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Frevo Vivo - Companhia Editora de Pernambuco, Recife, 2022

FREVO VIVO Ano: 2022 Organizador: José Teles Autores: Eduardo Sarmento / Mário Ribeiro / Rebeca Gondim / Carmem Lélis / Júlio Vila Nova / Jefferson Figueirêdo / Amilcar Bezerra / Maestro Spok / Valéria Vicente / Leilane Nascimento / Nicole Costa Sinopse: Uma década depois da consagração como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco em 2012, o Frevo confirma sua altivez como maiúscula expressão da identidade cultural do Brasil, indo muito além da sazonalidade do carnaval e da circunscrição geográfica das massas urbanas do Recife. Em sua multiplicidade frenética, o Frevo se expande, se recria, palpitando em taquicardia nos ecos de corações pelo mundo afora, tecendo novas narrativas, poéticas, estéticas e amplificando territórios de memórias e afetividades.

FREVO VIVO Ano: 2022 Organizador: José Teles Autores: Eduardo Sarmento / Mário Ribeiro / Rebeca Gondim / Carmem Lélis / Júlio Vila Nova / Jefferson Figueirêdo / Amilcar Bezerra / Maestro Spok / Valéria Vicente / Leilane Nascimento / Nicole Costa Sinopse: Uma década depois da consagração como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco em 2012, o Frevo confirma sua altivez como maiúscula expressão da identidade cultural do Brasil, indo muito além da sazonalidade do carnaval e da circunscrição geográfica das massas urbanas do Recife. Em sua multiplicidade frenética, o Frevo se expande, se recria, palpitando em taquicardia nos ecos de corações pelo mundo afora, tecendo novas narrativas, poéticas, estéticas e amplificando territórios de memórias e afetividades.

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FREVO VIVO / JOSÉ TELES [ORG.] / EDUARDO SARMENTO / MÁRIO RIBEIRO / REBECA GONDIM / CARMEM LÉLIS / JÚLIO VILA NOVA /

JEFFERSON FIGUEIRÊDO / AMILCAR BEZERRA / MAESTRO SPOK / VALÉRIA VICENTE / LEILANE NASCIMENTO / NICOLE COSTA


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Frevo vivo / organização José Teles. --

Recife : Cepe, 2022.

Vários autores.

Bibliografia

ISBN 978-65-5439-090-3

1. Carnaval - História - Pernambuco 2. Frevo -

Patrimônio cultural imaterial - Pernambuco (PE) -

Brasil 3. Frevo - Pernambuco (PE) - História

4. Identidade cultural - Pernambuco (PE)

I. Teles, José.

22-139574 CDD-782.42164098134

Índices para catálogo sistemático:

1. Frevo : Patrimônio cultural imaterial :

Pernambuco (PE) : Brasil 782.42164098134

Inajara Pires de Souza - Bibliotecária - CRB PR-001652/O


FREVO VIVO / JOSÉ TELES [ORG.] / EDUARDO SARMENTO / MÁRIO RIBEIRO / REBECA GONDIM / CARMEM LÉLIS / JÚLIO VILA NOVA /

JEFFERSON FIGUEIRÊDO / AMILCAR BEZERRA / MAESTRO SPOK / VALÉRIA VICENTE / LEILANE NASCIMENTO / NICOLE COSTA


UM PAÇO À

FRENTE 6

FREVO VIVO,

FREVO DO

MUNDO 9

JOSÉ TELES

OLHA O FREVO! 12

EDUARDO SARMENTO

FREVO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

IMATERIAL DA HUMANIDADE

E PATRIMÔNIO AFETIVO PERNAMBUCANO 30

SUMÁRIO

MÁRIO RIBEIRO

NESSE PASSO TEM AZEITE:

HISTÓRIAS DE FREVO E DE TERREIROS

NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO 42

REBECA GONDIM

FREVO É DANÇA URBANA NEGRA 58

CARMEM LÉLIS

O FREVO MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM 90

JEFFERSON FIGUEIRÊDO

DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITÓRIOS

FESTIVOS: FREVO PARA TODES 130




JULIO VILA NOVA

ATRÁS DAS AGREMIAÇÕES

SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU 156

AMILCAR BEZERRA

FREVO: MODERNIZANDO-SE,

MAS REVERENCIANDO A TRADIÇÃO 170

MAESTRO SPOK

PERNAMBUCO FREVANDO PARA O MUNDO 184

VALÉRIA VICENTE

É DE PERDER OS SAPATOS:

O FERVOR E A GINGA DA DANÇA FREVO 208

LEILANE NASCIMENTO

FREVERÊ: FREVO TAMBÉM

É BRINCADEIRA DE CRIANÇA 216

NICOLE COSTA

O FREVO E AS ARTES VISUAIS:

UMA RELAÇÃO INDISSOCIÁVEL 242

AUTORES 280

NOTAS 286

LEGENDAS 287

REFERÊNCIAS 294


UM PAÇO

À FRENTE

referências identitárias da cidade, encontramos

um consenso junto à Prefeitura do

Recife e parceiros no Frevo. Daí a ideia do

Paço tomou forma.

Foi em 2007, com o Dossiê de Candidatura

do Frevo a Patrimônio Cultural Imaterial

do Brasil e o muito bem-vindo título

de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro,

concedido pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (Iphan),

que o Paço do Frevo, com o movimento

de abre-alas típico da manifestação cultural

pernambucana, começou a dar seus

primeiros passos, ainda como ideia.

Em 2012 a Unesco colocou o Frevo no seu

devido lugar e o reconheceu como Patrimônio

Cultural Imaterial da Humanidade,

dando ao projeto do Paço do Frevo ainda

mais corpo. Quando abriu as portas para

o público recifense, em fevereiro de 2014,

Nos anos seguintes, enquanto estava na

Fundação Roberto Marinho, tive, como

pernambucano, o privilégio de participar

da definição de um novo e relevante

projeto cultural no Recife. Dentre tantas

partindo de uma construção de equipamento

cultural voltado para a sociedade

- a mesma que pediu por um espaço de

salvaguarda para o Frevo durante seu processo

de patrimonialização -, o Paço do




Frevo já demonstrou uma das suas maiores

vocações: a de ser um museu construído

com e pelas pessoas.

pesquisa, difusão, educação, formação e

escuta ativa das comunidades, possibilitando

a atualização e ressignificação do

Frevo como uma manifestação cultural

Com realização da Prefeitura do Recife,

dinâmica, em contínuo movimento.

por meio da Fundação de Cultura Cidade

do Recife e da Secretaria de Cultura do

Recife, e gestão do Instituto de Desenvolvimento

e Gestão - IDG desde a sua inauguração,

o Paço do Frevo é, hoje, um museu

onde os públicos se encontram com o

Frevo durante todo o ano. Além de cumprir

com a missão de valorizar a memória

do Frevo, busca inspirar políticas públicas

para salvaguardá-lo, sem que seja a única

delas. Para isso, realiza atividades de

Se quando tudo começou a ideia era dar

à população do Recife um equipamento

cultural de excelência para a salvaguarda

do Frevo, o Paço foi muito além:

expandiu barreiras que ultrapassaram o

museu, levando o Frevo a espaços nacionais

e internacionais, e é, hoje, um

Centro de Referência em Salvaguarda

do Frevo, reconhecimento dado pelo

Iphan em 2017.


a salvaguarda do Frevo. Com os pés fincados

na tradição, tão valiosa, mas com o

olhar sempre à frente, o Frevo hoje está

presente durante todo o ano na cidade.

Vivo e pulsante.

Em 2022, agora comemorando uma década

do título de Patrimônio Cultural Imaterial

da Humanidade, concedido em 2012

pela Unesco, o Paço do Frevo vislumbra o

futuro da manifestação cultural pernambucana

que o nomeia olhando à frente.

Não mira apenas para o contemporâneo,

o novo, o agora, mas também o que, até

então, não constava na história oficial do

Ricardo Piquet

Diretor Presidente do Instituto

de Desenvolvimento e Gestão - IDG

Frevo e ainda não recebeu a reflexão necessária.

Através de 11 articulistas - pessoas

ligadas afetivamente, tecnicamente ou

socialmente ao Frevo - o Paço, de mãos

dadas com o Instituto de Desenvolvimento

e Gestão - IDG, traz visões distintas,

porém complementares, sobre o porvir e




FREVO VIVO,

FREVO DO MUNDO

enfim, contar com o Paço do Frevo, de portas

abertas ao público, que, para além de

um museu, é um Centro de Referência em

Salvaguarda do Frevo (Iphan, 2017).

Há 11 anos, em 2011, o projeto museográfico

do Paço do Frevo era apresentado à

imprensa pela Prefeitura do Recife e Fundação

Roberto Marinho. Numa solenidade

em meio às obras do prédio histórico

que hoje abriga o museu, eu escutava

atentamente o planejamento do que seria

o equipamento cultural dedicado à

salvaguarda do Frevo.

Equipamento cultural da Prefeitura do Recife

gerido pelo Instituto de Desenvolvimento

e Gestão-IDG desde a sua inauguração,

o Paço do Frevo é onde as pessoas

se encontram com o Frevo durante todo o

Pouco depois, em 2012, a manifestação cultural

pernambucana que se desdobra em

música, dança, história e tradição, se tornou

também um Patrimônio Cultural Imaterial

da Humanidade, através do título concedido

pela Unesco. Em 2014 o Frevo passou a,

ano. Sem se ater ao período carnavalesco, o

museu expande o Frevo através de atividades

de pesquisa, difusão, educação, formação

e escuta ativa das comunidades, possibilitando

sua atualização e ressignificação

como uma manifestação cultural dinâmica.


Próximo a completar uma década, em

2024, o Paço do Frevo abre caminhos e

perspectivas para o futuro do Frevo e do

seu patrimônio, enfatizando os potenciais

de transformação social e expandindo a

ação do museu como espaço de referência

e difusão - nacional e internacionalmente

- dessa manifestação cultural.

Dando continuidade às tradições, mas

com um olhar além, apontando novas

possibilidades para a arte, a dança, a música,

a educação e os trânsitos estéticos

que atravessam o Frevo e o transformam

em um espaço de criatividades pulsante

que arrasta multidões por onde vai o Passo.

Como recifense, filha de educadora

popular, amante do Carnaval e apaixonada

pelo Frevo, a emoção já me tomava

o coração naquela primeira ocasião, em

2011. Imaginem, então, como me sinto

desde que ir ao Paço do Frevo tornou-se

minha rotina diária? No Paço ou nas ruas,

o Frevo é vivo e é do mundo.

Assim, esta publicação é um espelho do

que o Paço do Frevo vislumbra como caminhos

a serem percorridos pelo Frevo

como Patrimônio Imaterial da Humanidade:

uma manifestação cultural que,

muito além do Carnaval, amplia seu alcance

a territórios vários - o da festa, das

periferias, das mulheres, das populações

Luciana Félix

Diretora do Paço do Frevo

negras, da diversidade de corpos, das religiosidades

e crenças, das suas potencialidades

incontáveis.





OLHA

JOSÉ

TELES

O FREVO!

O Frevo está com oficiais 115 anos, contados a partir da suposta primeira vez em que o

termo foi publicado pela imprensa recifense, no caso, o Jornal Pequeno, em 9 de fevereiro

de 1907, numa nota sobre a agremiação Empalhadores do Feitosa. Uma constatação

do folclorista e pesquisador Evandro Rabello. No entanto, em 2015, Luiz Henrique Santos,

atual gerente de memória e exposições do Paço do Frevo, deparou-se com a palavra

"Frevo" numa edição do Diario de Pernambuco, de 11 de janeiro de 1906. Ressaltando-se

que nessa época "Frevo" não significava o gênero musical, mas a efervescência dos foliões

seguindo as agremiações pelas ruas do Recife. A multidão parecia ferver, e de ferver

vem "frever", "fervura", "Frevo". Ao jornalista Osvaldo Almeida, ou Paula Judeu, atribui-se

a criação da palavra, porém é mais provável que tenha nascido no meio do povo.

Olha o Frevo!


Considerações à parte, foi nas intensas celebrações dos 100 anos oficiais do Frevo, em

2007, na qual o cantor, compositor, ator, instrumentista Antonio Nóbrega teve papel fundamental,

que se procedeu à revitalização do gênero, que andava em baixa desde a segunda

metade dos anos 70, sobretudo pela decadência da Fábrica de Discos Rozenblit, e

o desinteresse das gravadoras do Sudeste em lançar discos de Frevo.

No ano do centenário, o Frevo foi declarado Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Cinco anos mais tarde veio a consagração

de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco.

A partir daí a música e dança que nenhuma outra terra tem, parafraseando Capiba em É

Frevo meu bem, foi fazendo mais amigos e influenciando mais pessoas.

Frevo vivo, este livro que celebra a honraria concedida pela Unesco à centenária manifestação

cultural pernambucana, iniciativa do Paço do Frevo, com edição da Cepe Editora Editora, reúne

textos de autores com abordagens e visões diferentes sobre os diversos aspectos que envolvem

o gênero. Diferentes, mas convergentes. Analisam, comentam, ou historiam o Frevo, o passo,

ou agremiações, dessa manifestação popular profundamente identificada com o Recife, onde

começou a ser formatado por volta da última década do século XIX. Ao longo de todos esses

anos, teve momentos de glória, de altos e baixos, de ostracismo, mas nunca deixou de evoluir, de

se desenvolver absorvendo novos elementos, sobretudo em épocas mais recentes, quando se



abriu para as mais diversas propostas estéticas.

Não por acaso, o título desta obra alerta

que o Frevo está vivo, e muito vivo.

e corda, com um viés jazzístico, tendo a

flauta como solista. Os blocos dos anos

20, foram também inovadores, complementavam

a orquestra de violões, bandolins,

violinos, entre outros, com um

conjunto de metais e palhetas. Em 1924, o

Apois Fum, um dos maiores de então, saiu

às ruas com 28 violões seis cavaquinhos,

cinco bandolins, três violinos, dois pandeiros,

dois reco-recos e dois tambores, sob

a batuta do violonista Felinto Moraes. Já o

Capitão Zuzinha regia uma orquestra com

um bombardino, dois trombones de vara,

uma flauta, um saxofone e um clarinete.

Mas precisou quebrar a persistência dos

puristas que o pretendiam atrelado às

tradições. Claro, desde pelo menos os

anos 20, o Frevo evoluía. Mas cada inovação

precisava enfrentar os guardiões

das tradições. Foi assim quando Felix Lins

de Albuquerque, o Felinho, introduziu as

variações de saxofone na Marcha nº 1 do

Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas.

O teatrólogo, também compositor Valdemar

de Oliveira detestou: "É uma desfiguração

lamentável, que responde pelo

aceleramento incômodo do andamento".

Amilcar Bezerra, em seu artigo "Frevo: modernizando-se

mas reverenciando a tradição",

lembra-nos dessa longa queda de

Foi também há meio século que o Quinteto

Violado acrescentou mais uma inovação

no Frevo, a instrumentação de pau

braço entre tradicionalistas e inovadores,

e das inevitáveis mudanças no gênero década

após década, até chegar aos anos 90,


quando foram introduzidas no Frevo as modificações mais drásticas. Da jazzificação empreendida

pelo maestro Spok, da junção com a cultura popular procedida pelo maestro Forró

e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, até o Frevo rock da banda Eddie, o experimentalismo

do Frevotron, trio formado pelo maestro Spok, DJ Dolores e Yuri Queiroga. Os

puristas queriam um Frevo dogmático, mas o novo sempre vem.

Em meados dos anos 70, por exemplo, o maestro Mário Mateus passou a usar um contrabaixo

elétrico em sua orquestra. Vale lembrar que quando o compositor Carlos Fernando

(1938/2013) mostrou a Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 1904/1997) alguns

Frevos seus (do projeto Asas da América), este foi curto e grosso: "Isto pra mim é rock".

Se Capiba achava o Frevo de Carlos Fernando rock, o que diria das composições carnavalescas

de J.Michiles, que são Frevos de rua com letra? Amilcar Bezerra, autor do texto

"Frevo: modernizando-se mas reverenciando a tradição", cita o Frevo baiano criado por

Dodô & Osmar, depois de uma exibição do Vassourinhas, em 1951, uma parada estratégica

na viagem que fazia para o Rio de Janeiro. Como não havia em Salvador a tradição dos

metais na música carnavalesca, os baianos optaram pela guitarra, ou pau elétrico, que

evoluiu até os Frevos que Caetano Veloso compôs, e tornou sucessos nacionais, entre

final dos anos 60 e meados dos anos 70.

A história da música Frevo é cheia de lacunas, que aos poucos vão sendo preenchidas.

Centenas de composições escritas nas três primeiras décadas foram perdidas. Cada clu-

Olha o Frevo!


Os maestros e autores de Frevo, até os

primeiros anos da década de 30, vinham,

quase todos de famílias pobres, boa parte

do interior do estado. Pretos e pardos

predominavam no Frevo, tanto criando

marchas, quanto fazendo o passo pelas

ruas do Recife (e Olinda). O professor Mário

Ribeiro dos Santos assinala, em seu artigo,

incluído neste livro, a relação do Frevo

com as práticas religiosas de matrizes afribe

tinha a marcha que o identificava, das

quais a que mais se popularizou, e se

tornou conhecida nacionalmente foi a

Marcha nº 1 do Clube Carnavalesco Misto

Vassourinhas, atribuída a Joana Batista

Ramos e Matias Rocha. O nome de Joana

Batista Ramos levanta a discussão sobre a

participação feminina na criação da marcha

pernambucana em "O Frevo mulher",

texto assinado por Carmem Lélis. A parti-

Capiba, seu irmão Marambá ou Nelson

Ferreira. Em 1937, ela se tornou a primeira

mulher a ter um Frevo de sua autoria

gravado, uma composição que ficou em

quarto lugar no concurso promovido pelo

Diario de Pernambuco, em 1933. Quando

o Carnaval Chegou, a composição de Julieta

de Oliveira, foi lançada pela Companhia

Byington, e gravada por Jararaca (da

dupla com Ratinho).

cipação da mulher no Frevo foi pequena

nas primeiras décadas do gênero. O Frevo

instrumental, o que dominava o carnaval

de rua, ficava com os maestros, todos

homens, a maioria regente de bandas

marciais, Capitão Zuzinha, Tenente João

Cícero, entre outros. Na segunda metade

dos anos 30, essa participação feminina

aumenta consideravelmente, com destaque

para Julieta de Oliveira, que disputou

concursos de música carnavalesca com


canas, oportunamente ressaltadas por ele,

pela origem da maioria dos que criaram o

Frevo e o passo, mas raramente enfatizada

em livros que contam a história desta manifestação

do povo pernambucano.

O artigo de Mário é, de certa forma, complementado

pelo texto de Rebeca Gondim,

no artigo intitulado "Frevo é dança

urbana negra", em que lança um olhar sobre

os criadores do Frevo, música de afrodescendentes

que foi embranquecendo-

-se na medida em que a classe média, que

brincava o carnaval em clubes, passou a

sair às ruas. Nos anos 30, os autores de

Frevos já eram de maioria branca (algo semelhante

aconteceu ao jazz e, posteriormente,

ao rock). Rebeca também linka o

passo a outras danças de origem afro-brasileira,

do samba ao break e o funk.

Olha o Frevo!


PASSO

Quem nasceu primeiro a música ou o passo? Nasceram ao mesmo tempo? A maioria dos

que se ocuparam destas questões, ampara-se no livro Frevo, capoeira e passo, de Valdemar

de Oliveira. Teriam nascido juntos, um influenciando o outro. Tanto o Frevo quanto o

Passo começaram a germinar com bandas de músicas militares, seguidas por capoeiras,

cujas coreografias diante do conjunto de sua preferência foram moldando a música e

criando a dança (ou vice-versa). Duas testemunhas oculares da história do Frevo divergem

de Oliveira. Para o maestro e compositor Levino Ferreira (1890/1970) a dança nasceu primeiro,

enquanto a música adaptou-se a ela.

Autor de uma minuciosa descrição de como acontecia o Frevo nos anos 1930, em seu

romance Seu Candinho da farmácia, Mario Sette (1886/1950) era de opinião de que a música

veio antes, e o passo surgiu não apenas dos capoeiras e capadócios, mas, e sobretudo,

dos foliões que acompanhavam os clubes. Quando enveredavam pelas estreitas ruas do

bairro de São José, ou pelas pontes, inventavam passos, dançavam freneticamente para

evitar serem arrastados, ou espremidos pela multidão.

A dança/passo foi definindo-se ao longo das primeiras décadas do século passado. Em

É de perder os sapatos, Valéria Vicente, com vasta experiência no tema, traça uma es-


pécie de retrospectiva do Frevo, citando antigos passistas, Egídio Bezerra,

Sete Molas, ou Nascimento do Passo, do Frevo contemporâneo, às entidades

e pessoas que contribuem para o desenvolvimento da dança, como

ela própria, Valéria, o Guerreiros do Passo, Antônio Nóbrega ou Flaira Ferro.

O passo que teima em permanecer em Pernambuco, embora tenha exercido

fascínio em grandes nomes da dança, a exemplo da lendária carioca Eros Volúsia

(1904/2004), a quem se atribui a criação de um balé moderno e de inspiração

nacional, com um repertório de ritmos de várias regiões do país. Em 1937,

Eros Volúsia veio ao Recife aprender in loco o Frevo e o maracatu, e os levou

para o palco do Teatro de Santa Isabel, daí para o Rio. Não pegou.

