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Índice 2-3
Editorial 4-5
Por detrás das músicas... 6-12
Poster 22-21
Rebobinar Futuros visa homenagear as canções,
os compositores e os intérpretes que marcaram a
história da música em Portugal a seguir a um tempo
em que a música portuguesa se resumia muito
a canções de intervenção. É um retrato singular
da época e do modo como o 25 de abril veio abrir
espaço para uma maior liberdade musical.
A revolta foi então como um mote para agitar o
clássico e partir para um país livre onde os artistas
não queriam cantar o que deles era esperado e
muito menos o que os outros cantavam. Assim, a
música tornou-se uma forma estimulante de fugir à
rotina conservadora e de surpreender.
Mais do que uma contextualização dos anos
70, 80 e 90, é sobretudo uma listagem de canções
que vão para além de um marco musical, mexem
também com a liberdade de expressão finalmente
conseguida pelo povo.
É um mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades, uma revolução pós-revolução.
Da produção mais eletrónica de Variações com
“... O corpo é que paga” à sonoridade associada
ao Rock Português de Ornatos Violeta como
“Chaga”, esta edição especial demonstra como
estes artistas ainda estão bastante presentes
no panorama musical português, rebobinando os
futuros musicais então introduzidos nesta época,
compilando 25 músicas do pós-25 de abril numa
edição de colecionador.
Menina Estás À Janela
Vitorino (1975)
É uma canção doce, melódica e honesta. Uma
canção de amor com influências do folclore
tradicional do Alentejo. Fugia dos clichés que
se esperavam, visto que, não é uma canção de
protesto, muito menos uma melodia amenizada. É
uma canção romântica na voz de um revolucionário
com boina, bigode, cabelo longo e botas de cano
alto. Vitorino não se interessava em cantar o que os
outros já cantavam!
Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela
Os olhos requerem olhos
e os corações corações
e os meus requerem os teus
em todas as ocasiões
Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela
Fecha a porta apaga as luzes
Vem sentar-te a meu lado
Dá-me um beijo e o meu desejo
Vem ficar acordado
Vem amor a noite é uma criança
E depois quem ama por gosto não cansa
Amanhã de manhã
Vamos acordar e ficar a ouvir
A rádio no ar a chuva a cair
Eu vou-te abraçar e prender-te então
No sonho que é teu na cama no chão
Os nossos lençóis e colcha de lã
Eu vou-te abraçar amanhã de manhã
Fecha os olhos esquece o tempo
Nesta noite sem fim
Abre os braços acende um beijo
Fica perto de mim
Vem amor a noite é uma criança
E depois quem ama por gosto não cansa
Amanhã de manhã
Vamos acordar e ficar a ouvir
A rádio no ar e a chuva a cair
Eu vou-te abraçar e prender-te então
No sonho que é teu na cama no chão
Os nossos lençóis e a colcha de lã
Eu vou-te abraçar amanhã de manhã
Vamos acordar e ficar a ouvir
A rádio no ar a chuva a cair
Eu vou-te abraçar e prender-te então
No sonho que é teu na cama no chão
Os nossos lençóis e a colcha de lã
Eu vou-te abraçar amanhã de manhã
Amanhã De Manhã
Doce (1980)
A Setembro de 1979 nascem as Doce, um
quarteto feminino de visual totalmente arrojado
com roupas extremamente sensuais, apostando
na afirmação e sensualidade do corpo feminino,
com uma postura ousada e provocante, aliada
às fascinantes e meticulosas coreografias em
palco. Estas causaram grande impacto e uma
importante e grande mudança de mentalidade
no meio artístico. Naquela época, era habitual um
certo formalismo por parte dos cantores, tanto na
indumentária como nas atuações, sobretudo
na televisão.
Em Março de 1981, no Festival RTP da Canção,
o grupo foi desvalorizado pelo júri do concurso
e alvo de imensas críticas nos jornais, embora
tenha ficado em 4.º lugar e a edição em single
tenha sido um sucesso de vendas e um dos discos
mais vendidos daquele ano. As Doce, no seu papel
inovador, capaz de alguma agressividade e de
provocar o desafio vêm, em termos musicais,
combinar aspetos próprios do pop, do disco
e do rock.
Problema de Expressão
Clã (1997)
Os Clã tinham como objetivo criar raízes e
perdurar, seguindo a matriz da perfeição musical,
de um pop-rock imaculado e elegante – ainda
que assente na soul, no jazz e no hip-hop – mais
criativo e complexo do que aquele que se produzia
em Portugal em meados dos anos 90. os Clã
procuravam agitar a música portuguesa para
outras atmosferas, mais dançáveis, com mais
groove e com letras mais trabalhadas. As letras
de Carlos Tê procuravam simplificar conceitos
complexos e complexificar conceitos simples, com
cantigas que fazem os ouvintes vibrar.
Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro
o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
Só pra dizer que te Amo
Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.
E até nos momentos
em que digo que não quero
E o que sinto por ti
são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
E é tão difícil dizer amor,
É bem melhor dizê-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu
problema de expressão,
Pra ficar mais perto,
bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens!
Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer o que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs
de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Perdidamente
Trovante (1987)
Os Trovante começaram em 1976 em Sagres,
quando um grupo de amigos (João Nuno Represas,
Luís Represas, Manuel Faria, João Gil e Artur Costa) se
juntou para fazer música. Inicialmente, o grupo foi um
nome importante na música de intervenção da época,
contudo, a partir de 1980 o grupo concentrou-se em
alterar a sua vertente musical, lançando um disco
em pleno boom do rock português, tornando-se um
enorme sucesso comercial.
Começaram a atuar ao vivo, num espetáculo
que, para além da música, oferecia uma faustosa
performance de lasers, uma novidade, à época.
