan entre os Firman Boys. Mais tarde, Deogan foi levado até ao hospital, onde quatro dias
depois, infelizmente, morreria. Certo é que o hooliganismo sueco continua activo e que depois
de episódios infelizes como este e com o aumento do controlo, alguns grupos transformaram-se,
ou adaptaram-se ao “hooliganismo moderno”, com treinos em ginásio e lutas na floresta.
No estilo ultras, mais e mais grupos foram aparecendo, como Ultras Nord (2002,
que actualmente conduz o apoio da curva) e Sol Invictus (2004) no AIK, bem como os Ultras
Stockholm, os Ultra Caos Stockholm (2003) e Fabriken (2005) no Djurgardens, tHIFo e Bortom
Sans no Helsingborgs, Soul Boys, 12 YS e Hammarby Kollektivet (todos de 2010), E1 (2013) e
Sektion 138 do Hammarby, Supras (2003), Ultras Brigada do Malmo, entre outros. Todos eles
contribuíram para que o movimento ultras escandinavo fosse ganhando respeito e projecção
entre os curiosos de outros países. Destacam-se pela sua mobilização que é regularmente
acompanhada de complexas e sublimes coreografias, bem como brutais espetáculos pirotécnicos.
No campo coreográfico os suecos atingiram um nível elevado, sendo um dos aspectos valorizados
e cuidados por todos os agentes desportivos. Na Suécia é habitual que os ultras da casa e os
visitantes possam aceder ao estádio no dia anterior e montar as suas incríveis coreografias. Por
uma questão de respeito e valorização do espetáculo, não existem sabotagens aos tifos dos rivais.
Em 2008 foi formada uma
associação de adeptos nacional, a Svenska
Fotbollssupporterunionen. É de realçar a
capacidade de todos os grupos suecos lutarem
como um só, coisa que acontece há alguns
anos. Combatem o escalar da repressão das
autoridades que implementaram uma política
de imposição de restrições mediante o que
consideram incidentes. Passaram a castigar
os grupos com a interdição de sectores,
proibindo material coreográfico e a realização
de tifos, “destruindo” algo que é somente
positivo. A anteriormente referida associação
nacional lançou então a campanha de
protesto “Radda Svensk Futebol = Salvemos
o Futebol Sueco”, que viu rivais em protestos
conjuntos em derbies, bem como a imprensa
a solidarizar-se com a luta.
Por L. Cruz
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Tiago, natural de uma vila perto
de Viseu, nascido no início da década de
80. Catarina Monteiro, 34 anos, bracarense
de gema. Partilhamos um gosto comum: o
futebol e o mundo ultra. Catarina: braguista
convicta e ex-elemento da Bracara Legion e
Tiago do Benfica, actualmente junto da malta
das Velhas Maneiras. Foi na verdade o que
nos uniu. As conversas demoradas, a partilha,
a comunhão, a paixão e irracionalidade.
Dividimos hoje uma casa e uma vida em
comum: somos rivais entre portas.
A rivalidade entre os dois clubes
tem-se intensificado nos últimos anos fruto
do crescimento exponencial do Sporting
Clube de Braga. Marcas do tempo acentuamse
e, se o Benfica continua a marcar a sua
posição de clube grande em Portugal e no
estrangeiro, também não é menos verdade
que o Braga procura a sua afirmação nacional
e internacional. A consequência parecenos
óbvia a ambos: a simpatia que o clube
amealhava deixou de existir e deu lugar a uma
crescente rivalidade. Aqui e ali, são vários os
episódios que dentro e fora das quatro linhas
corroboram a nossa opinião.
Os resultados, esses, também
falam por si nos últimos anos: confrontos em
semi-finais da Liga Europa e Taça de Portugal,
algumas goleadas das antigas ou até uma final
da taça entre ambos parecem demonstrar
claramente que os dois clubes passaram a ser
adversários diretos em várias competições.
Em casa partilhamos o gosto
pelo futebol mas as vitórias são festejadas
sozinhas.
Em dias de jogos as picardias e as
brincadeiras são várias até à hora do jogo
mas após o apito inicial quebramos o pacto e
somos apenas rivais. Uma espécie de código
de conduta que nos proíbe de entrarmos
em conflito por opiniões divergentes e, até,
de falarmos sobre os jogos após o término
dos mesmos. 90 minutos de um sentido
único e partilhado onde cada um de nós
torce pelo seu clube da forma mais emotiva,
parcial e apaixonada possível. Não há lugar
a racionalidade. As zangas aparecem mas
também dão lugar à boa disposição – às
vezes.
É unânime que nenhum de nós gosta
de perder, mas nesta batalha entre ambos
é claro que é o Tiago que menos suporta a
derrota. Exemplo disto são os 400 km de
regresso a Braga debaixo de piadas após uma
pesada derrota do Braga, encarados sempre
com boa disposição por parte da Catarina.
Pertencer a grupos trouxe-nos,
curiosamente, união. A compreensão pela
forma de estar, de sentir, de partilhar. A
mentalidade que se defende e o orgulho
que se tem. A exigência na bancada é outra
e a defesa que fazemos dos valores em que
acreditamos também. O conflito é eminente,
fruto das diferenças. Mas o respeito também
é alargado.
A bancada é também uma escola: a
priorização; a autocrítica; a lealdade.
E com base nestes valores
aprendemos a respeitarmo-nos mutuamente,
aceitando que cada um de nós fizesse o seu
percurso na bancada, à semana e aos finsde-semana,
jogando em casa ou fora, sem
cobranças ou exigências. «Aliás, confesso-me
aqui culpada quando por vezes me entregava
à preguiça e o Tiago não me deixava quebrar.
Ele sabia, o meu lugar era na bancada, fosse
onde fosse». Sem intromissões, com espaços
livres e abertos onde a única preocupação
mútua era saber se estávamos bem na
entrada e saída dos estádios. Nunca houve
lugar a questões, sabíamos que o código um
do outro era o mesmo: «o que se passa na
bancada fica na bancada».
Ter filhos faz parte dos nossos
planos mas aqui estamos em desacordo
quanto às escolhas da cria.
A liberdade é um princípio
fundamental nas nossas vidas e na nossa
conduta, assumindo que este acarreta
responsabilização dos nossos atos.
Assumimos que independentemente da
nossa conduta, caberá à criança perceber
qual o símbolo que a move. Não obstante, a
Catarina quer muito fazer um cartão de sócio
no primeiro dia de nascimento e aproveitar a
proximidade com o clube. Já o Tiago defende
a liberdade de escolha individual e pretende
apenas semear os mesmos gostos.
No final de contas será inevitável que
cada um de nós faça a sua parte, no entanto,
estamos em crer que seres inteligentes
seguem o seu caminho e voam sozinhos.
Rivais entre portas: onde o respeito
impera.
Por Tiago e Catarina Monteiro
23
À CONVERSA COM
MARCO TALINA
Na senda dos conteúdos anteriores, neste
número, voltamos a trazer um convidado
que trabalha activamente com os adeptos do
seu clube. Marco Talina, adepto como todos
nós, é na actualidade o Oficial de Ligação aos
Adeptos do Vitória Sport Clube, em funções
há cerca de um ano. Desde já agradecemos
a disponibilidade, mostrada pelo nosso
convidado, para participar nesta conversa
com a Cultura de Bancada.
adeptos, não consegues desligar do legado
que aprendes a amar, a dar continuidade e,
acima de tudo, a dignificar.
Como é para si viver o seu clube?
Saúde, trabalho, família, amigos e Vitória
Sport Clube.
Para viver em plenitude máxima tens de ter
tudo isto.
Viver sem alguma coisa destas, não é viver.
Considera que ser adepto tem importância
relevante na sua vida e na sua construção
pessoal?
Sim, sem dúvida. O sentimento de orgulho
na pertença a um legado, na partilha de bons
e maus momentos, na defesa da honra, o
bairrismo, a necessidade de não abandonar
o clube, principalmente nos momentos mais
difíceis, são aspetos que te fazem crescer
enquanto ser humano e que também me
ajudaram a moldar na pessoa que sou hoje.
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Como nasceu o seu amor pelo futebol e pelo
seu clube?
O futebol é o desporto rei mundial, logo não
é difícil de “amar”… Desde pequenos: na rua,
na escola, em casa, o futebol era e é rei. Seja
a jogar, seja a ver jogar.
O amor ao Vitória nasce naturalmente.
Tive a felicidade de viver os primeiros 25
anos da minha vida “paredes meias” com o
estádio do Vitória e desde muito novo que
tenho recordações de ver treinos, de ver o
frenesim do dia dos jogos, da minha primeira
bandeira… o amor ao clube nasce também na
rua, na escola, nas amizades. Sinto mesmo
que nasci, cresci e fui educado sem opção,
porque não há outra opção quando “vives”
o clube desta forma tão intensa desde tenra
idade. Mesmo que vejas outros clubes a
ganhar mais, a terem mais títulos ou mais
Como chegou a OLA do Vitória?
Por convite da atual direção do Vitória.
Quais os maiores desafios enquanto OLA de
um clube com uma massa adepta tão forte e
participativa?
Para lá das responsabilidades que assumi,
não posso deixar que as mesmas me façam
esquecer que também eu sou um adepto do
Vitória.
Naquilo que é o relacionamento do OLA do
Vitória com os seus adeptos, o maior desafio
passa por não criar distinções entre os vários
tipos de adeptos que temos. Tentar, de uma
forma sensata, cordial e ponderada, promover
uma cultura positiva entre os nossos adeptos.
Numa massa adepta forte e participativa como
a nossa há sempre opiniões diferentes, visões
diferentes, daquilo que são os diferentes
caminhos que as diferentes administrações
do clube tomam. Não podemos é deixar que
diferentes opiniões ou visões nos desviem
do mais importante: acima de tudo e todos,
o clube. Só na união, pelo amor que todos
temos ao clube, é que nos podemos tornar
mais fortes.
No seu entendimento, como convivem os
adeptos e as instituições que tutelam o
futebol em Portugal?
Numa visão curta e sem muitas palavras, vejo
assim:
os adeptos vivem “intoxicados” por aquilo
que os dirigentes dos seus clubes dizem sobre
as instituições.
Essas instituições, que tutelam o futebol,
nunca tiveram a coragem de acabar/punir
esta “intoxicação”, de uma forma clara.
Todo e qualquer dirigente, na falta de sucesso
desportivo, culpa (com ou sem razão)
uma qualquer outra “instituição” pelo seu
insucesso.
Assim sendo, o adepto vê sempre as
instituições que tutelam o futebol com
desconfiança. Seja por “intoxicação”, seja
pela manifesta falta de credibilidade que
algumas denotam.
Como convivem os interesses comerciais que
vemos cada vez mais presentes no futebol
moderno com a preservação dos valores
da bancada? Sente que os adeptos estão
despertos para estas problemáticas?
Aos “interesses comerciais” não interessa a
“preservação dos valores de bancada” porque
interferem com o propósito máximo desses
mesmos interesses que é o lucro económico
da atividade.
A nível global, o futebol moderno dos
interesses comerciais tem vindo a tomar
conta da atividade e não me parece haver
retrocesso ou abrandamento possível.
Em Portugal torna-se ainda mais complicado
quando tens 90% dos adeptos, afetos a 3
clubes, e a sua larga maioria se preocupa mais
em “ganhar” do que em preservar valores.
Os adeptos que estão despertos para estas
questões são poucos e sem muitos recursos
para fazer frente aos interesses comerciais.
Quando começas a ver que podes ter equipas
de futebol a competir, sem a base de um clube
associativo por detrás. Quando vês SAD’s a
mudarem as suas bases de uma cidade para
outra e tudo isto nas principais competições
e sem grande “alarido” por parte dos adeptos
de futebol, torna-se claro que caminho se está
a seguir.
Qual é o papel dos adeptos portugueses na
organização do nosso futebol? Atualmente
têm mais peso do que antes?
O adepto português é cada vez mais um
“cliente” de um produto. À organização do
futebol, se calhar, interessa cada vez mais que
seja cliente e não adepto (adepto = associado
do clube/voz ativa nos destinos do clube).
Os OLA’s em Portugal, ao contrário do que
deviam, não nos parecem muito valorizados.
Concorda com a nossa afirmação? Porquê?
Nos poucos clubes em Portugal com dimensão
associativa relevante, o OLA é valorizado
apenas internamente. Para assuntos internos
do seu clube.
Mas naquilo que é a sua valorização no
universo de entidades do futebol, concordo
que não lhe é dada a importância que a sua
função acarreta. O OLA é visto apenas como
um elemento de ligação a claques de futebol
e não como o elemento mediador e criador
de condutas positivas na relação das diversas
entidades do futebol com TODOS os adeptos
do clube. Não consigo perceber porque não
é mais valorizada a opinião, conhecimento e
experiência do OLA.
Considera que os vários agentes desportivos,
os governos e as autoridades de segurança
têm uma real compreensão do fenómeno
social e cultural que são os adeptos?
As emoções, reações e comportamentos de
um adepto de futebol são compreensíveis
para quem gosta, vê e percebe de futebol.
