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Revista da Misericordia #43

"A importância dos livros e das revistas é que sobrevivem à prova dos tempos. É o que fica das memórias coletivas onde se inserem as vitórias, conquistas, mas também as pandemias, catástrofes e guerras." in editorial da Revista da Misericórdia #43, com tema REPARTIR

"A importância dos livros e das revistas é que sobrevivem à prova dos tempos. É o que fica das memórias coletivas onde se inserem as vitórias, conquistas, mas também as pandemias, catástrofes e guerras." in editorial da Revista da Misericórdia #43, com tema REPARTIR

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por Duarte Gonçalves mesário

A importância dos livros e das

revistas é que sobrevivem à prova

dos tempos. É o que fica das

memórias coletivas, onde se

inserem as vitórias, conquistas, mas

também as pandemias, catástrofes e

guerras.

A edição desta Revista tem como

tema REPARTIR, pois as nossas

vivências institucionais devem ser

escritas, para ficarem perpetuadas

no tempo e na nossa história.

REPARTIR é uma palavra com um

forte significado social, pois é

sinónimo de distribuir, dividir,

separar em partes, partilhar.

Analisando a palavra e

associando-a ao contexto atual, esta

assume um duplo significado: há

aqueles que são obrigados a

PARTIR, e aqueles que estendem os

braços para REPARTIR.

Há os que se encontram em busca

de vida, em fuga da morte e que

fogem da guerra, procurando paz e

proteção. Paralelamente, no

momento em que tantos procuram

no nosso país um porto seguro,

surge-nos a necessidade de

REPARTIR para ajudar: dar pousada

aos peregrinos, afeto, estender a

mão de Misericórdia, pois não

podemos estar dissociados da

génese que nos inspira na nossa

missão: as Obras de Misericórdia.

Não podemos ser indiferentes ao

apelo dos que lutam pela

sobrevivência, e a nossa

humanidade não se traduz apenas

em âmbitos de intervenção locais,

quando o que está em causa é a

crise humanitária, a dignidade na

diversidade, enquanto instituição

que somos em relação com os

outros.

Pretende-se com este tema refletir e

sensibilizar sobre o que pode e está

a ser feito, enquanto instituições de

solidariedade social, mas também

onde cada um, individualmente,

poderá intervir e REPARTIR, de

muitas formas e à medida do que

estiver ao seu alcance.

Sermos todos rostos de

solidariedade.


SUMÁRIO /// ATUALIDADES / VIDAS INTERROMPIDAS - FAMÍLIA UCRANIANA É ACOLHIDA EM

SANTO TIRSO P.04 / VIDAS INTERROMPIDAS - REPARTIR COM PROFISSIONALISMO E DIGNIDADE

P.9 / QUANDO O ROSTO DO OUTRO, EM DOR, GRITA PELO ACOLHIMENTO P.12 / UNIÃO DAS

MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS FACE À INVASÃO DA UCRÂNIA P.16 / RELATÓRIO E CONTAS

2021 P.20 / REPARTIR EM IGUALDADE P.26 / REDE WI-FI PARA TODOS P.29 /// AÇÃO SOCIAL E

COMUNIDADE / DIVIDIR E TORNAR A DISTRIBUIR… REPARTIR P.30 / OS DIAS DO FIM P.32 / AS

VOZES DE “ENVELHECER ATIVAMENTE” - PRÉMIO BPI FUNDAÇÃO “LA CAIXA” P.35 / RAP CRIAR -

RESPOSTAS DE APOIO PSICOLÓGICO P.39 /// SAÚDE / DIFERENTES MAS IGUAIS P.42 / BÊNÇÃO

DA UCC “COMENDADOR ALBERTO MACHADO FERREIRA” P.43 /// G. RECURSOS HUMANOS /

SATISFAÇÃO DOS/AS COLABORADORES/AS - O CAMINHO PARA O SUCESSO INSTITUCIONAL P.44 /

PRÉMIO HEALTHY WORKPLACES - LOCAL DE TRABALHO SAUDÁVEL 2022 P.45 / PACOTE M+ P.46 /

PROGRAMA ERASMUS - REPARTIR CONHECIMENTO P.48 / REPARTIR MEMÓRIAS - O REENCONTRO

P.49 / AO RECORDAR O PRIMEIRO DIA DE TRABALHO NA MISERICÓRDIA LEMBRO-ME DE... P.52

/// CULTURA / JOSÉ LUÍS DE ANDRADE - UMA EVOCAÇÃO P.56 / O CORAL DA MISERICÓRDIA - A

PANDEMIA E O PÓS PANDEMIA P.60 / POEMA REPARTIR P.62 /// REVELAÇÕES AIDA SOARES P.64


2010/CEP.3635

PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS //

SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES ANA ALVARENGA // ANA ROSA CARNEIRO // ASSUNÇÃO

MEDEIROS // CARLA NOGUEIRA // DUARTE GONÇALVES // JAVIER FERNANDEZ // JOÃO LOUREIRO // JOSÉ ALVES // JOSÉ

LUIS CRISTINO // JOSÉ PINTO // LILIANA SALGADO // LUISA FERNANDES // Mª HELENA GOMES // Mª JOÃO FERNANDES

// Mª JOÃO OLIVEIRA // MARTA FERREIRA // MIGUEL DIAS // MIGUEL MOUTINHO // NUNO OLAIO // PAULO DUARTE //

RAQUEL CARNEIRO // SARA A. SOUSA // SÍLVIA RIBEIRO // SOFIA MOITA // SORAIA PINHEIRO // SUSANA BRANCO // SUSANA

MOURA // SUSANA FREITAS // TELMA FERREIRA // VERA TOMAZ // TIRAGEM 1000 EXEMPLARES // EDIÇÃO JUNHO 2022

// DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN

Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.


Pag | 04

#43

Atualidades

VIDAS INTERROMPIDAS

FAMÍLIA UCRANIANA É

ACOLHIDA EM SANTO TIRSO

Mariana mantém o sorriso de uma bela e jovem mulher. A

guerra, o medo, a insegurança e a incerteza no futuro não a

fizeram perder a esperança de um dia regressar à Ucrânia

e voltar à sua vida de sempre. É grata pelo acolhimento e

generosidade dos portugueses e por ter conseguido

encontrar abrigo perto da sua família que já vivia em

Portugal há alguns anos.

Uma feliz coincidência deu a oportunidade que Mariana e os

seus filhos necessitavam para encontrarem um lugar seguro

para viverem.

A Misericórdia de Santo Tirso foi contactada pela União das

Misericórdias Portuguesas para avaliar que tipo de apoio

poderia dar às famílias ucranianas refugiadas da guerra.

Havia a possibilidade de ser disponibilizada uma casa para

uma família com 6 pessoas, a par disso poderia também serem

garantidas as principais refeições. Quase na mesma altura, a

Câmara Municipal de Santo Tirso, sabendo desta possibilidade

e tendo uma família sinalizada com este perfil, entrou em

contacto com a Misericórdia.

Um dos irmãos de Mariana, o mais velho, que já vive em

Portugal há 20 anos com mulher e filhos, fez todo o tipo de

esforço para conseguir trazer a irmã e os sobrinhos para

Portugal em segurança. Já o outro irmão, o mais novo, chegara

em fevereiro a Portugal trazendo consigo a esposa e os quatro

filhos, um deles, recém-nascido com apenas 15 dias, ficando a

residir também em Santo Tirso em acolhimento articulado com

a autarquia. E, assim, em poucos meses a família encontra-se

praticamente toda reunida. Entretanto, a matriarca também

deixou a Ucrânia para se juntar aos filhos e netos.

O irmão recorda o início da guerra como algo irreal e

inesperado. Ninguém esperava que fosse mesmo acontecer.

Mas na madrugada do dia 25 de fevereiro começaram a cair

bombas. E a partir daí sabiam que sempre que soava o alarme

tinham de ir para o abrigo para se proteger, só quando soava o

alarme 3 vezes é que podiam sair. O seu filho mais novo

nasceu nessa altura e a mulher vivenciou a fragilidade de

muitas mães que tinham de se proteger nos abrigos por causa

dos ataques.

A realidade mudou completamente: várias pessoas deixaram

de trabalhar, outras no entanto, e tendo em conta a sua

atividade conseguiram manter os empregos e algumas rotinas.

Ainda assim os bombardeamentos ditam os dias e a vida dos

que ficaram no território ucraniano.

O marido de Mariana trabalha no ramo alimentar como

gerente numa rede distribuidora, a cunhada por sua vez tem

uma função similar numa outra empresa no ramo das bebidas.

Ela sente-se um pouco dividida entre o emprego que quer

manter, o namorado que ficou e a família toda que está em

Portugal. Todas as semanas pondera se fica ou vem para

Portugal. A família compreende esta indecisão.

Família incompleta

Há uma tristeza sempre presente, pois o marido de Mariana

decidiu ficar em Lviv, na Ucrânia, a trabalhar. Quer manter o

emprego, enquanto for possível, porque acredita que será mais

fácil para todos quando a guerra acabar e assim retomarem a

vida que ficou para trás. “Ele é muito necessário no trabalho”


Atualidades

diz com um suspiro. “Falamos todos os dias ao telemóvel, mas é

muito complicado para mim e para os filhos”.

Mariana tem 37 anos e quatro filhos, duas meninas com 14 e

11 anos, Natália e Olga e dois rapazes, Sergei de 9 e Dimytro

com 18 meses.

A lei marcial proclamada por Zelensky no início do conflito

ucraniano-russo, proíbe que saiam do país homens com idades

compreendidas entre os 18 e os 60 anos, para serem

mobilizados para combater na guerra, mas existem algumas

exceções: homens com mais de três filhos não são chamados

para combater, é uma delas.

Pelo facto do marido não estar na linha da frente dá-lhe algum

conforto, mas não diminui a preocupação. O medo está

sempre presente. Em Lviv, cidade onde vivia, tem havido

muitos bombardeamentos e o perigo está sempre à espreita.

Mariana tentou ficar na Ucrânia mas vivia apavorada com

os ataques e durante quase um mês tentou viver numa

cave, numa espécie de abrigo antiaéreo, mas o filho mais

novo tinha muitas crises de asma. Então teve de tomar

uma decisão muito difícil; vir para Portugal e deixar o marido

para trás. Falam todos os dias e vai sabendo da realidade do

seu país através dele, mas também vai lendo as notícias

durante o dia na internet e vai rezando.

A fé e a esperança tem sido o seu conforto, mas vive tensa e

insegura, confidencia. Sempre foi muito devota de Maria, mas

com a guerra está ainda mais crente. E partilha um sonho, ir a

Fátima rezar, pedir pelo fim da guerra. Trouxe consigo uma

bela imagem impressa da virgem Maria que está na sala. E vai


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#43

Atualidades

VIDAS INTERROMPIDAS

FAMÍLIA UCRANIANA É

ACOLHIDA EM SANTO TIRSO

tocando nela com gestos carinhosos, em pensamentos de paz a

acalmia. Mostra-nos com vaidade o seu amuleto e diz acreditar

que a guerra vai acabar. Mas há momentos que desanima um

pouco quando pensa no conflito e na dimensão da Rússia e na

sua capacidade militar.

“Nunca pensei que isto fosse acontecer”, diz enquanto

embala o filho mais novo, acariciando o cabelo do menino.

“Tenho muitas saudades da minha vida em Lviv”.

Mariana era secretária numa

universidade, vivia num apartamento

perto do centro da cidade com a

família. De um momento para outro

tudo mudou. “Quero muito uma vida

segura para mim e para os meus filhos”.

E foi com essa esperança que decidiu

deixar o país. Numa mochila acondicionou o essencial para si

e para os filhos e durante dois dias viajou de autocarro rumo a

Portugal. “Foi uma viagem muito dura fisicamente”. O irmão

mais novo descreve tudo com mais pormenor. O cunhado

levou-os próximo da fronteira, 10 km antes, porque a partir daí

os carros não podiam circular e seguiram a pé. Junto à

fronteira ficaram à espera umas 4 horas porque havia uma

longa fila para entrar. Uma vez na Polónia, e até conseguirem

viajar com destino a Portugal, somaram-se mais dois longos

dias de espera. Uma viagem de autocarro que demorou quatro

longos dias, com algumas paragens à mistura, crianças muito

chorosas, cansadas e impacientes. O irmão diz que está tudo

muito bem organizado com policiamento e muitos voluntários.

“Fico emocionada com os

gestos e gostaria de poder

agradecer tudo isto.”

Generosidade que a emociona

Mariana vive rodeada de muito apoio e é muito grata por tudo

o que tem recebido, mas deseja voltar à Ucrânia e ao seu

apartamento, que felizmente não foi afetado pela guerra.

O discurso de Mariana não é muito fluido, há muita emoção

que tenta retrair por causa dos filhos. A língua é limitadora,

mas ela é também cautelosa nas palavras, não quer ceder à

tristeza. Por eles mantém o sorriso e a serenidade, tenta

focar-se no amor e nas boas coisas que tem. Mariana lamenta

não falar português porque gostaria

mesmo de agradecer às pessoas que os

tem ajudado, mas também desabafa que

nem há palavras para tanto.

”Fico emocionada com os gestos e

gostaria de poder agradecer tudo isto”.

Ter rotinas é difícil

Mariana passa agora o tempo todo com os seus meninos e

apercebe-se da tristeza das crianças por estarem longe do pai,

dos amigos, da sua cidade e do país. Mas tenta reagir,

contrariando os pensamentos negativos e mantendo a família

unida nas rotinas, trabalhando em equipa. Durante a semana

cada um tem um dia atribuído para tratar das refeições.

Escolhem o menu e cozinham, mas no que diz respeito às

outras tarefas domésticas todos participam. “É bom para

acalmar o “ambiente”, comenta sorrindo.

Ocupar de forma criativa o tempo é uma tarefa difícil. Todos,

menos o mais novo, têm aulas online, mas diz que ficam

aborrecidos facilmente. “É complicado diversificar, porque há

pouca coisa a fazer”.


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Atualidades


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#43

Atualidades

VIDAS INTERROMPIDAS

FAMÍLIA UCRANIANA É

ACOLHIDA EM SANTO TIRSO

A língua continua a ser uma barreira e a vinda para Portugal

ainda é muito recente. Os amigos estão espalhados pela

Europa e isso desmotiva um pouco os mais velhos. A internet

continua a ser um recurso para passarem o tempo vendo

filmes, séries, comunicando com quem está longe. “As crianças

estão tristes e têm muitas saudades do pai”.

Há perguntas que são redundantes perante esta conjuntura. E

muito facilmente qualquer um de nós faz o exercício de

imaginar o antes e o depois da

guerra. Decidimos não insistir muito

neste tipo de questão.

