You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Q @nicolasghesquiere
D @TWNGhesquiere
nicolas
“A maior benção é
poder estar fazendo
o que mais gosto”
ghesquière
O FRANCESINHO RECLUSO QUE NUNCA FOI PREPARADO PARA A FAMA SORRI TIMIDAMENTE
QUANDO É CHAMADO DE “MAGNATA DO REFINAMENTO”. À FRENTE DA POLIGLOTA E VALIOSÍSSIMA
LOUIS VUITTON, SE SENTE MAIS CONFORTÁVEL COM SEU PRÓPRIO TALENTO. por CLAUDIO PARREIRAS
Hoje, Nicolas Ghesquière é um dos estilistas mais
instigantes desta geração, uma das pessoas mais
influentes do planeta. Suas criações são ícones
de estilo, conquistando todos que têm o luxo
como realidade e não necessidade. Ideias se multiplicam e em
frações de minutos viajam das montanhas e lagos da Nova
Zelândia às boutiques de Tóquio. Pioneirismo, tradição e bom
gosto – cifras bilionárias em jogo.
Na Rue Du Pont Neuf, a dois passos da famosa ponte, o
quartel general L.V. Na imensa sala toda branca com vista
para o Sena, Ghesquière trabalha entre centenas de livros
meticulosamente empilhados... É fácil achar Louis Vuitton:
L’Audacieux (ed. Gallimard). Ao entardecer, acende velas e
uma mágica atmosfera desliza em todo o atelier. Fala rápida,
sorriso fácil e olhos azuis que estão sempre buscando o
inusitado. “Foi um grande choque... nunca imaginei tal mudança!”
Em maio de 1971, nasceu numa cidadezinha medieval
Loudon (departamento da Aquitânia). Educação rígida e
monótona para um adolescente que queria ser designer em
Paris. Aos 15 anos, começam os estágios: Corinne Cobson,
Agnès b. e na marca italiana Callaghan. Em 1991, entra como
assistente de Jean-Paul Gaultier que vivia dias de glória.
Como freelancer desenha vestidos de noiva para Balenciaga
até que em 1997 é nomeado diretor desta grife, que andava
bem esquecida.
O mestre espanhol Cristóbal Balenciaga só fazia alta
costura e roupas sob medida. “Não preciso de mais dinheiro,
para comprar o quê?” Coco Chanel dizia: “Um costureiro no real
sentido da palavra, todos os outros são estilistas.”
Na primeira coleção, o mix de rock barroco com techno
boêmio... ousadia tão radical que muda o curso da moda.
Balenciaga volta para o mapa despertando interesse do grupo
Gucci, que em 2002 compra a marca.
Ghesquière é convidado para a direção artística do Pret-à-
Porter feminino Vuitton em 2013. “Acredito mais em evolução que
revolução. Admiro Marc Jacobs (que há 15 anos estava no comando
L.V.) e quero dar continuidade a esta história. Para mim a grife sempre
foi referência de criatividade e qualidade, modernidade e tradição.”
Em sua odisseia futurística atualiza um “guarda-roupa
viajante” sem deixar de lado o precioso legado histórico da
Maison. Sua missão era dar um glamuroso sopro de rejuvenescimento...
As vendas vinham sofrendo uma desaceleração.
Em seu primeiro desfile, em 4 de março de 2014, misturou
ingredientes da cultura pop, influências do streetwear e a releitura
de clássicos selecionados nos arquivos. “A” line na silhueta, blasers
alfaiataria em couro, materiais que refletiam as cores e uma avalanche
de mini bolsas vira coqueluche – 48 modelos para uma
plateia de 1200 convidados que aplaudiram de pé. Recebe dois
prêmios: o melhor estilista do ano e Fashion Innovator da temporada.
Uma química dans l’air anunciava mudança decisiva.
Continuando a fórmula infalível logo estabelece parcerias.
Convida o designer Kanzai Yamamoto, que marcou sua memória
por ter desenhado os costumes de David Bowie em Ziggy
Stardust. Depois, a lendária fashion-editor Grace Coddington,
que desenha gatinhos de histórias em quadrinhos em pijamas,
foulards e acessórios. “Gosto da ideia de ir ao encontro de fashion-icons.
Essas creative conversations aumentam a conexão com as clientes.”
Mesmo Mr. Vuitton, em meados do século 19, amplia
seus horizontes se associando ao inglês Charles Worth. O
criador da alta costura vinha transformando o guarda-roupa
burguês. Regularmente ele se reunia com pintores como
Renoir, Picasso, Sisley e Cézanne. Uma galeria de artistas
empresta seus nomes para Louis Vuitton.
No início do terceiro milênio, o diretor Marc Jacobs
convida Stephen Sprouse, expoente do underground, para
grafitar o monograma. Em 2002 é a vez de Takashi Murakami
colorir bolsas brancas e cobrir a tela com divertidas cerejas.
Seus gigantescos toys esculturas invadem vitrines e diferentes
espaços do QGLV. A pegada artsy dá um novo fôlego à jogada
de marketing e inspira tantos outros.
Na abertura da boutique de 1200 m 2 na Quinta Avenida (projeto
do polêmico Peter Marino, 2004, NY) a revista Business
Week publica em sua capa “The Vuitton Money Machine”. Vem a
colaboração com Richard Prince e suas rebeldes enfermeiras,
a série “Nurses” inspirada na “Pulp Fiction” dos anos 50 e 60.
O humor irônico do exímio image-maker Jeff Koons e sua
coleção “Masters” na qual ele reproduzia quadros célebres. As
“Ninfeias” de Monet, as “Odaliscas” de Boucher, Leonardo
da Vinci e Van Gogh. Um grupo de representativos designers
dos anos 80 e 90 é convidado para criar objetos portáveis.
Alaia, Vivianne Westwood e Isaac Mizrahi, um grupo de
sete em séries super limitadas. As bolinhas de Yayoi Kusama,
os brinquedinhos puzzle de Vik Muniz... E enquanto o rapper
Pharrel Williams desenhava óculos, Sharon Stone lançava sua
20 |
| 21