Perdidamente surge da letra do poema de
Florbela Espanca, contido no álbum Terra Firme,
um disco assumidamente pop com amenas
referências mais tradicionais.
Ligando-se ao tema geral da revolução, a 12 de
Maio de 1999, nas comemorações dos 25 anos
da revolução de Abril de 1974, o Presidente da
República Jorge Sampaio convidou os Trovante
para se reunirem para um espetáculo transmitido
em emissão televisiva. Mais recentemente, a 3 de
Setembro de 2011 juntaram-se de novo, na Festa
do Avante para a comemoração de 35 anos de
fundação da banda, atuando no Palco 25 de Abril.
Gingando pela rua
Ao som do Lou Reed
Sempre na sua
Sempre cheio de speed
Segue o seu caminho
Com merda na algibeira
O Chico Fininho
O freak da cantareira
Chico Fininho
Uuuuuuh uuuuuuh
Chico Fininho
Aos sss pela rua acima
Depois de mais um shoot nas retretes
Curtindo uma trip de heroína
Sapato bem bicudo e joanetes
A noite vem já e mal atina
Ele é o maior da cantareira
Patchuli, borbulhas e brilhantina
Cólica, escorbuto e caganeira
Chico Fininho
Uuuuuuh uuuuuuh
Chico Fininho
Sempre a domar a cena
Fareja a judite em cada esquina
A vida só tem um problema
O ácido comum da estricnina
Da cantareira à baixa
Da baixa à cantareira
Conhece os flipados
Todos de gingeira
Chico Fininho
Uuuuuuh uuuuuuh
Chico Fininho
Uuuuuuh uuuuuuh
Chico Fininho
Chico Fininho
Rui Veloso (1980)
Rui Manuel Gaudêncio Veloso começou desde
muito novo a tocar harmónica. Com 23 anos, lançou
o álbum “Ar de Rock” gravado com Ramon Galarza
e Zé Nabo, contando com Carlos Tê e António
Pinho na escrita das letras em português. No disco
destaca-se o tema “Chico Fininho”, que acabou
por ser um importante marco na música rock
cantada em português. Foi este tema que deu início
ao movimento de renovação musical denominado
de “rock português”, mostrando-se essencial na
evolução da música em Portugal nos anos 80, num
país pós-revolução.
Foram Cardos, Foram Prosas
Manuela Moura Guedes (1981)
Alimentada pela atmosfera de Manchester,
a sonoridade dos Joy Division e a melancolia
de Ian Curtis, a canção veio inverter a fórmula
musical que regia o mercado. Não era comum que
mulheres interviessem na Assembleia desta forma
defendendo causas a que os conservadores não
estavam acostumados e, por isso, Manuela Moura
Guedes não conseguiu ser uma voz disruptiva
nem se destacar na política. Em 1981, havia
poucas mulheres no rock português. Manuela
Moura Guedes fez carreira breve na música, um
interlúdio do que era e viria a ser o seu percurso
no jornalismo, mas com uma grande canção, uma
canção de estrondo, perdurando como um dos
símbolos daquele que foi o período pujante do rock
português. Em 1980, a agitação musical em Portugal
fez-se de blues, de ganga, de pose agressiva, de
baixos amplificados e de baterias roucas. Houve
vários rocks dentro do rock português. Editado
pela Valentim de Carvalho, este foi um dos singles
mais vendidos desse ano e perdura hoje como uma
canção não datada com uma aura enigmática.
“Foram Cardos, Foram Prosas” foi o início de uma
confluência criativa que conseguiu pôr em alerta
o mainstream do rock que se fazia e que se viria a
fazer em Portugal.
Há luz sem lume aceso
Mas sem amar o calor
Há flor de um fogo preso
Há luz do meu claro amor
Há madressilvas aos pés
E águas lavam o rosto
Dedos que tens em resvés
Ó meu amante deposto
Não foram poemas nem rosas
Que colheste no meu colo
Foram cardos, foram prosas
Arrancadas do meu solo
Porque tu ainda me queres
O amor que ainda fazemos
Dá-me um sinal se puderes
Sejamos amantes supremos
Será sempre a subir
Ao cimo de ti
Só para te sentir
Será no alto de mim
Que um corpo só
Exalta o seu fim
Cristina (Beleza É Fundamental)
Roquivários (1982)
O boom do rock português fez-se de atitude,
letras inconsequentes e refrões orelhudos. De
músicos guedelhudos vestidos de ganga e um
público ávido de vitalidade e farra. Fez-se de atitude.
De amadorismo. De grupos de baile reciclados. De
uma nova linguagem – como um digestivo para a
música de intervenção.
Os Roquivários nasceram disto tudo. Estes tinham
uma grande canção; um grande refrão, quisesse
este dizer o que quisesse dizer; e uma grande
vocalista, que seria uma das poucas mulheres
vocalistas do rock português e a única a eleger o
baixo como instrumento. “Cristina, não vais levar
a mal, mas beleza é fundamental” era só isto: que
era a substância que importava, uma grande pose
rebelde de toda a banda. Foi das canções que mais
bem representou este período. Fez os Roquivários
correrem o país de lés-a-lés, o público ansiando
por deseletrificar o corpo ao som de “Cristina” e
acompanhar o refrão com fervor gutural.
Abriste uma excepção só para ele
A vida tem destas coisas
Pensaste que pra ti era um amigo
Mas não te via assim
Dizes que te guardaste só para ele
Ficaste sempre à espera
Estás cansada
de tanto tempo a esperar
Agora és uma fera
Cristina, não vais levar a mal
Mas beleza é fundamental
Cristina, não vais levar a mal
Mas beleza é fundamental
Essa imagem da tua cama está
Ainda bem real
E as coisas que me contaste têm para ti
Valor emocional
Hoje tu não precisas de protecção
És dona de ti mesmo
Já não tens que ter medo da escuridão
Nem de te deitares cedo
Cristina, não vais levar a mal
Mas beleza é fundamental
Cristina, não vais levar a mal
Mas beleza é fundamental
Essa imagem da tua cama está
Ainda bem real
E as coisas que me contaste têm para ti
Valor emocional
Hoje tu não precisas de protecção
És dona de ti mesmo
Cristina, não vais levar a mal
Mas beleza é fundamental
Oh Cristina!