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Se, por exemplo, no desporto, só fores
um apaixonado/aficionado por ténis, não
compreenderás o comportamento de um
adepto de futebol.
Como interpreta a abordagem dos mesmos
em matérias de segurança?
Sinceramente, acho que ao nível de
autoridades de segurança estamos entre
os melhores, naquilo que é a atenção e
preparação dada às questões de segurança
em eventos desportivos.
Naquilo que são as abordagens, que os
governos e outros agentes desportivos têm
feito para darem cobertura a matérias de
segurança, já tenho a certeza que estamos
entre os piores.
O Vitória costuma ter em muitos dos seus
jogos fora, bilhetes a preços acessíveis
(10€). Sabendo que isto acontece através
da construção de acordos entre o Vitória e
outros clubes, parece-lhe que tem sido fácil
negociar esta situação?
A minha experiência é curta, mas não tem
sido difícil. A verdade é que, quando estamos
a falar de confrontos entre equipas que
geralmente arrastam adeptos nos seus jogos
na condição de visitantes, se torna mais
fácil de negociar. Mas mesmo com outras
equipas, que não arrastam muitos adeptos
na condição de visitantes, não tem sido difícil
chegar a entendimentos.
O Vitória tem um Oficial de Ligação aos
Adeptos ou uma equipa de OLA’s? Porquê?
Naquilo que é o contacto institucional com
outras entidades, o Vitória tem um OLA
“oficial”.
Naquilo que são as obrigações e deveres do
OLA, o Vitória deve ter, na minha opinião,
uma equipa.
Quando fui convidado pela atual direção,
sempre transmiti que a função de OLA
deveria ser feita por uma equipa e não por
uma só pessoa. Algo que me foi permitido
criar e que tem estado a ser feito.
A função de OLA, com vista a assegurar uma
comunicação eficaz entre os adeptos, o clube
e as demais instituições desportivas, num
clube com a dimensão social e características
da sua massa associativa, são competências
para uma equipa e não uma pessoa.
É tudo uma questão de abrangência e rapidez.
Com uma equipa, consegues passar toda a
comunicação do clube para os adeptos, ou
dos adeptos para o clube, de uma forma mais
abrangente e mais rápida.
Não obstante todas as plataformas
comunicacionais do clube, a equipa OLA
é constituída por pessoas de terreno, de
rua, com os adeptos a poderem interpelar
diretamente os mesmos e a terem a
possibilidade de ser esclarecidos, de veicular
o reporte de necessidades, preocupações e
sugestões, através de alguém que, mesmo
integrado no Departamento do Associado,
tem “ligação direta” à Administração do
clube.
É também muito importante que em dia de
jogos, fora ou em casa, o raio de amplitude de
ação do OLA esteja amplamente coberto, ou
seja, haver um elemento da equipa a chegar
junto de um adepto que precise de qualquer
tipo de assistência, no mais curto espaço de
tempo.
Um OLA deve cuidar dos adeptos. Assistir
nas necessidades e promover diálogo
nos problemas. Só com uma equipa
conseguiremos dar amplitude ao raio de ação
que, muitas vezes, é grande, sobretudo em
dias de jogo.
Que leitura faz das ZCEAP?
Por princípio e por defeito, sou contra todo o
tipo de segregação e discriminação.
A ZCEAP é um upgrade ainda mais segregador/
discriminador do que a falecida “Zona Ultra”
ou “Setor Ultra”.
Consigo entender que dentro dos adeptos de
futebol há aqueles que gostam de passar 90
minutos de pé a cantar e agitar bandeiras de
5 metros e aqueles que gostam de sofrer o
jogo sentados. Consigo entender que quer
um quer outro têm direito a ver o jogo com
o mínimo de incómodo do outro e que, se
para isso acontecer, temos de criar zonas
diferentes para ambos, que assim seja.
Agora, obrigar uns a identificarem-se para
terem acesso à sua zona e outros a não terem
que prestar contas de identificação, é do mais
segregador e discriminatório que já vi.
Que opinião tem sobre a recente actualização
à Lei nº 39/2009?
Para o combate à violência, racismo, xenofobia
e intolerância em recintos desportivos ser
eficaz, a lei sem atualização já o permitia. Só
tinha era que ser aplicada.
Sinceramente, todas as alterações que
vêm sendo feitas, apenas potenciam o
aparecimento de fenómenos que as mesmas
se propõem a combater.
De que forma vê a possibilidade de os
adeptos poderem consumir bebidas de baixo
teor alcoólico nos estádios?
Não entendo a proibição de venda e consumo
dentro dos recintos quando na rua do lado de
fora do estádio o álcool está disponível.
A venda de cerveja dentro dos estádios de
futebol permitirá um maior controle do
consumo do que aquele que é consumido
fora, cujo controle é nenhum.
Permite também aos adeptos que, para poder
beber, ficam no exterior do estádio até bem
perto do início do jogo, chegarem mais cedo
ao estádio, mitigando potenciais problemas
de segurança.
Quais as melhores experiências que teve
enquanto OLA?
É recente a função, não completei 1 ano
ainda. Mas aquilo que eu sei que serão as
“melhores experiências” serão certamente
todas aquelas situações em que puder
ajudar/assistir os “meus” adeptos. Não pode
haver melhor “experiência” ou satisfação do
que essa.
Como vê a cultura de adepto em Portugal?
Globalmente o “futebol indústria” tem
produzido efeitos contraditórios sobre os
adeptos.
Torna cada vez mais o adepto no consumidor
preferido do espetáculo (cliente), mas tenta
a todo o custo reduzir ou retirar-lhe o poder
de intervenção no seu clube, tornando os
clubes cada vez menos associativistas e mais
empresariais, substituindo os associados/
adeptos por acionistas/clientes.
Em Portugal, se juntarmos o facto de a
simpatia clubística estar concentrada
maioritariamente em 3 clubes, cujos adeptos
dão uma importância vital e única ao verbo
“ganhar”, acabamos por ter um casamento
perfeito entre o objetivo do futebol indústria
e o adepto do verbo “ganhar”.
A cultura do adepto em Portugal é cada vez
mais “resultadista” e, por consequência, mais
aberta ao futebol indústria.
De que forma vê a Associação Portuguesa de
Defesa do Adepto?
Vejo como mais uma voz na defesa do
conceito “adepto”, dos “valores da bancada”.
Considera que a Cultura de Bancada e outros
projetos similares podem ter importância na
formação ou reforço da cultura de adepto?
Tem, pelo menos, a importância de mostrar
que do lado “romântico” do futebol há ainda
seguidores.
Estes projetos divulgam e partilham
conteúdos e experiências que ajudam a
manter a “cultura de bancada” viva e em luta.
Quer deixar uma mensagem final aos nossos
leitores?
Cresci a ver futebol com a “mentalidade do
Peão”. Os tempos mudam.
As mentalidades não têm que mudar…
podemos ajustar a realidades diferentes, mas
há valores e princípios que não se abdicam.
Abraço e viva ao meu Vitória!
27
A visita ao BFC Dynamo não estava,
inicialmente, nos nossos planos, mas como
tínhamos conseguido visitar o que estava
programado para aquele dia a horas, pusemonos
a caminho do estádio. Sabíamos que um
dos principais grupos do BFC Dynamo, os
Ultras BFC, haviam tido a sua faixa principal
conquistada 2/3 semanas antes, o que
poderia condicionar o ambiente. Saídos
do metro de superfície, encontravamo-nos
numa zona mais fora da cidade. Pouca gente
na rua e pouca “vida”. Procurámos os postes
de iluminação do estádio e caminhámos
em direção a eles. Chegados a um parque
de estacionamento, vimos um bom grupo
de homens, todos vestidos de preto,
dirigindo-se, aos poucos, para a entrada.
Sobraram 5 destes, que começavam a olhar
fixamente para nós. Decidimos abordar de
maneira a demonstrar que não éramos uma
“ameaça”, mas a resposta da maioria foi
hóstil, além de um deles que nos indicou
um segurança com quem podíamos falar.
Após alguma dificuldade em comunicar
em inglês, conseguimos perceber que nos
encontravamos... No sector visitante. Nova
caminhada, desta vez para o outro lado do
estádio. Na bilheteira, nova dificuldade dos
alemães a falarem inglês, mas nada que
não se resolvesse com o preço dos bilhetes
escrito num papel (15€ por pessoa). Todo o
ambiente à volta do estádio era um bocado
obscuro, notava-se claramente que éramos
de fora e íamos recebendo alguns olhares.
Também todo este tempo perdido a tentar
chegar ao estádio fez com que chegassemos
à bancada já com 10 minutos decorridos, o
que nos fez perder uma pequena coreografia
dos adeptos da casa, da qual viemos a saber
apenas mais tarde.
Na bancada, partilhada com um
dos grupos da casa, escolhemos ficar num
canto, distantes do mesmo, de maneira
a conseguirmos observar o ambiente e
termos uma boa visão do relvado, visto que
a classificação das duas equipas fazia prever
28
um bom jogo. No entanto, dentro de campo o
futebol desiludiu, com a qualidade de jogo na
primeira parte a ser de baixo nível e tendo os
únicos lances de perigo surgido de tentativas
frustradas do guarda-redes do Chemnitzer de
jogar com os pés.
Praticamente após o apito que
deu início à segunda parte, os ultras do
Chemnitzer, situados atrás da baliza oposta à
nossa, acenderam um par de “piscas”, dando
o mote para o que foi, para nós, o grande
momento do jogo: Uma impressionante
tochada, que deixaria com ciúmes muitos
grupos, a mostrar a discrepância de
mentalidade existente em relação à nossa…
mas também a interromper o jogo devido ao
fumo que se espalhou para o relvado
Dentro de campo, mais uma vez um
jogo muito parado, duas equipas sem rasgos
de génio foram desanimando os adeptos,
que apenas se manifestaram ruidosamente
aquando da confusão que deu origem à
expulsão de um jogador do Chemnitzer, para
regozijo dos da casa.
Ao aproximar-se o final da partida,
abordamos outro grupo de groundhoppers,
com os quais ficamos a trocar impressões
até ao final do jogo. Em conversa com eles
ficamos a saber que afinal se tratavam de dois
grupos distintos. Uns alemães do Friburgo
e uns Austríacos do SU Grabern (clube de
Viena). De salientar que após nos oferecerem
cerveja ficaram estupefactos quando os
informamos de que beber cerveja com álcool
seria impensável num jogo dos escalões
superiores em Portugal. Questionados sobre
o assunto, disseram-nos que, no final do
jogo, os adeptos visitantes saíam ao mesmo
tempo que os da casa, mesmo que fosse um
jogo de risco, o que nos deixou um bocado
estupefactos. Trocamos contactos, soubemos
que provavelmente nos voltaríamos a ver.
No final do jogo, fomos novamente
para o metro de superfície e para o centro da
cidade, aproveitar um pouco da vida noturna
que a mesma tem para oferecer.
Em geral, um jogo da regional
29
a fazer inveja a muitos da Primeira Liga
portuguesa. Reparamos ainda num pequeno
grupo da casa, presente na bancada oposta à
dos outros grupos. Uma das bancadas laterais
era totalmente composta por safe-standing.
Bem como o setor visitante.
Já no domingo, foi altura de nos
dirigirmos ao icónico Olympiastadion. O
bilhete para o jogo permitia-nos andar
gratuitamente nos meios de transporte.
As redondezas do estádio são diferentes
do que estamos habituados em Portugal.
Os torniquetes não dão acesso “direto” à
bancada, mas sim à zona à volta do estádio,
onde se encontram várias atividades. Doações
para as coreografias, barracas com comida e
bebida, lojas do clube, entre outros. Viemos
até a saber depois, ao tentar trocar o nosso
bilhete digital por um físico (para lembrança),
que existe uma barraquinha de sócios que
vende bilhetes simbólicos a 0.50€. Com um
tempo agradável, ficamos nesta zona alguns
minutos a usufruir da cerveja (com álcool!) a
que não estamos habituados.
Enquanto absorvíamos o ambiente
à volta do estádio, completamente utópico
comparado à nossa realidade, a palavra
“Portugal” gritada relativamente perto de
nós fez todos virarmos a cabeça para saber de
onde vinha. Surpreendentemente, o grupo de
groundhoppers que tínhamos conhecido na
sexta-feira anterior tinha comprado bilhetes
para assistir também ao jogo do Hertha, mas
num sector diferente do nosso. Após alguma
conversa e cerveja, fomos para a bancada.
Na primeira parte, ficamos por
cima da Ostkurve, ou seja, dos ultras do
Hertha. Embora o estádio não seja o melhor
a nível de acústica, foi um “estrondo” quando
toda a curva começou a cantar. Algo que só
nos lembramos de assistir em Frankfurt,
igualmente na Alemanha. Ao início, o resto
do estádio ainda ia acompanhando, mas
com o decorrer do jogo, apenas os ultras
cantavam. No entanto, em lances de perigo
ou assobiadelas, o eco do estádio fazia-se
ouvir bem.