Seria a complexidade do passo o que dificulta sua absorção fora de Pernambuco?

Em 1950, esteve na capital pernambucana, e foi também apresentada ao Frevo,

a célebre bailarina, coreógrafa, e antropóloga americana Katherine Durham,

que viajou pela África, Caribe e América Latina estudando, e aprendendo as danças

originárias da diáspora africana. Katherine teceu elogios ao Frevo (e ao maracatu),

mas não o incluiu no repertório de sua companhia de dança.

O passo também é abordado por Jefferson Figueirêdo no artigo "Diversidades,

corpos, e territórios festivos: Frevo para todes", que lança o olhar na

Olha o Frevo!


particular relação entre Frevo e corpo,

enfatizando uma frase de Nascimento

do Passo: "A quantidade de passos de

Frevo existente é equivalente à quantidade

de pernambucanos". Algo que

precisa ser recuperado, o improviso do

passo. Cada passista criava sua própria

coreografia, as que se destacavam eram

copiadas e entravam no vocabulário do

passo, pegavam ou sumiam. Uma esquecida:

o "merguio". Quando as agremiações,

nos anos 20, enveredavam pela

ponte da Boa Vista (conhecida como

"ponte de ferro"), no final, deparavam-

-se com as obras de saneamento da Rua

da Imperatriz, crateras cheias d’água.

Alguém gritava: "Oia o merguio!" ("mergulho")

e os foliões improvisavam um

passo para contornar o buraco.

FREVO

DO MUNDO

Durante décadas o Frevo teimou em permanecer

em Pernambuco, com incursões

por estados nordestinos. Nos anos 40

e 50 chegou a ser parte do Carnaval do

Rio, com êmulos cariocas das agremiações

recifenses, Vassourinhas ou Bola de

Ouro, por exemplo. Fez algumas tentativas

oficiais para divulgar o gênero no exterior,

com ações como o Voo do Frevo,

que visitou vários países. Somente em

2008, foi que o Frevo chegou às plateias

dos principais festivais de jazz europeus,

levado pela SpokFrevo Orquestra. Nunca

esta música nascida no Recife chegou

tão longe. A SFO foi até a China e a Índia.


Quem escreve sobre esta internacionalização do Frevo é o próprio maestro Spok, no texto

"Pernambuco frevando para o mundo".

É o professor Júlio Vila Nova quem se encarrega de discorrer sobre os que põem a folia em

prática no ensaio "Atrás das agremiações só não vai quem já morreu". Um tema que ainda não

foi devidamente dissecado, com poucos livros dedicados aos blocos, troças, clubes, cordões,

grande parte desaparecida. Cita o que provavelmente é o mais antigo dos clubes carnavalescos,

ou pelo menos o que chegou ao século XX, o Caiadores, sublinhando que essas agremiações,

em jornais que muitas publicavam no período carnavalesco, opinavam sobre o cotidiano

da cidade, indo além da festa de Momo. Em tempo. O Caiadores não era constituído por pintores

de parede ou afins. "Caiar" significava "brochar" (a tal disfunção erétil). Vila Nova sintetiza

a histórias dessas agremiações pernambucanas, sem esquecer as troças nascidas durante a

ditadura militar, nos anos 70, e que se tornaram trincheiras lúdicas de crítica ao regime militar,

Nóis Sofre Mais Nóis Goza, Siri na Lata e Eu Acho É Pouco, os principais.

Em 1939, o citado Mário Sette publicou um livro direcionado às crianças, no qual o carnaval

ocupa espaço privilegiado. Conta suas próprias lembranças do carnaval de sua

infância. Num artigo, para o Diário da Manhã (19/2/1939), intitulado "Enfim Carnaval",

escreveu: "Hoje, mal o sol se alevantar, a meninada toda estará atenta, com os ruídos que

vêm da rua anunciando o Carnaval, Carnaval, Carnaval". Em "Freverê - Crianças brincantes

e sentidos de continuidade", Leilane Nascimento aborda a participação da criançada

Olha o Frevo!


na folia, e a herança cultural que mestres, como o já citado passista Egídio Bezerra (cujo

aniversário de 50 anos de morte acontece neste 2022) , transmitem para os filhos, que

deram continuidade à sua arte, o que ocorre também com a música, no Bloco da Saudade,

com parentes do compositor Edgard Moraes, ou com o cantor Claudionor Germano,

com dois filhos também intérpretes de Frevo: Nonô Germano e Paulo da Hora.

Por fim, no ensaio "Frevo e Artes Visuais", Nicole Costa ressalta a relação Frevo/imagem,

ambos indissociáveis. Vai da fantasia do folião, estandartes e flabelos, artistas plásticos que

retrataram o Frevo e o carnaval em esculturas, telas, de Lula Cardoso Ayres, passando por

Bajado, Abelardo da Hora, Wellington Virgolino, ou J.Borges. Sem esquecer, claro, Wilson

de Souza (irmão de Virgolino), que assinou capas de álbuns da Fábrica de Discos Rozenblit,

mais conhecida como Mocambo (por causa do seu primeiro fonográfico). Quando se fala

da modernidade nas capas de discos no Brasil, cita-se quase sempre a carioca Elenco, de

Aloysio de Oliveira. As capas da Mocambo são tão modernas quanto, e criadas até antes

da existência da Elenco.

Ricardo Piquet, diretor presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG, Luciana

Félix, diretora do Paço do Frevo, e Eduardo Sarmento escrevem, mais especificamente, sobre

este equipamento municipal, o Paço do Frevo, e sobre o título de Patrimônio Cultural Imaterial

da Humanidade concedido pela Unesco, uma década atrás, e que este livro celebra.








EDUARDO

SARMENTO

FREVO COMO PATRIMÔNIO

CULTURAL IMATERIAL

DA HUMANIDADE

E PATRIMÔNIO AFETIVO

PERNAMBUCANO

A noção de patrimônio cultural é, além

de bastante conhecida e difundida, central

para a vida social, tendo, portanto,

relevância seja para as políticas públicas,

seja para o cotidiano de diversos segmentos

sociais.

visões de mundo, modos de vida, saberes,

conhecimentos e poderes. É, desse

modo, uma definição em disputa. É política.

O Frevo, igualmente, é resultado da

disputa, é político. Seu corpo, brincante

e popular, individual e coletivo, é transgressor,

libertário e, ao mesmo tempo,

resistência ontológica, fruto do desvio,

Por outro lado, ela incorpora diversas

tensões de temporalidades, demandas,

do enfrentamento, de uma "pedagogia

do conflito". Seu nascedouro é a rua e a

sua festa é feita pelo corpo negro e traba-

Frevo como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade e patrimônio afetivo pernambucano


registrar que se tratou, o processo de

candidatura, de uma causa coletiva e de

um projeto partilhado, destacando-se a

atuação do Comitê Gestor de Salvaguarlhador,

afrodiaspórico. É um "monstro popular"

que traz projetos de emancipação

elaborados pelos sujeitos que habitam "a

zona do não ser" (FANON, 2008).

Histórico e Artístico Nacional - IPHAN,

a inscrição do Frevo na "Lista Representativa

do Patrimônio Cultural Imaterial

da Humanidade", no contexto da 7ª sessão

do Comitê Intergovernamental para

a Salvaguarda do Patrimônio Cultural

Imaterial, em Paris.

Pensá-lo, nesse contexto, como um Patrimônio

Cultural, ou, dito de outra maneira,

consagrá-lo como uma representação

de interesse público, invoca, no fluxo do

conhecimento oficializado, narrativas,

símbolos e tradições. O Frevo legitimado

é, não podemos esquecer, fruto de escolhas,

de classificações, de marcadores

que visibilizam alguns traços e apagam

outros, a partir de uma operação de transubstanciação

simbólica.

Sem dúvida, olhando em retrospectiva,

esse foi um momento de celebração,

mas, também, de mobilização de todos

os talentos, de todas as energias e de todos

os recursos no sentido de garantir e

efetivar o lugar (social, cultural e político)

do Frevo como um "Patrimônio Mundial",

depois de um longo processo de

investigação, estudo e divulgação. Vale

Assim, em 2012, houve, após já ter ocorrido

o seu registro como "Patrimônio

Imaterial do Brasil", realizado no ano

de 2007 pelo Instituto do Patrimônio


da do Frevo, coletivo que congrega diferentes atores institucionais e a própria comunidade

produtora. A sua inscrição, portanto, atuou na perspectiva de reconhecer o papel

dessa "Forma de Expressão" na história da cultura mundial, como também de reafirmar,

pela sua complexidade e riqueza, um lugar de destaque na cultura contemporânea. Permitiu,

igualmente, explorar caminhos e ideias, estruturando novas ações e participações,

agenciando saberes e conhecimentos, enfim, construir novos futuros. Já à época, sabia-

-se que o Frevo era não apenas um fenômeno importante, com os seus aspectos estéticos,

performáticos, simbólicos, históricos e econômicos, mas um acontecimento que

ensejava múltiplas significações, agenciamentos e identidades.

Nesse panorama, sobretudo na perspectiva de tratá-lo como um objeto com contornos

mundiais, a partir da noção espaço-temporal "universal", uma operação desafiadora foi

realizada. Exigiu observar os diversos mundos e suas narrativas, as relações de solidariedade

e criatividade, as dinâmicas culturais que o transformam, alimentando debates sobre

tradição, identidades e pertencimentos. Demandou, também, relacioná-lo à construção

de uma nova questão social, de uma nova questão pública.

No entanto, é necessário, agora, após dez anos da inscrição, inaugurar um olhar prospectivo

e perspectivo, debatendo os efeitos políticos e práticos, refletindo sobre os usos sociais

e inquirindo sobre as possíveis novas ações de comunicação, ativismos, educação, preservação

e salvaguarda ligados ao Patrimônio Imaterial. Os patrimônios precisam encontrar

Frevo como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade e patrimônio afetivo pernambucano


"ressonância" (GONÇALVES, 2005) na sociedade. Isso significa compreender, potencialmente,

como um dispositivo de mudança social, passando, desse modo, pela construção

de novos significados. Advogo, nesse sentido, que as instituições, as políticas e os coletivos

possam pensar e forjar novas relações e práticas contaminadas pela vida afetiva e social,

ou, como afirma Mário Chagas (2019), pensando "a vida como relação, como vivência e

convivência, como potência não orgânica da vida, como potência de criação e de resistência"

(CHAGAS, 2019, 148).

Necessitamos que os espaços do Frevo aconteçam cultivando os valores de intimidade,

que sejam lugares onde a nossa vida íntima sucede, onde o Frevo possa acontecer e

se renovar. Que sejam "casas" de memória e da imaginação, ao mesmo tempo, topografia

do nosso ser íntimo. Temos que imaginar e criar novos mundos para o Frevo e isso

passa por formular novos sonhos. Os sonhos também requerem espaços. Na verdade,

carecemos de "espaços vividos" que valorize o local, suas vivências e as experiências

coletivas. Que seja um lugar de reencontro e que faça refletir, pensar, redescobrir,

lembrar, esquecer e representar a vida. Nessa cartografia mundial do Frevo, temos que

criar ou iluminar novas cartografias locais e afetivas, baseadas na escala do afeto, da

marcha do vivido, do "lugar praticado". Mas, para isso, é preciso maior elasticidade de

devaneio, realizando um convite à vida contemplativa, ao espanto, à atenção profunda.

Um convite, igualmente, à imaginação, lembrando que a imaginação aumenta os

valores da realidade.


Sem dúvida, são muitos deslocamentos que

o Frevo realizou em sua vida centenária,

absorvendo e construindo novos sentidos

e significados. Defendo, entretanto, como

exercício poético e imaginativo, que o deslocamento

de agora seja no sentido de experimentarmos

os valores de intimidade, do

espaço interior, de nossa casa, das inúmeras

casas do Frevo. Ele é feito de vida e de coletividade,

mas também de intimidade.

distinções e desigualdades. Assim, mais

do que uma cultura homogênea, traz

descontinuidades, fruto de inúmeras negociações

intraculturais e interpessoais,

num movimento constante de mistura.

Ele exige, portanto, um olhar fluido e híbrido.

O seu lugar no mundo é contraditório,

plural e complexo, coletivo e individual.

Há um intenso intercâmbio entre

pessoas que criam, se apropriam e dão

Certamente, o Frevo, com seu dinamismo

significado ao Frevo, movidas entre o sonhar

e o agir, entre a imaginação e o real,

entre o público e o privado.

próprio, irá transgredir. Ele, como uma espécie

de linguagem de fronteira, age, resiste,

reinventa, transgride e nos coloca em estado

de emergência. Entre o deslumbramento e a

estranheza, o Frevo é um antídoto contra o

medo. Ele não reproduz a vida, é parte dela.

O Frevo, como afirma Flaira Ferro, é uma

"revolta do passo" e prossegue "espalhando

a sua brasa". Continuará sendo um Patrimônio

Cultural, mas, sempre, político e

contestador. É uma música, dança e festa

Por outro lado, apesar de ter ou representar

uma unidade, ele é composto de

de alforria. A sua "matéria-força" está na

relação corpo-fluxo-patrimônio.

Frevo como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade e patrimônio afetivo pernambucano


Desse modo, se perguntarmos, agora, o que pode o Frevo, devemos responder que ele

pode o quanto ele tem potência. Ele multiplica as relações, aumenta nossa capacidade de

afetar e ser afetado. É, assim, puro ato de transformar-se e tornar-se continuamente, num

movimento difuso, antilinear, rizomático. É uma modificação intensiva.

O encontro com o Frevo é sempre uma questão de vida. De vida social e de uma vida íntima.

Elas retroalimentam-se. É, ao mesmo tempo, uma vontade de poder, de potência, de

invenção e, também, de sociabilidade e de intimidade. É uma plataforma, um portal em

que indivíduos e coletivos são catapultados em pensamentos e experiências para novos

mundos da existência humana. Um verdadeiro criadouro de subjetividades.

O Frevo é, enfim, um Patrimônio Imaterial da Humanidade, mas, sobretudo, é um patrimônio

afetivo. Do público ao privado, ele nos permite sentir, refletir, aprender, experimentar

e arriscar. Ele nos mantém vivos e vinculados, oferecendo uma vastidão de imagens poéticas,

de ritos. O Frevo nos faz encontrar o "outro" corpo, de descobrir a "zona de vizinhança"

ou de "copresença". É uma vontade das forças.








MÁRIO

RIBEIRO

NESSE PASSO TEM AZEITE:

HISTÓRIAS DE FREVO

E DE TERREIROS

NO CARNAVAL

DE PERNAMBUCO

Existe um provérbio africano que diz:

"Exu mata um pássaro ontem, com uma

pedra atirada hoje". Esse pássaro sádico,

que desqualifica o corpo negro e apaga o

protagonismo das religiões afro-brasileiras

da história do Carnaval de Pernambuco

sai de cena com reflexões como esta,

onde a palavra é potência e Exu fala por

meio de cada linha desse texto.

Para os povos de terreiro, Exu é o dono

dos caminhos, aquele que faz das encruzilhadas

a sua morada. É a divindade do

panteão iorubá responsável pela comunicação.

Ele é a palavra em movimento.

É dessa perspectiva exuística que nos

deslocaremos, aos sons dos clarins de

Momo, para falarmos sobre a relação do

Frevo com as práticas religiosas de matrizes

africanas e como o povo de axé, entre

Nesse passo tem azeite: histórias de Frevo e de terreiros no Carnaval de Pernambuco


confetes e serpentinas, prepara seus corpos para sair de suas residências fantasiados de

passistas, pierrôs, colombinas, porta-estandartes, reis e todo um universo de personagens

gestados pelo imaginário e protegidos de qualquer desarmonia que possa acontecer pelos

caminhos carnavalizados.

São múltiplas as veredas do Frevo na história do Carnaval. Não há como fazê-las, hoje, da

mesma forma como os nossos avós fizeram em tempos passados. Trata-se de uma forma

de expressão viva, orgânica, sempre em fluxo e numa mobilidade contagiante, que nos

impossibilita pensá-lo de maneira linear. Partindo desse pressuposto, como reivindicar

um único modo de fazê-lo, senti-lo e vivenciá-lo? Ele é gestado na interseccionalidade

de tradições, valores, músicas, danças, plasticidade dos seus adereços, alegorias e com as

diferentes formas de se expressar dos seus detentores.

Refletiremos neste ensaio sobre as relações dos clubes, das troças, dos blocos e dos clubes

de bonecos com os saberes ancestrais africanos praticados no cotidiano; as maneiras

dos seus representantes vivenciarem os festejos carnavalescos; a preparação de seus

corpos para saírem às ruas e como materializam essa religiosidade no território da folia.

Das encruzilhadas desses saberes, onde diferentes coexistências, outros tempos, outras

lógicas e outros referenciais se encontram, pessoas historicamente marginalizadas, são

detentoras de talentos singulares que os transformam em passistas, bonecos gigantes,

porta-estandartes, flabelistas, músicos, personagens dos cordões e das mais diversas alas.


Corpos negros na sua maioria, que transitam do chão de terra quente não nivelado aos

deslizantes palcos encerados dos majestosos teatros e museus do país e do mundo.

Esses sujeitos carnavalizados do Frevo possuem identidades próprias e reinventam, diariamente,

possibilidades de vida nos guetos, nas margens, nos altos dos morros, nos terreiros,

nas fábricas, no comércio onde trabalham, no contrafluxo e nos mais diversos lugares não

autorizados por um sistema que naturaliza a morte.

Partindo desse pressuposto, o Frevo vivenciado pelos povos de religiões de matrizes africanas

é assentado nos subúrbios e rasura um conjunto de memórias oficiais que durante

muito tempo nomeou como vadiagem as manifestações culturais populares. Esse tipo de

postura, excludente e negacionista, pautava-se em relações de poder protagonizadas por

um Estado avesso às experiências e aos valores não cristãos, condenando a perspectiva

da diversidade e colocando na clandestinidade as práticas cotidianas não alinhadas aos

padrões hegemônicos.

A demonização de tudo que estivesse relacionado aos fazeres negros é uma herança

do período escravagista que reduziu a existência dos pretos e das pretas à condição de

marginalidade. É nesse contexto, que os terreiros surgem como lugares de resistência,

nos quais as memórias são preservadas e as histórias são legitimadas no diálogo do corpo

com os tambores.

Nesse passo tem azeite: histórias de Frevo e de terreiros no Carnaval de Pernambuco


Há registros bibliográficos que afirmam

que muitos Babalorixás, Yalorixás e filhos-de-santo,

em Pernambuco, eram

ligados diretamente a clubes, troças e

blocos de Frevo, a exemplo de Mãe Sinhá

(1877-1966), Mãe Iaiá e Badia (1915-1991),

conhecidas como as Tias do Terço, em

referência à residência no pátio da Rua

século XIX, na Estrada Velha de Água Fria.

Ocupou durante anos o cargo de Conselheiro

do Bloco de Pau e Corda Madeira

do Rosarinho (1926). Outros membros da

família, como seu Malaquias Felipe Costa

e Paulo Braz, todas lideranças religiosas

respeitadas no axé, também integraram a

referida diretoria da agremiação.

Vidal de Negreiros, no Bairro de São José,

eram costureiras e integravam diversas

diretorias de agremiações carnavalescas,

que nasceram nesse ponto da cidade ou

por lá desfilavam, a exemplo do Clube

Vassourinhas do Recife, da Troça Verdureiras

de São José, entre outras.

Embora a influência das religiões de

matrizes africanas seja mais explícita

nos grupos de maracatu de baque virado,

nas escolas de samba e nos afoxés,

uma vez que incorporam na sua indumentária

e nos seus repertórios, ritmos

e letras relacionados aos candomblés,

Outro exemplo é o senhor João Romão

identificamos nas conversas com os

"mais velhos", uma íntima relação entre

o Frevo e os terreiros.

da Costa, filho biológico de Pai Adão, sacerdote

responsável pelo Ilê Obá Ogunté,

mais conhecido como Terreiro de Pai

Adão, fundado na segunda metade do


Dentro dessa realidade, destacamos os grupos

que nasceram do desejo dos foliões

comprometidos com a religião dos orixás e

amantes dos festejos carnavalescos. Como

exemplo, citamos a Troça O Bagaço é Meu,

fundada no final da década de 1920, no interior

do Sítio de Pai Adão, num sábado de

Carnaval, após um toque festivo em homenagem

aos ancestrais. Outra agremiação

criada no interior da relação entre o candomblé

e o Frevo, é a Troça Carnavalesca

Mista Abanadores do Arruda, fundada em

1934, cujas cores vermelho e verde presentes

no seu estandarte e de algumas fantasias

é uma reverência a Ogun, um dos orixás patronos

do grupo, desbravador de caminhos

e detentor do poder de transformação do

ferro. A homenagem a Oxum, divindade das

águas doces e da fertilidade, materializa-se

também no estandarte por meio de uma

A devoção dos brincantes do Frevo às

divindades do panteão africano encontra-se

na astúcia da ginga dos seus corpos

ancestrais, nas paredes e altares nas

sedes dos grupos, no chão dos terreiros,

no centro das encruzilhadas, nas pedreiras,

na boca da mata ou nos riachos de

água corrente - lugares seguros e sagrados

para pedirem proteção à espiritualidade

e encantarem com a força dos

invisíveis, seus elementos simbólicos,

a exemplo do medalhão que o Boneco

Seu Malaquias traz pendurado em

seu peito, vestido com as cores branco

e vermelho em homenagem a Xangô, o

patrono do clube. Banhos de limpeza,

ebós, cachaça, água, azeite, ervas, farofas...