E como tudo que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora,
sem demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete
nesta vida, chiclete
Chiclete, ah! Chiclete, ah!
Chiclete, ah! Chiclete, ah! Chiclete, ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (chiclete)
E nesta altura e com muita inquietação
Faço um reparo e quero abrir
uma exceção
Um cassetete nunca será não, chiclete
Pra que tudo continue sem parar
Fundamental levar a vida a dançar
Nesta vida que tanto promete, chiclete
Chiclete, ah! Chiclete, ah! Chiclete
Ah! Chiclete, ah! Chiclete, ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (chiclete)
E como tudo que é coisa que promete
A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga, deita fora,
sem demora
Como esta música é produto acabado
Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se comete
nesta vida, Chiclete
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (chiclete)
Chiclete
Chiclete (prova)
Chiclete (mastiga)
Chiclete (deita fora)
Chiclete (sem demora)
Chiclete
Taxi (1981)
Foi em 1981 que os Taxi lançaram um tema que
toda a gente reconhece: Chiclete. Este viria a ser o
primeiro disco de ouro do Rock feito em Portugal e,
tantos anos depois do lançamento deste sucesso, a
energia ao ouvir esta música permanece a mesma.
Esta canção foi o “Power Play” do Rock em Stock
da semana de 6 a 11 de Abril de 1981 e o tema ficou
para sempre colado no nosso imaginário.
Ó papão mau, vai-te embora
Lá de cima do telhado
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado
Deixa de ficar à espreita
Com vontade de assombrar
Os que vivem nesta terra
Com o pesadelo nuclear
No olhar de uma criança
Pode ver-se a luz do mundo
Não lhe vamos deixar
como herança
Um planeta moribundo
Nuclear não, obrigado
Antes ser activo hoje
Do que radioactivo amanhã
Nuclear não, obrigado
Se queremos energia
Sem envenenar o ar
Temos o calor do sol
O vento e a força do mar
Nuclear Não, Obrigado
Lena D’água (1982)
Quando se aborda um artista pós-Revolução de
Abril em Portugal é incontornável falar-se de Lena
d’Água. A artista nasceu a 16 de junho de 1956, em
Lisboa. O seu pai foi, nada mais, nada menos, do que
o craque José Águas, o avançado que ergueu por
duas ocasiões a Taça dos Campeões Europeus ao
serviço do Benfica. Cresceu no coração da capital
ao lado da arte, da música e da vida citadina que o
bairro de Santa Cruz, em Benfica,
lhe proporcionava.
Em 1982 lança o seu primeiro álbum de estúdio
através da editora Valentim de Carvalho, onde se
integra o single reputado “Nuclear Não, Obrigado”.
Este single é uma clara reflexão no clima de tensão
que se vivia no mundo devido à Guerra Fria e à
iminência de armamento nuclear ser utilizado para
travar uma guerra desnecessária. Lena faz este
comentário, através de um pop ligeiro e bastante
português, demarcando-se como uma das vozes
mais influentes do panorama musical português dos
anos 80.
Lena d’Água tornou-se, assim, de uma forma algo
imprevista, numa artista intemporal, pertencente
a várias gerações. A sua irreverência e sonoridade
específica, vivem na memória de todos como uma
das maiores artistas femininas do pop português.
Em 2018, lançou o tema “Eletrificados” editado
para a série de televisão “1986” da RTP, em que um
dos versos “A Rebobinar Futuros…” dá nome a esta
edição especial.
A influência de Lena e a sua revolução musical
nunca serão esquecidas.
Quando a cabeça
Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais
do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix’ó pagar deix’ó pagar
Se tu estás a gostar
Quando a cabeça não se liberta
Das frustrações, inibições
Toda essa força que te aperta
O corpo é que sofre
As privações, mutilações
Quando a cabeça está convencida
De que ela é a oitava maravilha
O corpo é que sofre
O corpo é que sofre
Deix’ó sofrer deix’ó sofre
Se isso te dá prazer
Quando a cabeça está nessa confusão
Estás sem saber que hás de fazer
Ingeres tudo o que te vem à mão
O corpo é que fica
Fica a cair sem resistir
Quando a cabeça rola p’ró abismo
Tu não controlas esse nervosismo
A unha é que paga
A unha é que paga
Não paras de roer
Nem que esteja a doer
Quando a cabeça não tem juízo
E consomes mais do que é preciso
O corpo é que paga
O corpo é que paga
Deix’ó pagar deix’ó pagar
Se tu estás a gostar
Deix’ó sofrer deix’ó sofrer
Se isso te dá prazer
Deix’ó cantar deix’ó cantar
Se tu estás a gostar
Deix’ó deitar deix’ó deitar
Se tu estás a gostar
Deix’ó gritar deix’ó gritar
Se te estás a libertar
…O Corpo É Que Paga
António Variações (1983)
António Joaquim Rodrigues Ribeiro nasceu
na aldeia de Fiscal, a 1944. Esteve em Londres
e Amesterdão e implantou a 1977, em Lisboa, o
primeiro cabeleireiro unissexo da capital, sendo já
inovador nesse sentido.
Ainda enquanto cabeleireiro de profissão, o
músico adotou o nome Variações, devido ao grupo
de músicos que o acompanharam no início da
carreira e, apenas em 1982, editou o seu primeiro
single após enviar uma maqueta para a Valentim
de Carvalho onde revela os seus dotes musicais.