A cidade onde moravam é agora

uma espécie de zona de recolha de

feridos que chegam das frentes de

batalha em vários pontos da

Ucrânia Oriental. Lviv é uma cidade muito próxima da

fronteira da Polónia, património mundial da Unesco desde

1998. Uma bela cidade, com muitas universidades, igrejas e

com uma vida cultural muito intensa de que são exemplo os

vários museus e espaços culturais existentes.

Chegam várias notícias que dão conta que em galerias,

museus e igrejas de Lviv está em curso uma grande operação

para proteger o património cultural da cidade e muitos

milhares de obras de arte e artefactos foram cuidadosamente

removidos e levados para locais subterrâneos secretos, ou para

porões que funcionam como depósitos.

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas

aproximadamente 5.2 milhões de ucranianos deixaram o seu

país, sendo que 90% desse número são mulheres e crianças.

Mas segundo a Organização Internacional para as Migrações

7.7 milhões ainda continuam no país. •

POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)

Trouxe consigo uma bela imagem

impressa da virgem Maria que

está na sala. E vai tocando nela

com gestos carinhosos (...)


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VIDAS INTERROMPIDAS

REPARTIR COM

PROFISSIONALISMO E

DIGNIDADE

Atualidades

O aflitivo início da Guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro

de 2022, com a invasão militar em larga escala pela

Rússia obrigou à população residente – mulheres,

crianças, idosos/as a abandonar o país, as raízes, os

pertences, a história, a família, uma VIDA… e a procurar

abrigo noutros países, outras comunidades, outras

entidades, outras culturas, outras pessoas.

É neste contexto que todos os esforços, quer a nível

nacional quer a nível local, são mobilizados para que

de uma forma célere, desburocratizada e

principalmente HUMANA, o bem-estar e os direitos

sociais sejam acautelados, através do Trabalho Social

e do Trabalho em Rede.

Novos desafios se colocam na Missão da Misericórdia

de Santo Tirso, num caminho construtivo e dinâmico.

Assim, e de uma forma simplificada e célere, sem

descuidar o trabalho técnico e fundamentado na área

Social, só possível através da intervenção

multidisciplinar e em Rede das Entidades Locais

envolvidas, da comunidade e dos Organismos

Centrais, foram mobilizados esforços no sentido de:

• Disponibilizar, equipar e tornar uma habitação afável

para a família acolhida, bem como assegurar as

necessidades básicas;

• Efetuar o registo na plataforma online criada pelo

SEF para pedido de proteção temporária com

emissão dos certificados de concessão de autorização

de residência ao abrigo do regime de proteção

temporária, com atribuição imediata do NISS, NIF e

NUS;

• Deslocação ao SEF das crianças para validação da

paternidade como salvaguarda e proteção das

mesmas;

• Atendimento imediato dos Serviços de Saúde e de

Emprego em articulação com a Segurança Social,

acautelando os vários apoios sociais;

• Mobilizar condições logísticas e técnicas para que as

crianças possam terminar o ano letivo com o Ensino

Ucraniano através de aulas online, sem que, de forma

abrupta, cortem com as raízes, as referências, os/as

amigos/as;


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Atualidades

#43

VIDAS INTERROMPIDAS

REPARTIR COM

PROFISSIONALISMO E

DIGNIDADE

• Articulação com a Educação para frequência de

Curso de Português, fundamental à integração e

socialização na nossa comunidade;

• Apesar das grandes incertezas e a vontade de voltar

para a Ucrânia estar sempre presente, dia a dia vão

sendo (re)definidos caminhos, estratégias,

intervenções, promovendo o direito aos cuidados, à

justiça social, à igualdade de oportunidades e um

tratamento com dignidade.

É um processo de aprendizagem, construção,

crescimento de ambas as partes: da família acolhida e

dos/as técnicos/as que as acompanham.

Dia a dia vamos tecendo cumplicidades e forças,

respeitando o tempo, o espaço, os desejos de cada

pessoa, mantendo-se a ESPERANÇA de um dia voltar e

(re)começar de novo.

Repartimos a nossa gratidão a todos e a todas que a

nível institucional, empresarial e individual se

envolveram e contribuíram com generosidade na

concretização desta missão. •

POR SUSANA MOURA (COORDENADORA DO CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)


GIRASSÓIS FORA DA TERRA

Neste mundo fatigado de fome

a ver mudanças hoje

porque a culpa tem nome

a ver todos fazerem

à sua própria maneira

também eu tenho culpa

ela não morre solteira.

Atualidades

E nasceram com o amor distorcido

sem crer nem ter motivo

p’ra odiar o amigo

semearam girassóis fora da terra.

E cresceram de orgulho ferido

sem crer nem ter direito

a terem decidido

recolheram óleo, fruto da guerra.

E quem manda nos estoiros que eu oiço?

acabou-se a criança, acabou-se o baloiço,

transformados os sonhos, assombros

guitarra afinada numa pilha de escombros.

Neste mundo que é campo, refúgio

a ver mudanças, foge!

viva o subterfúgio

a ver todos fazerem

a sua própria asneira

também eu tenho culpa

levo a minha bandeira.

E aprenderam a sonhar no vazio

sem crer nem ter motivo

não é nada comigo

semearam girassóis fora da terra.

E venderam o que tinham consigo

sem crer nem ter direito

a guardarem vestígio

recolheram óleo, fruto da guerra.

E quem manda nos estoiros que eu oiço?

acabou-se a criança, acabou-se o baloiço,

transformados os sonhos, assombros

guitarra afinada numa pilha de escombros.

E esqueceram o que tinham ouvido

sem crer nem ter motivo

ou deixarem aviso

semearam girassóis fora da terra.

E morreram sem terem nascido

sem crer nem ter direito

se tivessem vivido?

Recolheram óleo, fruto da guerra.

E quem manda nos estoiros que eu oiço?

acabou-se a criança, acabou-se o baloiço,

transformados os sonhos, assombros

guitarra afinada numa pilha de escombros.

Letra de Música

Miguel Moutinho

https://youtu.be/jg-0X6ucHAQ


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#43

Atualidades

QUANDO O ROSTO DO

OUTRO, EM DOR, GRITA PELO

ACOLHIMENTO

Já passaram alguns anos desde que escrevi para esta

revista com o tema dos refugiados. Estávamos a enfrentar

uma vaga humana de gente a atravessar o Mediterrâneo a

fugir de condições que nos envergonham enquanto

humanidade.

Depois de dois anos de pandemia, onde a pobreza e os

cuidados de milhares de pessoas cresceram, deparamo-nos

com o drama da guerra. Tenho a dizer: não queria reescrever

sobre este tema. Não porque me engano em relação a ele, mas

por desejos de que os milhões de pessoas, sobretudo mulheres

e crianças, pudessem estar em segurança nas suas casas e não

a fugir de bombas, tiros, massacres, tão injustos. Mas, é

necessário, como grande obra de misericórdia, tomar

consciência da realidade destes irmãos e irmãs nossos

para ajudá-los a viver o melhor possível estando fora das

suas casas. Quem são? Humanos em busca de vida, com

nomes e histórias concretos, trazendo no coração muito

sofrimento, sobretudo de luto. E tatuado na existência trazem

um adjetivo: refugiados.

Nos últimos anos tenho acompanhado muitas pessoas, na

escuta dos dramas das suas vidas. Tento aliviar e orientar o

melhor possível para a leveza do amor de Deus. No meu

coração passeia a memória das pessoas refugiadas que

acompanhei pelos mais diversos motivos, desde a

perseguição política, passando pela religiosa, cultural ou

sexual, culminando na social, onde a guerra arrasta

milhares e milhares em fuga. Durante a minha formação

como jesuíta, passei por Paris. Na comunidade onde estive,

integrada no projeto Welcome da JRS (serviço jesuíta aos

refugiados), viviam connosco pessoas refugiadas. Com o

crescer da confiança, partilhavam as suas histórias. Entre os

porquês e os modos de fuga, ia sabendo de famílias, umas

assassinadas e outras sem qualquer possibilidade de contactar

pelo medo de represálias. Uma vez, ao jantar, falava com o M.

sobre o dia. Contava-me como pouco a pouco ia aprendendo

o francês:

• Às vezes custa, não é? Sobretudo a relação entre a

fonética e a escrita.

• Sim, e os temas de estudo.

• Como assim?

• Temas como “a casa”, por exemplo. Faz pensar a família.

• Tens conseguido falar com alguém da tua família?

• Não sei nada deles há meses. É preferível que eu

desapareça para que eles vivam, ou mantenham a vida

possível.

Nas conversas, a emoção mostrava que os sentimentos

atravessam toda a humanidade. Nas diferenças no modo de

expressar, o coração revela que o amor, o desejo de viver, a

vontade de abraçar quem nos é querido, brotam da essência

do ser humano. A humanidade tem a poesia do sentir. Da

poesia até se pode passar à oração. Foi o que me aconteceu

depois de ter escutado todo o relato de onde pode ir o mais

anti-poético, nesse negrume de maldade humana, tecida em

gestos de tortura. Muitas vezes, depois de escutar relatos


Pag | 13

Atualidades

demasiado desumanos, recolhi-me em silêncio. Como escrevi

no outro texto, é recorrente agradecer na minha oração.

Desde as coisas mais banais, como o deliciar-me com uma

boa sobremesa, ao facto de estar vivo. Agradeci a fé e o

que ela faz comigo e de a vida me ajudar a ser alguém em

quem confiar. Agradeci o poder saborear o silêncio sem ter

pesadelos. Agradeci o poder fazer uma crítica sem a

ameaça da tortura e da morte. Agradeci o não ter medo,

nem vergonha, de pedir abraços

quando deles preciso. Agradeci

não ter a casa estilhaçada ou

reduzida a cinzas depois de ter

levado com uma bomba.

Somos seres de relação e a própria

relação transforma-nos enquanto

pessoas. A empatia faz com que as

histórias se entrelacem, alterando o pensamento. São rostos

que dialogam, modificando o modo de compreender a

realidade, em que a dor e a paz são recebidas mutuamente,

como mãos que se apertam. Um dos refugiados com quem

costumava conversar veio contar-me uma boa novidade: após

mais de um ano a tentar ter cartão de cidadania temporária,

este finalmente chegou. A partir dali já podia tratar do

processo para que a mulher também pudesse vir. Não a vê

pessoalmente há mais de três anos. Foi obrigado a fugir do

país pela guerra, por ser jornalista e ter denunciado casos de

corrupção e abuso de poder. Outro que viveu a tortura de

perto e de longe, ao se ver obrigado a fugir, deixando a

família, a terra, sem saber se poderá voltar. Emocionado e com

Quem são? Humanos em busca de

vida (...) trazendo no coração muito

sofrimento, sobretudo de luto. E

tatuado na existência trazem um

adjetivo: refugiados.

um grande sorriso, depois de contar a novidade, disse: “Paulo,

chegou em tempo de Páscoa. Na minha pouca fé, apercebo-

-me um bocadinho do que é a ressurreição.” Não consegui

dizer nada em resposta, para além do forte abraço que

partilhámos.

Passado uns tempos comenta: “A minha mulher está quase a

chegar!” Os olhos brilhavam com uma ternura impressionante.

Havia o tremer de lábios e de palavras em dizê-lo, afinal são

mais de três anos de separação

forçada. O Poder, em especial

político, insiste em fazer mal. “Já

preparaste o reencontro?”

Respondeu-me: “Nem sei. Passa-me

tanto pela cabeça e pelo coração.

Vou levar um ramo de flores, como

ela gosta. Depois, só queremos ficar

abraçados.” Tempo depois, o S.

telefona-me e vai lá a casa. Deu-se encontro entre nós. Não

vinha sozinho. A mulher acompanhava-o. Depois de grande

batalha burocrática, chegou há dois meses. Pouco-a-pouco

instalam-se nesse reencontro, ainda com medo com o que se

pode passar com os que lá ficam. Mesmo vivendo este

fantasma, toda a conversa foi à volta da esperança e nada

forçada, pelo contrário, transparecia no rosto. Que abraço bom

demos todos.

Torna-se claro que penso muito na humanidade. Talvez seja

das palavras que me acompanham muito frequentemente em

léxico. Não a quero gastar com o uso, tornando-a quase banal.

Simplesmente quero enaltecer o profundo sentido do que é ser


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#43

Atualidades

QUANDO O ROSTO DO

OUTRO, EM DOR, GRITA PELO

ACOLHIMENTO

humano, também concebido em cultura que cruza a

humanidade condicionando o modo de pensar e de viver. É

difícil, para não dizer impossível, alcançar a pura neutralidade.

Questões de crenças tocam todos os âmbitos. Ser humano é ser

crente. E não vale a pena fugir disto. Os tipos de crenças é que

podem variar: do desportivo ao religioso, sem esquecer o

político, elas pairam na vida de cada um. Somos cultura, somos

crença e somos relação, que nos ajuda a perceber a riqueza

da humanidade na sua diversidade. Pelo que já escrevi,

marca-me muito a chegada de tanta gente, como cada um de

nós, por caravanas humanitárias, atravessando a dor da

existência. Apenas buscam viver. Nem é viver melhor, apenas

viver. Ficar-se neutro é impossível, já não o é optar entre o

medo ou a confiança na altura de falar no auxílio a todas

estas pessoas. Apesar de todas estas agitações, de tanta

desumanidade, ainda continuo a acreditar que, para além das

crenças todas, possa crescer a de um mundo melhor. Para que

tal aconteça, passa por acolher, mesmo que possamos perder

algumas comodidades.

E a vida, como se vê, reveste-se de poesia da dádiva, da

partilha, do acolhimento. Tanto fala de amor, de beleza,

como também grita pela justiça e misericórdia por aqueles

de longe que estão aqui perto. “Vemos, ouvimos e lemos. Não

podemos ignorar”, disse-nos Sophia de Mello Breyner. Os

rostos deles são os nossos. •

POR PAULO DUARTE (SJ)



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#43

Atualidades

UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS

PORTUGUESAS FACE À

INVASÃO DA UCRÂNIA

Logo no dia 24 de fevereiro, a UMP informava as

Misericórdias que Portugal estava a montar uma operação

de acolhimento de emergência aos cidadãos ucranianos e

que nos havia sido perguntado, pela Sra. Ministra do

MTSSS, se as Misericórdias estariam em condições de

conseguir integrar cidadãos ucranianos para trabalhar nas

nossas Instituições. A 04 de março, apenas 8 dias depois, a

UMP informa e remete a listagem de disponibilidades das

Misericórdias ao ISS, I.P. e ao ACM, contactando também a

Secretaria de Estado para a Integração e Migrações,

informando acerca da disponibilidade imediata das

Misericórdias Portuguesas em apoiar estes cidadãos com

alojamento, emprego e integração apoiada.