A magia do Frevo está pronta para

garantir a harmonização do mundo e a

segurança do coletivo.

boneca vestida em tons dourados.

Nesse passo tem azeite: histórias de Frevo e de terreiros no Carnaval de Pernambuco


Do tensionamento dessas experiências forjadas no calor dos corpos impregnados de axé e

suados pelo agito de um Frevo bem quente, num passo sem preconceito, essas reflexões

são edificantes porque ampliam o nosso olhar para o Carnaval de Pernambuco, o qual passa

a ser lido a partir das vivências empretecidas dos seguidores das religiões de matrizes

africanas, atribuindo a essa celebração um fértil campo de produção de conhecimento.

Um território de saberes múltiplos que precisa ser compreendido a partir da perspectiva

da diversidade e não com o foco na fixidez de impor um único modelo de falar sobre as

manifestações carnavalescas, de celebrar e vivenciar outros tempos.

O estudo dessa temática precisa ser, urgentemente, descolonizado, abrindo caminhos

para outras narrativas, as quais representem, de maneira positiva, o legado cultural africano,

valorizando singularidades e construindo novas formas de entendimento sobre o

Frevo - expressão cultural viva, subversiva, anticolonial alicerçada em outras lógicas que

emergem como outras possibilidades.












REBECA

GONDIM

FREVO É DANÇA

URBANA NEGRA

Primeiramente, peço licença e saúdo a todes

que chegaram até aqui. Gostaria de

dizer que trago neste trecho do caminho

exercícios de imaginação, sonhos, desejos

e ideias/danças para contribuir para nossa

luta pela liberdade. Sejam todas, todos e todes

bem-vindes. Aqui, senhoras e senhores,

somos todes passistas dessa vida. Este lugar

chegamos em nosso quilombo. Que somos

nosso próprio quilombo, como nos

aconselha Beatriz Nascimento: "A terra é o

meu quilombo, meu espaço é o meu quilombo.

Onde eu estou, eu estou! Onde eu

estou, eu sou!" (NASCIMENTO, 2018, 337).

O Frevo, nossas escolas, e a multidão que

somos são nossos quilombos.

que estamos fala muito mais sobre festa do

que sobre qualquer outra coisa. Entendo

que estamos finalmente seguros, em casa, e

que é necessário alçar exercícios de imaginação.

Agora a gente pode sonhar "em paz".

Nos movemos como quilombolas, somos

filhas e filhos de um povo que soube agir

contra a repressão do estado e da polícia.

Que na multidão sabe organizar a sua defesa,

que recua quando necessário, mas

E o primeiro exercício de imaginar é: sonhar

que estamos em um quilombo. Que

que avança sempre que é possível e nunca

desiste. Jamais! Cada passista aqui é um

Frevo é dança urbana negra


quilombo e carrega consigo passos ancestrais. O pulso não para nunca. Temos muitas fantasias.

Somos uma multidão incontrolável. Aqui a regra é escura: todes sejam bem-vindes!

Vocês estão livres! E se organizar direitinho tem espaço para todes nesta grande multidão.

O espaço é apertado mesmo! Mas sempre cabe mais um e mais uma com sua dança, com

sua fome. A roda sempre será aberta para aqueles e aquelas que desejam construir aqui um

ambiente de respeito; de busca pela liberdade, pela nossa igualdade, nossa humanidade.

Esse lugar é precioso... Nossos saberes estão aqui, guardados entre nós, portanto, precisamos

saber lutar para protegê-los. Com unhas e dentes! Seremos firmes para defender nosso

direito de existir e ser quem somos. Aqui é tudo nosso e nada, nada é deles!

Aqui, vamos pensar criticamente sobre nossa dança, nossas danças. Entender o Frevo como

uma dança negra que foi e é embranquecida, mas é negra! Sempre nessa perspectiva para

que percebamos o que de negro temos em nós, o que nos restou ou o que temos de sobra.

Pensar o Frevo como uma dança negra construída por "corpos em diáspora" (SILVA, 2017).

Luciane Ramos Silva (2017), artista da dança e antropóloga, apresenta a noção de corpo

em diáspora como "fundamentada em técnicas, estéticas e poéticas oriundas das formas

africanizadas de escrita de si que compõem a multiplicidade brasileira". E segue:

A proposta Corpo em diáspora, elaborada como uma ação prática de edificação de linguagem

que parte de fundamentos relacionados às formas africanizadas de escrita de si

e que, estruturadas e entendidas em contextos brasileiros, podem nos auxiliar a ampliar


os territórios de produção de conhecimento em dança e traçar outras rotas possíveis. [...]

Tomamos a experiência diaspórica enquanto continuidade profunda e multidimensional

de elementos tais quais a ancestralidade, a relação vital com os elementos da natureza, a

noção de território, o princípio da circularidade, o corpo enquanto mediador da espiritualidade

e produtor de saberes, a tradição oral, a noção de universo integrado, a noção de

tempo ancestral e de família extensa. (SILVA, 2017)

No desejo também de aprofundar as relações com outras danças urbanas negras, criadas, majoritariamente,

por corpos periféricos, costurar mais ainda esses laços e refletir sobre eles. Refletir

sobre as fronteiras que ainda nos deixam distantes. Descobrir quais são elas. Aqui estou

pensando as danças urbanas negras como moveres/saberes que se constroem no ambiente

urbano e que carregam em seus gingados, em seus princípios, a irreverência, a insistência de

ocupar espaços (especialmente ruas e praças) disputado com o poder hegemônico.

Para não esquecer de onde viemos, acho que precisamos fortalecer os laços e nossa solidariedade

com as outras danças negras urbanas irmãs: o bregafunk, funk, brega, a swingueira,

etc. Se entender enquanto comunidade e, portanto, conversar com a capoeira, o maracatu,

o coco… escutar as mais velhas! Na certeza de que temos muitas diferenças, mas que temos,

sobretudo, semelhanças, porque viemos de um povo, viemos de longe. Pensar como quilombo,

comunidade, um movimento que é maior que nós, que é maior que o próprio passo,

o próprio Frevo. Eles querem nos dividir. Não podemos perder o laço.

Frevo é dança urbana negra


Sinto também que precisamos reconstruir

e construir nossas imagens e novas

narrativas a partir desse ponto de vista.

Contar nossa história de várias formas e

especialmente com quem constrói essas

narrativas no dia a dia. Questionar sempre

das contas a gente sempre se acabe num

Frevo. Como diz o músico BK, na música

Movimento (2021): "e a luta pela liberdade

só acabe quando ela for encontrada. Para

que a nossa poesia não seja mais escrita

com sangue".

o que nos aprisiona também é importante

neste lugar: refletir sobre o machismo,

o racismo, a gordofobia, a LGBTfobia dentro

da nossa própria multidão. Cada corpo

e corpa tem sua trajetória que precisa

ser escutada. Precisamos reforçar que

é preciso estarmos juntes nessa roda.

Vamos nos acomodando por aqui, tem

espaço. Vocês aceitam dançar um pouco?

Deixo aqui, antes de seguirmos para

as próximas imaginações, a música Revide

do Mc Jeff Rodriguez. Coloca aí no teu

fone e vamos nessa…

Pois, nesta sociedade desigual, desumana,

opressora estamos sempre em fuga e

quanto mais juntas, juntos, juntes estivermos,

mesmo com todas nossas diferenças

e complexidades, mais firmes serão nossos

passos e nossos risos, apesar do desequilíbrio

constante. E desejo que nossos

sonhos sejam grandes aqui, e que no fim

Para seguirmos imaginando e refletindo,

quero comunicar para vocês as formas que

encontrei para tentar (re)imaginar a dança

do Frevo na perspectiva do Frevo como

dança negra, vamos juntes nestes próximos

exercícios. Quando faço o exercício de fechar

os olhos e imaginar a dança do Frevo,


sempre vejo muitas cores e sorrisos. Essa

é uma imagem ainda muito marcante em

meu imaginário: festa, alegria e muitos brilhos.

E o Frevo é tudo isso mesmo, mas não

só. As imagens da TV são fortes no meu imaginário,

apesar de ter vivido os bastidores/

corredores desta dança. E quem vive sabe

o quanto de suor escorrido é, que cachê

nenhum nunca paga. Hoje, no meu processo

de escrita/dança, nesta brincadeira de

reimaginar, tento repensar e recriar outras

imagens e histórias. Estou entrando na roda

partindo do ponto de que o Frevo é uma

dança urbana negra, como já disse. Pensar

nisto muda meu ponto de vista. Escurece

mais as coisas. Desconstrói os estereótipos

da vista (o perigo de uma história única).

do brega, do funk, do afrobeat, das cantigas

dos orixás, do coco, do blues, do

rap. Tenho escutado muito rap e funk…

o pulso dessas músicas me faz frevar. O

breaking me lembra o Frevo. Os passinhos

de bregafunk me lembram o Frevo.

Trago pra roda. Movo a cabeça em

conexão com quadril; crio a conexão

da cabeça, coluna e bacia. Coluna em

movimento constante. Frevo rebolando.

Ponta de pé - quadril - e calcanhar.

Movo o pescoço, depois a região torácica,

depois o quadril. Movo toda a coluna

como posso, frevando. Frevo imitando

o vento; imitando a água. Essas práticas

me fazem mudar as cores desta dança.

Hoje as cores que mais me vêm à

cabeça quando revejo o Frevo é preto,

Estou fazendo o exercício de dançar

Frevo ao som do jazz funk, bregafunk,

vermelho e branco. Cobra coral. Imagino

o movimento dela. Azul também é

uma cor que vem muito forte no meu

imaginário. Aquele azul-marinho celes-

Frevo é dança urbana negra


te. Preto azulado! Tenho pesquisado muito sobre o afrofuturismo e gosto muito da

estética desse movimento. E nessa onda, ando sentindo muito banzo fazendo Frevo,

uma saudade grande... Muitas vezes me vejo dançando e fugindo e tenho medo. Como

quem corre pra dentro. E tenho medo. "Talvez a fuga seja uma consequência cultural,

uma consequência ancestral." (NASCIMENTO, 2018). Corpo encurvado - Frevo olhando

meus pés, olhando meus passos.

Outro exercício que faço e que podemos fazer juntes é: enquanto estamos solando,

nessa brincadeira de (re)imaginar, podemos tentar sonhar como dançavam nossas ancestrais

e onde podemos encontrar elas em nós. Recriando suas imagens, assim como

tentamos imaginar algum parente que não chegamos a conhecer. Como minha avó

Dionísia, por exemplo. Conversar com elas em silêncio como uma reza e frevando. Para

estimular esse exercício, leio retalhos de histórias e vejo muitas imagens de multidões,

na tentativa de encontrar suas imagens para poder fazer a costura dessas histórias.

Também invento suas histórias e faço parte delas. Frevo como se tivesse contando

suas histórias como quem é mestre de cerimônias. Diante da invisibilidade que nossas

ancestrais sofrem, é necessário, urgentemente, inventarmos exercícios de imaginá-las.

E se não é possível que encontremos muitas de suas histórias, que inventemos também

suas histórias a partir das nossas mãos, especialmente nós, mulheres racializadas.

É nossa vida que está em jogo! "A invisibilidade está na raiz da perda da identidade"

(NASCIMENTO, 2018).


E por fim, quero dizer que ando tentando encontrar o sentido da ancestralidade e onde ela

reside em mim, nos nossos passos. Partilho com vocês uma escrita livre que fiz a partir da proposta

do professor Fernando Ferraz, orientador da mesma 01 , na instiga que eu encontrasse uma

definição do que seria ancestralidade para mim. Enquanto escrevia/dançava, senti a presença

da minha avó Dionísia, como se ela tivesse sussurrando no meu ouvido. Talvez seja a forma que

eu encontrei para me conectar com sua história e me permitir acreditar que ela está sempre por

perto: Ancestralidade é nunca dançar só. É saber, minha filha, que mesmo que a gente ache que

estamos na frente, o tempo mostra que o passado mora ao lado. E que a gente nunca envelhece

tanto como imaginam. Não procure tão longe a dança das tuas irmãs, eu estou sempre aqui.

Mudei tanto que continuo a mesma. E a gente vai juntas moendo o tempo e o tempo nos moendo.

Vai virando a gente de cabeça pra baixo e nos deixando com essa sensação de que você

tem tanto medo… a da tontura. Não tenha tanto medo de cair… faz parte da caminhada. Nunca

duvide do poder de desequilibrar. Pode confiar: vai ter sempre alguém para segurar, mas preste

atenção, tente não ficar de costas para a rua. Você não pode procurar tão longe assim essas pernas

que te ajudam a se sustentar. Você sabe quem tanto segura suas zonzeiras. Você só entende

o mundo girando, minha menina... Girando, girando e girando. Nem tudo a gente consegue segurar.

E sempre vai mexer tudo, vai virar tudo e você vai correr, nunca para trás.

Por agora, é isso... Segue o baile… Eu já falei/dancei demais, o espaço é todo nosso… eu desejo

que nós nunca desistamos de contar nossas histórias. Que sonhemos alto. Essa festa é nossa!

Frevo é dança urbana negra



























CARMEM

LÉLIS

O FREVO MULHER

SILÊNCIOS

QUE GRITAM

Abordar percursos de opressão e apagamento,

em contextos onde a festa se confunde

com a vida ordinária, é desassombrar

a memória, acessar um lugar-comum, mas

essencial, no que toca a uma história repleta

de lacunas. Frevo e mulheres: Turbilhões de

desejos, forças imponderáveis, oráculo, realidade

bruta, mansidão, fortaleza e mistério.

conservadorismo, como arranjos do poder,

definiam seus papéis, não só nos espaços

públicos, mas no ambiente familiar

e doméstico. A despeito da ausência de

narrativas próprias e do olhar negligente,

de quem produzia registros oficiais, naturalmente

masculinos, as mulheres estão

presentes na construção da vida social, artística

e intelectual do Recife frevante.

Ele turbulento e instigante, elas, silenciadas,

mas nunca omissas, germinando em

corpos e almas frente aos embates impostos.

Enfrentando conjunturas sociais, onde

o patriarcalismo, vindo dos engenhos, e o

A lírica sussurrada por elas em tempos de

memória abre caminho entre brechas e torna-se

chave do porvir, voo condutor, construção,

concebida e capturada nos subterrâneos

O Frevo MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM


dos desejos e da coragem. No desabrigo das leis, se arriscavam exortando e ultrapassando fronteiras,

explorando e teimando... Tendo o medo como prisão e ao mesmo tempo como instiga.

Um Frevo mulher, grito calado na garganta, entre o subversivo e o sagrado ansiando pela

rua, dádiva do corpo dançante a decifrar-se em cada gesto.

VOO SEM ASAS

É explícita a invisibilidade e a não legitimação do papel da mulher na vida social do

Recife do século XIX, quando o Carnaval popular já se lançava desafiador e atrevido.

O Frevo arrastava para as ruas as camadas mais pobres da população e era, de alguma

forma, o seu reconhecimento social e dos trabalhadores urbanos, entretanto, não se


estendia às mulheres impedidas de viver

plenamente seus direitos e aptidões, fossem

sociais ou produtivas.

e incorporados aos estudos de visibilidade

e construção, não só da trajetória

feminina, mas de recortes da história

Importa mencionar a existência de

trabalhos manuais femininos desde os

jogos do Entrudo praticados no Brasil

Colônia, como a fabricação das famosas

limas de cheiro largamente consumidas,

confeccionadas para o divertimento

e vendidas nas ruas. Outras

atividades manuais, fora as domésticas,

aconteciam como prestação de serviços,

pelas engomadeiras, quituteiras,

lavadeiras, costureiras e eram executadas

por mulheres pobres, pretas escravizadas

ou forras e mestiças. Contudo,

para aquelas que tinham o privilégio da

palavra escrita, a solidão e intimidade

dos diários tornaram-se suportes documentais

cada vez mais pesquisados

social do povo brasileiro. Dessa forma,

cartas, poemas, canções, pinturas,

trazem à tona a importância e participação

ativa das mulheres em campos

diversos, como estrategistas, poetisas,

escritoras, artistas plásticas, musicistas

e tantas outras competências.

SE ESSA RUA

FOSSE MINHA...

E por falar em artes e produções femininas

invisibilizadas, faz-se urgente registrar

o ano de 1909, mais precisamente o dia 6

de janeiro, quando ultrapassando fronteiras,

Joana Batista Ramos, mulher pobre,

O Frevo MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM


negra e provavelmente descendente de escravizados, em parceria com o maestro Matias

da Rocha, escreve a letra do Vassourinhas, um icônico hino do Carnaval pernambucano.

Sobre a vida de Joana, ainda muito pouco se sabe. Pesquisas realizadas pelo escritor Evandro

Rabello apresentam uma informação do 2º Cartório de Registro Especial de Títulos e

Documentos, datada de 1949, onde se encontra uma declaração de Joana Batista confirmando

a autoria e data da composição:

A marcha intitulada Vassourinhas pertencente ao Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas.

Foi composta por mim e o maestro Matias da Rocha no dia 6 de janeiro de

1909, no Arrabalde de Beberibe em um Mocambo de frente à estação do Porto da

Madeira, dito mocambo, hoje é uma casa moderna. (RAMOS, 1949)

O documento informa: Em 18 de novembro de 1910, os dois cederam para o Clube os

direitos autorais da música, por três mil réis, de acordo com recibo assinado por eles, localizado

no acervo do Clube Carnavalesco. Sobre Joana Batista, a mulher e compositora,

quase nada ainda se tem registrado além do seu falecimento em 1982, aos 74 anos. O seu

atestado de óbito foi encontrado pela equipe do documentário Joana: se essa marcha

fosse minha, dirigido pela produtora cultural Tatiana Braga e pelos jornalistas Camerino

Neto e Maíra Brandão. A partir das pesquisas tem-se a informação que Joana era doméstica,

teve três filhos com Amaro Vieira Ramos. Além disso, familiares, como netos e bisnetos,

foram encontrados e contactados.


FREVEDOURO

E TRABALHO

Nos primeiros anos do século XX o Recife

vivia a efervescência de movimentos reivindicatórios,

greves, conturbações políticas

e econômicas e essa força popular

terminava por se mostrar no Carnaval,

tendo como ponto crucial o Frevo em

prestadoras de serviços. E mesmo que

seus integrantes não fossem necessariamente

mulheres, ou trabalhadores dos

ofícios representados, o fato em si as

fortalecia. Algumas delas estão aqui citadas:

Engomadeiras, Quitandeiras de São

José, Chaleiras de São José, Costureiras

de Saco, Parteiras de São José, Babás da

Boa Vista, Cigarreiras do Recife, Cigarreiras

Divertidas, Cigarreiras Revoltosas,

Parteiras da Boa Vista.

seu avanço. As associações carnavalescas

representam um lugar de reconhecimento

social para a classe trabalhadora

- dos hinos aos emblemas, o trabalho é

tema alegoricamente retratado, principalmente

o manual. Várias agremiações,

entre clubes e troças, nascem com denominações

femininas, em parte pelas

atividades desenvolvidas por mulheres,

fossem elas operárias, comerciárias ou

Além de aludirem ao trabalho, as denominações

serviam como uma crítica de

costumes à moral e às elites dominantes,

uma vez que os instrumentos colocados

emblematicamente, serviam para

limpar, varrer, caiar ou seja, ver-se livre

da sujeira.

O Frevo MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM


Fundada meses antes da proclamação da

República, em 2 de fevereiro de 1889, a Troça

Carnavalesca Mista Verdureiras de São José,

segundo Maria Graciete Caminha: "Foi criada

por mulheres que vendiam verdura no Mercado

de São José e ficou por muitas décadas

inativa, voltando a atuar em 1985, por influência

de Badia e outras lideranças femininas".

Maria de Lourdes da Silva, mais conhecida

por Badia, que gostava de se dizer "costureira

de Carnaval", foi uma carnavalesca

de valor inestimável do bairro de São

José, mais precisamente do Pátio do Terço.

Ialorixá pertencente à casa das "Tias

do Terço", referência do Xangô do Recife,

ocupa lugar na tradição da cultura negra

e na memória coletiva da cidade. Ainda

segundo informações da família Caminha,

a Sra. Sevy, matriarca e fundadora do

Bloco Pierrot de São José (13/10/1978), foi

a responsável pelo retorno da Troça Carnavalesca

Mista Verdureiras de São José, a

pedido da própria Badia que participava

de várias outras agremiações carnavalescas,

entre elas o Clube Vassourinhas, a Escola

de Samba Estudantes de São José e a

própria Verdureiras.