Quanto aos adeptos visitantes,
esperavamos alguma tensão por estes
30
terem amizade com o Union Berlin, mas não
registamos nada de mais. Fora do estádio,
alguns adeptos “normais” do Gladbach
a frequentarem as redondezas e total
desinteresse dos, também normais, adeptos
do Hertha.
Dentro do estádio, fizeram-se ouvir
bastante bem, mesmo encontrando-se na
outra ponta do enorme Olympiastadion, e
com uma presença numerosa.
No relvado, pouco a registar, dado
que nos distraíamos facilmente com a cerveja
e as bancadas.
Ao intervalo, “enganamos” o
segurança e entramos num dos sectores
inferiores, junto ao sector visitante. Com
a noite a cair, foram ligadas as luzes azuis
do estádio, o que dava um efeito bastante
incrível. Na Ostkurve, foram acessas duas
escassas tochas, aquando do festejo de um
dos golos, no sector visitante foi erguida
uma frase a criticar os adversários por
“conquistarem” material a adeptos ditos
normais.
Saímos do estádio e dirigimonos
para o tram que estava repleto de
adeptos da casa. Connosco vinha o grupo
de groundhoppers e, pouco depois do tram
arrancar, todos os presentes começaram a
cantar uma música em uníssono, inclusive
os nossos recém amigos (metade austríacos
e metade do Friburgo). A mesma era dirigida
ao rb leipzig e salzburg, que une tanto
alemães como austríacos contra o futebol
moderno. Ao nosso lado encontrava-se
também um grupo jovem de ultras do Hertha
que após uma troca de impressões e, claro,
de stickers, nos apontaram para um homem
de poucas palavras e com ar ameaçador a
exibir a sua perna tatuada, que suscitou a
nossa curiosidade, por ter referências ao
Union. Inicialmente ficamos confusos, devido
à rivalidade crescente que se tem construído
entre os dois clubes principalmente nas
gerações mais novas. Mas depois de uma
explicação percebemos que, apesar da
rivalidade, o homem era amigo de longa data
de um dos presentes e, por isso, havia mútuo
respeito entre ambas as partes, sendo que
mais ninguém no tram o abordou. Algo que
mostra que a rivalidade, ainda que cada vez
mais intensa, é muito recente e o clima de
união e respeito entre os adeptos, resultante
da luta conjunta pela unificação das duas
Alemanhas, não esmoreceu completamente.
Os recentes confrontos e
provocações que se têm notado são, portanto,
um resultado natural do clima competitivo
que as duas equipas foram criando ao
voltarem a defrontar-se e também devido
ao facto de as novas gerações já não terem
vivido com o muro de Berlim e portanto, para
estes, o sentimento não é o mesmo.
Regressamos a Portugal nesse dia,
mas a vontade de voltar a Berlim é enorme.
Uma realidade à parte, completamente
distante da nossa. Mais liberdades, mais
consideração, respeito e mais direitos para
os adeptos, uma vida noturna brutal e
alternativa e, claro, a cultura que envolve a
cidade e o futebol, foram os fatores que mais
nos cativaram naquela viagem.
Uma experiência que todos devem ter!
Por M. Ribeiro, A. Machado, D. Fontão, J.
Sousa
31
MEMÓRIAS Da BANCADA
Por Raúl Rodrigues
Durante os saudosos anos 90 era possível ver por essas bancadas fora a “arte” de muitos adeptos
através de desenhos, desenhos esses que poderiam ser observados em faixas, bandeiras,
cachecóis, panos, t-shirts e por vezes até em pinturas nas paredes. A arte de desenhar tinha
tanta importância que era bastante comum as revistas e fanzines da altura elaborarem concursos
de desenhos, que muitas vezes eram aproveitados para o material oficial dos grupos.
Os próprios editores das revistas/ fanzines não raras vezes recorriam aos desenhos, tanto para
embelezar as páginas como para marcar um ponto de vista ou até mesmo como forma de
humor. Nas páginas seguintes poderão observar algumas dessas obras de arte, boa viagem!
PS: Caso queiram (re)ver alguma coisa nesta rubrica nos próximos números, façam chegar até
nós as vossas sugestões.
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Caminhamos para a recta final da temporada, o que significa o cresciemtno da importância
da grande maioria dos encontros realizados, motivando cada vez mais público e apoio nas
bancadas. Entre isto e o prolongamento de protestos organizados contra as recentes medidas
repressivas, deixamos mais um Resumo de Bancada.
SC Farense x CF Estrela da Amadora | 03-02-
2023
Jogo entre duas equipas que disputam
os lugares de subida ao principal escalão
nacional. Pese embora ter-se realizado numa
6ª feira, a verdade é que a afluência foi muito
boa, com mais de 3.500 espectadores, e com
um ambiente ainda melhor. Os South Side
Boys tomaram conta das operações no que a
cânticos diz respeito, impulsionando bastante
o resto do estádio. Já do lado forasteiro, várias
dezenas viajaram da Amadora.
Dentro de campo também foi animado,
terminando com um empate a duas bolas.
SC Braga x SL Benfica | 09-02-2023
Partida a contar para os quartos-de-final da
Taça apresentando, naturalmente, uma boa
moldura humana. Como já é habitual, houve
um forte apoio encarnado no sector visitante,
fazendo-se ouvir de forma constante ao longo
do encontro.
Os bracarenses tinham sido, até ao momento,
a única formação a derrotar o Benfica esta
época, sendo que conseguiram mesmo
passar à fase seguinte, após desempate por
grandes penalidades, levando a uma enorme
festa naquele reduto.
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AJ Fonte do Bastardo x Leixões SC | 11-02-
2023
Mais de duas dezenas de leixonenses
apoiaram o seu conjunto de voleibol num
encontro que aconteceu na Ilha Terceira,
nos Açores. Uma deslocação fora do
vulgar, no que a modalidades nacionais diz
respeito, explicando-se também pelo facto
de actualmente os adeptos estarem em
boicote à sua SAD. A formação rubro-branca
até perdeu, mas no final houve um belo
momento entre equipa e adeptos, depois de
um bom incentivo ao longo da partida.
Académico de Viseu FC x SC Farense | 12-02-
2023
Jogo entre duas das melhores equipas do
segundo escalão nacional, cujos grupos de
apoio são também dois dos que melhor
nível têm apresentado ao longo da época.
Não foi, portanto, de estranhar que o
ambiente estivesse muito bom, neste início
de tarde de Domingo, com quase 3 mil
espectadores presentes nas bancadas, com
as claques Viriathus 1914 e South Side Boys a
incentivarem as suas respectivas formações.
No final, vitória por 2-0 para os beirões,
motivando uma grande festa entre o público
da casa.
Sporting CP x FC Porto | 12-02-2023
Cerca de 40 mil espectadores assistiram a
este clássico do futebol nacional, que ficou
marcado por protestos dos ultras de ambos
os conjuntos às recentes leis repressivas
contra os adeptos.
Nota mais para o apoio azul e branco,
galvanizados pelo resultado positivo e por
terem estado muito menos fragmentados do
que os grupos da casa. Depois da vitória por
1-2, houve uma grande festa entre jogadores
e público portista.
CS Marítimo x SC Braga | 12-02-2023
Novamente um encontro no Estádio do
Marítimo com quase 10 mil espectadores.
Para além deste excelente registo de um
49
clube que vai estando pelos últimos lugares
da classificação, nota para os muitos adeptos
braguistas que compuseram grande parte do
sector visitante, numa excelente deslocação
à ilha madeirense. O Braga venceu por 1-2,
motivando uma grande festa entre eles e a
equipa!
Club Brugge KV x SL Benfica | 15-02-2023
Idas dos encarnados àquela região europeia
sempre foram sinónimo de invasão, até pela
grande comunidade emigrante lá existente.
Desta vez, não foi excepção. A procura de
bilhetes para esta deslocação foi enorme,
esgotando rapidamente e levando a tentativas
posteriores a ingressos dos sectores de
adeptos da casa, o que se tornou complicado.
Na véspera da partida, muitos benfiquistas já
se encontravam na cidade de Bruges.
Quanto ao jogo, destaque para as as várias
iniciativas dos dois grupos do Benfica. Para
além dos bons espectáculos de pirotecnia,
nota para a mensagem dos Diabos Vermelhos:
“Num país onde se perdoa o político, corrupto
e ladrão, condena-se o ultra que abre uma
tocha a 5 anos de prisão!”. Também os No
Name Boys abriram uma mensagem, neste
caso solidária com os oito elementos da sua
formação que foram recentemente presos,
depois de uma operação policial em Lisboa.
Bom ambiente de parte a parte no reduto
belga, com os simpatizantes do Benfica a
fazerem a festa, depois da vitória por 0-2.
Nota ainda para rápidos confrontos entre
fanáticos belgas e Diabos Vermelhos, que
conseguiram chegar a vias de facto num dos
corredores do interior do estádio.
50
SC Braga x ACF Fiorentina | 16-02-2023
Um dos encontros da semana europeia, no
que a bancadas diz respeito, aconteceu na
cidade bracarense. A amizade entre os ultras
da formação de Florença e os sportinguistas
prometiam “apimentar” as coisas, e assim
foi. Logo na véspera, muita tensão, chegando
mesmo a registarem-se alguns incidentes
junto a um hotel onde estavam concentrados
vários apoiantes italianos.
Já no dia da partida, destaque para o cortejo
dos cerca de mil adeptos forasteiros, havendo
confrontos com a polícia, levando a algumas
detenções.
Era esperado um encontro equilibrado e
competitivo, mas a verdade é que, fruto das
incidências dentro de campo, a Fiorentina
conseguiu vencer por... 0-4. Algo que tornou
o ambiente mais amorfo, mesmo com cerca
de 10 mil braguistas presentes. Por outro
lado, uma grande festa no sector visitante.
CD Tondela x Académico de Viseu FC | 17-
02-2023
Dérbi do distrito viseense com um dos
melhores ambientes desta época no segundo
escalão. Mais de 2.500 espectadores
presenciaram o empate a uma bola, sendo
que o destaque foram os grupos organizados
presentes de cada lado: Febre Amarela e
Viriathus 1914. Muitos cânticos de parte a
parte, sendo ambos bastante audíveis. Do
lado da casa, a claque, que praticamente
lotou o seu sector, viu os restantes sócios
acompanharem, pontualmente, o seu apoio.
Já do lado forasteiro, centenas de adeptos
presentes deram um bom recital, causando
também um bom impacto na bancada.
No final do jogo, nota para o facto de Jorge
Costa, treinador do Viseu, ter abandonado
logo ao início a ‘flash-interview’, após alguns
insultos do público caseiro. No exterior do
recinto houve relatos de alguns incidentes
entre rivais.
Portimonense SC x CS Marítimo | 18-02-2023
Mais um encontro com destaque num artigo
especial deste número da fanzine pelo facto
de, cerca de 200 adeptos marítimistas, terem
estado presentes em Portimão para apoiar
a sua formação. Logicamente um registo
invulgar para um clube insular, ainda por
cima quando a sua equipa está a ter um
desempenho muito negativo ao longo da
época.
51
Vitória FC x Académica de Coimbra | 19-02-
2023
Jogo entre dois históricos do futebol
nacional, jogado no terceiro escalão nacional.
Naturalmente registou-se um bom ambiente,
com o apoio criado pelo Grupo 1910, no lado
da casa, e pelos ultras academistas presentes
no sector visitante.
Caldas SC x CF “Os Belenenses” | 19-02-2023
Excelente casa registada no Campo da Mata,
com mais de 4 mil adeptos presentes nas
bancadas. Os habituais bons ambientes que
têm acontecido nas Caldas da Rainha, a boa
deslocação belenense e o facto de serem
duas equipas a lutar pelo acesso à fase de
promoção à segunda liga explicam facilmente
os números registados.
No final, a formação lisboeta venceu por 0-1,
levando a uma grande festa entre as muitas
centenas de visitantes.
Casa Pia AC x Vitória SC | 19-02-2023
Destaque para a boa presença vimarenense,
no Jamor, numa noite fria de Domingo, num
embate importante para as contas do acesso
às competições europeias da próxima época.
Um bom apoio dos ultras vitorianos, numa
partida sem golos.
FC Internazionale Milano x FC Porto | 22-02-
2023
Invasão de cerca de 5 mil adeptos portistas
a Milão, num registo impressionante para
este encontro a contar para a primeira mão
dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
O dia da partida contou naturalmente com
muita cor azul e branca no centro da cidade
de Milão. Dentro do estádio, nota para os
bons espectáculos pirotécnicos um pouco
por todo o sector visitante. Sem estranheza,
o Colectivo 95 foi acompanhado pelo grupo
Fieri Fossato, os seus amigos da Sampdoria.
Nota também para uma grande coreografia e
uma bela tochada por parte da Curva Nord,
bancada dos ultras do Inter.