Mas no dia 10 de março, a UMP é contactada por um

movimento voluntário da sociedade civil, o “Missão Ucrânia”,

que contava com a participação de dezenas de empresas e

voluntários e que estava em articulação, também, com os

ministérios e serviços do Estado para as migrações. O “Missão

Ucrânia” queria a parceria da UMP no movimento com o único

papel de associar as disponibilidades das Misericórdias ao

nível de habitação temporária, emprego e apoio necessário

para acolher parte famílias e cidadãos já que se preparavam

para ir buscar, em caravana, cerca de 387 pessoas.

Com o envolvimento direto de diversos organismos públicos e

entre estes o ACM e o SEF, garantia-se que a missão

humanitária decorria na certeza da legalidade e da segurança.

No dia do check-in em Cracóvia, a 16 março, todos os

refugiados passaram por um processo de triagem e fizeram o

pré-registo para confirmar que pertenciam à lista inicial de

pessoas a transportar. Posteriormente foi feito um check-up

médico a todos. De seguida, foi feito um registo individual,

onde foi perguntado se necessitavam de alojamento,

habilitações literárias dos adultos e respetiva profissão, com o

objetivo de se preparar o acolhimento em Portugal.

Adicionalmente, cada pessoa assinou um termo de

responsabilidade individual, a expressar que tinha

conhecimento e de que era de sua livre vontade vir para

Portugal com a missão. O protocolo seguido garantiu que

todas as pessoas foram devidamente identificadas e que os

seus direitos, liberdades e garantias não eram atropelados.

Foram 2 semanas de trabalho árduo, tivemos que fazer

“match” de necessidades das pessoas e ofertas das

Misericórdias, fizemos várias rondas de telefonemas e

listagens, de dia e de noite e pedimos até a algumas

Misericórdias, o trabalho inglório de ficarem de

“prevenção” pois, na verdade, não se tinha a certeza

absoluta da reação dos refugiados ucranianos à chegada.

Criámos um “Plano B” para o caso de alguém testar

positivo à COVID e puder fazer o confinamento em Lisboa

e ser depois encaminhado para a respetiva Misericórdia.

Criaram-se pastas por Misericórdias com informação e

identificação dos Agregados Familiares e pessoas que iriam

acolher.

Ainda assim, primeiro em Vilar Formoso e mais tarde em

Lisboa, alguns agregados e cidadãos informavam, através


Pag | 17

Atualidades

das tradutoras, que não queriam ir com as Misericórdias,

afirmando que já não precisavam de acolhimento e que

tinham recorrido a pessoas conhecidas da comunidade

ucraniana em Portugal.

Durante os dias imediatamente seguintes à chegada,

Misericórdias relataram ter sido contactadas por cidadãos

ucranianos a informar que iriam buscar algumas das pessoas

acolhidas.

Durante os dias que se seguiram a UMP também recebeu

telefonemas de várias famílias

portuguesas que acolheram

famílias vindas da Ucrânia, e

que nos pediam ajuda pois não

tinham condições para alojar

durante muitos dias os

refugiados que tinham acolhido.

Mas, afinal, o que se estava a passar? Urgia fazermos uma

reflexão e entender.

Portugal é um país de gente extraordinária e as Misericórdias

são constituídas por essas gentes de braços abertos.

A última guerra na Europa foi há 80 anos. Nenhum de nós tem

consciência exata dos movimentos migratórias em situação de

guerra na atualidade: nem o seu timing, nem a sua tipologia

nas diferentes vagas de refugiados nem como as pessoas

reagem à chegada.

Uma coisa é a admirável solidariedade do povo português,

da sua sociedade civil, do seu setor social, outra, diferente,

A primeira vaga de refugiados que chegou a

Portugal tinha posses, habilitações, muito

urbana e tecnologicamente integrada (...)

é a vontade de alguém que perdeu tudo, fugiu de uma

invasão, chegou a uma fronteira e que espera apenas um

refúgio que deseja ser muito temporário.

A primeira vaga de refugiados que chegou a Portugal tinha

posses, habilitações, muito urbana e tecnologicamente

integrada, maioritariamente de Kiev e que esperava que este

refúgio temporário fosse em Lisboa (cidade), Porto (cidade) e

Algarve (zona que conheciam porque passavam lá férias e

onde existe uma grande comunidade ucraniana).

Importava agora olhar com

atenção para uma

característica da comunidade

ucraniana em Portugal, nos

últimos anos, relacionada com

a sua atividade económica e

política. A comunidade tornou-se uma força que não

apenas une os ucranianos, mas que também se manifesta

cada vez mais ativamente na vida da comunidade

ucraniana em Portugal, defendendo os seus direitos e

interesses, garantindo as necessidades socioculturais dos

compatriotas e zelando pela preservação da identidade

nacional, sendo as ações por parte da comunidade ucraniana

caracterizados por um alto nível de organização, bem como

por uma clara orientação nacional e patriótica.

Estes factos podem explicar a necessidade sentida em

assegurar que os seus compatriotas ficavam aos seus cuidados

e não ao cuidado de outros o que é compreensível e devemos

aceitar sem reservas.


Pag | 18

#43

Atualidades

UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS

PORTUGUESAS FACE À

INVASÃO DA UCRÂNIA

De forma empática, ao nos colocarmos no lugar do outro,

julgamos que também nós preferíamos ir temporariamente para

junto de alguém que também falasse a nossa língua e num

meio o mais próximo possível daquele que perdemos.

A iniciativa, organização e logística de tantos grupos de

voluntários é de louvar e deve ser enaltecida, mas a

aprendizagem e informação que todos recolhemos deste trajeto

é de muito valor social, nomeadamente para as entidades do

estado para preparação de acolhimentos futuros.

Consideramos que os próximos acolhimentos só o podem

ser desde que em articulação estreita com a comunidade

ucraniana em Portugal e que urge criar um elemento

coordenador de todo este fluxo, que aglomere as

disponibilidades numa só Plataforma (existem várias neste

momento) e que faça esta gestão porque a solidariedade

das famílias portuguesas, de toda a sociedade civil e

também das autarquias apenas resultará em integração

plena ou refúgio temporário protegido se todos tivermos a

trabalhar de forma articulada.

A UMP sabe que muitas Misericórdias fariam tudo de novo e

continuam a aguardar contacto para acolhimentos futuros,

agora que se entende melhor o que é este fluxo e o que

precisam estes refugiados europeus, aceitando, dentro da

nossa missão, que o maior desejo de quem saiu é o de voltar o

mais rapidamente possível. •

POR SUSANA MARTINS BRANCO (GABINETE DE AÇÃO SOCIAL DA UMP)



Pag | 20

#43

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2021

Iniciámos o Plano de Atividades e Orçamento para o ano

2021 com a seguinte frase: “Perante a adversidade só

há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e

vencer.”

Esperávamos um ano de volta à normalidade. Na

realidade esforçamo-nos para que assim fosse e julgamos

ter feito jus à frase.

Mantivemos a dinâmica institucional em todas as nossas

áreas. No que concerne ao

Património, tínhamo-nos proposto

dar continuidade à remodelação

e reabilitação do Bairro da

Misericórdia e em breve

esperamos colocar no mercado

de arrendamento mais 4 moradias

de tipologia T2.

Foram concluídas as obras de remodelação da Casa

de Repouso de Real.

No Edifício do antigo Liceu, foi desenvolvido um estudo

económico e de mercado que previa a construção de 32

apartamentos para colocação no mercado de

arrendamento. Contudo, após profunda análise e

avaliada a possibilidade de devolução deste edifício à

sua génese – 1º Hospital da Misericórdia e de Santo

Tirso, foi decidido avançar com uma proposta à

Administração Regional de Saúde – A.R.S. Norte para

a criação de 60 camas de cuidados continuados.

A 31 de dezembro de 2021, esta

Misericórdia contava com cerca de

420 colaboradores formais.

Como já referimos, tentámos retomar uma normalidade

na prestação de serviços, principalmente nas áreas da

Saúde e Educação.

Consolidámos a atividade da nova Unidade de

Cuidados Continuados de Longa Duração e

Manutenção “Comendador Alberto Machado Ferreira”

inaugurada em Novembro de 2020, atingindo a eficácia

e eficiência prevista na relação entre as duas unidades

existentes.

Aprofundámos a parceria com o

Centro Hospitalar do Médio Ave

– CHMA nomeadamente no

protocolo de camas de retaguarda

e na nossa Clínica de

Gastroenterologia – Unidade de Endoscopia para a

realização de exames endoscópicos.

Na Clínica de Fisiatria procedemos a um alargamento

de horário em resposta ao crescente aumento da

procura, atingindo o melhor valor de sempre em

termos de receitas, contribuindo para o melhor ano de

sempre desta área.

No Relatório e Contas de 2020 dizíamos que o facto de

termos sido assolados na 1ª vaga da pandemia nos tinha

proporcionado outra capacidade de reação, antecipação

e superação da segunda e terceira vagas, e assim foi. Em

todas as nossas áreas de intervenção encaráramos o ano


Pag | 21

Atualidades

em análise com a normalidade possível pondo em prática

as atividades/iniciativas programadas.

“Um dos pilares da estratégia institucional e do

desenvolvimento deste setor são os colaboradores, estes

assumem um papel basilar, são o principal capital

institucional. É pois fundamental continuar a aprofundar a

aposta da gestão de recursos humanos.”

A 31 de dezembro de 2021, esta Misericórdia contava

com cerca de 420 colaboradores formais.

Relativamente à parte financeira, passamos a fazer um

resumo:

Rendimentos

PRESTAÇÃO

DE SERVIÇOS

SUBS. À

EXPLORAÇÃO

2020 2021 DIF. DIF. %

3 266 186,96 3 943 067,52 676 880,56 20,72%

3 686 721,07 4 917 703,22 1 230 982,15 33,39%

REVERSÕES 0,00 0,00 0,00 0,00%

OUT. REND. E

GANHOS

JUROS REND.

OBT.

999 545,67 1 237 529,51 237 983,84 23,81%

1 388,94 952,65 -436,29 -31,41%

TOTAL 7 953 842,64 10 099 252,90 2 145 410,26 26,97%

Verifica-se um aumento dos Rendimentos em 26,97%

(€2.145.410,26), devido ao seguinte:

• Aumento da rubrica Prestação de Serviços em

20,72% (€676.880,56), essencialmente pelo

atingimento do quase “normal” funcionamento das

unidades de saúde, principalmente da Clínica de

Fisiatria e da Unidade de Cuidados Continuados de

Longa Duração e Manutenção “Comendador Alberto

Machado Ferreira”;

• Aumento da rubrica Subs. à Exploração em 33,39%

(€1.230.982,15), principalmente pelo motivo acima

apontado, correspondente pagamento do Estado

pelos serviços prestados e aqui registados, bem como

pela atribuição do Donativo objeto de apreciação na

Assembleia Geral Extraordinária de 30 de Novembro

passado;

• Aumento da rubrica Outros Rendimentos e Ganhos

em 23,81% (€237.983,84), basicamente pela

contabilização de espólio de utentes falecidos entre

os anos 2016 e 2020.


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#43

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2021

€ 0,00

0%

€ 1 237 529,51

12%

€ 952,65

0%

€ 3 943 067,52

39%

Gastos

2020 2021 DIF. DIF. %

C.M.V.M.C. 793 636,09 831 562,81 37 926,72 4,78%

F.S.E. 1 461 721,06 1 477 834,99 16 113,93 1,10%

GASTOS C/

PESSOAL

5 068 767,65 5 858 195,35 789 427,70 15,57%

AMORTIZAÇÕES. 728 600,86 703 635,29 -24 965,57 -3,43%

PROVISÕES 459 176,09 1 796 470,57 1 337 294,48 291,24%

€ 4 917 703,22

49%

Prestação de Serviços

Subs. à Exploração

Reversões

Out. Rend. e Ganhos

Juros Rend. Obt.

OUTROS GAST.

PERDAS

JUROS E GASTOS

SIM.

111 724,45 60 984,20 -50 740,25 -45,42%

5 383,00 18 020,07 12 637,07 234,76%

TOTAL 8 629 009,20 10 746 703,28 2 117 694,08 24,54%

Os Gastos apresentam um aumento de 24,54%

(€2.117.694,08), devido essencialmente ao seguinte:

5 000 000,00

3 750 000,00

2 500 000,00

2020

2021

• Aumento da rubrica de Gastos c/ Pessoal em 15,57%

(€789.427,70) devido às atualizações salariais globais

em 2021, atualização do Salário Mínimo Nacional e

respetivas repercussões nas restantes remunerações,

em de cerca de 3,50%, bem como o reflexo do pleno

funcionamento e reajuste das Unidades de Cuidados

Continuados;

1 250 000,00

0,00

Prestação

de Serviços

Subs.à

Exploração

Reversões

Out. Rend.

e Ganhos

Juros Rend.

Obt.

• Aumento na rubrica de Provisões, tendo por objeto

reconhecer as responsabilidades cuja natureza esteja

claramente definida e que à data do balanço sejam

de ocorrência provável ou certa, mas incertas quanto

ao seu valor ou data de ocorrência. Neste caso em


Pag | 23

Atualidades

concreto a instituição tem a responsabilidade de

garantir as necessárias condições de acolhimento aos

seus utentes mediante a sua esperança média de

vida. Este valor tem vindo anualmente a ser ajustado

à nossa realidade e ao número de utentes

institucionalizados;

• Aumento da rubrica Juros e Gastos Similares

Suportados (€12.637,07) devido ao pagamento de

juros relativos ao empréstimo para a construção da

Unidade de Cuidados Continuados de Longa

Duração e Manutenção “Comendador Alberto

Machado Ferreira”;

Por fim, não podemos deixar de realçar os valores das

rubricas C.M.V.M.C. e FSE’s que, atendendo ao pleno

funcionamento das Unidades de Cuidados Continuados,

ao aumento do índice de preços anual e à taxa de

inflação, apresentam um ténue crescimento no Total dos

Gastos, ou seja, cerca de 2,55%.

Efetivamente há uma rigorosa política de gestão, onde

diariamente é desafiado o profissionalismo, empenho,

transparência e capacidade de sacrifício de todos os

colaboradores da instituição.

€ 1 796 470,57

17%

€ 703 635,29

6%

€ 5 858 195,35

54%

6 000 000,00

4 500 000,00

3 000 000,00

€ 60 984,20

1%

€ 18 020,07

0%

C.M.V.M.C.

F.S.E.

Gastos c/ pessoal

Amortizações

Provisões

Outros Gast. Perdas

Juros e Gastos Sim.