FESTAR TAMBÉM

É LUTA

Para além da festa, ou melhor, no interior

dela, na costura entre lida e lazer, pontua-se

aqui a primeira greve de mulheres

no Recife, em 1903. A greve das Cigarreiras,

motivada pela demissão de quatro

mulheres, as primeiras inseridas no

movimento operário da cidade. O movimento

provoca imensa repercussão e


demonstra que socialmente o trabalho de mulheres em fábricas era visto como "prática

moralmente reprovável". Apesar de não ter sido vitoriosa em sua abrangência, tendo

sido atendida em mínimas reivindicações, é evidente a vitória no que tange à inclusão

das mulheres no movimento operário, na luta por visibilidade e identidade de gênero

relacionada ao trabalho, como relata em seu artigo Felipe Azevedo e Souza, doutor em

História Social pela Unicmap e Bolsista de Pós-Doutorado pela CAPES na Universidade

Federal da Bahia (UFBA), e publicado nos cadernos Pagu:

A Lafayette, maior fábrica de cigarros do Recife em meados de 1890, empregava

apenas homens, alguns anos depois, era ocupada majoritariamente por mulheres. A

contratação de cigarreiras em substituição contínua e gradual à mão de obra masculina

trouxe à tona uma série de discussões sobre os papéis que eram estabelecidos

para as mulheres em relação ao trabalho nas indústrias. O debate ganhou

vigor quando algumas cigarreiras da Lafayette ingressaram no movimento operário,

à época pulsante e em plena expansão, fundando a Secção Feminina do Centro

Operário e ocupando postos de protagonismo social e de atuação política que conferiram

novas imagens e valores em relação às identidades socialmente convencionadas

para as mulheres. (SOUZA, 2019)

O Frevo MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM


EU QUERO

ENTRAR

NA FOLIA

Segundo alguns estudiosos, e representantes

de agremiações, cabe aos blocos carnavalescos

mistos o marco divisório de visibilidade

e atuação decisória das mulheres.

"Os homens, antigamente, só nos aceitavam

Contraponto do Carnaval "perigoso", os

blocos carnavalescos mistos, surgem assemelhados

aos Ranchos de Reis - têm

história marcada pelos desfiles de pastoras,

corais femininos e uma orquestra de

pau e cordas. Suas composições trazem

narrativas que vão do lirismo aos conteúdos

sociais. Neles, a presença da mulher é

marcante e com o passar do tempo atinge

certa autonomia, a exemplo da composição

das "Diretorias Femininas" presentes

na organização e atuação da categoria.

como costureiras", afirmou D. Sevy Caminha

em texto da Revista Continente (2011).

Com origens diferentes dos clubes e

troças, os blocos carnavalescos mistos

Os blocos carnavalescos mistos, criados

a partir dos anos 20 do século passado,

trazem à cena uma participação mais

efetiva de mulheres nas ruas, mesmo

que cercadas e guardadas por pais, maridos,

noivos, irmãos ou filhos.

têm em seu contexto, comerciantes,

imigrantes, dos bairros de Santo Antônio,

São José, Boa Vista e outros bairros

do Centro do Recife. Possibilita à mulher

da pequena burguesia participar

da festa, guardada por "cordão de isola-


mento" parental e atento; mesmo assim,

realiza um sonho para as mulheres de

classe média, que não tendo condições

de frequentar os grandes clubes sociais,

ansiavam pela possibilidade de brincar

o Carnaval e ir para as ruas

PONTO

DE PARTIDA,

NUNCA PONTO

FINAL...

Na atualidade, a atuação das mulheres

no Frevo tem se tornado cada dia mais

representativa, os espaços de participação

se ampliam e expressam de forma

mais evidente o reconhecimento artístico

e profissional, mesmo que ainda

se observem situações de machismo e

processos em que a equidade de ganhos

é contestada. Chama-se atenção

para a presença de maestrinas, regentes,

musicistas e orquestras, antes território

restrito aos homens, formadas só

por mulheres, assim como é comum a

atuação de presidentas e diretoras de

agremiações como clubes, blocos e troças.

Essas conquistas são pautadas em

uma saga de lutas por respeito, dignidade

e igualdade de direitos.

Com ou sem biografias oficiais, persistirá

a obstinada busca do lugar onde o desejo

e o direito se imponham. A construção

cotidiana se amplia e reverbera, inspirando

gerações. Não há como apagar

percursos, fazeres, saberes, trajetórias e

lutas permanentes, porque as jornadas

O Frevo MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM


não são extintas por decreto. Ao contrário,

mantêm-se pela pertença e teimosia.

A luta das mulheres é costurada palmo

a palmo, buliçosa, transgressora e valente

como um Frevo inacabado, potente

e suave, desconstruindo para construir,

motivando o embate e alimentando a

consciência, um fio condutor do passado/presente

e para sempre Frevo!
































JEFFERSON

FIGUEIRÊDO

DIVERSIDADES,

CORPOS E TERRITÓRIOS

FESTIVOS: FREVO

PARA TODES

Abro esse texto como uma possibilidade de diálogo, de convite, para refletirmos sobre

o dançar Frevo. Talvez chegue também como provocação. Um chamado para gingarmos,

para entre mungangas e firulas, ataques e defesas, pensarmos acerca das diferentes

narrativas de sermos Frevo. Desse modo, como um movimento de "abre-alas", trago

para a conversa o mestre Nascimento do Passo a partir de uma das suas mais conhecidas

frases: "a quantidade de passos de Frevo existentes é equivalente à quantidade

de pernambucanos".

Hoje, quando rememoro essa fala de Nascimento, percebo que ela anuncia e chama

atenção para a importância de pensarmos sobre a diversidade de corpos e de movimentos,

compreendendo que cada pessoa vai encontrando seu jeitinho de dançar

a partir dos diferentes contextos. Você pode ser apenas um folião, ou um aluno de

DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITÓRIOS FESTIVOS: Frevo PARA TODES


conquistam espaço fazendo munganga

e usando as forças de suas "pernadas",

com a malemolência e a ginga próprias

de suas memórias lançadas ao presente

como expressão de um "corpo ancestral"

(OLIVEIRA, 2005) que dança, luta, ataca,

defende, ginga, freva.

Frevo, ou um passista profissional, ou

apenas um apaixonado por essa dança.

Você pode estar mais conectado com o

Frevo que acontece nos palcos, ou com

o Frevo que acontece nas ruas. Existem

possibilidades diferentes de se relacionar

com o dançar Frevo e essas possibilidades

me fazem refletir acerca da diversidade

de corpos e de territórios em

que essa dança acontece.

No livro Fogo no Mato: a ciência encantada

das macumbas, é apresentada a

ideia do corpo como terreiro, partindo

Percebendo, ao longo da história, como a

dança Frevo tem se transformado social,

política e historicamente, proponho entendermos

a mesma como uma "encruzilhada"

(SIMAS e RUFINO, 2018; RAMOS,

2017). Uma dança de possibilidades, de

encontros e atravessamentos. Uma dança

afro-diaspórica, incessantemente

construída na resistência e na transgressão

de corpos pulsantes e diversos, que

do entendimento que ele é "assentamento

de saberes". Pensar nos corpos que

dançavam Frevo no final do século XIX e

início do século XX é entendê-los como

terreiro, como corpos que buscavam "[...]

outras possibilidades de invenção da vida

e de encantamento do mundo" (SIMAS e

RUFINO, 2018, p. 50). Presentemente percebo

a importância de refletirmos acerca

dos corpos que dançam Frevo como


esse "corpo terreiro", que se reinventa no

seu fazer, que encontra em sua própria

expressão formas de potencializar suas

ações e modos de existência; que pode

ser, ao mesmo tempo, um corpo festivo,

crítico, político, um corpo que dança no

contrafluxo, na ginga de desfazer padrões

impostos, transgredindo, sobretudo, os

próprios modos de pensar e fazer essa

dança; um corpo que reverencia, saúda e

celebra a ancestralidade.

No capítulo intitulado "Tudo que o corpo

dá", ainda sobre o entendimento do corpo

enquanto terreiro, os autores afirmam:

O corpo terreiro ao praticar seus

saberes nas mais variadas formas

de inventar o cotidiano reinventa a

vida e o mundo em forma de terreiros.

O corpo é o primeiro regis-

DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITÓRIOS FESTIVOS: Frevo PARA TODES


tro do ser no mundo, é o elemento

que versa acerca das presenças

e reivindicações de si, é o que nos

possibilita problematizar a natureza

radical do ser e as suas práticas

de invenção (SIMAS e RUFINO,

2018, p. 53).

como terreiro, arrisco e provoco a entendermos

que esse corpo é também

um "corpo território", pois, entendo que

pensar territorialidade no dançar Frevo

passa pelo corpo. Talvez seja por aí um

bom caminho para pensarmos esse corpo

que dança Frevo, esse corpo presente,

que carrega no movimento as trajetórias,

É no corpo que construímos nossos saberes.

É no dançar Frevo que acessamos

memórias, reconstruímos e transformamos

histórias. É no corpo pulsante,

presente e atento que ressignificamos

narrativas, potencializamos diferenças e

reinventamos modos de ser e fazer Frevo.

É na rua que caímos no passo, é nas

encruzilhadas que os encontros acontecem

e as possibilidades existem.

subjetividades e particularidades ao dançar,

considerando os atravessamentos de

seus contextos sociais, políticos, históricos

e culturais. O território do Frevo tem

se ampliado cada vez mais, o território

do Frevo é o corpo, é a presença desse

"corpo terreiro", é esse corpo pulsante

em relação, consigo, com o outro e com

o espaço. "O corpo é também um tempo/

espaço onde o saber é praticado" (SIMAS

e RUFINO, 2018, p. 53).

Dito isso, ao passo que penso o corpo

Nascimento do Passo, amazonense, que

chegou no Recife escondido num navio


de carga, foi tomado pelo Frevo, e a partir

da sua percepção e da sua presença na

rua. Observando os corpos que dançavam,

criou um método de ensino. A fala

isso me custou exatamente três

anos de trabalho né? (Depoimento

de Nascimento do Passo para a TV

Viva, 1987)

do mestre deixa isso bem evidente quando

em entrevista ele relata:

Esse trecho da fala de Nascimento do

Passo, em entrevista concedida à TV Viva

Comecei a ensinar Frevo vendo

essa necessidade que se tinha de

criar novos mestres, novos professores,

novas pessoas que aprendessem

a dançar o Frevo. Foi quando

eu comecei a me preocupar, catalogar

passos. Eu tive que andar pelas

ruas, acompanhando Carnaval,

vendo pessoas dançar o Frevo, geralmente

quando eu via um passo

interessante eu perguntava como

era o nome do passo; indo nos clubes,

tanto pobres quanto grã-finos,

em 1987, me toca e me mobiliza num lugar

bem especial, que é pensar a potencialidade

do conhecimento de um mestre

da cultura popular, do seu fazer na rua,

no olhar, no encontro e na observação de

outros corpos. A oralidade e os processos

de construção de algo para coletividade,

o cuidado e a preocupação em legitimar,

preservar e fomentar o ensinar, o dançar

e o fazer Frevo. O mestre Nascimento do

Passo observou as pessoas e seus modos

de dançar, e a partir disso criou um método

de ensino do Frevo.

DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITÓRIOS FESTIVOS: Frevo PARA TODES


Ao final do vídeo citado, é possível ver Nascimento

do Passo dançando no meio da

multidão, entre as pessoas, e a partir dessa

imagem provoco a pensarmos como o Frevo

é individual e coletivo. É uma massa que

pulsa junto, contudo, são diferentes modos

de dançar, mesmo ele sendo passista de

Frevo, se mistura com as danças de outros

corpos que não são passistas e isso potencializa

ainda mais o dançar Frevo. Portanto,

pensar a dança Frevo sob a perspectiva de

Frevo para todes é permitir que, nas experiências,

possamos nos perceber enquanto

corpos pulsantes, em movimento, implicados

no processo, afetados e atentos às diversas

existências, memórias, histórias, corpos,

e modos de fazer. Como num "faz que vai,

mas não vai", é importante pensarmos sobre

experiências em diálogo, em relação, que

vão e vêm, que propõem encontro e troca.






















JULIO

VILA NOVA

ATRÁS

DAS AGREMIAÇÕES

SÓ NÃO VAI

QUEM JÁ MORREU

O retrato mais vivo do carnaval de Pernambuco é o povo ocupando as ruas, praças, pontes

e ladeiras, nas prévias e nos dias de folia. A massa multicolorida, retalhos do tecido

pulsante que reverbera a polifonia do Frevo, também corporifica o caráter social da festa.

Quem se deslumbra com os sons e as imagens, quem se deixa arrastar por essa potência,

muitas vezes não dimensiona o trabalho por trás do caos inebriante, de quem se dedica a

organizar a algazarra, a mobilizar a criatividade para constituir a rede de significações em

torno do Frevo, que é festa, música e dança, poesia, artes visuais, sombrinhas, estandartes

e flabelos; e é também amálgama de identidade(s), integração e mobilização, luta e resistência.

Nos dez anos de registro do Frevo como Patrimônio Imaterial da Humanidade, título

outorgado pela UNESCO em 5 de dezembro de 2012, destacamos o protagonismo dos

grupos que se encarregam de pensar, elaborar, promover, exaltar, viver a tradição cultural

do Frevo e reinventá-la de tempos em tempos.

Atrás das agremiações só não vai quem já morreu


No documentário 02 que integra o dossiê

da candidatura ao título, produzido pela

comissão designada pela Prefeitura do Recife,

o compositor, instrumentista, cantor,

ator e dançarino Antonio Carlos Nóbrega

resume uma dualidade essencial do Frevo:

é ao mesmo tempo individual e coletivo.

Nóbrega se refere à dança, especificamente,

explicando que ao mesmo tempo em

que na rua se vê, de perto, cada folião,

cada frevista esbaldando-se em movimentos

espontâneos criados ali, no calor

às ruas no carnaval para consolidar o valor

do esforço coletivo dedicado à festa. A

dimensão individual, que se manifesta nas

emoções - ansiedade, alegria, euforia, saudade

-, extrapola e ganha o corpo coletivo,

tendo o carnaval como palco para a veiculação

de uma mensagem, a abordagem de

um tema, em forma de exaltação (à própria

festa, a pessoas e coisas da cidade e

do seu universo cultural) ou em forma de

ironia, de sátira ou de crítica dirigidas ao

poder político e econômico, por exemplo.

do momento; vê-se, à distância, o embalo

ritmado da massa de corpos em ebulição,

aos saltos, revelando a motivação da etimologia:

Frevo vem de ferver, é fervura.

A mesma dualidade se pode atribuir às

agremiações: o indivíduo que passa o ano

cuidando das suas atribuições pessoais, da

família e do trabalho, e também desempenha

funções específicas no grupo, vai

O Frevo está intrinsecamente ligado às primeiras

agremiações do carnaval do Recife,

que surgem e se desenvolvem a partir do

século XIX. De modo geral, são classificadas

em categorias como clubes de Frevo

(que incluem clubes pedestres e clubes

de boneco), troças carnavalescas, cordões

carnavalescos, blocos carnavalescos mis-


tos (ou líricos). Elas se distinguem por características

como o tipo de fantasia que

vestem ou de alegorias que utilizam, e o

tipo de música que executam. Clubes e

troças são acompanhados por orquestras

de metais, que executam o Frevo de rua

ou o Frevo-canção. Cordões carnavalescos

são agremiações abertas a outros gêneros

musicais, além do Frevo, como o samba ou

gêneros da música caribenha, por exemplo.

Embora, de forma geral, o termo bloco seja

usado inadvertidamente para denominar

qualquer agremiação, em Pernambuco ele

tem uma especificidade semântica: blocos

- mistos ou líricos, que são essencialmente

a mesma coisa - são as agremiações que

propagam o Frevo de bloco (ou marcha de

bloco), executado por orquestras formadas

por instrumentos de corda, de sopro e

percussão (ou orquestras de pau e corda),

acompanhando um coro feminino.

A descrição e análise da formação e da

atuação desses grupos revelam, em sua

origem, a complexidade das relações sociais,

no mundo do carnaval, refletindo a

própria complexidade de uma sociedade

marcada por tensões, contradições e conflitos,

recém-saída de um longo período

de escravidão. Enfocando esse contexto

sócio-histórico de surgimento das agremiações,

a pesquisadora Rita de Cássia

Araújo (1996) aponta as "transformações

econômicas, políticas e sociais, de reformulação

do espaço e do modo de vida

urbanos" (ARAÚJO, 1996, p. 335) do período,

marcado pelo fluxo migratório para

a capital e pela ampliação de atividades e

serviços aí realizados. Inspirados em outras

formas de associação civil, os clubes

carnavalescos são regidos por um estatuto

e congregam pessoas reunidas por

afinidades diversas, como as categorias

Atrás das agremiações só não vai quem já morreu


profissionais. São representativos do espírito coletivo de mobilização, em sua origem proletária,

por exemplo, o Clube Carnavalesco Misto Pás Douradas (fundado em 19/3/1888,

inicialmente com o nome Clube das Pás de Carvão) e o Clube Carnavalesco Misto Transporte

em Folia (20/9/1936). Sobre o primeiro, a história conta que, no primeiro dia do

carnaval de 1888, um navio inglês ancorado no porto do Recife precisava ser abastecido de

carvão, às pressas, para seguir viagem. O serviço só foi realizado mediante pagamento em

dobro a um grupo de carvoeiros que topou interromper o feriado para pegar no pesado.

Após receber o pagamento, o grupo botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar

no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o carnaval, decidiram fundar a nova agremiação

03 . Já o segundo foi criado por líderes sindicais da categoria dos rodoviários, que

tiveram a ideia de fundar uma agremiação após uma disputa vitoriosa de corrida de saco

contra os estivadores de açúcar. 04

Afinidades de parentesco e amizade, porém, estão na origem da maior parte das agremiações.

Histórias pitorescas que ensejam a decisão de botar a brincadeira na rua, com

personagens que povoam o imaginário boêmio e fantástico do carnaval de Pernambuco,

estão presentes em nomes de batismo sugestivos, como Cachorro do Homem do Miúdo,

O Bagaço é Meu, Formiga Sabe que Roça Come, Pão Duro, Camisa Velha, Arrasta Tudo,

Nem Sempre Lily Toca Flauta, Mulher na Vara, A Porta e Dez de Charque e uma Latinha,

por exemplo. Outros trazem a indicação da localidade de origem, reiterando assim os traços

identitários de pertencimento à sua comunidade: Verdureiras de São José, Batutas de


E assim ele de fato arrasta uma multidão

gigantesca, no sábado de carnaval, pelas

ruas centrais do Recife. Já em Olinda, o

Frevo-canção conhecido como Olinda,

quero cantar (Clídio Nigro e Clóvis Vieira),

originalmente intitulado Olinda nº 2,

do repertório do Clube Elefante (fundado

em 12/02/1952), é considerado verdadeiro

hino do carnaval da cidade, com seu

refrão-exaltação: "teus coqueirais/ o teu

sol/ o teu mar faz vibrar meu coração/ de

amor a sonhar/ minha Olinda sem igual/

salve o teu carnaval!".

São José, Abanadores do Arruda, Banhistas

do Pina, Madeira do Rosarinho, Flor

da Lira de Olinda, Boêmios da Boa Vista,

Seresteiros de Salgadinho, entre muitos

outros.Na música, a potência criativa das

agremiações se destaca na contribuição

para o cancioneiro carnavalesco. Algumas

obras do seu repertório são verdadeiros

hinos do carnaval de Pernambuco,

entoados nas ruas ao longo de décadas,

a começar pela Marcha nº 1º do Clube

Vassourinhas (Joana Batista e Matias da

Rocha), um Frevo de rua - ou seja, instrumental

- possivelmente a melodia mais

popular do carnaval do Nordeste. Outro

exemplo é o Hino do Galo (do Clube de

Máscaras Galo da Madrugada, fundado

em 24/1/1978), Frevo-canção de autoria

de José Mário Chaves, cujo refrão anuncia

e convoca: "Ei pessoal/ vem moçada/

carnaval começa no Galo da Madrugada!".

Também do carnaval olindense destacam-se

agremiações cuja fama ultrapassa

fronteiras. A Troça Carnavalesca Mista

Cariri Olindense (15/2/1921), o Clube de

Alegoria e Crítica Homem da Meia-Noite

(2/2/1932) e a Troça Carnavalesca Ceroula

de Olinda (5/1/1962) são exemplos de

Atrás das agremiações só não vai quem já morreu


agremiações cujos repertórios atraem

multidões. Ainda que menos conhecida

fora dos limites de Olinda, a Troça Dez

de Charque e uma Latinha é um exemplo

de agremiação cujo hino tem a particularidade

de elencar os nomes de seus

fundadores e citar localidades onde a folia

acontece, na Cidade Alta: "A folia começa

no Amparo, Amaro Branco, Quatro

Cantos e na Sé/ E o mé que não para de

rolar / Na Boa Hora tomar uma com Gilmar

/ Doutor, Mutreta e Niltinho / Paçu,

Amaro, Bode e Arlindinho/ Jonas Baé e

Cabeção/ e todos gritam com Rochinha:

amigo Déo, é 10 de charque e uma latinha"

(Marcus Vinícius e Rogério Rangel).

Ouvir a multidão entoar esses versos,

com a intimidade de quem conhece as

pessoas e lugares nomeados, revela o caráter

de pertencimento que a agremiação

carrega em sua música.

A popularidade que o Frevo de bloco

alcançou a partir dos anos 1990 favoreceu

a propagação de um vasto repertório

nesse gênero, típico dos blocos carnavalescos

mistos ou líricos. Canções

consagradas desde a primeira geração

de blocos, no início do século XX, como

Marcha da folia (Raul Moraes); hino do

Bloco das Flores (fundado em 1920);

Sabe lá o que é isso (João Santiago), hino

do Batutas de São José (1932); e Madeira

que cupim não rói (Capiba), do Bloco

Madeira do Rosarinho (1932), seguem

sendo cantadas em ensaios e desfiles até

hoje e somam-se a uma produção mais

recente, a exemplo de Aurora de amor

(Maurício Cavalcanti e Romero Amorim),

do bloco homônimo fundado em 1990;

ou Eu quero mais Olinda (Bráulio de

Castro e Fátima de Castro), do Bloco Eu

Quero Mais (1992). Inúmeras outras obras


de compositores como Edson Rodrigues,

Getúlio Cavalcanti, Marcelo Varella,

Humberto Vieira, Cláudio Almeida, Ely

Madureira, Heleno Ramalho, Luiz Gonzaga

de Castro, Airton Rodrigues, Roberto

Fantini, entre outros, são interpretadas

pelas dezenas de blocos que surgiram a

partir do começo do século XXI.