Ainda sob o nome de António e Variações (banda
que o acompanhava), estreou-se na televisão, no
programa Passeio dos Alegres onde interpretou
o tema “Toma o Comprimido”, trajado de aspirina
e lançando smarties para o público e para as
câmaras, algo nunca antes visto.
O seu álbum de estreia, dedicado a Amália
Rodrigues, chega às lojas em 1983, recebendo os
aplausos da crítica, quer pela inovação quer pela
originalidade. Com este álbum atingiu o estrelato
nacional graças a temas como “O Corpo É Que
Paga” que acabou por ser muito divulgado nas
rádios da altura.
Descapotável pela ponte com o cabelo a voar
O calor abrasador e a pressa de chegar
Óculos escuros da Rayban e o cantante a partir
A cassete dos Ramones para a gente curtir
Aqui vou eu
Pra a costa
Aqui vou eu cheio de pica
De Lisboa vou fugir
Vou pró sol da Caparica
Aqui vou eu
Pra a costa
Aqui vou eu cheio de pica
De Lisboa vou fugir
Vou pró sol da Caparica
Abancados na esplanada
mesmo à beira do mar
Cerveja na mesa para refrescar
Ao longo das praias sob o sol de verão
As miúdas da costa são uma tentação
Por isso vou
Para a costa
Por isso vou cheio de pica
Viro costas a Lisboa
Vou pró sol da Caparica
Por isso vou
Para a costa
Por isso vou cheio de pica
Viro costas a Lisboa
Vou pró sol da Caparica
E assim vamos gozando as férias de verão
Tenho o sol da Caparica mesmo aqui à mão
Aqui vou eu
Aqui vou eu
De Lisboa vou fugir,
vou para o sol da Caparica
Sol Da Caparica
Peste & Sida (1989)
Os Peste & Sida foram uma das históricas bandas
dos anos 80 da música portuguesa. Formados
em 1986, os Peste & Sida são uma das grandes
referências da música Rock feita em Portugal na
década de 80. A banda era constituída por João
San Payo (baixo), Luís Varatojo (guitarra), Fernando
Raposo (bateria) e João Pedro Almendra que se
junta ao grupo para se encarregar das vocalizações,
Orlando Cohen seria o último a entrar na banda para
gravar o álbum de estreia “Veneno” (1987).
Mexe-te Mais Um Pouco
Ágata (1989)
Maria Fernanda Pereira de Sousa, conhecida pelo
nome artístico Ágata é um nome incontornável da
música portuguesa. Dedicou toda a sua vida à música,
tendo constituído carreira em 1975. Ágata sempre
se destacou por interpretar músicas do género
romântico e em 1976, 2 anos após o 25 de abril.
Chegou a ser voz de músicas de telenovelas não só
portuguesas e, ainda, brasileiras. Em 1982 participou
no Festival RTP da Canção com o tema “Vai mas Vem”
o que lhe valeu o Prémio Revelação do Ano.
Embora sempre tenha tido uma carreira de
sucessos, foi nos anos 90 que Ágata que a sua
carreira teve a maior explosão, com êxitos como
“Comunhão de Bens” e “Mexe-te Mais um Pouco”,
muito distintas das temáticas musicais exploradas
nas décadas anteriores.
Diz-me se
Se me queres ver assim
Diz-me se
Se não queres mais de mim
Faz de mim
Um prazer que não tem fim
Faz de mim
Tudo o que é bom, faz de mim
Quero sentir-te louco
Todo, todo louco
Sentir-te a pouco a pouco
Até ouvir o teu grito rouco
Mexe-te mais um pouco
Mexe-te mais um pouco
Faz de mim
Um prazer que não tem fim
Faz de mim
Tudo o que é bom, faz de mim
Quero sentir-te louco
Todo, todo louco
Sentir-te a pouco a pouco
Até ouvir teu grito rouco
Mexe-te mais um pouco
Mexe-te mais um pouco
Quero sentir-te louco
Todo, todo louco
Sentir-te a pouco a pouco
Até ouvir teu grito rouco
Mexe-te mais um pouco
Mexe-te mais um pouco
Mexe-te mais um pouco
Mais um pouco
Mexe-te mais um pouco
Daquilo que está por baixo
Até ao que fica no alto
Vão dois carris de metal
Na calçada de basálto
Desde este lugar sem história
Até um lugar na história
Vão apenas dois minutos
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
Duma existência banal
Até ás luzes da ribalta
Há dois carris de metal
Desde a baixa á vida alta
Desde o triste anónimato
Desde a ralé e a escória
Até á fama e ao estrelato
Há o elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
No elevador da glória
O Elevador Da Glória
Rádio Macau (1987)
Formada em Algueirão, no início dos anos 80, os
Rádio Macau é uma banda portuguesa de pop/
rock experimental.” O Elevador da Glória foi o seu
terceiro álbum, cujo nome referencia o Ascensor da
Glória, o funicular mais movimentado de Lisboa. O
álbum foi distinguido pelo single do mesmo nome “O
Elevador da Glória” tornando-se, até aos dias de hoje,
uma das músicas mais conhecidas da banda sendo
“discutivelmente o magnum opus dos Rádio Macau”,
como afirmou o jornal Geracional.
A banda mostrou-se ainda inovadora ao trazer
até Portugal o pós punk, com uma sonoridade muito
parecida a bandas como The Cure e The Smiths.
Dunas
GNR (1985)
O Grupo Novo Rock surgiu em 1979, numa conversa
entre Vítor Rua e Alexandre Soares. Descobriram
que compartilhavam do desejo de criar uma banda,
e decidiram que aquele era o momento ideal para
tornarem esse sonho realidade. Apesar de Rui
Reininho ser muitas vezes considerado o rosto dos
GNR, ele só se tornou o vocalista da banda cerca de
dois anos após a sua criação, em 1981.
