VIII Diário <strong>Económico</strong> Quinta-feira 29 Abril 2010 Ralph Orlowski/Bloomberg HÍDRICAS A ser construída, será a terceira maior barragem do mundo. Mas implicará o desalojamento de índios e a destruição de fauna e flora únicas. A sua construção, no rio Xingu, Brasil, já está envolto em polémica. Enquanto o presidente brasileiro Lula da Silva a defende, tem contra pelo menos 13 tribos índias, algumas ONG e ainda James Cameron, o realizador de “Avatar”. ENTREVISTA FRANCISCO FERREIRA, Vice-presidente da Quercus “As renováveis têm uma vantagem ambiental muito forte” AS ENERGIAS RENOVÁVEIS são, afinal, amigas do ambiente? O vice-presidente da associação ambientalista Quercus, explica por que razão considera que sim. Irina Marcelino irina.marcelino@economico.pt É certo que o paradigma mudou. Mas as energias chamadas verdes porque não emitem tanto Co2 como os combustíveis fósseis, também têm influência negativa no ambiente, como é o caso de algumas grandes hídricas. Na semana passada defendeu, aliás, que o Governo renuncie à construção de quatro barragens do Alto Tâmega pelos “prejuízos demasiado avultados para os escassos benefícios decorrentes da construção destas quatro barragens.” São as energias renováveis de facto amigas do ambiente? Não se pode afirmar de forma alguma que as energias renováveis não tenham impactes no ambiente. O recurso a fontes renováveis pode implicar gastos de energia mais ou menos significativos na construção dos equipamentos, consumir importantes recursos materiais, pode ter fortes implicações na natureza, destruindo habitats ou afectando a paisagem. Porém, as energias renováveis têm uma vantagem ambiental muito forte, dado que, comparativamente com o uso tradicional dos combustíveis fósseis, não apenas utilizam um recurso que continuará a estar disponível, como as emissões de gases com efeito de estufa ou de outros poluentes associadas à sua operação são nulas ou quase nulas. Pode exemplificar? Com a utilização de energias renováveis é possível melhorar a qualidade do ar das cidades e também combater as alterações climáticas. Entre as diferentes fontes de energia renovável há Francisco Ferreira Vice-presidente da Quercus “Com a utilização de energias renováveis é possível melhorar a qualidade do ar das cidades e também combater as alterações climáticas.” impactes muito diferenciados pelo que podemos falar de origens mais amigas do ambiente, como a água quente solar, por exemplo, do que outras, como as grandes barragens. Uma análise de ciclo de vida e uma visão integrada e global das fontes de energia renovável é fundamental para uma caracterização mais séria – é necessário avaliar em cada caso quais são as vantagens/benefícios e desvantagens/custos de cada CONSUMO DE ELECTRICIDADE AUMENTA Não se sabe ao certo porquê, mas o consumo de electricidade subiu no primeiro trimestre de 2010, apesar da crise, dos programas que aconselham à poupança (na factura e na carteira). As previsões da evolução de consumo para este ano são,deacordocomaRede Electrica Nacional, de 5,4% face a 2009. Só no primeiro trimestre, a subida foi de 6,4%. solução ou projecto em termos ambientais, incluindo a componente económica e social. Como se pode, então, conjugar a protecção do ambiente com a produção energética? Em muitos casos os impactes ambientais associados podem perfeitamente ser minimizados ou no limite compensados. Até no caso das barragens? Em algumas grandes barragens, valores como o da conservação da natureza ou da paisagem, entre outros, merecem ser equacionados e podem e devem inviabilizar o projecto. Note-se que em muitos casos a decisão sobre alguns investimentos em energias renováveis não tem conseguido ter uma visão integrada que se exigia numa política de desenvolvimento sustentável. Mais ainda, as decisões têm sido tomadas num quadro sem uma estratégia coerente e pensada para o futuro da energia - e não apenas da electricidade - para Portugal, aprovando-se projectos cujos custos de natureza social e económica e obviamente também de natureza ambiental são e serão demasiado elevados. Quando o ênfase nas energias renováveis é maior do que na redução de consumo e eficiência energética, quando a nossa potência instalada prevista é muito maior do que efectivamente precisaríamos, quando sectores chave como os transportes se pensa resolver principalmente através do veículo eléctrico e não duma política integrada de transportes, a conjugação da protecção do ambiente com as necessidades energéticas torna-se mais difícil. ■
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