Recife, 22 e 24 de fevereiro de 1903), por

exemplo, a agremiação publicou, na seção

intitulada "Precisa Caiação", nota

reclamando sobre "a projetada linha de

‘bonds’ para [o bairro dos] Coelhos; o

prolongamento de Afogados a Tegipió, a

falta de pagamento aos empregados estaduais

e municipaes [sic]".

A compreensão do carnaval como celebração

festiva e também como espaço

de disputas, de posicionamentos políticos

e de resistência explica a atuação de

várias agremiações, ao longo da história.

No início do século XX, publicações ligadas

a elas expunham opinião sobre

temas de interesse social e político, por

meio de variados gêneros textuais: poemas,

contos, charges, anúncios, notícias,

avisos, etc. Em O Caiador - Órgão do

Club Carnavalesco Caiadores (ano XVIII-

Em Olinda, em 1976, o Grêmio Lítero Recreativo

Cultural Misto Carnavalesco Eu

Acho é Pouco (que tem como precursor

outro grupo, o Língua Ferina), nasce com

clara conotação política de contestação à

ditadura civil-militar instaurada no país há

mais de uma década, após um golpe contra

a democracia. Sobre suas cores, Geraldo

Gomes assinala: "O vermelho vinha

da Rússia e o amarelo, da China. O bloco

nasceu revolucionário" (VERAS e MORIM,

2019, p.35). A alegoria gigante que identi-

Atrás das agremiações só não vai quem já morreu


fica a agremiação é um dragão chinês, presente no carnaval e nas manifestações políticas

da esquerda. Também em 1976 surge no Recife o Bloco Anárquico "Nóis Sofre, Mas Nóis

Goza", cujo nome, segundo Homero Fonseca (2022), vem da constatação proferida por um

folião anônimo, na rua, e captada pelos amigos Zé Mário Rodrigues, Clenira Melo, Marcos

Cordeiro e Roberto Pimentel: "Ninguém lembra de quem partiu a ideia ou se ela faiscou

no cérebro dos quatro ao mesmo tempo: ‘Isso é nome de bloco!’" (FONSECA, 2022, p.

223). Logo capitaneada pelo livreiro Tarcísio Pereira, da extinta livraria Livro 7, a agremiação

instituiu um concurso de fantasias com temáticas críticas ao governo, realizado na Rua 7

de Setembro, em frente à livraria, no sábado de Carnaval. No ano seguinte, 1977, surge o

Bloco Anárquico Armorial Siri na Lata, igualmente com o propósito de contestação política

ao regime. Fundado por um grupo de jornalistas (Homero Fonseca, Ricardo Carvalho,

Tereza Cunha, José Teles, Ricardo Leitão, Geneton Moraes Neto, entre outros), o Siri é uma

agremiação marcada também pelo forte caráter de irreverência, já no batismo propondo

"anarquizar" com o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna.

Outra agremiação que merece destaque pela criatividade é a Troça Empatando Tua Vista,

que tem como alvo a especulação imobiliária e a verticalização excessiva na cidade. Foi

fundada em 2013 por membros do grupo Direitos Urbanos. Edinéia Alcântara explica a

proposta da troça: "vestidos de prismas de tecidos, simulando arranha-céus com projeto

repetitivo, foliões buscam imitar o que vem acontecendo no Recife, onde a altura das torres

é cada vez maior" 05 . Recentemente, dois grandes eventos reuniram em Olinda dezenas


de agremiações, engajadas em campanhas políticas contra a ascensão da extrema-direita

no país. Em 21/10/2018, o desfile batizado de Amor em Bloco contou com mais de 80

agremiações, que saíram do Largo do Guadalupe em direção à Estrada do Bonsucesso. Na

campanha presidencial de 2022, o desfile, então rebatizado de Lula em Bloco, teve mais

de 70 grupos, que desfilaram pela cidade alta no dia 22 de outubro, com a orquestra do

Maestro Oséas Leão e a batucada do Eu Acho É Pouco.

O exercício criativo das agremiações carnavalescas de Pernambuco se desenvolve, assim,

de variadas formas. O trabalho é intenso, ao longo do ano inteiro, e requer dedicação

e atualização. A atividade econômica exigida para dar conta das demandas inclui a

contratação de orquestras e passistas, a confecção de fantasias e adereços, a realização

de ensaios e festas no período de prévias, além do trabalho de pesquisa e de comunicação.

A historiadora Carmem Lélis destaca a importância da participação coletiva nessa

produção artístico-cultural, "seja na mão de obra para criar, bordar, colar, cortar, costurar,

seja na captação de recursos, todo esforço é válido para botar o brinquedo na rua [grifo

da autora], como popularmente se diz" (LÉLIS, 2011, p. 80). A realização de rifas, bingos,

sorteios, etc., bem como a venda de produtos (camisas, CDs, livros, souvenirs) e a participação

em editais públicos para o custeio de projetos são alternativas para a garantia

de recursos, não apenas no Carnaval. Recentemente, com a pandemia do Covid-19, os

editais públicos, a exemplo da Lei Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29/6/2020), conquista da

bancada de oposição ao governo federal, em 2020, possibilitaram às agremiações a re-

Atrás das agremiações só não vai quem já morreu


alização de atividades com transmissão

via internet, durante o período de distanciamento

social, entre 2020 e 2021.

Assim, embora num momento de grande

adversidade, o aprimoramento da

comunicação e divulgação do trabalho

através de canais digitais e redes sociais

mostrou-se como um caminho para a renovação

das propostas de atuação cultural,

visando ao fortalecimento do Frevo

como patrimônio, como energia criativa

em permanente ebulição.






AMILCAR

BEZERRA

FREVO:

MODERNIZANDO-SE,

MAS REVERENCIANDO

A TRADIÇÃO

Tradição e inovação figuram entre os temas mais corriqueiros nos debates sobre música

popular. Muitas vezes, geram discussões acaloradas entre grupos de músicos e apreciadores

mais ortodoxos, defensores de uma suposta autenticidade musical, e outros mais

afeitos a novidades. O Frevo não escapa à regra.

Não é por ser objeto de patrimonialização que o Frevo - ou qualquer outro gênero musical

- deva se tornar imune às inovações técnicas ou estéticas. Nestes últimos dez anos,

transcorridos desde a concessão do título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade

pela Unesco, os intensos debates em torno da preservação ou modernização das

formas musicais que configuram o Frevo, ao invés de denotarem uma eventual crise,

podem ser interpretados como um sinal de sua vitalidade enquanto gênero musical.

Afinal, a livre modificação das convenções de um gênero não tem como consequên-

Frevo: modernizando-se, mas reverenciando a tradição


cia necessária o esquecimento da tradição.

Pelo contrário, a tradição pode ser

redimida exatamente ao ser atualizada

por artífices contemporâneos. Citações

do passado, quando recuperadas de

modo a dar significado a nossas identidades

de hoje, servem como estímulo

para que as gerações mais jovens o

revisitem com maior interesse. É o que

acontece, por exemplo, quando o mangue

beat mescla a batida do maracatu

a elementos do hip hop e do hardcore,

ou quando homenageia um grande

mestre da cultura popular como Mestre

Salustiano em Salustiano Song. Em

suma, a tradição importa na medida em

que nos auxilia a compreender a singularidade

de quem somos no presente. É

neste sentido que, de vez em quando, é

importante voltar a ela para molhar os

nossos pés.

No caso específico do Frevo, dispomos

de uma longa trajetória de debates entre

tradicionalistas e modernizadores. Mas,

de fato, se observarmos com o devido

cuidado a vida e a obra de alguns mestres

do passado, hoje canonizados pela

tradição, veremos que, em suas respectivas

épocas, não poderiam ser considerados

tão tradicionais assim. O Frevo é

uma tradição moderna, nasce no seio da

agitada vida urbana recifense do início

do século XX, e, como tal, traz em seu

DNA a marca da inovação. Como exemplo,

podemos citar a notória influência

da instrumentação das jazz-bands norte-

-americanas nas primeiras gravações de

Frevo. Autores como Valdemar de Oliveira

consideravam esta influência deletéria,

sob a alegação de descaracterizar

o vigor das orquestras de clubes pedestres,

herdeiras das bandas marciais e ber-


ço do Frevo de rua. No entanto, Capiba,

hoje considerado compositor canônico

do Frevo-canção, não apenas foi membro

fundador da jazz-band acadêmica no

Recife, como compunha seus Frevos ao

piano. Nelson Ferreira, maestro, compositor,

diretor musical da Fábrica de Discos

Rozenblit e um dos grandes responsáveis

pela consolidação do Frevo como

produto fonográfico, também utilizava

o piano para compor Frevos, tendo sido,

inclusive, o responsável pela primeira inserção

do instrumento numa gravação

do gênero, conforme dados recentemente

apurados pelo pesquisador Maurício

Cezar. Reconhecido por Valdemar

de Oliveira como grande inovador das

linhas melódicas no Frevo, Ferreira eventualmente

propunha hibridismos, como

no caso de Isquenta muié, Frevo instrumental

que emula, na sua primeira parte,

a percussão de um terno de pífanos. Esta

criada pelo mesmo Nelson Ferreira que

se referia à presença da tuba como imprescindível

na formação das orquestras

de palco que executavam o Frevo, e fazia

ressalvas a alterações no andamento das

execuções. Em sua avaliação havia, portanto,

alguns elementos musicais mais

relevantes na caracterização do Frevo

do que outros, configurando uma hierarquia.

A ênfase na preservação desta

hierarquia, contudo, não implicava num

essencialismo integral. Estes dados nos

ajudam a perceber como a inovação esteve

presente nas práticas musicais de

compositores canônicos como Capiba

e Nelson Ferreira, mesmo que eventualmente

seus discursos - sobretudo quando

estavam em idade mais avançada

- expressassem um viés conservador e

meramente preservacionista.

Frevo: modernizando-se, mas reverenciando a tradição


Há de se reconhecer que o Frevo sempre teve compositores afeitos a hibridismos e

inovações. É importante também ressaltar que muitos, apesar de se notabilizarem

como artífices do Frevo, têm uma vasta obra, geralmente menos conhecida, associada

a outros gêneros musicais. Só para falar em nomes que ainda estão na ativa, Getúlio

Cavalcanti é um prolífico compositor de sambas-canção e boleros; Jota Michiles já fez

incursões pelo forró e pela lambada; e o maestro Clóvis Pereira é reconhecido por sua

notável obra no campo da música erudita. Isto sem falar de intérpretes como Spok,

que inova ao incorporar a linguagem visual e musical das big bands de jazz à performance

do Frevo. Carlos Fernando, o grande produtor musical da série Asas da América

(1979-1993), compôs Frevos-canção gravados pela fina flor da MPB, mas também

foi parceiro de Geraldo Azevedo em hits dos mais variados gêneros. Cada um desses

artistas desenvolveu um estilo próprio, apoiados também em suas experiências com

outros gêneros musicais. Dessas trocas provêm muito do que chamamos de inovação

no ambiente do Frevo.

Vejamos alguns casos de artistas que, a partir dos atravessamentos de outros gêneros, vêm

se destacando por propor novas possibilidades em composições e interpretações de Frevo.

Alguns experimentos se voltam para o diálogo com tendências da música pop, como no

caso do álbum Micróbio do Frevo de Silvério Pessoa, no qual arranjos mais tradicionais se

fundem a samplers e timbres da música eletrônica. Na mesma seara, o DJ Lee Pesaka realiza

procedimento no sentido reverso quando transforma clássicos da música pop interna-


cional em remixes de Frevo, simulando os

timbres tradicionais de percussão e metais

com o auxílio de ferramentas digitais 06 .

guitarra em timbre suave é apenas uma,

entre as muitas maneiras possíveis, de

aproveitarmos a versatilidade deste instrumento

em prol do Frevo.

A banda Eddie, velha conhecida do público

alternativo pernambucano desde

os anos 1990, tem entre suas influências

o punk, o reggae, a surf music, o ska, o

samba e o Frevo. Atração comum nas

prévias carnavalescas mais descoladas

do Recife, a Eddie tem em seu repertório

canções como Não vou embora e Vida

boa, que levam o público à loucura com

sua levada Frevolenta apoiada na instrumentação

do rock e da música eletrônica.

Recentemente, a banda fez uma releitura

de Canhão 75, clássico instrumental

gravado originalmente em 1951 e, ainda

hoje, um dos Frevos mais executados no

carnaval pelas orquestras de rua. A linha

melódica reproduzida por um solo de

Os baianos Dodô e Osmar foram pioneiros

em utilizar a guitarra elétrica como instrumento

solo para o Frevo, em substituição

aos metais. A história, muita gente já conhece:

em 1951, numa excursão de navio

com destino ao Rio de Janeiro, o clube

de Frevo Vassourinhas atracou temporariamente

em Salvador e, neste intervalo,

realizou um breve cortejo pelas ruas da

capital baiana. Inspirados pela potência

sonora da orquestra de Frevo, Dodô e Osmar

criaram o pau elétrico, precursor da

guitarra baiana, e deram início a uma bela

trajetória do Frevo no Carnaval soteropolitano.

Os tropicalistas Caetano Veloso e

Gilberto Gil, ainda nos anos 1960, lança-

Frevo: modernizando-se, mas reverenciando a tradição


ram Atrás do Trio Elétrico e Frevo rasgado, respectivamente, ambos com acompanhamento

de baixo elétrico e, o primeiro, com o protagonismo da guitarra elétrica expresso em solos,

levada rítmica e efeitos de distorção. A trajetória da guitarra elétrica no Frevo prosperou

nas décadas seguintes no Carnaval da Bahia, com artistas como Caetano Veloso, Moraes

Moreira e Armandinho animando a festa de cima dos trios elétricos. Também a série Asas

da América (1979 - 1993), capitaneada pelo produtor e compositor pernambucano Carlos

Fernando, conta com a guitarra inconfundível de Paulo Rafael, tanto em levadas rítmicas

quanto em solos. O guitarrista também foi responsável por executar solos memoráveis em

Frevos gravados por Alceu Valença, como Lenha no Fogo e Diabo Louro. Com uma pegada

mais jazzística, Renato Bandeira faz seus solos de improviso nas performances da SpokFrevo

Orquestra, mostrando como o Frevo pode se abrir a diversas possibilidades do uso da guitarra

elétrica, sem que necessariamente se abra mão dos metais.

Quando se fala em improviso jazzístico no Frevo, um dos nomes mais lembrados da nova

geração é o de Henrique Albino, que recentemente lançou o álbum Música Tronxa. De sax

em punho, Albino se apropria de células rítmicas do Frevo e de outros gêneros musicais

da tradição local, propondo um passeio melódico pós-tonal, sintonizado com tendências

vanguardistas do jazz. Outro nome de destaque entre os jazzistas locais é Amaro Freitas,

pianista de talento e um dos músicos instrumentais brasileiros mais ouvidos atualmente,

segundo dados da plataforma Spotify. Embora seus experimentos dialoguem com uma

ampla variedade de influências das músicas de tradição popular, é marcante a presença


do Frevo em sua obra, como na faixa Paço, em que a estrutura básica do Frevo aparece

claramente no início, para em seguida ser desconstruída rítmica e harmonicamente.

Numa pegada mais tradicional, o pianista capixaba Hércules Gomes dá uma demonstração

de raro virtuosismo ao executar o clássico Duda no Frevo, com um domínio do

ritmo que lembra, ao longe, os trejeitos sincopados audíveis nas primeiras gravações de

ragtime nos Estados Unidos. A performance de Hércules nos lembra a relação antiga

que o piano tem com o Frevo, como vimos nos casos de Nelson Ferreira e Capiba. Contudo,

enquanto estes dois últimos utilizavam o piano para compor, Hércules, a exemplo

de Amaro, nos chama atenção para as potencialidades do piano como instrumento destinado

à performance do Frevo.

Há ainda muitos outros nomes que poderíamos citar como músicos responsáveis por

inovar nos modos de compor e interpretar o Frevo, mas é impossível contemplá-los no

espaço deste breve artigo. Todavia, os exemplos aqui citados nos ajudam a perceber um

panorama dessas possibilidades ao longo do tempo. A ideia de patrimônio imaterial é

dinâmica: sugere não a preservação de estruturas formais em sua integralidade, como o

patrimônio material, mas sim a valorização de formas específicas de "sentir" o Frevo que,

geração após geração, servem como elo de sustentação de comunidades de fazedores e

cultores desta tradição. Isto significa que, na medida em que as pessoas envolvidas com o

Frevo modificam sua relação com o mundo e com a música, se espera que também o Fre-

Frevo: modernizando-se, mas reverenciando a tradição


vo se transforme e se adapte. Em suma, só

acompanhando a evolução dos hábitos e

das práticas musicais em geral é que um

gênero permanece relevante, como patrimônio

vivo e ativo na vida das pessoas.

Neste aspecto, o Frevo vem, felizmente,

demonstrando enorme vitalidade.

* ACESSE A PLAYLIST COM AS MÚSICAS CITADAS *

* NO QR CODE ABAIXO *








MAESTRO

SPOK

PERNAMBUCO

FREVANDO

PARA O MUNDO

O Frevo empreendeu algumas investidas no exterior, mas quase todas como ações institucionais,

atreladas ao turismo, ou através de projetos como o "Voo do Frevo", que a cada

ano levava uma caravana de pernambucanos, um grupo de músicos, para divulgar o gênero.

Porém era, ainda assim, uma empreitada turística. Somente ganhou o mundo com a

SpokFrevo Orquestra, criada em 2001, da qual sou fundador e diretor musical, ao lado do

meu compadre e parceiro Gilberto Pontes.

A nossa primeira grande turnê europeia, em 2008, veio comprovar o vigor e a universalidade

da orquestra. Durante a excursão por seis países europeus, nosso grupo foi convidado

para se apresentar no palácio presidencial francês, para o encerramento das comemorações

do Dia da Música (Fête de la Musique). A SpokFrevo fechou a programação do

Palais de l’Élysée, a residência oficial do então presidente Nicolas Sarkozy, que prestigiou

as apresentações ao lado da primeira-dama, Carla Bruni. Desde então, nossa orquestra

tem sido presença assídua no circuito europeu de festivais. Já estivemos em 15 diferentes

países da Europa, Ásia e África. Realizamos concertos em palcos célebres, como New Mor-

Pernambuco frevando para o mundo


ning, Roskilde, Montreux, Barbican, Pori

Jazz, em Chamonix, Womex, entre outros,

sempre apresentando o Frevo como arte

qual tocava Chucho Valdés). A banda do

estado brasileiro de Pernambuco é uma

verdadeira força da natureza".

e linguagem musical única, inserindo-o

com propriedade nos universos do jazz e

da world music.

Foi nessa turnê, após assistir a um concerto

da nossa orquestra no festival de

Marciac, no Sul da França, onde dividimos

Mais à frente, no verão Europeu de 2010,

a SpokFrevo Orquestra se apresentou nos

principais festivais de jazz da Europa. Dividindo

palcos com nomes como Stevie

Wonder, Chucho Valdés, George Benson,

Esperanza Spalding, Wynton Marsalis e

Chick Corea. Em Londres, a apresentação

da orquestra no Ronnie Scott’s, lendário

clube de jazz e palco da última apresentação

pública de Jimi Hendrix, mereceu cinco

estrelas do crítico Clive Davis, do The

Times, e elogios dignos de nota: "A mais

explosiva banda a tocar no Soho desde os

gloriosos dias da afro-cubana Irakerê (na

a noite com Gilberto Gil, que o trompetista

Wynton Marsalis fez um convite para

a SpokFrevo tocar nos Estados Unidos, - o

que aconteceu em 2012. A primeira turnê

do Frevo no principal mercado de música

do mundo, iniciada no Lincoln Center,

com passagens pelo Texas, Flórida, e parada

final no estado de Nova Iorque. Dois

anos depois, em 2014, a orquestra fez

novo tour americano, com apresentações

memoráveis: Berklee Performance Center

(Boston), Pennsylvania State University

(University Park), The Appel Room - Jazz

at Lincoln Center (Nova Iorque), Byham


Pernambuco frevando para o mundo


Theater (Pittsburgh), Englert Theatre

(Iowa City), Graceland University (Lamoni)

e Sheldon Concert Hall (Saint Louis).

com a orquestra do Lincoln Center, e realizou

um memorável concerto no Parque

Dona Lindu com a SpokFrevo Orquestra.

Conheceu também o Paço do Frevo e fez

um cortejo pelas ladeiras de Olinda. Ainda

nesse ano, a nossa orquestra conseguiu um

feito marcante para o Frevo: tocou no Rock

in Rio USA. Também em 2015 realizou mais

uma turnê europeia, com concertos na Itália,

Holanda e França. Em 2019, a SpokFrevo

Orquestra celebrou os 15 anos do lançamento

do seu primeiro disco, Passo de

Anjo, culminando com show no Teatro de

Santa Isabel, com participação dos sanfoneiros

Gennaro e Beto Hortis. Também em

2019, levamos o Frevo para China, ao lado

do belo e importante projeto "Criança Cidadã".