Um dos seus primeiros singles é “Portugal na CEE”,
uma música que foi considerada um dos expoentes
do rock na altura.
Em 1985, lançam o seu terceiro álbum de estúdio
“Os Homens Querem-se Bonitos”. Nota-se neste
álbum a banda a caminhar para uma sonoridade
Pop, apesar de alguns momentos de maior
experimentalismo, caso dos temas “Apartheid Hotel” e
“Azrael”. Deste álbum saiu o single “Dunas”, tornando-se
num dos maiores sucessos da banda.
Dunas, são como divãs
Biombos indiscretos de alcatrão sujo
Rasgados por catos e hortelãs
Deitados nas dunas, alheios a tudo
Olhos penetrantes
Pensamentos lavados
Bebemos dos lábios, refrescos gelados
Selamos segredos, saltamos rochedos
Em camara lenta como na TV
Palavras a mais na idade dos porquê
Dunas, como que são divãs
Quem nos visse deitados
De cabelos molhados,
bastante enrolados
Sacos camas salgados
Nas dunas, roendo maçãs
A ver garrafas de óleo
Boiando vazias nas ondas da manhã
Bebemos dos lábios, refrescos gelados
Nas dunas
Em camara lenta como na TV
Nas dunas
Nas dunas
Nas dunas
Nas dunas
Refrescos gelados
Como na TV
Nas dunas
Há uma voz de sempre,
Que chama por mim.
Para que eu lembre,
Que a noite tem fim.
Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Em nome de um sonho,
Em nome de ti.
Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.
Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...
Por sinais perdidos,
Espero em vão.
Por tempos antigos,
Por uma canção.
Ainda procuro,
Por quem não esqueci.
Por quem já não volta,
Por quem eu perdi.
Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Por quem não esqueci.
Eu peço à noite,
Um sinal de ti.
Quem eu não esqueci...
Procuro à noite,
Um sinal de ti.
Espero à noite,
Quem eu não esqueci...
O Elevador Da Glória
Rádio Macau (1987)
Formada em Algueirão, no início dos anos 80, os
Rádio Macau é uma banda portuguesa de pop/
rock experimental.” O Elevador da Glória foi o seu
terceiro álbum, cujo nome referencia o Ascensor da
Glória, o funicular mais movimentado de Lisboa. O
álbum foi distinguido pelo single do mesmo nome “O
Elevador da Glória” tornando-se, até aos dias de hoje,
uma das músicas mais conhecidas da banda sendo
“discutivelmente o magnum opus dos Rádio Macau”,
como afirmou o jornal Geracional.
A banda mostrou-se ainda inovadora ao trazer
até Portugal o pós punk, com uma sonoridade muito
parecida a bandas como The Cure e The Smiths.
Meninas hoje vamos sair
Just girls vai ser só curtir
Empresta-me a camisola amarela
Espera-me juntinho à janela
Pois os meus pais não me querem deixar sair
Logo hoje que eu tenho mesmo de ir
Meninas hoje vamos sair
Just girls vai ser só curtir
Empresta-me a camisola amarela
Espera-me juntinho à janela
Pois os meus pais não me querem deixar sair
Logo hoje que eu tenho mesmo de ir
Na Indústria há uma festa
Não posso faltar a esta
Pois eu tenho, quero e devo mesmo lá ir
Devagar para não acordar
A cadela não pode ladrar
O carro escondido no fundo da rua
Salta da janela a noite é tua
E a música no rádio é a partir
E a girls night começa no carro a rir
Uma noite de travessuras
Esquecer as amarguras
As amigas estão comigo, é só curtir
E a música na pista sempre a subir
E o ritual da dança estou a sentir
A tonteira, a anestesia
Dançamos na euforia
Pois a noite é toda tua, sempre a curtir
E a música na pista sempre a subir
E o ritual da dança estou a sentir
A tonteira, a anestesia
Dançamos na euforia
Pois a noite é toda tua, sempre a curtir
Just Girls
Amarguinhas (1996)
As Amarguinhas eram compostas por 8
elementos dos quais apenas as 3 vocalistas eram
mulheres, inclusive, o nome original da banda era “As
Amarguinhas e os Boca de Sino”. Descritas como
“uma caricatura das Doce”, muito antes das Girls
Bands, das Boys Bands e do Pimba, as Amarguinhas
destacaram-se pelo seu visual marcante,
desenvolvido, curiosamente, ao acaso, numa festa
de Carnaval. O “estapafúrdio” funcionava e as suas
versões de músicas que as pessoas conheciam
eram adaptadas para coisas que soavam como
a música em inglês mas “ditas em português” e
cantadas sempre em coro. A interpretação de
genéricos de séries ou de desenhos animados
entregavam um carácter inesperado à atuação das
Amarguinhas, no entanto, foi o tema Just Girls que
ficou para a história como legado da banda. Ainda
hoje são diversos os fãs que perguntam “O que é
feito das Amarguinhas?” procurando um regresso
ou até um concerto de reunião da banda, exibindo a
intemporalidade deste conjunto.
Podes não saber cantar
Nem sequer assobiar
Com certeza que não vais desafinar
Em play-back
em play-back
em play-back
Só precisas de acertar
Não tem nada que enganar
E, assim mesmo, sem cantar vais
encantar
Em play-back
em play-back
em play-back
Põe o microfone à frente
Muito disfarçadamente
Vai sorrindo, que é p’ra gente
Lá presente não notar
Em play-back tu és alguém
Mesmo afónico cantas bem
Em play-back,
A fazer play-back
E viva o play-back
Hás-de sempre cantar
Em play-back, respirar p’ra quê?
