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Grande Reportagem
Mas, afinal, onde começa a verdadeira mudança?
As opiniões de quem lida
com casos de pessoas com
deficiência assemelham-se e
a sensibilização é a principal
medida a que fazem referência.
Camila confessa que se
não tivesse o exemplo do avô
cego por perto “nem sequer
ia pensar muito no assunto”.
Sara Louro destaca o ensino
escolar e a urgência de adotar
nas escolas uma formação
que prepare a sociedade para
receber pessoas diferentes.
“Havia de se dar, quando
se começa a dar o inglês,
língua gestual portuguesa e
braille. Não é que as crianças
tenham de crescer a
dominar completamente o
braille, mas haviam de ter a
noção de que é a única forma
de contacto das pessoas
com deficiência visual do
texto em papel, tal e qual
como nós gostamos de escrever
à mão. Agora está tudo
muito digital, mas ainda há
pessoas que privilegiam o
contacto no papel e o braille
é a única forma das pessoas
com deficiência visual
terem acesso a isso. Era ser
integrado naquela disciplina
a que chamam Cidadania.”
Há que saber como nos
dirigirmos a um cego na rua,
como orientar uma pessoa
com deficiência, quando oferecer
ou não ajuda, porque
muitas vezes existe uma empatia
e uma vontade de ajudar,
mas que depois na prática
não se verifica, ou pelo menos
não da forma mais correta.
Neste contexto de mudanças
e do que está certo e o que
está errado, Catarina aborda a
temática da linguagem, a necessidade
de consciencializar
as pessoas sobre quais os termos
corretos a utilizar. “A linguagem
é uma coisa que está
em evolução e enquanto antigamente
a palavra deficiente
era muito usada, e hoje
em dia também é, o deficiente
ainda é uma coisa muito
pejorativa. Eu prefiro uma
linguagem mais abrangente
e inclusiva, que para mim é
o “pessoa com deficiência”.
Menciona, também, o
Movimento da Diversidade
Funcional, embora destaque
a importância de não tirar
a palavra “deficiência” ou
“ Eu sou uma
pessoa com uma
deficiência, que
não a pretende esconder,
mas eu não
sou uma deficiente.
A deficiência não
abarca toda a minha
existência.”
“pessoa com deficiência” da
equação, também por uma
questão de poder afirmar os
seus direitos “porque uma
pessoa com deficiência tem
determinados direitos e determinadas
características
que têm de ser asseguradas”.
“Pessoa portadora de deficiência”,
embora já tenha
caído em desuso, ainda é um
termo utilizado por algumas
pessoas. Para Catarina, não
é a expressão mais adequada.
“A minha deficiência eu
não posso deixar de portar,
eu não posso deixá-la em
casa”. Faz também referência
à “pessoa com necessidades
especiais” e explica que
“não faz sentido nenhum,
porque enquanto nós continuarmos
a ver as necessidades
das pessoas como
especiais, nós vamos sempre
achar que a acessibilidade
é um favor especial”.
Por fim, menciona ainda a
questão da mobilidade reduzida,
sendo que hoje em dia já
se começa a falar muito mais
da mobilidade condicionada.
Isto porque a mobilidade reduzida
indicava que a redução
era na pessoa, no sentido
que a pessoa com deficiência
era o problema “como a
máquina que estava estragada”,
descreve Catarina.
Atualmente, já se fala da
deficiência segundo o modelo
social, ou seja, entendendo
que a deficiência está
na pessoa, mas também em
todas as barreiras à sua volta,
e por isso é que já se começa
a adotar o termo “mobilidade
condicionada”.
Face a esta questão, Catarina
diz que “Não é a mobilidade
que está reduzida,
porque, por exemplo, eu
em minha casa sou completamente
móvel, eu mobilizo-me
de forma independente.
Mas na rua, a minha
mobilidade está condicionada
pelas barreiras que
eu tenho à minha volta”.
Podemos falar de todas as
medidas a implementar. De
tudo aquilo que está mal e que
precisa de ser mudado com
urgência. Da grande falta de
acessibilidade que existe, e de
todas as dificuldades que pessoas
com deficiência enfrentam.
No entanto, a verdade é
que, para que se possa construir
a acessibilidade necessária,
é preciso, antes de mais,
reconhecer a inacessibilidade
dessas pessoas. O primeiro
passo a dar é aproximar a sociedade
da temática da deficiência.
Abordar mais esse tema
que assusta muito as pessoas,
e para o qual a sociedade se
recusa a olhar de frente, pelo
medo de errar, ou de não saber
o que dizer. A mudança
começa, portanto, com a consciencialização
da população.
Para estas minorias, todas
as manifestações têm
um propósito. Segundo António
Almeida, é através de
“constantes reivindicações”
que “leis e medidas são tomadas”:
“Se não formos
nós a lutar pelas causas
que acreditamos, quem é
que vai lutar por nós?”.
Foram apenas quatro testemunhos
e quatro instituições,
mas estes problemas
são comuns a todos os que
pertencem a esta comunidade.
A falta de acessibilidade e
qualidade de vida para pessoas
com deficiência é um dos
maiores problemas em Portugal.
A ignorância dos cidadãos
é a principal causa. Para
António Almeida pequenos
passos fazem toda a diferença.
“ Termos sido
campeões mundiais
de andebol mostrou
um pouco às pessoas
a nossa realidade.
Mostrou que,
independentemente
da nossa condição,
também podemos
ser destinados a
grandes feitos.”
Fotografia: Maria Andrade
Fotografia: Camila Teixeira
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