52
FC Midtjylland x Sporting CP | 23-02-2023
Depois de um resultado surpreendentemente
negativo em Alvalde, por 1-1, o Sporting
precisava de ir à Dinamarca em busca de uma
vitória para passar aos oitavos-de-final da Liga
Europa. Pois bem, auxiliado por cerca de 800
adeptos, que compuseram o sector visitante
do estádio, em Herning, conseguiram uma
impressionante vitória por 0-5. Para além
do bom apoio ao longo dos 90 minutos,
destaque para uma excelente tochada. Algo
que motivou, posteriormente, trocas de
acusações entre os ultras sportinguistas e a
direcção do clube, através de comunicados.
ACF Fiorentina x SC Braga | 23-02-2023
Outro embate que teve direito a um artigo
especial neste número da fanzine. Depois dos
problemas na primeira mão, seria de esperar
uma difícil deslocação para os ultras do Braga.
Ainda assim, cerca de 400 simpatizantes do
Braga deslocaram-se a Florença, pese embora
o facto de já não terem grandes aspirações à
passagem da eliminatória, depois da goleada
sofrida na semana anterior.
FC Vizela x SL Benfica | 25-02-2023
Como tem sido habitual neste tipo de jogos
em Vizela, excelente ambiente nas bancadas,
que estavam praticamente lotadas com
quase 6 mil espectadores. Muito apoio de
parte a parte, tal como alguma tensão e
provocações. No final, o Benfica acabou por
vencer por 0-2, motivando grande festa entre
os visitantes presentes.
A Força Azul aproveitou para lembrar o
seu 41º aniversário, no qual contou com a
presença de um grupo de adeptos brasileiros
do São Raimundo.
FC Paços de Ferreira x Boavista FC | 26-02-
2023
Mais uma boa casa no Estádio Capital do
Móvel, com cerca de 5.500 espectadores,
contando com muitos boavisteiros presentes
no sector visitante, que acabaram em festa,
depois de uma vitória dos axadrezados por
1-3.
53
Destaque para uma lamentável carga policial
da GNR sobre adeptos visitantes, antes do
encontro, que culminou com um detido e dois
feridos (um jovem de 15 anos e um elemento
da própria GNR).
Vitória SC x SC Braga | 27-02-2023
Mais um dérbi do Minho, naturalmente
com um excelente ambiente. Quase 20
mil espectadores estiveram presentes em
Guimarães nesta noite de 2ª feira. Destaque
para o excelente espectáculo proporcionado
pelos White Angels na abertura do encontro.
Uma enorme coreografia, tochas e a seguinte
mensagem: “Nascidos na cidade berço, alma
de conquistadores...”.
Durante a partida, muito apoio de parte a
parte, tensão (com troca de cadeiras e carga
policial à mistura), pirotecnia e uma grande
festa do público da casa, depois da vitória
conquistada por 2-1.
SL Benfica x FC Famalicão | 03-03-2023
Destaque para mais uma tochada realizada
pelos No Name Boys, na parte superior do
terceiro anel do topo sul, à imagem do que
já fizeram diversas vezes durante a época.
Desta vez, com a particularidade de estarem
a festejar o seu 31º aniversário, algo que
estenderam com um espectáculo pirotécnico
também no exterior, registando-se incidentes
com a polícia.
De resto, nota para o apoio feito pelos vários
grupos presentes no estádio: NN, Diabos
Vermelhos e Fama Boys.
54
Académico de Viseu FC x CF Estrela da
Amadora | 05-03-2023
Mais um encontro entre candidatos à subida
na segunda divisão nacional, registando-se
o recorde de assistência deste campeonato:
4.657 espectadores estiveram oficialmente
no Fontelo. Os forasteiros estiveram
representados por algumas dezenas de
simpatizantes, entre eles o grupo Magia
Tricolor. Do lado da casa, forte apoio
comandado pelos Viriathus 1914, que teve
o seu auge no momento do golo do Viseu
nos instantes finais da partida, que evitou a
derrota frente a um adversário directo.
Vitória FC x CF “Os Belenenses” | 05-03-2023
Outro embate entre históricos nesta Liga
3. Muitos espectadores de parte a parte,
num duelo bem animado com muitos golos
desde cedo, acabando por ficar 5-2 a favor do
conjunto sadino.
SL Benfica x Club Brugge KV | 07-03-2023
Mais um jogo das competições europeias
em território nacional e mais um dos que
despertava grande curiosidade, fora das
quatro linhas, a nível internacional. Os grupos
da formação belga vinham prepados para
algo animado, depois do que se passou em
sua casa. Logo na véspera, turmas numerosas
do clube belga andaram espalhadas pela
cidade lisboeta. Houve o registo de incidentes
tanto na Baixa como nas imediações da Luz,
levando a alguns detidos e mesmo feridos.
No dia do próprio encontro, as coisas foram
relativamente mais calmas. Mais de 60 mil
espectadores no Estádio do Sport Lisboa
assistiram a uma vitória confortável por 5-1
dos encarnandos, motivando naturalmente
um bom ambiente nas bancadas. Novamente,
registo para outra tochada dos No Name
Boys, no terceiro anel do topo sul.
Na madrugada após a partida, os belgas
andaram outra vez pelas ruas, havendo
relatos de mais tensão com a polícia. De
destacar que arrendaram uma discoteca para
uma festa privada.
Acções da Fúria Azul | 11-03-2023
A Fúria Azul comunicou, dias antes do encontro
da sua equipa, um boicote às partidas do
futebol profissional, em protesto contra as
recentes leis repressivas sobre os adeptos
e a respectiva falta de defesa das direcções
dos clubes aos seus sócios. No Sábado, pela
manhã, houve jogo contra o Alverca. Apesar
da não comparência no interior do Restelo,
vários elementos da claque belenense
55
decidiram distribuir o próprio comunicado
em papel aos vários simpatizantes que se
deslocaram ao estádio, para além de também
colocarem várias tarjas de protesto contra as
tais medidas repressivas.
Durante a tarde, foram assistir ao futsal,
frente ao Burinhosa, que ficou curiosamente
manchado por uma carga policial sobre
alguns ultras.
FC Vizela x SC Braga | 11-03-2023
Noite de Sábado, mais um embate entre duas
formações minhotas. Como é apanágio em
Vizela, houve um bom ambiente, que acabou
por ser bastante mais feliz para os muitos
braguistas presentes, galvanizados por uma
goleada de 0-4, levando a uma grande festa
no final da partida entre o público visitante e
a sua equipa.
Sporting CP x Boavista FC | 12-03-2023
A uma semana do 47º aniversário da
Juventude Leonina, estes ultras decidiram
iniciar as comemorações com um espectáculo
pirotécnico no seu sector. Além disso, criaram
um bom apoio, num jogo em que a sua equipa
venceu confortavelmente por 3-0.
FC Porto x FC Internazionale Milano | 14-03-
2023
Segunda mão deste encontro a contar para
os oitavos de final da Liga dos Campeões,
com mais de 48 mil espectadores presentes
no Dragão. O Porto precisava de recuperar de
uma desvantagem de 1-0. Nada melhor para
isso do que ter um 12º jogador nas bancadas.
À entrada dos jogadores, era possível ver
muita cor nas bancadas. Um pano gigante
no sector dos Super Dragões e também uma
coreografia, em formato de mosaico, noutros
sectores.
A verdade é que esta partida não teve
qualquer golo, apesar de uma grande pressão
final por parte dos azuis e brancos, que
fizeram com que praticamente todos, nas
bancadas, acreditassem no tão desejado
golo. Pese embora a eliminação, houve uma
56
boa sintonia entre adeptos e equipa, após o
final do jogo.
Do lado ‘Nerazzurri’, cerca de três mil
apoiantes compuseram o sector visitante,
sendo também audíveis em diversos
momentos e fazendo a festa no final. Várias
centenas ficaram impedidos de entrar, devido
a uma polémica compra de bilhetes, que deu
que falar posteriormente, com uma série de
trocas de acusações sobre os responsáveis.
Houve também alguns acontecimentos nas
ruas, que tornaram este um dos embates
europeus mais falados da semana. Desde
logo, na véspera, vários ultras italianos
percorreram a Baixa da cidade portuense
com alguns cânticos insultuosos. No dia
seguinte, nota para algumas conquistas de
material, com destaque para um pano, dos
Casuals Porto, que se encontrava na posse
dos italianos no momento do cortejo dos
seus ultras. Também a Curva Nord, do Inter,
exibiu uma bandeira gigante dos Super
Dragões, que alegadamente costumava estar
hasteada na varanda de um edifício da Ribeira
do Porto.
Arsenal FC x Sporting CP | 16-03-2023
Muito boa deslocação dos adeptos
sportinguistas, com cerca de três mil a lotarem
o sector visitante do Estádio Emirates. Não se
ficaram apenas pelos números, pois deram
um bom recital ao longo da partida, com
momentos intensos que se fizeram ouvir
(e bem) na transmissão televisiva. Foi um
jogo bastante disputado, em que o Sporting
conseguiu a passagem no desempate por
grandes penalidades, para delírio verde e
branco.
Leixões SC x SL Benfica | 18-03-2023
Primeiro jogo a contar para as meias-finais da
fase de apuramento de campeão de voleibol
masculino. Diga-se que o Leixões, apesar de
estar habituado a este tipo de encontros no
voleibol feminino, já não passava a esta fase,
no que aos homens diz respeito, há mais de 30
anos. Por esse motivo, viveu-se um ambiente
57
muito bom na habitual casa leixonense. Uma
coreografia, que cobria grande parte da
bancada, foi exibida antes do início, podendo
ler-se a seguinte mensagem: “Temos a força
do mar, ninguém nos vai parar!”.
Apoio constante ao longo de uma partida que
sorriu aos encarnados (por 1-3), mas nem
por isso deixou de haver uma grande sintonia
entre jogadores e adeptos após o final.
SL Benfica x Vitória SC | 18-03-2023
18h de um Sábado e quase 60 mil espectadores
no estádio foi sinónimo de um excelente
ambiente para uma partida de futebol. O
Benfica continua embalado no primeiro lugar
e o clima entre os adeptos é naturalmente
positivo. Este jogo não foi excepção, com uma
goleada dos encarnados por 5-1. Ainda assim,
nota mais do que positiva para os vitorianos,
que também estiveram presentes em muito
bom número e, pese embora o resultado
negativo, não deixaram de apoiar a sua
equipa ao longo dos 90 minutos, fazendo-se
mesmo ouvir por diversas vezes.
Casa Pia AC x CS Marítimo | 19-03-2023
Novo destaque para mais uma excelente
deslocação maritimista, agora no Jamor. Cerca
de 600 adeptos da formação insular estiveram
presentes, fazendo-se notar com um bom
apoio. A sua equipa não correspondeu,
perdendo por 2-0, o que fez com que muitos
que lá estavam tivessem perdido a paciência
no final, gerando-se alguns momentos de
tensão durante as críticas à prestação dos
jogadores.
58
SC Braga x FC Porto | 19-03-2023
Mais de 22 mil espectadores estiveram
presentes neste importante encontro,
realizado ao final da tarde de Domingo. Muito
apoio de parte a parte, com os sectores dos
vários grupos muito bem compostos. Alguma
pirotecnia aberta, troca de provocações,
tensão (também fora do estádio), sendo
que, no final, o jogo acabou empatado e sem
golos, podendo dizer-se que foi mais animado
fora do que dentro das quatro linhas.
Boavista FC x FC Famalicão | 19-03-2023
Embate marcado por alguns incidentes no
exterior do estádio. Cerca de 35 elementos
dos Fama Boys deslocaram-se fora da escolta
policial, tendo ocorrido breves confrontos,
no momento em que alguns apoiantes locais
foram ao seu encontro, quando chegavam
ao Bessa. De maneira algo caricata, mas
ao mesmo tempo reflexo das recentes
e repressivas alterações à lei, a polícia
impediu a entrada desse grupo famalicense
(identificando-os) e dos restantes elementos
da claque que se deslocaram de autocarro,
tendo os mesmos ficado toda a partida perto
da entrada do sector visitante, rodeados
pelo corpo de intervenção. Cerca de 15
boavisteiros também foram identificados.
Reus Deportiu x OC Barcelos | 23-03-2023
Cerca de 15 elementos do grupo Kaos
Barcelense deslocaram-se até à Catalunha,
para apoiar a sua equipa neste encontro a
contar para a Liga dos Campeões de Hóquei
em Patins. Uma longa viagem feita em dia de
semana, mas que foi, de certeza, épica e valeu
a pena pois conseguiram uma importante
vitória por 1-4, contribuindo positivamente
para o importante objectivo de passagem à
fase seguinte da competição.
CF União de Lamas x AD Ovarense | 26-03-
2023
Encontro repleto de rivalidade entre duas
formações vizinhas do norte de Aveiro,
neste embate a contar para o campeonato
distrital. Boa presença dos dois grupos das
respectivas equipas, Papa Tintos e Fans 1921,
que apoiaram com fervor, deram cor com
abertura de potes de fumo, trocaram muitas
farpas e ainda tiveram tempo para alguns
momentos de tensão nas bancadas, que
estiveram muito bem compostas.
No final, a vitória (pela margem mínima)
sorriu aos da casa.