Quem não sabe também não vê
Em play-back
A fazer play-back
E viva o play-back
Dá p’ra toda uma soirée
Podes não saber cantar
Nem sequer assobiar
Com certeza que não vais desafinar
Em play-back, em play-back, em playback
Só precisas de acertar
Não tem nada que enganar
E, assim mesmo, sem cantar vais
encantar
Em play-back,
em play-back,
em play-back
Abre a boca, fecha a boca
Não te enganes, não te esganes
Vais ter uma apoteose
Põe-te em pose, p’ra agradar
Em play-back é que tu és bom
A cantar sem fugir do tom
Em play-back
A fazer play-back
E viva o play-back
Hás-de sempre cantar
Com play-back até pedem bis
Mas decerto, dirás feliz
Em play-back
A fazer play-back
E viva o play-back
Agradeces e sorris
Podes não saber cantar
Nem sequer assobiar
Com certeza que não vais desafinar
Em play-back
em play-back
em play-back
Só precisas de acertar
Não tem nada que enganar
E, assim mesmo, sem cantar vais
encantar
Em play-back,
Em play-back,
Em play-back
Playback
Carlos Paião (1981)
“Playback” foi a canção que representou Portugal
no Festival Eurovisão da Canção, em 1981, cantada
em português por Carlos Paião, o autor da letra e
da música. A canção é uma sátira ao uso excessivo
do playback pelos cantores, que abrindo e fechando
a boca, não precisam saber cantar e até se podem
enganar que ninguém vê.
Paião cantou o tema com a ajuda de quatro
coristas vestidos de fatos de treino que gritavam
em uníssono “em Playback”, revelando-se
vanguardista nos anos 80 e cortando por completo
com os temas de intervenção musical da década
anterior, acompanhado de uma melodia alegre que
remete ao cómico.
Um Grande, Grande Amor
José Cid (1980)
No dia em que a televisão portuguesa
inaugurava as emissões regulares a cores,
queria-se um Festival da Canção abundante de
cor. Assim, José Cid acompanhou esta vontade
com uma canção vibrante de refrão orelhudo
e conseguiu pôr o país a dizer “adeus” e “amor”
em diversas línguas. Foi uma canção cheia de
agitação, com um refrão de estrondo, uma voz
potente e uma orquestração pomposa.
José Cid haveria ainda de cantar fado, blues,
jazz e música popular. Cai-lhe bem a provocação,
ele alimenta-a. Tão popular e tão polémico. Não é
coerente e essa incoerência fá-lo representar as
suas origens, a sua diversidade, a sua excentricidade
e o seu exotismo.
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine Liebe, love of my life
Se o nosso amor findar
Só me ouvirás cantar
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine Liebe, love of my life
Este amor não tem grades
Fronteiras, barreiras, muro em Berlim
É um mar, é um rio
É uma fonte que nasce dentro de mim
É o grito do meu universo
Das estrelas p’ra onde eu regresso
Onde sempre esta música paira no ar
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine liebe, love of my life
Se o nosso amor findar
Só me ouvirás cantar
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine Liebe, love of my life
Este amor é um pássaro livre
Voando no céu azul
Que compôs a mais bela canção
Deste mundo de Norte a Sul
E as palavras que eu uso em refrão
Fazem parte da mesma canção
Que ecoa nas galáxias da minha ilusão
Addio, adieu aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine liebe, love of my life
Se o nosso amor findar
Só me ouvirás cantar
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye
Amore, amour, meine Liebe, love of my life
A carga pronta
e metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
Para outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás
A carga pronta
e metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
Para outro mundo
Num voo nocturno
num cargueiro espacial
Não voa nada mal isto onde vou
P’lo espaço fundo
Mudaram todas as cores
Rugem baixinho os motores
E numa força invencível
Deixo a cidade natal
Não voa nada mal
Não voa nada mal
Não voa nada mal
Pela certeza dum bocado de treva
De novo Adão e Eva a renascer
No outro mundo
Voltar a zero num planeta distante
Memória de elefante
talvez o outro mundo
É uma escolha que se faz
O passado foi lá atrás
E nasce de novo o dia
Nesta nave de Noé
Um pouco de fé
Um pouco de fé
Um pouco de fé
Um pouco de fé
Contentores
Xutos & Pontapés (1987)
Em dezembro de 1978, Zé Pedro, Kalú, Tim e Zé
Leonel formam a banda Delirium Tremens em Lisboa.
Pouco depois, mudaram o nome da banda para
“Beijinhos e Parabéns” e, finalmente, escolheram
como nome definitivo “Xutos & Pontapés”. O seu
primeiro concerto foi em 13 de Janeiro de 1979 na
comemoração dos 25 anos do Rock & Roll na sala
Alunos de Apolo e até hoje o grupo mantém-se umas
das mais relevantes bandas portuguesas de rock.
A explosão mediática começou em 1987 com o
álbum Circo de Feras e os seus mega sucessos
“Contentores” e “Não sou o único”.
Donos de um acervo de clássicos que faria
muitas bandas roerem-se de inveja. Os verdadeiros
“animais de palco” que vivem para a festa dos
concertos que cimentam a sua ligação indestrutível
com um público sempre presente à chamada,
de braços cruzados em X a celebrar a maior
longevidade de uma carreira rock neste cantinho
à beira-mar plantado. Duas guitarras a abrir, uma
bateria a bombar, o baixo a marcar a pulsação, 1-2-
3-4, três acordes básicos e a correria desenfreada
de um cavalo à solta.
Mais de 3 décadas depois do arranque, os Xutos &
Pontapés são o emblema do que significa rock & roll
em português, por portugueses, para portugueses.
Eu Tenho Dois Amores
Marco Paulo (1982)
“Eu Tenho Dois Amores” é, sem dúvida, um tema
que identifica logo o seu intérprete. Marco Paulo,
um dos artistas portugueses mais conhecidos,
ingressou no mundo da música em 1966, seguindo
uma área pela qual sempre teve um gosto especial.