€ 831 562,81

8%

€ 1 477 834,99

14%

2020

2021

1 500 000,00

0,00

C.M.V.M.C.

F.S.E.

Gastos c/

pessoal

Amortizações

Provisões

Outros

Gast. Perdas

Juros

e Gastos

Sim.


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#43

Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2021

Resultados

2021

Provisões 1 796 470,57

Amortizações 703 635,29

Resultado Líquido -647 450,38

Meios Libertos 1 852 655,48

MEIOS LIBERTOS DE €1.852.655,48

• O RESULTADO LÍQUIDO DO PERÍODO é de

- €647.450,38

• AMORTIZAÇÕES de €703.635,29

• PROVISÕES de €1.796.470,57

800 000,00

600 000,00

400 000,00

200 000,00

0,00

-200 000,00

-400 000,00

-600 000,00

-800 000,00

57 428,35

73 252,33

728 600,86

703 635,29

Result. antes Amortizações

Deprec.

(Amortizações)

Resultado

Operacional

2020

2021

-671 172,51

-630 382,96

-675 166,56

-647 450,38

Resultado

Líq. Periodo

NOTAS:

REAL VS ORÇADO

Confirma-se a apologia feita ao rigor orçamental

aquando da apresentação do Plano de Atividades e

Orçamento para 2021, efetivamente projetamos com

prudência as receitas e “pessimismo” as despesas,

exceção feita à rubrica de provisões.

INVESTIMENTO

O valor do investimento no ano em análise foi de

€350.654,96, com destaque para as obras de

remodelação do Lar Dra. Leonor Beleza a que foram

afetos cerca de 32% deste valor.

Não podemos deixar de relembrar que as obras do Bairro

da Misericórdia e da Casa de Repouso de Real, bem

como a disseminação do sistema WIFI por todas as

valências da Misericórdia de Santo Tirso, encontram-se

contabilizadas como em investimento em curso.

Nos últimos 5 anos foram investidos cerca de

€5.516.000,00.


Pag | 19

Atualidades

PROVISÕES

Reitera-se que tendo estas por objeto reconhecer as

responsabilidades cuja natureza esteja claramente

definida e que à data do balanço sejam de ocorrência

provável ou certa, mas incertas quanto ao seu valor ou

data de ocorrência, a instituição tem a responsabilidade

de garantir as necessárias condições de acolhimento aos

seus utentes mediante a sua esperança média de vida.

DONATIVO

No ano em análise encontra-se contabilizado o valor de

€771.000,00 na devida rubrica de Subsídios, Doações e

legados à Exploração, objeto de apreciação na

Assembleia Geral Extraordinária de 30 de Novembro

passado. •

POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)


Pag | 26

#43

Atualidades

REPARTIR EM IGUALDADE

No âmbito do Protocolo de Cooperação para a

Igualdade e a Não Discriminação, assinado em junho

de 2019, entre a Comissão para a Cidadania e a

Igualdade de Género e o Município de Santo Tirso,

com o objetivo de desenvolver medidas para a

territorialização da Estratégia Nacional para a

Igualdade e Não Discriminação (2018-2030) foi criada

a Equipa para a Igualdade na Vida Local, a qual

integro como Conselheira Externa para a Igualdade

entre outros elementos do concelho de Santo Tirso

com preponderância nos assuntos em debate.

A nomeação para Conselheira Externa para Igualdade

surge no decorrer do percurso profissional de

intervenção na área da Violência Doméstica, da

Igualdade e Não Discriminação, desde a intervenção com

a comunidade cigana até inúmeros projetos que

envolvem estas temáticas.

Como tal, cumpre-me mobilizar, desde já a instituição

para o assunto e programar ações e medidas que

espelhem a proatividade organizacional nestas matérias.

Contudo, sendo a instituição recetiva à inovação e ao

respeito por valores e princípios universais, com maior

facilidade se estrutura o Plano interno e as medidas a

integrar no mesmo e mais amplamente no Plano

Municipal para a Igualdade e Não Discriminação.

A proposta institucional do Plano centra-se em 2

Domínios:

1. Saúde Psicológica no Trabalho

• Dinamização do Grupo de Trabalho “Recursos

Humanos e Inclusão”;

• Criação de um novo Grupo de Trabalho “Saúde

Psicológica Ativa”.

2. Comunicação Inclusiva

• Formação em linguagem inclusiva;

• Alteração progressiva dos documentos produzidos

com linguagem inclusiva;

• Utilização generalizada da linguagem IND por todos

os serviços da organização na comunicação interna e

externa;

• Recolha e análise de dados desagregados em

relatórios produzidos.

O desenvolvimento deste último item pode ser

espelhado na iniciativa comunicacional “Misericórdia

em Números”, que pretende reforçar a comunicação

externa com clientes, fornecedores e outros parceiros,

apresentando dados estatísticos das valências/

serviços, espelhando a dinâmica institucional.

Neste esquema visual apresentamos o número de

utentes admidos/as por serviço/valência, nesta

primeira apresentação pelo período de 4 meses

(janeiro a abril 2022).


Pag | 27

Atualidades

MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO EM NÚMEROS

janeiro a abril 2022

Nº DE INDIVÍDUOS EM

ACOMPANHAMENTO SOCIAL

(RSI, CPCJ, CANTINA, PROG. ALIMENTAR)

206 236

Nº DE ADMISSÕES EM

VALÊNCIAS RESIDENCIAIS

(JLA, LB, CR)

15 em 236 utentes

12 3

Nº DE VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA ACOLHIDAS

(CA E C. EMERGÊNCIA)

38 em 33 vítimas

28 10

Nº DE ADMISSÕES EM VALÊNCIAS

COMPLEMENTARES

(SAD, CD)

21 em 112 utentes

13 8

CLÍNICAS DA MISERICÓRDIA

Unidade Fisiatria: 700 utentes/dia

10% Atendimentos diários são dos 0 aos 15 anos.

Acima dos 55 anos a taxa de atendimentos é de 60%

Unidade Endoscopia: 200 utentes/mês

Gabinete M. Dentária: 20 utentes/mês

REDE NACIONAL CUIDADOS

CONTINUADOS

Capacidade instalada: 68 utentes

Taxa de Ocupação: 98%

Idade: entre 36 e 93 anos


Pag | 28

#43

Atualidades

REPARTIR EM IGUALDADE

Sempre que for possível iremos apresentar os dados

desagregados, por sexo ou idade, na vertente que possa

ser mais interessante a sua análise.

Assim sendo, poderemos concluir que nas valências

residenciais foram admitidas mais mulheres, facto

este que confirma a predominância feminina em

residência, embora não se verifique a mesma

tendência nas valências residenciais da área da saúde

(UCCs). Verificamos, que

mesmo no Serviço de Apoio

Domiciliário e no Centro de Dia,

se confirma a tendência da

maioria feminina, no fundo a

expressão da representação

demográfica do país.

No caso da área da Violência Doméstica, confirma-se a

maioria de vítimas mulheres, sendo que apenas 10 em 38

vítimas acolhidas são crianças do sexo masculino, que

acompanham as mães para fugir da situação de violência

que viviam nas suas casas.

Na intervenção comunitária (no Centro Comunitário

de Geão), constatamos uma realidade diferente,

atendendo que do número total (442) de pessoas em

acompanhamento social pelos vários serviços, o

número de homens (236) é ligeiramente superior ao

das mulheres (206). Para este facto inscreve-se

essencialmente o serviço da Cantina Social, que

REPARTIR os dados pode ajudar a

planear melhor as ações a desenvolver,

tentando criar IGUALDADE de

oportunidades (...)

distribuiu nestes 4 meses de 2022 refeições a 111

homens e 22 mulheres – é sem dúvida uma diferença

gritante – que se explica pelo isolamento social e

situação de sem-abrigo mais comum no sexo

masculino.

Esta leitura dos dados desagregados serve o pressuposto

de aferir um Plano de Atividades e Investimentos da

instituição de acordo com as necessidades manifestadas

na comunidade local.

REPARTIR os dados pode

ajudar a planear melhor as

ações a desenvolver, tentando

criar IGUALDADE de

oportunidades, através do

investimento social nas camadas

sociais mais fragilizadas. •

POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)


#43

Pag | 29

REDE WI-FI PARA TODOS

Atualidades

O mais recente projeto desenvolvido pelo Departamento de

Informática é transformador e reinventa formas de trabalho dos

colaboradores e de vivência dos nossos utentes.

É um projeto para os colaboradores na medida em que podem

usufruir de uma rede WI-FI que cobre todas as valências da

Misericórdia. Podem aceder à sua rede de

trabalho em qualquer local, fazer

reuniões via TEAMS, aceder e

partilhar documentos, utilizar

o e-mail e todo o tipo de

trabalho que hoje

realizam, mas com a

liberdade de o poderem

fazer em qualquer local e

com qualquer dispositivo, seja

portátil, tablet ou smartphone.

O projeto global encontra-se em fase de finalização, havendo

já cobertura WI-FI na Casa de Repouso de Real, Clínica da

Misericórdia, Unidade Cuidados Continuados de Longa

Duração, Jardim de Infância e Lar José Luiz d´Andrade. •

POR EQUIPA DO DEP. INFORMÁTICA

É também um projeto para os nossos

utentes, bem sabemos o quanto é difícil para

eles o distanciamento que sentem todos os dias

dos seus familiares, e que foi severamente

agudizado pela Pandemia. Também aqui o WI-FI

será um pilar na construção de soluções criativas de

aproximação dos utentes aos seus familiares e amigos,

utilizando Tablets, Smartphones.Temos também os utentes

pontuais que utilizam as Clínicas da Misericórdia onde podem

aguardar calmamente a sua vez navegando na Internet e tendo

desta forma uma melhor experiência dos serviços que a

Misericórdia presta.


Pag | 30

#43

Ação

Social e

Comunidade

DIVIDIR E TORNAR A

DISTRIBUIR… REPARTIR

Sozinhos, só partirmos, mas acompanhados podemos partilhar

e REPARTIR … dias, horas, alegrias, tristezas, angústias,

segredos, histórias, afetos, emoções, experiências, derrotas,

conhecimentos, sucessos, olhares, objetos … uma infinidade

de coisas!

Nos dias de hoje e após o período de dois anos de uma

vivência marcada pela pandemia, as partilhas ficaram

comprometidas das mais variadas formas.

Indiscutivelmente que o domínio das emoções e das

relações sociais e familiares são aquelas que ficarão

marcadas para todo o sempre.

Verificamos que os convívios familiares são menos presentes e

mais espaçados no tempo. Os contactos através das redes

sociais aumentaram substancialmente. As crianças tornaram-se

mais sedentas de brincadeiras ao ar livre com os seus pares.

Os idosos sentiram a solidão, a ansiedade pelo desconhecido e

o pavor do abandono. Desenvolveram medos que jamais

pensaríamos ter! E no meio de tudo isto, deixamos de

REPARTIR da mesma forma o afeto, o toque, o calor humano

de um simples abraço!

Atualmente, apesar de tudo parecer mais normalizado, a

verdade é que o nosso quotidiano sofreu alterações que já

estão totalmente integradas nas nossas dinâmicas diárias,

ainda que inconscientemente.

O cumprimento social ainda não é concretizado por todos da

mesma forma. Uns ainda utilizam máscara na via pública,

outros não. Há quem frequente naturalmente espaços de

diversão noturna. Há quem tenha desenvolvido alguma fobia

social.

Enfim… há de tudo um pouco, mas cada um saberá o que

melhor lhe cabe.

Neste momento em que nos encontramos, precisamos de sentir

que, no caminho que percorremos, há esperança.

Todos carecemos de olhar o futuro de outro prisma, de uma

forma otimista e de esperança. A chave pode ser REPARTIR:

• O que a experiência nos permitiu adquirir;

• Aquilo que os outros nos dão e retribuir;

• O reconhecimento do menos bom e corrigir;

• O saber ouvir e refletir;

• O respeito mútuo e reproduzir;

• O apoio aos nossos familiares, amigos, colegas e utentes

para difundir;

• O conhecimento que adquirirmos ao longo das nossas

vivências e que facilitam outros a se instruir;

• Os novos caminhos que estão por descobrir;

• Segundo Sócrates “O grande segredo para a plenitude é

muito simples: compartilhar!”

Basta estarmos disponíveis e querermos porque já dizia

Mahatma Gandhi “A força não provém da capacidade física.

Provém de uma vontade indomável”.•

POR MARIA JOÃO OLIVEIRA (ASSISTENTE SOCIAL NA UCC)



Pag | 32

#43

Ação

Social e

Comunidade

OS DIAS DO FIM

Partir!

Nunca voltarei,

Nunca voltarei porque nunca se volta.

O lugar a que se volta é sempre outro,

A gare a que se volta é outra.

Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia.

Álvaro de Campos

Em tempos de guerra temos sido assolados com imagens

de um inferno na Europa e das suas vítimas. Diariamente

assistimos impotentes àqueles que se precipitam numa

viagem pela sobrevivência, devastados pela guerra e

pelo mundo que da noite para o dia ruiu.

Sem imagens, e longe do mediatismo, outras guerras

se travam dentro de portas. E a mesma urgência de

(sobre)viver a ditar outras fugas. Na Casa Abrigo

acolhemos todos os anos mais de uma centena de

vítimas de violência doméstica. Mulheres e crianças

que abandonam as suas casas e cidades. Deixam

para traz familiares e amigos, o emprego/ a escola,

sonhos e projetos e a vida que conheciam. São

histórias de partidas e chegadas - duas faces da

mesma viagem - e o testemunho de quem não quis

(nem pôde) ficar. Relatos sobre os dias do fim, que

são também dias de novos começos.

Apesar do meu acolhimento em Casa Abrigo ter sido um

percurso fundamental à reorganização da minha vida

longe da violência e de, durante esse acolhimento, ser

mais livre do que antes fora, partir da instituição

significou, sempre, liberdade, ter escolha, ter paz numa

casa só minha. Mas partir também me trouxe

desassossego, receio de não conseguir construir e gerir a

minha vida, sendo eu estrangeira, numa cidade nova e

com dois filhos…A passagem pela Casa Abrigo

preparou-me para a partida que eu queria, deu-me uma

segunda vida, trouxe-me confiança nas minhas

capacidades, permitiu-me acreditar em mim. Ansiei muito

pelo dia da partida. E partir foi viver de novo.

H.