59
OC Barcelos x AD Valongo | 26-03-2023
Novamente o hóquei, e os barcelenses em
destaque, com poucos dias de diferença.
Antes do jogo, houve registo de alguns
confrontos entre apoiantes rivais, nas
imediações do pavilhão. Dentro do mesmo,
um excelente ambiente, com muita gente de
parte a parte. No final, a formação da casa
venceu por 5-1, motivando uma grande festa
entre jogadores e público presente.
15º aniversário do Orgulho Aldeano | 01-04-
2023
Mais um aniversário deste grupo do Olímpico
do Montijo, actualmente um dos melhores
das divisões distritais. Logo de madrugada,
realizaram um excelente espectáculo
pirotécnico nas margens da sua cidade, com
muitas tochas e fogo de artifício. No dia
seguinte, o clima também foi de festa no jogo
realizado, em sua casa, frente ao Trafaria, que
acabaram por vencer pela margem mínima.
GD Chaves x SC Braga | 02-04-2023
15h30 de um Domingo, horário convidativo
para se ir à bola. E assim foi, com cerca de
5.500 espectadores, contando com muitos
braguistas, que praticamente lotaram o
sector visitante. Num jogo bastante animado,
o Braga conseguiu mesmo levar de vencido a
equipa da casa, empurrado por um forte apoio
por parte dos seus ultras, que festejaram da
melhor maneira, com a equipa, no final.
Nota de pesar para o falecimento de um
simpatizante flaviense, que sofreu uma
paragem cardiorrespiratória no decorrer do
encontro, no próprio estádio.
60
SL Benfica x Sporting CP | 02-04-2023
A “final eight” da Taça de Portugal de futsal
decorreu na Póvoa de Varzim, entre os dias
31 de Março (6ª feira) e 2 de Abril (Domingo).
Entre vários ambientes bons e dignos de
registo, fica a nota para final entre os dois
grandes rivais de Lisboa. Naturalmente com
casa cheia, muitos presentes ligados a grupos
das várias equipas, pois o Benfica também
tinha jogo de futebol, no mesmo dia, ali ao
lado, em Vila do Conde, enquanto muitos
ultras sportinguistas fizeram questão de se
deslocar de vários pontos do país. O ambiente
foi simultaneamente muito bom e “picante”.
No final, o Benfica levou a melhor, vencendo
uma competição que já lhe fugia para o rival
desde 2017.
61
CHOQUE DE GERAÇÕES
O tempo muda e, com ele, também
muda o que nos rodeia. Mudam as pessoas,
mudam os pensamentos e não é errado,
talvez também não seja certo, se calhar é
apenas condição da natureza humana. Todos
somos um pouco do ambiente que nos
rodeia, por isso é normal, principalmente
para quem já conta alguns anos de vida, que
possamos assistir aos ciclos que se fecham
e aos que se abrem. É também normal que,
por vezes, qualquer um de nós se agarre ao
passado e que, outras vezes, quebremos essa
corrente para escrever um novo caminho.
Daqui nascem, irremediável e naturalmente,
os choques geracionais.
Há pouco mais de 20 anos que
entrei para o meu grupo. Apesar de jovem
sabia para onde ia e o que ia ser, talvez seja
mais correcto dizer que sabia o que ia fazer.
Afinal, para mim, aquilo não me parecia
novidade e tinha como expectativas apoiar o
clube, a amizade, a rebeldia e a diversão. Na
última meia década, antes do meu ingresso,
tinha crescido a admirar e a aprender mais
sobre o grupo e o mundo das claques. Isto
deveu-se, em parte, à minha proximidade
ao grupo por ter crescido nas ruas onde ele
nasceu. A febre já existia, afinal passava jogos
a observa-los em detrimento do próprio
jogo e, na escola, eram comuns os desenhos
daquela bancada com as faixas, as tochas,
os cachecóis e a certa altura, no nosso 5º
ano de escolaridade, criamos uma claque
que, naturalmente, era uma brincadeira de
crianças (seria?), mas ainda chegamos a pôr
a nossa faixa ao lado da do grupo, junto dos
62
nossos ídolos. É nostálgico recordar as tardes
em que desenhávamos as faixas de vários
grupos e as colávamos nos matraquilhos que
um dos meus amigos de escola tinha.
Voltando atrás, ao momento em
que entrei no meu grupo, naquele tempo já
possuía um cachecol da altura da fundação e,
como aconteceu a quase todos ao entrar no
grupo, fui adquirindo novo material sempre
que possível. O meu sentimento ao vestir o
material do grupo era o de uma ostentação
de identidade e de orgulho por estar a
representar o nosso nome. Na bancada o
objectivo era cantar mais alto do que todos
camisola do meu clube, afinal era a única que
tinha. O cachecol é que não podia faltar!
O meu primeiro contacto com
uma fanzine foi antes de ingressar no
grupo. Recordo-me perfeitamente que os
mais velhos mostraram-me a Super Ultra
com a entrevista ao grupo. Naturalmente
que, no tempo em que entrei, comecei a
procurar mais informações sobre o mundo
Ultra e cheguei a comprar algumas fanzines,
essencialmente da Super Hincha, num
quiosque do centro da cidade. Por outro lado,
era a época em que a Internet começava a
popularizar-se e fosse pelo IRC, por fóruns ou
à minha volta e poder pegar numa bandeira
para a abanar. Mais tarde, em jogos de risco,
transportar a faixa do núcleo e guardá-la em
minha casa. No nosso caso, em particular,
não era assim tão normal pois a quem estava
responsável, por a transportar e guardar a
faixa, só faltava dormir com ela.
Naqueles tempos não havia
questões de “elegância” na bancada.
Aprendi a ir com a “pior” roupa que tinha ou
simplesmente algo velho, sentia que era quase
como um uniforme para estar preparado
para a nossa rebeldia. A acompanhar levava
sempre uma peça do grupo ou a velhinha
através dos poucos websites, fui recolhendo
mais informação e aprendendo mais sobre os
Ultras de todo o mundo. Tentávamos saber o
nome dos grupos, nacionais e internacionais,
do máximo de clubes possíveis. Procurávamos
fotos de grupos e áudios com cânticos na
bancada, já que os vídeos eram raros a não ser
nas k7 de vídeo que, por vezes, arranjávamos.
E por falar em k7 de vídeo, em tempos tive
uma onde gravava tudo que passasse na
televisão relacionada com os Ultras. Anos
mais tarde, as k7 de vídeo, e mesmo as de
áudio, foram substituídas pelos cd’s, que
possuíam conteúdos semelhantes ou até os
63
mesmos que balançavam entre as prestações
dos grupos nacionais e internacionais em
bancada, confrontos, documentários e
reportagens televisivas sobre Ultras. Cheguei
a ouvir algumas k7 áudio com gravações de
bancada, influências da geração dos 80 e
também do início dos anos 90. Um momento
especial foi a primeira vez que vi o filme
“Ultra’ - Assalto ao estádio”, inexplicável.
As viagens de autocarro também
eram uma loucura, ao estilo feios, porcos
e maus. Tenho algumas saudades de ver
os papéis que colávamos pela cidade a
anunciar as deslocações na tentativa de
chamar sempre mais gente. Por outro lado,
viagens em autocarro para jogos de risco
eram quase sinónimo de apedrejamentos.
Algo que também me marcou foram as
concentrações que fazíamos antes de alguns
jogos importantes. Naquele tempo ainda
se iam trocando uns cachecóis nos jogos
ou por correio. Confesso que, apesar de
ser coleccionador, nunca consegui trocar
os cachecóis que portava ao pescoço pela
importância histórica que sempre lhes
atribui. Já por correio fiz várias trocas com
outros Ultras que encontrava sobretudo
graças à Internet. Em tons de curiosidade, já
que toquei de novo na Internet, é engraçado
recordar o estereótipo dos “ultras net” por
culpa das batalhas virtuais que aconteciam
em canais do IRC e no famoso fórum Ultras
12.
Pintar o nosso material era
também o ritual especial e a sua exibição um
motivo de orgulho. Tirando a faixa principal,
cujo o aparecimento remonta à época de
1995/1996, e as de núcleo o material era
todo pintado à mão. Pintar frases sempre me
deu muito gosto, mas ainda me dava mais
gosto pensar nelas. Tenho verdadeiramente
saudades daquele jogo de bancada. Para além
de frases, fui e sou apaixonado por inventar
cânticos. Na verdade, inicialmente, inventava
as letras para as músicas que já eram utilizadas
64
por outros grupos nacionais ou internacionais
mas, como em tudo, as coisas evoluem. Hoje
procuro inventar músicas ou pegar naquelas
que ainda ninguém teve a imaginação para
desenvolver numa grande música de estádio.
Eram mesmo outros tempos! A regra era ser
rebelde e, de modo inconsciente, diria que
também um pouco inocente. Tempos em
que se fazia ouvir o famoso ditado “diz-me
com quem andas e dir-te-ei quem és”, lá em
casa não era diferente. A imagem dos grupos
era péssima e os meus velhotes tinham
experiência em viajar com o grupo, quero
dizer que já sabiam o “filme” todo. Talvez
por isso nunca me deram dinheiro para ir
às deslocações. Como consequência disso, o
pouco dinheiro que conseguia era canalizado,
única e exclusivamente, para gastar nas
deslocações.
Creio que posso dizer que no fundo
éramos assim. Uns por moda e vaidade,
outros por amor e loucura. Com o meu
percurso actual só posso dizer que foram
mesmo outros tempos, simplesmente os
meus tempos. Foi assim que comecei, à
minha maneira, o que não quer dizer que
não partilhe a história com muitos outros.
Lamento apenas a falta de uma verdadeira
passagem de valores mas, mesmo assim há
uma coisa que sempre soube fazer, respeitei
os mais velhos pela importância e trabalho
que tiveram na vida do grupo. Tal e qual como
um filho respeita o pai ou o avô, porque na
verdade um verdadeiro grupo é uma família.
Actualmente a bancada já não é mesma. Por
outras palavras, para não soar dramático,
o ambiente que antigamente nos envolvia
transformou-se e, com isso, as novas
gerações também se transformaram. São
vários os pontos onde isso se sente e não
queria explanar o que sinto como positivo ou
negativo, abraço apenas as minhas memórias,
recordações do meu tempo, e continuo a
viver o presente com intuito de construir o
futuro. É isso que levo e passo aos mais novos,
inclusive ao meu filho. Cada um vive o seu
tempo e por isso partilha a responsabilidade
da existência dos grupos e da nossa Cultura.
Sei bem que hoje não podemos focar-nos em
determinadas dinâmicas que eram comuns
antes desta repressão toda, produto destas
leis miseráveis, mas resistam organizados.
Os Ultras não podem morrer!
Por J. Lobo
65
CLUB BRUGGE X SL BENFICA
Se a nível desportivo a eliminatória
não oferecia grandes dúvidas quanto ao
desfecho final, o mesmo não se poderia
dizer relativamente aos desenvolvimentos
que poderiam acontecer nas bancadas, e
principalmente nas ruas, nestes Oitavos de
Final entre o Benfica e os Belgas do Brugge.
Como é habitual nos jogos nesta
zona da Europa, em vésperas da partida da
primeira volta já algumas dezenas de ultras
encarnados se encontravam na cidade
para tentar alguma sorte. Um ou outro
encontro rápido, mas infelizmente o único
ponto a destacar foram as identificações de
vários adeptos portugueses por parte das
autoridades belgas.
No dia do jogo o centro da cidade
foi invadida por uma mancha vermelha. Os
bilhetes disponíveis não foram suficientes
para a procura, o que levou largas centenas
de adeptos a terem conseguido aceder a
outras zonas do estádio.
Na bancada o domínio fora
claramente Benfiquista, com destaque para
duas grandes tochadas realizadas pelos
grupos da Luz. Numa primeira fase, os NN com
tochas e uma frase de apoio aos elementos
detidos recentemente. Numa segunda, os
Diabos com outra grande tochada e uma
frase alusiva às novas leis repressivas que
irão entrar em vigor em Portugal: “Num país
onde se perdoa o politico, corrupto e ladrão.
Condena-se o Ultra que abra uma tocha a 5
anos de prisão”.
No final, já na saída, destaque
para um confronto entre casuais belgas com
elementos dos Diabos que se encontravam
fora do sector visitante.
Por P. Alves
66
67
Ser adepto de futebol é um
denominador comum a uma parte
significativa da população portuguesa, e este
jogo é hoje absolutamente omnipresente
na nossa sociedade. Do pátio da escola ao
refeitório da fábrica, dos corredores de um
qualquer departamento público às mesas dos
cafés, das paragens de autocarros aos bancos
de barbeiros, onde quer que se vá a conversa
passa sempre pela “bola” e até o espaço que
ocupa na imprensa nacional é absolutamente
desproporcional comparativamente a outras
temáticas de vital importância para a vida
em sociedade. Ainda assim, há um milhão de
formas diferentes de se viver o jogo, e apesar
de toda esta histeria em torno do futebol, a
verdade é que poucos são aqueles que vivem
a condição de adepto de um clube, tal e qual
ela é concebida na minha cabeça.