A sua voz é inconfundível e muitas das suas músicas
continuam a fazer história entre os grandes êxitos
nacionais. Apesar de “Eu Tenhos Dois Amores” não
ser a sua canção favorita, foi ao longo de muitos
anos que a cantou para um público que fez desta
música um sucesso tão grande.
Marco Paulo procurou, através da sua voz
transmitir alegria, bem estar e, essencialmente,
emoções. Os seus temas tocaram o público,
provocaram comoção e permitiram ao público
identificar-se com as letras, o que levou os ouvintes
a não se cansarem de ouvir os seus álbuns.
Editou o primeiro disco em 1966, antes da Revolução
dos Cravos. Como é que foi fazê-lo na altura?
Teve algum tipo de repreensão? Sentiu o peso da
ditadura?
“Na época do 25 de Abril não estava cá, estava
em Toronto, no Canadá. Quando cheguei, dois ou
três dias depois do 25 de Abril (...) senti a diferença,
até mesmo nos espetáculos. De tal maneira que
não havia concertos. Havia para outro género
de cantores, mais de intervenção. Depois voltei
novamente a fazer o circuito normal dos concertos
e tive a sorte de ter “Eu Tenho Dois Amores”,
“Ninguém, Ninguém” e tantas outras músicas de
sucesso que depois nunca mais parei.”
Eu tenho dois amores
Que em nada são iguais
Mas não tenho a certeza
De qual eu gosto mais
Mas não tenho a certeza
De qual eu gosto mais
Eu tenho dois amores
Que em nada são iguais
Ah, ah, ah, ah, ais
Uma é loira e acontece
Entre nós amor, ternura
Tão loira que até parece
O sol da minha loucura
Mas a outra tão morena
É tal qual um homem quer
Porque embora mais pequena
Ela é muito mais mulher
Eu tenho dois amores
Que em nada são iguais
Mas não tenho a certeza
De qual eu gosto mais
Mas não tenho a certeza
De qual eu gosto mais
Eu tenho dois amores
Que em nada são iguais
Ah, ah, ah, ah, ais
Meu coração continua
Sem saber o que fazer
É melhor amar as duas
Sem uma doutra saber
Que este encanto não se acabe
E eu já pensei tanta vez
Pois enquanto ninguém sabe
Somos felizes os três
Ela sorriu,
E ele foi atrás,
Ela despiu,
E ela o satisfaz,
Passa a noite,
Passa o tempo devagar,
Já é dia,
Já é hora de voltar.
Aqui ao luar,
ao pé de ti,
ao pé do mar,
Só o sonho fica,
só ele pode ficar.
Ela sorriu,
E ele foi atrás,
Ela despiu,
E ela o satisfaz,
Passa a noite,
Passa o tempo devagar,
Já é dia,
Já é hora de voltar.
Aqui ao luar,
ao pé de ti,
ao pé do mar,
Só o sonho fica,
só ele pode ficar.
A Noite
Resistencia (1992)
Os “Resistencia” são um grupo português
que se formou no início da década de 1990 em
Portugal. O projeto consistiu na união de vários
músicos, provenientes de diversas bandas, e
na transformação, adaptação e orquestração
de temas adaptados pelos mesmos para uma
vertente mais acústica e virada para uma
valorização da “voz” como instrumento. Através da
junção dessas mesmas vozes, mostraram a força
da união, onde os temas interpretados ganharam
uma nova vida repletos de genuinidade.
Amor De Água Fresca
Dina (1992)
A música foi composta por si com a letra
da escritora Rosa Lobato de Faria e ainda
orquestração de Carlos Alberto Moniz. A canção
é um número moderado de “uptempo”, com Dina a
comparar o seu amante a uma série de diferentes
frutos (abacate, pêra francesa, framboesa, kiwi,
abrunho, entre outros) e o seu amor a “água fresca”.
Assim ela “pegou, trincou-o e meteu-o na cesta”,
descrevendo o seu amado como tendo olhos de
ameixa e a boca de amora silvestre.
Dina tinha acabado de lançar o álbum “Aqui
e Agora”, quando decidiu concorrer ao Festival
da Canção. O disco não foi recebido como era
esperado, sendo “menosprezado e ignorado pelos
meios de comunicação” como disse a cantora.
Contudo, o tema “Amor d’Água Fresca”, que
representou Portugal no Festival da Eurovisão,
em 1992, acabou mesmo por ganhar o Festival
da Canção, “A diferença foi tal na pontuação, que
nunca tive ninguém no meu encalce” disse Dina, a
faixa também teve um impacto forte junto das
crianças “Os miúdos adoraram, até mais do que
os adultos”.
Quando eu vi olhos de ameixa e a boca de
amora silvestre
Tanto mel, tanto sol, nessa tua madeixa,
perfil sumarento e agreste
Foi a certeza que eras tu, o meu doce de uva
E nós sobre a mesa, o amor de morango e cajú
Peguei, trinquei e meti-te na cesta,
ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta, ris e dás-me
a volta à cabeça
Vem cá tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca, ohoh...
Tens na pele travo a laranja e no beijo três
gomos de riso
Tanto mel, tanto sol, fruta, sumo, água fresca,
provei e perdi o juízo
Foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho
E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi
Peguei, trinquei e meti-te na cesta,
ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta,
ris e dás-me a volta à cabeça
Vem... vem... vem cá, tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca
Ah... foi na manhã acesa em ti, abacate, abrunho
E a pêra francesa, romã, framboesa, kiwi
Peguei, trinquei e meti-te na cesta,
ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá, tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta,
ris e dás-me a volta à cabeça
Vem cá, tenho sede,
quero o teu amor d’água fresca
Peguei, trinquei e meti-te na cesta
Jurei ser eu o teu luar
Brilhar só eu no teu olhar
Paixão, paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim (Paixão)
Paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim
Oh por favor vá lá sorri
Dou-te esta flor um beijo a ti
Paixão, paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim (Paixão)
Paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim (Paixão)
Paixão, paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão até ao fim
Paixão, paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim (Paixão)
Paixão-ão não vais fugir de mim
Serás paixão-ão até ao fim
Paixão
Heróis Do Mar (1992)
É a março de 1981, na zona de Campo De Ourique
em Lisboa, que se junta a banda. A escolha do nome
“Heróis Do Mar”, tirado do primeiro verso do hino
nacional português - “A Portuguesa”- e pretendiam
representar Portugal, a sua história e a sua arte
greco-romana.
