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38 Diário Económico Quinta-feira 29 Abril 2010
FINANÇAS
BCP bate
estimativas à
custa do ‘trading’
O melhor: os resultados da Polónia e as comissões
consolidadas. O pior o malparado que subiu bastante.
Maria Teixeira Alves
e Maria Ana Barroso
maria.alves@economico.pt
Carlos Santos Ferreira, presidente
do BCP, começou a sua
apresentação dos resultados
lamentando o ‘timing’ de
apresentação de tão bons lucros:
“é uma pena estes resultados,
como são [bons], serem
apresentados nesta altura em
que pouca gente lhes ligará”,
referindo-se à turbulência dos
mercados financeiros, sobretudo
o português, depois da
quebra do rating da República.
O BCP apresentou um resultado
líquido consolidado nos
primeiros três meses do ano de
96 milhões de euros, acima da
expectativas dos analistas e um
ROE (rentabilidade dos capitais
próprios) de 7,9% o que comparou
com os 4,6% do fim de
2009. Mas a explicação para estes
números está numa reavaliação
contabilística de um instrumento
financeiro (derivado)
que rendeu aos lucros do trimestre
36,3 milhões de euros e
bem assim à rentabilidade. Ou
seja, sem este ganho, não recorrente,
o BCP teria um ROE
de 4,9%, segundo contas de
analistas, o que não impressiona.
Mas o BCP mantém que, até
2011, quer a rentabilidade acimados10%econtaparatal
com as receitas que virão da actividade
internacional. Esta actividade
fora de Portugal deu já
um contributo de 25%, no trimestre,
acima do que o presidente
do BCP tinha anunciado.
O BCP justificou apenas que
os lucros do trimestre representam
uma queda de 9,6%
face ao primeiro trimestre de
2009. Mas se fossem excluídas
as mais-valias da venda de
parte do Millennium Angola no
ano passado então os lucros tinham
subido 12,8%. Mas um
analista, André Rodrigues da
Caixa BI, explicou que “os números
apresentados ontem
pelo BCP não são ainda uns resultados
que definitivamente
marquem o regresso da rentabilidade,
mas continuam a evi-
denciar uma recuperação em
base trimestral”.
As comissões correram bem
ao BCP na comparação anual:
subiram 19,8%, com o contributo
da área internacional.
Destaque aqui para a actividade
do Millennium Bank na Polónia,
que no primeiro trimestre
recuperou fortemente nos
lucros: registou 17 milhões de
euros, o que compara com os
três milhões um ano antes.
A margem caiu no ano
(8,9%) e melhorou apenas
1,4% face ao trimestre ante-
BCP PERDE 22% EM 2010
Evolução dos títulos do BCP
desde o início do ano.
1,0
0,8
0,6
31 Dez 009
28 Abr 10
Resultados do BCP no primeiro
trimestre de 2010
Indicador valor variação
Margem Financeira 340,6 -8,9%
Produto bancário 700,7 - 5,2%
Custos Operacionais 382,2 -4,6%
Imparidade do cred. 164,8 2,9%
Impostos s/lucros 22 -23,8%
Resultado Líquido 96,4 -9,6%
Fonte: BCP
Unidade: Milhões de Euros
rior.Aotodo,oprodutobancário
caiu no ano 5,2%, mas
melhorou 12,4% face à “média
trimestral de 2009”. Destaque
para os custos operacionais
que cairam 4,6% no ano. O
que permitiu uma melhoria do
rácio de eficiência de 63,6%
em Dezembro de 2009 para
54,5% em Março.
Este trimestre, face ao trimestre
homólogo do ano anterior,
o BCP registou um crescimento
de 6,7% nos recursos
de clientes (dos quais 7,9%
depósitos) e apenas 0,2% do
crédito a clientes (bruto).
Aliás a pior notícia que o BCP
apresentou foi no crédito em
incumprimento sobre o total,
que subiu de 2%em 31 de
Março de 2009 para 3,8%
este trimestre. O stock de
malparado no trimestre face
a Dezembro cresceu de cerca
de 2 mil milhões de euros
para 2,140 mil milhões. Em
relação ao incobrável há mais
de 90 dias, subiu num ano de
1,5% para 2,5%.Quando
questionado com o que aconteceria
ao BCP se os accionistas
que têm crédito do banco
deixassem de poder cumprir,
Santos Ferreira aproveitou
para explicar que o rácio de
exposição do banco aos 30
maiores clientes versus fundos
próprios tem vindo a
descer; assim como tem vindo
a descer a exposição líquida
a todos os accionistas com
mais de 0,5% do capital (passou
de 14,7% em Dezembro
para 13,2% em Março).
O BCP, ao contrário do que
algumas casas internacionais
dizem, está bem dotado de
capital. O Tier I, já com as regras
do IRB que serão aprovadas,
subiu para 9,7%. Em termos
de liquidez, um tema que
volta à ribalta com a subida
do preço dos spreads nos
mercados internacionais, o
BCP já se refinanciou em metade
das suas necessidades
para este ano, e ainda tem
11,3 mil milhões de euros de
activos para descontar no BCE
a troco de liquidez. ■
Santos Ferreira apresentou lucros
de 96 milhões de euros no
primeiro trimestre deste ano.