Para a dita “indústria do futebol”,
o adepto modelo resigna-se à condição de
mero consumidor, desloca-se ao estádio,
compra o merchandising, come um cachorro
no bar e assiste impávido e sereno ao
desafio, confortavelmente instalado na sua
cadeira, sem esboçar grandes reacções para
além de uns esporádicos apupos à actuação
do arbitro, e só se levanta da cadeira para
festejar um golo. Pois bem, o futebol pelo
qual me apaixonei é bem diferente, e cada
jogo começa muito antes do apito inicial do
arbitro e acaba bem depois de decorridos os
90 minutos.
Tão ou mais importante do que
aquilo que acontece dentro do relvado,
é todo o ritual em torno de uma ida ao
estádio. Horas antes do apito inicial, os
amigos já se reúnem num qualquer “tasco”
nas imediações do campo, para uma sessão
de convívio que, para além de fazer bem à
alma, pode resultar na criação de conexões
que, com o desenrolar do tempo, podem
fazer germinar qualquer coisa de muito
interessante. As conversas neste contexto
giram inevitavelmente em torno de futebol,
mas elas vão evoluindo à medida que o grau
de consciência vai crescendo e o nosso papel
de adepto se vai desenvolvendo.
68
No meu caso em particular,
que deverá ser o caso de tantos e tantos
aficionados, as conversas do “pré-match”
começaram por resumir-se ao jogo jogado,
à análise ao desempenho de jogadores e
treinadores, à classificação e desenrolar do
campeonato, às espectativas para a época,
etc. Com o passar do tempo o foco começou
a desviar-se para o “jogo da bancada”,
a percepção da qualidade do apoio que
estávamos a prestar à equipa, e a avaliação
também dos visitantes, para além dum raio-x
sobre aquilo que andavam a fazer os adeptos
rivais.
Com o passar dos anos, com o
acesso a informação e o natural processo
de maturação, os interesses foram-se
modificando, em paralelo foi surgindo uma
consciência associada ao papel de adepto
que outrora estava fora do alcance do miúdo
que se limitava a vibrar ou a sofrer consoante
a bola passasse ou não a linha de golo. Dessas
inúmeras tertúlias resultou o fortalecimento
de laços, a criação de amizades para a
vida, e resultou também uma partilha de
aprendizagens e de perspectivas sobre o que
queríamos para o futebol e para o nosso clube
em particular. Surgiram também inúmeras
ideias, projectos de material para colorir a
bancada, coreografias dos mais variados tipos
e, mais tarde, uma visão para aquilo que seria
o nosso ideal de clube.
Esses convívios antes dos jogos
disputados em casa passaram também a
alastrar-se aos jogos fora de portas, e as
intermináveis horas de estrada partilhadas
fortaleceram ainda mais os vínculos pessoais,
e também a certeza de que valia a pena lutar
pela “utopia” que projectávamos. O foco
mudou e as prioridades também, mais do
que a bola entrar ou não, todo esse tempo,
esse ritual essencial para a alma, fez-me/
nos crescer como homens e perceber que
o mais importante é que a colectividade
respeite os seus pergaminhos históricos, seja
absolutamente democrática e transparente, e
que assuma dentro da comunidade um papel
activo e relevante. Essa consciência levou-me
também a perceber que, pelo facto de ser
adepto de um clube, não estava a abdicar
dos meus direitos enquanto cidadão, e que
é dever de todos nós exigir e lutar para que
sejamos tratados com o devido respeito, quer
por parte das forças de segurança, quer por
quem legisla.
Sabendo-se da capacidade
mobilizadora do futebol, do dinheiro que
a indústria gera, é para mim também
importante que os clubes não se demitam da
sua responsabilidade social, responsabilidade
essa que também é transversal aos adeptos e
em especial aos que se organizam em grupos.
Ajudar quem mais precisa em momentos
de dificuldade, auxiliar colectividades
desportivas e culturais de menor dimensão
e fomentar um ambiente saudável na
comunidade em que nos inserimos é uma
forma de praticar o bem e, ao mesmo tempo,
de mostrar ao povo que há muito mais em
nós do que aquilo que a comunicação social
e os órgãos da tutela pretendem fazer passar.
Todas estes pontos traçaram
naturalmente os caminhos que fui
palmilhando, selecionaram o círculo de
pessoas de quem me rodeei e moldaram
significativamente os valores pelos quais
norteio a minha vida, parte importante do
homem que me tornei. Para além disso, a
condição de adepto fez-me viver experiências
que doutra forma dificilmente vivenciaria,
percorrer Portugal de lés-a-lés, viajar por boa
parte da Europa e visitar locais que de outra
forma jamais conheceria.
Por J. Sousa
69
FEDAYN, DELIJE E CÓDIGOS DE CONDUTA
70
4-2-2023 - Um dia que ficará
para sempre na história do panorama ultra
italiano.
Muito já se escreveu e disse sobre
o roubo da faixa dos Fedayn por parte da
Delije. Iremos por partes: primeiro um
breve descritivo do sucedido; segundo,
proponho um exercício e um ensaio sobre
como encaramos o problema do material e
as diferentes visões do movimento ultra no
velho continente.
No final do Roma-Empoli de
um tranquilo sábado de Fevereiro, os
Fedayn regressavam à sua praça para
guardar o material após o jogo, quando são
surpreendidos pela Delije que lhes rouba
todo o material. Os áudios e as histórias
disseminaram-se velozmente pelo whatsapp
e tudo parecia vindo doutro planeta.
A Delije encontrava-se em Itália
para dois jogos de Basquetebol do Estrela
Vermelha, um em Milão e outro em Bolonha,
descendo, posteriormente, à capital para este
assalto.
Rapidamente se fez associação com
os napolitanos que não tardaram a pedir a
dissolução dos Fedayn e, no jogo seguinte,
apresentaram uma bandeira Sérvia ao centro
da curva.
Há rumores de que este mesmo
grupo da Delije, durante esta estadia em
Itália, tenha estado em Brescia e em Modena
a ver e observar os jogos. Se pretendiam ou
não efectuar o mesmo, só eles saberão.
Sem tomar partido de qualquer
dos lados, acho que este problema tem
de ser visto de forma fria e com a distância
necessária. Ao longo dos meus anos de
movimento, pude observar alguns grupos e a
forma como se movem em dias de jogos, quer
em casa quer em trasferta. O movimento em
bloco a proteger o material é sacro a quase
todos pelo que, apresento a minha primeira
constatação: é normal um grupo com 50
anos de actividade levar o seu material com
3 pessoas no final de um jogo?
Segundo, quantos de nós já não se
deslocaram a outros jogos na mesma cidade
a ver se pintava qualquer coisa? Um Boavista-
Benfica era presença assegurada de malta do
Porto, bem como um Estrela-Porto presença
assegurada de malta benfiquista.
Contudo, atravessaríamos um país
diferente com uma capacidade de execução
quase militar e com tudo pensado ao
Os Fedayn, à sua imagem, não
fizeram comunicados. A colocação das faixas
no jogo seguinte fora de casa foi sinal de que
os outros grupos não iriam abdicar da sua
forma de estar para potenciar uma união da
curva, cenário aventado por alguns, mas a
ovação do estádio quase todo, tirando alguns
sectores da curva sul, deu alguma força e
ânimo aos Fedayn.
Até agora continuam a ocupar o seu
espaço em casa sem exibir faixa e material
alusivo.
É notório que os Fedayn estarão a
medir a sua margem de ação a pensamento
frio e não vão deixar este assunto sem
resposta.
pormenor? E este parece-me ser o cerne da
questão: a diferença de mentalidades e forma
de ver o que é leal ou desleal no movimento
europeu e de quem é a propriedade do
movimento. A parte italiana chama a si as
regras não escritas do movimento e partiu
para cima dos sérvios sem piedade (menos
a parte laziale de Roma). Os sérvios nem
quiseram saber da sua defesa quando os
troféus tomam uma proporção gigante, 2
faixas principais, 3 estandartes e 4 bandeiras
gigantes.
Na generalidade do movimento
não há opinião unânime e dificilmente isso
aconteceria.
A queima das faixas foi, sem dúvida,
um momento marcante e que garante que
não há recuperação possível (a única faixa
não exposta foi a que habitualmente cobria
o fim do placard electrónico dedicada ao
fundador do grupo Roberto Rulli).
Por M. Bondoso
71
AS ROMA X HELLAS VERONA
Já visitei alguns estádios, incluindo
em Itália, mas desta vez o destino era Roma.
Há algum tempo que andava à
procura de um jogo para ver em Itália e,
nessa pesquisa, vi que a Roma jogava em
casa no fim-de-semana de carnaval. Marquei
a viagem com bastante antecedência, por
altura do Natal e, assim, aguardei que o dia
chegasse.
Nessa altura estava longe de saber
o que ia presenciar naquele estádio pois,
duas semanas antes do jogo, houve um
acontecimento marcante entre os adeptos
do Estrela Vermelha, que visitavam Itália para
acompanhar a sua equipa, e os Fedayn.
Cheguei a Roma no sábado à
noite, o dia anterior ao jogo. Sendo o jogo
no domingo à noite, o objectivo era dar uma
volta pelo centro da cidade logo de manhã e,
a meio da tarde, dirigir-me ao estádio.
Ainda antes de ir para o estádio
havia um desvio que tinha de fazer. No dia
anterior falaram-me de uma loja que poderia
ter artigos ultras. A loja ficava a caminho,
mas ainda demorei a chegar lá. Depois de
conseguir algumas recordações era tempo de
ir comer alguma coisa para, por fim, ir para o
estádio.
Após recarregar baterias tinha de
apanhar de novo o autocarro mas, desta vez,
o autocarro, nem vê-lo. Já contava com 20
minutos de atraso e cerca de 100 pessoas
à espera quando, de repente, começaram a
chegar táxis. Aí vi que era a melhor opção,
talvez a única opção naquele momento. Lá
voltamos à estrada e a meio do caminho
tivemos de parar para o autocarro da Roma
passar.
Cheguei às redondezas do estádio
a faltar cerca de uma hora para o início do
jogo. Havia muita gente nas ruas, todos
caminhando na mesma direcção. Segui
até descobrir a entrada e passar por dois
controles. Nessa altura faltavam apenas 40
minutos para o jogo.
Chegado à bancada, era hora de
admirar o estádio, a Curva Sud, a bancada
norte, que me surpreendeu, e a parte
visitante. A Sud ainda meio despida, só mais
composta na parte inferior.
A norte completamente cheia, tal
como o resto do estádio. De Verona, cerca de
500 adeptos liderados pela curva sud com a
faixa hellas army . O meu o foco era a Sud, a
bancada começa a encher e a parte inferior
ficou bem composta com muitas bandeiras.
Nos grupos posicionados na parte superior
as faixas começavam a aparecer revelando
Romanismo, Gate XXI, Lupi, Boys, etc…
Realço que o lugar dos Fedayn mantinha-se
72
totalmente vazio.
O começo do jogo aproximava-se
com cerca de 60 mil adeptos nas bancadas
ao som da música “mai solo mai” e, pouco
depois, entram os Fedayn. Foi um nunca
estarás sozinho ao grupo, uma grande ovação
de todo o estádio seguido pelo famoso cântico
Fe Fe Fedayn. Este foi o reconhecimento a
um grupo histórico, um momento único de
grandes emoções.
Entretanto ouviu-se o hino da Roma
e começou o jogo. Durante a primeira parte
a Sud esteve muito calma, a parte inferior
tentava puxar pela bancada mas ninguém
cantava, nem no golo se ouviu a curva. Do
outro lado, na norte, iam puxando cânticos e
o resto do estádio acompanhava. No sector
visitante, os ultras do Verona ainda se fizerem
ouvir algumas vezes. Estava 1-0 ao intervalo,
o futebol que se via não estava a ser grande
coisa, muitas faltas, muito esforço e pouco
jogo.
A segunda parte começa
praticamente igual. A espaços surgia um
cântico mas a curva não acompanhava até
que, por volta dos “72” minutos, os Fedayn
acordam a curva. Talvez todos estivessem
à espera deles. Foi de arrepiar, ouvir toda a
curva unida “Somos todos Fedayn” seguido do
refrão para Roberto Rulli. Continuaram com
cânticos para os Diffidati e ódio ao Napoli. Um
momento brutal! Do lado de Verona também
houve cânticos de solidariedade para os
Fedayn.
O jogo chega ao fim com a Roma a
levar por vencido o Hellas Verona, por uma
bola a zero. Na saída os grupos da Sud foram
quase todos pela saída dos Fedayn e mais
uma vez cantaram em honra a eles. Confesso
que estou ansioso para ver os próximos
episódios do grupo.
Já fora do estádio, fui à procura do
que queria ver antes do jogo, encontrei 5
grandes tendas a vender material, mas nada
de ultras. Aqui o que me chamou mais atenção
foram duas mesas a vender autocolantes.
E assim foi mais uma experiência
num movimento, para mim, único!