Numa época em que a memória do Estado Novo
estava ainda muito fresca, o visual da banda,
caracterizado por uma estética nacionalista e neomilitarista,
até certo ponto, com letras de canções
que refletiam a glorificação de um Portugal
passado. Isto não agradou a muita gente, tendo-se
instalado uma certa polémica em torno do grupo,
acabando por ser acusado de um nacionalismo
exacerbado e até neonazi.
Em 1983, o grupo lança o álbum Mãe, bem
recebido pela crítica, mas não tão bem recebido
pelo público. Entretanto, a canção também
lançada em 1983, «Paixão», torna-se um sucesso
de rádio, levando a revista musical inglesa “The
Face” a considerar a banda como o melhor grupo
de rock da Europa continental.
O visual neo-militarista deu lugar a um visual mais
ousado, menos polémico, mas mesmo assim ainda
demasiado arrojado para a época, com muito
cabedal e calças de ganga rasgadas.
A história da banda é revisitada no documentário
“Brava Dança” por Jorge Pereirinha Pires e José
Pinheiro onde é proposta “uma reflexão sobre
Portugal e a música do pós-25 abril”. Atualmente,
são uma influência essencial para alguns projetos
do cenário musical português.
Cavalos De Corrida
UHF (1980)
“Cavalos de Corrida” é o primeiro single da banda
portuguesa de rock UHF depois da sua estreia
com “Jorge Morreu”. Após a gravação do disco
no mês de junho,a editora manteve-o guardado
durante três meses e, após editado em outubro,
atingiu, nos primeiros meses de 1981, a liderança
do top nacional de vendas e tornou-se o primeiro
single de rock português a atingir um galardão
musical, alcançando o disco de prata pelos trinta mil
exemplares vendidos.
Foi este single que deu início ao movimento de
renovação musical denominado de “rock português”,
juntamente com o tema “Chico Fininho” de Rui Veloso.
Em 1979, os UHF não obtiveram grande sucesso
comercial, contudo, “Cavalos de Corrida” já andava
a ser tocado pelo país com muita aclamação antes
sequer de chegar aos estúdios de gravação.
O videoclipe realizado para a canção retrata
a exploração do cavalo para lá do limite do seu
esforço, numa sequência de imagens com alguma
violência, fazendo a analogia ao quotidiano da
classe operária. Não conformado com a censura a
que o vídeo fora submetido, o líder da banda teceu
o comentário: “A jovem democracia tem destes
equívocos”, num tanto de rebeldia perante a opinião
do público da altura.
Agora é que a corrida estoirou,
e os animais se lançam num esforço
Agora é que todos eles aplaudem,
a violência em jogo
Agora é que eles picam os cavalos,
violando todas as leis
Agora é que eles passam ao assalto
e fazem-no por qualquer preço
Agora, agora, agora, agora,
tu és um cavalo de corrida
Agora é que a vida passa num flash
e o paraíso é além
Agora é que o filme deste massacre
é a rotina Zé Ninguém
Agora é que perdeste o juízo,
a jogar esta cartada
Agora é que galopas já ferido,
procurando abrir passagem
Agora, agora, agora, agora
tu és um cavalo de corrida
Agora, agora, agora, agora
tu és um cavalo de corrida
Agora, agora, agora, agora
tu és um cavalo de corrida
Chaga
Ornatos Violeta (1999)
Foi como entrar, Foi como arder (...) Uma chaga
pra lembrar que há um fim. Isto é Chaga, a segunda
música a abrir do álbum mais reputado dos Ornatos
Violeta, “O Monstro Precisa de Amigos” de 1999.
Nem sequer foi a aposta principal da banda, os
singles que saíram na altura foram os muito mais
melódicos “Ouvir Dizer” e “Capitão Romance”, mas
“Chaga“ veio anunciar o rock mais alternativo e duro
que acabaria por dominar toda a década seguinte.
Apesar da banda se ter formado em 1991, só
editou um álbum seis anos mais tarde. Durante
esse período, os Ornatos participaram em várias
colectâneas e ganharam o prémio de originalidade
do 7.º Concurso de Música Moderna do Rock
Rendez Vous. Infelizmente, existem muitas músicas
elaboradas pela banda que não chegaram a
ser editadas em disco, contudo, mesmo após a
separação da banda, em 2012, após sensivelmente
uma década de inatividade, a banda anuncia a
realização de três concertos e, até aos dias de
hoje, é possível ouvi-los tocar em diversos festivais.
Uma prova da intemporalidade da banda no
contexto da música portuguesa.
Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo
Sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga p’ra lembrar que há um fim
Diz sem querer poupar meu corpo
Eu já não sei quem te abraçou
Diz que eu não senti teu corpo sobre o
meu
Quando eu cair eu espero ao menos que
olhes para trás
Diz que não te afastas de algo que é
também teu
Não vai haver um novo amor
Tão capaz e tão maior
Para mim será melhor assim
Vê como eu quero, eu vou tentar
Sem matar o nosso amor
Não achar que o mundo feito para nós
Foi como entrar
Foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou
Uma chaga p’ra lembrar que há um fim
Uma chaga p’ra lembrar que há um fim