E mais recentemente, em julho de

Reconhecido como um dos mais importantes

e influentes músicos de jazz dos EUA,

2022 o levamos para Aveiro e para a cidade

do Porto, em Portugal.

Wynton Marsalis veio ao Recife em 2015,

Essas experiências fizeram e fazem com

que até hoje eu receba convites para ministrar

palestras pelo Brasil e pelo mundo

com o intuito de difundir o nosso entendimento

de execução do Frevo, a forma que

fazemos o Frevo na SpokFrevo Orquestra.

Confesso que tem sido incrível observar

o Frevo, nos últimos anos, sendo tocado

e estudado por músicos do mundo inteiro.

Ver orquestras de Frevo formadas em

Portugal, no Japão e em outros países. Ver

pessoas que falam os mais diversos idiomas

aprendendo o idioma do Frevo.






















VALÉRIA

VICENTE

É DE PERDER OS SAPATOS:

O FERVOR E A GINGA

DA DANÇA FREVO

Essas palavras traçadas em ziguezague desejam entrar na oralitura 07 do Passo. No sacolejo

que é ao mesmo tempo individual e coletivo. Infelizmente não é possível identificar

ainda hoje uma política de real investimento no passista e seus coletivos. Nem

concursos, nem subvenções, nem condições de ensino e apresentação podem ser vistos

como em melhor condição após seu reconhecimento como patrimônio da humanidade.

Porém, seus fazedores não cessaram em presentear a humanidade com arte,

alegria e provocações.

No início do século XX já se falava no Frevo como uma dança original, disruptiva e arrebatadora.

Naquele tempo, falava-se na promessa de que esta se tornasse uma dança brasileira

alçada ao campo da arte. Olhando por esta perspectiva, como compreender o Frevo

neste início do século XXI?

Na ginga dessa história, aponto dois movimentos dentro da dança: por um lado, o do desejo

de consolidação e reconhecimento pela história trilhada; por outro, da contestação

É de perder os sapatos: o fervor e a ginga da dança Frevo


das formas de controle do imaginário e

das formas do Passo. Como na ginga, movimentos

aparentemente opostos se articulam

de forma complementar.

ria do Frevo a partir de seus movimentos.

Apontam a existência dos muitos Frevos

e suas narrativas. Revelam o Frevo como

dança de pretos e pretas, pessoas livres e

marginalizadas, que articulam influências

Nos primeiros anos do século XXI, investigações

contemporâneas em dança interrogaram

a dança do Frevo, a partir da

construção de espetáculos.

indígenas e europeias numa composição

inusitada. A negritude é percebida como

característica quase apagada na narrativa

oficial e midiática. Também a ausência

das mulheres na narrativa sobre o Frevo

Fervo (2006) e Avesso do Passo (2007)

iniciam esse movimento que expande

é questionada como parte da estrutura

patriarcal que invisibiliza a mulher, em

especial, a mulher preta.

os modos de entender essa dança. A reflexão

que se mostra na dança, questiona

as padronizações que ocorreram nas

últimas décadas do século XX e os apagamentos

na narrativa histórica. Artistas

como Flaira Ferro, Jefferson Figueirêdo,

Rebeca Gondim, Jr. Viegas, Otávio Bastos

e Valéria Vicente, que cresceram fazendo

o Passo, revisam suas histórias e a histó-

Essas investigações adentram também a

técnica do Passo, desconstruindo a sua estrutura

e dinâmica, e levando a uma ampliação

das formas de improvisação e relação

com a música. O desejo de descolonizar o

Passo vai além das narrativas e espetáculos

e vira método de ensino, como o Mexe com


Tudo desenvolvido por Otávio Bastos, que

direciona seus alunos para um brincar despreocupado

das formas dos passos.

endereço do próprio fundador. De forma

intuitiva, mas em diálogo com muitas pessoas,

sistematizou o Método Nascimento

do Passo, cuja transmissão fez do passista

um mestre. Mestre Nascimento do Passo.

O outro movimento vai na direção da consolidação

da história e reconhecimento

dos seus construtores. Desde a primeira

metade do século XX, a dança do Frevo foi

reconhecida e exaltada como expressão

singular de Pernambuco. O espaço do Passo

era a vida urbana do Recife, os ensaios

de orquestra, os acertos de marcha, os concursos.

Concursos que revelaram expoentes

como Sete Molas, Egídio Bezerra e Nascimento

do Passo. Este último teve atuação

longeva e agiu para a difusão da dança do

Frevo na segunda metade do século XX.

Nascimento foi professor de Antonio

Nóbrega no espaço Boi Castanho, dos

fundadores do Balé Popular do Recife

(Casa Forte), cujo método é levado para

diversas escolas particulares do Recife

e de Olinda; e da escola Cleonice Veras

(Brasília Teimosa), que se transformou

no Balé Deveras. Iniciou o desenvolvimento

da sua metodologia na década

de 1980, no Sítio Histórico de Olinda,

onde encontrou acolhimento no Clube

Vassourinhas. Deste momento fecundo

Nascimento fundou, então, a primeira escola

de Frevo, em 1973. Itinerante e gratuita,

caminhando pela cidade conforme o

entraram para a história do Passo a Mestra

Landinha, Adriana Frevo e Cia Brasil

por Dança e o grupo Frevo Capoeira e

É de perder os sapatos: o fervor e a ginga da dança Frevo


Passo, de Tonho das Olindas, Eloy e Fofão, tendo este último migrado para São Paulo,

difundindo com Vera Athayde o Frevo na capital paulista. Nos anos 1990, a escola itinerante

deu condições para a criação da escola municipal de Frevo, hoje Escola Municipal

de Frevo Maestro Fernando Borges, dedicada à dança e sob sua supervisão pedagógica

de 1996 até 2003.

A criação do grupo Guerreiros do Passo (2006) é emblemática no sentido de valorização

dessa história. Diante da expulsão do Mestre Nascimento do Passo da Escola de Frevo, um

grupo de professores retoma o ensino em praça pública para dar continuidade ao método

de ensino que os formou.

A atuação do Paço do Frevo, criado como ação de salvaguarda do Frevo, contribui para o

reconhecimento de Zenaide Bezerra como continuadora do Frevo de Egídio Bezerra na

periferia do Recife e de Landinha, como base fundamental do trabalho do Mestre Nascimento

do Passo. Mas, principalmente, o Paço do Frevo, através da sua equipe e da ação

de pessoas como a ex-coordenadora de dança Daniela Santos, promove o intercâmbio, a

convivência e a troca entre os passistas, músicos e professores, permitindo o reconhecimento

das trajetórias e pesquisas, sem apagamento das diferenças. Já o reconhecimento

de Adriana Frevo, fundadora da Cia. Brasil por Dança, vem da população olindense que

a escolheu como homenageada do Carnaval de 2018, após 30 anos de atuação no Sítio

Histórico de Olinda.


SÃO MÚLTIPLOS

OS FREVOS

DE HOJE

A escolarização do Frevo em Olinda deu

ensejo a uma dança predominantemente

juvenil, com muita potência física quando

nas apresentações individuais, porém

marcada pelo sincronismo e marcação

rítmica constante para se adaptar às necessidades

das agremiações de Frevo que

ênfase na saúde e bem-estar, desenvolvida

por Jorge Marino, trabalha modulações

de esforço, gerando leveza e suspensão.

No Recife, a influência do Balé Popular

pode ser percebida nas coreografias de

grupo, com combinações de solos, duplas

e grande número de dançarinos buscando

sincronia e simetria no modo de fazer o

Passo. Influência que, nos anos 2000, chegou

à Escola de Frevo do Recife, premiada

internacionalmente pela aliança entre

vigor físico e rebuscamento coreográfico,

comandada por Alexandre Macedo.

desfilam no Carnaval. Em São Paulo, através

do Instituto Brincante e do trabalho

artístico de Rosane Almeida e Antonio

Nóbrega, o Passo é manuseado com bastante

contorno formal e variações dinâmicas,

voltadas para o cenário artístico da

música e das artes cênicas. Em Brasília, a

Naquele momento em que a Escola de

Frevo passou a ter uma companhia de dança

(2003), alguns afirmaram que todos os

outros modos de fazer o Passo iriam ficar

no passado. Não ficaram. Mantiveram-se e

renovam-se em direções diversas. Grupos

É de perder os sapatos: o fervor e a ginga da dança Frevo


com diferentes ênfases como os Guerreiros

do Passo, os Brincantes da Ladeiras, O

Sertão Frevo e o projeto Frevosofia surgiram

e se renovam na direção de interesses

mais conectados à prática do Frevo de rua,

da folia, da saúde e do prazer.

Agora, já temos tempo de vida para saber

que os passos novos e diferentes não

substituem os passos básicos e livres, as

marchas e as expressões intuitivas, as

mungangas e as mesuras. Sempre há espaço

para novas invenções. A dança do Frevo

é uma grande rede de coexistências. Algumas

ganham mais espaço na mídia, outras

no coração da juventude, outras nas comoções

intelectuais. Isso tudo varia como

uma frase sincopada ao longo do tempo e

coexistem no mesmo Carnaval.




LEILANE

NASCIMENTO

FREVERÊ:

FREVO TAMBÉM

É BRINCADEIRA

DE CRIANÇA

Brincadeira de criança, freverê! Salve os Erês, aqueles que fazem "a ponte", o intermédio

entre pessoas e orixás. Salve o Frevo! Por natureza, diverso e democrático. Manifestado em

todos os corpos e, naturalmente, no corpo-criança: o da infância ou do estado de espírito

que nos leva a esse "tempo". Tempo de brincar.

O carnaval, as alegorias, a subversão... Tudo isso nos conduz ao território sagrado do brincar,

vivido a cada ciclo, por crianças e por pessoas crescidas. E o faz de conta não significa

que "é de mentirinha". Pelo contrário! Não tem como ser superficial na brincadeira. Há de

se dedicar e respeitar o mundo da fantasia.

Seja no sentido literal ou no contexto da cultura popular, no brincar estão presentes a representação,

a diversão, a quebra da rotina, a imaginação e uma tênue relação entre liberdade

e empenho, normas e diversão. Nas agremiações, por exemplo, observamos acordos

Freverê: Frevo também é brincadeira de criança


internos, divisão de tarefas (mesmo que

não verbalizadas), o compromisso com o

coletivo, a relação íntima entre trabalho,

dedicação e encantamento.

Essa participação também pode ser "apenas"

observando, um olhar atento a cada

movimento. Assim, muitos mestres e mestras

adentraram nesse campo: aprendi

olhando, aprendi em casa, desde a barriga

Para as crianças brincantes, temos de maneira

intensa as duas acepções do brincar,

muitas vezes imbricadas. Brinca-se

com a fantasia, com outras crianças, com

a sombrinha... Aliás, um adereço-brinquedo

apresentado desde os primeiros passos.

Tem foliã que ainda nem sabe andar,

da minha mãe..., O que revela uma íntima

e longa relação com o universo da cultura

popular. Por agregar música, dança, cores

e movimentos, é comum que as manifestações

artísticas provoquem o interesse de

crianças. Para Jadir de Morais Pessoa (2005),

ao tratar da Folia de Reis em Goiás:

mas sacode sua sombrinha e se remexe

ao som do Frevo. A criança foliã se entrega,

"cai no passo", tenta superar seus próprios

limites, seu ponto de equilíbrio. Por

vezes introspectiva, concentrada nas suas

experimentações, ou para se exibir mesmo:

"olha o que eu faço!". Quando quer

entrar na roda, entra sem cerimônia. E se

não quer... Não ouse obrigar.

O principal combustível do aprendizado

da folia era o encantamento

que ela exercia sobre as crianças e

adolescentes. [...] Aquele conjunto

de vozes, a execução dos instrumentos,

a aura de mistério dos

versos sentidos e das histórias da

crença causavam uma verdadeira


fascinação em muitas crianças. E aí, obviamente, a safra de novos foliões era só uma

questão de tempo. Aprendia-se pela observação e pelo estímulo dos que já exerciam

alguma função no ritual. (PESSOA, 2005, p. 72)

Olhando, imitando, praticando... Elas brincam, aprendem e, inseridas em uma expectativa

geracional, suscitam sentidos de continuidade. O corpo-criança está nas agremiações, em

escolas ou grupos de dança, ou "brincando Carnaval" de forma espontânea. No âmbito da

performance, são comumente vistas como "miniaturas" que executam com primor "coisa

de gente grande" e simbolizam o "futuro da brincadeira" para pessoas adultas.

A criança é "um sujeito ativo em seu próprio mundo social" (PIRES, 2010, p. 151), capaz

de reinventar histórias contadas, compartilhar quereres e sentimentos. Brincantes

crescidos/as, ou seja, que tiveram sua experiência ainda da infância e permanecem

atuando, transitam entre o vivido e o dito, entre lembranças e histórias... Assim, mestras,

mestres e brincantes criam, reproduzem e ressignificam suas brincadeiras, articulam

experiências de outrora e sentimentos de agora, dão continuidade à tradição

familiar ou comunitária.

Enquanto os bens materiais familiares, ligados à posse de objetos, compõem um sentido

de herança baseado no processo de partilha, o sentido de herança cultural se concretiza

no compartilhar, nas recordações abalizadas pela memória individual e coletiva. Não

Freverê: Frevo também é brincadeira de criança


estão apenas no passado, é construção

cotidiana, como afirma a historiadora Carmem

Lélis (2005):

filhas, filhos e pessoas da vizinhança. Zenaide

Bezerra, passista, Patrimônio Vivo

do Recife, é detentora desse legado e

difunde o Frevo entre filhos/as e netos/

Heranças não são lembranças, mas

elementos vivos [...] Temos na cultura

a maior herança em todos os

tempos e para todos os povos, e

as até os dias de hoje. Os depoimentos a

seguir, além de expressarem orgulho, manifestam

legitimidade e revelam tais sentidos

de continuidade:

nas manifestações artísticas os signos

e significados, a emoção e a

razão, existindo em conflito com o

antigo e o novo, mas presente e vital

para o processo de estruturação

e crescimento dos grupos sociais.

Danço Frevo desde menino. Criei

vários passos: peru na chapa quente,

tesoura aérea, todo duro, cortando

jaca [...] (Egídio Bezerra - o

Rei do Passo) 08 .

(LÉLIS, 2005, p. 3)

A família Bezerra é um exemplo vivo de

memória e continuidade por meio das

relações cotidianas. No final da década

de 1950, Egídio Bezerra criou o primeiro

grupo de passistas de Frevo, formado por

A gente aprendeu a dançar ele colocando

a gente em cima dos pés

dele... A gente agarrava nas pernas

dele e ele saía, pronto, aí meu pai

fazia isso. Tudo que eu sei foi meu

pai que ensinou, a gente aprende


da raiz mesmo, aqui de dentro, e daqui eu passo pros meninos (Zenaide Bezerra -

filha de Egídio Bezerra) 09 .

Que eu me lembre, a gente começava a dançar vendo a minha mãe ensaiando com

os irmãos, com o povo vizinho, com o povo da família. Nem me lembro como começou,

na barriga da minha mãe, a gente já dançava. (Genilson Bezerra, filho de

Zenaide Bezerra) 10 .

Eu tinha uns seis anos por aí, ou sete [...] Foi aqui na casa da minha avó, meu pai também

foi me ensinando... Hoje eu danço Frevo, coco, xaxado e toco. Toco percussão,

cavaquinho, toco violão. (Glauber Oliveira, filho de Genilson Bezerra) 11 .

Estes exemplos mostram práticas transmitidas ao longo de quatro gerações, um saber familiar

compartilhado em casa, conhecimento constituído no cotidiano, em momentos de

encontro e aprendizado. Ainda que o domínio do ensino e das decisões esteja na geração

mais velha, adultos e crianças brincam juntos, o que fortalece o sentimento de pertencimento

e a transmissão de saberes.

A visão de quem olha de fora nem sempre registra ou reconhece um método de ensino-

-aprendizado, mas os adultos inserem as crianças no universo da cultura popular desde

cedo. Penso que seja mais um ensinamento de mestres e mestras: deixar fluir e diminuir

Freverê: Frevo também é brincadeira de criança


as fronteiras entre o que é "coisa de adulto"

ou "coisa de criança", de criar maneiras

menos sistemáticas/formais e mais eficazes

de transmissão de saberes.

O Frevo-criança segue crescendo... Ainda

não aprendeu sobre gêneros ou classificações.

É de bloco ou de rua? É dança ou

música? É abafo ou ventania...? Pouco importa

ao Frevo-menino, que se preenche

desse som, transborda em movimento, é

inteiro na sua mais bela e pura essência.






















NICOLE

COSTA

O FREVO E AS

ARTES VISUAIS:

UMA RELAÇÃO

INDISSOCIÁVEL

A multidão, literalmente, ferve. Fantasiados, com indumentárias cuidadosamente escolhidas

ao longo do ano, ou com vestimentas improvisadas, mostrando outras personas, as

quais nos servem durante o Carnaval. Aqueles que não têm fantasias, igualmente, dançam,

pulam, cantam. Só de olhar dá para sentir o calor, estão fervendo - e dizem "o povo freve!",

logo, "olha o Frevo!". Quando se ia unir o Frevo à visualidade se, desde o surgimento desta

expressão cultural e da palavra que lhe dá nome, já estão indissociados?

Frevo, corruptela do "fervo", palavra que se utilizou para definir este conjunto de pessoas,

música, dança, imagem da ebulição que é o Frevo, até hoje. Frevo e artes visuais estão,

desde os inícios, inseparavelmente unidos. Também assim observa o "Dossiê do Frevo" 12 ,

quando menciona os elementos artísticos presentes, sempre, no Frevo. Tais componentes

artísticos vão dos estandartes e flabelos e sua cuidadosa confecção - até hoje repleta de

O Frevo e as artes visuais: uma relação indissociável


para que as visualidades que perpassam o

Frevo estivessem presentes, por exemplo,

na exposição Patrimônios Periféricos, realizada

pelo Paço do Frevo em 2022. Penso

numa Badia (Maria de Lourdes da Silva,

1915-1991), mobilizando contatos e angariando

fundos para a realização de evenelementos

visuais heráldicos - às fantasias

que personificam as identidades temporárias

assumidas durante o Carnaval, em

atos performativos dos corpos insurgentes

que dançam lutando ou que ocupam

lugares jamais pensados, como os de rainhas

e reis 13 . Ambos os elementos visuais,

as fantasias e os estandartes e flabelos,

são mencionados no Dossiê - que tam-

aqueles realizados pelos caricaturistas e

desenhistas que ilustravam as páginas dos

jornais pernambucanos entre os finais do

século XIX e os inícios do XX. Assim, seja

na própria experiência do que é Frevo

(nas fantasias, estandartes e flabelos, por

exemplo), ou nas diversas representações

de sua trajetória secular, é evidente a estreita

relação entre artes visuais e Frevo.

bém destaca a sua elaboração atenta e

cuidadosa, seja individual, seja coletivamente,

sendo, portanto, a visualidade um

importante marcador distintivo do Frevo.

Desses calorosos inícios até aqui, o povo

continua fervendo (ainda bem) e, penso

eu, as relações com as artes só se ampliam.

Muitos foram os que colaboraram

É possível arriscar, nessa linha histórica

das referências entre o Frevo e as artes

visuais, as gravuras de Jean-Baptiste Debret

como um dos primeiros registros

imagéticos que se poderia ligar ao Frevo

- por mostrarem o "Entrudo" no século

XIX. Outros desses primeiros registros são


tos carnavalescos, ou concentradíssima em sua casa, costurando detalhes cuidadosamente

pensados por ela para integrarem as indumentárias do Bola de Ouro ou do Pão Duro 14 .

Outra referência imagética vem de Bajado "Um Artista de Olinda" (Euclides Francisco

Amâncio, 1912-1996), como assinava suas pinturas. Bajado, olhando atentamente de sua

janela em Olinda acompanhava as multidões levadas pela Pitombeira, pelo Elefante e

por tantas outras agremiações e, com referenciais da linguagem simples e direta da publicidade,

as colocava em suas obras. Pinturas ditas "naif" por alguns, mas profundamente

"pops": se observarmos atentamente, talvez Bajado tenha sido um dos mais emblemáticos

representantes da pop art no Brasil.

Construídas por décadas, as referências do Frevo para as artes visuais perpassam a produção

de artistas de diferentes gerações, vinculados, muitas vezes, a movimentos artísticos

que procuravam nos anônimos das camadas populares suas expressões de luta e resistência.

Neste sentido, os trabalhos de Abelardo da Hora (1924-2014) se constituem, por

um lado, como produções engajadas no fomento às críticas sociais e, noutra via, como

registros da cultura popular pernambucana. Abelardo, pensando que fazer uma ou duas

imagens do carnaval era pouco, juntou uma coleção inteira de representações carnavalescas

no emblemático álbum Danças Brasileiras de Carnaval (1962) e, assim, retratou não

só o Frevo, mas várias manifestações ligadas ao ciclo carnavalesco, como os caboclinhos

e os maracatus.

O Frevo e as artes visuais: uma relação indissociável


Ladeando produções como as de Abelardo,

é fundamental lembrar as colaborações

de Wilton de Souza (1933-2020)

para a construção imagética com e sobre

o Frevo. As produções de Wilton,

feitas para dezenas de capas da Fábrica

de Discos Rozenblit, configuram um

conjunto que reflete os paradigmas estéticos

e comerciais de sua época, mas

também conformam um modo de ver o

Frevo - e de transmiti-lo aos consumidores

destas produções fonográficas.

