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TALK 36

Edição 36 da TALK

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Q @nicolasghesquiere

D @TWNGhesquiere

nicolas

“A maior benção é

poder estar fazendo

o que mais gosto”

ghesquière

O FRANCESINHO RECLUSO QUE NUNCA FOI PREPARADO PARA A FAMA SORRI TIMIDAMENTE

QUANDO É CHAMADO DE “MAGNATA DO REFINAMENTO”. À FRENTE DA POLIGLOTA E VALIOSÍSSIMA

LOUIS VUITTON, SE SENTE MAIS CONFORTÁVEL COM SEU PRÓPRIO TALENTO. por CLAUDIO PARREIRAS

Hoje, Nicolas Ghesquière é um dos estilistas mais

instigantes desta geração, uma das pessoas mais

influentes do planeta. Suas criações são ícones

de estilo, conquistando todos que têm o luxo

como realidade e não necessidade. Ideias se multiplicam e em

frações de minutos viajam das montanhas e lagos da Nova

Zelândia às boutiques de Tóquio. Pioneirismo, tradição e bom

gosto – cifras bilionárias em jogo.

Na Rue Du Pont Neuf, a dois passos da famosa ponte, o

quartel general L.V. Na imensa sala toda branca com vista

para o Sena, Ghesquière trabalha entre centenas de livros

meticulosamente empilhados... É fácil achar Louis Vuitton:

L’Audacieux (ed. Gallimard). Ao entardecer, acende velas e

uma mágica atmosfera desliza em todo o atelier. Fala rápida,

sorriso fácil e olhos azuis que estão sempre buscando o

inusitado. “Foi um grande choque... nunca imaginei tal mudança!”

Em maio de 1971, nasceu numa cidadezinha medieval

Loudon (departamento da Aquitânia). Educação rígida e

monótona para um adolescente que queria ser designer em

Paris. Aos 15 anos, começam os estágios: Corinne Cobson,

Agnès b. e na marca italiana Callaghan. Em 1991, entra como

assistente de Jean-Paul Gaultier que vivia dias de glória.

Como freelancer desenha vestidos de noiva para Balenciaga

até que em 1997 é nomeado diretor desta grife, que andava

bem esquecida.

O mestre espanhol Cristóbal Balenciaga só fazia alta

costura e roupas sob medida. “Não preciso de mais dinheiro,

para comprar o quê?” Coco Chanel dizia: “Um costureiro no real

sentido da palavra, todos os outros são estilistas.”

Na primeira coleção, o mix de rock barroco com techno

boêmio... ousadia tão radical que muda o curso da moda.

Balenciaga volta para o mapa despertando interesse do grupo

Gucci, que em 2002 compra a marca.

Ghesquière é convidado para a direção artística do Pret-à-

Porter feminino Vuitton em 2013. “Acredito mais em evolução que

revolução. Admiro Marc Jacobs (que há 15 anos estava no comando

L.V.) e quero dar continuidade a esta história. Para mim a grife sempre

foi referência de criatividade e qualidade, modernidade e tradição.”

Em sua odisseia futurística atualiza um “guarda-roupa

viajante” sem deixar de lado o precioso legado histórico da

Maison. Sua missão era dar um glamuroso sopro de rejuvenescimento...

As vendas vinham sofrendo uma desaceleração.

Em seu primeiro desfile, em 4 de março de 2014, misturou

ingredientes da cultura pop, influências do streetwear e a releitura

de clássicos selecionados nos arquivos. “A” line na silhueta, blasers

alfaiataria em couro, materiais que refletiam as cores e uma avalanche

de mini bolsas vira coqueluche – 48 modelos para uma

plateia de 1200 convidados que aplaudiram de pé. Recebe dois

prêmios: o melhor estilista do ano e Fashion Innovator da temporada.

Uma química dans l’air anunciava mudança decisiva.

Continuando a fórmula infalível logo estabelece parcerias.

Convida o designer Kanzai Yamamoto, que marcou sua memória

por ter desenhado os costumes de David Bowie em Ziggy

Stardust. Depois, a lendária fashion-editor Grace Coddington,

que desenha gatinhos de histórias em quadrinhos em pijamas,

foulards e acessórios. “Gosto da ideia de ir ao encontro de fashion-icons.

Essas creative conversations aumentam a conexão com as clientes.”

Mesmo Mr. Vuitton, em meados do século 19, amplia

seus horizontes se associando ao inglês Charles Worth. O

criador da alta costura vinha transformando o guarda-roupa

burguês. Regularmente ele se reunia com pintores como

Renoir, Picasso, Sisley e Cézanne. Uma galeria de artistas

empresta seus nomes para Louis Vuitton.

No início do terceiro milênio, o diretor Marc Jacobs

convida Stephen Sprouse, expoente do underground, para

grafitar o monograma. Em 2002 é a vez de Takashi Murakami

colorir bolsas brancas e cobrir a tela com divertidas cerejas.

Seus gigantescos toys esculturas invadem vitrines e diferentes

espaços do QGLV. A pegada artsy dá um novo fôlego à jogada

de marketing e inspira tantos outros.

Na abertura da boutique de 1200 m 2 na Quinta Avenida (projeto

do polêmico Peter Marino, 2004, NY) a revista Business

Week publica em sua capa “The Vuitton Money Machine”. Vem a

colaboração com Richard Prince e suas rebeldes enfermeiras,

a série “Nurses” inspirada na “Pulp Fiction” dos anos 50 e 60.

O humor irônico do exímio image-maker Jeff Koons e sua

coleção “Masters” na qual ele reproduzia quadros célebres. As

“Ninfeias” de Monet, as “Odaliscas” de Boucher, Leonardo

da Vinci e Van Gogh. Um grupo de representativos designers

dos anos 80 e 90 é convidado para criar objetos portáveis.

Alaia, Vivianne Westwood e Isaac Mizrahi, um grupo de

sete em séries super limitadas. As bolinhas de Yayoi Kusama,

os brinquedinhos puzzle de Vik Muniz... E enquanto o rapper

Pharrel Williams desenhava óculos, Sharon Stone lançava sua

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