23.01.2023 Views

Céus Meridionais

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A ASTRONOMIA DE CULTURAS INDÍGENAS E ABORÍGENES

Porém, os Ancestrais, espíritos criadores, emergiram da terra ou do céu, tomando a

forma de humanos, animais e elementos inanimados, iniciando o Tempo do Sonho. Assim

foram criadas as diversas formas de relevo, os corpos celestes e todos seres vivos. Apesar do

nome, o “Sonhar” não é algo passado, mas sim algo constante que, através da presença dos

ancestrais, unifica e conecta tudo e todos contidos no Universo. Como o “Sonhar” é retratado

e quais são os espíritos criadores varia de povo a povo. Por exemplo, o povo Boorong do

Oeste de Vitória acreditava que Pupperimbul, um dos Nurrumbunguttias (espíritos ancestrais),

preparou um ovo de ema e o jogou no espaço, onde ele explodiu, criando Gnowee (o

Sol) e iluminando todo o céu e a terra, tirando a escuridão do mundo.

O SOL E A LUA

De forma geral, em ambos os grupos distintos, o Sol é o principal regulador da vida na Terra.

A determinação do gênero masculino para o Sol e feminino para a Lua não é uma norma. Na

maior parte dos povos aborígenes, é o contrário, com poucas exceções, enquanto que para

algumas culturas tupis-guaranis, ambos são irmãos. Estes denominam nossa estrela como

Kuaray no dia-a-dia, e Nhamandu, no contexto religioso, enquanto que Jaxi (a Lua) é seu

irmão mais novo. Para o povo Yolngu da Terra de Arnhem no norte da Austrália, Walu, a

mulher-Sol acende uma fogueira toda manhã em seu acampamento, ao leste. Ela se decora

com ocre vermelho e uma parte cai nas nuvens, lhes avermelhando, e depois atravessa o céu

com uma tocha de casca de árvore, criando a luz do dia. Ao chegar no Oeste, ela apaga sua

tocha e volta para seu acampamento através do subterrâneo. Paralelamente, esse mesmo

povo diz que o homem-Lua, Ngalindi, também atravessa o céu. Inicialmente ele era um

homem gordo e preguiçoso (lua cheia), porém suas esposas, como punição, o atacaram

usando machados, assim cortando partes de seu corpo (lua minguante). Ngalindi tentou

escalar uma árvore para seguir o Sol, contudo ficou ferido mortalmente e faleceu. Por três

dias ele ficou morto (lua nova), mas depois retornou, novamente ficando arredondado e

gordo (lua crescente e cheia), até que suas esposas o atacaram de novo, iniciando um ciclo

interminável. Assim, se explica tanto o movimento do Sol, como as fases mensais da Lua.

2

Outros detalhes também são explicados, como as crateras lunares. O povo tupi-guarani

diz que Jaxi as obteve enquanto estava tateando o quarto de sua tia no escuro, com a intenção

fazer amor com ela. Esta, querendo saber quem a incomodava, encheu suas mãos de

resina e uma noite, enquanto a Lua a procurava, passou a mão em sua face, a sujando completamente.

Jaxi tentou se limpar com água no dia seguinte, mas apenas piorou a situação, se

sujando ainda mais. Esse mito ensina aos tupis a não cometerem incesto. Por outro lado, os

aborígenes do Sudeste da Tasmânia contam que Vena (mulher-Lua) estava viajando quando

parou na Bahia da Ostra (Nova Gales do Sul) e começou a assar abalone, quando seu marido,

o homem-Sol, chegou e a empurrou, fazendo ela cair na fogueira e rolar até o mar. As suas

marcas de queimadura foram retidas e podem ser vistas claramente.

Fenômenos também são explicados, a exemplo dos efeitos de maré causados pela Lua.

Para o povo Yirrkala, da Terra de Arnhem e Groote Eylandt (Figura 1), a Lua se torna cheia

devido às altas marés, que a enchem à medida que ela se nasce ou se põe. Após isso as marés

abaixam e a Lua inicia um processo de vazão, despejando a água no oceano novamente, até

se esvaziar completamente (Lua Nova). Após três dias as marés voltam a ficar altas e a Lua é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!