A palavra “partida”, por si só, já é algo que nos remete a

um misto de sensações pois pode ser por maus motivos ou

por bons; pode ter como consequência a tristeza por

haver afastamento de alguém que nos é importante mas

também felicidade por irmos em busca de um futuro

melhor. No meu caso, a minha partida foi tudo isto. Saí

de casa por maus motivos, mas ao mesmo tempo pelo

melhor motivo possível pois sabia que ia em busca de

segurança, bem-estar físico e mental e acima de tudo em

busca da minha felicidade e da felicidade dos meus

filhos. Contudo, o sentimento de tristeza apoderava-se de

mim por não poder estar perto da minha avó, do meu pai

e de todas as pessoas que fizeram de mim quem eu sou

hoje. Tive de me afastar deles, abandonar as minhas

coisas de casa, animais, amigos, etc, para recomeçar

tudo do zero. Ainda assim posso afirmar que apesar de

não ter vindo para o paraíso, encontrei as pessoas certas

que poderiam criar um.



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#43

Ação

Social e

Comunidade

OS DIAS DO FIM

São como mães, avós, madrinhas; são como uma família.

De momento estou a caminho de uma re-partida e mais

uma vez há um misto de emoções. Mas posso afirmar que

esta partida é a mais difícil que tive na minha vida.

Acabo por sentir um vazio dentro de mim pois não vou ter

mais as funcionárias, as doutoras e uma colega que,

entre todas, é a única amiga que levo. Na minha casa

não vou ter uma porta onde bater só para dizer “bom

dia” ou até mesmo só para dizer que cheguei. Não vou

ter as funcionárias para assustar. Apesar de estar a viver

um momento difícil, aqui senti o miminho de toda a

equipa técnica e ainda sem ter saído, já sinto saudades.

Ao mesmo tempo, sinto algo muito bom pois vou voltar a

ter um espaço só meu e dos meus filhos. Sem horas para

entrar ou sair. É uma sensação de liberdade inexplicável.

Saber que vou trabalhar, pagar as minhas contas e que

vou ser independente outra vez acaba por amenizar a

dor da partida. No fundo, o significado de partida, na

minha opinião, é esta descoberta de novas sensações, já

que em momento algum na nossa vida sabemos o nosso

futuro. E, a qualquer momento, na nossa vida, podemos

ter que partir e voltar a partir.

A.

Foi tudo muito rápido. Tínhamos acabado de sair do

Tribunal e tivemos indicações de que teríamos que sair

de imediato de nossa casa. Não houve tempo para nada.

Nem para nos despedirmos de ninguém. Nesse dia não

almoçamos. Tivemos que ficar na PSP grande parte do

dia, à espera de transporte. Deram uma hora à minha

mãe para reunir alguns pertences. A minha mãe estava

em pânico e o meu irmão também estava muito

assustado. Deixamos para trás o nosso cãozinho na

esperança de o recuperar mais tarde. Chegamos à Casa

Abrigo de madrugada e estava muito escuro. Senti que

era tudo assustador. Tínhamos receio sobre o tipo de

pessoas que iriamos encontrar cá e nesse dia

adormecemos exaustos. Os primeiros dias na Casa

Abrigo foram ainda mais difíceis porque tínhamos que

estar em isolamento por causa do COVID-19.

Pensávamos que ia ser um processo rápido, mas

entretanto já passou mais de um ano. Estava aliviada por

a minha mãe ter decidido sair daquela relação, mas

custou-me muito deixar para trás todos os meus amigos e

tinha muito medo de não voltar a casa.

M.

Em palavras não sei descrever realmente o que senti. Foi

um misto de sentimentos, algo surreal, inacreditável.

Apenas queria ir embora. Para onde? Eu não sabia.

Apenas queria partir, sem olhar para trás.

Ter o meu recomeço. Temia ficar sem as minhas filhas,

pensava que iríamos correr perigo e que algo de mal nos

poderia acontecer. Mas era o dia de abandonarmos tudo

e ir... Sem saber o destino, era chegada a hora de um

novo rumo. Lágrimas, ansiedade, incertezas mas, bem no

fundo do coração, ESPERANÇA.

K. •

POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA CASA ABRIGO D. MARIA MAGALHÃES)


#43

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AS VOZES DE “ENVELHECER

ATIVAMENTE” PRÉMIO BPI

FUNDAÇÃO “LA CAIXA”

Ação

Social e

Comunidade

A Misericórdia de Santo Tirso foi este ano uma das

instituições premidas pela 9ª edição do Prémio BPI

Seniores 2021, financiado pelo Banco BPI e a Fundação

“la Caixa”.

O projeto Envelhecer Ativamente, apoiado pelo Prémio

BPI Seniores 2021, tem sido desenvolvido com os/as

utentes do Lar José Luiz d’ Andrade, com o objetivo de

mitigar os efeitos da pandemia nos/as idosos/as

institucionalizados/as, através de ações que promovam o

envelhecimento ativo saudável.

Nestes seis meses de projeto a terapeuta ocupacional em

colaboração estreita com a animadora sociocultural,

implementou a prática continuada de exercício físico;

rotinas de atividade e reabilitação com material

especializado e rentabilização do jardim geriátrico na

reabilitação de competências.

Este projeto possibilitou ainda treinos e jogos de boccia

frequentes, uma das atividades que os/as utentes mais

desejavam retomar após o(s) isolamento(s) que a

pandemia obrigou.

Nesta fase de crescimento do projeto damos a

conhecer o sentem e vivem todos/as os/as envolvidos/

as neste projeto:

“Quanto às nossas atividades acho que são boas, uma

maravilha! Tudo o que seja desporto é bom porque


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#43

Ação

Social e

Comunidade

AS VOZES DE “ENVELHECER

ATIVAMENTE” PRÉMIO BPI

FUNDAÇÃO “LA CAIXA”

beneficiamos a nossa saúde, da minha parte devemos

continuar!

José Araújo, Utente JLA

“Estas atividades ajudam as pessoas idosas, nós não

podemos fazer atividades muito esforçadas, elas são

adequadas à nossa idade!”

Assunção Oliveira, Utente JLA

“Isto dá-nos vida! É muito positivo! Para

as nossas idades o exercício é muito

importante! É sempre bem-vindo tudo o

que nos faça mexer para viver melhor!”

Artur Ribeiro, Utente JLA

“Eu acho que as atividades são bem

dadas, com muita arte e alegria! A mim

particularmente tem-me feito muito

bem, porque acho que não é só dar as

atividades por si só, elas são escolhidas e adaptadas à

nossa idade e aos nossos interesses! Foi uma altura

excelente contratarem esta técnica que tem muito jeito,

nasceu para isto! E todos nós lucramos bastante!”

Paraíso Machado, Utente JLA

“Para mim fez-me muito bem! Agradeço muito à menina,

é muito agradável e devemos continuar, criamos mais

amizade e convívio uns com os outros.”

Américo Moreira, Utente JLA

“Estou a gostar muito, a Telma é muito simpática, isto só

nos faz bem!”

Joaquim Gonçalves, Utente JLA

“Todos os exercícios físicos são muito úteis para nós,

faz-nos muito bem!”

António Rodrigues, Utente JLA

“Acho que devemos continuar, faz-nos

bem, os exercícios são adequados,

ajuda-nos a mover-nos melhor, e a

menina Telma deve continuar!”

Edite Gonçalves, Utente JLA

“É muito útil para as nossas idades,

estamos com os movimentos menos

presos e isto ajuda-nos a libertar-nos

mais e a interagir uns com os outros.”

Rogério Pinto, Utente JLA

“ Eu sempre gostei de atividades físicas, não faz bem nas

nossas idades estar sempre sentada, participo em tudo e

gosto muito. Com bolas, bastões… e estou sempre

disponível para participar em mais coisas que me

disserem.”

Madalena Miranda, Utente JLA

“É um bom passatempo! Para além de fazer bem à saúde

divirto-me!”

Emília Cabo, Utente JLA


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Ação

Social e

Comunidade

“Eu gosto muito pois a menina põe-nos a fazer coisas

giras, e apesar de eu estar numa cadeira de rodas e não

me mexer muito, consigo fazer tudo e divirto-me muito!”

Virgínia Dias, Utente JLA

“Após 2 anos de pandemia e encerramento de muitas

atividades, este projeto foi sem dúvida uma lufada de ar

fresco no JLA! Olho os utentes antes e depois do projeto e

é óbvio que as diferenças estão à vista, com desafios

constantes estão mais ocupados, mais animados e mais

felizes!

A parceria entre Terapeuta Ocupacional e Animadora é

sem dúvida, na minha opinião, a melhor forma de

trabalhar nas ERPI: os/as Terapeutas Ocupacionais têm

o conhecimento necessário para avaliarem os/as utentes

criando grupos de trabalho diferenciados, conforme as

suas potencialidades, o/a Animador/a tem a criatividade

e a motivação para que tudo funcione bem!

Sinto-me uma privilegiada por ter este desafio, tem sido

uma constante aprendizagem e partilha de ideias

enriquecendo o trabalho de animação!”

Marta Ferreira – Animadora Sociocultural JLA

“À medida que envelhecemos vamos perdendo algumas

competências e, consequentemente, vão surgindo

dificuldades nas atividades que desempenhamos no

nosso dia-a-dia. Contudo, é possível que essas

dificuldades surjam mais tardiamente, com a adoção de

hábitos de vida saudáveis, como é o caso da prática de

atividade física. É esse o mote do projeto, Ativamente


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#43

Ação

Social e

Comunidade

AS VOZES DE “ENVELHECER

ATIVAMENTE” PRÉMIO BPI

FUNDAÇÃO “LA CAIXA”

Saudável, e é muto gratificamente compreender que,

através da prática orientada de atividade física, esta

iniciativa já produziu efeitos não só ao nível da saúde

física dos nossos idosos, como também na sua

participação social e bem-estar emocional. Sou muito

grata por integrar o projeto que tanto contribui para

preservar a autonomia e qualidade de vida dos/as

nossos/as iodosos/as.”

Telma Ferreira – Terapeuta Ocupacional

A disseminação e promoção de estilos de vida saudáveis

nas restantes valências seniores da Misericórdia é um dos

objetivos do “Envelhecer ativamente”, garantindo assim a

sua sustentabilidade e escalabilidade. Este será o objetivo

para o segundo semestre do projeto.•

POR SOFIA MOITA (COORDENADORA JLA)


#43

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RAP CRIAR RESPOSTAS DE

APOIO PSICOLÓGICO

Ação

Social e

Comunidade

Atendendo à evidente necessidade de dar respostas

efetivas e atendendo às dificuldades apresentadas

pelas crianças em situação de violência doméstica, a

Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

(CIG) desenvolveu e é a entidade responsável pela

gestão desta ação de acompanhamento e apoio

especializado, as RAP (Respostas de Apoio

Psicológico) para crianças e jovens vítimas de

violência doméstica.

A RAP Criar, é da responsabilidade da Associação

Projecto Criar que, desde Outubro de 2021 está em

funcionamento e dá resposta a quatro concelhos do

Distrito do Porto, incluindo Santo Tirso. Nesta área os

atendimentos decorrem nas instalações afetas à Santa

Casa da Misericórdia de Santo Tirso, mais concretamente

no Centro Comunitário de Geão. Esta parceria foi

estabelecida através do protocolo de colaboração

assinado a 09/12/2021 com término previsto em

Dezembro de 2022.

Tendo em consideração os dados do RASI (2021), ao

longo destes últimos tempos o distrito do Porto continua a

ser um dos distritos com maior criminalidade,

destacando-se entre as categorias, os crimes contra as

pessoas (segunda categoria mais frequente), mais

precisamente, os crimes de violência doméstica, fazendo

deste crime o mais participado. De 2020 a 2021 existiu

um aumento (+8,1%) de ocorrências de violência

doméstica contra crianças e jovens, sendo as crianças/

/jovens com menos de 16 anos, a 2ª faixa etária com

maior número de vítimas (16,2%). Dados da Segurança

Social referentes a 2020, explicam que as situações de

perigo (n = 15.403) mais frequentes, que motivaram ao

afastamento temporário das crianças da sua família no

âmbito de processos de promoção e proteção, estão

relacionados com: negligência (n = 10.884), outras

situações (e.g., abandono, comportamentos de risco) (n

= 1.966), maltrato psicológico (n = 1.531), maltrato físico

(n = 628) e violência sexual (n = 394). Sendo que, à

semelhança de 2019, as situações de maltrato

psicológico, correspondem, em grande número, à

exposição a situações de violência doméstica. O distrito

do Porto é um dos distritos com maior número de crianças

acolhidas, de acordo com os dados da Segurança Social.

Relativamente, às crianças e jovens que beneficiaram de

intervenção pelas CPCJ no ano de 2020, no âmbito de

processos de promoção e proteção, a categoria de perigo

mais representativa foi a de violência doméstica

(exposição e a violência física em contexto de violência

doméstica), representando aproximadamente 97% do

total de situações comunicadas nesta categoria. Estas

situações de perigo referem-se a crianças/jovens nas

faixas etárias dos 6 aos 17 anos de idade.

Para além dos dados acima referidos acerca deste

problema real da nossa sociedade, a violência doméstica,

acresce a densidade populacional na área metropolitana

do Porto, que torna indiscutível a necessidade de uma

resposta integrada que abranja toda a área,

especialmente nas zonas onde existem menos respostas

neste âmbito.


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#43

Ação

Social e

Comunidade

RAP CRIAR RESPOSTAS DE

APOIO PSICOLÓGICO

Mas, que relação existe entre as crianças e a violência

doméstica? Atendendo ao impacto, significativo,

causado por estas vivências, desde 16 de agosto de

2021 que todas as “crianças ou os jovens até aos 18

anos que sofreram maus-tratos relacionados com

exposição a contextos de violência” passam a ser

consideradas vítimas ao abrigo da Lei. Esta alteração

reconhece que, não só os atos dirigidos diretamente à

criança ou jovem, sejam físicos, psicológicos, de

negligência ou qualquer outro tipo, mas também a

exposição a contextos de violência, têm um impacto na

vida destas crianças e jovens, e nesse sentido, devem

estas, à luz daquilo que a Lei implica, ser protegidas e

apoiadas.

Apesar da crescente consciencialização para aquilo que

são os Direitos das Crianças, não raras vezes, estas são

desconsideradas ou descredibilizadas. Quantas vezes

não ouvimos já “eu sou a mãe/pai, eu é que sei o que é

melhor para o/a meu/minha filho/a” ou até mesmo “uma

palmada nunca fez mal a ninguém”? Acontece que,

ainda que em desconstrução, estes discursos vão sendo

perpetrados na nossa sociedade, legitimando e

banalizando aquilo que é a violência contra as crianças e

a violação dos seus Direitos. Ademais, não raras vezes, as

crianças concordam com mitos como “uma criança não

tem quereres, tem que obedecer aos pais”, “se a mãe ou

o pai batem é porque fiz algo de errado, por isso têm o

direito de bater,”, isto porque, ao longo deste tempo todo

as crianças foram habituadas a estes discursos e

interiorizaram-nos, levando à aceitação e acatamento de

ordens sem questionamento, simplesmente porque

alguém que, assumem estar em posição de

superioridade, exerce um controlo, por vezes, desmedido

e irresponsável sobre o que é a educação das crianças.