As capas de discos de Frevo - que não

pinturas cujos personagens marcantes

estão, ainda hoje, no imaginário de muitos

pernambucanos. Também é possível

ver as relações diretas tecidas entre o Frevo

e as artes visuais nas pinturas de Lula

Cardoso Ayres (1910-1987) - que realizou,

ainda, registros fotográficos de outras

manifestações da cultura popular. As visualidades

do Frevo foram, também, eternizadas

em cenas das xilogravuras de diversos

carnavais pernambucanos, seja do

interior, seja do Recife, feitas por J. Borges

(José Francisco Borges, 1935).

tinham nenhum cuidado estético antes

de Wilton - passaram a ter uma "embalagem"

planejada esteticamente, num

feito inédito até o momento 15 .

Linguagens da arte contemporânea têm

expressado o Frevo em diversos suportes,

como a intervenção em arte urbana do

Wellington Virgolino (1929-1988), irmão

de Wilton de Souza, por sua vez, também

criou mundos a partir do Carnaval, em

Coletivo Vacilante na Escola de Frevo Maestro

Fernando Borges, como parte das

propostas do Carnaval 2017 do Recife. Os

artistas utilizaram nesta intervenção de


uma estética que caminha entre o graffiti

- com uso de imagens e estênceis - e

protagonizada por Rebeca Gondim: ContraMola:

memórias insurgentes 17 (2021)

traz passos de Frevo numa ação artística

que nos coloca questões sobre as censuras

do nosso passado recente e os silenciamentos

e criminalizações atuais.

a pixação, como se podia ver na palavra

"Frevo", presente na obra e escrita com o

uso de tag reto. Também neste ano, num

marco do diálogo do Frevo com práticas

contemporâneas, outros artistas do graffiti

realizaram intervenções na cidade do

Recife: Galo de Souza, Manuel Quitério,

Karina, Adelson Boris e Jota Zeroff 16 .

Faz que Vai (2015), realizado por Bárbara

Wagner e Benjamin de Burca, menciona,

já em seu título, um passo de Frevo. Este

trabalho traz Edson Vogue como um dos

protagonistas de uma performance que

agrega, além do Frevo, o voguing. Edson

Vogue desenvolve pesquisas entre o Frevo

e o voguing, além de imprimir em seu trabalho

questões ligadas a gênero e negritude,

fundamentais para o Frevo - e para

a percepção de que a produção artística

relacionada ao Frevo possui, também, papel

crítico e propositivo para a sociedade.

Noutros trabalhos recentes também se

evidenciam as histórias das lutas e das

camadas populares presentes no Frevo, e

visíveis em seus registros visuais. É o caso

das imagens de uma pesquisa do Coletivo

Saída de Emergência, em performance

Neste breve percurso, evidenciei como o

Frevo foi (e ainda é) referência para produções

das artes visuais pernambucanas.

Noutra via, vê-se como, através dos

O Frevo e as artes visuais: uma relação indissociável


registros imagéticos do Frevo podemos,

também, falar da história da arte brasileira.

Finalizo ressaltando que, sobretudo,

pode-se perceber no repertório visual do

Frevo como as populações marginalizadas

que o criam e o fazem permanecer

se constituem como referências para resistências

críticas, festivas e fundamentais,

sempre. Pela natureza sintética deste

brevíssimo percurso, incorro em inúmeras

ausências. Porém, espero que sejam

realizados, além de novas pesquisas e exposições

sobre o assunto, registros dessas

memórias da arte pernambucana através

do Frevo. Na ocasião dos lançamentos,

por favor, convidem-me, não quero perder

esse fervo de jeito nenhum.


































JOSÉ TELES

AUTORES

José Teles é escritor e jornalista. Como escritor, tem uma

obra de mais de 40 livros. Especificamente no campo da

música, é autor de: Do Frevo ao manguebeat (2000); O

Frevo Rumo à Modernidade (2007); Lá Vem os Violados

(2012); Cuma é o nome dele? Biografia do embolador

Manezinho Araújo (2014); O Frevo-gravado - de Borboleta

não é ave a Passo de anjo (2015); A Voz do Frevo,

biografia de Claudionor Germano (2016); Da lama ao

caos - que som é esse que vem de Pernambuco? (2019);

e O Malungo Chico (Editora Bagaço), biografia paradidática

sobre Chico Science. Como jornalista, manteve por

mais de 30 anos uma coluna sobre música no Jornal do

Commercio, do Recife, e colaborou com jornais e revistas

pelo Brasil. Além disso, escreveu cadernos especiais sobre

Frevo e manguebeat para o Jornal do Commercio e para a

revista Continente, e participou de vários livros coletivos,

a exemplo de Frevo 100 anos de folia (2007).

jozeteles@gmail.com

EDUARDO SARMENTO

Historiador da Universidade Federal Rural de Pernambuco

(UFRPE), especialista em História das Artes pela

Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e

em Gestão Cultural (UFRPE/FUNDAJ/MINC), mestre

e doutor em Antropologia (UFPE). Atualmente, realiza

pesquisa, como pós-doutorando, no Departamento de

Antropologia e Museologia-DAM/UFPE. Faz parte, na

condição de conselheiro, do Conselho Internacional de

Museus-ICOM-Br, do Comitê de Pesquisa e Inovação -

Museu da Língua Portuguesa - SP, da Associação Respeita

Januário-ARJ, além de participar, como membro pesquisador,

do Laboratório de Estudos Avançados em Cultura

Contemporânea-LEC e Observatório de Museus e Patri-

mônios - OBSERVAMUS, vinculados ao Departamento

de Antropologia e Museologia-DAM/UFPE. Tem experiência,

de vinte anos, na área de Gestão de Equipamentos

Culturais, Patrimônio Cultural, Museologia e Gestão de

Políticas Culturais. Ocupou o cargo de gerente do Centro

de Formação, Pesquisa e Memória Cultural - Casa do

Carnaval e de assistente da Gerência de Preservação do

Patrimônio Cultural Imaterial (Prefeitura do Recife, 2002

a 2009); coordenador de Patrimônio Imaterial (Fundarpe,

2009 a 2013); gerente de conteúdo e gerente geral do

Paço do Frevo/IDG (2013 a 2018).

eduardopsarmento@gmail.com

MÁRIO RIBEIRO

Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco

(UFPE), docente da graduação e pós-graduação da

Universidade de Pernambuco (UPE) e do Programa de

Pós-graduação em História da Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE). Na sua trajetória, possui autoria e

organização de eventos e de alguns livros nas áreas de

Patrimônio Cultural, festas, ensino de história e cultura

afro-brasileira. Atuou como gestor do Centro de Formação,

Pesquisa e Memória Cultural Casa do Carnaval (2010-

2014) e na coordenação de conteúdo do Museu Cais do

Sertão (2014-2015). Atualmente, está na coordenação do

Projeto de criação do Memorial Yalorixá Helena de Freitas,

no Ylê Axé Oyá Bery (Recife) e na supervisão do INRC dos

Afoxés de Pernambuco (UAPE/ Funcultura).

mario.santos@upe.br

AUTORES


281

REBECA GONDIM

É passista de Frevo, pesquisadora e professora de dança.

Integrante da COLETIVA, do Coletivo Encruzilhada e Coletivo

Saída de Emergência. Possui graduação em Licenciatura

em Dança pela Universidade Federal de Pernambuco

(UFPE), e é especialista em Estudos Contemporâneos em

Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

beca.m.gondim@gmail.com

CARMEM LÉLIS

Somando muitos anos de pesquisa, dedicação e parceria

com artistas e brincantes da Cultura Popular, a historiadora

Carmem Lélis atua na defesa dos saberes ancestrais

desses fazedores, como política pública. Tendo ocupado

diversos cargos nos últimos 30 anos, na área de Documentação

e Formação Cultural da Secretaria de Cultura

e Fundação de Cultura Cidade do Recife, coordenou os

projetos de patrimonialização do Frevo junto ao IPHAN e

à Unesco, em 2007 e 2010, quando gestora de Patrimônio

Imaterial da Cidade do Recife. Tem livros e artigos publicados

sobre cultura e história, além de assinar diversas

curadorias de exposições sobre manifestações da Cultura

Pernambucana. Atualmente está Assessora Técnica de Políticas

Culturais da Secretaria de Cultura do Recife.

mclelis@hotmail.com

JEFFERSON FIGUEIRÊDO

É passista de Frevo e artista-docente-pesquisador em

dança. Foi aluno do Mestre Nascimento do Passo e da Escola

de Frevo do Recife. Desenvolve pesquisa acerca da

dança Frevo e seus atravessamentos. Atua como intérprete-criador

de forma independente, e, desde 2008 integra

a Cia. de Dança Artefolia. É doutorando pelo PPGDança/

UFBA, mestre em Dança e especialista em Estudos Contemporâneos

em Dança pela Universidade Federal da

Bahia (UFBA); especialista em Dança Educacional e Inclusão

(CENSUPEG); licenciado em Dança pela Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE). Foi coordenador de dança

no museu Paço do Frevo (2021) e atualmente é professor

substituto no curso de graduação em Dança da UFPE.

jeffersoneliasdefigueiredo18@gmail.com

JULIO VILA NOVA

Doutor em Linguística (UFPE) e professor do Departamento

de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco

(UFRPE). Estudou no Centro de Criatividade

Musical do Recife, na segunda metade dos anos 1980, e

é cofundador do Bloco Carnavalesco Lírico Cordas e Retalhos

(1998), onde também atua na orquestra, como violonista.

É folião recifense, morando em Olinda. É membro

do Instituto Brasileiro do Frevo, criado em 2022. Publicou,

pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, o livro Panorama

de Folião - o Carnaval de Pernambuco na Voz dos

Blocos Líricos (2007).

juliovnova71@gmail.com


AMILCAR BEZERRA

É coordenador do Programa de Pós-Graduação em

Música da Universidade Federal de Pernambuco

(UFPE) e coautor do livro Evoluções! Histórias de bloco

e de saudade (Bagaço, 2006). Recentemente, integrou

a equipe de pesquisadores do Inventário Nacional

das Matrizes Tradicionais do Forró (2019-2021) e

participou do conselho consultivo para a candidatura

do Recife a Cidade Criativa na área de música pela

UNESCO (2022). É crooner da banda de Frevo elétrica

do cordão carnavalesco "Quero Ver Quem Vai" (instagram.com/queroverquemvai).

VALÉRIA VICENTE

É passista, artista e pesquisadora em dança. Doutora em

Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

com graduação em Comunicação (UFPE), fundou o Acervo

Recordança e atua em projetos de pesquisa e criação

artística, tendo seis livros publicados. É professora da Universidade

Federal da Paraíba (UFPB), onde atua através do

grupo de pesquisa Cosmover: dança em perspectivas pluriepistêmicas.

Atualmente facilita encontros e atividades

artísticas com o Coletivo Pé de Frevo.

avrv@academico.ufpb.br

amilcar.almeida@ufpe.br

INALDO SPOK CAVALCANTE

DE ALBUQUERQUE

Natural de Igarassu, começou na música aos 13 anos.

É um dos fundadores e diretor musical da SpokFrevo

Orquestra e membro da Academia Pernambucana de

Música, na cadeira de Nelson Ferreira. É idealizador e

coprodutor dos filmes: Sete Corações e Orquestrão - A

maior Orquestra de Frevo do Mundo, que há 15 anos

encerra o Carnaval do Recife; coprodutor e protagonista

do filme documentário Do Frevo ao jazz. Foi o

homenageado do Carnaval do Recife em 2015. Em

2016, fundou o Instituto Passo de Anjo. É músico da

Banda Sinfônica do Recife.

spokFrevosax@gmail.com

LEILANE NASCIMENTO

É brincante, coreógrafa, mestra em Antropologia e bordadeira.

Coordenou o Educativo do Paço do Frevo, atuou

como pesquisadora da Secretaria de Cultura do Recife e

como especialista em Patrimônio Cultural da Fundarpe.

No campo da arte-educação, coordenou os projetos Ser

Criança (extensão/UFPE) e Cultura, um brinquedo de

criança (UNESCO/Capital Brasileira da Cultura). Ministrou

oficinas de formação de arte-educadores/as, idealizou

a Coleção Mestres e mestras do Frevo, voltada para

o público infantil (Paço do Frevo/Funcultura). No campo

do patrimônio, integrou a equipe do Registro do Frevo como

Patrimônio Imaterial do Brasil (submetido e aprovado

pelo IPHAN) e da Inscrição do Frevo na Lista Representativa

do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da

Unesco.

nascimento.leilane@gmail.com

AUTORES


283

NICOLE COSTA

RICARDO PIQUET

É doutora em Antropologia pela Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE); especialista em arte-educação pela

Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); e tem

atuado em museus e instituições culturais desde meados

dos anos 2000. Além de galerosa foliã, atuou no Frevo

como gestora: no Paço do Frevo, foi gerente de conteúdo

(2015-2018) e gerente geral (2019-2021). Desde outubro/2021,

é gestora cultural em Portugal, sendo diretora

do Museu José Malhoa, do Museu da Cerâmica e do Museu

Dr. Joaquim Manso. Atualmente está morrendo de saudades

de frevar na rua.

nicolecosh@gmail.com

LUCIANA FÉLIX

É gestora do Paço do Frevo desde 2021. Formada em Direito

pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

e Administração pela Universidade Católica de Pernambuco

(Unicap), tem pós-graduação em Gestão Pública e

está se especializando em Gestão de Pessoas e Líderes

Socialmente Responsáveis. Profissional com experiência

no setor público há 19 anos. Trabalhou em diversas secretarias

na Prefeitura do Recife e no Governo de Pernambuco.

Presidiu a Fundação de Cultura Cidade do

Recife nos anos de 2009 a 2012. É produtora cultural e

empreendedora social.

Engenheiro, pós-graduado em planejamento, inovação e

sustentabilidade, marketing e mestre em Administração

pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atua há mais de 20

anos como executivo e empreendedor do terceiro setor.

Gestor nas áreas de cultura, educação e meio ambiente,

integrou as equipes responsáveis pela implantação de importantes

centros culturais no Brasil, tais como o Museu da

Língua Portuguesa (SP) e o Museu do Futebol (SP). Passou

por instituições como Vale e Fundação Roberto Marinho.

Foi conselheiro do Porto Digital, no Recife, do Instituto Tecnológico

Vale e da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Está à frente da presidência do Instituto de Desenvolvimento

e Gestão - IDG desde a sua fundação, em 2013, onde

gerencia projetos relevantes pelo Brasil, como o Museu do

Amanhã (RJ), Paço do Frevo (PE), projeto Cais do Valongo

(RJ), Memorial do Holocausto (RJ), Museu das Favelas (SP)

e o Forte Nossa Senhora dos Remédios, em Fernando de

Noronha (PE). Integra o conselho internacional Museum

for the UN - UN Live, da ONU, e o comitê diretivo do Futures-Oriented

Museum Synergies (FORMS); o Conselho da

Cidade do Rio de Janeiro; o do Instituto Tom Jobim; e do

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável (CEBDS). Atua, também, como conselheiro da

MOTI Foundation (Amsterdam) e do Centro Brasileiro de

Relações Internacionais (CEBRI).

ricardo.piquet@idg.org.br

luciana.felix@idg.org.br




NOTAS

01 Parte desta escrita foi retirada do artigo "Virada

no Mói de Coentro" que escrevi como trabalho

de conclusão de curso da Especialização em

Estudos Contemporâneos em Dança. O trabalho foi

apresentado ao programa de pós-graduação Escola

de Dança, da Universidade Federal da Bahia, 2021, e

orientado pelo Prof. Dr. Fernando Ferraz.

02 Disponível em https://ich.unesco.org/en/RL/

Frevo-performing-arts-of-the-carnival-of-recife-00603

[acesso em 25 out. 2022)

03 Disponível em: https://clubedaspas1888.com.br/

biografia [acesso em 30 out. 2022)

04 Publicação da Prefeitura do Recife no carnaval de

1987, por ocasião do 450º aniversário da cidade (Em

Pernambuco. História do Carnaval - Séculos XIX e XX.

CD-Rom História do Carnaval - Séculos XIX e XX, 2009.)

05 Disponível em http://urbecarioca.com.br/artigoempatando-tua-vista-humor-e-irreverencia-paracriticar-a-verticalizacao-excessiva-nas-cidades-deedinea-alcantara/

[acesso em 26 out. 2022>

06 https://soundcloud.com/leepesaka

07 Martins, Lêda.

08 Em entrevista a Ney Lopes de Souza, Carnaval de

1967 (AMORIM, 2008: 51).

09 Depoimento registrado por mim para o inventário e

dossiê Frevo: Patrimônio Imaterial do Brasil (2006).

10 Depoimento registrado por mim, Carmem Lélis e

Hugo Menezes para publicação do livro Zenaide Bezerra:

no passo da vida... são dois pra lá, dois pra cá (2011).

11 Ibdem.

12 Vide a seção "Aspectos Visuais" no IPHAN (2017).

Dossiê Interpretativo do Frevo. Disponível em: http://

portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/

DossieIphan14_Frevo_web.pdf [Acesso em: 3 ago. 2021].

13 Para refletir sobre estas identidades temporárias,

sugiro uma olhada em BAHKTIN, Mikhail. A Cultura

Popular na Idade Média e Renascimento: o contexto de

François Rabelais. São Paulo: Editora Hucitec, Editora

Universidade de Brasília, 1987.

14 Uma breve biografia de Badia pode ser encontrada

em Enciclopédia negra. GOMES, Flávio dos Santos;

LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. São Paulo :

Companhia das Letras, 1ed., 2021.

15 Paula Valadares realizou um denso e fundamental

trabalho sobre o design e as capas da Rozenblit:

VALADARES, P. V. R. "O Frevo nos discos da Rozenblit:

um olhar de designer sobre a representação da

indústria cultural". 2007. Dissertação (Mestrado).

Programa de Pós-Graduação em Design, Universidade

Federal de Pernambuco, Recife, 2007. Disponível em:

https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3367

[Acesso: 31 out. 2022].

16 Para adensar mais sobre as artes urbanas em

Pernambuco, bem como para ver imagens das obras

citadas, pode-se ver minha tese - que trata sobre as

relações entre graffiti e políticas públicas: COSTA, N.

N. M. "A rua respira arte!: uma antropologia do Graffiti".

2017. Tese (Doutorado em Antropologia) - Universidade

Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em:

https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38759

[Acesso: 31 out. 2022].

17 O vídeo pode ser acessado no Youtube: Contramola:

Memórias Insurgentes. Disponível em: https://www.youtube.

com/watch?v=W7Wirg0WVOc [Acesso: 31 out. 2022].

NOTAS


287

LEGENDAS

POR ORDEM DE APARIÇÃO:

01 30 / 12 / 2016 - Sombrinha de frevo e fachada

da sede do Paço do Frevo - Museu

e centro de referência em salvaguarda do

frevo. Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Bruna

Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

02 Badia. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.

03 Joana Batista Ramos. Crédito:

Acervo Casa do Carnaval.

04 Dona Santa. Foto: Lula Cardoso Ayres

/ Acervo Fundação Joaquim Nabuco

- Ministério da Educação.

05 12 / 02 / 2018 - Calunga de Maracatu na Noite dos

Tambores Silenciosos. Foto: Ricardo Labastier

/ Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

06 20 / 01 / 2015 - Terça negra Especial

do Carnaval 2015. Foto: Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

07 22 / 02 / 2019 - Prévias do Carnaval do Recife

2019. Acerto de Marcha de Blocos Líricos no

Pátio de São Pedro. Foto: Sérgio Bernardo /

Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

08 20 / 01 / 2015 - Terça negra Especial

do carnaval 2015. Foto: Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

09 10 / 02 / 2018 - Foliões no Recife Antigo.

Foto: Ricardo Labastier / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

10 20 / 02 / 20 - Ubuntu Encontro de Afoxés.

Foto: Camila Leão / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

11 28 / 02 / 2019 - Prévias do Carnaval do Recife

2019. Ubuntu, Encontro de Afoxés com a

lavagem da Avenida Rio Branco e celebração

no Marco Zero do Recife. Foto: Sérgio Bernardo

/ Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

12 Bloco Lírico O Bonde - Troca de flabelo 2014.

Foto: Eduardo Araújo / Acervo Paço do Frevo.

13 Capoeirista. Crédito: Coleção Concurso

de Fotografias / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

14 Passista Nascimento do Passo. Crédito:

Acervo Fundação Joaquim Nabuco

- Ministério da Educação.

15 Egídio Bezerra, o rei do passo, dançando no Iate

Clube. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

16 Homem fazendo o passo com guarda-chuva.

Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

17 Famoso passista “Coruja”, dançando no Clube

Português. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

18 Emilayne Gomes Rainha do Carnaval.

Foto: Alison Matias.

19 Goretti Caminha, integrante do Bloco Carnavalesco

Misto Pierrot de São José, agremiação que é

Patrimônio Vivo da Cidade do Recife. Foto: Ignus.

20 Zenaide Bezerra, Patrimônio Vivo da Cidade

do Recife e líder do Grupo Folclórico

Egídio Bezerra. Foto: Ignus.


21 Troça Carnavalesca Pitombeira dos Quatro

Cantos, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

22 Costureira na Sede do Clube Carnavalesco Misto

Bola de Ouro. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.