Por Manuel Oliveira
73
SS LAZIO X ATALANTA BC
74
Esta aventura começou na noite
anterior, ainda em solo português, entre
cervejas, cigarros e conversas de café. “Será
que a Roma joga em casa amanhã?”, pensei.
Não jogavam os giallorossi mas não ia ficar de
mãos a abanar, pois a Lazio tinha encontro
marcado para o Olímpico… contra a Atalanta.
“Maravilha!”, exclamei, sentindo o frenesim a
tomar conta do meu corpo. Esta aventura não
estava planeada até há 5 minutos atrás, mas
de repente fazia todo o sentido do mundo.
Não houve Vitória, junto dos meus, mas fim
de semana sem bola já nem é fim de semana.
O passo seguinte foi relativamente
intuitivo. O site da Lazio reencaminha
diretamente para a plataforma de venda de
bilhetes (Vivaticket) e o processo é rápido e
simples. Naturalmente a Curva Nord e o setor
visitante não estão disponíveis, pelo que
acabei por optar pela curva oposta, onde se
situam os ultras romanisti nos jogos caseiros.
Além dos 25€ do ingresso é necessário ceder
alguns dados pessoais e declarar o distrito de
residência, de onde Bérgamo estava excluído.
Pagamento confirmado, bilhetes no e-mail e
ansiedade nos píncaros. Já só faltava chegar a
Roma…
Parecia que a hora do jogo não
chegava. Ao passear pelo centro viam-se
algumas esplanadas a transmitir o jogo da AS
Roma em Lecce, com pouco mais do que meia
dúzia de espetadores curiosos. Foi preciso
chegar à zona do estádio, mais afastada
do centro turístico, para sentir o pulso ao
fervor laziale. Da Piazza Navona ao Stadio
Olimpico foram 25 minutos de autocarro,
saíndo na paragem De Bosis/Stadio Tennis,
em referência aos enormes courts de ténis
adjacentes ao estádio.
Como diz o ditado: em Roma sê
romano, portanto agarrei num dos cachecóis
biancocelesti à venda nas tradicionais bancas
e encaminhei-me para a Distinti Sud Est
com alguma antecedência. A revista foi bem
tranquila e pouco invasiva, sendo permitido
todo o tipo de material de apoio (bandeiras e
faixas de qualquer dimensão) sem que fosse
necessário estar confinado a uma qualquer
zona especial para delinquentes. Resultado?
Miúdos e graúdos a ostentar orgulhosamente
a sua bandeira, os mais fervorosos a exibir
as suas faixas e panos e até malta a usar um
megafone para puxar pelas vozes dos fiéis
laziale.
Com o aproximar da hora de jogo
as imponentes bancadas foram ficando cada
vez mais compostas. De 40 mil espetadores
destacou-se a presença de cerca de 250
valentes Bergamaschi, recebidos com
provocações e cânticos de “Odio Bergamo”.
Em número reduzido, separados no espaço
(provavelmente divisão entre grupos
da Curva Nord e Curva Sud) e depois de
atravessarem o país inteiro em transferta,
nem sempre estiveram com os níveis de
energia nos píncaros, mas fizeram o suficiente
para se fazerem ouvir e acabaram por ser
recompensados dentro de campo pela sua
equipa.
Do lado da casa, destaque para os
cânticos pré-jogo, adornados pelo jogo de
luzes e espetáculo pirotécnico a toda a volta
do relvado. As canções em acústico, cantadas
a plenos pulmões pelo estádio inteiro, tiveram
o seu apogeu com o clássico “Vola Lazio Vola”,
que pontua a tradicional cerimónia do voo da
águia.
Os Ultras Lazio não faltaram à
chamada e esgotaram a Curva Nord. O
espetáculo visual e sensorial proporcionado
por 15 mil vozes a puxar ao mesmo tempo é
uma experiência inesquecível. Infelizmente
a “onda” daquela parte do estádio não teve
muita repercussão no público geral, também
muito pela exibição gélida da equipa que fez
acentuar as temperaturas negativas que se
faziam sentir naquela noite de sábado.
Soa o apito para o final do jogo, um
Olimpico já meio despido brinda a sua equipa
com manifestações audíveis de desagrado
(nem era preciso ser fluente em italiano para
as perceber). Do outro lado, a “meia dúzia”
de fiéis Bergamaschi faz a festa. Se para mim,
romano por aqueles dias, a aventura tinha
terminado por ali, aqueles 250 valentes ainda
tinham uma viagem de 600km pela frente
antes de darem o dia por encerrado.
Por Paulo Fernandes
75
O futebol que hoje em dia
acompanhamos com paixão, tem algumas
coisas nas quais nós nem pensamos e
consideramos que sempre existiram, mas que
foram, “revoluções” e mudanças introduzidas
ao longo da centenária história do jogo
da bola. Curiosamente, estas mudanças
são sempre lançadas, não pelos grandes
clubes, mas pelos mais pequenos, os clubes
populares, mais ousados e atrevidos.
Cultura da Bancada saberemos mais sobre a
personalização com os nomes!).
Há notícias de que, já em 1911,
na Austrália, se enfrentaram duas equipas
com as costas “numeradas” (em Sydney,
entre o Sydney Leichardt e o HMS Powerfull)
e parece que a moda pegou porque logo
no ano a seguir todas as equipas tinham a
obrigação de numerar as camisolas. Outros
afirmam que este fato começou nos Estados
76
Alguma vez pensaram desde
quando é que, em Portugal, as equipas têm
os números nos equipamentos? Ou quem foi
o primeiro clube a personalizar as camisolas
com o nome dos jogadores?
Vamos por ordem! Começamos
por falar dos números (na próxima edição da
Unidos, nos anos 20, num jogo entre o Fall
River Marksmen e o Saint Louis Vesper
Buick e que logo se instalou na pátria do
futebol moderno, a Inglaterra, onde em 25
de agosto de 1928 o Arsenal enfrentou o
Sheffield Wednesday com os equipamentos
numerados. No mesmo dia o Chelsea e o
Swansea Town também entraram em campo
com os números nas costas, mas com uma
diferença: O Arsenal tinha a numeração de
1 a 11, no Chelsea o guarda-redes não tinha
número!
Em Portugal tivemos que esperar
pelos anos 40 para encontrar os “atrevidos”
que começaram este hábito. É interessante
notar que coincide com um outro facto
histórico relevante no futebol lusitano: a
primeira equipa a entrar no relvado com
os números nas costas foi o Clube Oriental
de Lisboa, no dia 15 de setembro de 1946,
num jogo contra o Belenenses no Campo das
Salésias. Uma estreia duplamente histórica
Uma última curiosidade: no dia
15 de maio de 1955 a equipa de andebol
7, sempre do Clube Oriental de Lisboa,
apresentou-se em campo com a numeração
romana nas costas das camisolas! Geniais!
Por Eupremio Scarpa
porque aquilo foi o primeiro jogo oficial deste
recém-nascido clube, fundado no dia 8 e
agosto deste mesmo ano, resultado da fusão
de três carismáticos Clubes da zona oriental
de Lisboa: o Clube Desportivo “Os Fósforos”,
o Marvilense Futebol Clube e o Chelas
Futebol Clube. O resultado foi 2-1 pelos azuis
de Belém, mas este foi um jogo que ficará na
história também pela estreia dos números
nas camisolas dos jogadores.
Conta-se que um dirigente do
Oriental, Rui de Seixas, quis criar suspense
na imprensa da época ao dizer que a equipa
grená lisboeta iria surgir no relvado com
uma surpresa, apelando ao público que
aparecesse em grande número para assistir a
algo de inédito e novo no futebol português.
E assim foi, os jogadores de Marvila surgiram
no relvado com as camisolas numeradas de
1 a 11; grande eco teve esta novidade; o
Mestre Cândido de Oliveira comentou que «a
decisão do Oriental de numerar os jogadores
merece relevo e é digna de ser seguida por
todos os clubes».
Um ano de experiência e, na época
1947- 48, a própria Federação Portuguesa de
Futebol viria a tornar obrigatório o uso de
números nas camisolas.
77
ACF FIORENTINA X SC BRAGA
78
Na vida de um Ultra, cujo clube
do coração disputa habitualmente provas
europeias, o dia do sorteio das competições
da UEFA é especial, uma vez que há sempre
destinos pretendidos, particularmente
para ter a experiência de viver ambientes
diferentes e mais entusiastas do que aqueles
que se assistem no nosso (pobre) país.
Depois de uma participação desportivamente
desapontante, mas recheada de bons
ambientes na fase de grupos da Liga Europa,
o SC Braga caiu para a Liga Conferência,
competição em que se iria estrear, e que
tinha alguns nomes interessantes na montra.
Na semana que antecedeu o
sorteio, disse repetidamente, ainda que em
tom de brincadeira, aos meus companheiros
de bancada que não havia necessidade de
esperar, que o adversário estava traçado pelo
destino e que a transferta seria à pátria do tifo,
mais concretamente a Florença. Entre muitos
sorrisos e mensagens depois de confirmada
a minha premonição, o caminho era claro,
havia que procurar soluções em conta para a
viagem uma vez que era imperioso ter uma
presença assinalável perante o cenário que se
avizinhava.
Nunca tinha tido a oportunidade
de entrar num estádio Italiano, país de
referência e onde nasceu o movimento pelo
qual me apaixonei há já longos anos. Para
além desse factor aliciante tínhamos um
osso duro de roer pela frente, a Fiorentina,
cujos ultras têm uma longa e conhecida
história de amizade com os nossos rivais de
alvalade. O desafio estava lançado, sabíamos
o que nos aguardava, até porque os célebres
acontecimentos do verão em que Croatas e
benfiquistas “invadiram” o centro histórico de
Guimarães era um sinal evidente, até para os
mais incautos, de que as rivalidades internas
podiam ter ecos em confrontos europeus.
Os dias que antecederam o jogo
realizado em Braga foram de uma vigilância
permanente, a noite de véspera foi marcada
por muita tensão e tentativas de aproximação,
quase sempre vigiadas e anuladas pela
presença constante da polícia, mas, ainda
assim, foram acontecendo algumas situações,
nada de muito relevante.
O dia de jogo fica marcado pelo
desastroso horário (17:45h) marcado
para a partida, inviabilizando uma grande
assistência, mas ainda assim, 13 000 pessoas,
contando já mais de um milhar de adeptos
viola, estiveram presentes no estádio. O
resultado e a exibição foram desastrosos
para o SC Braga e infelizmente o apoio nas
bancadas e em particular no sector dos
ultras da casa não destoou do nível exibido
pela equipa. Uma desilusão completa foi
também a prestação dos ultras de Florença,
que presentes em bom número, recheados
com muito e bonito material de apoio, num
sector visitante que acusticamente é perfeito
para festivais e perante um grande resultado,
ainda assim foram muito fracos em termos
vocais.
Relevante nesta 1ª mão foi também
o confronto que se registou entre os italianos
e a polícia, no cortejo entre o centro da cidade
e o estádio, marcado por (mais uma) violenta
carga das forças da autoridade, fazendo uso
de balas de borracha e cassetetes, deixando
feridos vários forasteiros que, não obstante,
ofereceram uma destemida resposta. Em
consequência disso alguns ultras da Fiorentina
acabariam por permanecer detidos alguns
dias tendo sido presentes a tribunal.
Sete dias volvidos, era hora de
nós, bracarenses, nos deslocarmos até à
península itálica para a disputa da 2ª mão.
Sabendo de antemão que os números seriam
bastante aceitáveis para as circunstâncias,
era evidente também que a desproporção de
forças era gigante e que, para uma curva da
nossa dimensão, de forma alguma seria esta
transferta uma tarefa fácil. Os adeptos do SC
Braga chegaram provenientes de diversos
destinos, e, no dia anterior ao jogo já havia
bracarenses em Florença. Quanto a mim,
viajei na quarta para Roma e os quilómetros
que separam a capital do país e a cidade dos
Medici foram feitos de carro, junto a algumas
dezenas de elementos do meu grupo.
O efectivo destacado para o
policiamento do jogo era proporcional ao de
um jogo catalogado de alto risco em Portugal,
desde vários policias à paisana, um centro
histórico da cidade controlado por cctv, um
helicóptero no ar monitorizando movimentos
em permanência, todo um cenário, à
semelhança do que acontece no nosso
país, próprio de uma sociedade totalitária e
policial.
A chegada ao estádio deu-se com
bastante antecedência da hora do jogo e a
existência de cerveja com álcool no interior
deu um mote para um apoio bastante
interessante, dado pelos cerca de 400 adeptos
bracarenses presentes no estádio Artemio
Franchi, especialmente na primeira parte
que contou com grandes picos, empurrando
a equipa, e levando-a a acreditar que seria
possível uma remontada histórica.
A euforia transformar-se-ia em
conformismo e o jogo acabaria com nova
derrota, ainda que desta vez, na bancada,
a prestação tenha sido substancialmente
melhor do que a que se assistiu no Estádio
Municipal. Da Curva Fiesole tenho que afirmar
que se revelaram uma desilusão absoluta em
termos vocais, depois da má prestação em
Braga, nova nota medíocre em sua casa, com
poucos momentos de efectivo poder vocal.
