OS CÉUS MERIDIONAISenchida novamente. Apesar das mecânicas nãoserem perfeitas, a história explica a relação da Luacom as marés. Isso também foi percebido pelostupis-guaranis costeiros, que usam esse conhecimentopara fazerem pesca artesanal, pescandoCamarão entre fevereiro e abril na maré alta de LuaCheia, e Linguado no inverno, nas marés de quadraturade Lua Crescente e Minguante.3Os eclipses, embora mais raros, também têmexplicação. Geralmente, eles são eventos muitodramáticos e que instauram muito medo. O povoAranda da Austrália Central diz que a causa é Arungquilta,um espírito maligno que vem do Oeste ebusca fazer um acampamento no Sol, eliminandosua luz, podendo ser expelido apenas com o uso demagia, feita por curandeiros da tribo. Os tupis-guaraniscontam que o espírito da onça, xivi, representadopelas estrelas Antares e Aldebaran, semprepersegue os irmãos Sol e Lua, tentando caça-los eFigura 1 - Pintura em casca de madeira deGroote Eylandt mostrando a relação da Lua edas marés. O círculo na parte superiorrepresenta a lua cheia, pode-se perceber quehá linhas que se conectam à faixa horizontal,ilustrando a vazão da água da Lua para omar. Na parte inferior encontra-se a lua nova,aqui retratada como crescente. (MountfordCollection, State Library of South Australia.)devorá-los. Isso colocaria a Terra numa escuridão eterna, assim, durante um eclipse solar(Kuaray onheama) ou um lunar (Jaxy onheama) rituais são feitos para afastar o animal. Noentanto, há exceções para essa visão apocalíptica dos eclipses. Os aborígenes Warlpiri explicamque um eclipse solar acontece quando a mulher-Sol é escondida pelo homem-Solenquanto eles fazem amor, enquanto que um eclipse lunar ocorre quando a mulher-Solpersegue o homem-Lua e eventualmente o alcança.A VIA LÁCTEAApesar de que atualmente a poluição luminosa torna cada vez mais difícil sua visualização,a Via Láctea se destaca no céu. Vista a olho nu principalmente como um rastro esbranquiçado,ela é comumente retratada pelos aborígenes como um rio no Mundo do Céu, em que asestrelas brilhantes são peixes e as estrelas menores são bulbos de lírio. A maioria dos grupostupis-guaranis a chamam de Tapi’i Rape, o Caminho da Anta ou também a Morada dosDeuses.Há vários mitos para sua criação. O povo aborígene de Queensland conta da história dePurupriki, um herói tribal representado pela estrela Antares. Ele era famoso por suas habilidadesde caçador, por suas danças e principalmente por seus cantos, cujo ritmo fazia o povodançar tanto até que eles fossem ao chão por exaustão. Dizia-se que Purupruki poderia fazeras estrelas dançarem se ele desejasse. Um dia ele saiu para fazer uma caçada e encontrou umaárvore repleta de raposas-voadoras. Após matar o líder, as outras acordaram de seu sono, oatacaram e o carregaram para o céu. Triste por sua partida, o povo começou a cantar e dançarem seu ritmo, mas sem sucesso, até que dos céus veio sua voz em apoio. O canto ficou mais emais alto ao ponto de organizar as estrelas até então desordenadas, resultando na configuraçãoatual do céu. Essa história serve como um lembrete para que os heróis tribais sempresejam celebrados através do canto e da dança.
A ASTRONOMIA DE CULTURAS INDÍGENAS E ABORÍGENESVia Láctea na estação de verão, sobre Island Points, Austrália do Oeste.(”Summer Milky Way - Island Point, Western Australia” de TrevorDobson, CC BY-NC-ND 2.0)