23 19.01.18 - Eliminátória de Rei e Rainha do

Carnaval. Foto: Bruno Campos / Acervo

Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

24 26.01.18 - Final do Concurso de Rei e Rainha

do Carnaval. Foto: Bruno Campos / Acervo

Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

25 Porta Estandarte da Troça Cachorro do Homem

Miúdo. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

26 TCM Abanadores do Arruda. Foto: Katarina

Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

27 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

28 Desfile da Troça Destemido de Campo Grande.

Foto: Katarina Real / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

29 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado

em 1907 e expoente do carnaval da Zona da

Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.

30 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado

em 1907 e expoente do carnaval da Zona da

Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.

31 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

32 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

33 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

34 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

35 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

36 05 / 11 / 2017 - Arrastão no Dia do Frevo de Bloco

com maestro Marco César e coral Edgard Moraes.

Foto: Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.

37 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

38 Foto: Brenda Alcântara / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

39 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

40 2002 - Desfile do Bloco da Saudade no

Marco Zero do Recife-PE. 2002. Crédito:

Acervo Casa do Carnaval.

41 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

42 28 / 01 / 2018 - Roda de Frevo com o Maestro

Spok. Foto: Luiz Henrique Santos.

43 Arrastão Pitombeirinha, Recife Antigo, Recife-PE.

Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

44 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado

em 1907 e expoente do carnaval da Zona da

Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.

LEGENDAS


289

45 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical

Henrique Dias, fundado em 1954, localizado

nos Quatro Cantos, Sítio Histórico

de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.

46 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.

47 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.

48 Arrastão Pitombeirinha, Recife Antigo, Recife-PE.

Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.

49 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.

50 Cortejo da Troça John Travolta. Foto: Hugo Muniz.

51 Trote do Elefante. Desfile da Troça Elefante

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

52 09 / 02 / 20 - Arrastão Pitombeira dos Quatro

Cantos, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

53 Multidão no Carnaval 2003. Crédito:

Acervo Casa do Carnaval.

54 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.

55 14 / 02 / 2015 - Saída do Home da Maia

Noite, Olinda-PE. Foto: Eric Gomes.

56 22 / 10 / 2022 - Lula em Bloco, Olinda-PE.

Foto: Hugo Muniz.

57 22 / 10 / 2022 - Lula em Bloco, Olinda-PE.

Foto: Hugo Muniz.

58 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

59 Foliões acompanhando a Frevioca

no Carnaval de 1990, Recife-PE. Crédito:

Acervo Casa do Carnaval.

60 Foliões acompanhando a Frevioca no Carnaval

de 1987, Recife-PE. Crédito: Casa do Carnaval

61 Frevioca na rua da Concórdia durante desfile do

Galo da Madrugada. Carnaval de 1990, Recife-

-PE. Casa do Carnaval / Leonardo Guedes.

62 Praça Sérgio Lorêto e Av. Dantas Barreto

no centro do Recife durante desfile

do Galo da Madrugada. Carnaval de 2013,

Recife-PE. Foto: Marcos Pastich / Acervo

Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

63 02 / 03 / 2019 - Galo da Madrugada.

Foto: Sérgio Bernardo / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

64 Foto: Alexandre Berzin / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

65 Crédito: Alexandre Berzin / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.

66 Foto: Lexandre Berzin / Acervo Fundação

Joaquim Nambuco - Ministério da Educação

67 Foto: Alexandre Berzin / Acervo Fundação

Joaquim Nabuco - Ministério da Educação

68 30 / 12 / 2016 - Passista em frente a sede do Paço

do Frevo durante o evento Hora do Frevo Especial:

Spok Quinteto- Museu e centro de referência

em salvaguarda do frevo. Recife Antigo, Recife-

-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.


69 09 02 2018 - Aniversário do paço do Frevo

e Roda de Frevo com Maestro Spok. Foto:

Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.

70 09 / 10 / 2022 - Mestre Wilson no Arrastão

do frevo com Pitombeirinha, evento promovido

pelo Paço do Frevo. Praça do Praça

do Arsenal, Recife Antigo, Recife-PE. Foto:

Hugo Muniz / Acervo Paço do Frevo.

71 14 / 02 / 2015 - Foliões no Recife Antigo.

Foto: Marcelo Lacerda / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

72 19 / 02 / 2015 - Carnaval 2015. Passista no

palco do Marco Zero durante apresentação do

Orquetrão do Maestro Spok. Foto: Leo Motta.

73 24 / 01 / 2015 - Concurso de passistas.

Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

74 24 / 01 / 2015 - Concurso de passistas.

Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

75 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro

Cantos na abertura de prévias carnavalescas

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

76 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro

Cantos na abertura de prévias carnavalescas

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

77 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro

Cantos na abertura de prévias carnavalescas

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

78 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro

Cantos na abertura de prévias carnavalescas

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

79 30 / 12 / 2016 - Passista em frente a sede do Paço

do Frevo durante o evento Hora do Frevo Especial:

Spok Quinteto- Museu e centro de referência

em salvaguarda do frevo. Recife Antigo, Recife-

-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

80 24 08 2018 - Hora do Frevo comAmaro Freitas

e Henrique Albino no Paço do Frevo. Fotos:

Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.

81 09 / 02 / 2017 - Maestro e compositor Ademir

Souza Araújo, o Maestro Formiga, na sede do

Paço do frevo durante evento de comemoração

dos 110 anos de frevo e 03 anos de Paço do frevo.

Foto: Anderson Stevens / Acervo Paço do frevo.

82 25 / 02 / 2017 - Nena Queiroga. Foto: Jedson Nobre

/ Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

83 15 / 02 / 2015 - Carnaval 2015. Ed Carlos no Polo

Linha do Tiro, Recife-PE. Foto: Lú Streithost /

Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.

84 21 / 10 / 2028 - Fábrica de Frevo com a multiartista

Maria Flor no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto:

Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.

85 01 / 03 / 2014 - Maestro Forró faz show

no palco do Marco Zero do Recife durante

o Carnaval 2014. Foto: Eric Gomes.

86 25 / 10 / 2014 - Turnê EUA 2014. Spok Frevo

Orquestra na se apresenta no Jazz

At Lincoln Center, Nova York. Foto: Marcelo

Barreto / Ateliê Produções.

87 Letreiro do concerto da Spok Frevo Orquestra

no Englert Theatre, Iowa City, EUA.

LEGENDAS


291

88 17 / 04 / 2021 - Seu Pedro Sapateiro, porta estandarte

no Clube Carnavalesco Misto Lenhadores

de Olinda, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

89 07 / 02 / 2021 - Porta estandarte Porquinho

em sua casa. Foto: Hugo Muniz.

90 18 / 09 / 2022 - Porta estandartes da troça

Abanadores do Arruda com seu Zacarias

no canto esquerdo. Praça do Arsenal,

Recife-PE. Foto: Hugo Muniz.

91 09 / 10 / 2022 - Arrastão do Frevo com a Pitombeirinha.

Evento promovido pelo Paço do Frevo.

Foto: Hugo Muniz / Acervo Paço do Frevo.

92 Janeiro de 1980 - Baile da Saudade, Clube Português

do Recife. Maestro Zé Menezes recebendo

o troféu de homenagem aos 30 anos de frevo. Na

foto, Leonardo Dantas Silva, maestro e compositor

Capiba, maestro Zé Menezes e deputado

Antônio Correia. Crédito: Coleção Maestro José

Menezes / Centro de Documentação e Memória

Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.

93 13 / 02 / 1972 - Almoço no terceiro dia de carnaval.

Na foto, os maestros Capiba, Nelson Ferreira

e José Menezes. Recife-PE. Crédito: Coleção Maestro

José Menezes / Centro de Documentação e

Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.

94 Na foto, Manoel Gilberto, principal parceiro,

e Claudionor Germano, principal intérprete

do compositor José Menezes (primeiro à

direita). Crédito: Coleção Maestro José Menezes

/ Centro de Documentação e Memória

Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.

95 09 / 02 / 2017 - Cantor e intérprete Claudionor

Germano na sede do Paço do frevo

durante evento de comemoração dos 110 anos

de frevo e 03 anos de Paço do frevo. Foto:

Anderson Stevens / Acervo Paço do frevo.

96 Setembro de 1978 - Orquestra de José Menezes

no 1° Festival Internacional de Jazz,

Parque Anhembi, Palácio das Convenções.

São Paulo-SP. Crédito: Coleção Maestro José

Menezes / Centro de Documentação e Memória

Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.

97 16 / 06 / 1997 - Maestro Duda assume a Banda

da Cidade do Recife. Foto: Maria Eugênia

Roque / Coleção Maestro José Menezes /

Centro de Documentação e Memória Maestro

Guerra-Peixe do Paço do Frevo.

98 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical

Henrique Dias, fundado em 1954, localizado

nos Quatro Cantos, área do Sítio Histórico

de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.

99 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical

Henrique Dias, fundado em 1954, localizado

nos Quatro Cantos, área do Sítio Histórico

de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.

100 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

101 10 / 02 / 2018 - Foliões no Recife Antigo.

Foto: Peu Ricardo / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

102 20 / 12 / 2016 - Evento de encerramento

do Comunidade no Paço na sede

do Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Bruna

Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

103 Foto: Natanael Guedes / Casa do Carnaval.


104 07 / 09 / 2022 - Davi Lucas, passista do

grupo de dança Frevança durante o desfile

da Pitombeira dos Quatro Cantos

em Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

105 Foto: Leonardo Guedes / Casa do Carnaval.

106 30 / 12 / 2016 - Criança em seus primeiros

passos de frevo durante a Hora do Frevo

Especial com Spok Quinteto. Foto: Bruna

Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

107 Passista no Pátio de São Pedro. Foto: Natanael

Guedes / Acervo Casa do Carnaval.

108 16 / 01 / 2021 - Menino da Tarde e A Mulher do Dia

no ateliê do artista plástico e criador de bonecos

Silvio Botelho, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

109 16 / 01 / 2021 - Ateliê do artista plástico

e criador de bonecos Silvio Botelho,

Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

110 Foto: Hugo Muniz.

111 10 / 01 / 2021 - Estandarte da troça Elefante

de Olinda sendo carregado no Largo do

Amparo após cortejo simbólico do boneco

Menino da Tarde durante a pandemia causada

pela COVID-19. Foto: Hugo Muniz.

112 11 / 02 / 2021 - Ensaio fotográfico com o porta-

-estandarte José Luna da troça Pitombeira dos

Quatro Cantos durante o não-carnaval causado

pela pandemia da COVID-19. Foto: Hugo Muniz.

113 16 / 01 / 2021 - Boneco gigante O Fodão nos

Quatro Cantos de Olinda-PE durante a pandemia

causa pela COVID-19. Foto: Hugo Muniz.

114 04 / 12 / 2022 - Desfile da boneca gigante

A Vaidosa nas ladeiras do sítio histórico

de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.

115 16 / 01 / 2021 - Bonecos de Olinda nas ladeiras

do sítio histórico da cidade durante. Na frente,

O Virgem do Guadalupe, de chapéu branco,

O Poderoso Chefão. De branco, O Invejado.

Atrás, O Metido a Rico. Foto: Hugo Muniz.

116 07 / 05 / 2022 - Primeiro cortejo da troça Cariri

Olindense nas ladeiras do sítio histórico de

Olinda-PE após período de isolamento causado

pela pandemia da COVID-19. Foto: Hugo Muniz.

117 23 / 02 / 2020 - O Velho Cariri, personagem

da troça Cariri Olindense, desfilando

nas ladeiras do sítio histórico de Olinda-PE

durante o carnaval 2020. Foto: Hugo Muniz.

118 20 / 12 / 2016 - Visita ao Paço do Frevo com

as comunidades do Peixotinho, Chié e Pilar.

Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

119 25 / 07 / 2017 - Visita do Projeto Tocando

a Vida, Itapissuma-PE. Foto: Luiz Henrique

Santos / Acervo Paço do Frevo.

120 14 / 12 / 2017 - Curso: O Frevo e a Guitarra

Elétrica com professor e guitarrista Renato

Bandeira no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto:

Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.

121 07 / 11 / 2017 - Curso Técnicas de Solfejo

com o maestro Edson Rodrigues no

Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique

Santos / Acervo Paço do Frevo.

LEGENDAS


293

122 19 / 04 / 2018 - Curso Frevo Cinquentão

com o professor e dançarino Otávio Bastos

no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz

Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.

123 07 / 05 / 2019 - Escola de Dança - Visita dos

estudantes do curso de Licenciatura em Dança

da UFPB ao Paço do Frevo (com Daniela Santos,

Júnior Viégas e Otávio Bastos), Recife-PE.

Foto: Patrícia Freitas / Acervo Paço do Frevo.

124 06 / 07 / 2019 - Vivência de Dança - “Andar

Junto”, com Flaira Ferro no Paço

do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique

Santos / Acervo Paço do Frevo.

125 Zenaide Bezerra, Patrimônio Vivo da Cidade

do Recife e líder do Grupo Folclórico

Egídio Bezerra. Foto: Ignus.

126 Adriana Frevo, passista de Frevo e professora

da Companhia Brasil por Dança, dando

aula no Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas

de Olinda. Foto: Marina Domar

131 Pintura do Carnaval - Júlio Holanda

(1998). Crédito: Acervo Júlio Holanda.

132 Croqui Bloco da Saudade 2004. Crédito:

Carlos Ivan - Acervo Bloco da Saudade.

133 17 / 12 / 2016 - Mostra-processo: encerramento

dos cursos 2016.2 do Paço. Apresentações

de Canto Coral e Prática de Orquestra

no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto:

Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.

134 Conjunto de Passistas de Frevo 1965 - Danças

Brasileiras de Carnaval de Abelardo da

Hora - ACERVO Memorial Abelardo da Hora.

135 CAPAS DE DISCO: Acervo Fundação Joaquim

Nabuco - Ministério da Educação.

136 Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura

da Cidade do Recife-PE.

127 19 / 04 / 2018 - Curso Frevo Cinquentão

com o professor e dançarino Otávio Bastos

no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz

Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.

128 06 / 07 / 2019 - Vivência de Dança - “Andar Junto”,

com Flaira Ferro no Paço do Frevo, Recife-PE.

Fotos: Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.

129 Carnaval 2011. Decoração das ruas do Recife

pela artista Joana Lira. Nesta foto, detalhe da

ponte Duarte Coelho, Bairro de Santo Antônio,

centro do Recife-PE. Foto: Tiago Lubambo.

130 Carnavalescos nas Ruas (1979) - Wilton

de Souza - Acervo Wilton de Souza.


REFERÊNCIAS

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IMATERIAL DA HUMANIDADE E PATRIMÔNIO

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PIRES, F. O que as crianças podem fazer pela

antropologia?. Horizontes Antropológicos, Porto

Alegre, ano 16, n. 34, pp. 137-157, jul./dez. 2010.


COORDENAÇÃO EDITORIAL

GEISA AGRICIO

ORGANIZAÇÃO DE TEXTOS

JOSÉ TELES

PREFEITURA DO RECIFE

Prefeito João Campos

Vice-prefeita Isabella de Roldão

Secretário de Cultura e Presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife

Ricardo Mello

CURADORIA DE IMAGENS

ERIC GOMES

CAPA, PRODUÇÃO GRÁFICA E DIAGRAMAÇÃO

PEDRO ALB XAVIER

IDG - INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO

Diretor Presidente Ricardo Piquet

Diretora IDG Pernambuco Luciana Félix

Diretora de Negócios e Parcerias Julianna Guimarães

Diretora de Governança e Gestão Simone Rovigati

REVISÃO DE TEXTOS

NATÁLIA DANTAS

SELEÇÃO DE AUTORES

LUIZ SANTOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO IDG

Presidente Regina Márcia Nunes Gaudêncio

Roberto Souza Leão Veiga | Ana Lucia Poças Zambelli | Suzana Kahn Ribeiro |

Danielle Gomes de Almeida Valois | Luis Gustavo Costa Araújo | Márcia Pimentel |

Carneiro | Joseph Brais Júnior | José Renato Rodrigues Ponte

PRODUÇÃO

NAARA SANTOS

CONSELHO FISCAL DO IDG

Presidente Renato Sobral Pires Chaves

Luiz Félix de Freitas | Wander Moreira da Silva

GERÊNCIAS E LIDERANÇAS IDG

Administrativo e Financeiro Ana Paula Maia

Assessoria Executiva da Presidência Luciana De Lamare

Compliance e Riscos Márcia Carneiro

Conteúdo e Exposições Marina Piquet

Contabilidade Patrícia Martins


Departamento Pessoal Uanes Teles

Jurídico Bruna Martins

Operações e Tecnologia Jorge Varella

Orçamento e Custos Alexandra Taboni Massa

Patrocínio e Comercial Daniel Bruch

Patrocínio e Relacionamento Andrea Lombardi

Pessoas e Cultura Organizacional Patrícia Horta e Thays Souza

Planejamento, Performance e Processo Nicole Sieiro

Suprimentos Josias Mendes

PAÇO DO FREVO

Diretora Luciana Félix

Gerente de Conteúdo e Escola Paço do Frevo Mery Lemos

Gerente de Desenvolvimento Institucional Geisa Agricio

Gerente de Memória e Exposições Luiz Santos

Coordenador de Educação Carlos Lima

Coordenadora da Escola Paço do Frevo Anne Costa

Coordenadora de Programação Fernanda Pinheiro

Coordenadora de Dança Anne Costa

Coordenadora de Música Fernanda Pinheiro

Coordenador Financeiro Thyago Novacosque

Coordenadora de Operações Sheila Manso

Produtora Cultural Naara Santos

Analista de Desenvolvimento Institucional Natália Dantas

Analista de Pesquisa Luiz Vinícius Maciel

Analista de Documentação Mônica Silva

Analista Administrativo Financeiro Cleiton Barbosa

Analista de Compras Matheus Pereira

Analista de Operações Marcos Braga

Assistente de Departamento Pessoal e Cultura Organizacional Ana Paula Moraes

Designer Ayodê França

Produtor Audiovisual Hugo Muniz

Educadores Anderson Jesus, Beatriz Rocha | Gabriel dos Anjos | Gustavo Tiné |

Mikaella Rodrigues | Yanca Lima

Técnica de Áudio Letícia Arruda

Oficiais de Manutenção Aleudo Silva, Fábio Angelo da Silva, Uriel Ferreira

Auxiliares de Atendimento Anderson Barbosa, Dayane Albuquerque, José Victor

Barbosa, Taciana Araújo, Vanessa Príncipe

Estagiários de Educação João Pedro Nires e Larissa Trajano

CONPAÇO - CONSELHO CONSULTIVO DO PAÇO DO FREVO

Presidente Maestro Spok

Cláudio Nascimento | Flavia Constant | Francisco Saboya | Gustavo Luck |

Luciana Calheiros | Manuel Falcão | Maria Flor | Marta Lima | Melina Hickson |

Nara Galvão | Raphael Callou | Regina Gaudêncio | Rúbia Campelo | Valéria Moraes

CEPE - COMPANHIA EDITORA DE PERNAMBUCO

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Governador do Estado Paulo Henrique Saraiva Câmara

Vice-Governadora Luciana Barbosa de Oliveira Santos

Secretário da Casa Civil José Francisco de Melo Cavalcanti Neto

COMPANHIA EDITORA DE PERNAMBUCO

Presidente Ricardo Leitão

Diretor de Produção e Edição Ricardo Melo

Diretor Administrativo e Financeiro Braulio Mendonça Meneses


PARCEIROS DO

PAÇO DO FREVO


PATROCÍNIO MASTER

MANTENEDOR

CONCEPÇÃO

INICIATIVA

PATROCÍNIO

APOIO

APOIO CULTURAL

GESTÃO

REALIZAÇÃO


Os textos deste livro foram compostos

em Brother 1816 Printed e Base 12 Sans.

O papel utilizado para o miolo é

Couchê brilho 150g/m² e para

a capa foi utilizado Supremo 250g/m².

Companhia Editora de Pernambuco.

Recife / Dezembro de 2022.

___________________________________

Tiragem: 1000 exemplares



UMA DÉCADA DEPOIS DA CONSAGRAÇÃO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

IMATERIAL DA HUMANIDADE, TÍTULO CONCEDIDO PELA UNESCO

EM 2012, O FREVO CONFIRMA SUA ALTIVEZ COMO MAIÚSCULA

EXPRESSÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DO BRASIL, INDO MUITO

ALÉM DA SAZONALIDADE DO CARNAVAL E DA CIRCUNSCRIÇÃO

GEOGRÁFICA DAS MASSAS URBANAS DO RECIFE. EM SUA

MULTIPLICIDADE FRENÉTICA, O FREVO SE EXPANDE, SE RECRIA,

PALPITANDO EM TAQUICARDIA NOS ECOS DE CORAÇÕES PELO

MUNDO AFORA, TECENDO NOVAS NARRATIVAS, POÉTICAS, ESTÉTICAS

E AMPLIFICANDO TERRITÓRIOS DE MEMÓRIAS E AFETIVIDADES.

"FREVO VIVO" É A CONTEMPLAÇÃO DO LONGO PERCURSO DESSA

MANIFESTAÇÃO, EM IMENSIDÃO E MULTIDÃO, QUE SÓ MESMO O FREVO

CONTEMPLA, TRAZENDO VOZES DE AUTORES QUE EM SUAS PRÓPRIAS

VIVÊNCIAS CONFIRMAM QUE "O FREVO NÃO CONVIDA, ARRASTA".

/pacodofrevo

/pacodofrevomuseu

comunicacao.recife@idg.org.br | Praça do Arsenal da Marinha, s.n°, Bairro do Recife, Recife/PE

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