Urge a necessidade de reconhecimento dos Direitos das

Crianças, seja pela necessidade de reduzir o impacto da

exposição a situações de violência no seio familiar, seja

pela necessidade de produzir comportamentos

responsivos e, verdadeiramente, educativos. Assistimos

hoje, àquilo que parece ser, uma crescente banalização

da violência em diferentes contextos, sem reconhecer

que as crianças têm necessidades a nível da gestão

emocional que, por vezes são desconsideradas e

descredibilizadas sob pretexto de “mimo”, assim como


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Ação

Social e

Comunidade

uma inconstante impaciência em desmistificar e explorar

as emoções e sentimentos das crianças, não

reconhecendo que diversos comportamentos que as

crianças têm são frutos desta desatenção e impaciência.

Não é verdade que com isto se deva encarar os/as pais/

mães como um problema, a verdade é que, dentro

daquilo que são os seus recursos, os/as pais/mães tentam

fazer o melhor que podem com aquilo que têm à sua

disposição. Contudo, talvez esteja na hora de parar e

pensar que as práticas educativas carecem de constante

avaliação, monitorização e reaprendizagem por parte de

quem as pratica.

Ademais, não podemos considerar que o(s) problema(s)

entre um casal, não afeta toda a dinâmica familiar,

incluindo as crianças ou jovens, que por muito que

possam ser ou que as tentem proteger, são filtros muito

permeáveis a estas dinâmicas. E que, por si só, se pode

revelar como um fator ameaçador ao seu natural

desenvolvimento e propiciador do desenvolvimento de

sentimentos de instabilidade e/ou insegurança. Assim,

tendo em conta o seu desenvolvimento, o potencial

impacto da violência doméstica, vai sendo manifestado

de diferentes formas e apresentando diferentes

consequências.

Importa focar numa lógica de ação, o que podemos

fazer para apoiar estas crianças e jovens? Com a RAP

procuramos, promover os seus direitos, diminuir as

consequências e o impacto decorrente das situações

de violência, bem como diminuir o risco (em que se

encontra ou futuros), restabelecer o funcionamento,

promover o seu desenvolvimento pessoal e

desmistificar crenças e conceitos errados de um

ambiente familiar destruturado/disfuncional. Ou seja,

procuramos, sobretudo, restabelecer o bem-estar

psicológico e emocional da criança.

Por vezes, as crianças vão dando sinais (e.g., ansiedade,

falta de concentração, dificuldade em dormir, pesadelos,

perda de interesse em atividades de lazer ou escolares),

se denotar alguma alteração, a RAP Criar está

disponível para ajudar e temos em execução duas

modalidades de acompanhamento: acompanhamento

psicológico individual e acompanhamento psicológico

em grupo. Se conhece, ou sabe de alguma criança e/

ou jovem que poderia beneficiar desta resposta, pode

contactar-nos diretamente ou contactar as entidades

locais, que têm desenvolvido um papel fundamental,

para o funcionamento desta resposta.

RAP Criar

964 899 958 || rapcriar@gmail.com

Centro Comunitário de Geão

252 809 410 || Rua Clichy, 4780-735 Santo Tirso

CPCJ de Santo Tirso

925 653 692 || cpcj.santotirso@cnpdpcj.pt •

POR SORAIA PINHEIRO & VERA TOMAZ (PSICÓLOGAS DA RAP CRIAR)


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#43

Saúde

DIFERENTES MAS IGUAIS

Há um grupo muito heterogéneo dos chamados

deficientes físicos e/ou mentais. Apesar de terem nascido

diferentes, são seres humanos iguais aos demais, na

dignidade, nos direitos (aqui ainda possuidores de mais),

no respeito que merecem e no seu destino final. Os

deficientes nasceram numa sociedade que não está

preparada para os receber, são muitas vezes apenas

tolerados e objeto de simples processos de intenções.

Muitos deles poderiam mesmo ser credores de uma muito

melhor integração social, se a sociedade atual não fosse

tão egoísta e se preocupasse mais

com aquilo que as pessoas são.

Está por criar uma cultura de

tolerância que saiba aproveitar de

cada um o que pode dar para o

bem-estar e processo de todos,

mesmo que seja pouco. Porém, há outro grupo de

deficientes, que são aqueles que se tornam deficientes

durante a vida por doenças incapacitantes, por acidentes

laborais, de viação, entre outros ou até mesmo por

comportamentos de risco que possam levar à

incapacidade. Procuremos ser solidários com aqueles

que vivem as limitações de uma qualquer deficiência.

Procuremos, por outro lado ter uma vida pessoal

equilibrada, em todos os aspetos e aberta às

necessidades daqueles que não têm a mesma sorte

que nós.

Pais, que sois atingidos no fundo do vosso coração por

uma tal adversidade, sabei que o vosso filho vale tanto

como os outros. Não há uma diferença moral entre uma

perna partida e alguns nervos paralisados. O valor íntimo

do ser humano não depende da sua integridade física ou

psicológica. Se viveis o drama de ter um filho assim,

procurai assegurar-lhe o melhor, deixai a natureza seguir

o seu caminho e procurai ser felizes, apesar de tudo. •

POR JOSÉ DOS SANTOS PINTO (PROVEDOR)

Os deficientes nasceram numa

sociedade que não está preparada

para os receber (...)


#43

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BÊNÇÃO DA UCC

“COMENDADOR ALBERTO

MACHADO FERREIRA”

Saúde

O dia de 27 de janeiro de 2022 ficou marcado pela presença

do Bispo do Porto, D. Manuel Linda, na bênção da nova

Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração e

Reabilitação desta Misericórdia.

Após um breve discurso de agradecimento, proferido pelo

Provedor da instituição, houve lugar ao descerramento da

placa que perpetuará este evento no tempo, momento também

partilhado pelo Presidente da Câmara Municipal de Santo

Tirso, Dr. Alberto Costa.

Mesmo sendo uma cerimónia pautada pela discrição, não

faltaram sorrisos, um pouco de música e importantes palavras

de incentivo de D. Manuel Linda, pela extrema importância

que estas unidades de saúde representam, enquanto serviço

ao próximo, na nossa comunidade. •

POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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G. Recursos

Humanos

#43

SATISFAÇÃO DOS/AS

COLABORADORES/AS O

CAMINHO PARA O SUCESSO

INSTITUCIONAL

A auscultação periódica dos níveis de satisfação dos/as

colaboradores/as com a Instituição e da sua motivação

relativamente às funções que desempenham, é uma

máxima institucional:

Colaboradores/as satisfeitos/as => Utentes/Clientes

satisfeitos/as => Sucesso.

Os resultados foram avaliados tendo em conta a sua dimensão

– Grande Empresa – apresentando-se aqui o panorama global

(por grandes áreas).

Ciente de que a satisfação individual é o melhor potenciador

do sucesso Institucional, em 2021, a Misericórdia de Santo

Tirso participou novamente no estudo nacional de clima

organizacional e desenvolvimento do Capital Humano

desenvolvido pela Neves de Almeida HR Consulting em

parceria com a Human Resources Portugal e o INDEG-ISCTE.

Tratou-se da 6ª edição do “Índice da Excelência” que permite

a oportunidade de identificar áreas fortes e de melhoria na

gestão do ativo humano e validar o nosso processo interno de

avaliação da satisfação dos colaboradores.

Não sendo tradicional encontrar ONG ou IPSS neste tipo de

estudos/análises, a Misericórdia de Santo Tirso persiste como a

única entidade do setor neste estudo.

Esta participação possibilita a validação externa dos resultados

da avaliação interna periódica, disponibilizando uma análise

crítica especializada, com garantia de isenção e

imparcialidade.

POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)


#43

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PRÉMIO HEALTHY

WORKPLACES LOCAL DE

TRABALHO SAUDÁVEL 2022

G. Recursos

Humanos

A Misericórdia de Santo Tirso participou na 4ª edição dos

prémios Healthy Workplaces, promovido pela Ordem dos

Psicólogos Portugueses em parceria com a ACT (Autoridade

para as Condições do Trabalho) e a EU-OSHA (Agência

Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho). Esta

iniciativa tem como objetivo de reconhecer as organizações

portuguesas com práticas de gestão promotoras de segurança,

bem-estar e saúde no local de trabalho.

À Misericórdia de Santo Tirso foi atribuído um “Selo Nível

2”, sinal da preocupação e do interesse contínuos em

transformar a Instituição num Local de Trabalho Saudável.

A atribuição deste prémio reveste-se de um efeito

potenciador (da ação e do compromisso, coletivos e

individuais) e multiplicador (exemplo a seguir).

Este é um passo num caminho importante, destacado pelo

Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco

Miranda Rodrigues, como “um prémio à humildade e à

coragem dos líderes e organizações que estão dispostos a

continuar a aprender e melhorar.”

Para conhecer todos os vencedores e saber mais sobre como

promover locais de trabalho saudáveis visite o site

maisprodutividade.org. •

POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)


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#43

G. Recursos

Humanos

PACOTE M+

A Misericórdia de Santo Tirso preocupa-se com a saúde, o

bem-estar e satisfação dos/as seus/suas Colaboradores/as!!

É com este objetivo que disponibiliza um Pacote Exclusivo de

Benefícios e Regalias, atualizado periodicamente. •

POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)

Prioridade admissão e desconto de 20% nas mensalidades

relativas a filhos/as que frequentem a valência do Jardim

de Infância e prioridade na admissão dos mesmos.

Até 3 dias extra de férias/ano

(em função assiduidade e pontualidade)

Prioridade na admissão de

colaboradores/as e ascendentes nas

valências de 3ª idade.

Dia de Aniversário

(colaboradores/as com avaliação de

desempenho ≥ Bom)

Prioridade no acesso a serviços de saúde prestados pela

instituição, extensível a descendentes e ascendentes

(Medicina Dentária, Medicina Física e Reabilitação/Fisioterapia,

Terapia Ocupacional, Terapia da Fala, Análises Clínicas e Meios

Complementares de Diagnóstico).


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G. Recursos

Humanos

50% de desconto no pagamento de taxas moderadoras

nos serviços prestados na área da Saúde.

4 sessões/ano de Massagem

Terapêutica

na Unidade de Fisiatria

10% de desconto no pagamento de

anestesia, nos exames a particular,

na Unidade de Endoscopia.

Outras Parcerias/Protocolos com

entidades externas

(Mais Optica, Minisom, Clitirso)

Aula semanal de Pilates

na Unidade de Fisiatria.

Mailing periódico com comunicação

no âmbito da saúde e do bem-estar

(divulgação de fatores protetores

face aos riscos)


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#43

G. Recursos

Humanos

PROGRAMA ERASMUS

REPARTIR CONHECIMENTO

A Escola Profissional de Serviços Cidenai em parceria com o

Centro de Estudios Almi de Bilbao, trouxe até nós o Asel e o

Javi para estágio no âmbito do programa Erasmus, entre Março

e Junho na área de Serviços de Microinformática e Redes.

Se por um lado foi um desafio o acompanhamento dos dois

jovens, dado ser a primeira vez que recebemos estagiários

nesta área, por outro lado, o momento que a Instituição

atravessa de crescimento e reinvenção na área tecnológica,

permitiu que contribuíssem e participassem ativamente

nesse domínio. A destacar nesta experiência a partilha de

hábitos e costumes socioprofissionais dos 2 países, à medida

do empenho e dedicação de cada um no desempenho de

cada tarefa.

Sem dúvida uma experiência enriquecedora para ambas as

partes!.

“Ha sido una gran experiencia el poder hacer las prácticas

aqui. He podido poner en práctica mis conocimientos, y la

parte más importante, he conocido a unos compañeros muy

buenos y amables, con los cuales he pasado buenos

momentos, durante los 3 meses de estancia que he estado en

Portugal.

Además, he podido conocer la acción social de la institución,

las residencias de ancianos, la unidad de cuidados

continuados, la casa abrigo para las mujeres víctimas de

violencia de género y sus hijos, las unidades de fisioterapia.”

Javier Fernandez (Estagiário de Informática) •

POR SUSANA FREITAS (DEP. CONTABILIDADE E INFORMÁTICA)


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REPARTIR MEMÓRIAS

O REENCONTRO

G. Recursos

Humanos

“A vida é a arte de um encontro, embora haja tanto

desencontro pela vida”

Vinicius de Moraes

Começo o texto com uma frase que expressa a importância das

pessoas com quem cruzamos na vida, as influências e marcas

que nos deixam e a arte de mantê-las no nosso mundo interior

apesar da distância física e geográfica.

O meu encontro com a Santa Casa da Misericordia de

Santo Tirso foi no dia 17 de outubro do ano de 1983.

O primeiro dia permanece na minha memória ainda hoje,

chuvoso e cinzento. Apresentada pelo Mesário responsável ao

coletivo de trabalho no antigo “Asilo” um espaço deprimente,

frio e amplo onde um grupo de funcionárias nos esperavam

com um olhar de curiosidade e expectativa em relação a uma

jovem de 24 anos inexperiente. Após a apresentação como

Diretora Técnica faltaram-me as palavras para discursar.

Pensei em desistir por entender não ser capaz de abraçar

tamanha tarefa, mas o desafio foi mais forte, em levar a cabo

esta missão, só possível com o apoio de toda a equipa de

funcionários, da amizade e empatia imediata da Assunção

Medeiros, o respeito do Sr. Jorge Santos e o carinho dos idosos.

A mudança do “Asilo” para o novo Lar José Luiz D’Andrade

concretizou-se com o esforço de todos e sempre com um

sorriso nos lábios por vermos a felicidade dos nossos idosos nas

novas instalações, que viriam a ser uma referência a nível

nacional.

Não posso esquecer todos os que faziam parte da Mesa

Administrativa na época, um grupo de pessoas jovens

dinâmicas com um projeto inovador no país e que contribuíram

para o crescimento da Misericordia e o meu como profissional

que ainda sou.

Este texto só foi possível, porque reencontrei-me com a minha

amiga Assunção Medeiros no passado dia 14 de Maio 2022,

33 anos após a minha saída da Misericordia e a sensação foi a

de que os anos não passaram, e os sorrisos eram os mesmos.

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas

na intensidade com que aconteceram. Por isso existem

momentos inesquecíveis e pessoas incomparáveis”

Fernando Pessoa

Maria Helena Brioso Gomes (Diretora Técnica da ISCMST,

1983-1988)


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#43

G. Recursos

Humanos

REPARTIR MEMÓRIAS

O REENCONTRO

Circunstâncias da vida levaram-nos por outros caminhos.