Para além de duas frases exibidas
na Curva Fiesole (uma de agradecimento ao
Directivo e uma pretensa bicada aos ultras
bracarenses), nada mais há digno de nota
a reportar. Ficará na memória a primeira
transferta à pátria do tifo, os momentos de
ansiedade que marcaram o dia, mais um
estádio visitado e o natural sentimento de
dever cumprido no apoio ao Sporting Clube
de Braga e na luta para honrar e dignificar os
Ultras de Braga!
Por J. Sousa
79
A VIDA DE UM ULTRA EMIGRANTE
PARTE II
Como nem sempre dava para ir
apoiar o nosso clube de coração e a fome
do Tifo era demasiado grande, decidimos
começar a apoiar o clube da nossa terra.
Eramos uma banda de amigos de vários
grupos portugueses e italianos. Somos uma
cidade no norte de Luxemburgo e o número
de habitantes em Ettelbruck ascende aos
9150, dos quais 54% são estrangeiros. O
nosso clube é o FC Etzella, fundado em 1917,
que participa no campeonato de futebol da
Divisão Nacional de Luxemburgo (Liga 1).
Temos amizades com Duisburg e
Mainz na Alemanha e Monopoli na Itália.
A amizade com Duisburg remonta a 2003,
quando dois Duisburger estavam de passagem
durante um Groundhopping em Dudelange
onde o Etzella jogava. Simpatizamos com
eles e os contactos mantêm-se até hoje, o
que posteriormente se transformou numa
verdadeira amizade ancorada nos dois grupos/
clubes. Com Mainz, deve-se à amizade que
o pessoal do Duisburg mantém com Mainz,
com quem também simpatizamos durante
80
Os Boys Etzella nasceram a 24 de
maio de 2001, na final da Taça do Luxemburgo
que vencemos contra Wiltz. Para as partidas
normais do campeonato, o grupo é formado
por dez a quinze pessoas, mas para os
grandes encontros, podemos esperar 50
pessoas ou até mais. Durante os jogos do FC
Etzella é marcado um encontro no nosso bar,
onde nos encontramos antes de partir para
o jogo. Somos um grupo de amigos que se
reúne aos domingos no futebol para passar
o dia juntos a beber cerveja e a cantar para a
glória do nosso clube.
Algumas viagens são organizadas
de autocarro, caso contrário, vamos de carro
ou de comboio.
O campeonato é composto por
14 clubes, 2 no Norte de Luxemburgo, 1 no
Oeste e os restantes no Sul do Luxemburgo.
a visita de alguns de Mainz a Ettelbruck. Já
com os Monopoli, foi devido à secção dos
Bad Boys Monopoli Luxembourg, que tem
sede em Ettelbruck. O responsável da secção
também é um dos fundadores dos Boys
Etzella. Muito naturalmente conhecemos
outros elementos dos Bad Boys que, desde
então, nos convidaram para comemorar os
seus 30 anos onde também tivemos o prazer
de assistir a 2-3 jogos deles na Serie C (3ª
divisão).
Existem outros grupos no
Luxemburgo, não muitos, mas existem
(Jeunesse Esch, Differdange, Mondorf,
Diekirch, Echternach, Grevenmaacher). Os
nossos inimigos de sempre são a Jeunesse
Esch. Actualmente, não temos amizades no
Luxemburgo. Até ao dia de hoje, produzimos
apenas uma fanzine, vários autocolantes
e muita roupa associada ao grupo. Com a
recolha desse dinheiro realizamos as nossas
coreografias e todo o restante material
necessário para apoiar a nossa equipa.
Com o clube temos uma relação
muito boa, o respeito é mútuo, mas todas
as nossas iniciativas são individuais e sem
qualquer ajuda ou apoio financeiro do clube.
Com a equipa damo-nos bem, o respeito é
recíproco e existem amizades pessoais entre
alguns BOYS e jogadores. No Luxemburgo, à
exceção dos grandes jogos de risco contra a
Jeunesse Esch onde a polícia está presente,
não há presença da polícia durante os jogos.
Depois dos festejos dos nossos
20 anos, e como a situação do dia a dia do
grupo estava cada vez mais fraca, decidimos
fazer uma reunião com todos os elementos
para ver se havia motivação dos mais jovens
em continuar com o grupo ou não. Durante
essa conversa, foram poucas as respostas
a favor de continuar e, foi com muita pena
que, num acordo comum, decidimos de pôr
fim ao grupo depois de 20 anos de apoio à
nossa equipa e cidade. Atualmente vários
elementos continuam a encontrar-se de vez
em quando nos jogos em casa para conviver
juntos, mas sem apoiar e sem organização.
Muito obrigado pelo vosso interesse no nosso
«antigo» grupo.
Longa Vida aos Ultras.
Por Marco Fernandes
81
A deslocação a Portimão começou a
ser preparada há muito tempo atrás, mas por
vários motivos e devido à Pandemia, foi adiada
várias vezes. Normalmente os Fanatics13 que
residem na Ilha da Madeira costumam fazer
uma única deslocação por ano, mas tentamos
marcar presença em força e, devido à forte
amizade que temos com o grupo de apoio
“Orgulhe”, esta foi a deslocação prioritária.
Em dezembro de 2022 começamos
a marcar as passagens (de avião), que
inicialmente seria para fazermos escala em
Lisboa, para então viajarmos para Faro (de
avião). Depois de chegar a Faro teríamos um
Autocarro para nos levar a Portimão. A nossa
previsão seria chegar a Portimão por volta
das 17h00.
A ansiedade tomou conta dos
membros do nosso grupo à medida que
o número das passagens aumentava,
passando das 20 para as 30, depois para as
40, alcançando os 80 elementos na semana
da viagem, repartidos entre voos na sextafeira
e no sábado. Com a viagem e o hotel
garantidos, só poderíamos de ter um fim de
semana em grande para apoiar o Maior das
Ilhas.
Finalmente chegando ao dia 17 de
fevereiro, numa sexta feira ventosa, lá fomos
nós para o Aeroporto CR7. Chegamos por
volta das 08:30 e íamos levantar voo por volta
das 10:05, mas infelizmente o nosso avião
não conseguiu aterrar, tivemos de ir para
o Porto Santo. Lá esperamos até às 13:40
para levantar voo. Chegando a Lisboa (15:20)
recebemos a triste notícia que o nosso avião
já tinha partido para Faro e que como o nosso
grupo era grande só nos podiam “oferecer”
uma viagem de autocarro até ao sul do país.
Lá fomos nós de autocarro (18:05) e mais
uma vez tivemos azar porque, imaginem,
o condutor queria fazer uma viagem direta
sem paragens e foi uma guerra para parar
numa estação de serviço, mas lá parou uma
vez depois de muitos pedidos. Chegamos a
Faro por volta das 21:50 onde nos esperava
82
outro autocarro para nos levar a Portimão. Lá
conseguimos chegar finalmente a Portimão
às 22:30 para fazer o check-in no hotel. Foi
um dia muito cansativo, mas ainda houve
forças para irmos confraternizar com os
nossos amigos “Orgulhe” na sua sede.
Chegado o dia mais esperado,
foi tempo de reunir a Grande Família
Verde-Rubra antes do jogo, revendo caras
conhecidas que acompanham o nosso Clube
por todo o país. Fizemos o cortejo da marina
até ao estádio em conjunto e, já no estádio,
fizemos uma grande receção ao autocarro
que levava a nossa equipa. Tudo preparado
para entrar no recinto desportivo e fomos
confrontados com o famoso teste do Balão.
Ficamos estupefactos com tal posição da
PSP porque ninguém tinha ingerido álcool ao
longo do dia, só houve um elemento que se
excedeu e conseguiu marcar os míseros 2.9.
Chegamos a pensar que a máquina estava
avariada, mas não, era mesmo verdade. Lá
conseguimos entrar no estádio (menos um) e
estávamos preparados para apoiar a equipa
em grande. Foi bonito ouvir 200 gargantas
a gritar pelo Marítimo em simultâneo a
muitos quilómetros da Ilha da Madeira.
Marcamos cedo e tudo parecia estar a
correr como planeado para sairmos dos
lugares de descida até que, aos 84 minutos,
a equipa da casa empatou e, aos 90, passou
para a frente deixando de rastos todos os
adeptos Maritimistas. Foi a desilusão Total. O
resultado não foi o desejado, mas uma coisa
é certa, o Marítimo está vivo e enquanto
houver possibilidades vamos acreditar até ao
fim.
Já no Domingo regressamos
a casa juntamente com a equipa, onde
nos prometeram que vão fazer de tudo
para ganhar jogos e ficar na Primeira Liga
Portuguesa. Resta esperar para ver, mas se
jogassem com a mesma garra com que são
apoiados em casa, com médias acima das
9000 pessoas e fora de portas com médias de
100/200 pessoas, com certeza que estariam
nos lugares Europeus.
P.S Os Fanatics13 querem, desta forma,
congratular a “Cultura de Bancada” pelo
trabalho desenvolvido em prol de todos os
grupos organizados espalhados por Portugal
Continental e pelas Ilhas. É também graças a
vocês que o movimento Ultra nunca morrerá,
porque Unidos seremos cada vez mais fortes
a lutar pelas nossas convicções. “Cores
diferentes, Lutas iguais”.
Continuem assim. Um Abraço a todos
Por D. Andrade
83
CULTURA
DE ADEPTO
Por P. Alves e M. Bondoso
84
15 Jahre Fanladen St Pauli
Internacional
Autor: Vários
Equipa: FC St Pauli
Ano: 2005
Páginas: 308
Preço: N/A
Os Ultras de St Pauli são uma das
maiores referências do movimento Alemão.
Os grupos desta cidade de Hamburgo
são bastante reconhecidos, não só pela
actividade na bancada, mas também pela sua
intervenção nas ruas, a nível político.
No final de 2005 decidem compilar
um livro onde retratam as suas diversas
actividades. Pese embora o livro esteja em
alemão, o que poderá ser uma desvantagem
para a maioria dos leitores, é bastante rico
em conteúdo fotográfico, contando ainda
com inúmeros recortes e imagens de fanzines
publicadas.
Em termos de estrutura é similar
à esmagadora maioria das publicações do
género, estando dividido pelas várias épocas
desportivas de 85 a 2005.
85
La Nostra Storia È Già Leggenda
Internacional
Autor: Luca Ghiringhelli
Equipa: Torino FC
Ano: 2022
Páginas: 728
Preço: 57€
Olhar para o número de páginas
desperta logo uma curiosidade adicional
sobre o livro. 700 páginas sobre uma das
curvas mais importantes de Itália? O resultado
é muito semelhante ao de uma qualquer
monografia universitária de doutoramento.
Grafismo identitário e coerente até
ao final, o livro leva-nos ano após ano, de 1951
a 1992 com um detalhe incrível jogo a jogo,
episódio atrás de episódio. Fotograficamente
é uma pérola, quer em coreografias, quer
na documentação de momentos de apoio e
confrontos. O livro termina com 4 entrevistas
a membros históricos, compondo um
trabalho excelente e exaustivo do autor.
86
15 Jahre Fanladen St Pauli
La Nostra Storia È Già Leggenda
87
88
III
CONVÍVIO
Após um “demasiado” longo
interregno na realização de convívios da
equipa Cultura de Bancada, no passado
dia 25 de Março voltamos a brindar juntos.
Brindamos à cultura, ao gosto por ela e ao
projecto que nos une, apesar de sermos de
clubes e grupos “rivais”.
No local do costume, fomos
recebidos com a habitual amabilidade
dos anfitriões, a quem agradecemos!
Contribuíram para que a tarde fosse de
comunhão entre todos, com iguarias caseiras,
de qualidade destacável, à mistura.
Os assadores de serviço estiveram à
altura do desafio de assar no ponto a picanha
e a maminha, deixando-a suculenta e tenra.
Sentados à mesa, deliciamo-nos não só com
os manjares como também com a vinhaça,
fosse ela o célebre verde tinto minhoto ou
maduro.
À boa velha maneira, foi adicionado ao
estendal CdB um “pano”, que retratava uma
peça de banda desenhada, na qual Andy
Capp satirizava a proposta de implementação
de bilhetes nominais para aceder aos recintos
desportivos, bem como brincava com o que
vivemos no seio da nossa equipa.
Não faltaram boa disposição,
partilha, generosidade e picardias. Como
alguém disse e muito bem: “apesar de
tudo, falamos a mesma língua”. E foi nessa
língua que também se debateram assuntos
importantes do presente e futuro do
movimento de apoio nacional, como também
do projecto Cultura de Bancada. Esperamos
que este III Convívio tenha sido um momentochave
para os desafios a que nos propomos.
Antes da despedida, ainda houve
tempo para um inesperado momento
musical, com o improviso de Rap e Desgarrada
a animarem o início de noite. Resultado
final: laços reforçados. Todos temos orgulho
naquilo que construímos e, apesar de não ser
tarefa fácil, continuaremos a lutar por mais e
melhor.
Viva à Cultura de Bancada!