Reencontramo-nos decorridos 33 anos. E abraçamo-nos como

se não houvesse amanhã. Recordamos tudo o que pudemos

em 4 horas. Definitivamente muito pouco para quem tem tanto

a dizer. Resolvemos, portanto, pôr a conversa em dia ao longo

de muitos encontros que acontecerão.

Recuamos, entretanto, ao Asilo (atual Lar «José Luiz

d’Andrade»). Corria o ano de 1983 quando nos

conhecemos. Éramos cerca de uma dúzia de funcionários,

de entre os quais se destacava o “Chefe”, Senhor Jorge

Santos. Alto, inteligente, introvertido, íntegro e apurado

sentido de humor, com quem partilhamos sentimentos,

emoções, aprendizagem, e a quem agradecemos por TUDO

e por TANTO.

Nunca tinha andado de táxi. O edifício de Lar «José Luiz

d’Andrade» encontrava-se em conclusão e era imprescindível

que alguém, em determinado dia, se deslocasse à Empresa

Soares da Costa, na cidade do Porto. Fui eu a eleita.

Chamaram um táxi que rapidamente se apresentou no Asilo.

Despachada e carregada de pastas, ia-me sentar ao lado do

motorista. Fui logo corrigida: “Assunção, uma senhora senta-se

no banco de trás!”. Tudo isto perante o barulhento e descarado

riso da minha amiga Maria Helena, Diretora Técnica de então.

Até hoje, utilizei este meio de transporte em mais duas

ocasiões. Sempre como uma senhora.

Naquele tempo éramos uma família muito pequena, mas

unidos pelo lema “alegria no trabalho”.

Debaixo de um inverno rigoroso, aquelas decrépitas

instalações deixavam entrar a chuva e o frio. Havia uma sala na

cave destinada à ocupação de tempos livres dos nossos utentes

– 20 homens e 20 mulheres distribuídos por 2 pavilhões. Lá,

fomos confidentes das suas histórias de vida, dos seus amores e

desamores, sussurrados por entre lágrimas de quem esperava

que o fim da vida acontecesse. O Sr. Correia, o Sr. Cardoso, o

Sr. Bacêlo, a D. Guilhermina, a D. Adelina, A D. Maria da

Trofa, a D. Aurora, a Irmã Lima… Todos transitaram, no fim

desse ano, para as novas instalações.

Tudo era novo e a felicidade andava no ar!

Eis senão quando, certa manhã – pasme-se -! as maçãs da taça

do refeitório, assim da noite para o dia, apareceram todas

mordidas e viradas ao contrário! Por mais que tentássemos


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G. Recursos

Humanos

levar a sério tal delito, não conseguíamos segurar o riso

perante tamanha malandrice e criatividade. Um mistério que

nunca foi desvendado.

Hoje, eu e a Maria Helena reencontramo-nos, repartimos

memórias dos que já partiram para lá do horizonte e rimos

como se aqueles 33 anos nunca tivessem existido. •

POR ASSUNÇÃO MEDEIROS (DIRETORA DE SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS)


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G. Recursos

Humanos

#43

AO RECORDAR O PRIMEIRO

DIA DE TRABALHO NA

MISERICÓRDIA

LEMBRO-ME DE...

A primeira imagem que me

ocorre é ser recebida pela

Dra. Zélia Reis e de toda a

ansiedade que me invadiu

naquela manhã de inverno

de 1997. Era recémlicenciada

e muito

consciente que teria de

percorrer um longo caminho

de aprendizagem. Estava

atenta aos movimentos de

todos, para perceber como

interagiam, fazendo valer o ditado “em Roma sê romano”.

Recordo com eterno carinho o momento em que fui recebida

no saudoso “Projeto Santo Tirso” e de todos aqueles simpáticos

rostos que ainda hoje fazem parte do meu alicerce profissional.

Obrigada Elisabete, Ilda, Carla e Liliana pelo tanto que sorri e

aprendi convosco! •

POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM, CEEM)

Ao recordar o primeiro dia

de trabalho na Misericórdia,

lembro-me sempre de entrar

no Centro Eng. Eurico de

Melo e de partilhar uma

secretária no átrio ao cimo

das escadas com a “minha

colega de sempre”, Elisabete

Neto, a 08/10/1995.

Fui recebida com simpatia

pela Dra. Zélia Reis e

restantes pessoas que se

cruzavam comigo no edifício.

Recordo-me ainda da postura altiva do Senhor Jorge Santos,

que mantinha mais distanciamento do que o próprio Provedor,

Senhor Manuel Calém. Aliás, recordo-me bem das

gargalhadas e postura afável do Senhor Provedor, que muitas

das vezes desligava o aparelho auditivo para “não se

incomodar” com os assuntos... Já lá vão 26 anos… grata pelas

boas memórias, que partilho e construo, nesta Casa. •

POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE, CEEM)


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G. Recursos

Humanos

Foram dois “primeiros dias”:

um inicial em 2004 -

Departamento de Formação

e outro posteriormente em

2009 - Serviços

Administrativos!

Em 2004, recordo a visita do

Sr. Vasco Ferreira ao

gabinete em que estava

(Estudos e Projetos) e as suas

boas-vindas! Referiu que

apesar de ser muito bem-

-vinda, só estaria cá até ao final do contrato, não devendo

alimentar grandes expectativas no futuro.

Foi, sobretudo, uma integração extremamente fácil, sem

qualquer angústia ou constrangimento associado, uma vez que

conhecia minimamente as funções que iria desempenhar.

Recordo, também, com muita saudade, a boa disposição, a

alegria e o acolhimento caloroso do grupo de formandos e da

Carla Medeiros! •

O relógio de parede,

antiquíssimo, bateu 12

badaladas. 30 minutos

depois saíram todos em

silêncio. E eu sentada na

cadeira (era 1.5.1979 e a

secretaria partilhada com os

funcionários do hospital). Um

deles, dando pela minha

falta, voltou atrás e disse:

“Assunção, é hora de

almoço”. Aí descobri que o

meu horário era das 9.00 às 12.30 e das 14.00 às 17.30

horas.•

POR ASSUNÇÃO MEDEIROS (DIRETORA DE SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS, CEEM)

POR SÍLVIA RIBEIRO (TÉCNICA DE APOIO À GESTÃO, CEEM)


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G. Recursos

Humanos

#43

AO RECORDAR O PRIMEIRO

DIA DE TRABALHO NA

MISERICÓRDIA

LEMBRO-ME DE...

Quando recordo o meu

primeiro dia de trabalho na

Misericórdia, as minhas

memórias reportam-se ao

carinho da receção e à

satisfação de me integrar

numa família com quem

vinha convivendo há 20 anos

e de que passei a fazer parte

de pleno direito. •

Ao recordar o primeiro dia

de trabalho na Misericórdia,

lembro-me sempre de como

estava ansiosa por começar,

e de como queria absorver

tudo à minha volta, de

conhecer tudo. Fui recebida

pela colaboradora Raquel

Gonçalves que até hoje não

esqueço a alegria

contagiante. •

POR JOSÉ LUÍS CRISTINO (ENG.º CIVIL / CONSULTOR)

POR RAQUEL CARNEIRO (AJUDANTE DE LAR CASA ABRIGO)

Ao recordar o primeiro dia

de trabalho na Misericórdia,

lembro-me da forma como

fui recebida pelas colegas

de trabalho, enquanto

estagiária, nos lares Dra.

Leonor Beleza e José Luiz

d’Andrade. Era uma equipa

fantástica, com um grande

brio profissional. Era assim

que se acolhia e foi assim

que apendi para acolher a

seguir. •

POR LUÍSA FERNANDES (AUXILIAR AÇÃO MÉDICA UCC)

Ao recordar o primeiro dia

de trabalho na Misericórdia,

lembro-me sempre de uma

nova etapa na minha vida a

nível profissional, que iniciou

com uma batalha invisível,

uma luta incansável contra o

novo vírus o qual tomou todo

o nosso tempo como

profissionais de saúde. •

POR ANA ROSA CARNEIRO (AJUDANTE DE LAR CASA ABRIGO)


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G. Recursos

Humanos

O meu primeiro dia de

trabalho recordo-o como se

fosse hoje! No dia 10 de

Novembro de 1998, era eu

uma jovem de 21 anos, muito

tímida, cheia de expectativas,

sonhos e muitos medos.

Estava na portaria do JLA um

senhor de casaco de cabedal

castanho e um penteado

fazendo lembrar o “estilo

Marco Paulo” com os seus

caracóis. Recebeu-me com muita simpatia e descontração.

Mais tarde, disseram-me que era o porteiro “Ferreirinha”, assim

o tratamos! Que estranho que aquilo me pareceu! Sempre

pensei que nas portarias estivessem pessoas fardadas, muito

sérias e de “poucas falas”!

Lá fui conhecer a Instituição, acompanhada pela Dra. Zélia

Reis e Dra. Fernanda Laranjeira, técnicas que já cá não

trabalham. Conheci uma imensidão de utentes e colaboradores

com as suas fardas muito bonitas, verdes no JLA, e rosa no LLB.

Neste lar em concreto há uma imagem que não vou esquecer,

o utente João Caldas (que já não está entre nós), um jovem

muito bonito, moreno e de olhos claros. Apesar de estar numa

cadeira de rodas deu para perceber que era alto. Estava com o

Ajudante de Lar, Jorge, a segurar no seu café e cigarro, de

forma descontraída e com sentido de humor (que lhe era

característico), pois de outra forma ele não o conseguia fazer

sozinho.

Toda aquela vulnerabilidade do utente, o humanismo e

profissionalismo do colaborador, até aquele dia era uma

realidade para mim desconhecida. Ali percebi exatamente o

desafio que teria pela frente e o significado da palavra

misericórdia! •

POR MARTA FERREIRA (ANIMADORA SOCIOCULTURAL, JLA)


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#43

Cultura

JOSÉ LUÍS DE ANDRADE

UMA EVOCAÇÃO

«Poucas serão as pessoas do Noroeste português que não tenham um

antepassado mais ou menos próximo com ligações ao Brasil, quer

estas se tenham traduzido ou não em sucesso económico. A

intensidade migratória foi tal que, rebuscando nas arcas genealógicas,

sempre aparece alguém já esquecido». Jorge Alves, Os brasileiros.

Emigração e retorno no Porto oitocentista (1)

A intensidade das ligações afetivas, familiares, sociais e

inclusive económicas, entre Portugal e Brasil no século XIX

estão bem patentes na sociedade tirsense do último quartel do

séc. XIX e bem dentro ainda do séc. XX, apesar das convulsões

políticas e económicas do novo século (com a implantação da

República e mais tarde, do Estado Novo) e seus efeitos nesta

relação atlântica. A imprensa local encarregava-se de divulgar

as chegadas e partidas da sociedade tirsense (2) , os

convidados, alguns ilustres e as ocupações de quem chegava

ou partia. Ao longo de mais de cinquenta anos podemos

assistir a uma história comum feita de nascimentos, afetos e

interesses em ambos os lados do atlântico, com ligações mais

evidentes com o Rio de Janeiro, mas que não deixa incólume

muitas outras regiões brasileiras, como o Pará, região de

destino do mais famoso brasileiro tirsense, figura tutelar da vila,

do concelho e de muitas instituições de beneficência do

noroeste português: Manuel José Ribeiro, o Conde de S. Bento.

Este teve um papel duradouro na história de Santo Tirso e das

suas instituições, mas sendo o mais conhecido, não foi o único

em prestígio e alcance dos seus atos. Muitos outros dobraram

este cabo, como José Luís de Andrade, seu sobrinho e tema do

presente artigo e ainda Albino de Sousa Cruz, importante

mecenas tirsense cuja ação igualmente se repercutiu em Santo

Tirso por muitas décadas.


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Cultura

José Luís de Andrade é um nome perene na história de

Santo Tirso e na memória local, associado à cidade de

Santo Tirso, à sua toponímia, à Irmandade e Santa Casa da

Misericórdia de Santo Tirso e, a vários locais da sua

freguesia natal S. Tomé de Negrelos, designadamente

quando se fala da sua escola primária e sempre, quando

falamos dos brasileiros de torna-viagem e o seu papel no

desenvolvimento de Santo Tirso. Há ainda um aspeto

relevante na forma como exerceu o seu comportamento de

mecenas, prodigalizando em vida, mais do que na morte,

esse papel adutor de uma comunidade carecida do apoio

do Estado para o cumprimento de necessidades sociais,

educativas e de natureza caritativa.

Na sua biografia, traçada pelo Pe. Luís Gonzaga Martins

Pinheiro (3) , fixa-se a genealogia do seu carácter e percurso

migrante. José Luís de Andrade nasceu na quinta de Vilaverde

em S. Tomé de Negrelos a 25 de setembro de 1832, em plena

guerra civil, escassos meses após o desembarque de D. Pedro

IV no Mindelo. Era filho dos caseiros José Luís de Andrade e

Maria Rosa Martins de Andrade. A sua mãe, oriunda de

Poldrães em S. Miguel das Aves, era irmã de Manuel José

Ribeiro, o futuro Conde de S. Bento. José Luís de Andrade

teve uma extensa família, que se manteve

maioritariamente em S. Tomé de Negrelos, constando na

sua memória e testamento.

Ainda muito desconhecemos da sua partida para o Brasil, a

qual teria revestido a tradicional forma de uma carta de

chamada ou rogo, circunstância idêntica a tantos milhares de

jovens que nesse período tentavam a sua sorte do outro lado do

atlântico. Terá partido jovem e provavelmente não demorou a

reencontrar o tio em Belém do Pará, no entanto há referência

que começou a trabalhar como caixeiro para outros

negociantes de origem portuguesa: Francisco Joaquim Pereira

e Fulgêncio José Pereira, com cuja família manteve laços de

amizade. Sabemos que José Luís de Andrade já estaria a

trabalhar com o seu tio na década de sessenta, tendo em 1872

a posição de sócio na casa comercial e estando bem integrado

na sociedade de Belém do Pará. O escritor Alberto Pimentel

refere que por essa altura, em 1874, Manuel José Ribeiro

regressaria para Portugal, deixando o governo dos seus

negócios no Brasil com o sobrinho (4) .

Nos vinte anos seguintes José Luís de Andrade trilhará o

caminho do brasileiro de torna-viagem, olhando pelos

negócios, mas não descurando a terra natal, que visita

regularmente e onde adquire propriedades, adaptando a

Quinta da Renda em S. Tomé de Negrelos para habitação,

patrocinando ainda a construção de um palacete em Santo

Tirso, entre a rua homónima José Luís de Andrade e a Rua

Sousa Trêpa. Com o falecimento de seu tio a 26 de março de

1893, José Luís de Andrade coube-lhe desempenhar um papel

fundamental nas intenções e destino da fortuna do Conde de

S. Bento, o que fez como particular intenção e denodo, como

afirmaria Alberto Pimentel: «O dinheiro do conde de S. Bento,

passando por herança para as mãos de seu sobrinho e antigo

socio, José Luiz de Andrade, não se tornou menos productivo,

nem menos útil à causa do bem geral» (5) . Neste sentido

promoveu um contrato com a Santa Casa da Misericórdia, a


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#43

Cultura

JOSÉ LUÍS DE ANDRADE

UMA EVOCAÇÃO

qual tinha sido a grande impulsionadora da homenagem

realizada a Manuel José Ribeiro em 1892, com a ereção de

uma estátua na vila de Santo Tirso.

A 21 de fevereiro de 1894 José Luís de Andrade e o

provedor da Santa Casa da Misericórdia, o Dr. Eduardo da

Costa Macedo, lavraram um contrato que permitiu

estabelecer a base para várias obras que foram

fundamentais para a vila e o concelho de Santo Tirso,

designadamente:

a) O levantamento de uma fábrica que pudesse dar serviço

diário a 50 pessoas da freguesia – a futura Fábrica de

Fiação e Tecidos de Santo Tirso, cuja sociedade foi criada

a 7 de julho de 1896;

b) A criação de um Asilo Agrícola para acolhimento de

pessoas de idade de ambos os sexos e pessoas mais

novas, desprotegidas, fornecendo-lhes educação – o asilo

seria inaugurado a 1 de janeiro de 1897;

c) Mosteiro de Santo Tirso – o restauro do claustro realizado

em 1899 e através da ação do seu testamenteiro e

herdeiro Bernardino da Costa e Sá em 1902;

d) Apoio social: através da associação mutualista Montepio

Tirsense que recebeu um importante donativo;

e) Urbanismo – a cedência de vários terrenos para a

urbanização de Santo Tirso e de outras freguesias;

f) Apoio à educação – verbas para a construção de uma

escola em S. Tomé de Negrelos e o apoio pecuniário a

professores do ensino primário.

Nos anos que mediaram a celebração do contrato e o

falecimento de José Luís de Andrade concretizou-se grande

parte dos desejos testamentários do seu tio através deste

acordo com a Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso.

Curiosamente em junho de 1899 presenciou-se uma polémica

na imprensa local, onde um dos semanários tirsenses acusa o

outro de esquecer o papel capital de José Luís de Andrade na

criação da Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso (6) .

Após ser acometido por uma doença no início desse ano o

seu estado de saúde debilitou-se rapidamente, escrevendo

o seu testamento a 14 de julho e falecendo seis dias

depois, a 20 de julho de 1899. Instituiu como único

herdeiro e primeiro testamenteiro o comendador

Bernardino da Costa e Sá. No Brasil foi seu principal

testamenteiro o afilhado, Dr. Augusto Eduardo Pinto, da família

do seu antigo patrão.

José Luís de Andrade no seu testamento institui legados

pios (em seu nome e do seu tio), mas fez mais, orientando


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Cultura

o seu olhar, mais caritativo que piedoso, para a sociedade

civil e apoiando múltiplas obras, para além de não se

esquecer da família, dos amigos e de todos os que o

serviram nas suas casas e propriedades. Ao procurar a

melhoria das condições de vida dos outros, a dignificação

e valorização pela educação seguiu o exemplo de outros

brasileiros de torna-viagem como o tio, em adotar uma

filantropia ativa em vida e não, após a sua morte.

Como recorda Jorge Alves: «Podemos afirmar que grande parte

do equipamento de solidariedade social do século passado no

Norte de Portugal foi activado, incentivado ou mesmo

sustentado pelos ex-emigrantes, que, enquanto vivos e na hora

da morte, mostravam uma atenção ao seu semelhante pouco

compatível com a imagem de avareza que normalmente

envolve o capitalista» (7) . O efeito dos seus atos ainda hoje está

presente na sociedade tirsense através das instituições que

apoiou diretamente e principalmente no contrato que celebrou

com a Santa Casa da Misericórdia, que manteve vivo os

propósitos deste grande mecenas tirsense.

(1) Jorge Fernandes Alves, Os brasileiros. Emigração e retorno no Porto

oitocentista, 1994, p. 336. O autor traça-nos o percurso, as aspirações e os

desfechos múltiplos do brasileiro de torna-viagem. Retrato histórico aprofundado

e uma importante reflexão sobre as condições de emigração.

(2) A literatura deixou-nos alguns relatos destas ligações familiares como o relato

de Roberto Macedo, Uma ilustre dama brasileira em Santo Tirso, Vila Nova de

Famalicão, 1969.

(3) Luís Gonzaga Martins Pinheiro, José Luís de Andrade, Ave. Cadernos de

Cultura n. 9, Câmara Municipal de Santo Tirso, 1999.

(4) Alberto Pimentel, Santo Thyrso de Riba D`Ave, 1902, p. 83

(5) Alberto Pimentel, op.cit., p. 100.

(6) Debate entre o Jornal de Santo Thyrso,«Como se escreve a história», nº 4, ano

18, 01.06.1899 e a Semana Tirsense, «Como se escreve a história!» ano 1, nº 23,

04.06.1899

(7) Jorge Fernandes Alves, op.cit., p. 315. •

POR NUNO OLAIO (HISTORIADOR NA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO TIRSO)

O autor escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico.

A sua mundividência cristã é ao mesmo tempo uma visão

caritativa e de profundo humanismo forjada na experiência

de uma vida migrante e nos paradigmas da sua época. Em

Santo Tirso, a ação de José Luís de Andrade teve um

impacto que excedeu largamente o seu século. Um belo

exemplo da relevância das migrações no crescimento e

fortalecimento das comunidades.


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#43

Cultura

O CORAL DA MISERICÓRDIA

A PANDEMIA E O PÓS

PANDEMIA

Doloroso confinamento a que todos fomos submetidos e que

durante dois longos anos nos privou da prática presencial da

música coral e do convívio social que ela nos proporciona.

Apesar das condicionantes provocadas por tal medida, o

Coral da Misericórdia nunca se deixou abater e assumiu

continuar a lutar pelo projeto musical que tem vindo a

desenvolver ao longo destes 24 anos de existência.

Restava-nos uma única solução, usar os meios eletrónicos

e retomar os ensaios às segundas-feiras à hora habitual,

independentemente das dificuldades que esta medida nos

acarretaria.

Desafio arrojado, porque, a maioria de nós não fazia a mínima

ideia de como este processo poderia vir a ser desenvolvido. Foi

uma experiência com muitos altos baixos, mas muito

enriquecedora para todos nós, graças à paciência e

profissionalismo do nosso maestro, o Prof. José Manuel Pinheiro

que, mesmo à distância, sempre procurou encontrar as

soluções adequadas para nos manter online sem esmorecer.

O tempo foi passando e as segundas-feiras eram sempre

aguardadas com grande ansiedade.

Necessitávamos muito daquele tempo para cantar e para

socializar, mantendo a chama da Esperança sempre acesa,

acreditando que tudo voltaria ao normal muito em breve.

Assim foi, passado o período conturbado, o Coral da

Misericórdia voltou aos ensaios presenciais no mês de

setembro, e poucos dias depois recebe um honroso convite do

Coral Polifónico do Carvalliño – Ourense/Espanha, para

participarmos na 38.ª Edição do Festival Galaico Português, de

Polifonia e Canto Coral, que se realizaria no dia 16 de outubro

no Casino do Carballiño.

Foi uma prestação muito positiva do nosso Coro. Apesar das

máscaras, deixou-se, uma vez mais por terras de Espanha, uma

imagem muito positiva e marcante da Irmandade e Santa Casa

da Misericórdia de Santo Tirso, a Instituição que nos patrocina

e que honradamente representamos.

Fomos também convidados pela Câmara Municipal de Santo

Tirso para participar no concerto protocolar de abertura da

Exposição de Presépios Natal 2021, promovido pela Confraria

do Caco através do seu mentor Delfim Manuel.


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Cultura

Nesta altura, encontramo-nos numa fase de grande

produtividade, com vista aos próximos concertos que se

avizinham até férias; aos concertos que estamos preparando

para a época Natalícia e ao casamento que nos solicitaram.

Para consulta publicamos a agenda da época 2021/2022

24 e 25 JUNHO

Deslocação a CUBA-Alentejo para participar num Festival de

Música Popular, a convite do Coro dos Ceifeiros de Cuba, em

cumprimento do intercâmbio que o Coral da Misericórdia

iniciou em maio de 2018, com um concerto que se realizou no

Auditório “Centro Eng.º Eurico de Melo”, em “ Tributo ao Zeca

Afonso “;

03 JULHO às 16H30

Concerto do 137.º Aniversário da Irmandade e Santa Casa da

Misericórdia de Santo Tirso;

DEZEMBRO e JANEIRO 2023

Época Natalícia com algumas surpresas. •

POR JOSÉ ALVES (COORDENADOR DO CORAL DA MISERICÓRDIA)


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#43

Cultura

POEMA REPARTIR

repartir é como que viajar

com o que se dá até à terra que clama

chegando para apertar a mão

da outra parte do abraço que é a alma

reparte-se ao ponto

de chegar ao ponto do dom

e o que é repartir

senão dar um pouco da própria vida?!

quem reparte compadece-se

reconhecendo-se no caminho

como companheiro da viagem

que é a fração do pão

e os sonhos multiplicam-se

as ofertas elevam-se

os anjos agradecem

e agraciadas as crianças sorriem

tal como partir nunca será uma ré

partir não é o mesmo que fugir

não é o mesmo que sair

não é o mesmo que abandonar

partir é diferente

partir é passível do possível

parte-se sem mexer o corpo

vai-se em direção ao absoluto

e quem parte é aquele que chega ao mesmo tempo

é aquele que se encontra

que descobre ao que é chamado

quem parte é aquele que fica

e por isso partir será sempre desapossar

um corpo para algo maior

mesmo que partir seja não saber ao certo

para onde se vai

mude-se o ditado:

quem parte e reparte

e fica com a pior parte

ou é santo ou… vive em Marte!

ilógica invariável de ser neste planeta

a ver tantos seres partidos em cacos

tidos como francos patetas

à espera que alguém os sarte


Cultura

eu vou partir e vou voltar a dar

no jogo repartido que é a vida

pois que o jogo é tanto mais rico

quanto mais eu fico com o meu par

dá!

dá-te!

dá-se-te!

dá-se-te-me!

ama-te!

dá-me!

repartir, no fundo, é dar o máximo

ainda que dando o mínimo

para restituir ao mundo

o que foi perdido por direito divino!! •

POR MIGUEL MOUTINHO (TEÓLOGO E MÚSICO)


Quais são os 3 locais favoritos em Portugal?

Santo Tirso em primeiro lugar, por razões óbvias, é o meu

“porto de abrigo”.

Braga, pela cidade que é, e principalmente, porque lá fui

muito feliz.

Lisboa, adorável movida diurna e noturna: agitação, luz, cor

e clima…

RE

VE

O que a deixa cheio de orgulho no concelho de Santo

Tirso?

A segurança que nos proporciona para se viver de modo

tranquilo.

E na Misericórdia?

Sem dúvida a EVOLUÇÃO como Instituição, até aos dias de

hoje. Palavra que eu muito gosto em todos os “tempos”:

passado, presente e futuro. Sejamos sempre EVOLUTIVOS

em prol da nossa Instituição.

Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente?

Não tenho ouvido nenhuma música em especial, se me

predisponho a ouvir o estado de espírito dita no momento

qual a melhor música… Como banda destaco Scorpions, e a

música do Paulo Gonzo “Sei-te de Cor”.

E o filme que marcou a sua vida?

Oficial e Cavalheiro. Este filme retrata um pouco da minha

vida. Sou romântica, e porque vivenciei uma história de amor

com um homem de farda, militar, o “meu” Capitão.

Um livro para ler antes de dormir?

Não tenho por hábito ler antes de dormir, mas gosto de

romances e poesia.

Destaco os livros “Sei lá” e “Não há Coincidências” de

Margarida Rebelo Pinto. É uma escrita direcionada para o

romance, amores e desamores, de leitura cativante pela

forma como aborda assuntos tão empolgantes da vida.

Prefere praia ou cidade?

Praia é a minha “praia”, com chuva ou sol de preferência.

Se pudesse escolher a vista de sua casa, como seria?

Acordar com o musical das ondas, usufruir da brisa salgada,

inalar o aroma da maresia e apreciar o despontar do Rei Sol

é a forma mais gratificante de começar o dia. E caminhar na

areia, a sentir a sua massagem…

LA

ÇÕES...

O que valoriza no ser humano?

Autenticidade, Integridade e a Resiliência perante as

adversidades que a VIDA nos coloca no caminho.

O que recorda do primeiro dia de trabalho na

Misericórdia?

O primeiro dia de trabalho foi muito expectante,

determinada a pôr em prática o meu EU, dotado para os

outros.

Realço o acolhimento que me foi feito, que me deu mais

alento para o desempenho da “missão” que “Alguém” me

tinha traçado. Encorajada e determinada, iniciei com uma

saudação a todos que me de mim precisavam, uma palavra

de conforto e esperança e um sorriso nos lábios para cada

um.

Seguidamente, dei início ao desempenho das funções como

observadora e aprendiz. Bem orientada e esclarecida pus

mão à obra e “nasceu” quem conheceis, o pior a puxar

sempre para o melhor de mim, em prol de todos. Utentes

sempre a prioridade… sempre.

NOME AIDA MARIA ARAÚJO SOARES

CATEGORIA PROFISSIONAL CHEFE DE DEPARTAMENTO

ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 39 ANOS




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Incontinência. São produtos que respeitam a pele e contribuem para a saúde natural da pele.

Mantenha a pele dos seus utentes, seca, limpa e protegida!

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Oferecem uma Tripla

Proteção - contra

perdas, odores e

humidade, para ajudar

a manter a saúde

natural da pele.

Possuem a Tecnologia

TENA FeelDry Advanced

que absorve rapidamente

os líquidos afastando-os da

superfície, mantendo a pele

seca.

TOTALMENTE

R E S P I R ÁV E L

São respiráveis – os

materiais com toque

têxtil permitem a

circulação do ar para

a saúde e o conforto

da pele.

TESTADO

DERMATOLOGICAMENTE

São dermatologicamente

testados e verificados por

entidades independentes.

Têm a aprovação

de terceiros,

por um painel de

especialistas

da Skin Health

Alliance.




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